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sábado, 23 de janeiro de 2010

CONSENSOS

Hoje há a moda dos «consensos». Diz-se que o pós-modernismo (alguns chamam de pós-modernidade, o que me parece errado) se caracteriza pela diversidade, multiplicidade (falam disso na estética, sobretudo). Não creio. Muita da diversidade é artificial e publicitária. Muita diversidade (ecológica, cultural, económica) foi e é esmagada pelo cilindo da neo-liberalização dos mercados. A mercadoria impera e tudo se transforma em mercadoria. Muita da diversidade de mercadorias é enganosa. Por imperativos económicos, o «gosto médio» predomina. Aprecio, evidentemente, os consensos, mas transparentes, justos, equitativos. Não o consenso do «comércio livre» (os acordos leoninos), o consenso da Carta de Lisboa, o consenso do Fundo Monetário Internacional, os consensos em Bruxelas que correspondem à maioria neo-liberal (a que re-elegeu o D. Barroso), o consenso sobre a precariedade do trabalho e que exlui do emprego um exército conveniente de trabalhadores. Na verdade, há consensos, mas impostos, ou porque se encosta à parede o adversário, ou porque se mente. Não há consenso sobre o efeito «estufa» - o aquecimento global- provocado pelas emissões de CO2, e ainda bem, porque não está provada a causa-efeito e existem sinais suspeitos de muita negociata. Apesar disso, fazer da cautela um princípio é bom. Há consenso sobre os efeitos devastadores que podem assumir a desflorestação, a desertificação, as monoculturas erradas, o desvio de correntes fluviais, a secagem de lagos, o esbanjamento da água e dos lençóis subterrâneos, a poluição por causa dos combustíveis sólidos, etc. Não há consenso sobre a legitimidade das guerras conduzidas pelos norte-americanos. Não há consenso sobre as causas da implosão dos regimes do Bloco de Leste. Não há consenso entre as potências porque os seus interesses opõem-se, e menos ainda por parte dos países mais pobres dominados pelas potências. Não há consenso entre o empresário que despede e o trabalhador que é despedido, entre o Governo que precariza e congela os salários e os funcionários do Estado.
A ambição das ditaduras é estabelecer o consenso unívoco. Ou seja, uma única voz.
Aprecio os consensos que resultam da luta entre adversários, em que ambas as partes cedem o suficiente. Aprecio especialmente aqueles consensos em que o patronato cede completamente perante a força dos trabalhadores.
Na verdade, o que há, e tem que haver, é a força, o poder das forças em presença. O que há são contardições.
A boa filosofia é aquela que não fecha os olhos a isso. Não é bom o filósofo que arranca os olhos para ver melhor.

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