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sábado, 12 de dezembro de 2009

Crítica da Razão Consensual














Os Materialismos

Continuamos este brevíssimo resumo da história dos materialismos:

Século XVII- O atomismo de Gassendi cria um plano imanente pelo qual tenta explicar a realidade móvel de todas as coisas, sem recorrer a forças transcendentais. Contudo, o paradigma da sua época ainda está dominado pela ortodoxia religiosa à qual não parece desejar recusar: a finitude do mundo permite admitir-se que foi criado; a mente humana, «imaterial», permite-lhe incluir a possibilidade de uma alma imortal, etc. Entre este e os demais classificados pejorativamente como «libertinos», quem se salienta mais pelo seu radicalismo é Cyrano de Bergerac que, no seu livro de «ficção-científica», ou utópico, Viagem à Lua, O Outro Mundo ou Os Estados e Impérios da Lua ( Guimarães Editores), defende as novas ideias de Copérnico e Galileu e nenhuma crença religiosa sobrevive.

Renée Descartes não foi em filosofia um materialista (Deus é a substância infinita e criadora), contudo fornece para os vindouros uma explicação mecanicista dos processos materiais (todos os corpos, incluindo o humano). É no seu dualismo (separação da alma e do corpo) que ele reproduz a cisão tradicional e ortodoxa. As consequências da sua teoria mecanicista (e o seu matematismo e elogio da Nova Ciência) são, porém, formidáveis.

Bastava eliminar a dualidade das substâncias (física-extensa e pensante). Foi o que realizou o génio incomparável de Bento Espinosa. Apenas existe uma única substância ou realidade dotada de infinitos atributos, os quais exprimem-se (actualizam-se) em modos de ser, ou seres, de existências diferenciadas e múltiplas. Deus ou Natureza. Ainda que não seja ateu em rigor (não quer sê-lo) bastará que se retire a palavra Deus para que sobre somente uma realidade: o universo infinito e não criado. É o que irão fazer alguns filósofos do século seguinte, em particular o célebre barão d´Holbach, renovando o espinosismo com novas ideias extraídas da química e da biologia. O problema da Vida é complexo: Diderot e outros esforçar-se-ão por explicá-la através de noções aprendidas nos grandes biólogos do seu tempo. O pensamento, a mente, é outro dos complexos problemas desde sempre: La Mettrie apresenta o homem como uma construção mecânica, uma espécie de relógio de órgãos e respectivas funções, dispensando a necessidade de alma; o abade Condillac desenha um homem absolutamente sensitivo que aprende pela experiência sensível; Helvétius, injustamente esquecido hoje, enfatiza o papel da vida social na formação humana. Nenhum deles (com excepção de Condillac que entra em contradições convenientes) recorre às hipóteses complementares de Deus e alma imortal. Neste século, ou, pelo menos, antes da Revolução Francesa, o crítico mais radical e consequente foi um pároco apagado em vida que legou um Testamento explosivo: Jean Meslier, no qual nega todas as crenças ortodoxas e tradicionais, por meio de uma filosofia baseada nas teses de Espinosa e de Malebranche.

O século das Luzes, tanto francês como inglês, termina com uma profusão de materialismos, quase todos marcadamente anti-clericais. Teses de uma ontologia materialista ( a Matéria é a única realidade) e de uma gnoseologia sobretudo sensualista (que deve muito a Locke e a Hume).

I. KANT , com a sua crítica Da Razão Pura, tenta, então, uma síntese do empirismo e do racionalismo, da materialismo (realismo) e do idealismo, num esforço para salvar a metafísica. Dos materialistas aceita a crença de que a matéria existe como realidade externa e independente e dos empiristas a tese de que tudo começa, em termos de conhecimento, pelas sensações; dos idealistas (racionalistas) re-introduz a noção de condições apriorísticas e subjectivas de todo o conhecimento (espaço-tempo e categorias), e remete para a metafísica as questões relacionadas com a existência de um Deus criador e justiceiro, que lhe permite escorar as condições de toda a moralidade possível e necessária.

II. Com a enorme influência de Kant e da filosofia alemã subsequente, idealista, os materialismos ficam, aparentemente, remetidos para o passado. No entanto, o período que antecede a revolução Francesa e durante o seu acidentado percurso, o materialismo adquire novas e mais acutilantes formas de intervenção política: Gracus Babeuf e Sylvain Maréchal são um vivo exemplo.

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