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segunda-feira, 1 de março de 2010

NA HORA DA NOSSA MORTE (novela, cont.)

DIÁRIO DE MARTA -17


Faz do meu corpo o que quer. Eu sou sua, sou objecto e sujeito. Desperta-me as sensações mais adormecidas, ignoradas. Regresso aos primórdios da humanidade. Solto-me sem freio, sem vergonha e sem remorso. O meu corpo sofrido é agora espuma, nuvem, nenúfar, taça por onde bebe dos meus sentidos. Tão jovem e tão hábil…A quantas já exerceu a sua antiquíssima medicina? Com quantas aprendeu? Até quando, Nuno, até quando?

DIÁRIO DO PROFESSOR RAMOS -7

Não durmo, chamo o sono e ele não vem, deixa-me de olhos abertos na solidão silenciosa de quatro paredes, Quando chegará a notícia? Exames e mais exames, a ansiedade corrói os minutos e as horas, ninguém me acode, ninguém sabe porque a ninguém conto, percorro a pé todos os caminhos do meu lugar, o cérebro esforça-se por instilar coragem ao corpo, mas o corpo é a mente, não são duas forças opostas, é um único organismo dividido, se eu morrer, quando eu morrer, nem uma ruga na pele do mundo, nada verá perturbado o seu curso, nada, não verei o curso da Revolução, não saberei se esta revolta social que abala os alicerces da sociedade se transformará em Revolução, e se esta triunfará sobre a reacção que já se organiza, nasci sob o fascismo, morrerei sob o Novo que se anuncia, e serei um nada, um punhado de moléculas e átomos que se dispersarão sem memórias. Coisa nenhuma.

A espuma das palavras

A babugem do mar

Restos, ruínas, pegadas,

O vento nas dunas a chorar.

1 comentário:

Joaquim Moedas Duarte disse...

Pungentes, as palavras que exprimem a fulgurante consciência de saber-se efémero...

Viagem à Polónia

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Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

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Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.