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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

AVATAR e a utopia

Uma leitora amiga teve a inteligência de me lembrar o significado de «Avatar», a propósito de um post no qual eu relacionava o filme com a utopia. De facto, «avatar» que remonta ao sânscrito, é um termo essencial na mitologia hindú e significa a encarnação de Krishna. O deus Vixnu desce à Terra em onze (ou vinte e duas) encarnações, sendo uma delas em Krishna.
Obtenho, assim, uma outra perspectiva para relacionar o filme com utopias contemporâneas (ou anquíssimas, porém em formas actuais). Avatar exprime o desejo de trocar de identidade, trocar de corpo (no sentido literal), substiutir o corpo «velho», «doente», ou «feio», por um outro, puro, belo e bom; emanação da natureza, este corpo novo é a encarnação desta, ou seja, está em perfeita harmonia com a natureza (os «avatares» escutam a fala da natureza). Não vem a despropósito evocar a filosofia de Gilles Deleuze, nos seus conceitos de «corpo sem órgãos» -capaz de ser «todos os nomes» - e de «rizoma». A utopia de uma longevidade prolongada da vida do corpo, com aparência jovem (utopia máxima), sem recurso a tecnologias (implantes), que o filme premiado exprime com clareza, cruza-se com uma das maiores filosofias do nosso tempo. Daqui partir-se-ia para a questão da «Identidade», tema recorrente do questionamento contemporâneo.
O filme afasta-se da utopia da troca de identidades, entre o indivíduo prisioneiro das convenções e, por isso, desejoso de exprimir as emoções e realizar livremente os seus desejos, que a literatura havia celebrado no século XIX e o cinema no século vinte (o médico cientista que descobre a droga, o elixir, do prazer sem culpa). No entanto, no fundo, talvez a utopia seja a mesma. O que mudou foi o paradigma cultural.

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