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terça-feira, 4 de agosto de 2009

O Fogo e o Inferno

1. Porque é o Inferno uma fornalha eterna? Na mitologia cristã o fogo é o supremo castigo. No entanto, em várias representações do Inferno de maiores ou menores pintores os castigos submetidos aos pecadores não se resumem ao fogo, antes se imaginam «adequados» aos diversos pecados (a imaginação do pintor quanto mais fantasiosa, mais claramente revela uma tal perversidade que denuncia uma espécie de gozo sádico, fantasmas de conteúdo sexual, erupções de um inconsciente reprimido).
2. O fogo é um símbolo recorrente nas mais diversas mitologias. Regra geral ele é o elemento purificador por excelência (relação primitiva com as práticas agrícolas) e criador (criação e recriação do mundo) ou regenerador (ciclo destruição/criação). Os ritos passam nomeadamente pela utilização do fogo sacrificial (os deuses apreciam os sacrifícios de carne grelhada). Prometeu roubou o fogo celeste (equivalente à árvore do conhecimento e, esta, à Árvore da Vida), símbolo da descoberta maior da humanidade e início da civilização, isto é, do trabalho). O fogo como veículo, ou mensageiro, entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, em algumas cremações rituais. Na Índia cremam-se os cadáveres (é provável que nos tempos primitivos da espécie humana, os mortos tanto fossem enterrados cobertos de ocre e flores (neanderthais) como fossem cremados.
3. O cristianismo parece ter excluído o fogo criador, ao transformá-lo em castigo eterno máximo. Contudo, esse elemento positivo permanece nos evangelhos e em práticas cristãs (o Espírito santo, Jesus associado ao fogo, as «línguas de fogo», os anjos, ou determinados anjos, são fogo, emanações de Deus). O cristianismo é, aqui como em outros aspectos, contraditório, herdou ou assimilou diferentes símbolos. Entre os gregos o fogo era um elemento leve, subia, como se lê em Aristóteles; em Heráclito, o Mundo é um Fogo perpétuo; Empédocles lança-se para a fornalha de um vulcão. O Hades é, sobretudo, gelado, desolador, tal como é o interior dos subterrâneos. Faz mais sentido que o Inferno seja um gelo eterno…
4. O fogo parece ter tido clara conexão com a sexualidade: obtenção do fogo por fricção, em movimento de vaivém (Miercea Eliade e outros). Segundo algumas mitologias o fogo tanto é divino como demoníaco ( gerado magicamente no órgão sexual das feiticeiras. Atente-se nos rituais imaginários praticados pelas feiticeiras (Autos da Inquisição): pela noite, nos bosques, à roda de fogueiras, práticas sexuais com Satã, um quase bode, figura que lembra perfeitamente Diónisos e os faunos).

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