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segunda-feira, 22 de março de 2010

Na Hora Da Nossa Morte (novela, cont.)

DIÁRIO DO PROFESSOR RAMOS – 9


Tudo que sabemos pelos órgãos dos sentidos não é uma verdade objectiva absoluta; contudo, sem eles, não saberíamos nada, porque foi neles que começou o conhecimento da humanidade e da criança. Desprezá-los é uma besteira; se os sentidos iludem, também o faz o intelecto. Os sentidos dão-nos das coisas as suas propriedades principais e secundárias; nestas, a interferência do sujeito é maior; no entanto não é uma alucinação. Também as imagens e as palavras não nos fornecem a verdade incontestável e, todavia, constituem um testemunho indispensável. De modo que não existiria filosofia e ciência sem uma boa observação sensível e experiencial. A matemática é de todas as ciências a mais credível; porém, não é a única ciência. As partículas da matéria mudam de posição quando as observamos, mas existem apesar disso e vamos conhecendo algumas das suas propriedades fundamentais. Não é apenas pelo intelecto que conhecemos a correcção de uma hipótese, a justeza de uma afirmação. Sem cérebro, sem os órgãos dos sentidos, sem observação e experimentação, o intelecto não existia sequer. Existem enunciados falsos e refutáveis, e existem verdades que resistem às refutações a que foram sujeitas. Os povos possuem enunciados empíricos que não sendo verdades absolutas, constituem verdades evidentes. A aspiração a uma linguagem inteiramente lógica, composta por regras consensuais que obrigam a conclusões irrefutáveis, uma linguagem universal cristalina como água pura, é uma antiga e sempre reiterada aspiração; os fracassos dos seus criadores demonstra os limites desse ideal. Quando mais verdadeiro um enunciado, mais abstracto. As operações de pura lógica, os axiomas, as equações, apresentam-se com a linguagem, os enunciados mais verdadeiros que o homem conseguiu; contudo, quanto mais abstractos, menos úteis. A ciência tem sido útil porque (ou quando) nos permite conhecer a realidade objectiva, seja com o apoio das matemáticas, seja através dos instrumentos e outros modelos de análise e quantificação. Não foi uma pura operação lógica que revolucionou o mundo, mas a máquina a vapor. Não foi a célebre equação de Einstein que por si revolucionou a nossa visão do tempo e do espaço, mas a teoria sobre a curvatura do espaço.

É com uma boa teoria que as revoluções se processam. Seja na filosofia, seja na ciência particular. A teoria que está contida na análise minuciosa e até quantificável de «O Capital», de K. Marx, não se organizou com base em puras operações lógicas elaboradas pelo intelecto encerrado num casulo de abstracções, mas demonstrando que o mais verdadeiro e importante não é o trabalho abstracto, mas o trabalho concreto. O dinheiro e a mercadoria abandonaram a sua abstracção mistificadora para parecerem em toda a sua nudez crua e bruta de exploração. Eis uma boa teoria que transformou o modo de ver o mundo económico. E político. De interpretar e de transformar. Exemplo de uma teoria revolucionária.

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