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terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Da Filosofia da História


Sobre as Invasões Francesas



No bi-centenário das Linhas de Torres





A Filosofia permanece sob o silêncio altivo de ignorantes ou sob o fogo cerrado do cientismo. Apesar disso ela floresce cheia de vigor e novidade em França, Itália, Grã-Bretanha, e a própria Espanha nossa vizinha não fica excluída. Novos títulos chegam regularmente aos escaparates, de tal modo que é praticamente impossível lê-los todos. Alguns autores e algumas obras tornam-se até best-sellers. A investigação filosófica (epistemológica ou gnoseológica, ética, política, estética, antropológica) não pára. Há mesmo uma moda que aconselha a terapia filosófica em vez do Prozac…

Ora bem, o que nos antolha é que a propósito das investigações historiográficas, e no caso vertente, das investigações relacionadas com as Invasões Francesas (convenhamos que o bi-centenário das Linhas de Torres ainda apenas agora se inicia), as reflexões filosóficas, melhor dito: a filosofia da História, não se anunciam (estarão em gestação?). Profusos estudos de história, militar sobretudo, mas nada sobre o que dissemos. Será que a Filosofia da História já morreu? Os seus detractores conseguiram enterrá-la no baú do passado morto? Que houve e há vontade de um assassinato parece-me fácil demonstrar, especialmente da parte da chamada Nova História, ou seja, basta de metafísicas puramente especulativas, os historiadores é que escrevem a verdade, tanto mais quanto não se aventuram em Teorias da História, e se limitam aos «factos» (o neo-positivismo quer tomar conta de tudo, o que é curioso, porque ele próprio é uma determinada filosofia).

Dir-se-ia que a filosofia da história, aplicada em e para Portugal por exemplo, terminou com o Antero (As Causas da Decadência dos Povos Peninsulares) ou com Oliveira Martins (este de qualidade francamente inferior comparativamente). No entanto, bastaria lembrar António Sérgio e a sua concepção ética neo-kantiana da História (neo-kantiana e platónica), cuja influencia e pedagogia foram enormes, ou Jaime Cortesão com a sua visão nacionalista elitista ( que Sérgio combateu frontalmente), ou Joel Serrão com direcção desse Dicionário da História de Portugal que tanto nos formou a muitos de nós, e, por fim, sem desmerecer de outros, Eduardo Lourenço, por um lado, e os marxistas por outro (salientar aqui a obra pioneira de Álvaro Cunhal sobre a crise ou luta de classes de 1383, logo seguido pelo seu discípulo António Borges Coelho com um livrinho sobre a mesma Revolução que se converteu num sucesso).

Fazer filosofia da História, portanto, não é repetir a fórmula idealista de Hegel, essa sim, morta no essencial. Não é repetir, de igual modo, a fórmula da Dialéctica da História resumida por Estáline (ou os estupendos estudos de F. Engels e G. Luckacs, discutíveis embora). Nada disso. Por mim está posta de lado uma ficção épica e utópica de uma História Universal conduzida por um Plano em direcção a um fim último. Contudo, o seu contrário é completamente errado, isto é, defender-se que a História, geral ou particular, é feita de meros acasos fortuitos e imprevistos. Noutra vertente desta tese errada encontra-se a tentativa de ressurreição, mais ou menos encapotada, de uma filosofia (espontânea?) idealista da História, que, ironicamente, muito se assemelha à teria hegeliana, ou seja, os acontecimentos geram-se por via «supra-estrutural», ideológica e/ou política. Que às vezes sucede não o negamos, mas o que dizemos que é que esse «motor» vem a posteriori, como se fosse o pico de uma onda que é económico-social. Não são as ideias, por mais importantes que o sejam, que conduzem os acontecimentos de princípio ao fim (o mais das vezes exprimem convulsões sociais e guiam as massas ou os indivíduos, o que já é muito); não é este ou aquele indivíduo excepcional que faz a História (ainda que tenha a envergadura de um Napoleão Bonaparte); os «factos» (não esquecer que todos os factos são «construídos e não dados) não meros acasos em circunstâncias indiscerníveis (como quase pretendeu o falecido historiador influente francês Furet, «revisionista»).

As Invasões Francesas inserem-se num vasto e complexo quadro de transformações económico-sociais (e, evidentemente, políticas) que foi rompendo (quase sempre à força) os quadros estreitos, inflexíveis no essencial, do Antigo Regime (ainda que a nobreza gostasse de manducar no bolo do comércio nacional e internacional). A derrota dos exércitos napoleónicos (no mar, na Rússia, em Portugal) ditou, ao mesmo tempo, o começo do fim do Antigo Regime, aos poucos ou de vez.

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