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quinta-feira, 30 de abril de 2015

ONDE PÕEM AS MÃOS FICA O CAOS

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Efectivos do batalhão nazi Azov e suas bandeiras


Pouco mais de um ano depois da grande explosão dita democrática em Kiev, dirigida por bandos neonazis, motivada alegadamente pela necessidade de travar e expulsar os oligarcas que tinham tomado conta da Ucrânia, o país mudou. Quem disser o contrário mente. Os oligarcas foram expulsos e substituídos por outros, aliás com muito mais prestigiadas relações, como o senhor Ihor Kolomoysky, íntimo da administração Obama, conhecido também por ter o saudável hábito de resolver os diferendos empresariais a murro e generoso empregador do senhor Hunter Biden, por acaso filho do senhor vice-presidente dos Estados Unidos da América.

O mínimo que pode escrever-se é que a Ucrânia vende saúde… Para ficar sem nenhuma. Depois de a junta fascista governante ter entregue o ministério das Finanças à cidadã norte-americana Natalija Jaresko, que só depois disso obteve cidadania ucraniana – nada que deva surpreender os incautos, porque o ministro da Economia é lituano e o da Saúde é georgiano – o FMI entrou no costumeiro processo de ajuda ao país, que por enquanto vai em 40 mil milhões de dólares, em troca das habituais reformas ao estilo das troikas. Neste caso específico, uma fatia de 17500 milhões teve como contrapartida a invasão do país pela deusa universal da contaminação, a omnipresente Monsanto, agora com mãos livres para semear transgénicos onde lhe apetecer - que não no sudeste, obviamente – e aspergir o cancerígeno roundup onde lhe aprouver. A Ucrânia governada por nazis mereceu até uma distinção especial do FMI da senhora Lagarde, que decidiu ajudar Kiev à revelia dos estatutos da organização, que a impedem de conceder empréstimos a países em guerra. Mas quem se vai lembrar dessas coisas sem importância como as leis internacionais.

Pois bem, a economia ucraniana exibe hoje relevantes efeitos da intervenção de choque em nome da liberdade e da democracia. O desemprego cresceu em flecha, a inflação é de 65 por cento ao mês, a produção industrial caiu 21%, segundo a imprensa norte-americana, a moeda nacional desvalorizou-se 70% em relação ao dólar e a recessão está à beira dos 7%. Diz-se que, em paralelo, grande parte das contribuições do FMI ajudam preferencialmente os oligarcas democráticos, muito ágeis a negociar as armas que a Ucrânia recebe para afrontar o diabólico Putin com várias nações do Médio Oriente, por seu turno empenhadas em animar grupos terroristas, sempre a bem da democracia. Consta também que a generosidade da senhora Lagarde serve para ressarcir os bancos franceses e alemães expostos ao caos ucraniano, mas como dirá qualquer comentador encartado, tudo isso não passa de teorias da conspiração.

Ao cabo de um ano e pouco de liberdade e democracia, quando agora se assinala o aniversário da chacina de Odessa cometida por bandos neonazis – entretanto a receber treino militar de tropas especiais norte-americanas – e que marcou o início da operação militar contra a minoria russófona, a Ucrânia é um país fragmentado, comandado em Kiev por grupos fascistas, sofrendo uma profunda crise humanitária, onde desaparecem pessoas, se assassinam jornalistas e fecham jornais, se impõem leis banindo forças políticas de oposição, como é o caso dos comunistas, onde a economia se debate num estertor sem conserto.

A Ucrânia mergulhou no caos, a exemplo do que acontece na Síria, na Líbia, no Iraque, no Afeganistão, no Iémen… Onde os cruzados ambulantes da liberdade e da democracia põem as mãos, seja sob as bandeiras dos Estados Unidos da América, da NATO ou da União Europeia, o que fica é morte, destruição, crises humanitárias, nações aos pedaços… O caos, em suma. O mais provável é que seja uma infeliz coincidência.
 (Recebido via email)
BES - Na hora da verdade, separou-se o trigo do joio e o resultado é este!
QUARTA-FEIRA, 29 DE ABRIL DE 2015
Publicado por Manifesto 74
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O PCP votou contra o Relatório apresentado pelo Deputado Relator à Comissão de Inquérito. PSD, PS e CDS votaram a favor, BE absteve-se. Para quem quiser conhecer, aqui fica a declaração de voto do PCP.

«Ora, o Relatório ignora que o Banco Espírito Santo e a Tranquilidade foram entregues à família Espírito Santo no processo de restauração capitalista e monopolista desencadeado contra as conquistas daa Revolução de Abril. (...) Tal como a família adquiriu o Grupo sem capitais, com financiamento da Caixa Geral de Depósitos e com apoio do Crédit Agricóle, angariado por Mário Soares, o Grupo veio a ser constituído como império precisamente da mesma forma, sobre crédito e dívida, predação dos sectores produtivos, benefícios fiscais e especulação financeira. O Relatório ignora que o BES foi entregue à família e financiado com apoios públicos e que o BES – apenas o BES – distribuiu 4 mil milhões em dividendos ao longo de pouco mais de duas décadas, fazendo deles um usufruto estritamente privado, apesar de ter sido socializado o prejuízo resultante.»

Declaração de Voto ao Relatório Final da Comissão de Inquérito à gestão do BES e do Grupo Espírito Santo

Considerações iniciais

O Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português salienta, antes de mais, o relevo e a importância política que teve a proposta do PCP para a constituição da Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão do BES e do Grupo Espírito Santo, ao processo que conduziu à aplicação da medida de resolução e às suas consequências, nomeadamente quanto aos desenvolvimentos e opções relativos ao GES, ao BES e ao Novo Banco. Relevo e importância políticos que permitiram uma perceção pública sobre a realidade do mundo do capital financeiro, bem como sobre o comportamento e funcionamento do interior de um grupo monopolista que foi, durante décadas, alimentado pelos próprios governos, fazendo uso de instrumentos do Estado. Ao mesmo tempo, a constituição desta Comissão de Inquérito permitiu à Assembleia da República aprofundar muito o conhecimento sobre procedimentos, insuficiências matriciais e conjunturais do sistema financeiro e do chamado sistema de supervisão, bem como compreender a natureza predatória dos grandes grupos económicos e financeiros.

Os trabalhos da Comissão estão efetivamente refletidos no relatório apresentado pelo Sr. Deputado Relator Pedro Saraiva, sendo que o capítulo sobre o apuramento dos factos resume, de forma tanto quanto possível, fiel, o conjunto de práticas identificadas como características do Grupo Espírito Santo e Grupo Banco Espírito Santo, apesar das eventuais divergências que se verificam entre as perspetivas ideológicas do Grupo Parlamentar do PCP e do próprio Relator. A disponibilidade de tempo reduzida impediu um debate mais profundo sobre o apuramento dos factos, mas o PCP entende estar esse capítulo composto de forma objetiva, sem dedução política e muitas vezes, como aliás, se saúda, meramente descritivo. O capítulo sobre “apuramento de factos” constitui por isso, um importante instrumento de trabalho para a Assembleia da República, para os Governos e para os que pretendam debruçar-se sobre as formas de funcionamento de um grande grupo económico, formas essas que aliás, reproduzem e mimetizam o comportamento de inúmeros grupos nacionais e transnacionais, alguns deles já detetados em Portugal e igualmente alvos de inquéritos parlamentares. Igualmente, o referido capítulo indica factos que em boa parte não correspondem a ilegalidades – antes estão devidamente chancelados pela legislação vigente – mas que resultam claramente na degradação da estabilidade financeira, da economia, do interesse nacional, em prejuízo do bem-estar comum e em função apenas da concentração de lucros e riqueza, obtida muitas vezes apenas através de mecanismos de especulação capitalista – como rendas e juros – outras vezes da artificialização e branqueamento de balanços, evasão fiscal e outras formas de maximização do processo de acumulação, mas sempre tendo como base a riqueza produzida por quem trabalha e a predação do sector produtivo da economia. Aliás, isso mesmo se verificou no interior do próprio grupo.

O Grupo Parlamentar do PCP empenhou todos os esforços, não apenas para que o mais vasto possível conjunto de factos relevantes fosse apurado, como para que resultasse evidente a natureza sistémica dos problemas que originam a instabilidade do sistema financeiro com custos para os portugueses. Essa natureza é incompatível com teses de que os problemas têm origem em casos isolados, em questões comportamentais, morais ou de carácter individual, em falhas pontuais do sistema, quer sejam no plano político, quer sejam no plano da supervisão. Além disso, destaca a forma como decorreram os trabalhos da comissão no que à sua esfera de competências diz respeito, sendo que não existiram obstáculos políticos, com exceção do bloqueio imposto pela maioria parlamentar PSD/CDS à obtenção de esclarecimentos por parte do Sr. Presidente da República. Todavia, o mesmo não se pode dizer sobre as condicionantes externas ao trabalho da comissão: o atraso nas respostas, a invocação constante de segredos e formas várias de sigilo, o truncamento de documentos e a introdução de constantes obstáculos ao real apuramento de beneficiários da delapidação do BES foram um ruído persistente que tolheu, objetivamente as capacidades da CPI. Daí que tenha o PCP proposto na Assembleia da República, através de Projeto de Resolução, a constituição de uma unidade técnica para o apuramento desses beneficiários, complementando o escopo e as capacidades da CPI. Tal iniciativa, lamentavelmente, não obteve o apoio da maioria e contou com a abstenção do Partido Socialista.

O Grupo Parlamentar do PCP partiu para o trabalho nesta Comissão de Inquérito sem iludir as conceções e propostas que sempre apresentou sobre o sistema financeiro e a necessidade de o colocar ao serviço do povo e do país, rompendo com o dogma e preconceito da banca privada como virtude da economia desenvolvida. O caso BES mostra com inolvidável transparência a incompatibilidade racional e prática entre a banca privada e uma política de investimento e de crédito ao serviço de interesses comuns e coletivos.

O Grupo Parlamentar do PCP não apresentaria um relatório semelhante ao que ora se vota, por motivos vários. Contudo, não deixa de referenciar a síntese realizada pelo Relator, nem tampouco o esforço concreto real que foi levado a cabo para que as conclusões fossem tanto mais amplas quanto possível. Tal esforço, porém, não pode iludir questões políticas, nem discordâncias de fundo, políticas, ideológicas, pragmáticas e conceptuais. Tais questões e divergências não podem igualmente ser suprimidas por uma necessidade de consenso parlamentar como forma de credibilização do trabalho da CPI, como tem sido sugerido. Antes pelo contrário, de uma análise de factos indicados por unanimidade, devem decorrer conclusões e recomendações políticas necessariamente diferentes por ser diversa a composição política da comissão e por ser natural que dos mesmos factos não se retirem as mesmas conclusões. A riqueza de um trabalho de inquérito parlamentar também assenta na multiplicidade de pontos de vista, base aliás da sua democraticidade. O PCP não aceitou, por exemplo, desde o primeiro momento, que a visão de PSD, mas também – em boa medida de PS e CDS – passasse como forma única de intervenção, consistindo na construção de um monstro moral, no sacrifício de um banqueiro caído em desgraça, independentemente das suas grandes responsabilidades reais e aliás bem descritas e identificadas, para assegurar a salvação de responsáveis políticos vários e do sistema financeiro privado em geral. Tal divergência não poderia deixar de estar presente no momento das votações sobre um Relatório que, apesar da sua riqueza, continua a branquear uma componente fundamental das responsabilidades: a política.

Se é verdade que o Relatório apresentado faz uma descrição exaustiva de factos e de práticas legais e ilegais, bem como aponta falhas e deficiências mais ou menos circunstanciais no sistema de supervisão, não deixa de ser verdade que é exclusivamente nesses pilares que o Relatório faz assentar as suas conclusões. Ora, o Relatório ignora que o Banco Espírito Santo e a Tranquilidade foram entregues à família Espírito Santo no processo de restauração capitalista e monopolista desencadeado contra as conquistas daa Revolução de Abril. É sintomático que o relator consiga mesmo aceitar um vasto conjunto de propostas de alteração apresentadas pelo Grupo Parlamentar do PCP – o que saudamos e valorizamos – mas não integre quaisquer considerações sobre o papel de sucessivos Governos, PS, PSD, com ou sem CDS, no que toca à consolidação e promoção do Grupo GBES/GES. Tal apagamento de responsabilidades não é compatível, na visão do PCP com um relatório de Comissão de Inquérito que visa precisamente apurar o conjunto dos atos públicos e políticos que originaram a situação que agora se deve relatar. A entrega da Tranquilidade em 1990 e depois do BES, em 1991, à família, pela mão do Governo PSD de Cavaco Silva como Primeiro-Ministro e de Mário Soares como Presidente da República, marcam um momento determinante para o que viria a suceder. Tal como a família adquiriu o Grupo sem capitais, com financiamento da Caixa Geral de Depósitos e com apoio do Crédit Agricóle, angariado por Mário Soares, o Grupo veio a ser constituído como império precisamente da mesma forma, sobre crédito e dívida, predação dos sectores produtivos, benefícios fiscais e especulação financeira.

O Relatório ignora que o BES foi entregue à família e financiado com apoios públicos e que o BES – apenas o BES – distribuiu 4 mil milhões em dividendos ao longo de pouco mais de duas décadas, fazendo deles um usufruto estritamente privado, apesar de ter sido socializado o prejuízo resultante.

Da natureza sistémica das crises no sistema financeiro

A predação do capital produtivo pelo capital financeiro, resultado direto do desenvolvimento do capitalismo, tornou cativas das instituições de crédito praticamente todas as atividades económicas, independentemente da sua dimensão. As operações que geram esse fenómeno são várias e prendem-se com aspetos e dimensões diversos do capitalismo, estando, no entanto, a quase totalidade descrita e até mesmo prevista por Marx e outros teóricos marxistas. Lenine, no seu estudo sobre a fase superior do capitalismo, aponta como natural a fusão entre o capital bancário e o capital produtivo (industrial), fusão que cria o designado capital financeiro, e que subordina o segundo ao primeiro com custos para a economia e com graves consequências na divisão internacional do trabalho e no equilíbrio económico e social, abrindo ainda mais o caminho para os conflitos, a agressividade e a guerra, resultados diretos das contradições geradas pelas disputas regionais e económicas. A criação e crescimento de grupos de génese monopolista é uma das fases do desenvolvimento da organização capitalista. Pela sua própria natureza de acumulação, o capitalismo tende para o monopólio, ainda que assimptoticamente em alguns casos e, nesses, ficando pelo oligopólio. Em todo o caso, os grandes grupos económicos e financeiros constituem-se, a escalas diversas como grupos monopolistas na medida em que a sua matriz é a da acumulação e o seu funcionamento, o da canalização do crédito e do dinheiro em função estrita dos seu interesse de maximização dos lucros.

A capacidade de condicionar os fluxos, as direções e os sentidos do crédito influencia no concreto o desenvolvimento das forças produtivas, as opções económicas e políticas e o sucesso ou falhanço de uma determinada atividade. A concentração dessa capacidade, como sucede em Portugal e nos restantes países da União Europeia, nas mãos de entidades privadas, de acionistas mais ou menos concentrados ou pulverizados, cotadas ou não em bolsas, deduz-se, implica o poder de determinar o sentido do desenvolvimento das forças produtivas, as opções económicas e políticas e o sucesso ou falhanço de uma determinada atividade.

O mero exercício de dedução, sem considerações subjetivas, conduz-nos a uma conclusão incontornável: a propriedade privada da banca significa a colocação de um tremendo poder político, económico, financeiro, nas mãos dos acionistas da instituição bancária, poder esse que bule e se sobrepõe – em muitos casos já domina – ao exercício do poder político, em sentido contrário ao disposto na lei, principalmente na Constituição da República Portuguesa, onde se pode ler claramente que o poder económico se subordina ao poder político e não o inverso. Também daí decorre que, no âmbito da organização económica, a mesma Constituição preveja como papel do estado o combate a formas de organização monopolista.

Do contexto nacional – a Privatização como abdicação do interesse nacional

A nacionalização da banca comercial nacional, em 14 de Março de 1975 foi uma necessidade imposta pelo comportamento que os grupos económicos assumiam contra a revolução, assim usando o poder económico como forma de conter os avanços democráticos mas veio também a constituir-se como elemento fundamental da política económica do país. A capacidade de intervir e controlar como propriedade pública e democraticamente escrutinada e condicionada a banca, veio a significar também a capacidade de fazer uma gestão política do crédito, da dívida, do investimento, em função dos interesses nacionais, do interesse colectivo, num exercício de soberania e democracia como até aí nunca tinha sido visto em Portugal.

A recuperação capitalista, monopolista e latifundista que se inicia com os governos de PS/Mário Soares e segue com os seguintes, que vêm mantendo a forma em alternância até aos dias de hoje – PS, PSD, com ou sem o CDS – impôs a perda dessa componente da soberania popular sobre a gestão do crédito e do dinheiro com a entrega dos principais bancos às famílias a que pertenciam antes de Abril de 1974 ou a outros novos acionistas.

O ataque às conquistas de Abril pelas mãos dos de governos PS, PSD e CDS ao mesmo tempo que faziam a apologia e a imposição do modernismo de uma nova estirpe de capitalismo: um capitalismo aberto e moderno, globalizado e humano. Eis os resultados do prosseguimento das políticas de direita. Ao longo das décadas, as privatizações das principais alavancas da economia, das que aqui destacamos a banca, traduziram-se em efeitos concretos junto dos trabalhadores, da política e da economia nacional e esses efeitos estão hoje à vista de quem puder debruçar-se sobre o sistema financeiro português e a economia em geral.

Um olhar sobre o sistema financeiro português, partindo de uma perspetiva crítica, mas sempre objetiva e sem mistificações, levar-nos-á a uma viagem que se inicia com a privatização das grandes instituições financeiras e de crédito e com a forma como foram utilizadas como bolsas de acumulação à custa da produção nacional, com a especulação e a extorsão como instrumentos preferenciais e o apoio do Estado como chancela de sempre. O enquadramento europeu, legislativo e político, a união económica e monetária e as fundas implicações nos custos de capital em cada país são paragens obrigatórias e pontos de referência históricos na forma como o capital financeiro consolidou o seu domínio sobre a economia. A captura do poder político e a completa incapacidade – natural e matricial – dos ditos reguladores e supervisores pelo poder económico, seja por submissão opcional e interesse de classe, seja por insuficiência ante o gigantismo de uma parte desses grupos resultou na denúncia da farsa montada em torno de um sistema eminentemente fiduciário nas mãos de privados. O caso do Banco Espírito Santo e do Grupo Espírito Santo, é um dos que, como poucos, reúne com tanta clareza o conjunto de aspetos que resultam do funcionamento do sistema financeiro em capitalismo, desde o funcionamento interno do banco e do grupo, às suas relações com o chamado sistema de supervisão, passando pela sua relação com o tecido económico onde atua e onde tem interesses. A parada de ilegalidades cometidas, o desfile de ricos fabricados pela evasão fiscal e pela concessão de crédito sem garantias, são acompanhados de um vasto conjunto de operações consideradas, para todos os efeitos, legais que concorrem igualmente para o cenário final: o do colapso de um grupo económico e financeiro que, só pela sua dimensão, representava – como ficou claro além de quaisquer dúvidas – uma ameaça para a estabilidade do sistema financeiro.

A história do BES e do GES, das componentes financeira e não financeira desta miríade empresarial, pode constituir um elemento documental que ilustra com grande nitidez e à escala nacional, o papel e a natureza do capitalismo, aprofundando e consolidando teses e concepções dos comunistas, desde a definição de Capital por Karl Marx. A história do desenvolvimento do capitalismo em Portugal está intimamente ligada aos grupos económicos que dominaram durante longos períodos de tempo a economia, a produção e a finança, com governos colocando o Estado integralmente ao seu serviço. A promiscuidade entre os grupos económicos e o Estado durante o fascismo atingiu proporções quase totais. Tal como Álvaro Cunhal denuncia com grande pormenor no Relatório ao Comité Central que vem a dar origem ao documento “Rumo à Vitória”, os membros do Conselho e altos dirigentes do Estado eram simultaneamente acionistas de uma boa parte das grandes empresas portuguesas em cujo capital social o Estado chegava mesmo a participar, não para exercer um poder público ao serviço da população, mas para amparar as aventuras e os lucros dos grandes patrões. A colocação do Estado ao serviço dos monopólios serviu os grandes grupos que se implantaram em Portugal, bem como os alimentou e defendeu numa relação de mútuo fortalecimento. Entre esses Grupos, encontra-se incontornavelmente o Grupo Espírito Santo.

Ao olhar para o que sucedeu no caso BES/GES, é imprescindível observar a génese, o desenvolvimento, os fluxos e refluxos, a nacionalização em 75, a privatização em 91, o crescimento sem limites e com o apoio das políticas de sucessivos Governos, a promiscuidade com outras grandes empresas de dimensão nacional e internacional, a ramificação tentacular do grupo por vários sectores de atividade, pela esfera política e a captura de uma boa parte do tecido económico nacional constituído por pequenas e médias empresas através de rendas e juros, finalmente, o seu colapso por descapitalização do BES que era a base de um império constituído sobre dívida e crédito.

Da atuação do XIX Governo Constitucional

A forma como o Governo PSD/CDS não só não cumpriu o seu dever de ser garante último da estabilidade financeira, como contribuiu para empenhar recursos públicos na salvação de uma instituição, socializando prejuízos e funcionando como agente de limpeza de ativos financeiros não pode, de forma alguma, ser minimizada no âmbito das conclusões da Comissão. Em primeiro lugar porque tal branqueamento das responsabilidades políticas não corresponde nem responde à realidade, e em segundo lugar porque não refletir sobre o enquadramento político e ideológico, que se traduz no legislativo, é ignorar uma necessidade absolutamente fundamental: a de tomar medidas para que nunca mais possa suceder o que sucedeu no BPN, no BPP, no Banif, no BCP e no BES. Ora, para tal, as conclusões desta Comissão, não podem deixar de fora as questões políticas e as responsabilidades políticas, tal como, em parte, já sucedeu em passadas Comissões de Inquérito Parlamentar.

O Governo PSD e CDS não se limitou, como o relatório de certa forma tenta insinuar, a não intervir no sentido de salvar um Grupo Privado. Aliás, as responsabilidades de PSD e CDS na ajuda e alimentação deste Grupo vão muito além das deste Governo, sendo que perpassam vários mandatos governamentais em que a concessão, contratação, parceria, atribuição de negócios por parte do Estado, criaram uma autêntica hidra económica e financeira, cuja dimensão, por si só, ameaçava a estabilidade do sistema financeiro.

Mas mais do que isso, tal como se pode verificar nas propostas de alteração apresentadas pelo PCP ao Relatório proposto pelo Sr. Deputado Relator (anexas a esta declaração de voto), a atuação do Governo foi fonte de problemas concretos. Entre esses problemas concretos encontra-se o resultado do processo de reembolso de investimentos em papel comercial do GES, gerado em parte pela incapacidade do Governo para salvaguardar esses interesses aquando da aplicação da medida de resolução. Mas as responsabilidades do Governo vão muito mais longe: o Governo não agiu em defesa do interesse nacional, mas apenas em sintonia com a sua matriz de Governo ao serviço dos grandes grupos económicos, não de um ou outro grupo específico, mas do sistema no seu conjunto. Por isso mesmo, apesar de ser claro desde há muito, que a medida que se impunha era o congelamento e imobilização de ativos, empresas e até património, do GES e dos seus principais acionistas, bem como a nacionalização de empresas como a Tranquilidade e a ES Saúde, o Governo limitou-se a “deixar o mercado funcionar”, remetendo-se para o papel de “entidade reguladora”, papel esse que a Constituição da República Portuguesa não lhe atribui. O Governo não ponderou intervir nos privilégios dos banqueiros e dos grandes acionistas do BES, não tanto por um compromisso com os próprios – que a Comissão não pôde comprovar nem negar – mas por um compromisso de fundo com o sistema capitalista e o domínio do capital monopolista que coloca a economia ao serviço da acumulação, fazendo da banca um dos mais importantes e cruciais instrumentos, não tendo sequer equacionado uma solução que pudesse – de facto – não comprometer recursos retirados aos portugueses.

A própria inépcia e incapacidade de atuação do Banco de Portugal e da CMVM estão intimamente ligadas a uma política que consiste em fazer-nos crer confiável aquilo que jamais pode merecer confiança. A simples conceção de que o Banco de Portugal e a CMVM, aliás o conjunto dos supervisores, regulam ou supervisionam seja o que for cai por terra observando a sucessão de casos de colapso de bancos privados em Portugal. O Banco de Portugal, particularmente, neste caso como em outros, não garantiu fiabilidade no sistema bancário, apenas a forjou publicamente, para evitar uma corrida aos depósitos, assim mostrando à última consequência que é impossível assegurar a estabilidade do sistema financeiro através de um supervisor enquanto essa estabilidade for uma prerrogativa do supervisionado. Ora, nesta construção, neste sistema legislativo, têm também responsabilidade o Governo que legisla, o Governo que submete o país às imposições da União Europeia, o Governo que coloca o funcionamento do mercado de capitais e a liberdade de acumulação por um grupo reduzido de grandes capitalistas acima da liberdade de um povo inteiro.

O Voto do Grupo Parlamentar do PCP

Por tudo o acima exposto, o Grupo Parlamentar do PCP não pode votar favoravelmente as conclusões do Relatório apresentado à Comissão de Inquérito, não deixando de votar favoravelmente o capítulo sobre o “apuramento dos factos”. Já sobre as recomendações apresentadas pelo Relatório, o Grupo Parlamentar do PCP afirma que, apesar de não ter oposição determinada à partida quanto à sua generalidade, é importante que tais recomendações não sejam confundidas com uma solução.

Ou seja, o momento é o da assumpção de uma política de recuperação da soberania política e económica, colocando o sistema financeiro como instrumento dessa política. Ao mesmo tempo, essa é a única solução. Cada vez se torna mais evidente que o esforço coletivo e o prejuízo que o país e os trabalhadores realizam e sofrem não justificam o benefício privado de um conjunto reduzido de indivíduos. O Estado não pode dar-se ao luxo de pagar o privilégio de um grupo de cidadãos poder ser dono de um banco.

Nenhum relatório de Comissão Parlamentar de Inquérito, que tenha sido capaz de reunir o conjunto de factos e testemunhos que esta Comissão reuniu, pode omitir os reais responsáveis pela situação a que chegou o BES e o GES. Os verdadeiros responsáveis são aqueles que ao longo de muitos anos foram os seus principais acionistas e os seus gestores. Mas igualmente responsáveis são aqueles que, ao longo de décadas, protegeram e elevaram o Grupo a colosso económico e financeiro, bem como os que ao longo de décadas sustentaram as opções políticas de direita que alimentaram a ilusão de que a banca privada pode ser disciplinada, apesar de serem visíveis os comportamentos lesivos do interesse coletivo no interior de várias instituições bancárias. O simples reconhecimento que há várias formas de escapar ao controlo de supervisão deve responsabilizar aqueles que, nos sucessivos Governos, foram tentando convencer os portugueses de que a Banca – apesar de não terem os elementos que fundamentem essa posição, antes pelo contrário, saberem que os não tinham – pode ser fiável e ao mesmo tempo constituir propriedade privada, gerida ao sabor dos interesses privados dos acionistas e dos grupos que esses acionistas influenciam. Desse grupos, atentas as relações múltiplas com o poder político, não se excluem partidos políticos com responsabilidades governativas, nem Governos propriamente ditos, dirigidos por PS e PSD, com ou sem o CDS.

Da mesma forma, o contexto da União Europeia, particularmente o que resulta do desenvolvimento do processo de liberalização financeira, inscrito na Agenda de Lisboa e intimamente associado à moeda única, enquadram um sistema financeiro que funciona em paralelo com um sistema de banca sombra, como no caso BES/GES se verificou. A ausência de tutela e fiscalização está intrinsecamente ligada aos graus de liberdade com que a banca atua, sem limitações, muitas vezes sem qualquer espécie de escrutínio e com múltiplas formas de lhe não estar sujeita. O presente relatório descreve bem esses expedientes e procedimentos mas falha na responsabilização política da União Europeia e dos Governos da República que com essa política alinham sem defender a soberania nacional nos seus diversos planos.

Igualmente importante é afirmar que mais do que melhorar o desempenho dos agentes de supervisão, é preciso acabar com a farsa da supervisão cativa do próprio sistema financeiro. Mais do que agravar as penas para a prevaricação ou para a má-gestão, importa acabar com a possibilidade de esses comportamentos se verificarem. Mais do que acrescentar camadas de verniz a um sistema financeiro podre, para melhor encobrir as suas práticas de acumulação, ou para criar a ilusão de que são legítimas, importa afirmar com audácia que nenhuma extorsão é legítima, que nenhuma especulação sobre o trabalho e o interesse nacional são legítimas, independentemente do quadro regulatório em que se realizem.

Assembleia da República, 29 de abril de 2015

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Sociólogo, filósofo, ativista político alemão, naturalizado norte-americano

Herbert Marcuse

19/07/1898, Berlim, Alemanha
29/071979, Berlim, Alemanha
Da Página 3 Pedagogia & Comunicação
[creditofoto]
As idéias de Marcuse influenciaram as revoltas estudantis da década de 1960
Herbert Marcuse nasceu em Berlim, capital da Alemanha, filho de pais judeus. Estudou literatura e filosofia em Berlim e Freiburg, onde conheceu filósofos como Martin Heidegger, um dos maiores pensadores alemães na época. Aos 24 anos, ele voltou à cidade natal, onde trabalhou na venda de livros. Retornou a Freiburg para ser orientado por Heidegger em seu doutorado sobre o filósofo Hegel.

Quatro anos depois, em 1933, por causa do governo nazista, Marcuse não foi autorizado a completar seu projeto. Assim, foi trabalhar em Frankfurt, no Instituto de Pesquisa Social. Ainda no mesmo ano, ele imigrou da Alemanha para a Suíça, indo em seguida para os Estados Unidos, onde obteve a cidadania em 1940.

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Marcuse trabalhou para o governo norte-americano, analisando relatórios do serviço de espionagem sobre a Alemanha, atividade que durou até 1951.

No ano seguinte, começou a carreira de professor universitário de teoria política, primeiro em Colúmbia e em Harvard, depois em Brandeis, onde ficou de 1954 até 1965. Já perto de se aposentar, foi lecionar na Universidade da Califórnia, em San Diego.

Suas críticas à sociedade capitalista, em especial na obra "Eros e Civilização", de 1955, e em "O homem unidimensional", de 1964, fizeram eco aos movimentos estudantis de esquerda dos anos 1960.

"O homem unidimensional" pode ser visto como uma análise das sociedades altamente industrializadas. Marcuse critica tanto os países comunistas quanto os capitalistas, por suas falhas no processo democrático: nenhum dos dois tipos de sociedade foi capaz de dar igualdade de condições para seus cidadãos.

Ele argumentava que a sociedade industrial avançada criava falsas necessidades que integravam o indivíduo ao sistema de produção e de consumo. Comunicação de massas e cultura, publicidade, administração de empresas e modos de pensamento contemporâneos apenas reproduziriam o sistema existente e cuidariam para eliminar negatividade, críticas e oposição. O resultado, dizia, era um universo unidimensional de idéias e comportamento, no qual as verdadeiras aptidões para o pensamento crítico eram anuladas.

Marcuse viveu para assistir e sentir os efeitos do que teorizou: tinha 70 anos quando eclodiu a Revolução Inesperada, a grande revolta estudantil de 1968 em praticamente todos os países do mundo.

Por sua capacidade de se engajar seriamente e apoiar os estudantes que protestavam contra a guerra do Vietnã (1961-1974) e queriam mudar a sociedade e a política, Marcuse logo ficou conhecido como o "pai da nova esquerda", apelido que ele rejeitava. Fez vários discursos engajados nos Estados Unidos e na Europa no fim da década e durante os anos 70. Morreu de infarto durante uma visita à Alemanha, dez dias depois de completar 81 
UOL Educação

domingo, 26 de abril de 2015

CONSENTIMENTO E DISSIDÊNCIA

"Fabricando dissidência": O Movimento Antiglobalização é Financiado pelas Elites Corporativas.

 O Movimento Popular foi Sequestrado
 Por Prof. Michel Chossudovsky, 12 de abril de 2015.

Este artigo foi publicado pela primeira vez em 2010. A citação introdutória do autor foi formulada pela primeira vez em 2001, no contexto da Cimeira das Américas na cidade de Québec, realizada alguns meses antes de 11/9
.
"Tudo o que a Fundação [Ford] fez poderia ser considerado como "tornar o mundo seguro para o capitalismo", reduzindo as tensões sociais, ajudando a confortar os aflitos, fornecer válvulas de segurança para a raiva, e melhorar o funcionamento do governo (McGeorge Bundy, Assessor de Segurança Nacional dos presidentes John F. Kennedy e Lyndon Johnson (1961-1966), Presidente da Fundação Ford, (1966-1979)).
“Ao fornecer financiamento e enquadramento político a muitas pessoas interessadas e dedicadas que trabalham no sector não lucrativo, a classe dominante é capaz de cooptar lideranças das comunidades de base… e pode executar com proficiência as componentes de financiamento, contabilização e avaliação do trabalho tão demoradas e onerosas que o trabalho de justiça social é praticamente impossível nestas condições" (Paul Kivel, Chama a isto Democracia, Quem Beneficia, Quem Paga e Quem Realmente Decide, 2004, p. 122).
"Sob a Nova Ordem Mundial, o ritual de convidar líderes da “sociedade civil” para os círculos internos do poder – enquanto simultaneamente se reprime os soldados rasos – serve várias funções importantes. Primeiro, diz ao mundo que os críticos da globalização "devem fazer concessões" para ganhar o direito de se misturarem. Em segundo lugar, transmite a ilusão de que apesar de as elites globais estarem – sob o que é eufemisticamente chamado de democracia – sujeitas a crítica não deixam por esse facto de governar legitimamente. E em terceiro lugar, diz que "não há alternativa" à globalização: que uma mudança de fundo não é possível e que o máximo que se pode esperar é envolver-se com esses governantes num ineficaz "dar e receber".
Enquanto os “Globalizadores” podem adotar algumas frases progressistas para demonstrar que têm boas intenções os seus objetivos fundamentais não são desafiados. E o que essa "mistura de sociedade civil” faz é reforçar o domínio da ordem corporativa estabelecida, enquanto enfraquece e divide o movimento de protesto. A compreensão deste processo de cooptação é importante, porque dezenas de milhares dos jovens mais íntegros em Seattle, Praga e cidade de Québec [1999-2001] estão envolvidos em protestos antiglobalização porque rejeitam a noção de que o dinheiro é tudo, porque rejeitam o empobrecimento de milhões e a destruição da frágil Terra para que uns quantos possam ficar mais ricos.
Estes soldados rasos, bem como alguns dos seus líderes, devem ser aplaudidos. Mas é preciso ir mais longe. Precisamos de desafiar o direito dos "Globalizadores" a governar. Isso exige que repensemos a estratégia de protesto. Podemos passar para um plano superior, com o lançamento de movimentos de massas nos nossos respetivos países, movimentos que tragam às pessoas comuns a mensagem do que a globalização está a fazer? Pois estas constituem a força que deve ser mobilizada para desafiar aqueles que saqueiam o mundo.” (Michel Chossudovsky, The Quebec Wall, abril de 2001).
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“Consentimento Fabricado” versus “Dissidência Fabricada”
O termo "fabricação de consentimento" foi inicialmente cunhado por Edward S Herman e Noam Chomsky. "Fabricação de consentimento" descreve um modelo de propaganda usado nos meios de comunicação social de massas para influenciar a opinião pública e "inculcar valores e crenças nos indivíduos...":
Os meios de comunicação social de massas funcionam como sistema de comunicação de mensagens e símbolos para a população em geral. É sua função divertir, entreter e informar, e inculcar nos indivíduos valores, crenças e códigos de comportamento que irão integrá-los nas estruturas institucionais da sociedade em geral. Num mundo de riqueza concentrada e grandes conflitos de interesses de classe, o cumprimento desse papel requer propaganda sistemática (Manufacturing Consent por Edward S. Herman e Noam Chomsky).
"Fabricação de consentimento" implica a manipulação e configuração da opinião pública. Estabelece conformidade e aceitação da autoridade e hierarquia social. Busca a concordância com uma ordem social estabelecida. "Fabricação de consentimento" descreve a submissão da opinião pública à narrativa dos meios de comunicação social dominantes, às suas mentiras e maquinações.
Neste artigo, focamo-nos num conceito relacionado, ou seja, o processo subtil de "fabricação de dissidência" (em vez de "consentimento"), que desempenha um papel decisivo na defesa dos interesses da classe dominante.
Sob o capitalismo contemporâneo, a ilusão de democracia deve prevalecer. É do interesse das elites corporativas aceitar a dissidência e protesto como uma característica do sistema, na medida em que não ameacem a ordem social estabelecida. O propósito não é reprimir a dissidência, mas, pelo contrário, configurar e moldar o movimento de protesto para definir os limites exteriores da dissidência.
Para manter a sua legitimidade, as elites económicas favorecem formas limitadas e controladas de oposição, com vista a prevenir o desenvolvimento de formas radicais de protesto, que podem abalar os próprios alicerces e instituições do capitalismo global. Por outras palavras, a "fabricação de dissidência" funciona como uma "válvula de segurança" que protege e sustenta a Nova Ordem Mundial.
No entanto, para ser eficaz o processo de "fabricação de dissidência" deve ser cuidadosamente regulado e fiscalizado por aqueles que são o objeto do movimento de protesto.
“Financiamento da Dissidência”
Como é conseguido o processo de fabricação de dissidência?
Essencialmente pelo "financiamento da dissidência", ou seja, através da canalização de recursos financeiros daqueles que são o objeto do movimento de protesto para aqueles que estão envolvidos na organização do movimento de protesto.
A cooptação não se limita a comprar favores de políticos. As elites económicas – que controlam as principais fundações – também supervisionam o financiamento de numerosas ONGs e organizações da sociedade civil, que historicamente têm estado envolvidas no movimento de protesto contra a ordem económica e social estabelecida. Os programas de muitas ONGs e movimentos populares dependem fortemente de financiamento tanto público como de fundações privadas, incluindo as fundações Ford, Rockefeller, McCarthy, entre outras.
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O movimento antiglobalização opõe-se a Wall Street e aos gigantes do petróleo do Texas controlados por Rockefeller, et al. Contudo as fundações e instituições de beneficência de Rockefeller et al financiarão generosamente redes anticapitalistas progressistas, bem como ambientalistas (opostas ao Big Oil), com o objetivo último de supervisionarem e configurarem as suas várias atividades.
Os mecanismos de "fabricação de dissidência" necessitam de um ambiente manipulador, um processo de coerção e cooptação subtil de indivíduos no interior das organizações progressistas, incluindo alianças antiguerra, ambientalistas e o movimento antiglobalização.
Enquanto os meios de comunicação social dominantes "fabricam consentimento", a complexa rede de ONGs (incluindo segmentos da comunicação social alternativa) são utilizados pelas elites corporativas para moldar e manipular o movimento de protesto.
Após a desregulamentação do sistema financeiro mundial na década de 1990 e do rápido enriquecimento da ordem financeira estabelecida, o financiamento através de fundações e instituições de beneficência disparou.
Numa ironia amarga, parte dos ganhos financeiros fraudulentos em Wall Street nos últimos anos têm sido reciclados para as fundações e instituições de beneficência isentas de impostos, das elites. Estes ganhos financeiros caídos do céu não só têm sido utilizados para comprar políticos, mas também canalizados para ONGs, institutos de pesquisa, centros comunitários, grupos religiosos, ambientalistas, comunicação social alternativa, grupos de direitos humanos, etc. A “fabricação de dissidência" também se aplica à comunicação social de "esquerda corporativa" e "progressista", financiada por ONGs ou diretamente pelas fundações.
O objetivo íntimo é "fabricar a dissidência" e estabelecer os limites de uma oposição "politicamente correta". Por sua vez, muitas ONGs são infiltradas por informadores agindo muitas vezes em nome de agências de inteligência ocidentais. Além disso, um segmento cada vez maior de meios de comunicação alternativos progressistas na internet tornou-se dependente do financiamento de fundações corporativas e instituições de beneficência.
Ativismo fragmentário
O objetivo das elites corporativas tem sido o de fragmentar o movimento popular num vasto mosaico "faça você mesmo". A guerra e a globalização já não estão na vanguarda do ativismo da sociedade civil. O ativismo tende a ser fragmentado. Não há movimentos antiglobalização e antiguerra integrados. A crise económica não é vista como tendo relação com a guerra liderada pelos EUA.
A dissidência tem sido compartimentada. Movimentos de protesto separados “orientados para questões” (e.g. ambiente, antiglobalização, paz, direitos das mulheres, alterações climáticas) são encorajados e generosamente financiados, por oposição a um movimento de massas coeso. Este mosaico já era predominante nas contra cimeiras do G7 e nas Cimeiras dos Povos da década de 1990.
O movimento antiglobalização
A contra cimeira de Seattle de 1999 é invariavelmente acolhida como um triunfo do movimento antiglobalização: "uma histórica aliança de ativistas fechou a cimeira da Organização Mundial do Comércio em Seattle, a faísca que acendeu um movimento anticorporativo global" (Ver Naomi Klein, Copenhagen: Seattle Grows Up, The Nation, 13 de novembro de 2009).
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Seattle foi na realidade uma encruzilhada importante na história do movimento de massas. Mais de 50.000 pessoas de diversas origens, organizações da sociedade civil, de direitos humanos, sindicatos, ambientalistas juntaram-se com um propósito comum. O seu objetivo era desmantelar vigorosamente a agenda neoliberal, incluindo a sua base institucional.
Mas Seattle também marcou uma importante reversão. Com o avolumar da dissidência de todos os setores da sociedade, a cimeira oficial da OMC precisava desesperadamente da participação simbólica de líderes da sociedade civil "no interior", para dar a aparência de ser "democrática" "do lado de fora".
Enquanto milhares de pessoas convergiram em Seattle, o que ocorreu nos bastidores foi uma vitória de facto para o neoliberalismo. Um punhado de organizações da sociedade civil que formalmente se opunham à OMC contribuiu para legitimar a arquitetura global de comércio da OMC. Em vez de contestar a OMC como um organismo intergovernamental ilegal, eles concordaram num diálogo pré-cimeira com a OMC e os governos ocidentais. Os participantes das ONGs acreditadas foram convidados a misturar-se num ambiente amigável com embaixadores, ministros de comércio e magnatas de Wall Street em vários dos eventos oficiais, incluindo as inúmeras festas e receções." (Michel Chossudovsky, Seattle and Beyond: Disarming the New World Order, Covert Action Quarterly, novembro de 1999; Ver Ten Years Ago: “Manufacturing Dissent” in Seattle).
A agenda escondida consistia em enfraquecer e dividir o movimento de protesto e orientar o movimento antiglobalização para áreas que não pudessem ameaçar diretamente os interesses da ordem empresarial estabelecida.
Financiadas por fundações privadas (incluindo Ford, Rockefeller, Rockefeller Brothers, Charles Stewart Mott, Foundation for Deep Ecology), essas organizações "acreditadas" da sociedade civil auto posicionaram-se como grupos de pressão, atuando formalmente em nome do movimento popular. Lideradas por ativistas proeminentes e empenhados, as suas mãos estavam atadas. Em última análise contribuíram (involuntariamente) para enfraquecer o movimento antiglobalização ao aceitarem a legitimidade da que era essencialmente uma organização ilegal. (O acordo na Cimeira de Marraquexe de 1994 que levou à criação da OMC, em 1 de janeiro de 1995). (Ibid.)
Os líderes de ONGs estavam plenamente cientes de onde vinha o dinheiro. No entanto, na comunidade de ONGs dos Estados Unidos e da Europa as fundações e instituições de beneficência são consideradas organizações filantrópicas independentes, separadas das corporações; ou seja, a Fundação Rockefeller Brothers, por exemplo, é considerada separada e distinta do império da família Rockefeller de bancos e companhias de petróleo.
Com salários e despesas operacionais dependendo de fundações privadas, tornou-se uma rotina de aceite: numa lógica distorcida, a batalha contra o capitalismo corporativo estava a ser travada com recursos de fundações isentas de impostos pertencentes ao capitalismo corporativo.
As ONGs foram apanhadas numa camisa-de-força; a sua própria existência dependia das fundações. As suas atividades eram monitoradas de perto. Numa lógica distorcida, a própria natureza do ativismo anticapitalista foi controlada indiretamente pelos capitalistas através de suas fundações independentes.
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“Cães de guarda progressistas”
Nesta saga em evolução, as elites corporativas – cujos interesses são convenientemente servidos pelo FMI, o Banco Mundial e a OMC – financiarão de boa vontade (através das suas várias fundações e instituições de beneficência) organizações que estão na vanguarda do movimento de protesto contra a OMC e as instituições financeiras internacionais baseadas em Washington.
Suportados pelo dinheiro das fundações vários "cães de guarda" foram erguidos pelas ONGs para monitorar a implementação de políticas neoliberais, sem, contudo, levantar a questão mais ampla de como os gémeos de Bretton Woods e a OMC, através das suas políticas, tinham contribuído para o empobrecimento de milhões de pessoas.
A Rede de Revisão Participativa de Ajustamento Estrutural (Structural Adjustment Participatory Review Network, SAPRIN) foi fundada pelo Development Gap, uma ONG com sede em Washington DC financiada pela USAID e o Banco Mundial.
Como está amplamente documentado, a imposição do Programa de Ajustamento Estrutural do FMI-Banco Mundial (SAP) nos países em desenvolvimento constitui uma flagrante forma de ingerência nos assuntos internos de Estados soberanos em nome de instituições credoras.
Em vez de contestar a legitimidade do "remédio económico mortal" do FMI-Banco Mundial, a organização nuclear da SAPRIN procurou estabelecer um papel participativo para as ONGs, trabalhando de mãos dadas com a USAID e o Banco Mundial. O objetivo era dar um "rosto humano" à agenda política neoliberal, ao invés da rejeição pura e simples do quadro político do FMI-Banco Mundial:
"SAPRIN é a rede global da sociedade civil, que teve o seu nome a partir da Iniciativa de Revisão Participativa de Ajustamento Estrutural (Structural Adjustment Participatory Review Initiative, SAPRI) que lançou com o Banco Mundial e seu presidente, Jim Wolfensohn, em 1997.
SAPRI está concebido como um exercício tripartido para reunir organizações da sociedade civil, os respetivos governos e o Banco Mundial, numa avaliação conjunta de programas de ajustamento estrutural (SAP) e exploração de novas opções políticas. Legitima um papel ativo da sociedade civil na tomada de decisões económicas pois está projetado para indicar áreas em que são necessárias mudanças nas políticas económicas e no processo de elaboração da política económica.” (http://www.saprin.org/overview.htm. Website SAPRIN)
Similarmente, o Observatório do Comércio (anteriormente WTO Watch), operando a partir de Genebra, é um projeto do Instituto para a Política Agrícola e Comercial (IATP), sedeado em Mineápolis, que é generosamente financiado por Ford, Rockefeller, Charles Stewart Mott, entre outros (ver Tabela 1 abaixo).
O Observatório do Comércio tem um mandato para monitorar a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) e a proposta Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). (IATP, About Trade Observatory, acedido em setembro de 2010).
O Observatório do Comércio existe também para desenvolver dados e informação, bem como fomentar a "governança" e a "prestação de contas". Prestação de contas às vítimas das políticas da OMC ou prestação de contas aos protagonistas de reformas neoliberais?
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As funções de fiscalização do Observatório do Comércio não ameaçam de forma alguma a OMC. Muito pelo contrário: a legitimidade dos acordos e organizações de comércio nunca são questionados.
O Fórum Económico Mundial. "Todos os caminhos levam a Davos"
O movimento popular foi sequestrado. Intelectuais, executivos sindicais e líderes de organizações da sociedade civil selecionados (incluindo a Oxfam, Amnistia Internacional, Greenpeace) são rotineiramente convidados para o Fórum Económico Mundial de Davos, onde se misturam com os atores económicos e políticos mais poderosos do mundo. Esta mistura de elites empresariais do mundo com "progressistas" escolhidos a dedo faz parte do ritual subjacente ao processo de "fabricação de dissidência".
Tabela 1 – Maiores doadores do Instituto para a Política Agrícola e Comercial (IATP) de Mineápolis
FORD FOUNDATION
$2,612,500.00
1994 – 2006
ROCKEFELLER BROTHERS FUND
$2,320,000.00
1995 – 2005
CHARLES STEWART MOTT FOUNDATION
$1,391,000.00
1994 – 2005
MCKNIGHT FOUNDATION
$1,056,600.00
1995 – 2005
JOYCE FOUNDATION
$748,000.00
1996 – 2004
BUSH FOUNDATION
$610,000.00
2001 – 2006
BAUMAN FAMILY FOUNDATION
$600,000.00
1994 – 2006
GREAT LAKES PROTECTION FUND
$580,000.00
1995 – 2000
JOHN D. & CATHERINE T. MACARTHUR FOUNDATION
$554,100.00
1991 – 2003
JOHN MERCK FUND
$490,000.00
1992 – 2003
HAROLD K. HOCHSCHILD FOUNDATION
$486,600.00
1997 – 2005
FOUNDATION FOR DEEP ECOLOGY
$417,500.00
1991 – 2001
JENNIFER ALTMAN FOUNDATION
$366,500.00
1992 – 2001
ROCKEFELLER FOUNDATION
$344,134.00
2000 – 2004
Fonte: http://activistcash.com/organization_financials.cfm/o/16-institute-for-agriculture-and-trade-policy
O estratagema consiste em escolher seletivamente a dedo líderes da sociedade civil "em quem podemos confiar" e integrá-los num "diálogo", isolá-los dos seus soldados rasos, fazê-los sentir que são "cidadãos globais" agindo em nome dos seus companheiros trabalhadores, mas fazê-los agir de uma forma que serve os interesses da ordem corporativa estabelecida:
"A participação das ONGs na reunião anual de Davos é uma evidência do facto de que [nós] buscamos propositadamente integrar um amplo espectro das principais partes interessadas na sociedade em... definir e fazer avançar a agenda global... Acreditamos que o Fórum Económico Mundial [Davos] proporciona à comunidade empresarial o quadro ideal para engajar-se em esforços de colaboração com as outras principais partes interessadas [ONGs] da economia global para "melhorar o estado do mundo", que é a missão do Fórum. (Fórum Económico Mundial, press release 5 de janeiro de 2001.)
O Fórum Económico Mundial não representa a comunidade empresarial mais ampla. É um encontro elitista: os seus membros são corporações globais gigantes (com um volume de negócios anual de no mínimo 5 mil milhões de dólares). As organizações não-governamentais (ONGs) selecionadas são vistas como “partes interessadas” parceiras, bem como conveniente "porta-voz dos sem voz que muitas vezes são deixados de fora dos processos de tomada de decisão." (Fórum Económico Mundial, 2010)
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"Elas [as ONGs] desempenham uma variedade de papéis em parceria com o Fórum para melhorar o estado do mundo, inclusive servindo como ponte entre empresas, governo e sociedade civil, ligando os decisores políticos às bases, trazendo soluções práticas para a mesa..." (Ibid.)
A sociedade civil "emparceirando" com corporações globais em nome dos "sem voz", que são "deixados de fora"?
Executivos sindicais também são cooptados em detrimento dos direitos laborais. Os líderes da Federação Internacional dos Sindicatos (IFTU), a AFL-CIO, a Confederação Europeia dos Sindicatos, o Congresso do Trabalho do Canadá (CLC), entre outros, são rotineiramente convidados a participar tanto nos encontros anuais do Fórum Económico Mundial em Davos, na Suíça, como nas cimeiras regionais. Também participam na Comunidade de Líderes Laborais do Fórum Económico Mundial que se concentra em padrões de comportamento mutuamente aceitáveis para o movimento sindical. O Fórum Económico Mundial "acredita que a voz do Trabalho é importante para o diálogo dinâmico sobre questões da globalização, justiça económica, transparência e responsabilidade, e para assegurar um sistema financeiro global saudável."
"Assegurar um sistema financeiro global saudável" forjado pela fraude e corrupção? A questão dos direitos dos trabalhadores não é mencionada. (Fórum Económico Mundial, 2010).
O Fórum Social Mundial: "Outro mundo é possível"
A contra cimeira de Seattle de 1999 lançou, em muitos aspetos, as bases para o desenvolvimento do Fórum Social Mundial.
O primeiro encontro do Fórum Social Mundial ocorreu em janeiro de 2001, em Porto Alegre, Brasil. Este encontro internacional envolveu a participação de dezenas de milhares de ativistas de organizações de base e de ONGs.
O encontro de ONGs e organizações progressistas do Fórum Social Mundial realiza-se em simultâneo com o Fórum Económico Mundial de Davos. Tinha a intenção de dar voz à oposição e dissidência ao Fórum Económico Mundial de líderes empresariais e ministros das Finanças.
O Fórum Social Mundial foi, desde o início, uma iniciativa da ATTAC Francesa e de várias ONGs Brasileiras:
"...Em fevereiro de 2000, Bernard Cassen, o chefe de uma ONG francesa, ATTAC, Oded Grajew, chefe de uma organização de empregadores brasileiros, e Francisco Whitaker, chefe de uma associação de ONGs brasileiras, reuniram-se para discutir uma proposta de um "evento da sociedade civil mundial"; em março de 2000, asseguraram formalmente o apoio do governo municipal de Porto Alegre e do governo do estado do Rio Grande do Sul, ambos controlados à época pelo Partido dos Trabalhadores brasileiro (PT)... Um grupo de ONGs francesas incluindo ATTAC, Amigos do L'Humanité e Amigos do Le Monde Diplomatique, patrocinou um Fórum Social Alternativo em Paris intitulado "Um ano depois de Seattle", a fim de preparar uma agenda para os protestos a levar a cabo na cimeira próxima da União Europeia em Nice. Os oradores chamados para "reorientar determinadas instituições internacionais, como o FMI, Banco Mundial, OMC... de modo a criar uma globalização a partir de baixo" e "construir um movimento de cidadãos internacionais não para destruir o FMI, mas para reorientar as suas missões." (Research Unit For Political Economy, The Economics and Politics of the World Social Forum, Global Research, 20 de janeiro de 2004.)
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Desde o início, em 2001, o Fórum Social Mundial foi apoiado por financiamento essencial da Fundação Ford, conhecida por ter ligações à CIA que remontam à década de 1950: "A CIA usa fundações filantrópicas como o meio mais eficaz para canalizar grandes somas de dinheiro para projetos da Agência, sem alertar os destinatários para a respetiva origem.“ (James Petras, A Fundação Ford e a CIA, Global Research, 18 de setembro de 2002.)
O mesmo procedimento de contra cimeiras ou cimeiras populares financiadas por doadores, que caracterizou as Cimeiras dos Povos dos anos 1990, foi materializado no Fórum Social Mundial (FSM):
"...Outros financiadores do FSM (ou 'parceiros', como são referidos na terminologia FSM) incluíam a Fundação Ford – basta dizer aqui que esta sempre operou na mais estreita colaboração com a Agência Central de Inteligência e os interesses estratégicos globais dos Estados Unidos –; a Fundação Heinrich Böll, controlada pelo partido dos Verdes alemão, um parceiro no presente [2003] governo alemão e um apoiante das guerras na Jugoslávia e no Afeganistão (o seu líder Joschka Fischer é o [ex-] ministro dos negócios estrangeiros alemão); e as principais agências de financiamento, como a Oxfam (UK), Novib (Países Baixos), ActionAid (UK), e assim por diante.
Notavelmente, um membro do Conselho Internacional do FSM relata que os "fundos consideráveis" recebidos destas agências "não têm despertado até agora quaisquer debates significativos [nos órgãos do FSM] sobre as possíveis relações de dependência que poderiam gerar." No entanto, ele admite que "a fim de obter o financiamento da Fundação Ford, os organizadores tiveram que convencer esta de que o Partido dos Trabalhadores não estava envolvido no processo”. Dois pontos são dignos de nota aqui. Em primeiro lugar, isto estabelece que os financiadores tinham capacidade para pressionar e determinar o papel das diferentes forças no FSM – precisavam de ser ‘convencidos’ das credenciais de quem iria ser envolvido. Em segundo lugar, se os financiadores objetaram à participação do completamente domesticado Partido dos Trabalhadores, ter-se-iam oposto ainda com mais vigor se fosse dada proeminência a forças anti-imperialistas genuínas. Que eles fizeram tal objeção tornar-se-á claro com a descrição de quem foi incluído e de quem foi excluído da segunda e terceira reuniões do FSM…
…A questão do financiamento [do FSM] nem sequer figura na carta de princípios do FSM, aprovada em Junho de 2001. Os marxistas, sendo materialistas, salientariam que se deve olhar para a base material do fórum para captar sua natureza. (De facto não é preciso ser marxista para compreender que "quem paga o flautista dá o tom".) Mas o FSM não concorda. Pode sacar fundos de instituições imperialistas como a Ford Foundation, enquanto luta contra "o domínio do mundo pelo capital e por qualquer forma de imperialismo" (Research Unit For Political Economy, The Economics and Politics of the World Social Forum, Global Research, 20 de janeiro de 2004.)
A Fundação Ford forneceu apoio essencial ao FSM, com contribuições indiretas para "organizações parceiras" participantes provenientes da Fundação McArthur, Fundação Charles Stewart Mott, Fundação Friedrich Ebert, Fundação W. Alton Jones, Comissão Europeia, vários governos europeus (incluindo o governo trabalhista de Tony Blair), governo canadiano, assim como uma série de organismos das Nações Unidas (incluindo a UNESCO, UNICEF, PNUD, OIT e FAO). (Ibid.)
Além do apoio essencial inicial da Fundação Ford, muitas das organizações da sociedade civil participantes recebem financiamento de grandes fundações e
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instituições de beneficência. Por sua vez, ONGs baseadas nos EUA e na Europa operam muitas vezes como agências de financiamento secundárias canalizando dinheiro da Ford e Rockefeller para organizações parceiras nos países em desenvolvimento, incluindo movimentos camponeses de base e de direitos humanos.
O Conselho Internacional do FSM é constituído por representantes de ONGs, sindicatos, organizações de comunicação social alternativa, institutos de investigação, muitos dos quais são fortemente financiados por fundações bem como governos. Os mesmos sindicatos que são regularmente convidados para se misturarem com CEOs de Wall Street durante o Fórum Económico Mundial de Davos, incluindo a AFL-CIO, a Confederação Europeia dos Sindicatos e o Congresso do Trabalho do Canadá, também se sentam no Conselho Internacional do FSM. Entre as ONGs financiadas por grandes fundações e sentadas no Conselho Internacional do FSM está o Instituto para a Política Agrícola e Comercial (IATP) (ver análise acima) que supervisiona o Observatório do Comércio baseado em Genebra.
A Rede de Financiadores em Comércio e Globalização (Funders Network on Trade and Globalization, FTNG), que tem estatuto de observador no Conselho Internacional do FSM desempenha um papel chave. Enquanto canaliza apoio financeiro para o FSM, age como uma câmara de compensação para as principais fundações. O FTNG descreve-se a si mesmo como "aliança de outorgantes de subvenções comprometidos com a construção de comunidades justas e sustentáveis em todo o mundo". Os membros desta aliança são a Fundação Ford, Rockefeller Brothers, Heinrich Boell, CS Mott, Fundação Merck Family, Open Society Institute, Fundação Tides, entre outros. (Para uma lista completa de agências de financiamento ver http://www.fntg.org/funders.) A FTNG atua como uma entidade angariadora de fundos em nome do FSM.
Governos ocidentais financiam contra cimeiras e reprimem o movimento de protesto
Numa ironia amarga, governos, incluindo a União Europeia, dão dinheiro para financiar grupos progressistas (incluindo o FSM) envolvidos na organização de protestos contra os mesmos governos que financiam as suas atividades:
"Também os governos têm sido financiadores significativos de grupos de protesto. A Comissão Europeia, por exemplo, financiou dois grupos que mobilizaram grande número de pessoas para protestar contra cimeiras da UE em Gotemburgo e Nice. A lotaria nacional britânica, que é supervisionada pelo governo, ajudou a financiar um grupo no centro do contingente britânico em ambos os protestos." (James Harding, Counter-Capitalism, FT.com, 15 de outubro de 2001.)
Estamos lidando com um processo diabólico: o governo anfitrião financia a cimeira oficial, bem como as ONGs ativamente envolvidas na contra cimeira. Financia igualmente a multimilionária operação antimotim da polícia que tem um mandato para reprimir os participantes de base da contra cimeira, incluindo membros de ONGs financiadas diretamente pelo governo.
A finalidade desta combinação de operações, incluindo ações violentas de vandalismo cometidas por polícias à paisana (Toronto G20, 2010) vestidos como ativistas, é desacreditar o movimento de protesto e intimidar os seus participantes. O objetivo mais lato é transformar a contra cimeira num ritual de dissidência, que serve para preservar os interesses da cimeira oficial e o governo anfitrião. Esta lógica tem prevalecido em inúmeras contra cimeiras desde a década de 1990.
Na Cimeira das Américas de 2001, na cidade de Québec, o financiamento do governo federal Canadiano para as ONGs e sindicatos dominantes foi atribuído sob certas
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condições. Um grande segmento do movimento de protesto foi excluído de facto da Cimeira dos Povos. Isto só por si levou à formação de um segundo foro dos Povos, paralelo, que alguns observadores descreveram como "uma contra Cimeira dos Povos”. Por sua vez, em acordo com as autoridades estaduais e federais, os organizadores dirigiram a marcha de protesto para um local remoto cerca de 10 km fora da cidade em vez de para a área do centro histórico onde a cimeira oficial da ALCA se tinha realizado por trás de um "perímetro de segurança" fortemente vigiado.
“Em vez de marchar em direção à vedação do perímetro e às reuniões da Cimeira das Américas, os organizadores da marcha escolheram uma rota que ia da Cimeira dos Povos para longe da vedação, através de áreas residenciais praticamente vazias, para o terreno de estacionamento de um estádio numa área desocupada afastada vários quilómetros. Henri Masse, presidente da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Québec (FTQ), explicou: "Deploro que estejamos tão longe do centro da cidade... Mas era uma questão de segurança." Mil delegados da FTQ mantiveram a marcha sob controlo muito apertado. Quando a marcha chegou ao ponto em que alguns ativistas tinham planeado separar-se e subir o morro até à vedação, os delegados da FTQ avisaram o contingente de Trabalhadores dos Transportes do Canadá (CAW) que seguia atrás da CUPE1 para se sentarem e pararem a marcha de modo a que os delegados da FTQ pudessem cerrar os braços e impedir outros de abandonar a rota da marcha oficial." (Katherine Dwyer, Lessons of Quebec City, Internacional Socialist Review, junho/julho de 2001.)
A Cimeira das Américas realizou-se num “bunker” de quatro quilómetros de betão e uma vedação de aço galvanizado. O “muro de Québec” de 3 metros de altura cercava parte do centro histórico da cidade, incluindo o complexo parlamentar da Assembleia Nacional, hotéis e áreas comerciais.
Os líderes de ONGs versus as respetivas bases
A criação do Fórum Social Mundial (FSM), em 2001, foi inquestionavelmente um marco histórico reunindo milhares de ativistas empenhados. Foi um foro importante que permitiu a troca de ideias e a criação de laços de solidariedade.
O que está em causa é o papel ambivalente dos líderes das organizações progressistas. O seu relacionamento acolhedor e educado com os círculos internos do poder, com fundos de empresas e governo, agências de ajuda, Banco Mundial, etc., mina o seu relacionamento e responsabilidades para com as respetivas bases. O objetivo da dissidência fabricada é precisamente esse: distanciar os líderes das suas bases como meio para silenciar e enfraquecer eficazmente as ações das mesmas.
O financiamento da dissidência é também um meio para infiltrar as ONGs, assim como obter informação privilegiada sobre as estratégias de protesto e resistência de movimentos populares.
Muitas das organizações de base participantes no Fórum Social Mundial incluindo organizações de camponeses, trabalhadores e estudantes, firmemente empenhadas em combater o neoliberalismo, estavam inconscientes da relação do Conselho Internacional do FSM com o financiamento corporativo, negociado nas suas costas por um punhado de líderes de ONGs com ligações a agências de financiamento públicas e privadas.
O financiamento de organizações progressistas não é incondicional. A sua finalidade é "pacificar" e manipular o movimento de protesto. As agências de financiamento
1 Sem explicitação no original. Supõe-se que signifique Canadian Union of Public Employees (N.T.)
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definem condicionantes precisas. Se estas não forem atendidas os desembolsos são interrompidos e a ONG destinatária é levada à falência de facto, por falta de fundos.
O FSM autodefine-se como "local de encontro aberto para aprofundamento da reflexão, debate democrático de ideias, formulação de propostas, livre troca de experiências e interligação para uma ação eficaz, por grupos e movimentos da sociedade civil que se opõem ao neoliberalismo e ao domínio do mundo pelo capital e qualquer forma de imperialismo e estão empenhados na construção de uma sociedade centrada na pessoa humana." (Fórum Social Mundial, 2010.)
O FSM é um mosaico de iniciativas individuais que não ameaçam ou desafiam diretamente a legitimidade do capitalismo global e suas instituições. Reúne-se anualmente. Caracteriza-se por uma multitude de sessões e workshops. Neste sentido, um dos atributos do FSM era conservar o enquadramento "faça você mesmo" característica da Cimeira dos Povos contra o G7, financiada por doadores, da década de 1990.
Esta estrutura na aparência desorganizada é deliberada. Ao favorecer o debate numa série de tópicos individuais, o enquadramento do FSM não é propício à articulação de uma plataforma comum coesa e plano de ação dirigidos contra o capitalismo global. Mais ainda, a guerra liderada pelos EUA no Médio Oriente e na Ásia Central, que começou poucos meses depois do foro inaugural do FSM em Porto Alegre, em janeiro de 2001, não foi uma questão central nas discussões do fórum.
O que prevalece é uma vasta e intrincada rede de organizações. As organizações de base beneficiárias nos países em desenvolvimento estão, invariavelmente, inconscientes de que as suas ONGs parceiras nos Estados Unidos ou na União Europeia, que lhes fornecem apoio financeiro, são elas próprias financiados por grandes fundações. O dinheiro escorre, estabelecendo restrições em ações de base. Muitos dos líderes destas ONGs são indivíduos empenhados e bem-intencionados que atuam dentro de um quadro que define os limites da dissidência. Os líderes destes movimentos são frequentemente cooptados sem sequer perceberem que têm as mãos atadas em resultado do financiamento corporativo.
O capitalismo global financia o anticapitalismo: uma relação absurda e contraditória
“Outro Mundo é Possível", mas não pode ser significativamente alcançado no âmbito do presente arranjo.
É necessário um abanão do Fórum Social Mundial, da sua estrutura organizacional, acordos de financiamento e liderança.
Não pode haver qualquer movimento de massas significativo quando a dissidência é generosamente financiada por aqueles mesmos interesses corporativos que são o alvo do movimento de protesto. Nas palavras de McGeorge Bundy, presidente da Fundação Ford (1966-1979), "Tudo o que a Fundação [Ford] fez poderia ser considerado como ‘tornar o mundo seguro para o capitalismo’."
Traduzido por CG
Original em: http://www.globalresearch.ca/manufacturing-dissent-the-anti-globalization-movement-is-funded-by-the-corporate-elites/21110

sexta-feira, 24 de abril de 2015

 
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"América Latina ha quedado ya muy fuera del control de Estados Unidos. Cuando estaba controlada por los Estados Unidos, no hace mucho tiempo, era el centro mundial de la tortura."
Es una superestrella del mundo intelectual; un autor prolífico que se dice anarquista y que a los 86 años no da señales que bajar el ritmo. Todavía lucha contra multitud de injusticias, con Occidente normalmente en su línea de fuego. He venido a Estados Unidos para encontrarme con Noam Chomsky en su despacho en elMIT the Massachusetts. Es mi invitado en Global Conversation.

¿Quién es Noam Chomsky?

  • Noam Chomsky nació el 7 de diciembre de 1928 en Filadelfia (EE.UU.)
  • Empezó a trabajar el MIT (Instituto Tecnológico de Massachusetts) en 1955
  • Es un famoso lingüista, filósofo y activista político
  • Sus trabajos de lingüística en los años 50 revolucionaron la disciplina
  • Fue un prominente activista anti guerra de Vietnam
  • Se opone a las élites dominantes y es muy crítico con la política exterior de EE.UU. y de Occidente
  • Es autor de cientos de libros
Isabel Kumar, euronews
Muchas gracias por estar con nosotros. El mundo en 2015 parece turbulento, pero en general ¿se siente optimista o pesimista sobre la situación actual?
Noam Chomsky
En la escena global vamos hacia un precipicio al que estamos condenados a caer y que reducirá drásticamente nuestras perspectivas de tener una vida aceptable.
euronews
¿Cuál es ese precipicio?
Noam Chomsky
Hay dos: una es la catástrofe medioambiental, que es inminente y para la que no tenemos mucho tiempo; vamos por mal camino. La otra ha estado aquí desde hace 70 años: la amenaza de guerra nuclear, que de hecho se ha incrementado. Si miramos el historial es un milagro que hayamos sobrevivido.
euronews
Veamos los asuntos medioambientales, hemos pedido a nuestros espectadores en las redes sociales que nos manden sus preguntas y nos han llegado muchas. Esta es de Enoa Agoli que pregunta: “cuando observa el medio ambiente a través de la lente del filósofo, ¿qué piensa del cambio climático?”.
Noam Chomsky
La especie humana ha estado en el planeta 100.000 años y ahora se enfrenta a un momento sin precedentes. La especie estará en posición de decidir en pocas generaciones si la llamada vida inteligente puede continuar o está condenada a la destrucción. Los científicos reconocen de forma abrumadora que deberíamos no usar más combustibles fósiles si queremos que nuestros nietos tengan futuro. Pero las estructuras sociales presionan para sacar cada gota. Los efectos, las consecuencias humanas, de los efectos predichos del cambio climático no tan lejano, son catastróficos, y nos acercamos a ese precipicio.
euronews
En términos de guerra nuclear vemos el futuro de ese acuerdo preliminar con Irán. ¿Le da algún tipo de esperanza de que el mundo puede ser un lugar más seguro?
Noam Chomsky
Estoy a favor de negociar con Irán, pero las conversaciones tienen muchas lagunas. Hay dos estados que devastan Oriente Medio llevando a cabo agresiones, violencia, terrorismo, actos ilegales… constantemente. Son ambos enormes Estados nucleares con sus grandes arsenales. Y sus armas nucleares no se tienen en consideración.
euronews
¿A quiénes se refiere exactamente?
Noam Chomsky
Los Estados Unidos e Israel. Los dos son estados nucleares. Quiero decir que hay una razón por la cual, en las encuestas internacionales, a cargo de empresas estadounidenses, la propia Estados Unidos es considerada como la mayor amenaza a la paz mundial por un margen abrumador. Ningún otro país está ni siquiera cerca. Es bastante interesante que los medios de comunicación de Estados Unidos no publiquen esto. Pero aunque lo hagan no va a cambiar.
euronews
Usted no tiene al presidente estadounidense Obama en muy alta estima. Pero, ¿este acuerdo le hace pensar de él un poco mejor? ¿El hecho de que esté tratando de reducir la amenaza de una guerra nuclear?
Noam Chomsky
Bueno, en realidad no es así. Acaba de iniciarse un programa con un coste de billones de dólares para la modernización del sistema de armas nucleares de Estados Unidos, lo que significa la ampliación del sistema de armamento nuclear. Esa es una de las razones por las cuales el famoso reloj del fin del mundo, establecido por el Boletín de Científicos Atómicos hace apenas un par de semanas, se ha acercado dos minutos a la medianoche. La medianoche es el fin del mundo. Estamos a tres minutos de la medianoche. Eso es lo más cerca que ha estado en treinta años. Desde principios de los años Reagan, cuando había una gran amenaza de la guerra.
euronews
Usted ha mencionado a los EE.UU. e Israel al hablar de Irán.
Ahora, el primer ministro israelí, Benjamin Netanyahu, obviamente no quiere que el acuerdo nuclear de Irán y dice…
Noam Chomsky
Eso es interesante. Debemos preguntarnos por qué.
euronews
¿Por qué es?
Noam Chomsky
Sabemos por qué. Irán tiene un gasto militar muy bajo, incluso para los estándares de la región; por no hablar de comparado con Estados Unidos. La doctrina estratégica de Irán es defensiva, diseñada para mantener a raya un ataque el tiempo suficiente para usar la diplomacia; mientras que los Estados Unidos e Israel no quieren tolerar ningún elemento de disuasión.
Ningún analista estratégico con dos dedos de frente piensa que Irán usará un arma nuclear. Incluso si estuviera preparado para hacerlo el país simplemente sería pulverizado y no hay indicios de que los clérigos gobernantes quieran ver todo lo que tienen destruido.
euronews
Sólo una pregunta más sobre este tema y que llega a través de las redes sociales; de Morten A. Andersen. Pregunta: “¿Cree usted que EE.UU. podrían llegar a un acuerdo peligroso para Israel?
Noam Chomsky
Estados Unidos está llevando a cabo acciones constantes que son seriamente peligrosas para Israel: apoyar la política israelí.
Durante los últimos 40 años la mayor amenaza para Israel radica en sus propias políticas. Si uno mira hacia atrás 40 años, decir a 1970, Israel era uno de los países más respetados y admirados del mundo. Había un montón de opiniones favorables. Ahora es uno de los países que más disgustan y son temidos del mundo.
A principios de los años 70 Israel tomó una decisión. Tenía una elección y tomaron la decisión de preferir la expansión a la seguridad y esto lleva consigo consecuencias peligrosas. Consecuencias que eran evidentes en el momento —muchos escribimos sobre ellas— si usted prefiere la expansión a la seguridad esto va a conducir a la degeneración interna, a la ira, a la oposición, al aislamiento y a la destrucción posiblemente definitiva. Y mediante el apoyo a sus políticas, Estados Unidos está contribuyendo a las amenazas que debe encarar Israel.
euronews
Eso es me lleva al tema del terrorismo. Porque es realmente una plaga mundial y algunas personas, creo que incluyéndolo a usted, dirán que se trata de un efecto buremán por la política antiterrorista en todo el mundo. ¿Hasta qué punto son EE.UU. y sus aliados responsables de lo que estamos viendo ahora en términos de ataques terroristas en todo el mundo?
Noam Chomsky
Recuerde que la peor campaña terrorista en el mundo, con mucha diferencia, es la que está siendo orquestada en Washington. Esa es una campaña de asesinatos mundial. Nunca ha habido una campaña terrorista a esa escala.
euronews
¿Cuando dice campaña de asesinatos mundial…?
Noam Chomsky
La campaña con los ‘drones’ es eso exactamente. En gran parte del mundo, los Estados Unidos están sistemática, pública y abiertamente (no hay nada secreto sobre lo que estoy diciendo, todos lo sabemos) realizando de campañas periódicas para asesinar personas sospechosas de poder dañar al gobierno estadounidense algún día. Y de hecho es, como usted ha mencionado, una campaña de terror; si se bombardea un pueblo en Yemen, por ejemplo, y se mata a alguien (tal vez la persona a la que se proponían a lo mejor no) y a la vez a otras personas que se encontraban en el barrio- ¿Cómo cree que van a reaccionar? Se van a vengar.
euronews
Usted describe los EE.UU. como el principal estado terrorista. ¿Dónde situar a Europa en este cuadro, entonces?
Noam Chomsky
Bueno, esa es una pregunta interesante. Por ejemplo, hubo recientemente un estudio (creo que fue realizado por la Fundación Open Society) sobre la peor forma de tortura: la rendición extraordinaria. Esto significa arrestar a alguien sospechoso de algo y enviarlo a su dictador favorito, tal vez Asad o Gadafi o Mubarak, para que sean torturados con la esperanza de que tal vez haya resultados.
El estudio examinó los países que participaron en esto, bueno, obviamente Oriente Medio, las dictadurasporque ahí es donde fueron enviados para ser torturados y Europa. La mayor parte de Europa participó: Inglaterra, Suecia y otros países. De hecho, sólo hay una región en el mundo donde nadie participó: América Latina, lo que es bastante dramático. América Latina ha quedado ya muy fuera del control de Estados Unidos. Cuando estaba controlada por los Estados Unidos, no hace mucho tiempo, era el centro mundial de la tortura. Pero ahora no ha participado en la peor forma de tortura, que es la rendición extraordinaria. Europa sí participó. Si los reyes rugen, los siervos se acobardan.
euronews
¿Así que Europa es el sierva de los Estados Unidos?
Noam Chomsky
Totalmente. Son demasiado cobardes para tomar una posición independiente.
euronews
¿Dónde encaja Vladimir Putin en este cuadro? Es retratado como una de las mayores amenazas para la seguridad mundial. ¿Lo es?
Noam Chomsky
Como la mayoría de los líderes, es una amenaza para su propia población. Ha tomado decisiones ilegales, obviamente. Pero para presentarlo como un monstruo enloquecido que sufre una enfermedad cerebral y tiene Alzheimer, y es un mal criatura con cara de rata… eso es fanatismo orwelliano estándar. Quiero decir, sea cual sea la opinión sobre sus políticas, son comprensibles.
La idea de que Ucrania pudiera unirse a una alianza militar occidental resultaría inaceptable para cualquier líder ruso. Esto se remonta a 1990, cuando la Unión Soviética se derrumbó. Estaba la cuestión sobre lo que sucedería con la OTAN. Gorbachov aceptó que Alemania se unificara y que se uniera a la OTAN. Era una concesión bastante notable con un quid pro quo: que la OTAN no se expandiría un centímetro hacia el este. Esa fue la frase que se utilizó.
euronews
¿Así que Rusia ha sido provocada?
Noam Chomsky
Bueno, ¿qué pasó? La OTAN se trasladó al instante a Alemania Oriental y luego llegó Clinton y expandió laOTAN hasta las fronteras de Rusia. Ahora el nuevo gobierno de Ucrania, el gobierno establecido después del derrocamiento de la anterior, ha votado en el Parlamento por 300 a 8, o algo así, su incorporación a la OTAN.
euronews
¿Pero usted puede entender por qué quieren unirse a la OTAN, se puede ver por qué el gobierno de Petro Porochenko probablemente lo ve como una protección para su país?
Noam Chomsky
No, no, no, no. Eso no es protección. Crimea fue invadida después del derrocamiento del gobierno, cierto. Y esto no es proteger a Ucrania, es poner a Ucrania bajo la amenaza de guerra. Eso no es protección. La cuestión es que se trata de una grave amenaza estratégica para Rusia a la que cualquier líder ruso tendría que reaccionar. Eso es entendible.
euronews
Si nos fijamos en la situación en Europa, sin embargo, también hay otro fenómeno interesante que está teniendo lugar. Estamos viendo que Grecia se mueve hacia el este con el gobierno de Syriza. También estamos viendo a Podemos, que está ganando poder en España, también vemos Hungría. ¿Usted ve que haya potencial en Europa para iniciar un cambio y que se alinee más con los intereses de Rusia?
Noam Chomsky
Eche un vistazo a lo que está sucediendo. Hungría es una situación completamente diferente. Syriza llegó al poder sobre la base de una ola popular que clama que Grecia ya no debe estar sujeta a las políticas de Bruselas y los bancos alemanes, que están destruyendo el país. El efecto de sus políticas han sido en realidad aumentar la deuda de Grecia en relación con su producción de riqueza; probablemente la mitad de los jóvenes están desempleados, probablemente un 40% vive bajo el umbral de pobreza, Grecia está siendo destruida.
euronews
¿Entonces se le debe perdonar la deuda?
Noam Chomsky
Sí, al igual que a Alemania en 1953 cuando Europa condonó la mayor parte de su deuda. Fue por eso que fueron capaz de reconstruir los daños de guerra.
euronews
Pero entonces ¿qué pasa con todos los demás países de Europa?
Noam Chomsky
Lo mismo.
euronews
¿Así que Portugal debería tener su deuda condonada y España también…?
Noam Chomsky
¿Quién incurre en esta deuda? La deuda fue contraída con en parte por dictadores. Así que en Grecia la dictadura fascista que los EE.UU. apoyó incurrió en una gran parte de la deuda.
La deuda creo que es más brutal que la dictadura; y eso es a lo que se llama, en el derecho internacional, la “deuda insoportable” que no necesita ser pagada, y ese es un principio introducido en el derecho internacional por los Estados Unidos cuando estaba en su interés hacerlo.
La mayor parte del resto de la deuda, son pagos debidos a los bancos, los alemanes y los franceses, que decidieron hacer préstamos con mucho riesgo con bajo interés y ahora se enfrentan con el hecho de que no pueden ser devueltos.
euronews
Me gustaría hacerle la pregunta de Gil Gribaudo, quien le pregunta: “¿Cómo va a cambiar Europa frente a los desafíos existenciales que encara?” Porque sí, está la crisis económica y también hay un aumento del nacionalismo. Usted ha descrito algunas fallas culturales que se han creado a través de Europa. ¿Cómo ve la transformación de Europa?”
Noam Chomsky
Europa tiene problemas graves. Algunos de los problemas son resultado de las políticas económicas diseñadas por los burócratas de Bruselas, la Comisión Europea, etc… bajo la presión de la OTAN y de los grandes bancos, en su mayoría alemanes. Estas políticas tienen sentido desde el punto de vista de sus diseñadores: por un lado quieren que se les devuelvan sus préstamos e inversiones arriesgadas y peligrosas, y por otro lado que esas políticas erosionen el Estado del bienestar, que nunca les ha gustado.
El estado de bienestar es una de las principales contribuciones de Europa a la sociedad moderna, pero a los ricos y poderosos nunca les ha gustado, y el hecho de que estas políticas lo estén erosionando es bueno desde su punto de vista.
Hay otro problema en Europa: que es extremadamente racista. Yo siempre he sentido que Europa es probablemente más racista que los Estados Unidos. No era tan visible en Europa porque las poblaciones europeas en el pasado tendían a ser bastante homogénea. Si todo el mundo es rubio y de ojos azules, entonces no se parece racista, pero tan pronto como la población comienza a cambiar el racismo viene de la nada. Muy rápido. Y eso es un grave problema cultural en Europa.
euronews
Me gustaría terminar, porque vamos muy cortos de tiempo, con una pregunta de Robert Light en un tono más positivo pregunta: “¿Qué le da esperanza?”.
Noam Chomsky
“Lo que me da esperanza son un par de cosas que hemos hablado. La independencia de América Latina, por ejemplo, eso es de importancia histórica. En las recientes reuniones hemisféricas los Estados Unidos ha estado completamente aislado. Un cambio radical con respecto a hace 10 o 20 años, cuando los Estados Unidos manejaba los asuntos latinoamericanos. De hecho, la razón por la que Obama ha hecho sus gestos hacia Cuba ha sido tratar de superar el aislamiento de Estados Unidos. Son los EE.UU. los que están aislado, no Cuba. Y probablemente fracasará. Veremos.
Las señales para el optimismo en Europa son Syriza y Podemos. Esperemos que por fin haya un levantamiento popular contra el aplastantes y destructiva las políticas económicas y sociales que provienen de la burocracia y de los bancos, y eso es muy esperanzador. Debería serlo.

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