09/07/2014 - 03:33 Público
Temos presente o livro
Pavel – Um Homem
não se Apaga, de Edmundo Pedro
(E.P.). Neste IV volume das suas memórias ,
E.P. continua as críticas ao PCP (e a
Álvaro Cunhal), desta vez através do fio condutor da vida
de Pavel, um militante
revolucionário empenhado.
Nesta fúria
crítica arrasta o nosso
pai , Ludgero Pinto
Basto (L.P.B.), a quem
ofende com acusações
gratuitas de “inventar ”, ”animosidade ”,
”má vontade ”, tratar
“da saúde às burguesas ricas de Lisboa”,
falta de “intervenção
no plano social
e cultural”, etc. Tudo isto a pretexto
de comentários a um
artigo de jornal
de há 20 (!) anos , e nove (!) anos após L.P.B. ter
morrido. Julgamos difícil classificar isto como coragem cívica ou intelectual .
O nosso
pai costumava dizer
sempre que
se falava do “caso Pavel” que era necessário , previamente, esclarecer
o “caso Magalhães”. Quem era
Magalhães? O Magalhães era Armando
Magalhães, agente provocador, infiltrado
no PCP, ao serviço da PDVE.
Magalhães era
um homem
inteligente , ardiloso ,
insidioso e muito ambicioso ,
que em
Maio de 1938, recém-chegado da URSS, onde frequentara a Escola
Leninista de Quadros , era já um responsável máximo do Partido ,
uma espécie de secretário-geral “interino ”. O relatório
da fuga de Pavel da cadeia
do Aljube que chegou ao responsável da Internacional
Comunista em
Paris (e ao PC francês ) foi da responsabilidade pessoal
e exclusiva de Magalhães. Este relatório desonesto e traiçoeiro
salienta, muito intencionalmente ,
não só
a extrema dificuldade
de fugir de uma prisão tão segura como era o
Aljube (dificuldade que
nunca fora
vencida anteriormente ) [Nota : parece que
nem isto
era verdade , pois já teria havido
uma fuga coletiva
em 1932 de que
fez parte Emídio Guerreiro ],
mas também
a particularidade de a fuga ter sido executada com a decisiva ajuda e mesmo com a comparticipação de um
"elemento da Polícia ",
o enfermeiro da prisão .
Magalhães foi “preso ”
pouco tempo
depois de ter
enviado o seu
relatório para
Paris, o que veio
dar mais verosimilhança às suspeitas
que ele
próprio havia sugerido acerca
da fuga de Pavel e da grave infiltração policial
na organização do partido .
Magalhães passou a colaborar diligentemente
com a PVDE na “prisão ”,
onde casou, pela
igreja , com
uma russa branca que
trouxera consigo para
a clandestinidade em Portugal. Como recompensa , a PVDE
“libertou-o” ao fim de alguns meses, tendo-lhe facilitado a ida para o Brasil, onde , segundo
consta, refez a sua vida .
L.P.B., que ,
na altura , pertencia ao secretariado nacional
do PCP, desempenhou na fuga de Pavel um importante papel e atribuía todas as culpas
individualizáveis neste caso ao
Magalhães.
Os fugitivos
(Pavel, o enfermeiro Augusto Rodrigues e o jovem
António Gomes Pereira ) foram viver para a casa
clandestina onde
vivia L.P.B. com a sua
mulher , Brízida, e o seu (na altura único ) filho
Ernâni, a fim de serem tratados dos graves
ferimentos que
apresentavam e da afeção pulmonar de que Pavel padecia.
O tratamento
dos evadidos e posteriormente o seu encaminhamento para
França demorou vários meses e o
relacionamento com eles
foi sempre de grande
amizade e respeito ,
pelo que
L.P.B. considerava Pavel um militante revolucionário
empenhado e um homem
honrado.
No que
respeita a Álvaro Cunhal, não teve qualquer
interferência no processo
porque estava preso
e no período de 1940-1948 (data
da nova prisão
de Cunhal) seria difícil , para
não dizer impossível , o contacto com
Pavel, de quem se desconhecia o paradeiro .
No seu
livro O Partido
com Paredes
de Vidro (Edições
Avante !, 1985, pág. 252 da 6.ª edição de 2002) Cunhal, com
a sua autoridade ,
critica a Internacional Comunista e denuncia, explicitamente, a “injusta suspeita
criada ”.
1 comentário:
A vida também é feita de pequenos nadas
ao invés de brotarem na boca das sementes
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