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terça-feira, 27 de setembro de 2011

Opinião de Manuel António Pina

Um "Land" português?



É difícil evitar a tentação de ver nas declarações de Merkel a pretexto da crise das dívidas soberanas sinais que evocam os fantasmas inquietantes do expansionismo alemão. Apoiada numa imprensa que todos os dias instila na opinião pública ideias perigosamente próximas do racismo acerca dos povos "preguiçosos" e "incapazes" do Sul (ainda não se chegou a "povos inferiores" mas já faltou mais), a actual política europeia alemã rompeu com os princípios de solidariedade e subsidiariedade consagrados no Tratado de Maastricht para fazer da UE e do euro meros instrumentos da edificação de um 'Lebensraum' dos seus próprios interesses.

Depois da sugestão de um comissário alemão para pôr a meia haste as bandeiras dos "países pecadores" (países com défices elevados; e, no entanto, segundo o 'Handelsblatt', a dívida oculta da Alemanha é actualmente de 5, e não 2, biliões de euros, ou seja, 185% do PIB em vez do 83% oficiais; como termo de comparação, a grega será, em 2012, de 186% do PIB...), Merkel pretende agora que as dívidas desses países sejam pagas com perdas de soberania, algo assim como conseguir com taxas de juro o que não se conseguiu com 'panzers'.

Isto quando governos como o português já são hoje meros mandatários dos 'Diktat' de Merkel. Ao menos vendendo o que resta da nossa soberania à Alemanha e tornando-nos mais um 'Land' votaríamos em quem realmente manda em nós e não nos seus feitores locais.

in Jornal de Notícias

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Conferência Sindical Internacional de Solidariedade

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Pelo Socialismo

Questões político-ideológicas com atualidade

http://www.pelosocialismo.net

__________________________________________________


A Federação Sindical Mundial (FSM) organizou uma

“Conferência Sindical Internacional de Solidariedade”,

que aprovou várias Resoluções anti-imperialistas1

1. Introdução

2. Resolução sobre o Bahrain

3. Resolução sobre os últimos desenvolvimentos no Cairo –

Solidariedade com o povo do Egito

4. Resolução sobre a Líbia

5. Resolução sobre a Palestina

6. Resolução sobre a Síria

7. Resolução sobre a Suazilândia


1. Introdução

Colocada em linha, em 16 de setembro de 2011

A Conferência Internacional da Federação Sindical Mundial sob o lema “Os desafios

dos países do Norte de África e do Médio Oriente. O papel do movimento sindical.

Solidariedade com o povo palestiniano e com a luta do povo da Suazilândia” foi

levada a cabo em 13 e 14 de setembro de 2011, em Estrasburgo, França.

Representantes de organizações sindicais da Líbia, Argélia, Palestina, Irão, África do

Sul, Senegal, RD do Congo, França, Portugal, Grécia, Peru, Cuba, Índia e da

Confederação Internacional de Sindicatos Árabes (CISA) participaram na

Conferência Internacional da FSM e aprovaram por unanimidade as resoluções sobre

os acontecimentos na Líbia, Síria, Egito, Palestina e Suazilândia.

As importantes e interessantes intervenções de todos os participantes condenaram a

intervenção imperialista no Norte de África e Médio Oriente e exigiram o fim das

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invasões e a necessidade dos povos decidirem por si próprios sobre o seu presente e

futuro.

Denunciou-se o papel dos EUA, NATO, UE e o caráter imperialista de Israel,

enquanto os representantes da classe operária internacional apoiaram a Campanha

internacional da FSM pelo reconhecimento do Estado Palestiniano, com as fronteiras

de 1967, e o fim da ocupação israelita dos territórios árabes e exigiram direitos e

liberdades democráticas, sociais e sindicais para todo o povo da região árabe. Em

solidariedade com a luta do povo da Suazilândia, a Conferência Internacional da FSM

aprovou uma resolução de solidariedade com a sua causa, pelo fim da monarquia e o

estabelecimento de uma democracia multipartidária, com o levantamento da

proibição de partidos políticos, a libertação dos presos políticos e o regresso dos

exilados.


2. Resolução sobre o Bahrain

Nós, dirigentes sindicais de todos os continentes, reunidos em Estrasburgo para

discutir a solidariedade com as lutas dos povos de todo o mundo, realçamos que,

enquanto neste período o mundo deveria avançar unido, sob condições de paz e

democracia, há ainda muitos países, em toda a parte, cujos povos são oprimidos e

impedidos de exercer os seus direitos humanos básicos de associação, expressão e

reunião. Registámos, com cólera, os acontecimentos que se verificaram em alguns

países, onde a comunidade internacional escolheu fechar os olhos ou tolerar a

agressão imperialista.

Como dirigentes de vários sindicatos, com milhões de membros por todo mundo, sob

a direção global da FSM, decidimos assim o seguinte:

Nos últimos três meses, os trabalhadores e o povo do Bahrain têm lutado através de

manifestações, que têm sido reprimidas pelo governo, com crueldade e dureza. Nos

últimos dias, dezenas de milhares de manifestantes antigovernamentais saíram às

ruas do Bahrain para exigir um fim ao papel da dinastia Al Khalifa.

A FSM expressa o seu apoio e solidariedade ao povo e à classe operária do Bahrain,

que lutam pela DEMOCRACIA, LIBERDADE e JUSTIÇA e para parar a pilhagem dos

recursos do país pelos capitalistas, reis e emires.

Exigimos o fim da intervenção das forças militares imperialistas e estrangeiras nos

assuntos internos do Bahrain. O povo deste país é o único responsável para decidir

do seu presente e futuro.

Desejamos sucesso à classe operária nos seus objetivos. Exigimos do governo do

Bahrain que pare imediatamente com os assassínios e a repressão dos manifestantes.

Exigimos com firmeza a anulação de todos os despedimentos de trabalhadores, que

perderam os seus empregos durante os últimos acontecimentos. Exigimos a imediata

libertação de todos os presos políticos.

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Mais uma vez, a FSM expressa a sua solidariedade à classe operária do Bahrain, que

demonstra nas ruas a exigência de um futuro melhor. Um futuro sem desemprego,

sem pobreza e sem exploração.

A Presidência da Conferência


3. Resolução sobre os últimos

acontecimentos no Cairo –

Solidariedade com o povo egípcio

A Federação Sindical Mundial apoia a luta do povo do Egito pela democracia, pela

liberdade e pelos direitos laborais, que satisfaçam as necessidades atuais dos

trabalhadores. Em nome dos 80 milhões de membros que trabalham e vivem em 120

países dos cinco continentes expressamos a nossa mais calorosa solidariedade aos

manifestantes que ontem, anteontem e presentemente têm vindo a manifestar-se em

frente da embaixada israelita, no Cairo.

A classe operária do Egito tem consciência do facto de que a política dos governos

israelitas é perigosa para a paz, a amizade e a segurança na vasta área do Nordeste

Mediterrânico.

Os governos de Israel e, com eles, os dos EUA, a NATO e todos os imperialistas são os

únicos responsáveis pelo sofrimento do povo palestiniano e a ocupação dos territórios

árabes pelos sionistas.

Por estas razões justifica-se a frustração, a raiva e a exigência dos manifestantes do

Cairo que irromperam pela embaixada israelita e expulsaram o embaixador do país.

O governo do Egito está obrigado a parar o uso da violência contra os manifestantes e

os assaltos contra os trabalhadores egípcios, que expressam a sua solidariedade aos

seus irmãos na Palestina e aos trabalhadores nos Golã e em toda a Arábia.

O governo do Egito está obrigado a pôr fim às intervenções judiciais antidemocráticas

nas vidas dos sindicalistas.

Os únicos que têm autoridade para democratizar o Movimento Sindical Egípcio são

os trabalhadores do Egito e não os júris e os Ministros do Trabalho com uma

intervenção externa, nem as decisões provenientes do exterior.

Apelamos aos trabalhadores do Egito a que resistam contra os planos dos

imperialistas, do Ministro do Trabalho e dos reformistas e a que lutem por um

movimento sindical democrático, de classe e internacionalista, em cooperação com a

Federação Sindical Mundial e em fraternal relação com os objetivos e as lutas do povo

palestiniano.

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Por um movimento sindical que se torne um obstáculo à pilhagem das fontes de

produção de riqueza.

A presidência da Conferência


4. Resolução sobre a Líbia

A Federação Sindical Mundial assumiu um conjunto de posições públicas, emitiu

notas à imprensa e participou em muitas formas de manifestações organizadas em

diversos países, desde o início dos acontecimentos na Líbia.

A FSM denunciou, com firmeza e persistência, a política dos EUA, da UE e dos seus

aliados.

A FSM criticou vigorosamente a CSI2 e os sindicatos reformistas que apoiaram e

ainda apoiam a política dos imperialistas na Líbia.

Hoje, todos sabem que a guerra que se iniciou e ainda continua, da NATO contra a

Líbia, não é uma guerra contra Kadhafi que, afinal, cooperou com os governos da

Reino Unido, França, Itália, EUA, etc. durante muitos anos. A guerra da NATO contra

a Líbia é motivada pelo total controlo do petróleo e gás natural da Líbia, pela

pilhagem das fontes produtoras de riqueza da Líbia e pela ocupação de posições

estratégicas na região do Norte de África e do Médio Oriente. É do conhecimento

geral que os novos dirigentes da Líbia são títeres da NATO: já assinaram um acordo

de concessão de 35% do petróleo libanês com os monopólios franceses.

A Federação Sindical Mundial condena uma vez mais os bombardeamentos da NATO

e a agressividade imperialista que levaram a massacres maciços de inocentes, em

Tripoli e noutras cidades. Destruíram o sistema de abastecimento de água e

eletricidade e a rede de transportes. O movimento de classe exige o fim imediato dos

bombardeamentos, a saída das forças militares estrangeiras, o fim da guerra civil e

que seja o povo da Líbia a decidir por si próprio, democraticamente, livremente e com

toda a informação necessária, o seu presente e futuro.

Nós continuaremos persistentemente ao lado da classe operária da Líbia, em luta

pelos direitos sindicais e democráticos, até à abolição da exploração do homem pelo

homem.

A presidência da Conferência


5. Resolução sobre a Palestina

Graves e perigosos acontecimentos ocorreram na vasta área do Norte de África,

Médio Oriente e Mediterrâneo Oriental que podem ser caraterizados principalmente

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pela intensificação das contradições interimperialistas e pela competição dos

capitalistas para o controlo dos recursos naturais e das vias de trânsito das matériasprimas

do Oriente para o Ocidente.

Alianças diversas a curto, médio e longo prazos estão a ser criadas, de acordo com os

interesses atuais e a longo prazo das forças imperialistas. A NATO, a UE, as forças e

bases militares estão a ter um papel de protagonistas nas intrusões e intervenções nos

assuntos internos dos países do Médio Oriente e Norte de África.

A agressividade e o barbarismo do imperialismo vêm uma vez mais para o primeiro

plano, com o objetivo de instaurar governos-fantoches que promovam os interesses

das forças capitalistas em todos os países.

O Médio Oriente é estrategicamente vital para os interesses dos EUA, do Reino

Unido, da França, da Alemanha e dos monopólios transnacionais a quem aqueles

governos servem.

O caráter imperialista de Israel é outro fator importante no puzzle do Médio Oriente.

Com o apoio dos EUA e da UE, é realizada uma política de genocídio do povo

palestiniano e de continuadas ocupações dos Golã sírios e das Quintas de Shebba.

O plano para o “Novo Médio Oriente” e a “reconstrução de toda a área” a que o povo

da região tem sido submetido, com um efeito brutal, está atualmente a ser

implementado passo a passo, para a atualização dos regimes e o controlo dos seus

governos e recursos.

A utilização das intervenções ideológicas e políticas tem uma agenda-chave

centralizada na “democratização”.

Os acontecimentos no Egito e na Tunísia basearam-se numa combinação de fatores

internos e externos. Diversas forças pressionam esses acontecimentos em diferentes

direções. As forças populares desempenham sempre um papel importante. Os

trabalhadores estão a lutar pelos seus direitos em democracia e liberdade, direitos

sociais e laborais baseados na realidade da difícil situação laboral e de qualidade de

vida.

Contudo, nesta luta necessária e vital – que se pode tornar mais forte, mais

organizada e mais progressista –, as forças imperialistas estão a tentar desorientar o

fator público, no sentido de apenas exigir a mudança dos regimes e dos nomes nos

governos e não a política para os trabalhadores.

A Federação Sindical Mundial coloca-se ao lado do povo que está a lutar contra o

imperialismo, apoiando todas as vozes que defendam os direitos dos trabalhadores.

A FSM está contra toda a intervenção e ocupação imperialistas e defende o direito à

autodeterminação.

A FSM coloca-se firmemente ao lado do povo palestiniano, pelo fim da ocupação

israelita e pelo reconhecimento do Estado da Palestina nas fronteiras de 1967. O

sucesso da campanha internacional da FSM pelo reconhecimento do Estado da

Palestina é uma importante iniciativa que provou, mais uma vez, a forte solidariedade

e fraternidade dos nossos filiados e amigos com a luta palestiniana.

A presidência da Conferência

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.

6. Resolução sobre a Síria

A Federação Sindical Mundial condena a invasão da coligação imperialista EUA-UENATO

e seus aliados regionais na área do Médio Oriente, contra o povo da Síria e a

sua classe operária.

O povo da Síria está, nos últimos meses, a enfrentar uma invasão imperialista,

conduzida com meios ideológicos, políticos, económicos e militares desenvolvidos

nos laboratórios do imperialismo.

A prisão de dezenas de combatentes armados (sabotadores) de onze nacionalidades

nos territórios da Síria e a confissão feita por muitos deles de terem sido financiados

e equipados do exterior é um facto que confirma a intervenção imperialista na Síria.

A presente crise capitalista intensifica a competição interimperialista e a

agressividade do imperialismo, que também tem sido expressa através da

persistência dos imperialistas na implementação do bem conhecido complô para o

Médio Oriente.

A FSM expressa a sua solidariedade e o seu apoio ao povo da Síria e à sua classe

operária, contra o imperialismo, por direitos sociais e laborais e pelas liberdades. A

FSM também respeita e reconhece o direito do povo sírio a decidir por si próprio,

democrática e livremente, o seu presente e o seu futuro.

A presidência da Conferência

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Pensamento e Linguagem

Lev Semenovich Vygotsky



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7. Pensamento e linguagem

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Esqueci a palavra que pretendia dizer e o meu pensamento, desencarnado, volta ao reino das sombras (de um poema de Mandelstham)

I

Começámos o nosso estudo com uma tentativa de pôr a nu a relação existente entre o pensamento e a linguagem nos estádios iniciais do desenvolvimento filogenético e ontogenético. Não encontramos nenhuma interdependência específica entre as raízes genéticas do pensamento e da palavra. Tornou-se patente que a relação interna que buscávamos não era um requisito prévio do desenvolvimento histórico da consciência humana, antes era um seu produto.

Nos animais, mesmo naqueles antropóides cuja fala é foneticamente como a fala humana e cujo intelecto se aparenta com o do homem, a linguagem e o pensamento não se encontram interrelacionados. É indubitável que, no desenvolvimento da criança, existe também um período pré-linguístico do pensamento e um período pré-intelectual a fala: o pensamento e a palavra não se encontram relacionados por uma relação primária. No decurso da evolução do pensamento e da fala gera-se uma conexão entre um e outra que se modifica e desenvolve.

Seria errado no entanto encarar o pensamento e a fala como dois processos não relacionados entre si, seja como dois processos paralelos, seja como dois processos que se entrecruzassem em certos momentos e se influenciassem mutuamente duma forma mecânica.

A ausência de uma relação primária não quer dizer que a conexão entre eles só possa formar-se de uma forma mecânica.

A futilidade da maior parte das investigações primitivas devia-se em grande parte ao fato de se pressupor que o pensamento e a palavra eram elementos independentes e isolados e que o pensamento verbal era fruto da sua união externa.

O método de análise baseado nesta concepção estava votado ao fracasso. Buscava explicar as propriedades do pensamento verbal cindindo-o nos elementos que o compunham – a palavra e o pensamento – nenhum dos quais tomado em separado possuiria as propriedades do todo.

Este método não é uma verdadeira análise que nos seja útil para resolver problemas concretos, antes conduz à generalização.

Comparamo-lo à análise da água em hidrogênio e oxigênio – que só pode dar resultado em descobertas aplicáveis a toda a água existente na natureza, desde o Oceano Pacífico até uma gota de água da chuva.

Semelhantemente, a afirmação segundo a qual o pensamento verbal se compõe de processos intelectuais e funções de discurso propriamente ditas aplica-se a todo o pensamento verbal e não explica nenhum dos problemas específicos com que se defronta o estudioso do pensamento verbal.

Tentamos uma nova abordagem do problema e substituímos a análise em elementos pela análise em unidades, cada uma das quais retém, sob uma forma simples, todas as propriedades do todo. Encontramos esta unidade do pensamento verbal no significado da palavra.

O significado duma palavra representa uma amálgama tão estreita de pensamento e linguagem que é difícil dizer se se trata de um fenômeno de pensamento, ou se se trata de um fenômeno de linguagem. Uma palavra sem significado é um som vazio; portanto, o significado é um critério da palavra e um seu componente indispensável. Pareceria portanto que poderia ser encarado como um fenômeno lingüístico. Mas do ponto de vista da psicologia, o significado de cada palavra é uma generalização, um conceito. E, como as generalizações e os conceitos são inegavelmente atos de pensamento, podemos encarar o significado como um fenômeno do pensar. No entanto, daqui não se segue que o pensamento pertença a duas esferas diferentes da vida psíquica.

O significado das palavras só é um fenômeno de pensamento na medida em que é encarnado pela fala e só é um fenômeno lingüístico na medida em que se encontra ligado com o pensamento e por este é iluminado. É um fenômeno do pensamento verbal ou da fala significante – uma união do pensamento e da linguagem.

As nossas investigações experimentais confirmam integralmente esta tese fundamental. Não só provaram que o estudo concreto da gênese do pensamento verbal se tornou possível pelo estudo do significado das palavras como unidade analítica, como levaram também a outra tese que consideramos ser o mais importante resultado do nosso estudo e que decorre imediatamente da primeira: a tese segundo a qual o significado das palavras evolui. Este ponto de vista deve substituir o postulado da imutabilidade dos significados das palavras.

Do ponto de vista das velhas escolas da psicologia, a relação entre a palavra e o significado é uma relação associativa estabelecida através da repetição da percepção simultânea de um certo som e de um certo objeto. Uma palavra solicita no espírito o seu conteúdo, tal como o sobretudo dum amigo nos recorda esse mesmo amigo ou uma casa, os seus habitantes. A associação entre a palavra e o seu significado pode desenvolver-se mais forte ou mais debilmente, pode ser enriquecida pela relacionarão com outros objetos de tipo semelhante, difundir-se por sobre um vasto domínio, Ou tornar-se mais limitada, isto é, pode sofrer transformações quantitativas e externas, mas não pode modificar a sua natureza psicológica. Para que tal acontecesse teria que deixar de ser uma associação.

Desse ponto de vista, qualquer evolução do significado de uma palavra é impossível e inexplicável – conseqüência esta que constitui um handicap tanto para os lingüistas como para os psicólogos. A partir da altura em que se comprometeu com a teoria da associação, a semântica persistiu em considerar o significado da palavra como uma associação entre o som e o conteúdo. Todas as palavras, desde as mais concretas às mais abstratas, surgiam como sendo formadas da mesma maneira, relativamente ao seu significado, parecendo não conter nenhum elemento característico da fala enquanto tal; uma palavra fazia-nos recordar o seu significado tal como um objeto nos recordava outro objeto.

Pouco surpreenderá portanto que a semântica nem sequer pusesse a questão mais ampla da evolução do significado das palavras. Reduzia-se essa evolução às variações nas conexões associativas entre as palavras isoladas e os objetos isolados: uma palavra poderia em determinada altura denotar um objeto passando depois a associar-se com outro, como um sobretudo que, por mudar de proprietário, nos recordasse primeiro uma pessoa e, logo depois, outra.

A lingüística não compreendia que na evolução histórica da linguagem, a própria estrutura do significado e a sua natureza psicológica se transformam também.

Das generalizações primitivas, o pensamento verbal vai-se elevando ao nível de conceitos mais abstratos. Não é apenas o conteúdo de uma palavra que se altera, mas a forma como a realidade é generalizada e refletida numa palavra.

A teoria associativa também não se adequa à explicação do desenvolvimento dos significados das palavras na infância. Também neste aspecto, só pode explicar as alterações externas, puramente quantitativas, das conexões que ligam a palavra e o seu significado, o seu fortalecimento e o seu enriquecimento, mas não as transformações psicológicas e estruturais fundamentais que podem ocorrer e ocorrem no desenvolvimento da linguagem infantil.

Infelizmente, o fato de o associacionismo em geral ter sido abandonado durante um certo lapso de tempo não parece ter afetado a interpretação da palavra e do significado. A escola de Wuerzburg, cujo propósito principal era o de provar a impossibilidade de reduzir o pensamento a um simples jogo de associações e demonstrar a existência de leis específicas que regem a corrente de pensamento, não reviu a teoria associativa da palavra e do significado, nem reconheceu sequer a necessidade de uma tal revisão. Esta escola emancipou o pensamento dos grilhões da sensação e da imagem e das leis da associação e transformou-o num ato puramente espiritual. Mas ao fazê-lo, regrediu para os conceitos pré-científicos de Santo Agostinho e Descartes, acabando por chegar a um idealismo subjetivo extremo. A psicologia do pensamento encaminhava-se para as idéias de Platão, e, ao mesmo tempo, deixava-se a linguagem à mercê da associação. Mesmo após a obra realizada pela escola de Wuerzburg, continuou a considerar-se que a conexão entre a palavra e o seu significado era uma simples relação associativa. Encarava-se a palavra como correlativo externo do pensamento, como seu simples adereço, que não tinha qualquer influência na sua vida interna. O pensamento e a palavra nunca estiveram tão separados como durante o período de Wuerzburg. Na realidade, a destruição da teoria associativa no domínio do pensamento incrementou o seu poderio no domínio da linguagem.

A obra de outros psicólogos veio reforçar ainda mais esta tendência. Selz continuou a investigar o pensamento sem tomar em consideração a relação entre este e a linguagem e chegou à conclusão de que o pensamento produtivo do homem e do chimpanzé eram de natureza idêntica a tal ponto este investigador ignorava a influência das palavras sobre o pensamento.

Até Ach, que levou a cabo um estudo especial do significado das palavras e que tentou superar o associativismo na sua teoria dos conceitos se limitou a pressupor a existência de “tendências determinantes” que entrariam em ação conjuntamente com as associações na formação dos conceitos. Por conseguinte, as conclusões a que chegou não vieram alterar a anterior compreensão do significado das palavras. Ao identificar o conceito com o significado, impedia que se explicasse os desenvolvimentos e as transformações dos conceitos. Uma vez estabelecido, o significado de uma palavra ficava estabelecido para sempre; o seu desenvolvimento encontrava-se completo. Estes eram os mesmos princípios que os psicólogos atacados por Ach defendiam. Para ambos os lados, o ponto de partida da evolução dos conceitos constituía também o seu termo; só havia desacordo no tocante à forma como se iniciava o desenvolvimento da formação da palavra.

Na psicologia gestaltista (Psicologia da Forma), a situação não era muito diferente. Esta escola era ainda mais consistente do que as outras na tentativa de superar o princípio geral do associativismo. Não satisfeita com uma solução parcial do problema, tentou libertar o pensamento e a fala da lei da associação e colocá-los a ambos sob o domínio da lei da gênese de estruturas. Surpreendentemente, nem esta escola – que é a mais progressiva de todas as modernas escolas de psicologia – realizou quaisquer progressos na teoria da linguagem e do pensamento.

Por um lado, manteve a separação completa entre estas duas junções. A luz da teoria gestaltista, a relação entre o pensamento e a palavra aparece como uma simples analogia, uma redução de ambos a um denominador estrutural comum. Encara-se a formação das primeiras palavras com significado por parte das crianças como algo semelhante às operações intelectuais dos chimpanzés nas experiências de Koehler. As palavras entram na estrutura das coisas e adquirem um certo significado funcional, duma forma bastante semelhante àquela como, para o chimpanzé, o pau se torna parte da estrutura de obtenção do fruto e adquire o significado funcional de instrumento. Já não se encara a conexão entre palavra e significado como uma questão de simples associação, mas como uma questão de estrutura. Parece ser um passo em frente, mas se examinarmos mais de perto a nova abordagem, é fácil ver que o passo em frente é um passo em falso, ilusório, e que não saímos ainda do mesmo sítio. Aplica-se o princípio da estrutura a todas as relações entre as coisas, da mesma forma avassaladora como anteriormente se aplicava o princípio da associação. Continua a ser impossível explicar as relações específicas entre palavra e significado, pois à partida continua a considerar-se que em princípio são idênticas a todas as outras relações entre coisas. Os gatos continuam a ser tão pardos na poeira da psicologia gestaltista como nos primitivos nevoeiros do associacionismo universal.

Enquanto Ach procurava superar o associonismo com a “tendência determinante”, a teoria psicológica gestaltista combateu-o com o princípio da estrutura – mantendo no entanto os dois erros fundamentais da velha teoria: o pressuposto da identidade de natureza de todas as conexões e o pressuposto de que os significados das palavras não se alteram. Tanto a antiga como a nova teoria psicológica partem ambas da hipótese de que a evolução do significado de uma palavra termina mal esta emerge. As novas tendências da psicologia produziram progressos em todos os ramos, exceto no estudo do pensamento e da palavra. Neste domínio, os novos princípios parecem-se com os antigos como dois gêmeos.

Se a psicologia gestaltista estagnou no campo da linguagem, deu um grande passo à retaguarda no campo do pensamento. A escola de Wuerzburg, pelo menos, considerava que o pensamento tinha leis próprias, ao passo que a escola gestaltista nega a existência de tais leis. Reduzindo a um denominador estrutural comum as percepções dos animais domésticos, as operações mentais de um chimpanzé, as primeiras palavras significativas das crianças e o pensamento conceptual dos adultos, oblitera toda e qualquer distinção entre a percepção mais elementar e as mais elevadas formas de pensamento.

Esta recensão crítica pode ser resumida como se segue: todas as escolas e tendências psicológicas descuram um ponto fundamental: todo e qualquer pensamento é uma generalização. Assim, estudam a palavra e o significado sem fazerem qualquer referência à evolução. Enquanto estas duas condições persistirem em tendências sucessivas nas tendências posteriores, estas muito pouca relevância terão para o tratamento do problema.

II

A descoberta de que o significado das palavras evolui tira o estudo do pensamento e da linguagem de um beco sem saída. Os significados das palavras passam a ser formações dinâmicas e não já estatísticas, transformam-se à medida que as crianças se desenvolvem e alteram-se também com as várias formas como o pensamento funciona.

Se os significados das palavras se alteram na sua natureza interna, então a relação entre o pensamento e a palavra também se modifica. Para compreender a dinâmica dessa relação, teremos que complementar a abordagem genética do nosso estudo principal com a análise funcional e examinar o papel do significado da palavra no processo de pensamento.

Lev Vygotsky


1896 - 1934
Arquivo Marxista na internet

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

"A natureza tem a solução"

"A natureza tem a solução"




Satish Kumar tem 75 anos e viajou de comboio de Londres até Lisboa para dizer que temos de ir mais devagar para chegar mais longe. A semana passada, este professor no Schumacher College, no Sul de Inglaterra, e director da revista Ressurgence esteve na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, para falar do livro Small is Beautiful, de E. F. Shumacher. Na mala trouxe a inspiração da Natureza e das palavras de Mahatma Ghandi e Martin Luther King.



Acredita que a solução para a crise no mundo está no respeito pela Natureza, no amor e na confiança. Caminhou 13 mil quilómetros, sem dinheiro, numa das maiores peregrinações de sempre pela paz mundial.

- Quantas vezes já o chamaram naif ou irrealista?

- Muitas, muitas vezes. Políticos, presidentes de empresas, estudiosos, até jornalistas... (risos). Dizem-me que as minhas palavras são impossíveis e que sou demasiado inocente e idealista. Mas a minha resposta é: o que têm feito os realistas? O mundo tem sido governado por eles e hoje temos crise económica, crise ambiental, guerras no Afeganistão, Iraque e Líbia, pobreza. O nosso realismo não é sustentável. Pusemos um preço em tudo. A floresta tem preço, os rios, a terra, tudo se tornou uma mercadoria. Talvez tenha chegado a altura de os idealistas fazerem alguma coisa. Esta é a minha resposta. Se sou idealista, não faz mal. A sustentabilidade exige um bocadinho de idealismo, de inocência.

- Então qual a resposta de um idealista à crise actual?

- Esta não é uma crise económica, é uma crise do dinheiro. E o dinheiro é apenas uma ideia, um número no computador. Os realistas criaram este problema artificial e estão preocupados com a crise, voam pelo mundo, vão a Bruxelas, reúnemse com banqueiros. Mas a terra continua a produzir alimentos, as oliveiras a dar azeite, as vacas a dar leite e os seres humanos não perderam as suas capacidades. Eu diria, regressemos à Natureza. A Natureza tem a solução, dá-nos tudo o que precisamos, alimentos, roupas, casas, sapatos, amor, poesia, arte.

- Como se põe essa ideia nas mãos dos líderes políticos?

- Por exemplo, Portugal devia ter mais dos seus próprios alimentos, roupas, sapatos, mobília, tecnologia. A globalização da economia é um problema. Estamos a importar tantos produtos da China... Tudo isso se traduz em combustíveis fósseis para o transporte, com efeitos no clima. Além do mais, estamos a chegar a um pico do petróleo. Quando se esgotar o que faremos? A economia local deveria ser a verdadeira economia; a economia global seria como a fina cobertura de açúcar em cima de um bolo, com entre dez a 20% da economia.

- Mas em muitos casos é mais barato importar...

- Sim, mais barato em termos de dinheiro, mas não em termos de Ambiente porque não adicionamos todos os custos. Este é um desafio que lanço aos políticos, empresas, cientistas e jornalistas: o valor deve ser colocado no solo, nos animais, árvores e rios, nas pessoas, não no dinheiro. Se não o fizermos, dentro de cem anos teremos uma crise ainda maior. O dinheiro é apenas um bocado de papel ou de cartão, uma conta no banco. É uma medida da riqueza, como quando usamos uma fita métrica e dizemos que esta mesa tem dois metros de comprimento por um de largura. É da mesa que precisamos, mas para nós a fita métrica é mais importante. O dinheiro é útil, claro, mas é só isso.

- Parece uma ideia difícil de concretizar. Por onde começar?

- Mudando a forma de pensar. Podemos imprimir notas, criar dinheiro criando mais dívida. Mas se poluirmos os nossos rios e envenenarmos as nossas terras, não os podemos substituir. Devemos viver como peregrinos, não como turistas. O turista é egocêntrico, quer algo para ele próprio, bons hotéis, restaurantes e lojas. A sua atitude é a exigência, quer sempre mais e melhor. O hotel, o táxi ou o serviço não era bom o suficiente. O peregrino é humilde, deixa uma pegada leve na Terra, respeita a árvore e agradece-lhe pela sombra e frutos. A mente egocêntrica tem de mudar para respeitarmos a Natureza.

- Hoje conhecemos melhor as marcas dos automóveis do que os nomes das árvores...

- Exactamente. Por isso, antes de mais, precisamos trazer a Natureza para a cidade, promover uma literacia ecológica. Não conhecemos a Natureza porque a exilámos, temos medo dela. Não saímos de casa porque está demasiado frio, neve ou chuva. Precisamos de estar confortáveis, civilizados. Na verdade, somos demasiado civilizados... (risos). As pessoas das cidades, como Lisboa, precisam abrir o coração à vida selvagem, caminhar na Natureza. O fim-desemana devia ter três dias para que, pelo menos, um dia pudéssemos andar a pé no campo. Mas não de carro porque assim não se vê nada. Quando caminhamos vemos as flores, a erva, as borboletas, as abelhas. Vemos e experienciamos tudo, não é um conhecimento dos livros.

- Mas podemos estar na Natureza e não reconhecer a importância de uma borboleta ou de uma abelha.

- Não chega observar a Natureza como um objecto de estudo. Isso é uma separação muito dualista. Só valorizamos a Natureza se a experienciarmos, se nos tornarmos parte dela. A Natureza não está só lá fora, nas árvores, montanhas, rios e animais. Nós somos Natureza. E ela tem valor intrínseco. Falamos de direitos humanos, mas também precisamos de falar dos direitos da Natureza. Os rios têm o direito de se manterem limpos, as florestas têm o direito a permanecer de pé.

- Quando tinha quatro ou cinco anos, a sua mãe disse-lhe para começar a andar e aprender com a Natureza. Para nós será demasiado tarde?

- Tal como a minha mãe me ensinou a andar na Natureza, gostaria que o mesmo acontecesse na nossa sociedade. Devemos educar as nossas crianças no amor pela Natureza, aprendendo na Natureza e não sobre a Natureza, com livros e computadores. Gostaria de ver os pais a levar os filhos para a Natureza e a deixá-los subir às árvores, escalar montanhas e nadar nos rios. Para as crianças não é tarde de mais, estão prontas para isso. Talvez para os adultos seja tarde, até porque têm medo da Natureza. Mas até eles podem descobrir que passariam a estar mais inspirados, teriam mais poesia, música e arte. A nossa sociedade está a tornar-se demasiado banal e prosaica.

- Toda a sua vida caminhou. Qual foi a viagem mais importante?

- A mais importante caminhada, da Índia para a América [de 1962 a 1965], foi inspirada pelo filósofo britânico Bertrand Russell, que protestou contra as armas nucleares. Quando tinha 90 anos foi preso por isso. Uma manhã, tinha eu 25 anos, estava a beber café numa esplanada com um amigo e disse-lhe: "Aqui está um homem que, aos 90 anos, vai para a prisão pela paz no mundo. O que estamos, nós, jovens, a fazer aqui sentados a beber café?". Isso foi a inspiração. Eu e o meu amigo fomos aconselhados a partir sem dinheiro porque a paz vem da confiança e a raiz da guerra é o medo. Se queremos paz temos de ter confiança nas pessoas, na Natureza, no universo. Durante dois anos e meio caminhei 13 mil quilómetros sem qualquer dinheiro.

- E como o conseguiu?

- Fiquei em casa de pessoas que ia conhecendo. Quando não tinha dinheiro dizia que era a minha oportunidade para fazer jejum. Se não tinha um tecto, era a oportunidade para dormir sob as estrelas. Antes de partir, na Índia, disseram-me: "Vais a pé, sem dinheiro, podes não regressar". E respondi: "Se morrer enquanto caminhar pela paz isso será a melhor morte que poderei ter". Assim caminhei pelo Paquistão, Afeganistão, Irão, Azerbaijão, Arménia, Geórgia, Rússia, Bielorrússia, Polónia, Alemanha, Bélgica. Em França apanhei um barco, apoiado pelos habitantes de uma pequena localidade, e fui até Inglaterra, onde conheci Bertrand Russell. Ele ajudou com os bilhetes de barco para Nova Iorque. Daí caminhámos até Washington, onde conhecemos Martin Luther King. Foi uma demonstração de que podemos viver sem dinheiro e fazer a paz connosco, com as pessoas e com a Natureza. Neste momento, a Humanidade está em guerra com a Natureza, estamos a destruí-la. E seremos perdedores se vencermos. A menos que façamos a paz com a Natureza não poderá haver paz na Humanidade.

- O que mais o preocupa?

- A minha maior preocupação é que a Humanidade não acorde a tempo de resolver os desafios. Talvez estejamos demasiado obcecados com os nossos padrões de vida, com a dívida, o dinheiro. A sociedade industrial tem lutado pelo crescimento económico a todo o custo. Mas também tenho esperança na Humanidade, num despertar de consciências. Cada vez mais jovens me dizem que temos de cuidar da Terra e que o crescimento económico não é suficiente, precisamos de bemestar. Se as pessoas não estão bem, de que serve o crescimento económico? É um bom começo. Até porque há abundância na Natureza. Quantas azeitonas dá uma oliveira? De uma única semente, lançada à terra centenas de anos antes, obtemos milhões de azeitonas. Isso é a abundância e generosidade da Natureza.

- O alerta para a crise do Ambiente tem mais de meio século. E hoje o problema está longe do fim. É uma mensagem difícil?

- As grandes mudanças constroem-se lentamente. Quanto tempo demorou o apartheid a acabar? Nelson Mandela esteve preso 27 anos. Mas o apartheid acabou. O mesmo se passa com os direitos humanos. Quando estive com Martin Luther King, em 1964, os negros não tinham direito ao voto. Hoje temos um homem negro na Casa Branca. E quanto tempo demorou o muro de Berlim a cair? Muito tempo, uma luta longa. Não sabíamos quando o muro iria cair, quando o apartheid iria acabar. Não precisamos de saber. Estamos a construir um movimento ambiental e o momento vai chegar.

- De que precisamos para ser felizes?

- Aprender uma única palavra: celebração. Temos de celebrar a vida, a Natureza, a abundância humana. As pessoas não são felizes porque não têm tempo para celebrar. Estão sempre ocupadas, vivem demasiado depressa. Os maridos não têm tempo para as mulheres e as mulheres não têm tempo para os maridos. Os pais não têm tempo para os filhos. As pessoas não têm tempo para celebrar a Natureza. É preciso abrandar para chegar mais longe, apreciar o que temos em vez de o ignorar e querer mais. Temos muita roupa no armário, mas ignoramo-la e vamos comprar mais. O mundo tem o suficiente para as necessidades das pessoas, mas não para a sua ganância, disse Mahatma Ghandi. O universo é um grande presente para nós todos.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Crescimento económico e trabalhadores sob o capitalismo

A questão do crescimento económico é crucial para a condição da classe trabalhadora. Sob o capitalismo os trabalhadores têm apenas duas condições em relação a empregos. Um trabalhador ou está a ser explorado por um patrão capitalista ou por alguma instituição do governo e portanto tem um emprego, ou um trabalhador está desempregado. Não há nada de intermediário.
O crescimento da produção capitalista significa que mais trabalhadores são necessários para serem explorados e os serviços precisam expandir-se. Portanto trabalhadores têm empregos, mesmo se cada vez mais destes empregos são de baixo salário, tempo parcial e/ou temporário.

A contradição do crescimento capitalista significa que trabalhadores não necessários para o patronato e são despedidos. As receitas do governo declinam mas os bancos continuam a exigir o seu juro e o principal destes governos e os gastos militares continuam aos milhões de milhões — assim trabalhadores do governo são despedidos.

A mais recente e mais perigosa ameaça para trabalhadores do governo vem do U.S. Postal Service, o qual está a ameaçar despedir 120 mil trabalhadores, encerrar mais de 3000 agência de correio e livrar-se de mais outros 100 mil trabalhadores pelo desgaste.

Superprodução e desemprego

Por que o crescimento do capitalismo estado-unidense está a desacelerar? O patronato está sentado em cima de US$2 milhões de milhões de cash. Por que não está a contratar e, ao invés disso, está a despedir? Não é por causa d incerteza, como afirmam seus apologistas. Não é por causa de regulamentações do governo, tão pouco.

É por causa da contradição fundamental do próprio capitalismo — a superprodução. A produção capitalista cresce cada vez mais rápido quando os patrões aplicam mais tecnologia, aceleram trabalhadores, terciarizam e deslocalizam produção em busca de lucro. Cada vez mais trabalhadores, não só nos Estados Unidos como no mundo todo, produzem cada vez mais em cada vez menos tempo por salários cada vez mais baixos.

O pagamento que os trabalhadores levam para casa não só não aumenta, ele está a diminuir enquanto a produção de mercadorias que devem ser vendidas com um lucro expande-se a um ritmo galopante. O poder consumidor do povo ou se leva a um ritmo de lesam ou realmente vem abaixo.

Quanto mais tecnologia o patronato utiliza, menos e menos trabalhadores ele precisa. Hoje há 131 milhões de trabalhadores em folha de pagamento, o que é menos do que o número de trabalhadores em folha de pagamento no ano 2000. Hoje a economia dos EUA está no mesmo nível de produção que estava em 2007, antes do estouro da bolha habitacional e da crise económica que atingiu o mundo.

Isso significa que os patrões precisam pelo menos 10 a 11 milhões de trabalhadores hoje do que precisavam há quatro anos atrás. Esta é a razão da eliminação de empregos com a tecnologia capitalista e a globalização do sistema de exploração com baixos salários.

Exigência de um maciço programa do governo para o emprego


Está previsto que o presidente Obama faça um discurso sobre "empregos" dentro de poucos dias (*). Este discurso não apresentará um programa que possa inverter o desastre do desemprego no país. O único meio de começar a tratar o desemprego em massa, o qual se tornará pior se houver um novo período de baixa, é lançar um maciço programa de empregos promovido pelo governo.

Tem ser à escala do Works Progress Administration (WPA) durante a Grande Depressão. Sete milhões de trabalhadores receberam empregos e construíram tudo, desde barragens e pontes a parques, escolas e rodovias; eles criaram arte, escreveram peça, plantaram árvores e fizeram trabalho socialmente útil.

Naquela época, tal como hoje, os patrões não contratavam porque numa depressão eles não podiam expandir os seus lucros vendendo o que era produzido. O povo estava sem dinheiro e não podia comprar. Mas, sob a pressão de manifestações em massa de desempregados, greves gerais e tomadas de fábricas, o governo federal foi forçado a tornar-se o empregador principal. Palácios do governo e municipalidades tornaram-se a antecâmara do emprego. Milhões que queriam trabalhar obtiveram trabalho.

Quando uma nova crise ameaça, a única possibilidade de minimizar uma nova onda de despedimentos e reverter o que aconteceu é lançar uma luta maciça por empregos ou rendimento e serviços a todos nível de governo — federal, estadual e local. Os republicanos estão abertamente contra a resolução da crise, enquanto o Partido Democrático também está ligado à Wall Street e nada avançou para o ataque à crise.

Ambos os partidos e governos, a todos os níveis, estão a afirmar que não têm dinheiro. Mas o chamado debate do défice é um debate falso. Trabalhadores, comunidades, juventude e estudantes vêm em primeiro lugar.

O direito dos trabalhadores a um emprego, alimentação, habitação, educação é um direito fundamental, superior aos direitos de milionários e bilionários, superior ao direito de banqueiros viverem à custa de fundos públicos, superior ao direito do complexo militar-industrial ficar rico com lucros de guerra quando expandem guerras de conquista e ocupação.

Uma luta de massa por uma classe trabalhadora mobilizada por toda a parte nas ruas e lugares de trabalho pode começar a sacudir o dinheiro solto nos sacos de dinheiro da classe dominante capitalista. Isto é o único meio de fazer esta crise recuar.

No longo prazo, mesmo um programa governamental de empregos sob o capitalismo pode ser apenas um remendo temporário. O WPA não ultrapassou a depressão; o desemprego em massa prevaleceu até a II Guerra Mundial.

A única solução permanente para a crise de empregos é livrarmo-nos juntos do sistema do lucro e colocar a economia a trabalhar para as necessidades humanas e não para a cobiça humana. A distribuição da riqueza criada pela classe trabalhadora deve ter lugar com base na necessidade social e económica. Isso chama-se socialismo e funciona melhor onde o nível de produtividade é alto — o que é exactamente onde o capitalismo fracassa.

(*) Já o fez.

Articles copyright 1995-2011 Workers World. Verbatim copying and distribution of this entire article is permitted in any medium without royalty provided this notice is preserved.

O original encontra-se em http://www.workers.org/2011/us/workers_crisis_0915/

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

domingo, 18 de setembro de 2011

O amor que sinto




O amor que sinto


é um labirinto.






Nele me perdi


com o coração


cheio de ter fome


do mundo e de ti


(sabes o teu nome),


sombra necessária


de um Sol que não vejo,


onde cabe o pária,


a Revolução


e a Reforma Agrária


sonho do Alentejo.


Só assim me pinto


neste Amor que sinto.






Amor que me fere,


chame-se mulher,


onda de veludo,


pátria mal-amada,


chame-se "amar nada"


chame-se "amar tudo".






E porque não minto


sou um labirinto.






José Gomes Ferreira





quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Somália, um desastre humano anunciado

1


Pelo Socialismo

Questões político-ideológicas com atualidade

http://www.pelosocialismo.net

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Publicado por "Rebelión", em 2011/08/24: http://www.rebelion.org/noticia.php?id=134533

Tradução do castelhano de MF

Colocado em linha em: 2011/09/11

Somália, um desastre humano anunciado

Edmundo Fayanas Escuer

Este país tem uma extensão de 638 000 km2, sendo um território muito árido e seco.

Tem uma população de quase dez milhões de habitantes, com um rendimento per

capita de 460 dólares anuais. Cerca de 70% dos seus habitantes não têm acesso a

água potável. A desnutrição afecta 17% das crianças e há mais de 400 000 deslocados

internos. Com a actual seca todo este desastre humano disparou. A pesca artesanal é

uma das poucas actividades económicas que permitem à população sobreviver neste

caos somali.

Foi um protectorado britânico e italiano até aos anos sessenta e viveu nos seus

últimos cinquenta anos em conflitos armados contínuos, propiciados pelos diferentes

senhores da guerra.

A Somália está situada no corno de África, ocupando uma posição estratégica de

grande valor, pois está muito perto do estreito de Bab el Mandeb, passagem

fundamental para o comércio mundial, sobretudo para o petrolífero. Além disso, liga

a Arábia Saudita e o mar Vermelho ao golfo de Aden.

Na Somália não se nasce somali, faz-se parte de um clã. Há cinco grandes clãs.

Os hawiya representam 25% da população e ocupam a parte norte e centro, zonas

do sudoeste da Etiópia e do norte do Quénia.

Os ishaak abrangem 23% da população e ocupam a antiga colónia da Somália

britânica, conhecida como Somalilândia. Este grupo actua como um Estado dentro do

Estado, ainda que não seja reconhecido internacionalmente.

Os darod representam 20%, estando situados em Puntland, local onde a lenda situa

o antigo reino de Shaba, e num pedaço da Somalilândia.

O clã dos rahanwein, que apenas abarca 18%, situa-se no centro e sul do país, nas

proximidades de Djibouti e ainda num pedaço da Somalilândia.

O último clã é o mais pequeno, o dos digil, que representam 3%, juntamente com os

bantúes, que são os descendentes dos escravos libertos durante o colonialismo

italiano, a quem chamam loona aaraan, que traduzido significa «ninguém está a

chorar por eles».

2

Em 1993, os Estados Unidos intervêm na Somália sob missão da ONU, com a

desculpa da ajuda humanitária, mas procurando unicamente defender os interesses

das multinacionais petrolíferas norte-americanas (Chevron, Mobil, Amoco…),

instaladas no país desde 1952. A missão «Restaurar a esperança» traduz-se pelo

confronto entre as tropas norte-americanas e os senhores da guerra. Em Outubro de

1993 deu-se a batalha de Mogadíscio, que se saldou pela saída das tropas norteamericanas,

sem terem conseguido nenhum dos objectivos propostos, deixando a

Somália submetida aos senhores da guerra.

Depois da queda do ditador Said Barre, em 1991, centenas de navios de pesca de todo

o mundo viram a possibilidade de pescar livremente nos ricos bancos de pesca

somalis e zonas próximas sem qualquer tipo de controlo (nem de redes, nem de

espécies, nem de custo económico para os armadores), o que propiciou o seu

enriquecimento, em detrimento dos interesses da Somália, saltando sobre os acordos

internacionais sobre águas jurisdicionais dos países. Quem são então os piratas?

Que diriam e fariam os norte-americanos se isto se passasse nas suas

costas?

Abdirahman Ibbi, vice-ministro da pesca do governo somali de transição, considera

que há cerca de 220 pesqueiros estrangeiros pescando nas suas águas e acrescenta:

«a frota pesqueira espanhola também está a pescar ilegalmente nos nossos bancos

de pesca».

Não bastando o escândalo da pesca em águas somalis, as grandes potências usam as

suas águas e o seu território como lixeira de substâncias que os seus países não

querem. Isto tornou-se claro no rescaldo do tsunami de 2005, no Oceano Índico. O

enviado das Nações Unidas na Somália comentou: «A Somália está a ser utilizada

como lixeira de resíduos perigosos desde o começo dos anos noventa e continua a

sê-lo com a guerra civil iniciada nesse país. O lixo é de géneros muito diversos. Há

resíduos radioactivos de urânio e metais pesados, como cádmio e mercúrio. Há

também lixo industrial, resíduos de hospitais, lixo de substâncias químicas e tudo o

que se possa imaginar».

A zona de Puntland, situada no noroeste do país – que foi uma antiga colónia italiana

e se declarou autónoma da Somália em 1998 –, converteu-se num santuário dos

piratas, apoiados maioritariamente pela sua população. Agora os piratas não só

atacam os pesqueiros mas também qualquer tipo de navio.

Depois da sua saída, os norte-americanos financiaram estes senhores da guerra

laicos, que fizeram uma aliança contra os islamitas. O catedrático de história pela

Universidade de Harvard, Niall Ferguson escreve no The Angeles Times: «pelo

menos durante a guerra fria podia dar-se de barato que o nosso filho da puta (o

nosso dirigente anticomunista) imporia uma modalidade brutal de ordem. Agora,

em plena guerra contra o terrorismo, os Estados Unidos preferem um país dividido

entre múltiplos filhos da puta a um país governado pela lei da sharia. Contudo,

quanto mais a política externa de Washington promover a anarquia em vez da

ordem, mais forte será o atractivo dos movimentos islamitas». Isto reforçou o

prestígio dos islamitas, que derrotam em Junho de 2006 os senhores da guerra,

unificando a capital pela primeira vez desde 2001. O seu avanço para o sul fez temer

um contágio ao Quénia e à Tanzânia.

3

Os Tribunais Islâmicos triunfantes puseram ordem no país, o que lhes granjeou

simpatia nos comerciantes e permitiu às ONG voltar a trabalhar.

Os norte-americanos empurraram um dos países mais pobres do mundo, a Etiópia, a

invadir a Somália. Com o apoio norte-americano, derrotaram rapidamente os

Tribunais Islâmicos que tinham conseguido pacificar o país desde 1991. Este

movimento islâmico era uma solução caseira para uma anarquia interminável, devida

em grande parte às intervenções estrangeiras, com origem no passado colonial.

O Pentágono impulsionou a intervenção da Etiópia cristã através de um programa de

ajuda militar desde 2002 e pôs ao seu serviço os meios de reconhecimento aéreo e de

escuta via satélite para a ofensiva somali.

Por que intervém a Etiópia na Somália?


Além de satisfazer os Estados Unidos, procura que a Somália continue instável de

forma a impedi-la de se tornar num país forte que possa reclamar a soberania sobre o

Ogaden, região etíope que se encontra habitada pelo clã dos Hawiya e que provocou

uma guerra entre os dois países (1977-1978).

Enquanto tudo isto sucede, os Estados Unidos, a União Europeia e a comunidade

internacional olham para o lado e permanecem indiferentes à grande dor e miséria

existentes na Somália e calam-se perante os desastres ambientais que provocam.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Estratégias imperialistas

Aclamação para os verdadeiros vitoriosos da revolução de Rupert


por John Pilger

Em 13 de Setembro é inaugurada em Londres uma das maiores feiras de armas do mundo, com o apoio do governo britânico. Em 8 de Setembro, a Câmara de Comércio e Indústria de Londres apresentou uma antevisão intitulada "Médio Oriente: Um mercado vasto para companhias britânicas de defesa e segurança". O patrocinador foi o Royal Bank of Scotland, um grande investidor em bombas de estilhaçamento (cluster). Segundo a Amnistia Internacional, as vítimas de bombas de estilhaçamento são 98 por cento civis e 30 por cento crianças. O Royal Bank of Scotland recebeu £20 milhões de dinheiro público. No anúncio para a festa de armas do banco lê-se: "O Médio Oriente é uma das regiões com o maior número de oportunidades para companhias britânicas de defesa e segurança. A Arábia Saudita... é o principal importador de defesa do mundo, tendo gasto US$56 mil milhões em 2009... uma região muito valiosa a visar".

Tais são as prioridades do governo de Cameron depois da grande vitória "humanitária" na Líbia. Como declarou outrora Margaret Thatcher: "Alegrem-se!" E como os banqueiros e mercadores de armas aumentam a graduação dos seus óculos, não vamos esquecer os heróicos pilotos da RAF que tornaram a Líbia nossa outra vez pela incineração de incontáveis "elementos pró Kadafi" nos seus lares, camas e clínicas, nem os desconhecidos apoiantes da indústria britânica de drones em Menwith Hill , Yorkshire , que, antes e depois do almoço, providenciam a informação de alvos dos drones de modo a que mísseis Hellfire possam arrasar lares e sugar o ar para fora de pulmões, uma especialidade. E aclamações para o sítio de teste de drones da QuinetiQ , em Aberporth, e para a UAV Engines Limited, em Lichfield.

A missão humanitária do ocidente não está totalmente terminada. Cerca de seis meses depois de conseguir uma resolução das Nações Unidas autorizando "a [protecção] de civis e áreas populadas civis sob a ameaça de ataque", a NATO está a despejar bombas de fragmentação sobre Sirte populada por civis e outro "redutos de Kadafi" onde, diz um repórter do Channel 4 New, "até que cortem a cabeça da cobra, os líbios não se sentem seguros". Cito isto não pela sua qualidade Orwelliana mas como um exemplo do papel do jornalismo em justificar antecipadamente os "nossos" banhos de sangue.

Isto é a Revolução de Rupert, afinal de contas. Nestes dias a imprensa de Murdoch já não utiliza a palavra "insurgentes" como pejorativa, como fazia antes. A acção na Líbia, diz The Times, é "uma revolução... tal como as revoluções costumavam ser". Que isto é um golpe de uma ganga de ex-comparsas e espiões de Muammar Kadafi em conluio com a NATO dificilmente é notícia. O auto-designado "líder rebelde", Mustafa Abdul Jalil, era o temido ministro da Justiça de Kadafi. A CIA dirige ou financia a maior parte do resto, incluindo velhos amigos da América, os mujadeen islâmicos que desovaram a al-Qaeda.

Contam aos jornalistas só o que eles precisam saber: que Kadafi estava prestes a cometer "genocídio", do que não há evidência, ao contrário da abundante evidência de massacres "rebeldes" de trabalhadores negros africanos falsamente acusados de serem mercenários. A transferência secreta feita por banqueiros europeus do Banco Central da Líbia de Tripoli para a Bengazi "rebeldes" a fim de controlar os milhares de milhões do petróleo do país foi um roubo gigantesco de pouco interesse.

A totalmente previsível acusação a Kadafi perante o "tribunal internacional" em Haia evoca a charada do agonizante "bombista de Lockerbie", Abdelbaset Ali Mohmed al-Megrahi, cujo "crime odioso" foi posicionado para promover as ambições do ocidente na Líbia. Em 2009, Al-Megrahi foi devolvido à Líbia pela autoridades escocesas não por razões misericordiosas, como foi relatado, mas porque o seu há muito aguardado recurso teria confirmado a sua inocência e descrito como ele foi tramado pelo governo Thatcher, como revelou o memorável desmascaramento de Paul Foot. Como antídoto para a propaganda actual, insto-o a ler uma demolidora perícia forense da "culpa" de el-Melgrahi e seu significado político em Dispatches from the Dark Side: on torture and the death of justice (Verso) da eminente advogada de direitos humanos Gareth Peirce.

Não se deve minimizar a ditadura odiosa de Kadafi, um destino para as "rendições" do MI6 como ficamos agora a saber. Mas o seu ódio não tem relação com a violação do seu país por caricaturas imperiais tais como Nicholas Sarkozy, um islamófobo napoleónico cujos serviços de inteligência quase certamente montaram o golpe contra Kadafi. Telegramas diplomáticos dos EUA divulgados pelo WikiLeaks revelam o pânico do ocidente sobre a recusa de Kadafi a entregar a maior fonte de petróleo na África e as suas aberturas à China e à Rússia.

A propaganda confia não só em Murdoch como também em vozes aparentemente respeitáveis que induzem à amnésia histórica. The Observer, o qual ainda tem de pedir desculpas pela sua catastrófica promoção de não existentes armas de destruição em massa no Iraque, está sob o domínio da "honrosa intervenção" de Sarkozy e Cameron e dos seus motivos "humanitários e emotivos". Seu colunista político Andrew Rawnsley completa um impressionante feito duplo. Como nos recorda o Media Lens, em 2003 Rawnsley escreveu acerca do Iraque: "A portagem da morte não foi tão alta como fora amplamente receado". Um milhão de iraquianos mortos depois, Rawnsley insiste em que, na Líbia "a Grã-Bretanha actuou bem" e "o número de baixas civis infligidas pelos ataques aéreos parece ter sido misericordiosamente ligeiro". Conte isso aos líbios com seres amados aniquilados pelos Hellfires amigos das corporações.

A NATO atacou a Líbia para conter e manipular um levantamento geral árabe que apanhou os dominadores do mundo de surpresa. Ao contrário dos seus vizinhos, Kadafi chegou ao poder pela negação do controle ocidental das riquezas naturais do seu país. Por isto, ele nunca foi esquecido e a oportunidade para o seu fim foi agarrada da maneira habitual, como mostra a história. O historiador americano William Blum tem mantido o registo. Desde a segunda guerra mundial, os Estados Unidos esmagaram ou subverteram movimentos de libertação nacional em 20 países e tentaram derrubar mais de 50 governos, muitos deles democráticos, e lançaram bombas sobre 30 países, e tentaram assassinar mais de 50 líderes estrangeiros.

Alegrem-se! »

O original encontra-se em www.johnpilger.com/articles/hail-to-the-true-victors-of-rupert-s-revolution

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

DATAS

Surgiu há umas dezenas de anos atrás um movimento que designamos de "revisionismo histórico". Se bem me lembro as comemorações do bi-centenário da Revolução Francesa serviram de texto e pretexto. Os temas revistos iam desde a revisão da Revolução Francesa até à elaboração do "Livro Negro do Comunismo". A batuta era a mesma, assim com os membros da orquestra. Rever para repor a verdade? Uma dose de verdade sobre um monte de falsificações, à maneira da cereja em cima do bolo. Conheço muita boa gente, entre os historiadores e professores de história, que embarcaram e continuam a embarcados nessa falsificação monumental (todos os horrores do século vinte começaram no "Terror" da Revolução Francesa, ou, pelo menos, nos gulags da Revolução bolchevique. Aldrabam nos números, escamoteiam contextos, omitem os crimes dos seus "amigos".
Vem isto a propósito das comemorações do atentado terrorista de 11 de setembro de 2001. O Império, que controla os meios de comunicação, exportou para o mundo as suas cerimónias. Acontece que foi também num 11 de setembro que o presidente Allende foi assassinado no Chile e centenas de milhar de chilenos fusilados, torturados ou exilados. Desde logo se sabe o que está plenamente comprovado: o golpe que instaurou o Terror foi apadrinhado pelos yanques. Mas não se fala disso. E aquilo de que não se fala, esquece-se. É, pois, oportuno, rever-se este vídeo no youtub:http://www.youtube.com/watch?v=7vrSq4cievs&feature=player_embedded#!

domingo, 11 de setembro de 2011

11 de setembro

Hoje é o dia em que apanhamos pelas tvs com uma enxurrada de propaganda  e de distracção mórbida. As cadeias da televisão controlada impingem, inoculam, injectam, os elementos que transformam as imagens em espectáculo doentio. As sociedades do espectáculo são isto mesmo: as imagens não são nunca inocentes.
Dez anos depois seria conveniente que todos conhecessemos os autores, os processos, os antecedentes. O acontecimento permanece envolto em mistério, a "caixa negra" não foi aberta. Nem será. Mas sabemos que, propositadamente ou não, foi o pretexto para dez anos de guerras. A vingança do Império? Mais do que isso: a ambição mundial do Império.

sábado, 10 de setembro de 2011

A educação faz com que as pessoas sejam fáceis de guiar, mas difíceis de arrastar; fáceis de governar, mas impossíveis de escravizar.


(Henry Peter)

Preparar a III Guerra Mundial

http://www.pelosocialismo.net

 Preparar a III Guerra Mundial
Objectivo Irão
Michel Chossudovsky*
Este texto foi publicado em www.globalre search.ca/ index.php? context=va&aid=20403 Tradução de José Paulo Gascão Publicado em 2010/08/24: http://www.odiario.info/?p=1716

Colocado on line em: 2010/09/02

A humanidade está numa encruzilhada perigosa. Os preparativos de guerra para atacar o Irão estão em «avançado estado de preparação». Sistemas de alta tecnologia, incluindo armas nucleares, estão totalmente preparados. Esta aventura militar tem estado na mesa de planeamento do Pentágono desde meados da década 1990. Primeiro o Iraque, depois o Irão, de acordo com documentos desclassificados de 1995 do Comando Central dos EUA. A escalada faz parte da agenda militar. Além do Irão – é o próximo objectivo juntamente com a Síria e o Líbano – este desenvolvimento estratégico militar também ameaça a Coreia do Norte, a China e a Rússia. Desde 2005, os EUA e os seus aliados, incluindo os interlocutores dos Estados Unidos na NATO e Israel, estão envolvidos num amplo desenvolvimento e armazenamento dos sistemas de armas avançadas. Os sistemas de defesa aérea dos EUA, dos países membros da NATO e Israel estão totalmente integrados. É um trabalho coordenado pelo Pentágono, a NATO e a Força de Defesa de Israel (FID), com a activa colaboração de vários países da NATO e outros não integrados nesta estrutura, incluindo os Estados árabes (os membros da NATO do Diálogo do Mediterrâneo e a Iniciativa de Cooperação de Istambul), Arábia Saudita, Japão, Coreia do Sul, Índia, Indonésia, Singapura e Austrália, entre outros. Fazem parte da NATO 28 Estados; outros 21 países são membros do Conselho da Aliança Euro-Atlântica (EAPC); o Diálogo Mediterrâneo e a Iniciativa de Cooperação de Istambul é formada por 10 países árabes e Israel. O papel do Egipto, dos Estados do Golfo e da Arábia Saudita dentro da aliança militar ampliada é de particular relevância: o Egipto controla o trânsito dos navios de guerra e petroleiros no Canal do Suez; a Arábia Saudita e os Estados do Golfo ocupam a costa ocidental sul do Golfo Pérsico, o Estreito de Ormuz e o Golfo de Oman.

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No princípio de Junho, «o Egipto informou que permitiu a passagem pelo canal do Suez de onze barcos dos EUA e de Israel, num aparentemente aviso… ao Irão. Em 12 de Junho, alguns meios de comunicação regionais informaram que os sauditas tinham dado autorização a Israel para sobrevoar o seu espaço aéreo» (Mirak Weissbach Muriel, Israel’s Insane War on Iran Must Be Prevented, Global Research, 31 de Julho de 2010). Na doutrina militar nascida do 11 de Setembro, o desenvolvimento massivo de armamento militar definiu-se como parte integrante da chamada «Guerra Global contra o Terrorismo», dirigido contra organizações terroristas «não estatais» como a Al-Qaeda e os chamados «Estados patrocinadores do terrorismo, como o Irão, a Síria, o Libano e o Sudão. A criação de novas bases militares dos EUA e o armazenamento dos sistemas de armas avançadas, incluindo as armas nucleares tácticas, etc. fazem parte da preventiva «doutrina militar defensiva» sob o guarda-chuva da «Guerra Global contra o Terrorismo». GUERRA E CRISE ECONÓMICA As consequências de um ataque de um ataque intenso dos Estados Unidos, da NATO e Israel contra o Irão são de longo alcance. A guerra e a crise económica estão intimamente relacionadas, A economia de guerra é financiada por Wall Street, que surge como credor da administração dos EUA. Os produtores de armas são os destinatários de milhares de milhões de dólares do Departamento de Defesa dos EUA, como forma de pagamento dos contratos de aquisição de sistemas de armas avançadas. Por sua vez, «a batalha do petróleo» no Médio Oriente serve directamente os interesses das petrolíferas gigantes anglo-estadunidenses. Os EUA e os seus aliados estão «a tocar os tambores da guerra» num momento de uma depressão económica mundial, para não falar da catástrofe ambiental, mais grave da história mundial. Numa amarga jogada, um dos grandes jogadores (BP) do tabuleiro de xadrez geopolítico da Ásia Central no Médio Oriente, a antigamente conhecida como Anglo-Persian Oil, foi a instigadora da catástrofe ecológica no Golfo do México. MEIOS DE DESINFORMAÇÃO A opinião pública, influenciada pelo bombardeamento dos meios de comunicação social, apoia tacitamente, indiferente ou ignorando os possíveis impactes do que se mantém como um ad hoc «punitivo», uma operação dirigida contra as instalações nucleares do Irão em vez de uma guerra total. Os preparativos para a guerra incluem o desenvolvimento do fabrico de armas nucleares nos EUA e Israel. Neste contexto, as consequências devastadoras de uma guerra nuclear trivializam-se ou, pura e simplesmente não se mencionam.

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A crise «real» que ameaça a humanidade é o «aquecimento global» segundo os media e o Governo, não a guerra. A guerra contra o Irão apresenta-se à opinião pública como um tema entre vários outros. Não se apresenta como uma ameaça à «Mãe Terra», como o caso do aquecimento global. Não é notícia de primeira página. O facto de um ataque contra o Irão poder levar a uma potencial escalada e desencadear uma «guerra global» não é motivo de preocupação. CULTO DA MORTE E DA DESTRUIÇÃO A máquina global de matar também é sustentada pelo culto da morte e da destruição que inunda os filmes de Hollywood, para não referir as guerras em prime time e as séries de televisão sobre delinquência. Este culto da matança é apoiado pela CIA e pelo Pentágono, que também apoiou (financiou) produções de Hollywood como instrumentos de propaganda da guerra. O ex-agente da CIA Bob baer disse: «Há uma simbiose entre a CIA e Hollywood» e revelou que o ex-director da CIA George Tenet, se encontra actualmente em Hollywood, a falar com os estúdios. (Mathew Alford and Robbie Graham, Lights, Camera… Covert Action: The Deep Politics of Hollywood, Global Research, 31 de Janeiro de 2009). A máquina de matar desenvolve-se a nível global no quadro da estrutura de comando de combate unificado. E, habitualmente, mantém-se nas instituições do governo, media corporativos e mandarins e intelectuais às ordens da Nova Ordem Mundial, desde os think thanks de Washington e os institutos de investigação de estudos estratégicos, como instrumentos indiscutível da paz e da prosperidade mundiais. A cultura da morte e da violência gravou-se na consciência humana. A guerra é largamente aceite como parte de um processo social: a Pátria tem que ser «defendida» e protegida. A «violência legitimada» e as execuções extrajudiciais contra os «terroristas» mantêm-se nas democracias ocidentais, como instrumentos necessários de segurança nacional. Uma «guerra humanitária» é sustentada pela chamada comunidade internacional. Não é condenada como um acto criminoso. Os seus principais arquitectos são recompensados pelas suas contribuições para a paz mundial. Quanto ao Irão, o que se está a desenvolver é a legitimação directa da guerra em nome de uma ilusória teoria de segurança mundial. UM ATAQUE AÉREO «PREVENTIVO» CONTRA O IRÃO LEVARIA A UMA ESCALADA Na actualidade há três teatros de guerra separados no Médio Oriente-Ásia Central: Iraque, Afeganistão/Paquistão e Palestina. Se o Irão for objecto de um ataque aéreo «preventivo» pelas forças aliadas, toda a região, do Mediterrâneo Oriental à fronteira ocidental da China com o Afeganistão e

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Paquistão, poderia rebentar o que potencialmente conduz a um cenário da Terceira Guerra Mundial. A guerra também se estenderia ao Líbano e à Síria. É muito pouco provável que os ataques, se tivessem lugar, ficassem circunscritos às instalações nucleares do Irão, como afirmam as declarações oficiais dos EUA e da NATO. O mais provável é um ataque aéreo, tanto a infra-estruturas militares como civis, sistemas de transporte, fábricas e edifícios públicos. O Irão, com uma estimativa de dez por cento do petróleo mundial, ocupa o terceiro lugar mundial das reservas de gás, depois da Arábia Saudita (25%) e Iraque (11%) do total mundial das reservas. Em contrapartida, os EUA têm menos de 2,8% das reservas mundiais de petróleo (Ver Eric Waddel, The Battle for Oil, Global Research, Dezembro de 2004). É de importância vital a recente descoberta no Irão, em Soumar e Halgan, das segundas maiores reservas mundiais conhecidas que se estimam em 12,4 biliões de pés cúbicos. Atacar o Irão não só consiste em recuperar o controlo anglo-estadunidense, mas também questiona a presença e influência da China e da Rússia na região. O ataque planificado contra o Irão faz parte de um mapa global coordenado de orientação militar. Faz parte da «longa guerra do Pentágono» uma lucrativa guerra sem fronteiras, um projecto de dominação mundial, uma sequência de operações militares. Os planificadores militares dos EUA e da NATO previram diversos cenários de escalada militar. Estão perfeitamente conscientes das implicações geopolíticas, a saber, que a guerra poderá estender-se para além da região do Médio Oriente à Ásia Central. Os efeitos económicos sobre os mercados de petróleo, etc. também foram analisados. Enquanto o Irão, a Síria e o Líbano são os objectivos imediatos, a China, a Rússia, a Coreia do Norte, para não falar da Venezuela e Cuba, são também objecto de ameaças dos EUA. Está em jogo a estrutura das alianças militares. Os desenvolvimentos militares da NATO-EUA-Israel, incluindo as manobras militares e exercícios realizados na Rússia e nas suas fronteiras imediatas com a China têm uma relação directa com a guerra proposta contra o Irão. Estas ameaças veladas, incluindo o seu calendário, constituem um aviso claro aos antigos poderes da era da Guerra Fria, paar evitar que possam interferir num ataque dos EUA contra o Irão. GUERRA MUNDIAL O objectivo estratégico a médio prazo é chegar ao Irão e neutralizar os seus aliados, através da diplomacia da canhonheira. O objectivo militara longo prazo é dirigido directamente à China e à Rússia. Ainda que o Irão seja o objectivo imediato, o desenvolvimento militar não se limita ao Médio Oriente e Ásia Central. Foi formulada uma agenda militar global.

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O desenvolvimento das tropas da coligação e os sistemas de armas avançadas dos EUA, da NATO e dos seus parceiros estão a produzir-se em todas as principais regiões do mundo. As recentes acções dos militares dos EUA em frente das costas da Coreia do Norte sob a forma de manobras, são parte do plano global. Os exercícios militares, os simulacros de guerra, o desenvolvimento de armas, etc., dos EUA, da NATO e dos seus aliados que estão a ser levados a cabo simultaneamente nos principais pontos geopolíticos, são dirigidos principalmente contra a Rússia e a China, • A península da Coreia do Norte, o Mar do Japão, o Estreito de Taiwan, o Mar Meridional da China, ameaçam a China. • O desenvolvimento de mísseis Patriot na Polónia, o centro de alerta rápido na República Checa, ameaçam a Rússia. • Movimentações navais na Bulgária e Roménia no Mar Negro, ameaçam a Rússia. • Movimentações de tropas da NATO e dos EUA na Geórgia. • Um intenso movimento naval no Golfo Pérsico, incluindo submarinos israelitas dirigidos contra o Irão. Ao mesmo tempo, o Mediterrâneo Oriental, o Mar Negro, o Caribe, a América Central e a região Andina na América do Sul, são zonas de militarização em curso. Na América Latina e no Caribe as ameaças dirigem-se contra a Venezuela e Cuba. “AJUDA MILITAR” DOS EUA Por sua vez, transferências de armas em grande escala tiveram lugar sob a bandeira dos EUA como “ajuda militar” a países seleccionados, incluindo 5 mil milhões de dólares num acordo de armamento com a Índia que se destina a melhorar as capacidades da Índia perante a China (Huge U.S.-Índia Arms Deal To Contain China, Global Times, 13 de Julho de 2110). “[A venda de armas] significará melhorar as relações entre Washington e Nova Deli e, de forma deliberada ou não, terá o efeito de conter a influência da China na região”. (Citado em Rick Rozoff, Confronting both China and Russia: U.S. Risks Military Clash With China In Yellow Sea, Global Research, 16 de Julho de 2010). Os EUA conseguiram acordos de cooperação com alguns países do sul da Ásia Oriental, como Singapura, Vietname e Indonésia, incluindo a sua “ajuda militar” e a participação em manobras militares dirigidas pelos Estados Unidos na Pacífico (Julho-Agosto de 2010). Estes acordos são de apoio às implementações de armas apontadas à República Popular da China. (Ver Rick Rozoff, Confronting both China and Russia: U.S. Risks Military Clash With China In Yellow Sea, Global Research, 16 de Julho de 2010). Do mesmo modo, e mais directamente relacionado com o ataque planificado contra o Irão, os EUA estão a armar os Estados do Golfo Pérsico (Bahrein, Kuwait, Qatar e os Emiratos Árabes Unidos) com o interceptor de mísseis terra-ar, Patriot Advanced Capability-3 e a Terminal High Altitude Area Defense (THAAD), bem como as instalações standard de mísseis mar-3 interceptores instalados em navios de guerra da classe Aegis no Golfo Pérsico. (Ver Rozoff Rick, NATO’s Role In The Military

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Encirclement Of Iran, 10 de Fevereiro de 2010). CALENDÁRIOS DE ARMAZENAMENTO MILITAR E DE IMPLEMENTAÇÃO O que é crucial nas transferências de armas dos EUA para os parceiros e aliados é o momento real da entrega e o seu desenvolvimento. O lançamento de uma operação militar patrocinada pelos EUA, ocorreria normalmente quando estes sistemas de armas estejam instalados, depois do efectivo desenvolvimento da aplicação da capacitação do pessoal. (Por exemplo da Índia). Do que estamos a falar é de um desenho militar mundial, cuidadosamente coordenado e controlado pelo Pentágono, com a participação das forças armadas combinadas de mais de quarenta países. Este desenvolvimento militar multinacional mundial é, no mínimo, o maior desenvolvimento de sistemas de armas avançadas da história. Por sua vez, os EUA e os seus aliados estabeleceram novas bases militares em diferentes partes do mundo. “A superfície da Terra está estruturada como um enorme campo de batalha”. (Ver Jules Dufour, The Worldwide Network of US Military Bases, Investigación Global, 01 de Julho de 2007). Comando Unificado da estrutura geográfica dividida em comandos de combate baseia-se numa estratégia de militarização a nível global. “Os militares dos EUA têm bases em 63 países. Há sinais de novas bases militares construídas a partir de 2001 em sete países. No total, há 255.065 militares deslocados dos EUA em todo o mundo”. (Ver Jules Dufour, The Worldwide Network of US Military Bases, Investigación Global, 01 de Julho de 2007). CENÁRIO DA III GUERRA MUNDIAL Este desenvolvimento militar dá-se em várias regiões ao mesmo tempo e sob coordenação dos comandos regionais dos EUA, com a participação no armazenamento dos arsenais dos EUA e dos aliados dos EUA, alguns deles seus antigos inimigos, como o Vietname e o Japão. O contexto actual caracteriza-se por uma acumulação militar global controlada por uma superpotência mundial que utiliza os seus aliados para desencadear numerosas guerras regionais. Diferentemente da Segunda Guerra Mundial, que também foi uma conjugação de diferentes locais de uma guerra regional, é que com a tecnologia de comunicações e sistemas de armas da década de 40, não havia possibilidades de uma estratégia em “tempo real” para a coordenação das acções militares entre as grandes regiões geográficas. A guerra mundial baseia-se no desenvolvimento coordenado de uma única potência militar dominante, que supervisiona as acções dos seus aliados e parceiros.

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Com excepção de Hiroshima e Nagasaki, a Segunda Guerra Mundial caracterizou-se pelo uso de armas convencionais. Agora a planificação de uma guerra mundial baseia-se na militarização do espaço extra-terrestre. Se uma guerra contra o Irão tiver lugar, não será só o uso de armas nucleares, mas toda a gama de novos sistemas de armas avançadas, inclusive armas electrométricas e técnicas de alteração ambiental (ENMOD) que se utilizarão. O CONSELHO DE SEGURANÇA DAS NAÇÕES UNIDAS O Conselho de Segurança aprovou no princípio de Junho uma quarta ronda de sanções de amplo alcance contra a República Islâmica do Irão que incluem o embargo de armas e “controlos financeiros mais apertados”. Numa amarga ironia, esta resolução foi aprovada dias depois da negativa, pura e dura, do Conselho de Segurança das Nações Unidas de adoptar uma moção de condenação de Israel pelo seu ataque à Flotilha pela Liberdade de Gaza em águas internacionais. Tanto a China como a Rússia, pressionadas pelos Estados Unidos, apoiaram on regime de sanções do CSNU, em prejuízo próprio. A sua decisão no Conselho de Segurança contribui para debilitar a sua própria aliança militar, a Organização de Cooperação de Shangai (OCS), em que o Irão tem o estatuto de observador. A resolução do Conselho de Segurança congela os próprios acordos de cooperação militar e económica entre a China e a Rússia com o Irão. Isto tem graves repercussões no sistema de defesa aérea do Irão, que em parte depende da tecnologia e experiência da Rússia. A Resolução do Conselho de Segurança, de facto, dá “luz verde” para desencadear uma guerra preventiva contra o Irão. A INQUISIÇÃO ESTADUNIDENSE: A CONSTRUÇÃODE UM CONSENSO POLÍTICO PARA A GUERRA Em coro, os media ocidentais qualificaram o Irão como uma ameaça á segurança mundial devido a um suposto (inexistente) programa de armas nucleares. Fazendo eco das declarações oficiais, os meios de comunicação estão agora a exigir a bombardeamentos punitivos dirigidos contra o Irão a fim de salvaguardar Israel. Os media tocam os tambores da guerra. O objectivo é inculcar na consciência interna das pessoas, através da repetição até à saciedade da publicação de relatórios com a ideia de que a ameaça iraniana é real e que a república islâmica deve ser “expulsa”. O processo de criação de consenso para a guerra é semelhante à Inquisição espanhola. Procuram a submissão à ideia que a guerra é uma tarefa humanitária. A verdadeira ameaça à segurança global vem da aliança Estados Unidos-NATO-Israel, no entanto, a realidade num ambiente inquisitorial é ao contrário: os belicistas estão comprometidos com a paz, as vítimas da guerra são apresentadas como os protagonistas da guerra.

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Se em 2006 quase dois terços dos estadunidenses se opunham a uma acção militar contra o Irão, segundo uma sondagem recente da Reuter-Zogby, agora uma sondagem indica que 56% dos estadunidenses são a favor de uma acção militar da NATO contra o Irão. A criação de um consenso político que se baseia numa mentira não pode, no entanto, confiar unicamente nos que são a fonte da mentira. Os movimentos contra a guerra nos EUA, que em parte já foram infiltrados, assumiram uma posição frouxa em relação ao Irão. O movimento contra a guerra está dividido. A ênfase põe-se nas guerras que já estão a ser feitas (Afeganistão e Iraque) em vez de se oporem com força a guerras em preparação e que se encontram actualmente no estirador do Pentágono. Desde a posse da administração Obama que o movimento contra a guerra perdeu parte do seu ímpeto. Por outro lado, os que se opõem activamente contra as guerras do Afeganistão e do Iraque não se opõem necessariamente a “bombardeamentos punitivos” ao Irão nem estes atentados são qualificados como um acto da guerra que poderá ser o prelúdio da Terceira Guerra Mundial. A escalada de protestos contra a guerra ao Irão tem sido mínima em comparação coma as manifestações massivas que precederam os bombardeamentos de 2003 e a invasão do Iraque. Diplomaticamente, a operação Irão não teve a oposição da China e da Rússia, mas conta com o apoio dos governos dos Estados árabes de primeira linha que estão integrados no diálogo NATO-Mediterrâneo e conta também com o apoio tácito da opinião pública ocidental. Fazemos um apelo às pessoas de todos os países, na América, na Europa Ocidental, em Israel, na Turquia e em todo o mundo para que se levantem contra este projecto militar, contra os governos que apoiam a acção militar contra o Irão, contra os meios de comunicação que servem para camuflar as devastadoras consequências de uma guerra contra o Irão. ESTA GUERRA É UMA LOUCURA A III Guerra Mundial é terminal. Albert Einstein compreendia os perigos da guerra nuclear e a extinção da vida na Terra, que já começou com a contaminação radioactiva resultante da utilização de urânio empobrecido. “Não sei com que armas se lutará na III Guerra Mundial, mas na IV Guerra Mundial lutar-se-á com paus e pedras”. Os meios de comunicação, os intelectuais, os cientistas e os políticos, em coro, ofuscam a verdade não contada, a saber, que a guerra que utiliza ogivas nucleares destrói a humanidade, e que este complexo processo de destruição gradual já começou. QUANDO A MENTIRA SE CONVERTE EM VERDADE JÁ NÃO HÁ VOLTA ATRÁS

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Quando a guerra é apresentada como uma tarefa humanitária, a justiça e todo o sistema jurídico internacional estão de pernas para o ar: o pacifismo e o movimento contra a guerra são criminalizados. Opor-se à guerra converte-se num acto criminoso. A mentira deve ser exposta como aquilo que é e faz. Aprova a matança indiscriminada de homens, mulheres e crianças. Destróis famílias e pessoas. Destrói o compromisso das pessoas com os seus semelhantes. Impede as pessoas de expressarem a sua solidariedade com os que sofrem. Defende a guerra e o estado policial como a única via. Destrói o internacionalismo. Romper com a mentira significa romper com um projecto criminosos de destruição global, onde a procura do lucro é a sua força primordial. Este lucro incentiva a agenda militar, destrói valores humanos e transforma as pessoas em zombis inconscientes. Vamos inverter a maré. Desafio aos criminosos de guerra em altos cargos e nas poderosas corporações e grupos de pressão que os apoiam. Este beneficio impulsando la agenda militar destruye los valores humanos y transforma a la gente en zombis inconscientes. Fim da inquisição estadunidense. Fim da cruzada militar Estados Unidos-NATO-Israel. Encerramento das fábricas de armas e das bases militares. Retirada das tropas Os membros das Forças Armadas devem desobedecer às ordens e recusarem-se a participar numa guerra criminosa.
 
* Michel Chossudowsky, amigo e colaborador de odiario.info, é Professor Emérito da Universidade de Ottawa, Canadá.

Viagem à Polónia

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Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.