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segunda-feira, 21 de abril de 2014

O general Pedro Pezarat Correia considera que uma nova intervenção militar em Portugal faria recordar o 28 de Maio de 1926, e nunca o 25 de Abril, e rejeita a recuperação do Movimento das Forças Armadas (MFA).

“Qualquer intervenção militar hoje na vida política portuguesa teria muito mais a ver com um 28 de Maio do que com um 25 de Abril”, disse o general na reforma em entrevista à Lusa, a propósito do 40.º aniversário da Revolução dos Cravos.
Pezarat Correia, 81 anos, com vasto currículo militar e académico, foi membro do Conselho da Revolução, sendo professor convidado jubilado na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e autor de diversos estudos e reflexões sobre a evolução do país desde o 25 de Abril.
“O 28 de Maio também foi feito contra um regime democrático. Que funcionava mal, é verdade, mas era democrático. Portanto, hoje, intervenções militares na política não”, salientou o autor de “Questionar Abril”, publicado em 1994, e no qual equaciona os grandes desafios de uma sociedade em mudança.
Pezarat Correia rejeitou a pertinência de um “novo” ou “renascido” MFA, argumentando que “não tem lógica nenhuma”.
“Há é que recuperar o 25 de Abril, que é diferente”, afirmou.
Para Pezarat Correia, o “anseio positivo” sobre a necessidade de “um novo 25 de Abril” constitui um apelo para uma “nova intervenção” dos militares na vida política, que considera um erro.
“Alguns dos militares que fizeram o 28 de Maio também estavam cheios de boas intenções em que Portugal pudesse regenerar a sua democracia. Só que a regeneração da sua democracia deu no Estado Novo, que cá esteve 48 anos”, afirmou, antes de recordar que as Forças Armadas “de hoje” também estão diferentes.
“Não têm nada a ver com as Forças Armadas do 25 de Abril. Hoje é um exército profissional, reduzido, hoje a população na sua generalidade não passa pelas Forças Armadas, já não é o exército do povo, é o exército de uma determinada elite armada”, salientou.
“E estes exércitos de elites armadas não fazem revoluções populares, ou com conteúdo social. Fazem quando muito golpes de Estado”, disse o militar, sempre conotado com os setores da oposição ao regime do Estado Novo e que em junho de 1973 participou na denúncia do “Congresso dos Combatentes”.
Apesar de ser muito crítico do atual Governo e do Presidente da República – que considerou terem uma ação “extremamente” negativa -, Pezarat Correia lembrou, no entanto, que foram eleitos em sufrágio democrático e que o povo mantém o poder de inverter a situação pelo voto, sem ser necessário “estar a corrigir” o regime.
“Estão no poder porque o povo português os escolheu. Foi o voto dos portugueses que os colocou lá. Portanto, os portugueses continuam a dispor de instrumentos, que é o voto, para os poder apear”, afirmou à Lusa na biblioteca da sede da Associação 25 de Abril, em Lisboa, da qual foi o primeiro presidente da Assembleia Geral.
Ao contrário de diversas teses sobre a evolução da situação política no país, Pezarat Correia continua a defender que o “processo revolucionário” em Portugal não foi interrompido pelo golpe do 25 de Novembro de 1975, mas prolongou-se até à aprovação da Constituição de 1976, que tem “conteúdo revolucionário”.
Pezarat Correia reconheceu que o setor do MFA envolvido no 25 de Novembro “acabou por ser ultrapassado por uma dinâmica contrarrevolucionária”, apesar de a dinâmica revolucionária não ter sido “completamente abafada”.
Para o subscritor, em pleno PREC (Processo Revolucionário em Curso), do “Documento do Nove”, as “principais transformações revolucionárias” do 25 de Abril estão incluídas na Constituição aprovada em 1976.
“Portanto, a revolução prolongou-se até à aprovação da Constituição”, frisou.
A “inversão” do processo revolucionário, referiu, situa-se no período constitucional, “em que, frequentemente e com muita determinação”, o poder governou contra a Constituição.

“Não é só agora que a Constituição está a ser violada”, sublinhou, acrescentando que “a Constituição começou a ser violada muito cedo, praticamente logo a seguir, com o primeiro governo constitucional”.

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