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sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Crítica da Razão Consensual- A ONTOLOGIA

Não se critica a possibilidade, a necessidade e o valor dos consensos que ponham um fim justo aos conflitos, mas um pensamento único, débil, conformista, submetido, quantas vezes imbecil e infantilizado. Critica-se qualquer ideologia política ou religiosa (aliás, sempre política) que se arvore em universal para se impor como única e verdadeira. Critica-se qualquer filosofia que em nome do Sujeito, dos Valores, da Subjectividade, da Comunicação, queira fazer passar o primado do espírito, das ideias, ou mesmo das sensações, sobre a materialidade do mundo; isto é, critica-se o idealismo nos seus múltiplos disfarces.

O que é ONTOLOGIA?

«A partir da altura em que Aristóteles falou de uma filosofia primeira e nela incluiu tanto o estudo do ente enquanto ente como o estudo de um ente principal ao qual se subordinam os demais entes , se abriu a possibilidade de distinguir entre o que logo se chamou ontologia e o que com maior frequência se entendeu por metafísica. Apenas no começo do século XVII surgiu o termo “ontologia”. Por meio do nome “ontologia” se designava o estudo de todas as questões que dizem respeito ao conhecimento dos géneros supremos das coisas. (…) Por um lado concebe-se como ciência do ser em si, do ser último ou irredutível, de um primeiro ente em que todos os demais consistem, isto é, do qual dependem todos os entes. Neste caso, a ontologia é verdadeiramente metafísica, isto é ciência da realidade ou da existência no sentido próprio do vocábulo. Por outro lado, a ontologia parece ter como missão a determinação daquilo no qual os seres consistem e ainda daquilo em que consiste o ser em si. Então é uma ciência das essências e não das existências» ( José Ferrater Mora, Diccionario de Filosofía Abreviado, ed. EDHASA-SUDAMERICANA).

Classifica-se como reflexão ôntica a reflexão sobre o s«objectos» do mundo -os problemas interiores do mundo, e não sobre a origem deste -, opondo-se à reflexão ontológica ( sobre o próprio ser do mundo). Tendo a metafísica perdido importância, o nome “ontologia” aplica-se ao estudo ou às concepções da existência em geral, sendo os diversos “existencialismos” responsáveis por esta orientação.

Etimologicamente deriva do grego on, ontos, particípio presente de einai (ser), e logos, (discurso). “Ontologia” é um discurso que tem por objecto não uma categoria qualquer especial do ser, mas o «o ser enquanto ser». Confundida com a metafísica como sucedeu durante longo tempo, é o estudo do fundamento da ordem das cosas., estudo da essência do ser enquanto ser, oposta às ciências particulares. Esta mistura ou confusão entre ontologia, metafísica e teologia, veio a perder interesse submetida às críticas (o filósofo Heidegger mostrou como deste modo «esquecia-se» a original e verdadeira natureza do assunto, a qual é a compreensão dos entes e a nossa finitude como destinação inelutável. O próprio nome “ontologia” fica afectado por estas críticas contemporâneas. Entende-se hoje geralmente a ontologia como compreensão do(s) sentidos(s) do ser e não como «ciência». Para as filosofias da linguagem trata-se, portanto, de uma reflexão sobre a linguagem, produtora dos discursos e dos sentidos (essas imaterialidades fugidias, múltiplas, sem território, os símbolos). Na afirmação «Haverá essa coisa determinada e nomeada» distingue-se «a coisa» como do domínio do estudo científico específico (biologia, química, etc.) e o sentido do termo «haverá» como sendo do domínio da ontologia.

MATERIALISMO

O materialismo é uma filosofia, isto é uma investigação independente do saber científico e da actividade do cientista, na medida em que é uma concepção geral das relações entre o ser e o pensar, um conjunto de categorias e princípios gnoseológicos que sustentam essa concepção e consiste em afirmar que o ser, a matéria é «o elemento primordial», e o pensamento, o espírito, o elemento segundo. «Reconhecer esta primazia, este primado da matéria sobre o pensamento é a essência do materialismo filosófico» (Lucien Sève,1980).

As críticas ao materialismo filosófico assentam, sobretudo, na acusação de que é uma teoria metafísica (negativamente), pois que separa o que não se pode separar: o sujeito (que conhece) do objecto (que é conhecido), isto é, separa a referência do referente; o real é aquilo que se conhece; logo, o sensível e a subjectividade constituem um plano intransponível, o qual não se pode excluir quando se nomeia a «matéria» como um dado exterior, independente e com o estatuto de fundamento. Nestas críticas contemporâneas existe uma confusão entre gnoseologia e ontologia, ou, talvez mais, uma exclusão da ontologia. Contudo, o problema é negado ou reprimido mas não é eliminado: a interrogação «Qual a natureza do objecto?», «O que dá o sujeito e o que não dá porque já lá está?», persegue a reflexão. A meu ver a questão principal prende-se com o género de relações entre o sujeito (cognoscente) e o Objecto. Sempre mera (ou perfeita) adequação? Reflexo? Mediações complexas e dialécticas? A praxis humana, o trabalho por exemplo, não cria o mundo, muito embora também o crie. A mente humana não «representa» o mundo sem que as coisas não possuam elas mesmas propriedades objectivas e independentes (o astrónomo não cria as galáxias, por maior que seja o seu poder instrumental e teórico). As sensações, o pensamento, o espírito, não criam todas as coisas que vêem e analisam: é precisamente porque muitas dessas coisas existem de facto que as vemos e nelas somos obrigados a pensar. Mas na materialidade não incluímos apenas a Natureza, o físico, o biológico: as coisas e as instituições transformadas ou criadas a partir de matérias-primas ou enquanto «coisas» sociais exteriores e independentes do querer de cada indivíduo (a terra, por exemplo, fonte de riqueza, não deixa de ser material ainda que nela se hajam investido valores). A desmaterialização das coisas tem muito que ver com a desmaterialização do dinheiro, sob a forma de Capital, isto é, de equivalente universal. O capitalismo financeiro parece volátil e aéreo, simbólico e imaterial, porém são de facto «materiais» muitos dos bens que se produzem, as matérias-primas dos computadores, as armas com que se mata e se saqueia…

2 comentários:

São disse...

Vir até a tua casa é sempre uma lição.

E deixa-me dar-te os parabéns pela lucidez do post sobre Obama!

Para ti e para os teus , um Natal doce e com magníficas surpresas e um novo ano vivido em harmonia e com saúde.

Um grande abraço.

Nozes Pires disse...

Muito obrigado pelas tuas palavras tão bonitas! Sê feliz!

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Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

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Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.