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terça-feira, 4 de agosto de 2009

Presente e futuro da Filosofia

1. A filosofia produz teorias, sempre o fez e ainda o faz, incluindo as que os positivistas fizeram e desfizeram. E é também uma actividade (sem ela não construiria teorias) com diversos propósitos e diferentes resultados. Ou seja, não se limita a análise das proposições, filosóficas ou não. Ou seja ainda, não se reduz à análise da linguagem, filosófica, científica ou comum. Quando tal pratica tem de justificar o atributo de juíza suprema da veracidade ou não dos juízos afirmados pelas outras actividades. No caso da ciência, quem decide é a comunidade dos cientistas segundo os seus critérios, discutíveis ou não. Contudo, nada proíbe, ou deve proibir, que um especialista da filosofia proponha critérios de verificabilidade ou falsicabilidade, tal como um cientista não está inibido de se pronunciar sobre proposições filosóficas.
2. Se é certo que filósofos abriram áreas de investigação – e a linguagem foi uma delas- muitas delas conquistaram estatutos científicos, ou, pelo menos, técnicos, dificultando, por exemplo, a classificação de «filósofo» a um linguista.
3. Destas considerações resulta a interrogação lógica: Sobra algo ainda para a filosofia?
4. Para iniciarmos uma resposta ter-se-ia que descrever o que é a filosofia, para que serve ainda (para o que serviu está a resposta implícita nas considerações anteriores), o que produz ou cria, quais os seus critérios de verdade, etc. Argumentar que a sua utilidade prova-se na existência dos cursos académicos, é uma falácia ou tautologia. De resto, o que mais prova é que a filosofia ou os professores de filosofia se limitam a ensinar outros filósofos e fazem da leitura desses outros a sua carreira.
5. A importância da filosofia na história das ideias, na história das ciências, é indiscutível: foi através dela, muitas das vezes com os seus métodos convencionais, com as controvérsias entre os filósofos, que a Ciência se organizou. Também é indiscutível que foi contra ela, ou contra os académicos, que a Ciência se fundou (Galileu Galilei).
6. Não se trata também de questionar a utilidade da filosofia para os jovens ou menos jovens, porque sempre se dirá, e com acerto, que ajuda a interrogarem-se e a interrogarem, a descobrirem o falso sob a aparência da verdade, a exigirem argumentos e razões para as afirmações alheias (a começar neles mesmos), a não se iludirem com promessas retóricas sem fundamento, ou a descobrirem por eles próprios o fundamento de muitas afirmações propagandísticas.
7. A questão não é essa.
8. Quando, por exemplo, se analisam (desmontam, desconstroem) palavras que constituem crenças, a que métodos e saberes recorremos? À filosofia, ou às ciências (Sociologia, psicologia social, História, antropologia, etc.)? Tomemos como exemplo a análise da crença contida nas palavras portuguesas «Inferno» e «Céu»: para descontruirmos esta crença (popular mas também, filosófica, isto é, teológica) teremos de recorrer a um vasto conhecimento dos símbolos, e, através destes, à relação com as práticas sociais, ao imaginário dos povos, ao seu modo de vida, aos sonhos, etc. Que designação teria esta actividade?
9. De valor inquestionável foi a actividade filosófica iniciada por Frege, Russell, Wittengenstein, o neo-empirismo, o positivismo lógico, a filosofia da linguagem. As escolas e as correntes filosóficas do século passado, que foram ricas e profícuas, devem-lhes muito. Entretanto, desmoronou-se muita coisa, o pós-modernismo chegou. Filósofos ainda há muitas, às vezes parece que em demasia, mas o legado de G. Deleuze, sobretudo, é imenso. Ninguém melhor e mais do que ele se esforçou por «salvar» a filosofia.
10. Sobra à filosofia a metafísica? Admitamos que sim; porém, muita da sua especulação já foi resolvida pela astronomia e astrofísica, e é da ciência que aguardamos as respostas. Quanto à existência ou não de Deus criador, é uma atitude: ter fé ou não ter. Não é ciência, nem filosofia. A chamada «espiritualidade do homem» não é filosofia. O combate é que pode ser filosófico.
11. Sobra a Ética? Bom, isso fica para outra reflexão.

1 comentário:

Meg disse...

Leio-te, releio-te e continuo a questionar-me... aliás, acho que é esse um dos objectivos da filosofia. Obrigar-nos a pensar, a recalcitrar mesmo...
Agora fico curiosa, à espera que nos fales sobre a Ética.
É que não sei se ainda existe...

Um abraço

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