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quarta-feira, 2 de junho de 2010

A Ideologia

O conceito de "ideologia" tem vindo a ser abandonado por um grande número de filósofos e cientistas sociais a partir do século passado; os "pós-modernos" recusam-no pura e simplesmente. Em épocas passadas o conceito foi amplamente estudado e ainda hoje é admitido por alguns investigadores marxistas. Entre aqueles que o abandonaram encontramos cientistas sociais que utilizam, contudo, conceitos forjados por Marx. O conceito na sua acepção clássica não se refere exclusivamente àquilo que é comum designar-se por ideologia: as doutrinas políticas. Na acepção de Marx ideologia expressa a existência de uma ligação necessária entre formas "invertidas" de consciência e a existência material dos indivíduos. É um fenómeno social, um comportamento individual e colectivo, um género de pensamento distorcido cuja origem e formação se deve às contradições sociais e as oculta. A ideologia é, portanto, comum e universal, mas não reflecte o universal racional e verdadeiro, mas o particular. Deste modo, pode-se descobrir quais os interesses de classe envolvidos nas opiniões comuns, inclusivamente nas mais elaboradas teses e argumentações filosóficas e mesmo "científicas". Assim nas épocas em que na Biologia se defenderam teses racistas (por exemplo, no século passado aquando da difusão das doutrinas nazi-fascistas) a componente ideológica dos seus defensores estava visível. A fonte da inversão ideológica é uma inversão da própria realidade, supor, por exemplo, que são as ideias (determinadas ideias) que governam o mundo da vida e da história, e não os interesses práticos e materiais dos homens agrupados e divididos em classes sociais com interesses divergentes e mesmo antagónicos. A religião, por exemplo, expressa uma inversão, e ela é mais do que uma alienação filosófica ou simples ilusão: expressa ou reflecte as contradições e sofrimentos do mundo real. É uma espécie de compensação que pode trazer algum alívio mas que não resolve os problemas das misérias reais. Partir da consciência para explicar tudo, em vez de partir da realidade material, é pensar em termos ideológicos; o rótulo de "ideólogos" encaixa, então, naqueles que, propositadamente ou não, fazem a propaganda de mistificações que ajudam a classe dominante a perpetuar-se no poder. Marx foi muito claro ao explicar que os verdadeiros problemas da humanidade não são as ideias erróneas, mas as contradições sociais reais e que aquelas são consequência destas. A Escola (de qualquer nível) serve muitas vezes para disfarçar, pelos seus conteúdos que ensina, a existência das contradições sociais e tende a reproduzir as desigualdades sociais. As distorções e mistificações ideológicas podem e devem ser criticadas e postos a nu os verdadeiros interesses particulares que elas ocultam, porém não é apenas a crítica que vai resolver as contradições, os dramas e os conflitos que nascem do facto das sociedades estarem divididas em classes sociais. O capitalismo não se explica se nos limitarmos à sua esfera de circulação (dos capitais), os mercados; procedendo assim não sairiamos do "reino" das aparências e das expressões tipicamente ideológicas como sejam «os direitos inatos do homem», o blá-blá da Liberdade, Igualdade e Propriedade. A ideologia burguesa da liberdade e da igualdade oculta o que ocorre sob o processo superficial de troca, onde « essa aparente igualdade e liberdade individuais desaparecem» e «revelam-se como desigualdade e falta de liberdade» (Marx).

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