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domingo, 30 de janeiro de 2011

Falemos de Economia- J.M. KEYNES


«Na primavera de 2005, pediram a um painel de «académicos e líderes políticos conservadores» que identificasse os livros mais perigosos dos séculos XIX e XX. O leitor poderá fazer uma ideia das tendências do painel pelo facto de que tanto Charles darwin como Betty Friedan ficaram classificados nos primeiros lugares da lista. Mas, a Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda também se saíu muito bem. Na verdade, John Maynard Keynes bateu d elonge V.I. Lenine e Frantz Fanon. Keynes, que, na conclusão tantas vezes citada do livro, declarava que «cedo ou tarde, são as ideias, e não os interesses adquiridos, que representam um perigo, seja para o bem, seja para o mal», provavelmente teria ficado satisfeito.
Ao longo dos últimos 70 anos, a Teoria geral tem vindo a moldar os pontos de vista até dos que não ouviram falar do livro ou que acreditam que discordam dele. Um empresário que adverte que a diminuição da confiança representa um perigo para a economia é um keynesiano, quer o saiba, quer não. Um político que promete que os seus cortes de impostos vão gerar emprego ao dar dinheiro para gastar às pessoas é um keynesiano, ainda que jure abominar a doutrina. Até os autoproclamados economistas da oferta, que afirmam ter refutado Keynes, acabam por recorrer a histórias inequivocamente keynesianas para explicarem po que motivo a economia caiu em determinado ano.»
Paul Krugman, Prémio Nobel, Prefácio à Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, de J.M. Keynes,Lisboa, 2010, Relógio D´Água.    

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Falemos de ECONOMIA- AMARTYA SEN


Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 
Amartya Sen (Santiniketan, 3 de novembro de 1933) é um economista indiano.


Foi laureado com o Prémio de Ciências Económicas em Memória de Alfred Nobel de 1998, pelos seus contributos para a teoria da decisão social, e do "welfare state".

Nascido em 1933, em Santiniketan, Amartya Sen já lecionou na Delhi School of Economics, London School of Economics, Oxford e Harvard. Reitor de Cambridge, é também um dos fundadores do Instituto Mundial de Pesquisa em Economia do Desenvolvimento (Universidade da ONU).

Seus livros mais importantes incluem "On Economic Inequality", "Poverty and Famines" e "On Ethics and Economics".

Sua maior contribuição é mostrar que o desenvolvimento de um país está essencialmente ligado às oportunidades que ele oferece à população de fazer escolhas e exercer sua cidadania. E isso inclui não apenas a garantia dos direitos sociais básicos, como saúde e educação, como também segurança, liberdade, habitação e cultura.

"Vivemos um mundo de opulência sem precedentes, mas também de privação e opressão extraordinárias. O desenvolvimento consiste na eliminação de privações de liberdade que limitam as escolhas e as oportunidades das pessoas de exercer ponderadamente sua condição de cidadão", diz Amartya.

Foi, em 1993, juntamente com Mahbub ul Haq, o criador do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que vem sendo usado desde aquele ano pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento no seu relatório anual.

A sua lucidez tem atraído a atenção de economistas, cientistas e educadores do mundo todo.
É autor, entre outros, de "Desenvolvimento como Liberdade", publicado em 2000.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Sociologia- Boaventura Sousa Santos

Entrevista ao Jornal I (exertos)

«Portugal está em crise financeira porque



é uma economia fraca, com problemas

estruturais,mas não é a Portugal que os

capitais financeiros querem atingir. Querem atingir

Espanha e Itália. Só que não

podem lá chegar sem ir por Portugal,

pela Grécia e pela Irlanda. Os nossos

comentadores dizem mal do Estado, das

políticas sociais, mas depois dizem umas

frases suaves sobre os mercados financeiros.

Dizem que deviam ser mais regulados

e que não deviam ganhar dinheiro

com as apostas na bancarrota dos estados

e que isso não é uma coisa muito

ética. E ficam-se por aí. O que se passa é

um crime contra a humanidade: apostar

emtítulos de dívida e fazer tudo para

que esses títulos não sejam pagos, porque

quanto mais bancarrota tiverem

mais juros vão cobrar

a curto prazo. Eles

ganham com a falência

dos estados. Jogam com

elas porque são mundiais

e não há nenhum

governo mundial para

os regular.

O Prémio Nobel Paul


Krugman diz que os


mercados sãoum


bando de miúdos de


20 e tal anos, bêbados


e encharcados em


cocaína…


São um bando de criminosos,

que andam

por aí muito bem vestidos,

mas são uns mafiosos. Não há dúvida

que se trata de um crime contra a

humanidade, porque estão a lançar para

a fome populações inteiras, para que uns

poucos enriqueçam de uma maneira

escandalosa. Estive emNova Iorque e na

5.a Avenida bateram-se os recordes de

venda dos produtos mais caros. Voltaram

a abrir as carteiras, têm dinheiro

como nunca emWall Street, aqueles que

produziram a crise.

O professor tinha dito que o neoliberalismo

tinha falido, mas afinal...

Aí quase tenho de me retratar. Nunca

imaginei que o neoliberalismo tivesse

canibalizado tanto os estados. O neoliberalismo

nacionalizou os estados, os

bancos nacionalizaram os estados, não

foram os estados que nacionalizaram os

bancos. Passou a ideia de que um banco

não pode falir. As empresas podem

falir, um banco não pode falir. Faliram

todos com a Grande Depressão nos EUA,

mas nos últimos anos souberam como

controlar os estados e começaram por

fazer isso nos EUA. Quem é que nos últimos

20 anos financiou as campanhas

nos EUA? Wall Street. A campanha do

Obama? Wall Street. Quem é que Obama

nomeia para seu consultor financeiro

mais íntimo? Timothy Geithner. De

onde vem Timothy Geithner? De Wall

Street. Os abutres dos mercados financeiros

estão a destruir a riqueza do mundo

para se enriquecerem escandalosamente

sem nenhum controlo e há-de

haver um momento em que o povo, os

governos, vão dizer basta. E os portugueses,

quando começarem a sentir no bolso

e na cabeça, e não só no bolso, estas

medidas que vão começar a ser aplicadas.»
 
in ZOOM-Entrevista, Jornal I
 
Boaventura de Sousa Santos (Coimbra, 15 de Novembro de 1940) é doutor em sociologia do direito pela Universidade de Yale, professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Distinguished Legal Scholar da Faculdade de Direito da Universidade de Wisconsin-Madison e Global Legal Scholar da Universidade de Warwick. É também director dos Centro de Estudos Sociais e do Centro de Documentação 25 de Abril, e Coordenador Científico do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa - todos da Universidade de Coimbra. (Wikipédia)

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

PSICOLOGIA : Jean Pierre Changeux

Jean-Pierre Changeux é professor no Collège de France, membro da Academia das Ciências e presidente da Comissão Nacional Consultiva de Ética. Dirige, igualmente, o Laboratório de Neurobiologia Molecular do Instituto Pasteur. Amante de arte, é, também, presidente da Comissão das Doações de Obras de Arte.


Bibliografia
A Verdade e o Cérebro A Verdade e o Cérebro

2004 Instituto Piaget

O Que Nos Faz Pensar?

2001 Edições 70

Uma Mesma Ética Para Todos?

1999 Instituto Piaget

Fundamentos Naturais da Ética

1997 Instituto Piaget

Razão e Prazer

1997 Instituto Piaget

Matéria Pensante

1991 Gradiva Publicações

O Homem Neuronal

1991 Dom Quixote

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

20 ANOS DEPOIS...

Lisboa, 24 de Janeiro de 2011

-- Conselho Português para a Paz e Cooperaçãowww.cppc.pt


A 2 de Agosto de 1990 o Iraque invade o Kuwait, alegando roubo de

petróleo num campo petrolífero fronteiriço e razões territoriais históricas.

Desta intenção os EUA tinham conhecimento prévio e dado acordo tácito

através da embaixadora April Glaspie.

A invasão foi imediatamente condenada pelos governos e forças

políticas de todo o mundo. O Conselho de Segurança (C.S.) da ONU

adoptou, no próprio dia, uma Resolução, a 660, condenando o Iraque e

exigindo a reposição da legalidade internacional.

Invocando esta situação os EUA enviam forças armadas para a Arábia

Saudita a 9 de Agosto e insistem para que o C.S. da ONU dê cobertura à

intervenção armada, o que se vem a verificar a 29 de Novembro, dando

até 15 de Janeiro para o Iraque sair do Kuwait.

Entretanto a URSS, China e França insistem numa solução pacífica, o

que é ignorado pelos EUA e Inglaterra que notoriamente já optaram pela

resolução bélica.

3 horas da madrugada do dia 17 de Janeiro de 1991.

Um devastador ataque aéreo iniciou a operação “Tempestade no

Deserto”. Milhares de toneladas de bombas e mísseis, de tecnologia

“estreada” nesta guerra, foram lançadas por centenas de aviões e

dezenas de vasos de guerra norte-americanos e ingleses durante 40 dias.

A 24 de Janeiro começou a operação terrestre com cerca de 500 mil

soldados, dos quais 450 mil eram norte-americanos, muito embora a

“coalizão” fosse formada por 29 países e apoiada pela NATO.

No dia 26 as tropas iraquianas, já em retirada, são massacradas pela

aviação da “coalizão” na que ficou conhecida como a “estrada da

morte”, numa acção sem utilidade militar que só pode ser entendida

como um castigo e um aviso a outros.

Dois dias depois, a 28, o Presidente dos EUA, Bush pai, ordena a

suspensão das hostilidades.

O conflito custou a “coalizão” 65 biliões de dólares e um milhar de

mortes. O Iraque ficou destruído: com as redes sanitária, de distribuição

de água e eléctrica seriamente danificadas, com a industria petrolífera

semi destruída e paralisada, e teve um número calculado de 200 mil

mortes entre soldados e civis. E mais grave ainda sofreu um embargo,

imposto pela ONU, que juntamente com os efeitos do urânio

empobrecido, utilizado nas munições da “coalizão”, veio a arruinar a

saúde das populações, com efeitos que perduram até hoje, e que já

causou um número estimado de 2milhões de mortes.

6 de Março de 1991, G. Bush faz as seguintes afirmações no discurso da
vitória:


“…Agora, podemos ver um novo mundo chegando à vista. Um mundo

em que existe a possibilidade muito real de uma nova ordem mundial.

A vitória sobre o Iraque não foi conduzida como uma "guerra para

terminar todas as guerras." Mesmo a nova ordem mundial não pode

garantir uma era de paz perpétua. Mas uma paz duradoura deve ser a

nossa missão…”

Anteriormente o Secretário de Estado, Dick Cheeney, afirmara:

“…Ganhando o mais rapidamente possível a guerra, a América aparecerá

mais forte aos olhos do mundo inteiro. E terá provado que tem os

recursos para instaurar uma nova ordem mundial».

«Pensamos que os EUA têm exigências duráveis. Devemos manter a

nossa capacidade em controlar os oceanos do mundo, cumprir os

nossos compromissos na Europa e no Pacífico, ser capazes de

desdobrar forças, seja na Ásia do Sudoeste ou no Panamá, para fazer

face aos imprevistos, a fim de defender as vidas e os interesses

americanos».

Fora decretada e instaurada “a nova ordem mundial”.

Os EUA arrogavam-se o direito de serem policias do mundo e que a

defesa dos “interesses americanos” seria o centro da legalidade.

A “nova ordem mundial” foi o nome dado às pretensões hegemónicas do

imperialismo norte-americano. Reflectia a intenção de domínio e

aproveitamento das riquezas naturais mundiais e controlo de zonas

estratégicas que garantissem esse domínio e impedissem o

aparecimento de potências concorrentes.

A lista de atropelos ao Direito Internacional e de crimes cometidos pelas

administrações norte americanos nestes últimos vinte anos é longa.

Destacamos: 1991/2003- zonas de interdição aérea no Iraque, 1992 –

Somália, 1993 – Iraque, 2000 – Colombia, 2001 – Afeganistão, 2002 –

Prisão de Guantanamo, 2003 – Iraque, 2004 – “Voos da CIA”. A esta lista

deve-se juntar o alastramento de bases militares por todo o globo, a

dispersão de esquadras navais por todos os mares, a cumplicidade em

golpes contra governos que não lhes sejam favoráveis, como Venezuela

e Honduras, a cumplicidade com governos criminosos como os de Israel,

as ameaças e provocações a Estados – Irão e Coreia.

20 anos depois, a “nova ordem mundial” trouxe mortes, mais

insegurança e mais perigo para a humanidade. A situação no Médio

Oriente piorou e é, neste momento, um potencial foco para uma guerra

mundial.

O imperialismo usa a força para dominar. Criar condições para a paz,

segurança e progresso da humanidade depende da luta dos povos e dos

movimentos pela paz na defesa do direito internacional e no

cumprimento da Carta das Nações Unidas

A conquista de um mundo de justiça e paz depende de todos nós.

Lisboa, 24 de Janeiro de 2011

Grandes sociólogos e/ou filósofos- THEODOR ADORNO


Adorno e a Indústria Cultural


Daniel Ribeiro da Silva
Resumo:

O presente texto pretende ser mais uma explanação de algumas reflexões do filósofo T. W. Adorno (1903-1969) acerca da Indústria Cultural vigente no século XX.

Palavras-chave: Adorno, indústria cultural, ideologia, razão técnica, arte.

A Indústria Cultural impede a formação de indivíduos autônomos, independentes, capazes de julgar e de decidir conscientemente. Com as palavras do próprio Adorno, podemos compreender o porque das suas reflexões acerca desse tema.

Theodor Wiesengrund-Adorno, em parceria com outros filósofos contemporâneos, estão inseridos num trabalho muito árduo: pensar filosoficamente a realidade vigente. A realidade em que vivia estava sofrendo várias transformações, principalmente, na dimensão econômica. O Comércio tinha se fortalecido após as revoluções industriais, ocorridas na Europa e, com isso, o Capitalismo havia se fortalecido definitivamente, principalmente, com as novas descobertas cientificas e, conseqüentemente, com o avanço tecnológico. O homem havia perdido a sua autonomia. Em conseqüência disso, a humanidade estava cada vez mais se tornando desumanizada. Em outras palavras, poderíamos dizer que o nosso caro filósofo contemplava uma geração de homens doentes, talvez gravemente. O domínio da razão humana, que no Iluminismo era como uma doutrina, passou a dar lugar para o domínio da razão técnica. Os valores humanos haviam sido deixados de lado em troca do interesse econômico. O que passou a reger a sociedade foi a lei do mercado, e com isso, quem conseguisse acompanhar esse ritmo e essa ideologia de vida, talvez, conseguiria sobreviver; aquele que não conseguisse acompanhar esse ritmo e essa ideologia de vida ficava a mercê dos dias e do tempo, isto é, seria jogado à margem da sociedade. Nessa corrida pelo ter, nasce o individualismo, que, segundo o nosso filósofo, é o fruto de toda essa Indústria Cultural.

Segundo Adorno, na Indústria Cultural, tudo se torna negócio. Enquanto negócios, seus fins comerciais são realizados por meio de sistemática e programada exploração de bens considerados culturais. [3] Um exemplo disso, dirá ele, é o cinema. O que antes era um mecanismo de lazer, ou seja, uma arte, agora se tornou um meio eficaz de manipulação. Portanto, podemos dizer que a Indústria Cultural traz consigo todos os elementos característicos do mundo industrial moderno e nele exerce um papel especifico, qual seja, o de portadora da ideologia dominante, a qual outorga sentido a todo o sistema.

É importante salientar que, para Adorno, o homem, nessa Indústria Cultural, não passa de mero instrumento de trabalho e de consumo, ou seja, objeto. O homem é tão bem manipulado e ideologizado que até mesmo o seu lazer se torna uma extensão do trabalho. Portanto, o homem ganha um coração-máquina. Tudo que ele fará, fará segundo o seu coração-máquina, isto é, segundo a ideologia dominante. A Indústria Cultural, que tem com guia a racionalidade técnica esclarecida, prepara as mentes para um esquematismo que é oferecido pela indústria da cultura – que aparece para os seus usuários como um “conselho de quem entende”. O consumidor não precisa se dar ao trabalho de pensar, é só escolher. É a lógica do clichê. Esquemas prontos que podem ser empregados indiscriminadamente só tendo como única condição a aplicação ao fim a que se destinam. Nada escapa a voracidade da Indústria Cultural. Toda vida torna-se replicante. Dizem os autores:

«Ultrapassando de longe o teatro de ilusões, o filme não deixa mais à fantasia e ao pensamento dos espectadores nenhuma dimensão na qual estes possam, sem perder o fio, passear e divagar no quadro da obra fílmica permanecendo, no entanto, livres do controle de seus dados exatos, e é assim precisamente que o filme adestra o espectador entregue a ele para se identificar imediatamente com a realidade. Atualmente, a atrofia da imaginação e da espontaneidade do consumidor cultural não precisa ser reduzida a mecanismos psicológicos. Os próprios produtos (...) paralisam essas capacidade em virtude de sua própria constituição objetiva » (ADORNO & HORKHEIMER, 1997:119).

Fica claro portanto a grande intenção da Indústria Cultural: obscurecer a percepção de todas as pessoas, principalmente, daqueles que são formadores de opinião. Ela é a própria ideologia. Os valores passam a ser regidos por ela. Até mesmo a felicidade do individuo é influenciada e condicionada por essa cultura. Na Dialética do Esclarecimento, Adorno e Horkheimer exemplificam este fato através do episódio das Sereias da epopéia homérica. Ulisses preocupado com o encantamento produzido pelo canto das sereias tampa com cera os ouvidos da tripulação de sua nau. Ao mesmo tempo, o comandante Ulisses, ordena que o amarrem ao mastro para que, mesmo ouvindo o cântico sedutor, possa enfrentá-lo sem sucumbir à tentação das sereias. Assim, a respeito de Ulisses, dizem os autores:

«O escutado não tem conseqüências para ele que pode apenas acenar com a cabeça para que o soltem, porém tarde demais: os companheiros, que não podem escutar, sabem apenas do perigo do canto, não da sua beleza, e deixam-no atado ao mastro para salvar a ele e a si próprios. Eles reproduzem a vida do opressor ao mesmo tempo que a sua própria vida e ele não pode mais fugir a seu papel social. Os vínculos pelos quais ele é irrevogavelmente acorrentado à práxis ao mesmo tempo guardam as sereias à distância da práxis: sua tentação é neutralizada em puro objeto de contemplação, em arte. O acorrentado assiste a um concerto escutando imóvel, como fará o público de um concerto, e seu grito apaixonado pela liberação perde-se num aplauso. Assim o prazer artístico e o trabalho manual se separam na despedida do antemundo. A epopéia já contém a teoria correta. Os bens culturais estão em exata correlação com o trabalho comandado e os dois se fundamentam na inelutável coação à dominação social sobre a natureza»  (ADORNO & HORKHEIMER, 1997:45).
É importante frisar que a grande força da Indústria Cultural se verifica em proporcionar ao homem necessidades. Mas, não aquelas necessidades básicas para se viver dignamente (casa, comida, lazer, educação, e assim por diante) e, sim, as necessidades do sistema vigente (consumir incessantemente). Com isso, o consumidor viverá sempre insatisfeito, querendo, constantemente, consumir e o campo de consumo se torna cada vez maior. Tal dominação, como diz Max Jimeenez, comentador de Adorno, tem sua mola motora no desejo de posse constantemente renovado pelo progresso técnico e científico, e sabiamente controlado pela Indústria Cultural. Nesse sentido, o universo social, além de configurar-se como um universo de “coisas” constituiria um espaço hermeticamente fechado. E, assim, todas as tentativas de se livrar desse engodo estão condenadas ao fracasso. Mas, a visão “pessimista” da realidade é passada pela ideologia dominando, e não por Adorno. Para ele, existe uma saída, e esta, encontra-se na própria cultura do homem: a limitação do sistema e a estética.


Na Teoria Estética, obra que Adorno tentará explanar seus pensamentos sobre a salvação do homem, dirá ele que não adiante combater o mal com o próprio mal. Exemplo disso, ocorreram no nazismo e em outras guerras. Segundo ele, a antítese mais viável da sociedade selvagem é a arte. A arte, para ele, é que liberta o homem das amarras dos sistemas e o coloca com um ser autônomo, e, portanto, um ser humano. Enquanto para a Indústria Cultural o homem é mero objeto de trabalho e consumo, na arte é um ser livre para pensar, sentir e agir. A arte é como se fosse algo perfeito diante da realidade imperfeita. Além disso, para Adorno, a Indústria Cultural não pode ser pensada de maneira absoluta: ela possui uma origem histórica e, portanto, pode desaparecer.

Por fim, podemos dizer que Adorno foi um filósofo que conseguiu interpretar o mundo em que viveu, sem cair num pessimismo. Ele pôde vivenciar e apreender as amarras da ideologia vigente, encontrando dentro dela o próprio antídoto: a arte e a limitação da própria Indústria Cultural. Portanto, os remédios contra as imperfeições humanas estão inseridos na própria história da humanidade. É preciso que esses remédios cheguem a consciência de todos (a filosofia tem essa finalidade), pois, só assim, é que conseguiremos um mundo humano e sadio.

(texto on-line,sublinhados nossos, N.P.)

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

«Não sou CEGO. Vi foi demasiado»

sábado, 22 de janeiro de 2011

Falemos de SOCIOLOGIA


«PIERRE BOURDIEU: A HERANÇA SOCIOLÓGICA


MARIA DROSILA VASCONCELLOS

RESUMO: Através de uma apresentação, em ordem cronológica, da

obra de Pierre Bourdieu, tentou-se extrair as idéias, os elementos teóricos

e os conceitos elaborados por ele. Começando com um trabalho de

campo na Argélia, ele desenvolveu pouco a pouco um sistema de explicação

sociológica da dominação social. A escola, a cultura, a economia

foram, entre outros, estudadas aplicando conceitos novos na sociologia,

tais como habitus, violência simbólica ou campo social. Propondo uma

nova leitura das relações sociais, Bourdieu criou um modo de pensar

suscitando criticas severas, mas também uma obra profícua utilizada

nos mais variados setores sociais.

Palavras-chave: Herança social. Reprodução social. Habitus. Violência


simbólica. O conceito de habitus que ele desenvolverá ao longo da sua


obra corresponde a uma matriz, determinada pela posição social do

indivíduo que lhe permite pensar, ver e agir nas mais variadas situações.

O habitus traduz, dessa forma, estilos de vida, julgamentos políticos,

morais, estéticos. Ele é também um meio de ação que permite criar ou

desenvolver estratégias individuais ou coletivas.colaboração com Jean Claude Passeron. Ambos


eram filósofos e tornaram-se sociólogos como alunos de Raymond Aron.

E ambos põem em dúvida uma das idéias mais tenazes da ideologia

republicana: a igualdade de oportunidades e a importância do sistema

escolar para garantir igualdade social a todos. É o próprio fundamento

da sociedade meritocrática que eles criticam e o sistema de ensino

considerado como a ponta de lança dessa ideologia.Eles apresentam Les


Héritiers (1964) na editora Minuit, na qual Bourdieu dirigirá a coleçao

“Le sens commun”, onde vários autores estrangeiros ou franceses se

tornarão conhecidos no campo das ciências sociais. Nesta obra, os autores

chamam a atenção para a relação entre o “capital cultural”, a seleção

social e escolar. O conceito de capital cultural (diplomas, nível de

conhecimento geral, boas maneiras) é utilizado para se distinguir do

capital econômico e do capital social (rede de relações sociais). Os

estudantes de classe média ou da alta burguesia, pela proximidade com

a cultura “erudita”, pelas práticas culturais ou lingüísticas de seu meio

familiar, têm mais probabilidades de obter o sucesso escolar. “O que

Bourdieu demonstra é que existe relação entre a cultura e as desigualdades

escolares: a escola pressupõe certas competências que são de fato adquiridas na esfera familiar.»

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Ainda a Psicologia (Elementos para uma Psicologia materialista dialéctica)HENRI WALLON

Henri Wallon


1870 - 1962

"‘Foi a dialética que forneceu à Psicologia sua estabilidade e seu significado, e que a libertou de ter de optar entre o materialismo elementar ou o idealismo choco, o substancialismo cru ou o irracionalismo desesperado. Com o auxílio da dialética a Psicologia pode ser simultaneamente uma ciência natural e uma ciência humana, abolindo a divisão entre a consciência e as coisas que o espiritualismo buscou impor ao universo. A Dialética Marxista permitiu à Psicologia compreender o organismo e seu ambiente em interação constante, como uma totalidade unificada. E finalmente, na Dialética Marxista, a Psicologia encontra uma ferramenta para explicar os conflitos nos quais o indivíduo tem que evoluir seu comportamento e desenvolver sua personalidade."
Psicologia e Materialismo Dialético.

Nasceu na França. Formado em filosofia e medicina. Em 1925 inicia um período de intensa produção com todos os livros voltados para a psicologia da criança. Em 1931 viaja para Moscovo e passa a integrar o Círculo da Rússia Nova, grupo de intelectuais interessados em aprofundar o estudo do materialismo dialético e de examinar as possibilidades por ele oferecidas aos vários campos da ciência. Em 1942, filiou-se ao Partido Comunista Francês.

Actualmente estão disponíveis em Português as seguintes obras:
1942
Psicologia e Materialismo Dialético



in Arquivo Marxista na Internet

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Alexei Leontiev - A base da personalidade

(cont. do post anterior: elementos para uma Psicologia materialista)
III - A atividade como base da personalidade


O principal problema consiste em desvendar quais são os verdadeiros "formadores" da personalidade, esta unidade superior do homem, mutável como sua própria vida, porém que preserva em si uma estabilidade, sua auto-identidade. Ao final das contas, independentemente da experiência, o ser humano acumula os acontecimentos que modificam sua situação de vida, e, finalmente, independentemente das modificações físicas pela qual passa enquanto personalidade, ele permanece o mesmo aos olhos de outras pessoas, assim como aos seus próprios olhos. Ele é identificado, não somente por seu nome; até a lei o identifica, ao menos dentro dos limites da responsabilidade por seus atos.

Assim, existe uma óbvia contradição entre a mutabilidade aparente, física, psicofisiológica do ser humano e sua estabilidade enquanto personalidade. Este fato trouxe à tona o problema do "eu" como um problema especial da psicologia da personalidade. Isto surge porque os traços que são incluídos na caracterização psicológica da personalidade expressaram claramente o mutável e "intermitente" no ser humano, isto é, aquilo que se contrasta exatamente com a estabilidade e a continuidade de seu "eu". O que forma esta estabilidade e continuidade? O personalismo, em todas as suas variantes, responde esta questão, ao postular a existência de algum tipo de princípio especial, que formaria o núcleo da personalidade. Este, então, é encoberto pelas inúmeras aquisições no decorrer da vida, que são capazes de mudar, porém não de afetar essencialmente este núcleo.
Em outra abordagem da personalidade, a base é a categoria da atividade humana objetiva, a análise de sua estrutura integral, sua mediação e as formas de reflexo psíquico que gera.
Esse tipo de abordagem permite, desde o início, uma resolução preliminar da questão a respeito do que forma uma base estável para a personalidade; exatamente o que entra e o que não entra na caracterização do ser humano, especialmente enquanto personalidade, também depende disso. Essa decisão é feita com base na suposição de que a base real para a personalidade humana é o agregado de suas relações com o mundo, que são sociais por natureza, porém relações que são realizadas, e são realizadas através de sua atividade, ou, mais precisamente, pelo agregado de suas atividades multifacetadas.

Actividade Consciência e Personalidade


Alexei N. Leontiev
1978

Fonte da Presente Tradução: "Activity, Consciousness, and Personality", versão on-line do Leont'ev Internet Archive (marxists.org) 2000.
Tradução para o português: Maria Silvia Cintra Martins, Grupo de Estudos Marxistas em Educação.
HTML por José Braz para o Marxists Internet Archive

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Falemos de Psicologia- ALEXIS LEONTIEV: Uma Psicologia materialista.

A vida de Alexis Leontiev


Alexis Leontiev nasceu em 1903 em Moscou. Foi professor da Universidade de Moscou desde 1941 e criador da faculdade de Psicologia da qual foi decano. Foi membro da Academia de Ciências Pedagógicas da URSS e doutor honoris causa da Universidade de Paris . Foi presidente do congresso Internacional de Psicologia de Moscou (1971). Experimentador ao longo de toda sua vida, trabalhou sobre o desenvolvimento do psiquismo na criança, do psiquismo animal, a percepção, os sistemas funcionais do psiquismo, as relações entre o homem e as técnicas modernas, a alienação moderna, etc. No decurso de meio século de atividade científica efetuou e dirigiu um número considerável de trabalhos experimentais. Foi a partir deles e para melhor os interpretar que chegou a uma concepção de conjunto. Suas investigações levaram-no a defender a natureza sócio-histórica do psiquismo humano e a partir daí a teoria marxista do desenvolvimento social tornou-se, para ele, indispensável. Leontiev, porém, não limitou seu horizonte ao laboratório, preocupou-se com os problemas da vida humana em que o psiquismo intervém, o seu campo de estudos compreende a pedagogia, a cultura no seu conjunto, o problema da personalidade etc. Envolveu-se com numerosos órgãos e organismos da vida científica, filosófica e política. Foi discípulo de Vigotsky e empreendeu com este, vários trabalhos sobre o desenvolvimento ontogenético do psiquismo, especialmente sobre a memorização. Na obra "O desenvolvimento do psiquismo", o autor tem como objetivo revogar opiniões biologizantes sobre a natureza e o desenvolvimento do psiquismo humano, na qual os processos psíquicos superiores e as aptidões humanas dependeriam direta e fatalmente dos caracteres biológicos hereditários. Estas concepções manifestam-se também nos preconceitos pedagógicos ou outros resultantes da desigualdade das condições sociais do desenvolvimento das pessoas. Finalmente um pequeno livro muito importante aparecido em Moscou em fins de 1973 reúne os trabalhos e reflexões dos últimos anos sob o título "Atividade, consciência e personalidade". Neste, Leontiev fala, entre outras coisas, da psicologia soviética, que foi o caminho de uma luta incessante orientada para a assimilação criadora do marxismo - leninismo e contra as concepções idealistas e mecanistas biologizantes que tomava ora um rosto, ora outro. Compreendíamos todos que a psicologia marxista não é uma tendência particular, não é uma escola, mas, uma etapa histórica que representa o princípio de uma psicologia altamente científica e conseqüentemente materialista.


O significado do brincar

O desenvolvimento psíquico da criança
Os diferentes estágios da infância e suas atividades
Envolvimento com questões educacionais

No livro "Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem", Leontiev escreveu dois capítulos: "Uma contribuição ao desenvolvimento da psique infantil " e "Os princípios psicológicos da brincadeira infantil", inspirado nas concepções de Vigotsky, sobre o brincar da criança. Segundo ele, o caráter psíquico da criança se modificará a partir do momento em que ela der um significado ás coisas que ela sabe, não importando a quantidade de coisas que ela já sabe. Quando a criança vai para a escola, não existem apenas deveres para com os pais e professores, há uma obrigação com a sociedade. A criança sabe, mas isso só adquire um sentido real quando ela começa a estudar. Essa obrigação de ir para a escola e essa necessidade de estudar faz a criança se sentir mais importante e mais adulta. É por isso que para a criança é tão marcante tirar uma nota ruim, pois essa nota nunca mais será substituída, por mais que tire uma nota boa, mais tarde, essa nota estará sempre ao lado da ruim.

O desenvolvimento psíquico depende da atividade principal da criança. Essa atividade não é aquela que a criança mais faz, e sim aquela :
Que faz surgir outras atividades diferenciadas. Ex: aprender brincando.
Que dependem de as principais mudanças psicológicas na personalidade infantil observada num período. Ex: com o brinquedo no período da pré-escola, a criança assimila as funções sociais das pessoas. Isso é importante para a modelagem de sua personalidade.

A criança vai passando por vários estágios, e o conteúdo desses estágios, depende das condições de vida de cada pessoa. Ela muda de estágio a partir do momento em que ela percebe que suas potencialidades estão de acordo com seu modo de vida. Suas atividades variam de acordo com os estágios e dependendo da atividade a ação pode ter outro caráter psicológico. Por exemplo: Por que uma criança resolve um problema de matemática dado como tarefa? Com certeza ela não pensa que ela irá aprender, ela faz a tarefa para não ficar de castigo, para a professora não brigar com ela, ou mesmo para ela tirar uma nota boa. Porém nem toda atividade que ela realiza ela a faz pensando no resultado. Ao brincar, a criança não tem nenhum objetivo ao final da brincadeira. O próprio ato é o motivo, pois ela se diverte brincando. Num jogo, para a criança, o importante não é ganhar e sim competir, ela quer jogar pela simples diversão. Já para os adultos, o mais importante é ganhar e não competir, então o jogo deixa de ser uma brincadeira. Conforme a criança se desenvolve, ela começa a querer imitar os adultos e a fazer coisas para obter resultados e não simplesmente por fazê-las. Por exemplo: ao ver a mãe cozinhando e cuidando de um irmão menor, a menina começa a querer imitar a mãe e vai brincar às "casinhas". Como a criança não persegue um objetivo com isso, e só quer se divertir, pra ela não importa que seu bebê não chore e que sua comida não seja de verdade. Porém, a partir do momento em que ela começa a buscar um objetivo naquilo que faz, a brincadeira perde a graça, e ela quer então ajudar sua mãe ao invés de imitá-la.
A brincadeira é muito importante para a criança pois estimula sua imaginação. Ela começa a perceber as funções sociais das pessoas e desenvolve sua personalidade. Para interpretar uma brincadeira é preciso penetrar na psicologia da criança, pois crianças de idades diferentes podem brincar da mesma coisa, porém, de formas diferentes.


in www.oocities.com/eduriedades/alexisleontiev.html (corrigi o texto)

sábado, 15 de janeiro de 2011

NOAM CHOMSKY

«Avram Noam Chomsky (Filadélfia, 7 de dezembro de 1928) é um linguista, filósofo e ativista político estadunidense.

É professor de Linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
Seu nome está associado à criação da gramática ge(ne)rativa transformacional, abordagem que revolucionou os estudos no domínio da linguística teórica. É também o autor de trabalhos fundamentais sobre as propriedades matemáticas das linguagens formais, sendo o seu nome associado à chamada Hierarquia de Chomsky.
Seus trabalhos, combinando uma abordagem matemática dos fenómenos da linguagem com uma crítica radical do behavio(u)rismo, em que a linguagem é conceitualizada como uma propriedade inata do cérebro/mente humanos, contribuem decisivamente para o arranque da revolução cognitiva, no domínio das ciências humanas.
Além da sua investigação e ensino no âmbito da linguística, Chomsky é também conhecido pelas suas posições políticas de esquerda e pela sua crítica da política externa dos Estados Unidos. Chomsky descreve-se como um socialista libertário, havendo quem o associe ao anarcossindicalismo.» in Wikipédia

Chomsky é um cientista e publicista demasiado importante para ser desconhecido por quem ainda não pôde conhecê-lo. Da sua já abundante bibliografia traduzida em português, basta salientar um título: «Propaganda e Opinião Pública» (Campo da Comunicação, 2002). Vem sempre a propósito quando constatamos a manipulação das mentes, a mentira disfarçada de verdade, os acontecimentos artificialmente empolados e muitas vezes acessórios, ou grandes acontecimentos que são propositadamente secundarizados ou transmitidos sem o devido contexto (o seu enquadramento, as suas causas, etc.).
Dois exemplos: ultimamente as televisões e revistas têm empolado um caso de homicídio de um cronista em desfavor de outros factos de envergadura nacional e internacional (o falecido merece horas de transmissão, enquanto a morte de um valoroso capitão de Abril é colocada em nota de rodapé). Segundo exemplo: a revolta das massas na Tunísia aparece, sobretudo, com imagens de violência, sem ao menos uma reportagem que nos permitisse enquadrar essa revolta (que poderá eventualmente converter-se em revolução) na luta dos povos submetidos e explorados brutalmente pelo horror económico capitalista (há quem epnse que o elo mais fraco do capitalismo está nos povos dos países dominados e periféricos).
A manipulação pelos meios de comunicação é uma estratégia poedrosa e eficaz de lavagem ao cérebro, de propaganda sectária, de distracção dos problemas reais, de injecção do medo e da insegurança. O medo, a resignação, a servidão voluntária, o fatalismo e o pessimismo, constituem hoje os elementos principais da ideologia do capitalismo, que os seus ideólogos e fazedores de opinião propagam insidiosamente como um tóxico.
Noam Chomsky, a sue tempo, demonstrou clara e frontalmente como foi montada a operação de ataque ao Iraque.

A questão principal

A questão prioritária, urgente, que se apresenta a todos os cidadãos, quer tenham ainda uma actividade exclusivamente intelectual, quer não a tenham exclusivamente, é a salvaguarda do Estado Social. Traço identitário das sociedades europeias é uma das admiráveis conquistas do século passado. Não é o socialismo, mas é o que de melhor se pôde conseguir com muitas batalhas políticas e sociais. O próprio capitalismo não se deu mal com ele, podendo desenvolver-se com longos períodos de prosperidade dentro desses limites e regras. Perder o Estado Social é um retrocesso civilizacional. Este horror económico que se está a alastrar como uma peste, destrói a coesão social, acumula a riqueza num pólo e a miséria no outro, escraviza milhões de seres humanos, delapida os recursos pondo em perigo a sobrevivência.
Aquilo que nos separa ou aproxima é a defesa e o melhoramento do Estado Social, ou não. Não é mentir com palavras quando os actos as contradizem.
Essa questão é um critério, uma pedra-de-toque, uma avaliação. Desviarmo-nos para outras questões é um comportamento de diletante irresponsável. O que está em jogo é isso e isso é muito sério.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

JEAN SALEM

Jean SALEM, agrégé, docteur et habilité à diriger des recherches en Philosophie. A également suivi des études en Littérature française, en Sciences politiques, en Anglais, en Histoire, en Art et archéologie, ainsi qu’en Histoire de la pensée économique. — Prix des Études grecques (1996). Lauréat de l’Académie française (2000). Professeur d’Histoire de la Philosophie à l’Université Paris 1 / Panthéon-Sorbonne. Directeur du Centre d’Histoire des Systèmes de Pensée Moderne. A animé un Séminaire d’Histoire du Matérialisme. Anime désormais, avec Isabelle Garo et Stathis Kouvelakis, le Séminaire ‘Marx au XXIe siècle : l’esprit et la lettre’.


...A publié une trentaine d’ouvrages. Ses principaux travaux de recherche (publiés chez Vrin, Hachette, Encre Marine, Kimé, au Seuil, etc.) portent sur la philosophie des atomes et sur la pensée du plaisir. Concernant la philosophie de Démocrite d’Abdère, Jean Salem s’est efforcé de réunir et d’organiser les membra disjecta de cette pensée qu’il tient pour fondatrice du matérialisme philosophique. Concernant Épicure et Lucrèce, il a étudié les fondements de la doctrine que l’on enseignait au Jardin, en s’attachant par-dessus tout à restituer le sens d’une éthique qui a osé proclamer que le souverain bien réside dans la volupté. Aussi ne manque-t-il pas de s’intéresser par surcroît à l’hédonisme bien moins serein qui fut celui des faux épicuriens, celui des voluptueux inquiets, celui d’un Maupassant notamment. Des livres plus personnels (parus chez Bordas, Michalon, etc.) entremêlent philosophie générale, promenades érudites et interventions politiques.

...Jean SALEM a publié par ailleurs une Introduction à la logique formelle et symbolique (Nathan). Il a aussi consacré diverses études à Giorgio Vasari, à Ludwig Feuerbach, à V. I. Lénine, etc. Il a édité des textes d’auteurs anciens (Plutarque, Hippocrate), et rédigé plusieurs manuels destinés aux lycéens et aux étudiants en philosophie (Nathan, Albin Michel, Bordas).

(in site de Panthéon-Sorbonne-Université Paris)
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«Na extensa Introdução, com um prólogo comovente, o autor ilumina a falsificação da História com aquela transparência rara que, no dizer de Camus, dá força de evidencia ao óbvio. Depois, a partir da selecção de seis teses de Lenine, extraídas das suas Obras Completas, desenvolve uma lição de política que demonstra com clareza meridiana a actualidade tão ignorada do pensamento revolucionário de Vladimir Ilitch.

Nesta época em que a perversão mediática funciona como cimento do poder, centenas de milhões de pessoas tendem a ver em Lenine a personificação de um processo histórico e de uma ideologia de que a humanidade deveria ter vergonha.
A criminalização do ideal comunista foi tão cientificamente trabalhada pelas transnacionais da desinformação, controladas pelo grande capital, que as campanhas desencadeadas afectaram inclusivamente a consciência histórica de muitos comunistas.
A inversão da verdade tem raízes milenárias. Existiu na Pérsia Aqueménida, na Grécia, em Roma, em todas as contra-revoluções. Bismarck, após a derrota da Comuna de Paris, definia os vencidos como criminosos de direito comum. E as burguesias europeias aplaudiam.
Salem lembra que, segundo uma sondagem do Instituto Francês de Opinião Pública, somente 20% dos franceses admitem que a participação da União Soviética na guerra tinha sido decisiva para a vitória sobre o nazismo. Segundo outra sondagem, a maioria respondeu que a URSS tinha sido aliada da Alemanha durante a II Guerra Mundial.
Apenas uma insignificante minoria de europeus sabe que a Wehrmacht foi destruída pelo Exército Vermelho. Em Março de 45, dois meses antes do fim do III Reich, somente 26 divisões alemãs combatiam a Ocidente os exércitos inglês e norte-americano enquanto 170 divisões lutavam na Frente Oriental contra os soviéticos.
A famosa escritora sionista norte-americana Hannah Arendt compara o comunismo a um dragão e afirma que "os sistemas nazi e bolchevista" são "duas variantes do mesmo sistema". E vai mais longe. Comparando ambos, afirma que os estados comunistas "cometeram crimes que atingiram aproximadamente cem milhões de pessoas contra cerca de 25 milhões (sic) pelo nazismo".
Citando outros exemplos da histeria anticomunista, Jean Salem recorda que André Gluksmann – o "novo filósofo" francês, ex-maoista que hoje apoia com entusiasmo as guerras "preventivas" dos EUA – avaliou há anos as vítimas da repressão na URSS em 15 milhões de mortos. Com o rodar dos anos achou insuficiente essa estatística e agora chegou à conclusão de que o número de mortos foi de 40 milhões. Mas Soljenitsine, laureado com o Prémio Nobel, acha pouco e fala de 66 milhões de mortos.
Outro campeão do anticomunismo, o russo Michael Volensky, autor da Nomenklatura – 400 mil exemplares vendidos em França – garante que "o tributo pago pelos povos soviéticos à ditadura ascendeu a 110 milhões de vidas humanas".
Ernst Nolke um historiador alemão, venerado pela grande burguesia, sustenta que Aushwitz foi "principalmente (…) uma reacção, fruto da angústia suscitada pelas acções de extermínio cometidas pela revolução russa".
Esses anticomunistas fanáticos, epígonos das maravilhas do capitalismo, omitem que a esperança de vida na Rússia decresceu 10% numa década. O País tem hoje menos 30 milhões de habitantes do que no final do regime socialista.
A invenção de uma História que responda aos interesses do sistema de poder imperial que tem hoje o seu pólo nos EUA parece, pelo absurdo, fantasia de um romance de ficção científica. Mas, para mal da humanidade, é bem real e funciona, substituindo a História autêntica na memória de uma parcela das actuais gerações.» Miguel Urbano Rodrigues.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Acontecimento

Existe na história da filosofia ocidental um punhado de termos que fizeram um prolongado percurso com êxito: Lembremos, por exemplo, o termo "Vontade": foi "Vontade Geral" em Rousseau, "Vontade Boa" em Kant, "Vontade-Força" em Shopenhauer, "Vontade" em Nietzsche, etc. Kant vai buscá-la Rousseau, Shopenhauer a Kant, Nietzsche a este, etc. Está claro que varia o termo conforme o conceito que cada um lhe atribui.
Existe hoje, no pós-modernismo, um termo semelhante quanto à sua digerssão por diversos pensadores: "Acontecimento" (Alain Badiou, Deleuze, Rancière, etc.). O propósito é denunciar modelos universalistas petrificados e metafísicos, que incluem a "identidade" e a "semelhança"; a intenção é revelar que tudo é diferente de tudo, que a casualidade persiste sobre a causalidade, a variação sobre o invariante, a identidade múltipla e quase amorfa sobre a identidade fixada.
Aqui, como sempre, o problema fundamental está na categoria de "causalidade". Se tal coisa existe, ou aconteceu, o que a tornou possível?
Um acontecimento pode ser previsto, preparado, organizado, provocado?
Questões decisivas para os historiadores, sociólogos, psicólogos, filósofos, cientistas de uma maneira geral.
O filósofo francês Jean Salem oferece-nos uma perspectiva penetrante sobre o "Acontecimento" da Revolução Russa de 1917: «Lénine e a Revolução». Um livrinho -em português- a ler com urgência.

Entrevista a Samir Amin

O capitalismo senil

Ler a entrevista a Samir Amin em resistir.info/samir/s_amin.html

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

SAMIR AMIN

Samir Amin (en árabe, سمير أمين) (Cairo; 3 de setembro de 1931) é um economista egípcio neo-marxista, um dos mais importantes de sua geração. Realizou seus estudos sobre política, estatística e economia en Paris. Atualmente reside em Dakar (Senegal).


 Biografia

Entre 1957 e 1960 trabalhou na administração pública egipcia, na área de desenvolvimento econômico. Entre 1960 e 1963 atuou como conselheiro do governo do Mali. Em 1970 torna-se diretor do Instituto Africano de Desenvolvimento Econômico e Planejamento, com sede em Dakar, Senegal. Atualmente é diretor do Forum do Terceiro Mundo, uma associação internacional formada por intelectuais da África, Ásia e América Latina, destinada a fortalecer os esforços intelectuais e os laços entre os países do Terceiro Mundo, também com sede em Dakar.

Obras

Las luchas campesinas y obreras frente a los desafios del siglo XXI, 2005


El capitalismo en la era de la globalización, 1998


El fracaso del desarrollo en África y en el tercer mundo: un análisis político, 1994


El Mediterráneo en el mundo: la aventura de la Transnacionalización, 1989


El Eurocentrismo: crítica de una ideología, 1989, ISBN 968-23-1525-5


La Desconexión 1988


El desarrollo desigual, 1986


Transforming the world-economy?: nine critical essays on the new international economic order, 1984


Classe et nation dans l"histoire et la crise contemporaine, 1979


Elogio del socialismo y otros escritos, 1978


El desarrollo desigual: ensayo sobre las formaciones sociales del capitalismo, 1978


Decadencia y crisis del capitalismo actual, 1978


L'impérialisme et le développement inégal, 1976


La nation arabe: Nationalisme et luttes de classes, 1976


Sobre la transición, 1975


Los Angeles, United States of Plastika, 1975


Sobre el desarrollo desigual de las formaciones sociales, 1974


Le maghreb moderne, 1970


(in Wikipédia)

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Consenso e Conflito

Comentário meu (N.P:): Daniel Bensaide, falecido em 2010 com 64 anos, foi um importante filósofo. Foi co-organizador e dirigente intelectual de uma organização política que não perfilho. Nesta entrevista coloca com claravidência os limites e as consequências de um pensamento político que fez moda na Europa francófona e ainda hoje se conserva de algum modo nos autores aqui considerados: Alain Badiou e Antonio Negri (ver, por exemplo, a obra deste último e de M. Hardt, «Império»). Em Gilles Deleuze constatamos influências em várias teses e conceitos deste grande pensador. Os ensaios que tenho publicado na Revista "Vértice" intitulam-se «Crítica da Razão Consensual»;porém, não retomo de modo nenhum as teses de Badiou, Rancière e Negri.

 O Marxismo e o Discurso do Dissenso


Daniel Bensaïd

Dezembro de 1999



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Primeira Edição: Publicado no Em Tempo nº 311-312, novembro-dezembro de 1999. Trata-se de uma passagem do livro-entrevista com Daniel Bensaïd, organizado por Phillippe Petit, Elogio da resistência ao ar dos tempos (Paris: Textuel, 1999), em que Bensaïd comenta sua posição frente às teorias do dissenso, defendidas por filósofos da esquerda radical como Badiou, Rancière e Negri.

Fonte: Coletânea: "Marxismo, Modernidade e Utopia", Editora Xamã, São Paulo, 2000).

Transcrição: Daniel Monteiro - Autorizada por José Corrêa Leite, organizador da coletânea.

HTML: Fernando A. S. Araújo

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Phillippe Petit: Existe uma forte oposição entre os partidários da filosofia política (Myriam Revault d’Allones, Blandine Barret-Kriegel) e os do antiparlamentarismo que defende uma filosofia do acontecimento (Alain Badiou), da igualdade (Jacques Rancière) ou da inventividade (Toni Negri). Como você se situa neste contexto filosófico?

Daniel Bensaïd: Em um primeiro momento, fui seduzido por eles. Exprimiam a radicalidade no pensamento político dos anos 80: uma recusa de se render às razões dominantes; de se dobrar à lógica do consenso, do apaziguamento e da reconciliação geral; de se sacrificar ao adeus às armas do pós-68.

A manutenção intransigente do desentendimento e da discordia.

Estes autores não podem ser colocados no mesmo saco. Entretanto, eles tem em comum a busca de um alicerce teórico para a recusa desta lógica de pacificação pelo mercado. Em Badiou, a fórmula que resume esta resistência é “a fidelidade ao acontecimento no qual o povo se pronuncia”. Mas esta fidelidade tem um preço: o acontecimento fundador de uma seqüência (a Bastilha, a Comuna, Outubro...) aparece desenraizado da duração, arrancado de sua historicidade. Há irrupções acontecimentais, irrupções de verdade política, mas não se vê bem como isso se articula com condições sociais determinadas. Junto com Sylvain Lazarus, Badiou teorizou esta idéia de “seqüências” abertas por um nome próprio (o do acontecimento inaugural). Elas acabam sem que se saiba bem como e porque. Pelo simples desgaste do tempo? Por um efeito mecânico da inércia? Não se encontra nenhuma explicação, entre eles, da contra-revolução estalinista ou do maoismo burocratizado. Há uma incapacidade de dar conta dos processos sociais de burocratização.
A partir de Aristóteles e de Foucault, Rancière desenvolve uma oposição estruturante entre a política e isso que ele chama “a polícia”. Quanto a Negri, ele destaca a potência criadora do “poder constituinte”, relacionada com o acontecimento revolucionário, em ruptura sistemática com o instituído e o estatal. Vê-se bem os pontos de unidade entre estes pensamentos. Para além de suas diferenças, estes pensamentos tem em comum o seguinte ponto de vista: a política, reduzida ao acontecimento ou à manifestação do poder constituinte, é da ordem da raridade e da intermitência. Há momentos raros, quase milagrosos, de política, entre mantos de polícia e de petrificação estatal. Rancière fala assim do sujeito político como de um “sujeito com eclipses” e da política como de uma “manifestação pontual” ou de um “acidente provisório” nas formas de dominação.

A conseqüência extrema seria que o fato de aceitar a controvérsia, de entrar no debate, de se comprometer com a opinião, equivaleria praticamente à colaborar, deixar-se agarrar pelo consenso pegajoso. A atitude política exemplar teria por modelo, então, o “silêncio do mar”.

Meu primeiro reflexo de atração por estes discursos de resistência e de dissenso não foi, portanto, até a adesão. Vejo neles uma forma sofisticada de evitar a política, que corre permanentemente o risco de derrapar para uma postura estética ou filosófica que foge da contradição. Retomemos: a política não se reduz ao Estado, mas nem por isso ela escapa da institucionalização ou da historicidade. Negar esta relação permite, talvez, se manter fora do alcance das impurezas da política ordinária. Mas nem por isso deixa de constituir uma política de fato, que oscila entre um elitismo esquerdista e uma retirada contemplativa.

Para melhor compreender a importância dessas posições, deve-se começar por dizer a quê elas se opõem. O vento dominante dos anos 80 foi o do “retorno do político” (no masculino) e da filosofia política em detrimento da crítica social. Ao pretender tomar altitude, esta filosofia propõe uma arquitetura institucional invariante do político e da democracia através das idades, de que as políticas concretas seriam apenas uma espécie de mobiliário efêmero.

É inútil dizer que os filósofos políticos encontraram nisso seu canto: podiam se erigir em juizes da política sem ter que meter muito a mão na massa. Em troca deste conforto celeste no país do politicamente puro, sua filosofia política trazia à política prosaica a nobreza do conceito. Em nome de uma leitura empobrecida de Hanna Arendt, de quem sobrevoam vagamente as idéias de pluralismo e de multiplicidade, celebravam com zelo o despotismo da opinião, a lei do nome e as virtudes do servilismo pensante.

Alain Badiou, ao contrario, proclama como uma das exigências fundamentais do pensamento contemporâneo a necessidade de acabar com esta filosofia política, que se arroga o poder de pensar fora do prumo da empiricidade das políticas reais e o privilégio de determinar os princípio da boa política sem ter que militar em um conflito real. Rancière, por sua vez, avalia que esta celebração da política pura oblitera o litígio constitutivo da política para reduzi-la ao estatal. O que vale não é o político, mas políticas irredutíveis umas às outras, inconciliáveis e irreconciliáveis. Até aí, eu acompanho.
Mas Badiou vai mais longe. Ele absolutiza a oposição entre verdade e opinião, filósofo e sofista. Os dois são, para ele, incompatíveis. Bourdieu também opõe, de forma igualmente radical, a ciência do sociólogo à ideologia do “doxosofo”. Tudo isso relembra as polêmicas inflamadas dos anos 60 sobre o “corte epistemológico” entre ciências e ideologias. Reencontramos a oposição entre um discurso magistral de verdade e um comércio de opiniões constitutivas do espaço público.

A crítica das pesquisas de opinião, das mídias, dos fabricantes de opiniões é certamente mais necessária do que nunca. Mas Protagoras foi também um pensador da democracia. Deve-se, portanto, segurar bem as duas pontas da cadeia, instalar-se na contradição que toma aqui a forma de uma tensão irredutível entre verdade e opinião. O filósofo e o sofista não existem um sem o outro. A verdade de um sofre uma tentação autoritária (a do filósofo e de sua república disciplinar); a opinião do outro sofre uma tentação demagógica e relativista (sacrificando-se ao imperativo de obter o número necessário, como se a maioria tivesse o valor de verdade).

Dito isso, eu não coloco a radicalidade do dissenso lado a lado com as ideologias liberais ou estatistas que são infinitamente mais pesadas, que representam interesses poderosos, contra os quais o combate deve ser travado... Mas é importante não embaralhar as linhas.

(Inclusão 30/11/2010)

Mantive a tradução brasileira por respeito. Publicito e aconselho este site.

sábado, 8 de janeiro de 2011

As regras

Karl Marx assinalou em diversos períodos em diversos escritos (desde os Manuscritos de 1844 até a O Capital, passando pelo Manifesto) a violação sistemática das regras pela Burguesia: as regras de uma moral consuetudinária e as próprias regras inventadas por essa classe. Demonstrou que a Burguesia inventara regras antes da sua ascenção ao poder (por exemplo, no Iluminismo antes da Revolução Francesa) que depois não cumpriu; regras universais que a grande Revolução jacobina de 1842 defendeu a ferro e fogo ( por exemplo, a Constituição e a Declaração Universal) que, a seguir, durante o Directório e a contra-revolução, não mais aplicou na prática; regras estabelecidas durante os regimes liberais (do constitucionalismo monárquico ou republicano) que não respeitou. Precisamente por essa razão se ergueram doutrinas anti-liberais que prosseguiam o ideário de fazer cumprir na prática o que era apenas abstracto (em geral: Igualdade, Liberdade, Fraternidade). Muito mais tarde o célebre economista Keynes propôs soluções para a recuperação capitalista, que estabelecia regras para um bom funcionamento do sistema (aplicadas, por exemplo, na Grande Depressão de 1929- o New Deal-). Com a introdução do neo-liberalismo (Escola de Chicago, anti-keynesiana) não só as regras se modificaram como o próprio mercado, entregue a si próprio, se desregulou (sendo este facto uma das consequências desastrosas que estamos todos vivendo).
De uma maneira geral se pode dizer que a Burguesia é cínica e hipócrita, inclusivamente na prática dos comportamentos morais (prega uma coisa e faz outra).
Exemplo: a corrupção é ilegal e imoral; todavia, é uma prática geral e comum (subornar é uma das regras usuais na concorrência); outro exemplo: o contrabando de armas, que, quantas vezes, é perfeitamente legal e visível.
Os regimes políticos actuais das democracias burguesas sustentam-se e perduram através do eleitoralismo, clientelismo, nepotismo e muita corrupção.
O caso da compra e venda de acções por parte do candidato Cavaco Silva enquadra-se neste desenho traçado a lápis grosso.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Tiro ao alvo

O modo como cada um enriquece pode importar muito. Em primeiro lugar, para se caracterizar o modo de produção dominante (se assenta na apropriação privada dos excedentes, ou não) numa determinada sociedade; em segundo lugar, o regime político que permite ou justifica essa forma de enriquecimento considerando-o legal (através das leis que promulga) e legítimo (conforme ao tipo de economia dominante); em terceiro lugar, para se avaliar da coerência entre as palavras e os actos desse indivíduo. Uma coisa é a moral dominante em determinado período histórico, que promove e justifica determinadas práticas sociais (económico-financeiras, a compra e venda da força de trabalho, salário e lucro, etc.), outra coisa é a ética, que descreve as relações entre as ideias e as intenções e as práticas sociais historicamente determinadas (a Ética, enquanto área filosófica, investiga a possibilidade de princípios universais de uma moral racional).
O actual Presidente da República e candidato é coerente. Sendo como foi, e é, um dos principais responsáveis pela deriva neo-liberal das políticas económicas do nosso país, e pela política de dependência relativamente à partilha da Europa pelas grandes potências, enriqueceu legitimamente sob estas políticas e através do seu poder pesssoal.
São estas políticas que importa discutir. O modo de prdoução, o neo-liberalismo, o Regime e o poder de uma élite.

O homem "Providencial"

A SIC avança que o despacho da venda das acções de Cavaco Silva na SLN terá sido assinado por José Oliveira Costa.


A estação de Carnaxide garante ter tido acesso à carta que o presidente da República, Cavaco Silva, enviou a Oliveira Costa, então presidente do BPN e da SLN, em Novembro de 2003, com uma ordem de venda das 105.378 acções da SLN que o PR detinha na altura.

O despacho com o valor de venda das acções, diz a SIC, está assinado pelo próprio José Oliveira Costa, ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais de Cavaco Silva.

Os títulos, comprados pelo valor unitário de 1 euro, foram vendidas por 2,40 euros, o que significa que Cavaco terá tido uma mais valia superior a 140%.

Qustionado pelos jornalistas que acompanham a sua campanha presidencial, hoje, em Faro, o Presidente da República recusou-se a comentar esta informação

( in «Diário Económico», hoje)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

«O segredo dos teus olhos»

«O segredo dos teus olhos» é um grande filme. Realizador argentino, novela de base também argentina, a história passa-se na Argentina durante a ditadura até ao presente. Está à venda numa edição especial nas livrarias. O sofrimento foi atroz sob essa ditadura militar fascista apoiada pelos Estados Unidos. Dezenas de milhar de mortos, desaparecidos, torturados (a actual Presidente da República foi encarcerada e torturada). Os argentinos não têm a memória curta, escrevem romances inesquecíveis e filmes empolgantes. Assim se fizesse o mesmo em Portugal.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

As grandes potências e os países dependentes

O Nobel da Economia em 2008 defendeu ontem as eurobonds - a emissão conjunta de dívida pública por parte da União Europeia - como medida para reforçar a solidariedade da união monetária. "A solidariedade faz-se com medidas que funcionam", disse, acrescentando que se fosse um líder europeu "estaria muito preocupado" e "que aceitava grandes riscos", como as eurobonds, "para virar as coisas ao contrário". Esta solução tem a oposição de Paris e Berlim.


Paul Robin Krugman (Nova Iorque, 28 de fevereiro de 1953) é um economista norte-americano. Autor de diversos livros, também é desde 2000 colunista do The New York Times.


Atualmente é professor de Economia e Assuntos Internacionais na Universidade Princeton. Em 2008, recebeu o Prémio de Ciências Económicas em Memória de Alfred Nobel por um trabalho anterior à atuação como colunista do The New York Times, que tratava da dinâmica da escala - quantidade de produção - na troca de bens entre os países.
Foi um crítico da Nova Economia, termo cunhado no final da década de 1990 para descrever a passagem de uma economia de base principalmente industrial para uma economia baseada no conhecimento e nos serviços, resultante do progresso tecnológico e da globalização econômica.
Krugman também foi um notório crítico da administração George W. Bush e sua política interna e externa - críticas que ele apresenta em sua coluna do The New York Times. É geralmente considerado um keynesiano.
Ao contrário de muitos "gurus" da economia, Krugman também é considerado por seus pares como um importante colaborador em estudos. Krugman escreveu mais de 200 artigos e vinte livros — alguns deles acadêmicos e alguns escritos para o público leigo. Seu livro International Economics: Theory and Policy é um livro-texto básico para o estudo da economia internacional.

Em 1991 recebeu a medalha John Bates Clark, concedida pela American Economic Association.

in Wikipédia

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O que é Filosofia?

A Filosofia não é coisa que se coma, mas bebe-se. Imoderadamente, sem álcool. A uns mata a sede, a outros desperta.

A Filosofia não se procura onde ela menos está; encontra-a aquele que já desespera,

porque só encontra quem muito procura. A Filosofia não cura males que não se podem evitar,

nem evita os males sem cura, ainda que o filósofo seja uma espécie de médico que lê nos sintomas dos tempos que hão-de vir. O filósofo pensa mais na vida do que na morte.


A Filosofia não veste o nu, nem dá de comer a quem tem fome, nem oferece paraísos aos mártires mortos, embora haja prometido paraísos aos vivos. Compreende-se: apenas interpretar o mundo também cansa, quando o que se deseja é transformá-lo.

A Filosofia não nos ensina como conseguir riquezas:

se alguns poucos filósofos habitaram castelos, outros residiram em quartos alugados.

A Filosofia não dá a quem não tem porque ela nada possui, excepto o poder do conhecimento àqueles que se satisfaçam com ele. Sucede que às vezes é deveras incómoda para outras formas de poder.

A Filosofia não se ocupa a descobrir o único sentido oculto da vida, seja porque a vida não possui sentido algum, seja porque possui vários.

Quem julga que algum filósofo descobriu o plano providencial que conduz a História do Zero ao Infinito, foi apanhado na armadilha das suas ilusões. E é tão doente um pessimista, como um fanático.

A Filosofia não elimina todas as crenças como quem esvazia um balão cheio de ar:

somente tira-nos o ar com que enchemos os balões.

O exercício da crítica não é monopólio da Filosofia, qualquer um pode exercitar-se. Todavia, seria pertinente que o fizesse com conceitos tempestivos, e tão novos quanto possível. Eis a arte do filósofo. Por isso ele ama a estética e o compromisso ético.

Se às vezes convém subtrair o medíocre, diz-se que ser filósofo e professor de filosofia não é a mesma coisa; porém, os autênticos mestres de Filosofia são filósofos. E até nas questões mais pertinentes que um jovem aluno coloca podemos exemplificar a atitude filosófica.

Na Filosofia cabem as perspectivas mais opostas e contraditórias. Pois que não é a Vida que reflecte o que se passa na Consciência, é esta que reflecte sobre a Vida. No entanto, sendo certo que na consciência filosófica se reflectem os antagonismos sociais, não é menos verdade que a regra suprema do trabalho filosófico é o diálogo, a controvérsia a sua riqueza.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Palavras Fundamentais

Palavras fundamentais








Faz com que a tua vida seja


sino que repique


ou sulco onde floresça e frutifique


a árvore luminosa da ideia.


Alça a tua voz sobre a voz sem nome


de todos os demais, e faz com que ao lado


do poeta se veja o homem.






Enche o teu espírito de lume;


procura as eminências do cume


e, se o esteio nodoso do teu báculo


encontrar algum obstáculo ao teu intento,


sacode a asa do atrevimento


perante o atrevimento do obstáculo.





Nicolás Guillén

(Tradução de Albano Martins)

Viagem à Polónia

Viagem à Polónia
Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

Viagem à Polónia

Viagem à Polónia
Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.