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segunda-feira, 5 de março de 2012

Princípios Elementares de Filosofia

Pelo Socialismo


Questões político-ideológicas com atualidade

http://www.pelosocialismo.net

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Obra editada pela “Prelo Editora, SARL”, em janeiro de 1975 (4.ª Edição)

Colocado em linha em: 2012/03/03

Princípios Elementares de Filosofia

Georges Politzer


[Esta importante obra publica-se por capítulos, semanalmente, iniciando-se com a

publicação do Índice das Matérias, Prefácio e Advertência dos editores franceses.]

Quarta parte – estudo da dialética

Capítulo IV e Capítulo V

CAPÍTULO IV – TERCEIRA LEI: A CONTRADIÇÃO

I. — A vida e a morte.

II. — As coisas transformam-se na sua contrária.

III. — Afirmação, negação e negação da negação.

IV. — Recapitulemos.

V. — A unidade das contrárias.

VI. — Erros a evitar.

VII. — Consequências práticas da dialéctica.

Vimos que a dialéctica considera as coisas como estando em perpétua mudança,

evoluindo continuamente, numa palavra, sofrendo um movimento dialéctico (1.ª lei).

Este movimento é possível, porque toda e qualquer coisa não é mais do que o

resultado, no momento em que a estudamos, de um encadeamento de processos, isto

é, de fases que saem umas das outras. E, levando o nosso estudo mais adiante, vimos

que esse encadeamento se desenvolve necessariamente no tempo num movimento

progressivo, «apesar dos retrocessos momentâneos».

Chamámos a esse desenvolvimento um «desenvolvimento histórico» ou «em espiral»,

e sabemos que se gera a si mesmo, por autodinamismo.

2

Mas, quais são, agora, as leis do autodinamismo? Quais as que permitem às fases sair

umas das outras? Chamam-se as «leis do movimento dialéctico».

A dialéctica ensina-nos que as coisas não são eternas: têm um começo, uma

maturidade, uma velhice, que termina num fim, a morte.

Todas as coisas passam por essas fases: nascimento, maturidade, velhice, fim. Por

que acontece assim? Por que não são as coisas eternas?

Eis uma velha pergunta que sempre apaixonou a humanidade. Por que é preciso

morrer? Não se compreende esta necessidade, e os homens, no decurso da história,

sonharam com a vida eterna, com os meios de mudar tal estado de coisas, na idade

média, por exemplo, inventando bebidas mágicas (elixires de juventude ou da vida).

Por que é que o que nasce é, portanto, obrigado a morrer? Eis uma grande lei da

dialéctica, que deveremos confrontar, para bem a compreender, com a metafísica.

I. — A vida e a morte.

Do ponto de vista metafísico, consideram-se as coisas de um modo isolado, tomadas

em si mesmas, e, porque a metafísica as estuda assim, considera-as de uma maneira

unilateral, isto é, de um só lado. É por isso que se pode dizer, dos que as vêem de um

só lado, que são metafísicos. Em poucas palavras, quando um metafísico examina o

fenómeno a que se chama vida, fá-lo sem o relacionar a qualquer outro. Vê a vida, por

si e em si, de uma maneira unilateral. Vê-a de um só lado. Se examinar a morte, fará a

mesma coisa; aplicará o seu ponto de vista unilateral, e concluirá dizendo: a vida é a

vida, a morte é a morte. Entre ambas, nada de comum; não se pode estar ao mesmo

tempo vivo e morto, porque são duas coisas opostas, inteiramente contrárias uma à

outra.

Ver assim as coisas, é fazê-lo de uma maneira superficial. Se as examinarmos um

pouco mais de perto, veremos, primeiro, que não as podemos opor uma à outra, não

podemos mesmo separá-las tão brutalmente, uma vez que a experiência e a realidade

nos mostram que a morte continua a vida, que a morte vem do vivo.

E a vida, pode sair da morte? Sim. Porque os elementos do corpo morto vão

transformar-se para dar origem a outras vidas e servir de adubo à terra, que será mais

fértil, por exemplo. A morte, em muitos casos, auxiliará a vida, permitirá a esta

nascer; e, nos próprios corpos vivos, a vida só é possível porque há uma contínua

substituição das células que morrem por outras que nascem1.

1 «Enquanto consideramos as coisas como em repouso e sem vida, cada uma por si, uma ao lado e após

a outra, não nos apercebemos, certamente, de qualquer contradição entre elas. Encontramos certas

propriedades que são, em parte, comuns, em parte, diversas, até contraditórias, mas que, neste caso,

são repartidas por coisas diferentes, não contendo, portanto, contradição em si mesmas. Nos limites

deste domínio de observação, ficamo-nos pelo modo de pensar corrente, o metafísico. Mas

procederemos de maneira diferente, se considerarmos as coisas nos seus movimento, mudança, vida,

acção recíproca uma sobre a outra. Aí, caímos imediatamente nas contradições.» (Friedrich ENGELS:

«Anti-Duhring», p. 52).

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Portanto, a vida e a morte transformam-se continuamente uma na outra, e, em todas

as coisas, constatamos a constância desta grande lei: por toda a parte, as coisas

transformam-se na sua contrária.

II. — As coisas transformam-se na sua contrária.

Os metafísicos opõem as contrárias, mas, a realidade demonstra-nos que estas se

transformam uma na outra, que as coisas não permanecem elas próprias, se

transformam nas suas contrárias.

Se examinarmos a verdade e o erro, pensamos: não há nada de comum entre eles. A

verdade é a verdade, um erro é um erro. Este o ponto de vista unilateral, que opõe

brutalmente as duas contrárias, como se oporia a vida e a morte.

E, todavia, se dizemos: «Olha, chove!», acontece que, por vezes, ainda não acabámos

de o dizer e já não chove. Essa frase era exacta, quando a começámos, e transformouse

em erro. (Os Gregos já tinham constatado isso, e diziam que, para não errar, era

preciso não dizer nada!)

Do mesmo modo, retomemos o exemplo da maçã. Vê-se na terra uma maçã madura,

e diz-se: «Eis uma maçã madura». Contudo, estando na terra há um certo tempo, já

começa a decompor-se, de tal forma que a verdade se transforma em erro.

Também as ciências nos dão numerosos exemplos de leis consideradas, durante

muitos anos, como «verdades», que se revelaram, num dado momento, após os

progressos científicos, como «erros».

Vemos, portanto, que a verdade se transforma em erro. Mas, será que o erro se

transforma em verdade? No início da civilização, os homens imaginavam, sobretudo

no Egipto, combates entre os deuses, para explicar o nascer e o pôr do sol; era um

erro, na medida em que se dizia que os deuses empurravam ou puxavam o sol, para o

fazer mover. Mas, a ciência dá parcialmente razão a esse raciocínio, dizendo que há,

efectivamente, forças (puramente físicas, aliás) que fazem mover o sol. Veremos, pois,

que o erro não está nitidamente oposto à verdade.

Se, portanto, as coisas se transformam na sua contrária, como é isso possível? Como

se transforma a vida na morte?

Se houvesse apenas vida, a vida cem por cento, ela nunca poderia ser a morte, e se a

morte fosse totalmente ela própria, a morte cem por cento, seria impossível que uma

se transformasse na outra. Mas, já existe morte na vida e, por conseguinte, vida na

morte.

Observando de perto, veremos que um ser vivo é composto de células, que estas se

renovam, desaparecem e reaparecem no mesmo lugar. Vivem e morrem

continuamente num ser vivo, onde existe, portanto, vida e morte.

Sabemos, também, que a barba de um morto continua a crescer. O mesmo acontece

com as unhas e os cabelos. Eis fenómenos nitidamente caracterizados, que provam

que a vida continua na morte.

4

Na União Soviética, conserva-se, em condições especiais, sangue de cadáveres, que

serve para fazer transfusões: assim, com o sangue de um morto, refaz-se um vivo.

Podemos dizer que, por conseguinte, no seio da morte há a vida.

«A vida é, pois, igualmente uma contradição “existente nas coisas e nos fenómenos

em si”, uma contradição que, constantemente, se apresenta e resolve; logo que a

contradição cessa, a vida cessa também, intervém a morte»2.

Assim, as coisas não só se transformam umas nas outras, mas, ainda, uma coisa não é

apenas ela própria, mas outra que é a sua contrária, porque cada coisa contém a sua

contrária.

Toda a coisa é, ao mesmo tempo, ela própria e a sua contrária.

Se se representa uma coisa por um círculo, teremos uma força que a impelirá para a

vida, empurrando do centro para o exterior, por exemplo (expansão); mas teremos,

também, forças que a impelirão numa direcção oposta, forças de morte, empurrando

do exterior para o centro (compressão).

Assim, no interior de cada coisa, coexistem forças opostas, antagonismos.

Que se passa entre essas forças? Lutam. Por conseguinte, uma coisa não é apenas

movida por uma força agindo num só sentido, mas toda a coisa é, realmente, movida

por duas forças de direcções opostas. Para a afirmação e para a negação das coisas,

para a vida e para a morte. Que significa: afirmação e negação das coisas?

Existem, na vida, forças que a mantêm, que tendem para a sua afirmação. Além

dessas, também existem nos organismos outras que tendem para a negação. Em

todas as coisas, há forças que tendem para a afirmação e outras para a negação, e,

entre a afirmação e a negação, há contradição.

Portanto, a dialéctica constata a mudança; mas, por que mudam as coisas? Porque

não estão de acordo consigo próprias, porque há luta entre as forças, entre os

antagonismos internos, porque há contradição. Eis a terceira lei da dialéctica: As

coisas mudam, porque contêm em si mesmas a contradição.

(Se somos obrigados, por vezes, a empregar palavras mais ou menos complicadas

(como dialéctica, autodinamismo, etc.) ou termos que parecem contrários à lógica

tradicional e difíceis de compreender, não é pelo prazer de complicar às coisas, e,

nisso, imitar a burguesia3. Não. Mas, este estudo, embora elementar, pretende ser tão

completo quanto possível e permitir ler, em seguida, mais facilmente, as obras

filosóficas de Marx-Engels e Lenine, que empregam esses termos. Em todo o caso,

uma vez que devemos empregar uma linguagem que não é usual, procuraremos, no

âmbito deste estudo, torná-la compreensível a todos.)

III. — Afirmação, negação e negação da negação.

2 Friedrich ENGELS: «Anti-Duhring», p. 153.

3 Ver o artigo de René MAUBLANC em “A Vida operária”, de 14de outubro de 1937.

5

É

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