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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013



60 aniversário da Batalha de Stalingrado 
O COMEÇO DO FIM DO NAZISMO


por Oficina de Informações [*]


Passou quase despercebido, no dia 2 de fevereiro, o 60º aniversário da capitulação do 6º Exército da Alemanha nazista ao Exército Vermelho da União Soviética na cidade de Stalingrado (hoje Volgogrado).


'Assalto', foto de Georgi Zelma
A Batalha de Stalingrado, talvez o maior e mais sangrento confronto militar da história, marcou o ponto de viragem dos aliados na 2ª Guerra Mundial, o início do fim do 3º Reich de Adolf Hitler. Hoje subestimada por motivos ideológicos, essa batalha selou o destino de Hitler e despertou em todo o mundo esperanças na vitória do socialismo.

No dia 2 de Fevereiro de 1943, capitulou no distrito fabril, no norte de Stalingrado, o último bolsão dos invasores nazistas, 40 mil soldados e oficiais alemães sob o comando do general Strecker. Do dia 10 de Janeiro até essa data, as tropas da Frente do Rio Don, chefiadas pelo general Rokossovski, derrotaram 22 divisões alemãs e mais 160 unidades de reforço e de retaguarda do 6º Exército, um dos melhores da Wehrmacht, sob o comando do marechal-de-campo Friedrich Paulus. Nessa ofensiva final, o Exército Vermelho capturou, junto com Paulus, 24 generais, 2.500 oficiais e 91 mil soldados.

O anúncio da capitulação chegou a Berlim três dias depois da comemoração do 10º aniversário da chegada de Adolf Hitler ao poder. Segundo o historiador William Shirer, autor de Ascenção e Queda do Terceiro Reich , o comunicado da derrota -- que, por ordem do ministro da propaganda, Joseph Goebbels, omitiu a rendição dos 91 mil soldados do 6º Exército -- foi precedido de um rufar de tambores abafados e seguida do segundo movimento da 5ª Sinfonia de Beethoven. Hitler decretou quatro dias de luto nacional e mandou fechar todos os cinemas, teatros e casas de diversão durante esse período.

Todos os números envolvendo a Batalha de Stalingrado são superlativos. O académico soviético A. Samsónov, autor de A Batalha de Stalingrado , conta que o Exército Vermelho derrotou nessa frente cinco exércitos: dois alemães (o 6º e o 4º de tanques); dois romenos (o 3º e o 4º) e um italiano (o 8º). Segundo seus cálculos, os soviéticos destruíram completamente 32 divisões e três brigadas; provocaram a perda de metade dos efectivos de outras 16 divisões; e teriam matado cerca de 800 mil homens. No total, as baixas dos alemães de seus aliados — entre mortos, feridos e capturados — teriam chegado a 1,5 milhão de pessoas, ou 25% das forças de que dispunham no início da invasão da União Soviética, em Junho de 1941. Os nazistas perderam também 3.500 tanques e peças de assalto; mais de 3 mil aviões de combate e de transporte; 12 mil peças de artilharia e morteiros; 75 mil viaturas, etc. Em contrapartida, segundo informa o historiador inglês Antony Beevor, o Exército Vermelho sofreu durante essa campanha 1,1 milhão de baixas, das quais 485.751 fatais.

O sacrifício não foi em vão. Com a derrota em Stalingrado, Hitler não pôde completar seu plano de conquistar a região do Cáucaso, no Sul da URSS, e seguir adiante para juntar as tropas com o Afrika Korps, do marechal Erwin Rommel, que havia chegado ao Egipto em Agosto de 1942. Depois disso, a perspectiva era unir as tropas alemãs com os japoneses, cuja Armada estava no Oceano Índico nessa época, pronta para invadir a Índia.

É mais ou menos consensual a constatação de que Hitler cometeu seu maior erro estratégico ao se decidir pela invasão da União Soviética, em Junho de 1941, dando início à "Operação Barbarossa". Nessa ocasião, as tropas nazistas já haviam feito as principais conquistas na Frente Ocidental (que se estendia desde a Noruega até os Pirineus e do rio Tamisa ao rio Elba), incluindo a ocupação de Paris. O Reino Unido enfrentava a Alemanha praticamente sozinha, sem poder contar ainda com a ajuda dos Estados Unidos, cuja posição isolacionista dividia o país. Em vez de iniciar uma segunda "Batalha da Grã-Bretanha", que certamente submeteria a resistência já combalida dos britânicos, Hitler resolveu abrir a "Frente Oriental", esperando "esmagar a Rússia soviética numa rápida campanha antes do fim da guerra contra a Inglaterra". Seu objectivo era garantir o abastecimento e tornar invencível a sua máquina de guerra com os cereais da Ucrânia e o petróleo do Cáucaso.

Nos primeiros seis meses da invasão, a Wehrmacht obteve vitórias espectaculares. No norte, as divisões Panzer do marechal Wilhelm Josef Franz von Leeb atravessaram os países bálticos e, com o apoio de seus aliados finlandeses, chegaram aos arredores de Leninegrado, a segunda maior cidade russa. No centro, sob o comando do marechal Fedor Bock tomaram Minsk, a capital da Bielorússia em menos de um mês e, logo em seguida, Smolensk, não muito distante de Moscovo, fazendo mais de 600 mil prisioneiros. No sul, o marechal Gerd von Rundstedt capturou a capital da Ucrânia, Kiev (com outros 600 mil prisioneiros), e depois Odessa, o principal porto soviético no mar Negro. A ofensiva final sobre Moscovo teve início em Outubro. Na batalha de Vyasma, as tropas do marechal von Bock capturaram mais 600 mil soviéticos. Em Dezembro, destacamentos alemães chegaram aos arredores da capital, já em pleno inverno. Os soldados estavam exaustos. E o pior para eles é que o marechal Gueorgui Konstantinovitch Júkov iniciava a contra-ofensiva soviética de três meses, com tropas descansadas. Diante do fracasso na batalha de Moscovo, Hitler exonerou o comandante da Wehrmacht, marechal Heinrich Alfred Hermann Walther von Brauchistch, assumindo o posto ele próprio. Foi quando se decidiu pela ofensiva ao Cáucaso, na primavera de 1942.

De acordo com Samsónov, Stalingrado tinha, na época, 445 mil habitantes. Naquela cidade às margens do rio Volga funcionava um importante parque industrial e comercial, com 126 empresas, 30 das quais de importância nacional. Sua fábrica de tractores, símbolo da indústria soviética, havia produzido mais da metade dos 300 mil tractores então em operação no país. A fábrica Krasni Oktiabr produzia 776 mil toneladas de aço por ano e 584 mil toneladas de laminados. Também eram relevantes a fábrica Barricadi, os estaleiros e a central termoeléctrica. Na região, trabalhavam 325 mil operários e empregados. A cidade era também um centro cultural, com 125 escolas, vários centros de ensino superior, teatros, galerias de pintura e ginásios desportivos.

Mais importante ainda, Stalingrado era uma encruzilhada de comunicações, unindo a parte europeia da URSS com a Ásia Central e a região dos Montes Urais. Por ali passava uma estrada que unia as regiões centrais do país com o Cáucaso, escoadouro do petróleo de Baku. Na época, a cidade também se transformou num símbolo, por ter sido baptizada com o nome do líder soviético Joseph Stalin.

É fora de dúvida que o Führer subestimou a capacidade dos soviéticos de lhe opor resistência. Assim, quando o 6º Exército se rendeu, a derrocada do 3º Reich tornou-se uma questão de tempo, a ser consumada com a tomada de Berlim pelos exércitos do marechal Júkov, no dia 7 de 1945.

Três dias depois do final da batalha de Stalingrado, o presidente americano Franklin Roosevelt enviou uma mensagem de congratulações a Stalin "por sua brilhante vitória". Segundo Roosevelt, "os 162 dias da épica batalha pela cidade... serão lembrados como um dos mais dignos capítulos desta guerra dos povos que se uniram contra o nazismo e seus emuladores. Os comandantes e os soldados de seus exércitos e os homens e mulheres que os apoiaram nas fábricas e no campo cobriram de glória não apenas os braços de seu país, mas inspiraram e renovaram com o seu exemplo a determinação de todas as nações unidas de empenhar toda a sua energia para conseguir a derrota final e a rendição incondicional do inimigo comum".

Já no primeiro encontro dos "três grandes" na Conferência de Teerão, em novembro de 1943 — Stalin, Roosevelt e o primeiro-ministro britânico Winston Churchill — a bravura dos moradores de Stalingrado foi reconhecida por meio de um gesto singelo, a entrega de uma espada enviada pelo rei George VI, na qual foi gravada a seguinte frase: "Aos cidadãos de coração de ferro de Stalingrado, um presente do rei George VI, como sinal da homenagem do povo britânico".

A Batalha de Stalingrado contribuiu para ampliar a moral das forças aliadas e dos movimentos socialistas em várias partes do mundo. Também inspirou toda uma geração de artistas, entre os quais o poeta chileno Pablo Neruda, que compôs o célebre Nuevo canto de amor a Stalingrado . No Brasil, Carlos Drummond de Andrade, em sua Carta a Stalingrado , escreveu:

Saber que resistes.
Que enquanto dormimos, comemos e trabalhamos, resistes.
Que quando abrirmos o jornal pela manhã teu nome (em ouro oculto) estará firme no alto da página.
Terá custado milhares de homens, tanques e aviões, mas valeu a pena.
Saber que vigias, Stalingrado, sobre nossas cabeças, nossas prevenções e nossos confusos pensamentos distantes dá um enorme alento à alma desesperada e ao coração que duvida. 


[*] Texto elaborado pela Oficina de Informações . 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info .

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