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sábado, 21 de setembro de 2013

ERNEST MANDEL



Este artigo mostra a actualidade da análise do capitalismo de Ernest Mandel"Se a economia não pode mais sobreviver senão sob a direcção consciente da sociedade, não deverá ela funcionar no interesse da colectividade, sob gestão democrática desta colectividade, em vez de funcionar às custas da colectividade sob a autoridade de alguns magnatas da finança e de tecnocratas?", perguntava Ernest Mandel em 1981, neste artigo para a Enciclopédia Universalis que publicamos na Biblioteca Marxista.


O capitalismo, por Ernest Mandel

Notar-se-á que os quatro "limites absolutos" do modo de produção capitalista - a saturação das necessidades racionais; a abundância que leva os custos de produção a zero e que mina a própria noção de salariato; a automação, que elimina o trabalho manual da produção e do consumo; a supressão das diferenças entre trabalho manual e trabalho intelectual, que condena a manutenção da estrutura hierárquica da empresa - projectam num futuro pouco longínquo, as tendências que já se manifestam parcialmente, pelo menos nos países capitalistas mais desenvolvidos. Não há nada de "utópico" nesta projecção: trata-se da generalização de tendências que se verificam já.

No plano puramente económico, as expressões concomitantes dessas tendências são: a abundância cada vez mais pronunciada de capitais; a inflação cada vez mais grave; os custos de produção que constituem uma fracção cada vez mais reduzida dos preços de venda "ao último consumidor"; a capacidade de produção excedentária cada vez maior; a obrigação de desviar uma fracção crescente da população activa e dos recursos materiais para empregos irracionais; a impossibilidade crescente de determinar a distribuição nacional dos "factores de produção" em função dos imperativos de lucro dos grandes capitalistas (mesmo sem falar da sua distribuição internacional, tragicamente inadequadas). Isso significa que os mecanismos que asseguram o funcionamento automático do sistema são cada vez mais inoperantes, que esse funcionamento exige cada vez mais intervenções e manipulações extra-económicas. A questão coloca-se então de forma evidente: poderemos continuar a fazer funcionar a economia de dois terços da humanidade em função unicamente do lucro das famosas trezentas companhias multinacionais que dominarão o mundo capitalista daqui a uma vintena de anos, enquanto que essas companhias não podem mais, sozinhas, assegurar o funcionamento da economia e são obrigadas a "socializar" fracções cada vez maiores das suas actividades e dos seus custos? Se a economia não pode mais sobreviver senão sob a direcção consciente da sociedade, não deverá ela funcionar no interesse da colectividade, sob gestão democrática desta colectividade, em vez de funcionar às custas da colectividade sob a autoridade de alguns magnatas da finança e de tecnocratas?

Nós não queremos de forma nenhuma concluir que o capitalismo subsistirá até que todas as implicações derradeiras da sua irracionalidade contemporânea sejam realizadas na totalidade e até ao absurdo. Nós queremos simplesmente sugerir os obstáculos que impedem a sobrevivência do sistema, obstáculos engendrados pelas suas próprias tendências. O resto é uma questão da intervenção consciente das forças sociais - isto é, da praxis revolucionária, política e social - e de um esforço deliberado para derrubar o regime no momento de uma das suas múltiplas crises políticas, económicas, culturais, militares, internacionais, e de o substituir por uma sociedade socialista fundada na democracia socialista e na auto-gestão colectiva e planificada dos trabalhadores.


Tradução de Eduardo Velhinho.

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