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quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

A década de chumbo

Apelidaram-se de «anos de chumbo» aos anos 70, na Itália, marcados com os atentados terroristas da extrema-esquerda e da extrema-direita. Terroristas sem mais adjectivos. A década que ora termina não foi menos de chumbo, no sentido literal e figurado. Quem tem uma memória já longa como a minha lembra-se da década de 80, que mereceria o mesmo apelido, a da senhora Tatcher e dos senhores Reagan e Cavaco. De resto a crise económico-financeira do capitalismo começou, a bem dizer, nos anos 70 e de solavanco em solavanco rebentou agora. Os anos do neo-liberalismo não foram de ouro, excepto para os bandidos, isto é não foram o fim da crise de 70, mas, antes, a sua continuação. O neo-liberalismo, com a excelsa escola de Chicago que escavacou a teoria do Keynes e o Estado Previdência, não vieram resolver crise nenhuma mas aprofundá-la e dar-lhe novas rapinas. O estudo clássico de Marx, O Capital, cujos volumes estão agora integralmente traduzidos e publicados pela Editorial Avante!, descrevem há cento e cinquenta anos perfeitamente a natureza rapace do capitalismo. Não mudou. Está sempre a rapinar e não o deixou de fazer nos anos de «boom» económico, lá para os idos de 50 e 60.
O que nos fica na memória desta década é a reacção terrorista dos EU e seus aliados em resposta ao terrorismo circunscrito do grupo de Bin Laden, isto é, o excelente pretexto que encontraram para rapinar o petróleo do Iraque e controlar os preços da OPEP. Nem mais. O que nos fica na memória é o fim definitivo da Jugoslávia, a realização dos planos há muito delineados pela Alemanha e EU (sempre presentes estes em todo o lado). O que nos fica na memória é a sangria no Congo ex-belga, atiçada pelos ex e novos colonizadores de mãos dadas com os mais sanguinários corruptos deste planeta (e os minérios do Congo!). O que fica na memória é a anarquia genocida do «corno de África», Sudão e Somália, depois de varrido o socialismo que lá se instalara, sempre com a mãozinha dos EU (como já o fizera armando a Eritreia para que esta demolisse o regime socialista da Etiópia). Onde lhe cheirasse a socialismo (e a nacionalizações pois claro!) os EU decapitaram, delapidaram e demoliram.
Desta década fica-nos, portanto, na memória, o desastre a que nos conduziu o neo-liberalismo, cujo alto preço está (e vai ser) pago pelos povos e pelos trabalhadores (como sempre, de resto).
Copenhaga, por sua vez, pariu um rato. Um ratito para "combater" a monstruosidade das ameaças que pesam sobre este pobre planeta.
Boas Festas!

2 comentários:

Manuel Veiga disse...

excelente texto. esclarecedor e pedagógico...

abraço

Bom Ano

Nozes Pires disse...

Bom Ano Novo para o amgo.

Viagem à Polónia

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Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

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Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.