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domingo, 14 de agosto de 2011

Artigo de Noam Chomsky (excerto)

Constitui um tema generalizado que os Estados Unidos - que há apenas alguns anos era visto como um colosso que percorreria o mundo com um poder sem paralelo e um atractivo sem igual (…) - estão em decadência, enfrentando actualmente a perspectiva de uma deterioração definitiva, assinala Giacomo Chiozza, no número actual de Political Science Quarterly.


A crença neste tema está, efectivamente, muito difundida. Em com certa razão, se bem que seja necessário fazer algumas precisões. Para começar, a decadência tem sido constante desde o ponto culminante do poderio dos EUA logo após a Segunda Guerra Mundial, e o notável triunfalismo dos anos 90, depois da Guerra do Golfo, foi basicamente um auto engano.


Wall Street recebe regularmente generosos presentes. O Comité de Atribuições da Câmara de Representantes cortou o orçamento da Comissão de Títulos e Bolsa, a principal barreira contra a fraude financeira. E é pouco provável que sobreviva intacta a Agência de Protecção ao Consumidor.


O Congresso brande outras armas na sua batalha contra as gerações futuras. Apoiada pela oposição republicana à protecção ambiental, a importante companhia de electricidade American Electric Power arquivou o principal esforço do país para captar o dióxido de carbono de uma unidade que actualmente consome carvão, o que significou um forte golpe nas campanhas para reduzir as emissões causadoras do aquecimento global, informou o The New York Times.

Esses golpes auto-aplicados, ainda que sejam cada vez mais potentes, não são uma inovação recente. Datam dos anos 70, quando a política económica nacional sofreu importantes transformações que puseram fim ao que se costuma chamar “época de ouro” do capitalismo de Estado.

Dois importantes elementos desse processo foram a financeirização (o deslocamento das prioridades de investimento da produção industrial para as finanças, os seguros e os bens imobiliários) e a externalização da produção. O triunfo ideológico das doutrinas de livre mercado, muito selectivo como sempre, desferiu mais alguns golpes, que se traduziram em desregulação, regras de administração corporativa que condicionavam as enormes recompensas aos CEO’s com os benefícios de curto prazo e outras decisões políticas similares.

A concentração resultante da riqueza produz maior poder político, acelerando um círculo vicioso que concentrou uma riqueza extraordinária em 1% da população, basicamente CEO’s de grandes corporações, gerentes de fundos de garantia e similares, enquanto a maioria das receitas reais praticamente estancou.

Ao mesmo tempo, o custo das eleições disparou para as nuvens, fazendo com que os dois partidos tivessem que escavar mais fundo os bolsos das corporações. O que restava de democracia política foi solapado ainda mais quando ambos partidos recorreram ao leilão de postos directivos no Congresso, como apontou o economista Thomas Ferguson, no The Financial Times.

Os principais partidos políticos adoptaram uma prática das grandes empresas retalhistas, como Walmart, Best Buy e Target, escreve Ferguson. Caso único nas legislaturas do mundo desenvolvido, os partidos estado-unidenses no Congresso colocam preço em postos-chave no processo legislativo. Os legisladores que conseguem mais fundos para o partido são os que indicam os nomes para esses postos.

O resultado, segundo Ferguson, é que os debates se baseiam fortemente na repetição interminável de um punhado de consignas, aprovadas pelos blocos de investidores e grupos de interesse nacionais, dos quais depende a obtenção de recursos. E o país que se dane.

Antes do crack de 2007, do qual foram responsáveis em grande medida, as instituições financeiras posteriores à época de ouro tinham obtido um surpreendente poder económico, multiplicando por mais de três a sua participação nos lucros corporativos. Depois do crack, numerosos economistas começaram a investigar a sua função em termos puramente económicos. Robert Solow, prémio Nobel de Economia, concluiu que o seu efeito poderia ser negativo. O seu êxito contribui com muito pouco ou nada para a eficiência da economia real, enquanto os seus desastres transferem a riqueza dos contribuintes ricos para o sector financeiro.

Ao triturar os restos da democracia política, as instituições financeiras estão lançando as bases para fazer avançar ainda mais este processo letal…enquanto as suas vítimas parecem dispostas a sofrer em silêncio.

(*) Professor emérito de linguística e filosofia do Instituto Tecnológico de Massachusetts. Seu livro mais recente é 9-11: Tenth Anniversary.

in ODiário.info

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