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sábado, 2 de janeiro de 2010

POEMAS DE PABLO NERUDA

A VERDADE

Amo-vos, idealismo e realismo,
como água e pedra
sois partes do mundo,
luz e raiz da árvore da vida.

Não me fechem os olhos
mesmo depois de morto,
ainda precisarei deles para aprender,
para olhar e compreender a minha morte.

Necessito da boca
para cantar depois, quando não existir.
E de minha alma, meu corpo, minhas mãos
para continuar a amar-te, minha amada.

Sei que não pode ser, mas desejei-o.

Amo o que não tem mais do que sonhos.

Tenho um jardim de flores que não existem.

Sou decididamente triangular.

Dou pela falta das minhas orelhas,
mas enrolei-as para as abandonar
num porto fluvial do interior
da República de Malagueta.

Não posso mais com a razão ao ombro.

Quero inventar o mar de cada dia.

Veio ver-me uma vez
um grande pintor que pintava soldados.
Todos eram heróicos e o bom homem
pintava-os no campo de batalha
morrendo com prazer.

Também pintava vacas realistas
e eram tão extremamente vacas
que nos íamos tornando melancólicos
e dispostos a ruminar eternamente.

Execração e horror! Li novelas
interminavelmente bondosas
e tantos versos sobre
o Primeiro de Maio
que agora escrevo apenas sobre o 2 desse mês.

Parece que o homem
atropela a paisagem
e a estrela que antes tinha céu
abate-nos agora
com a sua pertinácia comercial.

Assim acontece com a beleza
como se não quiséssemos comprá-la
e empacotam-na a seu gosto e maneira.

Há que deixar que a beleza baile
com os galãs menos recomendáveis,
entre o dia e a noite:
não a obriguemos a tomar a pílula
da verdade como um medicamento.

E o real? Também, sem dúvida alguma,
mas que nos aumente,
que nos alongue, que nos arrepie,
que nos exprima
tanto a ordem do pão como a da alma.

A sussurar! ordeno
ao bosque puro
que diga em segredo o seu segredo,
e à verdade: Não te detenhas tanto
que te endureças até à mentira.

Não sou reitor de nada, não comando
e por isso entesouro
os equívocos todos do meu canto.

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