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terça-feira, 28 de maio de 2013


A estratégia do medo

José Cardoso Pires, das profundezas do seu De Profundis chora e proclama que Portugal não existe. Que o sabe que já lá viveu... Portugal não existe!
Com políticos sem ideias, ignorância máxima, vazios de mente, pensamento restrito à tábua de défices, pobreza e austeridade, não há espaço para a cultura, as artes e as letras. Nem para a economia. Não há espaço político para a grandeza da natureza humana.

Em Portugal não se vive, nem se sonha, sofre-se em pesadelo!

Álvaro de Campos, irmão gémeo de Fernando Pessoa, diria que “as facturas são feitas por gente que tem amores, ódios, paixões políticas…”

As facturas a pagar são-no para gente que mói a vida no interior do seu sofrimento, nos silêncios de vidas que se aninham nos ventres de quem está já muito comido e macerado pelo calendário da existência de quarenta e tal anos de trabalho para este Estado que, sem alma, sem respeito e sem solidariedade, a massacra. Não se destinam ao Terreiro do Paço que desacerta as contas por incompetência, truques, manipulações.

Ao seu povo, estes governantes servem facturas de contas e dívidas que aquele não contraiu!

Como abutres, esvoaçam o espaço, de garra afiada e pronta a descarnar o que já está descarnado.

Sempre aos mais fracos, com calendário avançado, os reformados do Estado e trabalhadores em geral. São agora responsáveis pela crise! Tanta hipocrisia é demais. Hoje corta, amanhã não, daqui a meses, vê-se...

É a estratégia da intranquilidade e medo!!!

Governam o Estado aterrorizando o povo.

Odeiam e desmantelam o Estado Social, mas dele se servem para negócios ocultos e de favoritismos.

São os mesmos que se autoreformam em 12 anos de trabalho! Com duplas e triplas reformas, são estes biltres que, com hipocrisia e obscenidade, infringem tesouradas nas reformas milionárias superiores a 485 euros!!!

Desbarataram a República, com má gestão, corrupção, participação económica em negócios, branqueamentos, negócios públicos para benefícios privados, parcerias ruinosas.

Ignorantes nuns casos, de má fé noutros, abalroam a ordem jurídica a respeitar. De uma só martelada, arrasam o passado, o presente e o futuro. Contra o Estado de Direito. Contra os mais fracos.

Nestes, vislumbram uma monumental matéria colectável sujeita a uma qualquer paulada fiscal!

Chamam a isso, com cinismo, reformar o Estado e programa de ajustamento!

“Reformar” o Estado tem sempre a mesma face: cortar salários, reformas, despedir, aumentar impostos. Só aí chega a sua criatividade política!

Condenaram os pensionistas à morte lenta, em agonia: 10% aqui, 10% ali, 1% acolá, 1,5% além!

Festim da sacrossanta “convergência”!

Carlos Drummond de Andrade inquire "para onde vais, José? José, para onde vais?"

Saramago espanta-se que ainda não morreu ninguém!

Cardoso Pires apela ao bestiário privado que reside dentro de nós!

Está na hora!

Basta!!!

Procurador-Geral Adjunto
in Jornal "PÚBLICO"

segunda-feira, 27 de maio de 2013

FILOSOFIA - JURGEN HABERMAS


Um dos mais importantes filósofos alemães do século XX, nasceu em Gummersbach, a 18 de Junho de 1929. Fez cursos de filosofia, história e literatura, interessou-se pela psicologia e economia (Universidades de de Gotingen- com Nicolai Harttman-, de Zurique e de Bona). Em 1954 doutorou-se em filosofia na universidade de Bona. Estudou com Adorno e foi assistente no Instituto de Investigação Social de Frankfurt am Main (1956-1959). Em 1961 obtém licença para ensinar (Universidade de Marburg) e, em seguida, é nomeado professor extraordinário de filosofia da Universidade de Heidelberg (1961-1964), onde ensinava  Hans Geor Gadamer. Foi nomeado depois professor titular de filosofia e sociologia da Universidade de Frankfurt am Main (1964-1971). Desde 1971 é co-director do Instituto Max Plank para a Investigação das Condições de Vida do Mundo Técnico-Científico, em Starnberg.
Habermas foi durante os anos 60 um dos principais teóricos e depois crítico do movimento estudantil. É considerado um dos últimos representantes da escola de Frankfurt.

Filosofia
Apesar da enorme complexidade do pensamento de Habermas, é possível descobrir algumas constantes:
1. Ao longo da sua vastíssima obra, tem procurado de criar uma  teoria crítica social assente numa teoria da sociedade
2. Assumindo-se como um dos defensores da modernidade, procura igualmente criar uma teoria da razão que inclua teoria e prática, o mesmo é dizer, uma teoria que seja ao mesmo tempo justificativa e explicativa.
3.A noção de interesse é nuclear no seu pensamento. Habermas parte do pressuposto que todo o conhecimento é induzido ou dirigido por interesses. Mas ao contrário das Karl Marx não o reduz o conhecimento à esfera da produção, onde seria convertido em ideologia. Nem reduz os conflitos de interesses à luta de classes. A sua noção de interesse é muito ampla. Os interesses surgem de problemas que a humanidade enfrenta e a que tem que dar resposta. Os interesses  são estruturados por processos de aprendizagem e compreensão mútua. É neste contexto que Habermas afirma o princípio da racionalidade dos interesses. Distingue três grandes tipos de interesses, segundo um hierarquia algo peculiar: a)técnicos; b) comunicativos; c) emancipatórios.
Os interesses técnicos surgem do desejo de domínio e controlo da natureza. Tratam-se de interesses técnicos na medida em que a tecnologia se apoia ou está ligada à ciência. Todo o conhecimento científico enquadra-se nesta esfera de interesses. 
Os interesses comunicativos levam os membros duma sociedade a entenderem-se (e às vezes a não entenderem-se) com outros membros da mesma da mesma comunidade, o que origina entendimentos e desentendimentos entre as várias comunidades. Nesta esfera de interesses estão as chamadas ciências do espírito (ciências humanísticas, culturais, etc).
 Os interesses emancipatórios ou libertadores estão ligados à auto-reflexão que permite estabelecer modos de comunicação entre os homens tornando razoáveis as suas interpretações. Estes interesses estão ligados à reflexão, às ciências críticas (teorias sociais), e pelo menos em parte, ao pensamento filosófico. Esta auto-reflexão pode converter-se numa ciência, como ocorre com a psicanálise e a crítica das ideologias, mas uma ciência que é capaz transformar as outras ciências. O interesse  emancipatório resulta de ser um interesse justificador, explicativo enquanto justificador.
4.A auto-reflexão individual é inseparável da educação social, e ambas são aspectos de emancipação social e humana. As decisões (práticas) são encaradas como actos racionais, onde não é possível separar a teoria da prática.
5. Todo o seu pensamento aponta, assim, para uma auto-reflexão do espécie humana, cuja história natural nos vai dando conta dos níveis de racionalidade que a mesma atinge.
.
Edições 
Habermas, Jurgen - Discurso Filosófico da Modernidade. Lisboa. Publicações D.Quixote.1990
Habermas, Jurgen -Técnica e Ciência como "Ideologia". Porto. Rés -Editora.1994
Habermas,J urgen - Racionalidade e Comunicação. Porto. Rés -Editora.
Habermas, Jurgen - Comentários à Ética do Discurso. Lisboa. Instituto Piaget.2000
Habermas, Jurgen - Direito e Moral. Lisboa. Instituto Piaget.1999
Habermas, Jurgen - Consciência Moral e Agir Comunicativo. Rio de Janeiro. Tempo Brasileiro.1989
Habermas, Jurgen - Mudança Estrutural na Esfera Pública. Rio de Janeiro. Tempo Brasileiro.1984
Habermas, Jurgen - Pensamento Pós-Metafísico. Estudo  Filosófico. Rio de Janeiro. Tempo Brasileiro.1990
Habermas, Jurgen - Pensamento Pós-Metafísico. Coimbra. Almedina
Habermas, Jurgen- Conhecimento e Interesse. Rio de Janeiro. Zahar Editores.1982
Comentários
Carreira da Silva - Espaço Público em Habermas.Lisboa.ICS.2003
Coutinho, Maria S.P.-Racionalidade Comunicativa e Desenvolvimento Humano em Jurgen Habermas.Bases de um Pensamento Educacional.Lisboa. Colibri.
Freitag, B; Rouanet, S.P. -Habermas.Editora Ática.São Paulo.1980
Pinto,F.Cabral-Leituras de Habermas.Lisboa.Fora do Texto.1992
Continua
Carlos Fontes
Carlos Fontes

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Morreu um grande músico




Moustaki, um homem bondoso e 

multicultural

O grande músico hoje falecido, autor de "Milord", de "Métèque" e de uma fabulosa adaptação de "Fado Tropical", uma ode aos cravos vermelhos do 25 de Abril, era um humanista.

Daniel Ribeiro, correspondente em Paris
 


Na sua casa, na ilha Saint-Louis, no centro de Paris, cruzavam-se 
gentes e 
culturas do
 mundo inteiro. 
Georges Moustaki, de origem grega, era um homem bondoso, zen e 
fascinante. 
Fumava marijuana e jogava pingue-pongue, adorava conversar e, 
sobretudo, 
receber boas notícias. Morreu hojem, em Nice, aos 79 anos de idade.
Um dia, durante uma entrevista para Portugal (publicada no extinto 
semanário "Sete"), 
disse-me que uma das grandes notícias que recebera na vida foi a 
da revolução portuguesa.
Escreveu, aliás, sobre o 25 de Abril, logo em 1974, uma letra
 fantástica para a adaptação
 francesa
 de "Fado Tropical", de Chico Buarque , a que deu o nome de
 "Portugal". Nessa canção,
 onde uma parte é cantada em português, evoca a esperança
que nasceu no Mundo 
com os cravos vermelhos que então floresciam à beira do rio Tejo.

Piaf, Montand, Regianni...


Georges Moustaki era um humanista. Escreveu para Edith Piaf, de quem 
foi amante, 
a célebre letra da canção "Milord" e é o autor de "Métèque", interpretado por
 ele próprio
 e que foi um dos seus maiores êxitos.
Tinha, desde há alguns anos, uma doença grave nas cordas vocais. 
Curiosamente,
 ontem à noite, na cave do café-concerto Le Trois Mailletz, um dos seus
 guitarristas, 
o brasileiro Toninho do Carmo, falava-me dele e dizia estar inquieto com
 a sua saúde. 
Toninho e a sua mulher, a fadista portuguesa Maria Teresa, radicada
 em Paris, 
acompanhavam-no, nos últimos anos, em quase todos os seus concertos.
Moustaki, que se instalou em Paris em 1951, vindo da Grécia, era um
 "monstro" da 
chamada
 grande música francesa. Foi amigo de Georges Brassens e escreveu
 para Edith Piaf, 
Yves Montand, Juliette Gréco, Barbara e Serge Regianni.
Mas era, sobretudo, um amigo de todos nós. Dos humanistas e dos 
sonhadores do 
Mundo inteiro.


Ler mais: http://expresso.sapo.pt/moustaki-um-homem-bondoso-e-multicultural=f809018#ixzz2U8HhiQOZ

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Desmontar a grande mentira


 
LEIAM ATENTAMENTE ESTE ESTUDO DO EUGÉNIO ROSA E TIREM AS VOSSA CONCLUSÕES. E SE ESTIVEREM DE ACORDO COM O SEU CONTEÚDO, ESPALHEM PELOS VOSSOS CONHECIDOS, POIS ISTO NUNCA VERÁ A LUZ DO DIA NA COMUNICAÇÃO SOCIAL!
 
 
 
 
A mentira e a ignorância estão cada vez mais presentes nos ataques às funções sociais do Estado pelos comentadores com acesso privilegiado aos media. É mais um exemplo concreto do pensamento único sem contraditório atualmente dominante nos grandes órgãos de comunicação social. Quem oiça esses comentadores habituais que muitas vezes revelam que não estudaram minimamente aquilo de que falam, poderá ficar com a ideia de que Portugal é um país diferente dos outros países da União Europeia onde o "Estado Social" é insustentável e está próximo da falência por ter garantido aos portugueses uma saúde, uma educação e uma proteção, que inclui o sistema de pensões, mais "generosos" do que a dos outros países e que, por isso, é insustentável.

Um dos arautos mais conhecidos dessa tese, não porque seja um estudioso credível mas sim porque tem tido acesso fácil aos media, é Medina Carreira com as suas diatribes periódicas contra o "Estado Social". Mas antes de confrontarmos o que dizem estes comentadores com os próprios dados oficiais, divulgados até recentemente pelo Eurostat, para que o leitor possa tirar as suas próprias conclusões, interessa desconstruir uma outra grande mentira que tem sido sistematicamente repetida em muitos órgãos de comunicação social sem contraditório o que tem determinado que ela passe, a nível de opinião pública, como verdadeira.

SERÁ VERDADE QUE PORTUGAL FOI OBRIGADO A PEDIR O EMPRÉSTIMO À "TROIKA" PORQUE NÃO TINHA DINHEIRO PARA PAGAR SALÁRIOS E PENSÕES?

Esta é mais uma das grandes mentiras repetidas sistematicamente que não tem qualquer fundamento real, como os dados do quadro 1, retirados do relatório do OE-2013 do próprio Ministério das Finanças, provam.

Quadro 1- Receitas dos impostos e das contribuições, e despesas com pessoal de todas as Administrações Públicas e com prestações sociais (inclui a saúde) – Anos 2011/2013
RUBRICAS
2011
Milhões €
2012
Milhões €
2013
Milhões €
Receitas Fiscais (impostos)
40.352,3
38.583,8
41.476,5
Contribuições sociais (Segurança Social e CGA)
20.926,9
19.383,6
20.114,5
TOTAL (da Receita)
61.279,2
57.967,4
61.591,0
Despesas com Pessoal
19.425,7
16.661,4
17.285,9
Prestações sociais (inclui Segurança Social, CGA, e saúde)
37.623,9
36.851,9
37.628,9
TOTAL (da despesa)
57.049,6
53.513,3
54.914,8
SALDO (Excedente)
+ 4.229,6
+ 4.454,1
+ 6.676,2
Fonte: Relatório do Orçamento do Estado para 2013, pág. 90, Ministério das Finanças
Em 2011, as receitas dos impostos e contribuições foram superiores às despesas com Pessoal de todas as Administrações Públicas mais as despesas com pensões e outras prestações, incluindo as em espécie, que são as prestadas nomeadamente pelo SNS, em +4.229,6 milhões €; em 2012 esse excedente subiu para 4,454,1 milhões € e, para 2013, o governo previa que atingisse um excedente de +6.676,2 milhões €. Para além das receitas consideradas, as Administrações Públicas têm mais receitas. Por ex. na rubrica de "Outras receitas" foram registadas, em 2012, mais 9.606,2 milhões € segundo o Ministério das Finanças. E tudo isto num período de recessão económica em que se verifica uma forte quebra nas receitas fiscais e contribuições. Afirmar, como fazem alguns comentadores e mesmo jornalistas, que o Estado foi obrigado a pedir um empréstimo à "troika" porque não tinha dinheiro para pagar salários e pensões é ignorância ou mentir descaradamente com o objetivo de manipular a opinião pública, pois os impostos e contribuições pagas todos os anos pelos portugueses são suficientes para pagar aquelas despesas. A razão porque se pediu o empréstimo à troika foi para pagar credores leoninos, que são grandes bancos, companhias de seguros, e fundos muitos deles especulativos e predadores.

A DESPESA DO ESTADO COM AS FUNÇÕES SOCIAIS SERÁ EXCESSIVA E INSUSTENTÁVEL EM PORTUGAL COMO AFIRMAM ESTES DEFENSORES DO PODER DOMINANTE?

Esta é uma questão que tem de ser esclarecida pois também é utilizada para manipular a opinião pública. Os dados do Eurostat constantes do quadro 1, em que é apresentada a despesa total do Estado em percentagem do PIB, permite comparar a situação portuguesa com a de outros países da União Europeia.

Quadro 2- -Despesa total das Administrações Públicas em percentagem do PIB
PAÍSES
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
UE- 27 países
44,8
46,2
46,6
47,2
46,8
46,8
46,3
45,6
47,1
51,1
50,6
49,1
Zona Euro
46,2
47,2
47,5
48
47,4
47,3
46,7
46
47,1
51,2
51
49,5
PORTUGAL
41,6
43,2
43,1
44,7
45,4
46,6
45,2
44,4
44,8
49,8
51,3
49,4
Fonte: Eurostat
Em 2011, e são os dados mais recentes disponibilizados pelo Eurostat, a despesa total das Administrações Públicas em Portugal representava 49,4% do PIB português, quando a média na União Europeia situava-se entre os 49,1% e 49,5%, portanto igual. E em 2012, segundo o Relatório do Orçamento do Estado para 2013 (pág, 90) do Ministério das Finanças, a despesa pública em Portugal reduziu-se para apenas 45,6% do PIB. E neste valor estão incluídos os juros da divida que atingiram 7.038,9 milhões € em 2012 devido a juros leoninos pagos por Portugal. Se deduzirmos aquela percentagem desce para apenas 41,4%. Afirmar ou insinuar, como muitos fazem, que a despesa pública em Portugal é excessiva pois é superior à média dos países da União Europeia é uma mentira. Mas é desta forma que se procura manipular a opinião pública para levá-la a aceitar o ataque violento que está em curso em Portugal ao Estado Social, em que um dos instrumentos é ameaça de mais um corte de 4.000 milhões € na despesa pública.

EM PORTUGAL A DESPESA PÚBLICA COM A SAÚDE É INFERIOR À MEDIA DA UE

O ataque ao Serviço Nacional de Saúde tem sido também um dos grandes objetivos destes defensores do poder económico e politico com acesso privilegiado aos grandes media. O argumento é que a despesa em Portugal é excessiva e superior à média dos países da União Europeia. Os dados que o Eurostat divulgou, constantes do quadro 2, prova que isso é mentira.

Quadro 3– Despesa do Estado com a saúde nos países da U. E. – 2011
PAÍSES
Em % do PIB
Em euros/habitante.
% em relação a Portugal
UE27
7,3%
1.843 €
168%
UE17
7,4%
2.094 €
191%
Bélgica
7,9%
2.655 €
242%
Dinamarca
8,4%
3.607 €
329%
Alemanha
7,0%
2.232 €
203%
Irlanda
7,5%
2.660 €
242%
França
8,3%
2.530 €
231%
PORTUGAL
6,8%
1.097 €
100%
Fonte: Eurostat
Como mostram os dados do Eurostat, tanto em percentagem do PIB como euros por habitante, aquilo que o Estado gasta em Portugal com a saúde dos portugueses é significativamente inferior não só ao que se verifica nos países mais desenvolvidos da União Europeia, mas também em relação à média comunitária. Em 2011, a despesa pública com a saúde em Portugal correspondeu apenas a 6,8% do PIB quando a média na União Europeia variava entre 7,3% e 7,4% do PIB. E em euros por habitante, a diferença era ainda muito maior. Em 2011, em Portugal o gasto público com a saúde por habitante era apenas de 1.097€, quando a média nos países da União Europeia variava entre 1.843€ (+68% do que em Portugal) e 2.094€ (+91%). E nos países desenvolvidos a despesa por habitante era muito superior à portuguesa (Bélgica:+142%; Dinamarca:+229%; Alemanha:+103%; Irlanda:+142%; França : +131%), embora a diferença de ganhos em saúde entre Portugal e esses países seja reduzida. Em 2012, com cortes nas transferências para o SNS e para os hospitais públicos aquele valor ainda desceu mais.

A DESPESA COM A PROTEÇÃO SOCIAL EM PORTUGAL É INFERIOR TAMBÉM À MÉDIA DA UE

Uma outra mentira é a de que a despesa com proteção social em Portugal, que inclui as pensões, é superior às dos outros países. O quadro 4, com dados do Eurostat, mostra que não é verdade.

Quadro 4 – Despesa com a proteção social em Portugal e na União Europeia – 2011
PAÍSES
Em % do PIB
Em euros/habitante
Valor per-capita % em relação a Portugal
UE27
19,6%
4.932 €
169%
UE17
20,2%
5.716 €
196%
Bélgica
19,5%
6.577 €
226%
Dinamarca
25,2%
10.892 €
374%
Alemanha
19,6%
6.215 €
214%
Irlanda
17,3%
6.117 €
210%
França
23,9%
7.306 €
251%
PORTUGAL
18,1%
2.910 €
100%
Fonte: Eusrostat
Como mostram os dados do Eurostat, quer se considere em percentagem do PIB, quer em euros por habitante, a despesa pública com a proteção social em Portugal, que inclui as pensões, é inferior quer à dos países mais desenvolvidos europeus quer à média dos países da União Europeia. Em 2011, a despesa pública com a proteção social em Portugal correspondia apenas a 18,1% do PIB quando a média na União Europeia variava entre 19,6% e 20,2% do PIB. E em euros por habitante, a diferença era ainda muito maior. Em Portugal o gasto público com a proteção social por habitante era apenas de 2.910€, quando a média nos países da União Europeia variava entre 4.932€ (+69% do que em Portugal) e 5.716€ (+96%). E nos países desenvolvidos a despesa por habitante era muito superior à portuguesa (Bélgica:+126%; Dinamarca:+274%; Alemanha:+114%; Irlanda:+110%; França: +151%). Fazer cortes significativos nas prestações com a justificação de que as despesas em Portugal são excessivas quando se comparam com outros países da União Europeia é mais uma mentira para enganar a opinião pública.

EM PERCENTAGEM DA DESPESA TOTAL DO ESTADO, A DESPESA COM AS FUNÇÕES SOCIAIS EM PORTUGAL É TAMBÉM INFERIOR À MEDIA DOS PAÍSES DA UE

Por ignorância ou com o objetivo de enganar a opinião pública, Medina Carreira fala de um limite mítico acima do qual o Estado e as funções sociais seriam insustentáveis, e que em Portugal esse limite foi largamente ultrapassado. Observem-se os dados do Eurostat constantes do quadro 5 que mostram que esse limite mítico é também uma mistificação e mentira.

Quadro 5- Percentagem que as despesas com as funções sociais representam em relação às despesas totais do Estado em Portugal e nos países da União Europeia, 2011
PAÍSES
Saúde
Educação
Proteção Social
TOTAL
UE27
14,9%
10,9%
39,9%
65,7%
UE17
14,9%
10,1%
40,7%
65,7%
Bélgica
14,8%
11,6%
36,6%
63,0%
Dinamarca
14,5%
13,5%
43,8%
71,8%
Alemanha
15,5%
9,4%
43,3%
68,2%
Irlanda
15,6%
10,9%
35,9%
62,4%
França
14,7%
10,8%
42,6%
68,1%
PORTUGAL
13,8%
12,9%
36,7%
63,4%
Fonte : Eurostat
Como revelam os dados do Eurostat, em 2011, 63,4% da despesa do Estado em Portugal era com as funções sociais do Estado, quando a média nos países da União Europeia era de 65,7%. No entanto, na Dinamarca atingia 71,8%, na Alemanha 68,1%, e na França 68,1%, portanto superior e, alguns deles, muito superior. Afirmar como alguns fazem que as funções sociais do Estado apenas são sustentáveis se o Estado gastar com elas muito menos de 60% da sua despesa total revela ou ignorância ou a intenção deliberada de enganar a opinião pública, Será que a Alemanha, a Dinamarca, a França, são Estados inviáveis?

Por outro lado, a legitimidade do próprio Estado assenta fundamentalmente nas suas funções sociais já que elas, através dos seus efeitos redistributivos, reduz as desigualdades e melhora de uma forma significativa as condições de vida da esmagadora maioria da população. Querer reduzir significativamente a despesa com as funções sociais terá como consequência inevitável a redução da legitimidade do próprio Estado aos olhos da população, e transformará a sociedade numa selva em que só quem tem muito dinheiro terá acesso aos principais bens necessários à vida e a uma vida humana com dignidade.

O que é insustentável e inaceitável é que se esteja a aplicar em Portugal uma politica fortemente recessiva em plena recessão económica, que está a destruir a economia e a sociedade portuguesa de uma forma irreparável, provocando a falência de milhares de empresas e fazendo disparar o desemprego, o que está a causar uma quebra significativa nas receitas dos Estado e da Segurança Social pondo em perigo a sustentabilidade de todas as funções sociais do Estado e do próprio Estado. Mas disto aqueles comentadores com acesso privilegiado aos média não falam nem querem falar. Os cortes sobre cortes na despesa pública não resolvem este problema, apenas agrava ainda mais a recessão económica, agravando ainda mais todos estes problemas. Como dizia Keynes só os imbecis é que não entendem isto.
06/Abril/2013

sábado, 11 de maio de 2013

Vicco e a História


Giambattista Vico (1668 - 1744)
Vico é um crítico da filosofia de Descartes e se diferencia dos pensadores iluministas por refletir sobre a religião e a política de forma conservadora tendo por base as teorias do passado e utilizando uma linguagem essencialmente teológica.
A história para Vico é um fluxo evolutivo de acontecimentos que nos leva a uma razão esclarecida, mas para ele existem verdades humanas que não podem ser demonstradas através das evidências racionais como as verdades da história, da poesia, da pedagogia da medicina, do direito, da política, da arte e da moral.
O método racional geométrico cartesiano não nos garante a verdade dos nossos conhecimentos sobre as coisas humanas; a razão e a geometria funcionam muito bem com os números e grandezas mas não tem a capacidade de abranger e explicar as outras matérias, especialmente as humanas. O conhecimento e o entendimento sem defeitos é uma característica de Deus, a nós humanos resta um pensar limitado que vamos reunindo conhecendo algumas características dos objetos que percebemos. Nós e Deus conhecemos as coisas que fazemos, como Deus criou o objeto real ele tem o real conhecimento de tudo, nós conhecemos e criamos objetos ilusórios como a matemática que podemos entender verdadeiramente pois ela é o resultado de uma operação intelectual humana. Para Deus fazer e conhecer são a mesma coisa, para os homens não.
Vico considera que Descartes errou ao acreditar que a matemática, uma criação humana, poderá entender o restante do universo que é uma criação divina. A razão é a consciência do ser, mas não o conhecimento dele. A razão humana não é a causa da existência do homem, não foi a razão que criou o meu corpo, portanto não é ela que vai entendê-lo. A razão também não é a causa da minha mente pois a nossa reflexão é um vestígio, um recurso utilizado pela mente para tentar conhecer, mas não é a totalidade da nossa mente. O pensar nos dá o conhecimento da nossa existência, mas não nos garante o conhecimento total de quem realmente somos.
Giambattista diz que os filósofos e historiadores de sua época estavam fazendo da história uma invenção, uma ilusão criada para exaltar nações ou determinados personagens históricos. A história como exaltação de fatos ou personalidade não representa os princípios fundamentais do homem e da história, que é uma criação do homem. A história tem que ter uma ligação real como o homem, caso contrário ela não se sustenta nem cria tradição.
O homem é o personagem principal da história porque é originalmente um ser sociável e ao se sociabilizar ele cria a história. Além de ser um animal sociável o homem é livre e por isso a história da humanidade é o resultado das escolhas dos homens de cada época. Segundo as palavras de Vico ?Enquanto animal o homem pensa somente em sua sobrevivência, mas quando cria família, tem mulher e filhos, ele busca sobreviver junto com sua cidade?.
Seguindo um pensamento de Platão, Vico divide a história em três períodos: dos deuses, dos heróis e dos homens, no primeiro os homens eram ignorantes, insensatos e prevalecia a animalidade, nessa época os homens pouco ou nada usam a reflexão, estão mais ligados aos sentidos. Na época dos heróis prevalece a fantasia, a imaginação, é um período onde a força é a base da estruturação social. No período dos homens o que se destaca é a razão, nessa época os homens atingem a consciência crítica e a sabedoria.
A história é o resultado também das ações divinas mas não de forma direta, para Vico a providência divina criou ideais a serem alcançados pelos homens. Ideais como justiça, verdade e o bem são objetivos que o homem tenta alcançar e tenta fazer isso de maneira livre.
No estudo da linguagem, Vico acredita que o modo de falar popular testemunha com mais veracidade os costumes de um povo. Os sistemas de comunicação que perduram em uma determinada língua são a expressão mais fiel da vida dessas pessoas, razão pela qual não é possível entender uma sem compreender a outra.

Sentenças:
- A fantasia é mais forte quanto mais fraco for o raciocínio.
- O governo segue a natureza dos governantes.
- A poesia dá senso ao insensato.
- A ordem das ideias deve seguir a ordem das coisas.
- A fantasia é a memória dilatada.
Giambattista Vico

Responsável: Arildo Luiz Marconatto

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Gracchus Babeuf


foto de Babeuf
1760-1797

"Quando o governo viola os direitos do povo, a insurreição é, para o povo e para cada porção do povo, o mais sagrado dos direitos e o mais indispensável dos deveres."
Gracchus Babeuf
François Noël Babeuf, conhecido como Gracchus Babeuf nasceu em Saint-Quentin, Picardia em 23 de novembro de 1760 foi sucessivamente servo doméstico, artesão, pedreiro e depois encarregado dos registros (contabilidade) de uma propriedade senhorial.
Publica em 1790 “O Cadastro Perpétuo”, em que defende as reivindicações de igualdade radical do povo de Paris. Várias vezes preso e solto por causa de suas posições. Fez-se chamar Gracchus em referência a dois irmãos romanos que militaram a favor da reforma agrária e foram assassinados (133 e 121 antes de Cristo).
Funda em 1794 o jornal “A Tribuna do Povo” e cria em 1795 a Sociedade dos Iguais com Buonarroti. Face ao aumento da reação “thermidoriana”, essa sociedade reivindica a aplicação da constituição de 1793, que adicionou emendas à de 1789. As emendas em questão são sobretudo concessões às reivindicações populares: direito à educação, à assistência pública.
Preso em 1796, Babeuf é executado em maio de 1797, após uma tentativa de suicídio.
Marx considerava Babeuf o “primeiro comunista ativista” e a Conjuração do Iguais o "primeiro partido comunistas". Para Rosa de Luxemburgo, Babeuf é "o primeiro precursor dos levantes revolucionários do proletariado".
Actualmente estão disponíveis em Português as seguintes obras:

quinta-feira, 2 de maio de 2013

MONTESQUIEU


A Filosofia é um importante campo do conhecimento humano. O trabalho dos filósofos gregos e iluministas, por exemplo, nos ajudou a desvendar alguns dos mistérios que envolvem a nossa existência. Muitos nomes marcaram a história da Filosofia, mas hoje, vamos homenagear Charles de Montesquieu que nasceu em 18 de janeiro de 1689, em Bordeaux, na França.
Nascido em uma família nobre francesa, Montesquieu recebeu os primeiros ensinamentos no Castelo de La Brède, onde morava com seus pais. Aos 11 anos, passou a frequentar escolas de educação religiosa. Mais tarde, cursaria Direito na Universidade de Bordeaux onde manteve contato com grandes intelectuais franceses que criticavam a monarquia absolutista e o clero.
Com a morte de seu pai, em 1704, passou a viver sob os cuidados de seu tio, o Barão de Montesquieu e tornou-se conselheiro do Parlamento de sua cidade natal para resolver questões judiciais da região. Quando seu tio faleceu, Claude assumiu o título de barão, a fortuna e o cargo de presidente do Parlamento de Bordeaux. Também foi membro da Academia de Ciências de Bordeaux onde resolveu estudar a fundo as áreas do direito romano, biologia e geologia, usando as ciências naturais como metáforas para explicar as ciências humanas em seus artigos e teses acadêmicas.
Cansado da nobreza e da vida em Bordeaux, Montesquieu vende seu título e começa a viajar pela Europa para conhecer mais sobre a organização das sociedades, os costumes dos povos e as relações sociais e políticas. Teve grande interesse no sistema político da Inglaterra e morou por lá durante dois anos somente para estudar melhor as ideias parlamentaristas dos britânicos.
Por conta de seus estudos in loco, entre 1720 e 1740, escreve grandes trabalhos sobre política, propondo novos modelos de governo em lugar ao absolutismo real.
Com uma vida de estudos e um legado de trabalhos políticos, Montesquieu faleceu em 10 de fevereiro de 1755, em Paris, aos 66 anos.

IDEAIS DE MONTESQUIEU

Charles de Montesquieu teve ideias revolucionárias para a sua época. Contra o absolutismo, ele propunha um modelo de governo democrático baseado na divisão do poder público em três esferas: Executiva, responsável pela administração pública e representada pelo Rei ou por um chefe de Estado; Legislativo,formulação de projetos de lei e formação de Câmara de Parlamento; e Judiciário, que julgaria a infração das leis e regulamentaria o cumprimento delas. A segmentação do poder impediria a formação de tiranias, por exemplo.
Em relação ao clero, acreditava que governo e religião deveriam ser mantidos separados. Assim, criticava a interferência política exercida pela Igreja Católica na França.
Sua primeira obra famosa foi Cartas Persas, publicada em 1721. No livro, Montesquieu traça fortes críticas aos costumes sociais, políticos e religiosos da França do rei Luís XIV sob o prisma de dois viajantes que trocavam correspondências com persas de forma satírica. A obra é uma reflexão do pensamento iluminista e já dá indícios de outra característica marcante de Montesquieu referente à incapacidade humana em chegar ao conhecimento supremo sobre todas as coisas do mundo.
A sua obra-prima veio em 1748 com O Espírito das Leis em que Montesquieu analisa diversas teorias políticas que conheceu em suas viagens pela Europa e traçou o perfil de três governos vigentes: a monarquia, onde a população servia a um rei através de leis positivas; a república, regido na mão de várias pessoas guiadas pela virtude; e o despótico, onde o autoritarismo de um líder podia comprometer os direitos humanos através da política do medo.
Sua teoria teve grande impacto no iluminismo europeu e serviu de molde para a organização do sistema político das nações modernas. Apesar da grande visibilidade intelectual, Montesquieu sofreu duras críticas de alguns setores e sua obra foi proibida de ser distribuída em território francês após ser colocada no índice do Index Librorum Prohibitorum, da Igreja Católica. Mesmo assim, ainda conseguiu publicá-la oficialmente em 1748 em Gênebra, Suíça, dividido em dois volumes.
 in Moderna, blogspot.br.

Viagem à Polónia

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Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

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Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.