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sábado, 30 de agosto de 2014

FÁBULAS

FAMÍLIAS

Família 1.

Gaza? Que terra é essa? questiona o miúdo. A televisão difunde notícias. O miúdo joga no telemóvel. O almoço está ao lume. O pai responde, escarafunchando o nariz, É lá para longe, no Oriente. Ah, disse o miúdo, Gaza, gás, existe gás aí, é por isso? insistiu o miúdo. É isso é, responde a mãe, Ninguém me ajuda a pôr a mesa? Um, mais ocupado a escarafunchar o nariz do que a ouvir, tu, a jogares em vez de aprenderes…Eu explico: os fortes mandam bombas para cima dos fracos por causa do petróleo ou gás que descobriram no mar, ao pé deles, quem me disse foi uma colega do escritório, diz que leu num jornal. Ah, disse o marido. Ah, disse o miúdo. Já podemos comer? Perguntou o homem. Já, respondeu a mulher.
Enquanto comem:
Esta história do banqueiro faz-me pensar…Diz o homem.
Ups, também pensas? Diz a mulher.
Não te oiço, diz o homem, Penso assim: num Banco deposita-se o nosso dinheiro. Em princípio, devíamos receber juros, visto que eles utilizam o dinheiro do nosso salário para fins próprios, ou seja, outros fins. Vale como princípio, não como fim. O Banco protege o nosso dinheiro? Portanto, em princípio, é para a nossa segurança. Em princípio, porque, no fim, os banqueiros multiplicam dividendos e o nosso dinheiro gasta-se todo ainda o mês não findou.
É mais ou menos o que diz a minha colega, diz a mulher.
A tua colega é do sindicato ou quê? pergunta o homem.
Não, mas gosta de ler, responde a mulher.

Família II.

Era uma vez uma família muito rica de um país muito pobre. Quando toda a gente ou ia fazer a guerra ou emigrava, essa distinta família sobre a guerra achava que era muito boa e da emigração só conhecia o turismo de luxo. Até que um dia deu-se uma reviravolta muito grande e a família decidiu dar à sola, como sói dizer-se. Emigrou para onde guardava o dinheiro. Aí fez mais dinheiro e, quando pôde regressar, recebeu ainda mais dinheiro. Como era mui rica e mui distinta, fez muitos amigos. Dos amigos, fez muitos governantes. Os governantes fizeram mutos negócios com a família distinta. Cada vez ficaram mais amigos uns dos outros. Casavam uns com os outros, caçavam javalis nas coutadas de extintas cooperativas de camponeses, jogavam golfe no Algarve. Faziam inimigos, conspiravam e liquidavam-nos. Ou seja, mudavam os governos, trocando de amigos. Na próxima rodada voltavam a fazer as pazes com os inimigos de ontem. No fundo, eram boa gente. Distinta sobretudo. Gostavam todos da mesma música e dançavam a mesma valsa.
Moral da história: Para que alguns dancem o tempo todo, é preciso que outros trabalhem e votem neles.

Nozes Pires

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

A bomba de Hiroshima em Gaza

Há um tempo em que a poesia parece um luxo, uma alienação, um traste inútil, uma ocupação desonrosa, de fazer vergonha ao poeta, que se vê acovardado no meio do mundo. É um tempo em que a pornografia migrou da pedofilia, dos abusos e animalidade. Porque em Gaza hoje, na guerra e no desprezo à pessoa humana, se faz melhor, mais eloquente pornografia.
Aquela informação acadêmica que nos chegava do filósofo Adorno, de 1951, quando ele escreveu: “Escrever poesia depois de Auschwitz é bárbaro. E isso corrói até mesmo o conhecimento de por que se tornou impossível escrever poesia hoje”, essa frase do filósofo alemão, que expressava o desacordo de razão e sentimento diante do horror, foi nestes dias atualizada. Nesta última quarta-feira 6 de agosto, enquanto se dava um cessar-fogo precário, um intervalo dos palestinos pelo Estado de Israel, o mundo também lembrava os 69 anos da explosão da bomba atômica em Hiroshima. Mas que coincidência, poderíamos dizer, se na história houvesse coincidências.
Em 2003, escrevi “A Rosa da Palestina”, e naquela ocasião eu esperava que a poesia fosse uma defesa contra a barbárie. Aqui vai o texto, que relacionava a bomba atômica e o massacre em Gaza.
A ROSA DA PALESTINA
Um poema de Vinícius ordena, suplica que “Pensem nas crianças mudas telepáticas. Pensem nas meninas cegas inexatas. Pensem nas mulheres rotas alteradas. Pensem nas feridas como rosas cálidas…”. É esse poema, “A Rosa de Hiroxima”, é essa talha em versos que ordena, que resiste e insiste em nossa memória, quando vemos a foto de Somaeah Hassan, de 6 anos, abatida na faixa de Gaza. Essa flor fuzilada, entre gazes, olhinhos semicerrados, é a própria Rosa da Palestina. Contenhamos a velocidade da mão, refreemos a velocidade da escrita, represemos o fluxo da leitura. Pedimos uma pausa no caleidoscópio, nas luzes fugazes, frívolas, vulgares do incessante ir e vir do noticiário de todos os dias. Somaeah Hassan está morta. Calma, buldogues, fechem suas bocas, canos quentes de balas, suspendam a digitação, noticiaristas, segurem por um instante a divulgação do mais quente e recente escândalo. Porque o escândalo já está feito: Somaeah Hassan está morta. Na foto, seus olhinhos se negam a compreender o horror das balas que a levantaram do chão de refugiados de Rafah. Negaram-se é maneira de dizer. São incapazes, nos seus 6 anos. Mais tempo houvesse, mais vida, outra vida tivesse, Somaeah compreenderia e se negaria a compreender o horror maior do seu povo cercado como cães raivosos. E a raiva, em cães, se abate. Mas a raiva, em gente feita cão, não se abate – apenas cresce, quando a crianças como Hassan abatem.
Refreemos a mão. É difícil. Mas tentemos.
Era bom, assim pede a paz que nosso peito deseja, era bom um lugar-comum que nos ajudasse, que nos socorresse. Dizer, por exemplo, que assim é a guerra, cruel como todas as outras, que nela não existem santos e demônios, que a guerra nos transforma a todos em anjos das trevas. Dito isto, seria melhor dizer que o terror feito pelo Estado de Israel apenas é uma resposta ao terror sofrido antes por sua gente. Dito isto, podemos afinal dizer que o mal e o mau têm que ser destruídos, para que só então a paz volte. Mas, ao chegarmos a este passo, perguntamos: mas de que mal e maus vocês falam, caras-pálidas? Pois será que ninguém ainda notou que a nossa cara tem a cara e o sangue da gente palestina? Que eles, os palestinos, são a nossa própria cara? Será que ninguém ainda percebeu que o desespero dos povos palestinos é o nosso próprio desespero em outras terras e em outras circunstâncias? Aquele mesmo desespero que acomete a gente em situações-limite? Ainda que os Estados Unidos exibam ao mundo um negro para consumo externo, ele apenas nos aparece como um novo Al Jolson, com a cara pintada. Os interesses de que ela fala não são os nossos. Servem à mesma rosa atômica que se fez cair em Hiroshima e Nagasaki.
Então voltemos, mais serenos. Mas, desgraça, descobrimos: serenos, não temos mais mãos. Temos somente uma grande letargia. Então quebremos o torpor, voltemos ao princípio.
“A rosa hereditária, a rosa radioativa, estúpida e inválida. A rosa com cirrose, a anti-rosa atômica” sofreu uma tradução no campo de refugiados da faixa de Gaza. Ela se fez uma rosa fuzilada, a Rosa da Palestina, no corpinho frágil de Somaeah Hassan. Essa menina nos fere como uma filhinha morta. Ela, em árabe, em dialeto, em outra língua, nos fala e a compreendemos como compreendemos e amamos uma própria filha que o nosso sêmen esculpiu. Mais: como um serzinho esculpido por nós por um nosso irmão. Mais: irmão com um sentido de irmão mais fundo que o genético. Mais: com um sentido de irmão mais fundo que o racial. Mais: com um sentido de irmão mais fundo que o nacional. Mais, finalmente: com um sentido de irmão que é o próprio sentido de humanidade. Hassan é a nossa própria humanidade abatida. Ela se abre em outras rosas que se despedaçam em Jerusalém. Rosas que em vez de pétalas jogam carnes, fígado, coração e intestinos.
Já secamos as lágrimas. Não nos perguntem portanto por que vomitamos. Nós não queríamos ter essas Rosas da Palestina.
***
Soledad no Recife, de Urariano Mota, está à venda em versão eletrônica (ebook), por apenas R$10. Para comprar, clique aqui ou aqui.
***
Urariano Mota é natural de Água Fria, subúrbio da zona norte do Recife. Escritor e jornalista, publicou contos em Movimento, Opinião, Escrita, Ficção e outros periódicos de oposição à ditadura. É colunista do Vermelho. As revistasCarta CapitalFórum e Continente também já veicularam seus textos. Autor deSoledad no Recife (Boitempo, 2009) sobre a passagem da militante paraguaia Soledad Barret pelo Recife, em 1973, de O filho renegado de Deus (Bertrand Brasil, 2013), uma narração cruel e terna de certa Maria, vítima da opressão cultural e de classes no Brasil, e do Dicionário Amoroso do Recife (Casarão do Verbo, 2014). Colabora para o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Eduardo Galeano

Pelo Socialismo 
Questões político-ideológicas com atualidade 
http://www.pelosocialismo.net 
_____________________________________________
Publicado em 2012/11/26 em: http://www.aporrea.org/internacionales/a154906.html
Tradução do castelhano de PAT 
Colocado em linha em: 2014/08/18

Já pouca Palestina resta. Passo a passo, 
Israel está a apagá-la do mapa1

Eduardo Galeano*

Para se justificar, o terrorismo de Estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe 
tempestades. Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo os seus autores 
quer acabar com os terroristas, conseguirá multiplicá-los. 
Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem 
nem respirar sem permissão. Perderam a sua pátria, as suas terras, a sua água, a sua 
liberdade, o seu tudo. Nem sequer têm o direito de eleger os seus governantes. 
Quando votam em quem não devem votar, são castigados. Gaza está a ser castigada. 
Converteu-se numa armadilha sem saída, desde que o Hamas ganhou limpidamente 
as eleições no ano de 2006. Algo de semelhante havia ocorrido em 1932, quando o 
Partido Comunista ganhou as eleições de El Salvador. 
Banhados em sangue, os salvadorenhos expiaram a sua má conduta e, desde então, 
viveram submetidos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos 
merecem. São filhos da impotência os foguetes caseiros que os militantes do Hamas, 
encurralados em Gaza, disparam com desajeitada pontaria sobre as terras que foram 
palestinas e que a ocupação israelita usurpou. E o desespero, à beira da loucura 
suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito à existência de Israel, gritos sem 
nenhuma eficácia, enquanto a muito eficaz guerra de extermínio está a negar, há 
vários anos, o direito à existência da Palestina. Já pouca Palestina resta. Passo a 
passo, Israel está a apagá-la do mapa. 
Os colonos invadem e, depois deles, os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas 
consagram o despojo, em legítima defesa. Não há guerra agressiva que não afirme ser 
guerra defensiva. Hitler invadiu a Polónia para evitar que a Polónia invadisse a 
Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo. Em 
cada uma das suas guerras defensivas, Israel engoliu outro pedaço da Palestina, e os 
almoços continuam. Isso justifica-se pelos títulos de propriedade concedidos pela 
 Bíblia, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu e pelo pânico 
gerado pelos palestinos, à espreita. Israel é o país que nunca cumpre as 
recomendações e resoluções da Organização das Nações Unidas, que nunca acata as 
sentenças dos tribunais internacionais, que zomba das leis internacionais, e é 
também o único país que legalizou a tortura de prisioneiros. 
Quem lhe deu o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com 
que Israel está a executar a matança de Gaza? 
O governo espanhol não poderia bombardear impunemente o País Basco para acabar 
com a ETA, nem o governo britânico poderia arrasar a Irlanda para liquidar o IRA. 
Será que a tragédia do Holocausto implica uma apólice de eterna impunidade? Ou 
essa luz verde vem da potência que mais manda e que tem em Israel o mais 
incondicional dos seus vassalos? 
O exército israelita, o mais moderno e sofisticado do mundo, sabe quem mata. Não 
mata por engano. Mata por horror. Às vítimas civis chamam danos colaterais, 
segundo o dicionário de outras guerras imperiais. 
Em Gaza, em cada dez danos colaterais, três são crianças. E são milhares os 
mutilados, vítimas da tecnologia de esquartejamento humano, que a indústria militar 
está a ensaiar com sucesso nesta operação de limpeza étnica. E, como sempre, é 
sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. Por cada cem palestinos mortos, um israelita. 
Gente perigosa, adverte o outro bombardeamento, a cargo dos média de manipulação 
de massas, que nos convidam a acreditar que uma vida israelita vale tanto como cem 
vidas palestinas. E esses média também nos convidam a acreditar que são 
humanitárias as duzentas bombas atómicas de Israel, e que uma potência nuclear 
chamada Irão foi quem aniquilou Hiroshima e Nagasaki. 
Existe a chamada comunidade internacional? É algo mais do que um clube de 
negociantes, banqueiros e guerreiros? É algo mais do que o nome artístico que os 
Estados Unidos atribuem a si próprios quando fazem teatro? 
Perante a tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial brilha mais uma vez. Como sempre, 
a indiferença, os discursos vazios, as declarações ocas, as declamações altissonantes, 
as posturas ambíguas prestam homenagem à sagrada impunidade. Perante a tragédia 
de Gaza, os países árabes lavam as mãos. Como sempre. E, como sempre, os países 
europeus esfregam as mãos. 
A velha Europa, tão capaz de beleza e de perversidade, derrama uma ou outra 
lágrima, enquanto secretamente celebra este golpe de mestre. Porque a caça aos 
judeus foi sempre um costume europeu, mas, desde há meio século, essa dívida 
histórica está a ser cobrada aos palestinos, que também são semitas e nunca foram 
nem são antissemitas. Eles estão a pagar, em sangue vivo e sonante, uma conta 
alheia. 
(Este artigo é dedicado aos meus amigos judeus assassinados pelas ditaduras 
militares latino-americanas que Israel assessorou).3

*Eduardo Germán María Hughes Galeano, conhecido como Eduardo Galeano, é um 
jornalista e escritor uruguaio, célebre por ter escrito “As veias abertas da América”. Ganhou 
o prémio Stig Dagerman. É considerado um dos mais destacados escritores da literatura 
latino-americana. 
1
 Note-se que este artigo foi escrito há quase 2 anos. – [NE] 

domingo, 17 de agosto de 2014

Um carta de K. Marx

“Se ninguém tem dúvidas sobre "de onde vimos?" reina em contrapartida
uma confusão bastante maior sobre "para onde vamos?". Não só uma
anarquia geral se desencadeia entre os nossos reformadores sociais,
como cada um de nós acabará em breve por confessar a si próprio que
não tem qualquer ideia exacta do que deverá acontecer amanhã. Em
suma, é este precisamente o mérito da nova orientação: saber que nós
não antecipamos o mundo de amanhã pelo pensamento dogmático, mas
ao contrário não queremos encontrar o mundo novo senão no termo da
crítica do antigo.
Até aqui, os filósofos guardavam na sua gaveta a solução de todos os
enigmas... Se construir o futuro e fazer planos definitivos para a
eternidade não é o nosso ofício, o que pretendemos realizar no presente
é evidente: pretendemos a crítica radical de toda a ordem existente,
radical no sentido de que ela não tem medo dos seus próprios
resultados, nem dos conflitos com as potências estabelecidas (...)

( K. Marx ---Carta a A. Ruge de Setembro de 1843, in Correspondence,
 Tomo I, Nov. 1835-Dez. 1848,
Ed. Sociales, 1971, págs. 297-300).

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

István Mészáros

Bolívar e Chávez: o espírito da determinação radical

Um ano após a morte de Hugo Chávez, a Boitempo disponibiliza em seu Blog, como homenagem, este artigo de István Mészáros, publicado originalmente da edição de número 8 da revista semestral Margem esquerda: ensaios marxistas.
“Penas levadas pelo vento”
No verão de 2005, a Venezuela comemorou o bicentenário do juramento de Simón Bolívar, feito na presença de seu grande professor, Simón Rodríguez, um homem que, bem antes de Marx, frequentou sociedades secretas socialistas em Paris e regressou à América do Sul apenas em 1823. O juramento de Bolívar ocorreu em 15 de agosto de 1895, nos arredores de Roma. O próprio local – a colina do Monte Sacro –, que foi escolhido em conjunto para a ocasião solene, já constituía uma indicação da natureza do compromisso histórico do jovem Bolívar. Pois foi precisamente na colina do Monte Sacro, vinte e três séculos antes, que consta ter ocorrido o protesto revoltoso dos plebeus contra os patrícios da Roma Antiga, sob a liderança de Sicínio. Diz-se que a rebelião da população romana daquele tempo foi apaziguada graças à retórica de um notório pilar da ordem estabelecida, o senador Menênio Agripa, que pregou a eterna visão familiar de que o povo “que não está destinado a governar” deveria aceitar de boa vontade “seu lugar na ordem natural da sociedade”. Num firme desafio à visão resignada que emana das iníquas relações de poder impostas com êxito por toda a parte, o jovem Bolívar exprimiu no Monte Sacro sua determinação em dedicar sua vida à luta, com vista a um final vitorioso contra o domínio colonial em sua parte do mundo. Foram estas as suas palavras:
“Juro diante de ti, juro pelo deus de meus pais, juro pelos meus antepassados, juro pela minha honra e juro pela minha pátria que não permitirei que nem o meu braço nem a minha alma descansem até termos rompido os grilhões que nos oprimem por vontade do poder espanhol.”1
Bolívar nunca vacilou em sua determinação radical, conforme expressa seu juramento, nem mesmo sob as circunstâncias mais adversas. Os anos seguintes fizeram-no perceber que era preciso haver mudanças fundamentais não só nas relações políticas e militares internacionais como, mais profundamente, na ordem social existente, se quisesse que o projeto de acabar com a dominação colonial tivesse êxito. As mudanças radicais incluíam a libertação dos escravos, ao que sua própria classe se opunha com veemência. Até sua querida irmã o considerou “louco”, em razão de sua inquebrantável insistência na igualdade.
Bolívar considerava a igualdade “a lei das leis”, acrescentando que “sem igualdade todas as liberdades, todos os direitos perecem. Por ela, devemos fazer sacrifícios”2. Professava tudo isso de uma forma verdadeiramente intransigente. E para provar com ações a validade de seus princípios e crenças profundos, não hesitou nem por um instante em libertar todos os escravos de suas propriedades em sua determinação de dar uma base social tão vasta quanto possível à luta por uma emancipação completa e irreversível do domínio colonial profundamente instituído. Em seu magnífico discurso no Congresso de Angostura, em fevereiro de 1819, destacou a libertação dos escravos como a mais essencial de suas ordens e decretos, afirmando que:
“Deixo à vossa soberana decisão a reforma ou a revogação de todos os meus estatutos e decretos, mas imploro a confirmação da liberdade absoluta dos escravos, como imploraria pela minha vida e pela vida da República.”3
Isso se passou várias décadas antes de ser levantada e parcialmente resolvida a questão humana vital da emancipação dos escravos na América do Norte. Os Pais Fundadores da Constituição dos EUA nunca tiveram a mínima preocupação, nem em seu espírito nem em seus corações, em acabar com o desumano sistema da escravidão, do qual eles mesmos se beneficiavam. A terrível herança de sua funesta omissão continuou a se exprimir de diferentes formas durante séculos, e ainda em nossos dias se manifesta de modo trágico, como pudemos testemunhar em Nova Orleans quando da passagem do furacão Katrina, entre agosto e setembro de 2005.
Como contrapeso necessário não só à Santa Aliança, que incluía também a Espanha, mas ainda mais notoriamente às crescentes ambições imperialistas dos Estados Unidos da América do Norte, Bolívar tentou constituir uma confederação permanente das nações latino-americanas. Não é de estranhar, porém, que os esforços destinados a tal objetivo fossem frustrados e totalmente anulados pelo cada vez mais poderoso país do Norte e por seus aliados.
Mostrando uma grande visão quanto à tendência preponderante do desenvolvimento histórico, que chega até os nossos dias, Bolívar foi finalmente forçado a reconhecer que “os Estados Unidos da América do Norte parecem destinados pela providência a infestar a América de miséria em nome da Liberdade”4. Como todos nós sabemos, os discursos de George W. Bush – seja quem for que os escreva – são apimentados com a palavra “Liberdade”, untuosamente recitada. A única coisa que mudou desde os tempos de Simón Bolívar é que, hoje, os Estados Unidos da América do Norte afirmam estar destinados pela divina providência a tratar como lhes aprouver, “em nome da Liberdade”, não só a América do Sul, mas todo o mundo, e a empregar os meios mais violentos de agressão militar contra aqueles que ousarem se opor a seu desígnio imperial global.
Até os bispos anglicanos, num documento tornado público em 19 de setembro de 2005, rejeitaram tal presunção de virtude e destino providencial como princípio orientador da política externa americana, embora eles – compreensível, mas erroneamente – a tenham atribuído à influência do fundamentalismo cristão. É compreensível, porque, nessa base, puderam proferir ex officio uma condenação autorizada de uma posição “teologicamente distorcida”. Mas estão errados, porque essa orientação da política externa das classes dominantes americanas é muito antiga na história – desde os tempos de Simón Bolívar, se não antes. E aqueles que gostam de atribuí-la simplesmente ao Partido Republicano de George W. Bush deveriam lembrar que foi o presidente democrata Bill Clinton quem declarou, de forma arrogante, enquanto ainda estava no poder, em total uníssono com seu governo, desde a secretária de Estado, Madeleine Albright (que continuou a repetir a fórmula clintoniana), até o secretário de Trabalho, Robert B. Reich5, que havia “apenas uma nação necessária: os Estados Unidos da América”. Com tal afirmação, proferida nada menos do que por uma figura governamental eleita duas vezes, o presidente Clinton alertava as outras nações que poderiam ser condenadas pela “única nação necessária” por sua aspiração totalmente inaceitável de tomar decisões soberanas, sem a menor preocupação com a democracia e a liberdade, como culpadas de “pandemônio étnico”, nas palavras do senador democrata Daniel Patrick Moynihan6.
Bolívar considerava que a igualdade legal, a sua “lei das leis”, era absolutamente indispensável para a constituição de uma sociedade politicamente sustentada contra os poderes que internamente tendiam a entravar seu desenvolvimento potencial, e tentavam violar, e até mesmo anular, sua soberania nas relações internacionais. Repetia que a “desigualdade física” precisava ser combatida de modo incansável sob todas as circunstâncias, porque era uma “injustiça da natureza”. E era realista o suficiente para reconhecer que a igualdade legal não podia corrigir a desigualdade física para além de uma certa medida e de forma limitada7. Nem mesmo quando as medidas legais adotadas pelos legisladores possuíam um significado social fundamental, como de fato a sua libertação dos escravos acabou por revelar.
O que era obrigatoriamente necessário para tornar realmente viável a ordem social era a transformação de todo o tecido social para muito além de medidas como a emancipação legal dos escravos. Portanto, não é de surpreender que, em sua busca por soluções necessárias para as quais o tempo histórico ainda não havia chegado, Bolívar tenha enfrentado grande hostilidade, mesmo nos países latino-americanos, aos quais prestou serviços inigualáveis, onde era conhecido pelo título único de El Libertador, com que foi homenageado na época. Por isso, embora hoje nos pareça ultrajante, ele acabou seus últimos dias em um isolamento trágico.
Quanto a seus adversários dos Estados Unidos da América do Norte, que se sentiram ameaçados pelo alastrar do seu conceito iluminado de igualdade – tanto internamente como na gestão das relações interestados – não hesitaram em condená-lo e apelidá-lo de “o perigoso louco do Sul”8.
Com um grande senso de proporção – virtude absolutamente vital para qualquer um e, em especial, para todas as figuras políticas importantes, que têm o privilégio em nossas sociedades de tomar decisões que afetam profundamente a vida de inúmeras pessoas –, Bolívar disse sobre si mesmo que era “uma pena arrastada pelo vento”. Esse tipo de constatação sobre o papel de uma pessoa na sociedade não poderia ser mais estranho aos apologistas da ordem social e política instituída, que gostariam de tornar impossível a instituição de qualquer mudança significativa, seja esta provocada por tempestades sociais, seja em etapas vagarosas, apesar dos elogios dispensados por vezes a estas últimas. Além disso, as pessoas estão invariavelmente empenhadas na fútil tarefa de tentar desfazer as mudanças que acabaram por se instalar ao longo do desenvolvimento histórico. E assim continuam a negar que possa haver causas reais, bem enraizadas, por trás das impetuosas tempestades sociais e políticas que transportam em suas asas, assim como as “penas” de Bolívar, as figuras políticas que insistem, com paixão radical, na necessidade de mudanças sociais fundamentais. E quando, todos juntos, nossos apologistas incuráveis não conseguem fechar os olhos para o fato da erupção periódica das tempestades sociais, preferem atribuí-las convenientemente à “irracionalidade”, à “aceitação pela população do populismo ingênuo” e coisas do gênero, pretendendo com isso dar uma resposta racional ao desafio que deveriam enfrentar. Estão, na verdade, fugindo do verdadeiro problema. Fazem-no porque não têm absolutamente nenhum senso de proporção, nem nunca o terão.
Dentro desse espírito, um semanário largamente difundido, The Economist de Londres, recusa-se a procurar o sentido da expressão “Revolução Bolivariana”, apesar do fato de a liderança política da Venezuela, com suas consistentes referências ao projeto inacabado da época de Simón Bolívar, estar empenhada em pôr em movimento uma transformação de longo alcance no país. Na verdade, uma transformação que ainda repercute em todo o continente e gera reações significativas também em outras partes da América Latina. Com uma intenção insultuosa deliberada, The Economist coloca sempre entre sarcásticas aspas a palavra “bolivariano” – como se tudo o que fosse bolivariano devesse ser considerado obrigatoriamente absurdo –, em vez de comentar de forma séria as questões que tenta ansiosamente rejeitar, sem apresentar argumentos. As aspas pretendem significar uma rejeição, sob a forma de uma desqualificação apriorística dos acontecimentos em curso na América do Sul, e dessa maneira peculiar fornecer uma prova irrefutável. No entanto, a única coisa que os editores de The Economist conseguem provar, com o pungente uso repetitivo de suas aspas sarcásticas, é sua estupidez venenosa. Ao serem totalmente subservientes aos interesses dos círculos governantes dos EUA, como propagandistas autonomeados do ritual anual do Fórum Econômico de Davos, parece que, ainda hoje, pensam que Bolívar não passou de um “perigoso louco do Sul”. Dentro do mesmo espírito com que também tentam caracterizar (e rejeitar peremptoriamente) todos os que estão destinados a trazer seu projeto de volta.
Contudo, a verdade é que só se poderão instaurar realizações radicais duradouras, cumulativamente e de forma conscientemente sustentada, sobre uma apropriação significativa da tradição progressista que precedeu as tentativas em curso e continuar apontando para a mesma direção, apesar de todas as adversidades. Não se pode escolher, de modo arbitrário, nem a natureza do que realmente se pode instaurar sobre essa tradição, e portanto apropriar-se dela de forma positiva, nem a direção geral a longo prazo do próprio desenvolvimento histórico da humanidade. Nosso universo social está sobrecarregado de enormes problemas, tanto no que se refere às desigualdades herdadas do passado, e que são cada vez mais intensamente explosivas, quanto à invasão cada vez mais desenfreada do modo de reprodução metabólica social do capital na natureza, ameaçando-nos com um desastre ecológico. Essas razões condenam ao fracasso as tentativas conservadoras e reacionárias de inverter a direção do tempo histórico, na medida em que são estruturalmente incapazes de produzir realizações cumulativas, independentemente de eventuais sucessos que possam impor temporariamente na sociedade – dadas as relações de poder preponderantes, mas cada vez mais instáveis, que acarretam formas de controle cada vez mais repressivas, mesmo em países antes democráticos – à custa de grande sofrimento infligido a centenas de milhões de pessoas. A fuga e a repressão intensificada não podem funcionar indefinidamente. Afinal, ambas são completa e catastroficamente devastadoras. Os tremendos problemas de nosso universo social serão confrontados, mais cedo ou mais tarde, com as suas dimensões substantivas, em oposição à camuflagem formal de democracia e liberdade que todos conhecemos.
Como sabemos bem demais, os ventos históricos que transportam penas como Simón Bolívar podem serenar temporariamente sem cumprir sua promessa original. Os objetivos estabelecidos pelas figuras históricas, mesmo as mais ilustres, só podem ser atingidos quando chegar realmente sua época, tanto em sentido objetivo quanto subjetivo. Apesar de seu trágico isolamento final, a contribuição de Bolívar para resolver alguns dos maiores desafios de seu tempo, e, num sentido bem identificável também do nosso, é monumental, tal como foi a de José Martí em Cuba, que seguiu seus passos. Não poderemos ter êxito, se não construirmos conscientemente sobre a herança que eles nos legaram, como uma tarefa para o futuro, redefinida no presente, de acordo com as circunstâncias vigentes. Em seus apelos ao povo em algumas ocasiões vitais, Bolívar destacou sua convicção de que “chegou o dia da América e nenhum poder humano pode adiar o curso da natureza guiado pela mão da providência”9. No fim de sua vida, foi forçado a reconhecer que, tragicamente, o dia da América, tal como ele havia visualizado antes, ainda não havia chegado.
O principal obstáculo para isso foi o profundo contraste entre a unidade política dos países latino-americanos, defendida por Bolívar, e os componentes intensamente adversos/conflituosos de seus microcosmos sociais. Como seus microcosmos socais estavam dilacerados por antagonismos internos, os mais nobres e eloquentes apelos à unidade política só poderiam ter êxito quando a ameaça feita pelo adversário colonial espanhol se tornasse grave. Mas, por si só, a ameaça não poderia remediar as contradições internas dos microcosmos sociais existentes. Nem a situação poderia ser alterada radicalmente pela identificação premonitória de Bolívar do novo perigo acima citado. Nomeadamente, de que “os Estados Unidos da América do Norte parecem destinados pela providência a condenar a América à miséria em nome da Liberdade”. Um perigo sublinhado ainda mais fortemente, dentro do mesmo espírito, por José Martí sessenta anos depois10. Ambos foram tão realistas em seus diagnósticos dos perigos quanto generosos na defesa de uma solução ideal para os graves problemas da humanidade. Bolívar, quando propôs uma forma de todas as nações da humanidade se reunirem harmoniosamente no istmo do Panamá para fazerem a capital de nosso globo, tal como “Constantino queria fazer de Bizâncio a capital do antigo hemisfério”11, e Martí, quando insistia que “patria es humanidad” – a humanidade é a nossa pátria –, ilustram tal generosidade.
Mas, quando esses ideais foram formulados, os tempos ainda apontavam para a direção oposta: para a terrível intensificação dos antagonismos sociais e para a horrível carnificina das duas guerras mundiais, que nasceram desses antagonismos. Além disso, a ameaça concomitante em nossos dias é maior do que nunca. Com efeito, é qualitativamente maior, porque hoje o que está em jogo é nada menos do que a própria sobrevivência da humanidade. Claro que isso não quer dizer que os ideais há muito defendidos estejam obsoletos. Muito pelo contrário, são ainda mais urgentes. Apesar disso, é hoje verdade, como era no tempo de Bolívar, que não se pode encarar o funcionamento sustentável do macrocosmo social da humanidade sem ultrapassar os antagonismos internos de seus microcosmos: as células adversas/conflituosas constitutivas de nossa sociedade sob o modo de controle social metabólico do capital, já que um macrocosmo coeso e sociavelmente viável só é concebível com base nas células constitutivas correspondentes e humanamente recompensadoras das relações interpessoais.
As circunstâncias históricas atuais são completamente diferentes da época dos triunfos de Bolívar, e também dos de sua trágica derrota final. São diferentes porque o perturbador desenvolvimento social e histórico pôs em pauta a realização dos objetivos outrora rejeitados, em dois sentidos. Em primeiro lugar, abrindo a possibilidade de instituir um macrocosmo potencialmente harmonioso em uma escala global, para além dos conflitos devastadores dos confrontos passados interestados que iriam culminar nas pilhagens do imperialismo. É essa possibilidade que o Fórum Social Mundial está tentando evidenciar em seu repetido apelo: “Um outro mundo é possível”. O segundo aspecto, da mesma proposta, é inseparável do primeiro e elimina a imprecisão de qualquer conversa limitada apenas à possibilidade, visto que, se a possibilidade em causa não indicar um grau de probabilidade e necessidade, não terá qualquer sentido. Na atualidade, é inconcebível um macrocosmo social coeso e globalmente sustentável – em profundo contraste com toda a propaganda capitalista, ansiosamente anunciada, mas irrealizável, sobre a “globalização” neoliberal – sem a definição teórica e a articulação prática das células constitutivas da mudança social em uma forma genuinamente socialista.
É assim que a possibilidade e a necessidade se conjugam em uma unidade dialética em nosso universo social, historicamente específico, dos dias de hoje. Possibilidade porque, sem ultrapassar as determinações estruturais dos antagonismos irreconciliáveis do capital, a partir dos quais emergiu o projeto socialista ao longo do desenvolvimento histórico da humanidade, é completamente inútil sonhar com a instituição de um universo social globalmente sustentado. E necessidade – não uma espécie de fatalidade mecanicista, mas uma necessidade irreprimível e literalmente vital –, porque o destino do ser humano será a aniquilação, se, no decorrer das próximas décadas, não conseguirmos erradicar totalmente o capital de nosso modo instituído de reprodução social metabólica. A principal lição da implosão soviética é que só podemos esperar uma reabilitação capitalista se a definição de socialismo, em termos de queda do estado capitalista, for substituída pela tarefa muito mais fundamental, e difícil, de erradicar o capital de toda a nossa ordem social.
É completamente impossível empenhar-se hoje na grande tarefa histórica da erradicação do capital, orientada de modo positivo para um futuro sustentável, sem ativar todos os recursos do espírito de determinação radical, em consonância com as exigências de nossa época, como Bolívar fez da forma que pôde, de acordo com as circunstâncias do seu próprio tempo. É de fato verdade que, agora, chegou a hora da realização dos objetivos bolivarianos em sua perspectiva mais ampla, como o presidente Chávez vem defendendo há algum tempo. É por isso que os propagandistas do capital que usam a expressão projeto bolivariano entre sarcásticas aspas fazem apenas papel de tolos. A continuidade histórica não significa uma repetição mecânica, mas uma renovação criativa no sentido mais profundo do termo. Assim, dizer que chegou a hora da realização dos objetivos bolivarianos, no sentido de que devem ser atualizados de acordo com nossas próprias condições históricas, com toda a sua urgência premente e com um significado claramente identificável também para o resto do mundo, significa precisamente que se deve dar um sentido socialista às transformações radicais previstas, se estivermos verdadeiramente interessados em implementá-las. Os discursos mais importantes e as entrevistas do presidente Chávez – nos quais ele realça a dramática alternativa de “Socialismo ou Barbárie” – clarificam e atualizam tal processo12.
in Boitempo.blog

domingo, 10 de agosto de 2014

Um artigo de M. Chossudovsky

Guerra e gás natural: A invasão de Israel e Offshore Gas Campos de Gaza

Em profundidade Relatório 
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Guerra e gás natural: A invasão de Israel e Offshore Gas Campos de Gaza
Cinco anos atrás, Israel invadiu Gaza sob a "Operação Chumbo Fundido".
O artigo a seguir foi publicado por Global Research em janeiro de 2009, no auge do bombardeio israelense ea invasão na Operação Chumbo Fundido.
Na esteira da invasão, campos de gás palestinos eram de facto confiscada por Israel em derrogação do direito internacional
Um ano após a "Operação Chumbo Fundido", Tel Aviv anunciou a descoberta do campo de gás natural Leviathan no Mediterrâneo Oriental "ao largo da costa de Israel."
Na época, o campo de gás foi: "... o campo mais importante já encontrado na área do sub-explorada da Bacia do Levante, que abrange cerca de 83 mil quilômetros quadrados da região do Mediterrâneo oriental." (I)
Juntamente com o campo de Tamar, no mesmo local, descoberto em 2009, as perspectivas são de uma bonança de energia para Israel, para Houston, Texas baseado Noble Energy e parceiros Delek Drilling, Avner Oil Exploration e Razão de exploração de petróleo. (Veja Felicity Arbuthnot, Israel: gás, petróleo e problema no Levante , Global Research, 30 de dezembro, 2013
Os campos de gás de Gaza fazem parte da área de avaliação Levant mais amplo.
O que está agora em curso é a integração desses campos de gás adjacentes, incluindo os que pertencem à Palestina para a órbita de Israel. (Ver mapa abaixo).
Note-se que toda a costa leste do Mediterrâneo que se estende do Sinai do Egito para a Síria constitui uma área que abrange gás grande, bem como reservas de petróleo.
Michel Chossudovsky, 03 de janeiro de 2014

Guerra e gás natural: A invasão de Israel e Offshore Gas Campos de Gaza

Michel Chossudovsky por
8 de janeiro de 2009
A invasão militar Dezembro de 2008, a Faixa de Gaza pelas forças israelenses tem uma relação direta com o controle e propriedade das reservas estratégicas de gás offshore. 
Esta é uma guerra de conquista. Descoberto em 2000, há extensas reservas de gás ao largo da costa de Gaza. 
British Gas (BG Group) e sua parceira, a base Atenas Contractors consolidadas International Company (CCC) de propriedade de Sabbagh e Koury famílias do Líbano, foram concedidos direitos de exploração de petróleo e gás em um acordo de 25 anos assinado em Novembro de 1999 com a Autoridade Palestina.
Os direitos sobre o campo de gás offshore são Gas respectivamente britânicos (60 por cento);Contractors consolidadas (CCC) (30 por cento); e do Fundo de Investimento da Autoridade Nacional Palestina (10 por cento). (Haaretz, 21 de outubro de 2007).
O acordo PA-BG-CCC inclui o desenvolvimento da jazida ea construção de um gasoduto. (Middle East Economic Digest, 05 de janeiro de 2001).
A licença da BG cobre toda a zona marítima costeira de Gaza, que é contígua a várias instalações de gás marítimas de Israel. (Veja o mapa abaixo). Note-se que 60 por cento das reservas de gás ao longo da costa de Gaza-Israel pertencem à Palestina.
O Grupo BG perfurou dois poços em 2000: . Marine-1 Gaza e Mares-2 Gaza reservas são estimadas por British Gas, são da ordem de 1,4 trilhões de pés cúbicos, no valor de cerca de 4 bilhões de dólares. Estes são os números anunciados pela British Gas. O tamanho das reservas de gás da Palestina poderia ser muito maior.

Mapa 1
Mapa 2

Quem possui os campos de gás

A questão da soberania sobre os campos de gás de Gaza é crucial. Do ponto de vista legal, as reservas pertencem à Palestina.
A morte de Yasser Arafat, a eleição do governo do Hamas ea ruína da Autoridade Palestiniana permitiram a Israel estabelecer de fato o controle sobre as reservas de gás costeiras de Gaza.
British Gas (BG Group) tem estado a negociar com o governo de Tel Aviv. Por sua vez, o governo do Hamas foi ignorado no que diz respeito aos direitos de exploração e desenvolvimento das jazidas de gás.
A eleição do primeiro-ministro Ariel Sharon em 2001 foi um ponto de viragem. A soberania da Palestina sobre os campos de gás offshore foi contestada no Supremo Tribunal de Israel. Sharon afirmou inequivocamente que "Israel nunca compraria gás à Palestina", insinuando que as reservas de gás costeiras de Gaza pertenciam a Israel.
Em 2003, Ariel Sharon vetou um acordo inicial, o que permitiria à British Gas fornecer a Israel gás natural de poços costeiros de Gaza. (The Independent, agosto 19, 2003)
A vitória eleitoral do Hamas em 2006, foi favorável ao fim da Autoridade Palestiniana, que ficou confinada à Cisjordânia, sob o regime fantoche de Mahmoud Abbas.
Em 2006, a British Gas "esteve próxima de assinar um acordo para bombear o gás para o Egito." (Times, 23 de maio de 2007). Segundo relatos, primeiro-ministro britânico Tony Blair interveio em nome de Israel, a fim de bloquear o acordo com o Egito.
No ano seguinte, em maio de 2007, o governo israelense aprovou a proposta do primeiro-ministro Ehud Olmert "para comprar gás à Autoridade Palestina." O contrato proposto foi de US $ 4 bilhões, com lucros na ordem de US $ 2 bilhões, dos quais um bilhão foi para ir aos palestinos.
Tel Aviv, no entanto, não tinha a intenção de compartilhar os ganhos com a Palestina. Uma equipe de negociadores de Israel foi criado pelo Gabinete israelense para discutir um acordo com o Grupo BG, ignorando tanto o governo do Hamas e da Autoridade Palestiniana:
As autoridades militares israelenses querem que os palestinianos sejam pagos em bens e serviços e insistem que não há dinheiro ir para o governo controlado pelo Hamas . "(Ibid, ênfase acrescentada)
O objectivo era essencialmente anular o contrato assinado em 1999 entre o BG Group ea Autoridade Palestina sob Yasser Arafat.
De acordo com a proposta de acordo de 2007 com a BG, o gás palestiniano dos poços costeiros de Gaza seria canalizado por um gasoduto submarino até o porto israelense de Ashkelon, transferindo, assim, o controle sobre a venda do gás natural para Israel.
O negócio caiu completamente. As negociações foram suspensas:
 "O chefe da Mossad, Meir Dagan se opôs à operação por razões de segurança, que o dinheiro serviria para financiar o terror". (Membro do Knesset Gilad Erdan, Discurso no Knesset em "A intenção do vice-primeiro-ministro Ehud Olmert de comprar gás aos palestinianos quando o pagamento deverá servir Hamas", 01 de março de 2006, citado em O tenente-general (ret.) Moshe Yaalon, Será que a possível aquisição da British Gas a partir de Gaza Coastal Waters ameaçar a segurança nacional de Israel? Jerusalem Center for Public Affairs, outubro de 2007)
A intenção de Israel era impedir a possibilidade de que os royalties ser pago aos palestinos. Em dezembro de 2007, o Grupo BG retirou-se das negociações com Israel e em janeiro de 2008 encerrou os seus escritórios em Israel. ( website BG ).

Plano de invasão na prancheta

O plano de invasão da Faixa de Gaza sob a "Operação Chumbo Fundido" foi iniciado em Junho de 2008, de acordo com fontes militares israelenses:
"Fontes do sistema de defesa, disse o ministro da Defesa Ehud Barak deu instruções às Forças de Defesa de Israel para se preparar para a operação de mais de seis meses [junho ou antes de junho], assim como Israel estava começando a negociar um acordo de cessar-fogo com o Hamas". (Barak Ravid, A operação "Chumbo Fundido": greve Força Aérea Israelense após meses de planejamento, Haaretz, 27 de dezembro de 2008)
Naquele mesmo mês, as autoridades israelenses contactado a British Gas, com o objetivo de retomar as negociações cruciais referentes à compra de gás natural de Gaza:
"Ambos Ministério das Finanças diretor Yarom geral Ariav e Ministério das Infraestruturas Nacionais diretor-geral Hezi Kugler concordaram em informar a BG do desejo de Israel para renovar as conversações.
As fontes acrescentaram que a BG não respondeu oficialmente ainda ao pedido de Israel, mas que executivos da empresa provavelmente viria para Israel em poucas semanas para conversar com funcionários do governo. "(Globo online- Negócios Arena de Israel, 23 de junho de 2008)
A decisão de acelerar as negociações com a British Gas (BG Group) coincidiu cronologicamente com o planeamento da invasão de Gaza, iniciado em junho. Parece que Israel estava ansioso para chegar a um acordo com o Grupo BG antes da invasão, que já estava em fase de planejamento avançado.
Além disso, as negociações com a British Gas foram conduzidas pelo governo de Ehud Olmert com o conhecimento de que a invasão militar estava na prancheta de desenho. Em toda a probabilidade, um novo arranjo político-territorial "do pós-guerra" para a Faixa de Gaza, também estava sendo contemplado pelo governo israelense.
De fato, as negociações entre a British Gas e as autoridades israelenses estavam em curso em outubro de 2008, 2-3 meses antes do início dos bombardeios em 27 de dezembro.
Em novembro de 2008, o Ministério israelense das Finanças e do Ministério das Infraestruturas Nacionais instruiu Israel Electric Corporation (IEC) a entrar em negociações com a British Gas, com a aquisição de gás natural à concessão da BG em Gaza. (Globo, 13 de novembro de 2008)
"O Ministério das Finanças diretor Yarom geral Ariav e Ministério das Infraestruturas Nacionais diretor-geral Hezi Kugler escreveu a CEO IEC Amos Lasker recentemente, informando-o da decisão do governo de permitir que negociações ir para a frente, em linha com o quadro de referência aprovado no início deste ano.
A direcção da IEC, liderada pelo presidente Moti Friedman, aprovou os princípios da proposta do quadro, há algumas semanas. As conversações com o BG Group começarão assim que a direcção aprove a isenção de uma licitação ". (Globo 13 novembro de 2008)

Gaza e Energia Geopolítica 

A ocupação militar de Gaza tem o objectivo de transferir a soberania dos campos de gás para Israel, em violação do direito internacional.
O que podemos esperar na sequência da invasão?
Qual é a intenção de Israel em relação às reservas de gás natural da Palestina?
Um novo arranjo territorial, com o estacionamento de tropas de manutenção da paz "" israelenses e / ou?
A militarização de toda a costa de Gaza, que é estratégico para Israel?
O confisco dos campos de gás palestinos ea declaração unilateral da soberania israelense sobre as áreas marítimas de Gaza?
Se isso ocorrer, os campos de gás de Gaza seriam integradas nas instalações costeiras de Israel, que são contíguas às da Faixa de Gaza. (Ver mapa 1 acima).
Estas várias instalações costeiras estão ligadas ao corredor de transporte de energia de Israel, que se estende do porto de Eilat, que é um terminal de oleoduto, no Mar Vermelho, até o porto - Terminal de gasoduto em Ashkelon e na direcção norte para Haifa, eventualmente ligando-se através de uma proposta gasoduto israelo-turco com o porto turco de Ceyhan.
Ceyhan é o terminal do Baku, Tbilisi oleoduto Ceyhan Trans Cáspio. "O que se pretende é ligar as condutas BTC para o oleoduto Trans-Israel Eilat-Ashkelon, também conhecido como Tipline de Israel." (Ver Michel Chossudovsky, The War on Líbano ea batalha pelo petróleo, Global Research, 23 de julho de 2006)

Mapa 3

Viagem à Polónia

Viagem à Polónia
Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

Viagem à Polónia

Viagem à Polónia
Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.