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sábado, 24 de dezembro de 2016


INTERMEZZO
Hoje não posso ver ninguém:
sofro pela Humanidade.
Não é por ti.
Nem por ti.
Nem por ti.
Nem por ninguém.
É por alguém.
Alguém que não é ninguém
mas que é toda a Humanidade.
António Gedeão

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

OPINIÃO

O último romance do escrevinhador José Rodrigues dos Santos, "O Pavilhão Púrpura", é um arrazoado de grosseiras mentiras sobre os revolucionários bolcheviques e chineses no período que antecedeu a 2ª Guerra. Um retrato desenhado com ódio. Ao invés, o retrato de Salazar e da sua ditadura é pintado com matizes suaves, carregado de mal disfarçada simpatia.
Procura demonstrar o indemonstrável: que os nazi-fascismos (desde a Europa ao Extremo Oriente) nasceram do próprio marxismo!
E convencer os incautos de que a ditadura pidesca de Salazar não foi nunca fascista! Ora, tudo demonstra que foi. Basta conhecer os primeiros discursos do "Toninho", como lhe chama o escrevinhador com afecto.
José Rodrigues dos Santos, vendedor afortunado de romances mal alinhavados, jornalista que ganha na RTP1, pública, balúrdios de dinheiro, é um neo-fascista? É que há mais de uma maneira de o ser.
A entrevista e o livro sobre o qual se debruça a entrevista à autora são de uma enorme oportunidade. Pena que estas denúncias dos actos do imperialismo ianque só lentamente, às vezes tardiamente, se venham a conhecer. Ou a demonstrar com documentos, pois que já muita gente suspeitava ou denunciava. A CIA é o braço pidesco dos USA. As suas forças armadas o braço repressivo. Instauraram por todo o século passado, e neste, um mundo com uma face sinistra de terror, desde Hiroxima à Coreia, do Congo ex-belga ao Irão, Indonésia, Chile, Argentina, Haiti, Paraguai, Brasil, etc. etc. Nunca esqueceremos, nós, portugueses, que a ditadura fascista teve o apoio incondicional dos EUA e da sua NATO.
Não somos anti-americanos. Somos anti-imperialistas.

Quem pagou a conta A Cia na Guerra Fria 25

Evacuação de Aleppo Oriental revela presença em bunker de oficiais estrangeiros

Segundo a rede Voltaire, os jihadistas que ainda ocupavam vários bairros em Aleppo oriental foram autorizados a sair, de acordo com sua própria vontade, para as cidades sírias de Idlib, sob o controle o controle da Al-Qaeda ou de Raqqa, o controlo doDaesh ou que se entregaram ao Exército Árabe Sírio. Aqueles que optaram pela saída foram evacuadas em autocarros, sob a proteção da República Árabe Síria e da Federação Russa, na presença de representantes da ONU.
Alguns jihadistas tentaram fugir misturando-se com os civis. Os serviços de inteligência identificaram-nos e mais de 1.500 foram presos durante o processo de registo dos cerca de 120 000 que se encontraram nos bairros libertados.
O deputado e presidente da Câmara de Comércio de Aleppo, Fares Shehabi, publicou uma lista não exaustiva de 14 oficiais estrangeiros detidos pelas forças especiais sírias no bunker da NATO do leste de Aleppo. São eles:
• Kanoglu Mutaz – Turquia
• David Scott Winer – Estados Unidos
• David Shlomo Aram – Israel
• Muhamad Tamimi – Qatar
• Muhamad Ahmad Assabian – Arábia Saudita
• Abd al-Fahd al-Harij Menham – Arábia Saudita
• Ezzahran Salam al-Islam Hajlan – Arábia Saudita
• Naoufel Ben Ahmed al-Darij – Arábia Saudita
• Muhamad Hassan al-Sabihi – Arábia Saudita
• Fahad Hamad al-Dousri- Arábia Saudita
• Amjad al-Qassem Tiraoui – Jordania
• Qassem Saad al-Shamry – Arábia Saudita
• Ayman al-Qassem Thahalbi – Arábia Saudita
• Ech-Chafihi Mohamed el-Idrissi – Marrocos
Esta lista identifica apenas os agentes que concordaram em identificar-se. Outros prisioneiros, que não quiseram revelar a sua identidade, representam evidentemente os outros Estados envolvidos nesta guerra de agressão contra a República Árabe da Síria.
Em conformidade com a Convenção de Genebra sobre prisioneiros de guerra, não foram publicadas imagens desses militares.
Em Fevereiro de 2012, cerca de 40 oficiais turcos e cerca de vinte oficiais franceses foram devolvidos aos seu países através do mediador Mikhail Fradkov, director dos serviços de inteligência russos, ou entregues directamente ao almirante Edouard Guillaud, Chefe do Estado Maior das forças francesas na fronteira com o Líbano.
Via: antreus http://bit.ly/2h1GV04

domingo, 18 de dezembro de 2016

Jornal Tornado - Eva Bartlett sobre a Síria

Manuel Castells:"Como projeto de valores e de moral a UE está condenada"

A falta de privacidade na Internet, as notícias falsas e uma Europa ameaçada pelos fantasmas do nacionalismo. Estes foram alguns dos temas abordados pelo cientista social mais citado no mundo, na área da comunicação, em entrevista ao JN. Manuel Castells é professor na Universidade de Berkeley, na Califórnia, e esteve nas Conferências de Gaia, no passado fim de semana.
Estamos rodeados de plataformas ligadas à Internet com informações pessoais. Ainda é possível falar de privacidade na rede?
Tecnologicamente e socialmente não há privacidade. E os primeiros a não respeitar a privacidade das pessoas são os governos. Depois dos atentados do 11 de setembro, em 2001, em Nova Iorque, houve um tal alarme que o Ocidente encarregou a NSA (Agência de Segurança Nacional, dos EUA) de prevenir que novos atentados acontecessem.
O debate em torno dessa questão é global. Há outros países que seguiram o exemplo.
Sim, através da interceção de chamadas e do correio eletrónico. Este trabalho é como encontrar uma agulha num palheiro e para conseguir extrair alguma coisa, tem que se vigiar o palheiro completo. As agências de segurança precisam da informação de todo o planeta. E já não são necessárias ordens judiciais porque todos os assuntos são de interesse nacional para estas agências.
As empresas de tecnologia também têm os nossos dados. Há contas pessoais no Facebook, emails na Google. De que forma é que os usam?
Se não estamos a pagar para usar um serviço é porque os nossos dados são vendidos. O que tem valor são os dados e o que se vende são esses dados. São valores transacionáveis como qualquer tipo de mercadoria. Passamos do capitalismo da ganância monetária para um capitalismo de dados.
Quando fala de dados, refere-se às informações de cada pessoa?
Pode não ser informação pessoal e individual. Mas há uma agregação de informação para a criação de perfis. Com esses perfis conseguem saber e categorizar o que fazemos e o que gostamos. É essa a informação que depois é comercializada. Basta fazer uma pesquisa na página do Google, onde diz que a respeita a privacidade, excetuando o número de telemóvel, a geolocalização, o número do cartão de crédito...
Praticamente tudo.
A partir do momento em que introduzimos os nossos dados pessoais, deixa de existir qualquer tipo de privacidade para as empresas privadas. Essas empresas, como a Apple, a Microsoft e o Facebook sabem e comercializam tudo o que é dado quantificável sobre os seus utilizadores.
E as pessoas sabem isso?
Sim. Acho que estão mais conscientes desta realidade. Mas pouco podem fazer. A única opção é deixar a conexão eletrónica e isso significa sair do mundo. Os governos querem saber tudo sobre os cidadãos e as empresas querem vender todas as nossas informações. É precisamente por isto que o meu próximo livro, que vou lançar em breve, vai chamar-se "Vigiados e vendidos".
Por outro lado, também temos pessoas com telemóvel na mão, prontas a colocar na rede qualquer coisa.
Exatamente. Além de estarmos a ser vigiados sabemos que podemos vigiar e isto é completamente novo. Todos podemos recolher informação e colocar nos sistemas de comunicação que existem. A Internet mudou as relações de poder e a capacidade das pessoas se auto-organizarem está a forçar mudanças políticas. Aconteceu com a destituição parlamentar da Presidente da Coreia do Sul e, apesar das diferenças, no Brasil.
Estamos a falar de tecnologia que continua a evoluir dia após dia. Por outro lado, nos últimos meses, temos discutido a construção de muros.
O Trump não vai construir nenhum muro. Haverá mais sofrimento humano e mais pessoas mal tratadas pelos traficantes de pessoas. Estes muros são mais eficazes para circular no interior da opinião pública xenófoba do que para conter a imigração.
É demagogia?
Sim, mas muito eficaz. Tão eficaz que levou a que determinados líderes tomem controlo e se criem sentimentos de ódio entre a população. Funcionamos todos por emoção antes da razão.
As pessoas vão continuar a cruzar as fronteiras?
Estes fluxos do desespero não se param. As pessoas estão dispostas a morrer pelos seus filhos. Não é por elas, mas pelos próprios filhos. Trump não vai parar a imigração mexicana, porque há uma enorme taxa de pobreza ao lado de uma fronteira com mais de 2 mil quilómetros. As pessoas não vão deixar de fazer isso.
Na Europa também se tem discutido muito o tema da imigração. Nomeadamente no que diz respeito aos refugiados. Também se fala de muros nos países mais a leste.
Há todo um fluxo de uma região, o médio oriente, que está ferida por uma guerra em que a Europa participa. As pessoas tendem a ir para os locais onde se sentem seguras. Na Europa também houve migrações massivas durante a Segunda Guerra Mundial.
A juntar ao debate dos muros, temos visto o crescimento dos movimentos nacionalistas. Como é que isso se explica?
Na Europa, começa a desenvolver-se um terror generalizado. As pessoas têm medo dos islâmicos, dos homossexuais, da emigração. Têm medo de tudo e a solução encontrada é colocar um polícia no Governo que não deixe entrar quem é diferente. É a negação da realidade que pode conduzir a verdadeiras catástrofes.
O terrorismo continua a ser um dos principais receios.
Sim, exatamente. Mas, com o aumento da discriminação, os movimentos radicais vão perpetuar-se. Só em França, há cerca de cinco milhões de muçulmanos. Não são emigrantes, são cidadãos franceses que nasceram lá. Os ataques que a Europa sofreu nos últimos anos, em Bruxelas e em Paris, foram levados a cabo por cidadãos europeus. Não foram emigrantes. Nasceram e cresceram na Europa.
No próximo ano, há eleições em França e na Holanda. Depois da vitória surpreendente do Brexit, o que podemos esperar?
Em Inglaterra, as regiões que votaram no Brexit foram as mesmas que tradicionalmente votam no Partido Trabalhista. Em França, o voto na Frente Nacional é feito por pessoas que votavam no Partido Comunista. Na Holanda, nas próximas eleições, o mais provável é ganhar um partido xenófobo. Há dez anos seria impensável imaginar que três dos quatro países escandinavos estivessem a ser governados por partidos xenófobos. O que está a acontecer é muito grave.
A Frente Nacional e os partidos que lideraram a campanha do Brexit são declaradamente antieuropeus. A União Europeia (UE) estará condenada?
Como projeto de valores, de integração e de moral, a UE está condenada. Foi um projeto maravilhoso nas ideias, mas não era democrático. Os cidadãos europeus nunca foram verdadeiramente consultados. Países pró-europeus temos Portugal e Espanha. A Europa foi a forma que encontraram para abandonar os fantasmas vindos das ditaduras.
A Alemanha, liderada por Angela Merkel, tem sido uma voz ativa na defesa do projeto europeu. Vai resistir a esta onda?
Tal como os países ibéricos, a Alemanha olha para a Europa como uma forma de fugir ao passado. Depois das duas guerras horríveis que provocou, a única forma de voltar a ser encarada como um país respeitado foi como parte da UE. Mas também na Alemanha se está a perder os valores europeus por causa do medo. Os partidos alternativos, com uma identidade nazi, estão a crescer.
Existe algum tipo de escape a estes movimentos?
Há uma crise sistémica. As novas forças políticas com identidade humanitária e europeia vão aproximar-se dos partidos tradicionais. Todo o Mundo estava com medo da eleição na Áustria. A Áustria elegeu um ecologista. A luta final era entre um neonazi e um ecologista humanista.
Logo após a vitória de Donald Trump, houve como que um apontar de dedo generalizado ao Facebook por causa das notícias falsas. É possível regular uma rede social, como acontece com as televisões, as rádios e os jornais?
A regulação terá de passar sempre por um acordo com as empresas privadas, como o Facebook ou o Twitter. No momento em que aparecer um Facebook regulado e controlado, com normas bem definidas, nascerá outro. Há 10 anos, o My Space era a rede social dominante, hoje praticamente não existe. Fracassou depois de se tentar regular e controlar.
Todas as outras plataformas são reguladas.
A diferença de espetro eletromagnético entre os meios de massa e os novos meios é imensa. A Internet tem uma dimensão completamente diferente, que não limita a existência de meios como o que acontece com as plataformas mais tradicionais.
A questão central é a forma como as notícias falsas passam nesses espaços.
Qualquer estudante com conhecimentos informáticos, sem grandes custos, e com acesso a um supercomputador pode criar um site com notícias falsas. Se tiver lucros com publicidade, vai continuar a publicar esses conteúdos. A liberdade que existe de comunicação na Internet não tem volta a dar. Se encerrar um espaço, outros vão abrir.
E não há nada que se possa fazer?
Já há alguma atividade nesse sentido, principalmente de grupos de cidadãos anónimos. Pessoas normais, sem esquemas de censura, que identificam, denunciam e eliminam as notícias falsas da rede. Em lugar de esquemas burocráticos, pode-se criar um debate contínuo na rede para distinguir o que é falso daquilo que é verdade. Esta forma de autorregulação da sociedade é bastante atrativa.
Existe algum tipo de relação entre as notícias falsas e a derrota de Hillary?
É preciso ter em conta que as pessoas aceitam as mensagens de acordo com a disposição perante essas mensagens. As notícias, alegadamente falsas, que favoreciam Trump e atacavam Hillary foram importantes porque havia milhões de pessoas que estavam ansiosas por saber coisas negativas sobre Hillary. Esse é que é o verdadeiro problema.
Então, podemos dizer que as notícias falsas são também uma justificação dos democratas pelo resultado menos positivo?
Sim, de certo modo. Temos que ver que só as elites é que têm acesso a todos os meios de comunicação. A campanha contra as notícias falsas é uma forma de atentar contra a liberdade da Internet. É, também, uma estratégia das elites para retomar o controlo dos canais de informação.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

O genocídio indígena nos Estados Unidos da América
Foto de António Jorge.
Uma sociedade profundamente racista e sanguinária -
O genocídio indígena nos Estados Unidos da América  “Para se compreender no presente a anormalidade animalesca e brutal norte-americana, é preciso em primeiro lugar, analisar o que foi e como foi construída a sociedade americana desde os seus primórdios. Os degredados anglo-saxónicos que povoaram este basto território, entre o Atlântico e o Pacifico, nada tem a ver quando comparados com outros processos de colonização havido noutros pontos do Continente Americano e no Mundo. O processo de colonização nos Estados Unidos, além de ter produzido a maior chacina da história; o desaparecimento do povo natural do território, os índios, foi e é uma sociedade profundamente violenta contra todos os outros povos de etnia não europeia e mesmo dentro das etnias europeias, descriminaram e descriminam os latinos,... São uma sociedade anglo-saxónica radical e absolutamente inumana. É uma sociedade construída pela violência sanguinária e cruel! Dai, o ter chegado ao ponto de utilizar crianças africanas como isco para a caça aos jacarés, porquanto para estes racistas cruéis, os africanos eram animais... e é este povo que ter ter o domínio do Mundo, tendo a Europa da União Europeia, como colaboradora criminosa e submissa, ajoelhada aos Estados Unidos, o Estado verdadeiro do terror no Mundo, desde há muito”.  
O Genocídio dos povos indígenas dos Estados Unidos durante o século XIX, que resultou no massacre de milhões e na destruição irreversível de várias culturas, disfarçado sob a máscara de uma guerra justa, ou guerra indígena, teve características próprias, que diferem o que aconteceu nos Estados Unidos do que aconteceu no restante Continente; América
Central e do Sul, de uma forma dramática

Foto de António Jorge.
Foto de António Jorge.A limpeza étnica do oeste americano tornou-se política oficial do governo americano, que passou a declarar guerra às tribos indígenas sob qualquer pretexto, mesmo quando a origem dos conflitos se devia a agentes externos e não aos nativos.   Assim os apaches foram destruídos pela ação do exército americano após a entrada de mineiros e bandidos no que era legalmente território dos apache. A eliminação dos índios também foi defendida e justificada por dificultarem o trabalho dos empreiteiros e empresários de ferrovias que construíam e cortavam as suas terras com a nova malha viária, ou como uma forma de se desobstruir o solo das planícies, destruindo as suas culturas de subsistência, substituídas por lavouras comerciais em contacto com os mercados consumidores através do novo sistema ferroviário.
Os indígenas foram paulatinamente empurrados pelo governo norte-americano para territórios cada vez mais áridos, inférteis, isolados e diminutos. O antigo "Território Indígena", que cobria a superfície de 4 estados da União, acabou sendo abolido e trocado por pequenas e esparsas reservas indígenas.
Estimam-se em mais de 25 milhões de índios chacinados na América do Norte e destruídos mais de 2 mil idiomas diferentes.
No fim das chamadas "guerras indígenas", restavam 2 milhões, menos de 10% do total dos índios da América do Norte.
Para o etnólogo americano Ward Churchill, da Universidade do Colorado, esse mais de um século de extermínio e, particularmente, o ritmo com que isso ocorreu no século XIX, caracterizaram-se "como um enorme genocídio, o mais prolongado que a humanidade já teve e regista".
O genocídio nos EUA foi um processo claramente controlado e impulsionado pelo governo dos EUA, com o apoio declarado dos sectores que deslumbravam com a possibilidade de lucros com este extermínio generalizado dos índios e a sua substituição por áreas integradas no sistema de comércio, que renderia dividendos a banqueiros, fazendeiros, industriais das ferrovias e implementos agrícolas e outros capitalistas.
Os genocídios indígenas abaixo do Rio Grande em sua ampla maioria foram frutos das ações particulares locais e descoordenadas: fazendeiros que ampliavam os seus domínios de terras e os servos (América Espanhola) ou escravos (Brasil) e que para tanto precisavam destruir a população nativa, mas nada comparável com o que se passou na América do Norte.
Quando o Estado tomou as rédeas do processo de extermínio, sempre pretendeu caçar um único grupo ou tribo, perfeitamente definido quanto à etnia e ao território, como o decreto contra os botocudos elaborado por D. João IV, ou as guerras contra os Kaigang em Guarapuava, ou a questão dos índios araucanos no Chile e os mapuches na Argentina.
Muitas vezes a pretensão tanto de particulares como de governos era não o extermínio completo das tribos, mas a sua interiorização e afastamento das novas áreas arrancadas pela chamada civilização ocidental, como foi o caso das investidas mexicanas contra os apache logo após a independência em 1821 - situação bem diferente da dizimação imposta pelo exército dos EUA poucos anos depois, principalmente dos índios navajo, que quase desapareceram por completo.
Nos EUA o extermínio foi preferencialmente obra de particulares até o século XIX. Durante dois séculos, os colonos que arranhavam a costa leste precisavam para se defender das incursões indígenas – em que algumas tribos que se auto-identificavam como guerreiros violentos, pretendiam apagar os primeiros núcleos colonizadores – o que de facto fizeram no século XVI. A expansão da fronteira para
regiões densamente habitadas por índios, como Albany, na segunda metade do século XVIII, empurraram a participação dos colonos das Treze Colônias na Guerra dos Sete Anos, uma vez que os indígenas se cindiram entre aqueles que estavam com os franceses e aqueles que estavam com os ingleses e os colonos.
As ações do governo estadunidense dirigiam-se para um limpeza étnica geral e irrestrita quanto aos grupos indígenas. Já não faziam mais distinção entre os grupos amistosos ou mesmo aliados e os mais hostis e agressivos.
O extermínio foi feito através da disseminação de doenças ou de longuíssimas marchas forçadas, ou marchas da morte, que atravessavam um ou vários estados inteiros da União, nas quais todos os índios – crianças de colo, mulheres, idosos, enfermos - eram obrigados a fazer, e muitos morriam aos milhares pelo caminho. Essas marchas se destinavam às reservas delimitadas pelo governo americano, que eram os piores pedaços de terra de todo o país, que simplesmente não encontrariam interessados do Homestead Act de 1862, que eram também diminutas, onde muitos índios iriam simplesmente morrer de inanição ou com o impacto de morar em um clima e local totalmente estranhos ao que conheciam, sem que tivessem qualquer forma para se adaptarem às novas condições hostis.
O extermínio ocorreu também por matança pura e simples, através de ataques ocasionais ou grandes operações de limpeza étnica empreendidas pelo exército, ou ainda nesse critério, através de ações de subsídios e gratificações para os particulares que se unissem ao esforço de extermínio, como pagamentos por cada índio morto.
A ideologia por detrás desse processo tinha um esteio bem evidente no darwinismo social e na eugenia, que, no século XX, dariam origem ao nazismo e ao holocausto.
Os genocídios promovidos pelos ingleses contra os colonos holandeses bôeres em 1903 ou os dos alemães contra tribos da atual Namíbia em 1907 (genocídio dos hererós e namaquas) tiveram como primeiro laboratório a política oficial do governo norte-americano para a questão indígena. A posição de que eles deveriam dar lugar para que povos mais civilizados tirassem proveito dos recursos naturais ficava evidente nos discursos dos presidentes dos EUA.
Apesar de ser muito conhecida, a carta escrita em 1854, ao presidente dos Estados Unidos, pelo chefe Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, depois que do Governo norte americano ter proposto a compra do território ocupado por aqueles índios, é uma exceção à regra.
Em geral não havia oferta monetária ou qualquer outra, exceto a troca compulsória de terras vastas e férteis por pequenas reservas estéreis, pedregosas e áridas. Algo parecido foi feito com o povo filipino durante a Guerra Filipino-Americana e o Genocídio Filipino que se seguiu.
“Tentamos correr, mas eles nos alvejavam como se fôssemos búfalos”.
Sei que há alguns brancos bons, mas os soldados deviam ser maus, para disparar contra crianças e mulheres. Soldados índios não fariam isso contra crianças brancas. ”
A limpeza étnica nos EUA foi contundente uma vez que não havia a escapatória de assimilação e mestiçagem, seguida de uma política de branqueamento, que foi largamente empregada na América Latina pelos espanhóis e sobretudo portugueses.
A população branca não deveria se misturar com os índios, o que poderia enervá-la e torná-la decadente, como considerava-se decadentes povos brancos que se miscigenaram com os negros ou índios.
Foto de António Jorge.Por isso, a sua desaparição física tinha que ser clara.
O governo dos Estados Unidos começou a exterminar populações indígenas inteiras, em eficientes operações de limpeza étnica, a começar com a temível varíola, contaminada em roupas e lençóis, que eram distribuídos entre estas comunidades, juntamente com os inúmeros conflitos criados pelo governo norte americano, onde o winchester dos soldados ianques falava mais alto.
Os indígenas sobreviventes eram confinados em reservas cada vez menores e impróprias ao seu modo de vida, e aqueles que impunham qualquer resistência eram sumariamente executados.
Os Cheyenne, por conta das marchas da morte as quais foram obrigados a realizar pelo governo norte-americano, como a Trilha das Lágrimas, enfrentaram outros extermínios.
Em novembro de 1864 houve o Massacre do Riacho de Areia, onde foram mortos mais de cem Cheyenne que estavam sob os cuidados do grande chefe Chaleira Preta. Este brutal ato de genocídio e as mutilações que se seguiram contra os indígenas, fizeram com que os Cheyenne não tivessem alternativa, a não ser entrar em constantes guerras com soldados e colonos ianques, o que causou quase a extinção desta tribo.
Em 1874, o ouro foi descoberto nas Terras Sagradas dos Sioux e Cheyenne, em Black Hills, e em poucos dias milhares de garimpeiros invadiram as terras indígenas.
As batalhas entre garimpeiros e indígenas foram sangrentas e, para garantir a extração do ouro, o governo norte-americano resolveu expulsar os Sioux de suas terras e levá-los para as reservas.
Touro Sentado recusou-se a ir e o exército ianque foi mobilizado para remover o grande chefe Sioux e seu povo da região.
Foto de António Jorge.Tatanka Iyotake viria a se tornar o famoso chefe Touro Sentado, imortalizado pelo cinema e seriados de TV, nasceu em 1831, nas proximidades do Grand River, em Dakota, na tribo Hunkpapa, da linha Sioux. Era curandeiro.
Ameaçado pelo exército dos Estados Unidos, e cansado das invasões dos homens brancos às suas Terras Sagradas em Black Hills, Touro Sentado e Cavalo Louco, ou Tashunkewitko, convocou os guerreiros Sioux, Cheyenne, Arapaho, Hunkpapas, sans arc, pés pretos, Miniconjou, Brule, Oglala, kettles e arikara para seu acampamento no vale de Little Bighorn, para lutarem juntos e defenderem as suas terras e famílias, contra a expedição de Custer, para quem o índio bom era índio morto.
Cavalo Louco, nascido em 1842, em 1866, havia participado do massacre do Capitão William J. Fetterman e sua tropa de 80 homens perto de Fort Kearny (hoje no Nebraska e na altura no território do Wyoming), e que foi considerada a pior derrota que o exército norte-americano sofreu nas mãos dos índios naqueles tempos.
A morte de Custer, nove dias antes da celebração do primeiro centenário do nascimento dos Estados Unidos da América, mobilizou a opinião pública norte-americana, os jornais e os membros do Congresso para alavancarem o extermínio indígena.
Um exército que compreendia dez soldados para cada combatente indígena, foi enviado para o território que compreende o que hoje são os estados da Dakota do Sul e do Norte, Montana e Wyoming, exterminando os indígenas destas terras.
Em 1890, Touro Sentado retornou de seu refúgio no Canadá para vincular uma profecia de que um dia todos os combatentes indígenas mortos retornariam e expulsariam os homens brancos da terra roubada.
No mesmo ano aconteceu o massacre de Wounded Knee, realizado pela Sétima Cavalaria, que barbaramente assassinou 250 indígenas, na sua maior parte mulheres e crianças.
Em 1830, o presidente Andrew Jackson determinou a remoção de várias tribos, Cherokee, Chickasaw, Choctaw, Creek e Seminole, entre os anos de 1831 e 1838, das mais ricas terras do sudeste americano, para míseras reservas a milhares de quilômetros de onde moravam, tendo que cumprir o trajeto – sob pressão dos militares americanos – a pé.
Só entre os Choctaws, entre 2.500 e 6.000 morreram durante a remoção.
Em média, 1/3 da população morreu apenas para conseguir fazer a travessia épica. Por isso esse acontecimento passou para a história como a Trilha das Lágrimas.
O estado da Geórgia desejava obter o direito de dispor das terras indígenas demarcadas por tratados dos tempos coloniais para poder entrega-las à especulação de terras. No desejo de fazê-lo o mais rápido possível, enviou corretores e agiotas para as terras indígenas para fazerem demarcações e loteamentos antes mesmo que os índios fossem obrigados a abandonar o local.
De 1871 a 1934, um modelo de atribuição de terras aos índios foi implementado pelo governo federal norte-americano.
Viveu-se uma política de assimilação forçada (allotment period and forced assimilation); crianças indígenas eram punidas nas escolas por usarem trajes típicos da sua cultura, por praticarem cerimonias tribais, pelo uso da língua nativa; o mote dava-nos conta de que tradições tribais eram inimigas do progresso.
Para que a política oficial do governo americano, do tempo de Washington e Adams , quando os índios eram necessários como patrulheiros e soldados, fosse substituída, era necessário que os índios fossem parar no limbo do formalismo jurisprudencial de meados do século XIX.
À luz de reflexão mais profunda, o momento transita com as complexidades jurídicas de acomodação de ideais democráticos e elementos decorrentes e sub-produtos do capitalismo; tratados eram assinados, mas jamais foram honrados; negava-se cidadania, negava-se também estado político autônomo, sob retórica protecionista, trilha sonora de inegável homicídio.
A opinião do juiz Marshall, do Suprema Corte dos Estados Unidos, que analisou o caso, centrou uma dubiedade que matizava a sua linha de pensar. Desenvolve raciocínio simpático aos índios que na conclusão despreza, ao não aceitá-los como nação livre e independente, reduzindo-os a grupos domésticos e dependentes.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

A revolução esquecida de 1383

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Neste dia, no ano de 1383, começava em Lisboa a primeira revolução burguesa do mundo. Revolução, pela mesma razão que ninguém ousaria chamar «interregno» à Revolução Francesa nem «crise» ao 25 de Abril. Burguesa, porque, ainda que pavorosa aos próprios netos, inaugurou definitivamente o poder dos «homens honrados pela fazenda». E, à semelhança da revolução francesa ou do 25 de Abril, a revolução portuguesa de 1383-1385 também foi condenada ao olvido e à mentira­­ – com a diferença, no entanto, de mais séculos de avanço.

Há 633 anos, a regente Leonor Teles, numa fuga desesperada para Alenquer, prometia esmagar a Revolução queimando Lisboa com «mau fogo», ará-la a carros de bois e encher tonéis com as línguas das mulheres revolucionárias. A redoma de silêncio que cobriu a Revolução quase faz crer que se cumpriu o vaticínio de Leonor. Porque se calaram as vozes de 1383? Quem mandou cortar as línguas dos sublevados de Lisboa?

Compreende-se o desconforto que a Revolução inspira na actual classe dominante: a geração de Soares dos Santos, Américo Amorim e Ricardo Salgado tem mais em comum com os senhores feudais parasitários que, em 1383 se passaram para o lado de Castela do que com a burguesia revolucionária de Álvaro Pais, Gil Fernandes e Álvaro Coitado, construtores conscientes do capitalismo embrionário a que Fernão Lopes chama a Sétima Idade do Mundo «na qual se levantou outro mundo novo e nova geração de gentes, porque filhos de homens de tão baixa condição».

Mas o ódio de morte que, ainda hoje, o capital tem à Revolução de 1383-1385 é mais profundo que a degradação histórica de uma burguesia avinagrada pelos séculos. O que mais assusta os novos senhores das novas glebas é esta inegável verdade histórica: a primeira revolução burguesa do mundo não foi feita pela burguesia, mas pelos trabalhadores. Sob a liderança de ricos mercadores e «homens de cabedal», quem derrubou a velha ordem foram os miseráveis cabaneiros e a «malta das vinhas» sem terra nem pão; foram os braceiros, cabreiros e ovelheiros enlouquecidos pela fome; foram os menestrais das cidades em luta contra os salários tabelados; foram os mancebos e pastores indignados com a Lei das Sesmarias. Foram, como escreve Fernão Lopes, os «ventres ao sol».

Mesmo passados seis séculos, os poderosos ainda engolem em seco ao recordar as imagens de Martinho, Bispo de Lisboa, a voar da torre da Sé e devorado pelos cães; do fidalgo Nuno Rodrigues de Vasconcelos, morto por mulheres lideradas por Margarida Anes, uma humilde adeleira; do senhor Pai Rodrigues, perseguido por fojos e brenhas por centenas de populares; do triste fim da Abadessa de Évora, nua no meio da praça, a suplicar pela vida aos antigos servos… De Norte a Sul, o povo respondia com formidável violência ao quotidiano das violências dos seus senhores: o trabalho até à inanição, as agulhas de albardeiro espetadas nas línguas dos que protestassem; os açoites no pelourinho por dá cá aquela palha; os infinitos serviços pessoais obrigatórios; a polé para os que fugiam à servidão.

De  quem for o reino levá-lo-á

Fernão Lopes escreveu que «Castela era contra Portugal e Portugal contra si mesmo», ou seja, estamos diante de uma revolução social que desencadeia uma intervenção militar externa. Contudo, muitos historiadores não quiseram nunca ver este «Portugal contra si mesmo», preferindo apresentar uma nação monolítica unida contra o inimigo castelhano. De acordo com esta a perspectiva idealista, na raiz da «crise sucessória» estão as circunstâncias da morte de D. Fernando. Já velho, sem descendência e tísico, o filho de D. Pedro, o Cru, é seduzido por uma mulher casada, de origem nobre, cujos «cabelos ruivos parecia que ardiam» e cuja beleza só era ultrapassada pela inteligência: D. Leonor Teles. Deste casamento, feito às escondidas em Leça da Palmeira enquanto a nova Rainha mandava matar quem protestava, nascerá uma única criança: Beatriz, logo prometida a D. Juan, rei de Castela, nos tratados de Salvaterra de Magos. Teria sido esta estúpida decisão que desencadeou a revolução. Nada mais equivocado

Álvaro Cunhal, porventura o primeiro a compreender a Revolução de 1383, é taxativo: «Os historiadores burgueses têm apresentado sempre o casamento da filha única de D. Fernando com o rei de Castela, em 1383, como «erro» de um rei inconstante e imprevidente. A verdade é ter sido tal casamento uma manobra política da nobreza, manobra maduramente reflectida e de efeitos cuidadosamente previstos e desejados. (…) Sentindo o terreno a fugir-lhe debaixo dos pés, incapaz de suster com os seus recursos próprios o movimento revolucionário ascendente, a nobreza procura deliberadamente a entrada em acção contra a revolução ascendente, do aparelho militar da aristocracia territorial de além fronteiras. Nessa sua política, a nobreza de então seguiu o caminho que sempre têm seguido as classes dominantes quando sentem em perigo a sua existência. Ante a ameaça de serem desapossadas dos seus privilégios as classes parasitárias preferiram sempre a uma vitória das forças nacionais progressivas, a dominação do seu país por um estado estrangeiro que abafe a revolução e lhes mantenha esses privilégios».

Com efeito, a Revolução de 1383, como qualquer revolução, não foi concebida por acidente. É o resultado da pressão que, ao longo de toda a primeira dinastia, as classes laboriosas e a burguesia exerciam junto do poder central para aliviar a canga do feudalismo. A sociedade portuguesa vinha prenhe de revolução há séculos, só ainda ninguém tinha dado por isso. E ainda assim, durante todo o reinado de D. Fernando, a nova sociedade fremia, no ventre da antiga.

Ventres ao sol

O Portugal do séc. XIV é uma enorme gafaria de todas as pestes onde não entra a luz. É a idade do sebo humano em todas as coisas. É o tempo da magia e da superstição. Trata-se a dores de dentes com esterco de porco, leite de cadela, fígado de doninha, carne de cobra cozida depois de muito vergastada, raiz de aipo trazida ao pescoço, grão de sal envolvido numa teia de aranha… A sabedoria clássica é um vulto acoitado nas mourarias. Sucedem-se as ondas de loucura e de fome, cada uma pior que a anterior até se comer a sementeira e todos os animais e a hipoteca do futuro. É o fim do mundo que vem de Oriente nas patas de Tamerlão. Mas este é também o tempo de sonhos maiores que a vida, que vêem além de todas as fronteiras históricas. De Inglaterra chegam camponeses refugiados do exército camponês de Wat Tyler, que organizaram greves, puseram cerco à Torre de Londres e recitam de memória passagens de Jonh Ball «Quando Adão cavava e Eva fiava, quem era então o Senhor? Desde o início dos tempos todos os Homens foram criados iguais, e a nossa opressão e servidão veio pela opressão injusta de homens maus (…) Por isso exorto-vos! Chegou o tempo de sacudir o jugo da servidão e recuperar a liberdade». De França chegam ainda os rumores da Grande Jacquerie: com o Palais Royale cercado por dezenas de milhares de pobres; o rei a enfiar na tola o chapéu vermelho e azul dos revoltosos para pisgar-se disfarçado; Guillaume Cale traído e coroado «rei dos pobres» com uma coroa em brasa.
Este é também o tempo de todas as heresias. Begardos, beguinos, fraticelli, lolardos, cátaros, adamitas, taboritas, orebitas ou utraquistas, já vão sendo relaxados por apóstatas ou replaspos, cismáticos ou nefandos. E todos ardem da mesma forma no fogo do Senhor.

No contexto da Guerra dos Cem Anos, cada partido e cada classe escolhe o cisma que mais convém: a nobreza ultra-montana alinha com o anti-papa de Avinhão Clemente VII. A grande burguesia portuguesa alia-se aos seus principais parceiros comerciais: flamencos, prazentins e ingleses do papa Urbano VI.

Burgueses que arroteiam uma courela e servos que a trabalham sobrevivem ambos apertados numa tenaz de humilhações, impostos e obrigações de todas as talhes e feições: são açougagens e brancagens, ajudadeiras e fossadeiras, mealharias e anadarias, montados e mordomados, foragens e portagens, jeiras e corveias, tostões e capitações, jugadas e talhadas, salaios, lombos, dízimos, alcavalas, censos, relegos, anudúvas, banalidades… É caso para se perguntar: ó terra jugadeira, ó terra reguengueira, quanto do teu sal é suor dos servos de Portugal?

Contra este mundo, a 6 de Dezembro de 1383, enquanto o complô burguês liquida o conde Andeiro nos passos da rainha, Álvaro Pais cavalga pela cidade aos brados, «Acorramos ao Mestre, amigos! Acorramos ao Mestre, ca filho é d'el-rei D. Pedro!». Do povo de Lisboa, a burguesia não pretendia mais que a legitimação do assassinato para depois encontrar uma solução moderada: casar o mestre com a rainha ou simplesmente esperar pela libertação de João de Portugal. Este filho de D. Pedro gozava de uma imensa popularidade e surgia como a alternativa óbvia ao rei de Castela mas estava a ferros em Castela desde que Leonor o convencera a matar a própria esposa e sua própria irmã, Maria Teles, prometendo-lhe a mão de D. Beatriz. Mas, consumado o crime, foi denunciado por D. Leonor e obrigado a fugir para Castela, onde acaba agrilhoado. Leonor vencera outra vez.

Mas o povo de Lisboa, mesmo que já houvesse rádios para mandá-lo ficar em casa, não se satisfaz com os planos da burguesia e força-a a transformar o golpe de Estado numa Revolução, forçando depois os homens bons a assumi-la e levá-la até às últimas consequências. É o povo que impede o Mestre de fugir para Inglaterra. É o povo que aclama o Mestre. É o povo que mata o alto burguês Álvaro da Veiga que, com medo das repercussões, se recusa a sair à rua para aclamar o Mestre. É o tanoeiro Afonso Eanes Penedo que, quando os burgueses têm medo de assumir a revolução desembainha a espada «Que estaes vós outros assim cuidando, e que não outorgaes o que outorgaram quantos aqui estão? E como? ainda vós duvidaes de tomar o Mestre por regedor destes reinos, e que tome cargo de defender esta cidade e a vós outros todos? Parece que não sois vós outros verdadeiros portuguezes! (…) Eu em esta cousa não tenho mais aventurado que esta garganta, e quem esto não ha mister que o pague pela sua, ante que d'aqui parta.» Ou seja, aqueles que não têm mais nada a perder que a garganta, descobrem que só assim, com lâminas contra gargantas, é que se convencem aqueles que tudo têm a perder».

Os trabalhadores sabiam que perdendo a aposta acabariam como acabam sempre os camponeses das revoltas falhadas: enforcados pelos chaparros até ao Algarve. É daí que vem a coragem de Aljubarrota e a ferocidade com que se perseguem os grandes fidalgos «e os meudos corriam apoz elles e buscavam-nos e prendiam-nos tão de vontade que parecia que lidavam pela fé». Como um rastilho, a revolução incendeia a terra. Por todas as partes ouvem-se palavras de ordem de «Arraial! Arraial! Mestre de Avis, Rei de Portugal»

Aquello que vosso nom he

Álvaro Pais, cérebro da Revolução, cedo compreende o que tem nas mãos, como demonstra o profético conselho que dá ao Mestre: «senhor, fazee per esa guisa: daae aquello que vosso nom he, e prometee o que nom teemdes, e perdoaae a quem vos nom errou». A revolução distribui entre burgueses, mesteirais e camponeses a terra dos senhores feudais (daae aquello que vosso nom he), promete uma sociedade completamente nova (prometee o que nom teemdes) e indulta todos os que queiram combater do seu lado (perdoaae a quem vos nom errou).

Mas o povo vai mais longe e, nalgumas partes do país, não espera pela revolução burguesa. Em Évora, o povo, liderado por Gonçalo Eanes, cabreiro, e Vicente Anes, alfaiate, massacra a nobreza e expulsa a burguesia sob o pretexto de obrigá-los a ir para Lisboa ajudar o Mestre. Quando o conde de Viana tenta «tomar mantimentos contra a vontade dos seus donos (…) juntaram-se contra ele os das aldeias e comarcas de redor. Emborilando-se eles com eles remessaram-lhe o cavalo e caiu com ele em terra; e foi um vilão rijamente que chamavam de alcunha Caspirre e cortou-lhe a cabeça e assim morreu». No Montenegro (Chaves) improvisa-se uma reforma agrária; em Rio de Onor o povo organiza-se numa comuna; nas Corvelinas institui-se que ali só entram trabalhadores; Em Elvas, os fidalgos entrincheirados no castelo fazem sair um camponês com as mãos decepadas ao pescoço. Em resposta, os revolucionários fazem o mesmo a dois fidalgos. Por todo o Alentejo a insurreição popular vai ganhando contornos de Jacquerie até o próprio Nuno Álvares Cabral ter de intervir militarmente e mostrar aos camponeses que ainda terão de esperar mais seiscentos anos. Ainda assim, quem disse que o povo é sereno não sabe quem foi Caspirre.

Desesperado, resta ao caquéctico Portugal feudal pedir ajuda a Castela, que entra pela Guarda aglutinando a alta nobreza portuguesa. Ficam temporariamente esquecidas as Guerras Fernandinas: esta é uma guerra de classe. A própria Leonor, contrariada, entrega o regimento ao rei de Castela, danando assim os Tratados de Salvaterra. Mas a Aleivosa tem uma última carta na manga: casar-se com Pedro de Trastamara (primo do rei de Castela), convencê-lo a matar o rei, fugir para Coimbra e governar Castela e Portugal. O plano, contudo, é descoberto e Leonor irá passar os seus últimos dias presa num convento em Tordesilhas.

A guerra intensifica-se. Lisboa é cercada duas vezes, uma das quais durante cinco meses sujeitando a cidade a uma brutal poliorcética de fome e terror. Mas o povo não cede. Na Batalha dos Atoleiros, em Abril de 84, as forças portuguesas, com apenas 1500 homens, derrubam um exército espanhol nutrido de 5000 soldados sem sofrer uma única baixa. No ano seguinte, Aljubarrota dará o golpe final.

Conta Fernão Lopes que «n'aquelle tempo Arraia meuda, os grandes escarnendo dos pequenos chamando-lhe povo do Messias de Lisboa que cuidavam que os haviam de remir da sujeição d'el-rei de Castella. Os pequenos aos grandes depois que cobraram coração, que se juntavam todos em um, chamavam-Ihe traidores scismaticos que tinham da parte dos castellãos por darem o reino a cujo não era. E nenhum por grande que fosse era ouzado de contradizer a estos nem falar por si nenhuma cousa, por que sabia que como falasse morte má tinha logo prestes, sem nenhum mais puder ser bom. E era maravilha de ver que tanto esforço dava Deus n'elles, e tanta cuvardice nos outros que os castellos que os antigos reis por longos tempos, jazendo sobre elles com força de armas, não podiam tomar, os povos meudos, mal armados e sem capitão, com os ventres ao sol, ante de meio dia os filhavam por força».

Voltemos a Lisboa, há tantos meses cercada pelas tropas de Castela que já não se sabe se ainda lá dentro há vivos. Então, do castelo de Palmela, os revolucionários acendem uma fogueira tão grande que pudesse ser vista pelos resistentes de Lisboa. É o povo que, em delírios de fome e aos gritos pelas ruelas, diz ver as chamas na lonjura. É o povo que, só vivo de comer cadáveres, e ervas daninhas, sobe ao castelo e São Jorge e, em resposta, acende outro fogo tão alto e luminoso que não chega só a Palmela lá na outra banda, mas tão imenso que, hoje mesmo e tantos anos depois, olhando da perspectiva certa pode-se ver como ainda arde.

Bibliografia:
Lopes, Fernão - Crónica de D. João I
Cunhal, Álvaro - As Lutas de Classes em Portugal nos fins da Idade Média,
Borges Coelho, António - A Revolução de 1383
Cortesão, Jaime - Os factores demográficos na formação de Portugal

Ilustrração principal:
Bep Boatella - What happened in the “Grande Jacquerie”
Outras pinturas:
Álvaro Cunhal - Óleo sobre tela
Jaime Martins Barata - Fresco no Palácio de Justiça de Fronteira
Jean Wavrin - Crónica de Inglaterra
Anónimos

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Manifesto 74
O choque da pobreza cubana
segunda-feira, 28 de novembro de 2016
Publicado por Ricardo M Santos
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAa6q10rXFanm_Nvb7E6y3xuuQECCywYH4li3Tt1F7JR1ujwOmRpT8gn6MnOVLdPbe9YU25At-u66bEHFb874AtWkGyQ6hg9VR6jxf8d4XKWoGKOjwLhHQ0khnhA095BFeS4PMARu0sZFL/s320/fidel_mandela.jpgA morte de Fidel foi mais um pretexto para a o avanço da ideologia dominante na propagação da ideia de que ou há este caminho ou não há caminho nenhum. Da social-democracia mais à esquerda ou mais à direita, poucos são os que têm coragem de assumir que as conquistas cubanas são tão profundas e importantes que não podemos compará-las com as democracias haitianas, porto-riquenhas ou dominicanas. É que, por incrível que possa parecer, é com esses países que Cuba deveria ser comparada. Porque foram países brutalmente colonizados, explorados nos seus recursos e nos seus povos. Porque era lá que os homens de família que deslocavam em negócios de saias, enquanto enchiam a boca com o moralismo e a santa madre igreja. No entanto, o progresso cubano foi tão expressivo que o comparamos com os países desenvolvidos, ou exploradores, como preferirem. E, por incrível que possa parecer, Cuba supera esses países em categorias tão importantes como a saúde infantil, materna, educação, tratamento do HIV, acesso à habitação. Mas o que importa isso?

Como é que é possível um país não ser aberto só porque o seu líder sofreu 638 tentativas de assassinato por parte da maior potência mundial, fora as tentativas de golpe de Estado?

Claro que o embargo não explica tudo. Afinal, o que pode explicar um país não poder efectuar trocas comerciais com outros? Olhemos para nós, que não nos importamos nada, nem há manchetes e campainhas e alarmes de cada vez que a nossa balança comercial se inclina para um lado ou para o outro? Um embargo não explica tudo.

Um embargo não explica tudo. Os cubanos pedem sabonetes e champôs aos turistas, onde já se viu. E o embargo não tem nada a ver com isto. Ainda se fossem sem-abrigo e pedissem pão, isso sim, era liberdade, democracia e desenvolvimento.

Então e tu? Já visitaste Cuba? Ou reges-te pela imprensa, que lhe é tão favorável. Claro que sim. A imprensa, ao serviço da classe dominante que abomina e silencia tudo o que foi alcançado com a revolução cubana. A mesma imprensa que, no entanto, é obrigada a noticiar que é em Cuba que são operados doentes portugueses com cataratas. Fora isso, Cuba é um pesadelo. Nunca lá foste, pois não? Então não sabes nada.

O embargo não explica que o sistema eleitoral cubano não seja democrático porque não está de acordo com as nossas democracias amadurecidas, como a dos EUA, em que é possível, numa eleição uninominal, ser eleito alguém com menos votos. Mas pelo menos há eleições. Em Cuba também, mas não importa. As de Cuba são más porque são em Cuba.

E a pobreza em Cuba? Que é muito mais pobreza do que em qualquer cidade sul-americana? Os pobres em Cuba deviam ser pobres como os do Haiti, não é como os cubanos. Onde já se viu, andarem a pedir sabonetes. Já disse que deviam pedir comida e um abrigo, sei lá, não disse? Isso sim, é pobreza menos má, porque é nossa, e olhamos e atravessamos a rua e está resolvido. Agora pobreza quando vamos de férias? Onde já se viu? Nós habituados a ir a Paris, Londres, Barcelona, Madrid, Berlim e lá não há miséria, seus burros. São carências. Claro que não tem a ver com a expulsão dos habitantes locais das grandes cidades para os arredores, transformando-as em enormes centros turísticos, sem a pobreza, que incomoda tanto.

Sim, os putos sabem ler e escrever em Cuba, ao contrário de 200 milhões de crianças por todo o Mundo. Têm aulas de música, desporto e artes que aqui só temos se pagarmos. Muito. Mesmo muito. Pá, mas aquilo não é uma democracia porque não pensam como nós.

Sim, a saúde, está bem. Só porque tem um médico para cada 150 pessoas? Isso justifica alguma coisa? Até parece que, aqui, se eu precisar de um médico não posso ir ao privado. Está bem, tenho de ter um seguro de saúde e pagar por isso. Mas pronto. Posso ficar no público à espera. E se for urgente temos as urgências. Pagamos? Ok, mas ganhamos muito mais que os cubanos, até andam alguns a ver se a gente chega aos 557 euros por mês, em vez dos 600, é porque devemos estar bem. Depois, é pagar luz, água, gás, passe social, renda ou empréstimo e paga-se a consulta nas urgências com o que sobrar.

Fidel foi um criminoso porque matou pessoas durante a revolução. Que importa se o país permaneceu ameaçado, interna e externamente, pelos EUA? Onde já se viu, fazer uma revolução e assassinar pessoas? Isto não ia lá com veludo, ou com cores, ou com estações do ano, como se tem visto com tanto sucesso? Era preciso uma revolução tão revolução?

Depois há os outros, que sim, Cuba tem coisas boas, como o ensino e a educação, mas. Claro que mas. Uma das principais opositoras cubanas vive na ilha, é paga por George Soros e é conhecida por ser blogger, entrando e saindo da ilha quando quer. Numa ilha sem internet, sem nada, onde se comunica por sinais de fumo. De charuto, claro. Nem liberdade, como canais de rádio e TV que emitem diariamente a partir de Miami. Para onde vão os democratas cubanos, com subsídios do governo norte-americano, desde que não cheguem de avião. Se chegarem de avião, não têm visto.

E os médicos, engenheiros, professores que passam por tantas dificuldades? E os nossos todos aqui tão bem nos callcenter e na Uber ou emigrados ou a servirem de mão-de-obra barata nos supermercados, através das empresas de trabalho temporário? Pelo menos podem sair do país. Em Cuba também, desde que não vão de avião e para os EUA.

Matou pessoas, Fidel. Foi um criminoso sem um pingo de humanidade. Democracia em Cuba, só mesmo em Guantánamo. Devia ter sido mais como nós, que somos cheios de humanidade, mas estamos no lado dos que votaram para eleger um presidente que se recusou a condenar o Apartheid. Curiosamente, Fidel foi uma das pessoas a quem Mandela agradeceu todo o apoio dado à causa dos negros sul-africanos, bem como à libertação de países daquele continente.E o Amílcar Cabral. Tudo bem, mas não era preciso matar pessoas, até parece que não se resolvia a descolonização de outra forma, com paciência e jeitinho.

A malta é de esquerda e está com a Palestina. Fidel é um criminoso admirado na Palestina pelo apoio dado àquele povo, às tantas temos aqui um problema, mas não, porque teremos sempre um mas. Matou pessoas e tudo numa revolução. Que bruto. Em vez de abrir o país à democracia de modelo burguês ocidental, como fez ao Chile de Allende. Morreu mas pelo menos morreu cheio de democracia imposta pelos nossos aliados. O Pinochet é que sabia.

A gente é de esquerda e até esteve pelo Obama. Guantánamo? Mas ele é mesmo cool. Viste-o naquele talk-show? Super engraçado.

E aquelas férias na Tailândia? Que importa o turismo sexual, os pobres lá são muito melhores. Mesmo que, à chegada, nos digam quais os locais para onde podemos ir sem correr o risco de ser assaltados. A pobreza lá é muito melhor. Não pedem champô nem sabonetes. Isto sim, são pobres à maneira. Nem falo na Índia. Lá é que a pobreza é como deve ser.

E Marrocos? É lindíssimo o Saara Ocidental. Presos saarauís? Mas os pobres lá são de categoria, tens é de entrar e fechar-te no hotel e escolher bem o percurso com os guias. Estes ao menos não te pedem champôs. Mas, se puderes deixar ficar uns dólares… Aquele deserto é lindo.

A gente quer é escrever as nossas sentenças nos nossos smartphones feitos com mão-de-obra escrava, a nossa roupa cosida por crianças e poder dar às nossas crianças os brinquedos que são feitos por crianças mais pequenas do que elas. Nenhuma delas é cubana, podem ser haitianas, salvadorenhas ou porto-riquenhas, mas aquela pobreza lá, com pessoas que pedem champôs e sabonetes, choca muito qualquer um.

Cuba não é o paraíso na terra. Mas também não é o inferno que são os seus vizinhos sul-americanos. Por muito que isso custe a quem gostava que fosse.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Edward Snowden: “O programa de drones cria mais terroristas do que os que mata”

Lena Sundström    04.Dic.16    Outros autores
Reflexões de um homem que conhece por dentro o sistema de espionagem e de devassa da vida privada não apenas dos cidadãos dos EUA mas dos de qualquer parte do mundo que utilize um sistema de comunicação digital ou analógico. E que teve acesso a documentação não apenas de um infindável rol de crimes de terrorismo de Estado, e da hipócrita linguagem com que tais crimes são descritos.
No quarto de um hotel em Moscovo, sob medidas de segurança, Snowden, de 32 anos, passa os seus dias e as suas noites ligado à Internet, proferindo conferencias para estudantes universitários dos EUA ou, na realidade, de qualquer parte do mundo.
Ao contrário da ideia de que o exiliado político costuma ser um individuo privado de algumas liberdades, sem ligações possíveis com o seu país de origem, Snowden está a demonstrar que essa estratégia contra os dissidentes políticos começa a falhar.
O seu novo propósito é “ajudar os activistas e dissidentes que têm algo que dizer, algo que contribuir para as suas sociedades”, por isso assegura que não importa onde se encontre porque de todas as formas a sua voz será ouvida.
Desde que em 29 de Setembro de 2015 enviou o seu primeiro tweet com a mensagem “Can you hear me now?” (“¿Podes ouvir-me agora?”) Edward Snowden alcançou em pouco tempo 1,5 milhões de seguidores. Entretanto ele apenas segue uma conta, a que corresponde à NSA.
Este homem, que decidiu abandonar o seu cómodo - embora ilegítimo - trabalho como analista para Booz Allen Hamilton (subcontratado da NSA) para pôr em xeque o regime de Obama com a revelação de informação sobre a espionagem aos cidadãos, está convencido de que os dissidentes como ele são uma força extraordinariamente poderosa que começa a ameaçar os governos.
Nem sequer a NSA sabe quantos documentos levou consigo. As estimativas afirmam que Edward Snowden teve acesso total a 1,7 milhões de documentos e que entregou entre 50.000 e 200.000 documentos aos jornalistas Glenn Greenwald e Laura Poitras, a realizadora do documentário ‘Citizenfour’, sobre a prática de intervenções electrónicas ilegais da Agencia de Segurança Nacional, a perseguição do regime dos EUA a Snowden e a fuga deste.
Durante a entrevista à repórter Lena Sundström Snowden não parou de falar sobre a (falta de) ética e a (falta de) moral do jornalismo dos EUA, a política externa contra o terrorismo, a Internet e as redes sociais, e em especial sobre a linguagem dos militares, a continuidade das prisões secretas e os assassínios em massa de civis inocentes em zonas de conflito.
Se alguém crê ser capaz de avaliar as tendências totalitárias ou o estado de direito num país baseando-se no nível dos automóveis, restaurantes ou a última colecção de primavera de Stella McCartney engana-se a si mesmo. A pobreza é visível. A falta de democracia não.
Centros de tortura
“O facto de estarmos a pedir a países como a Suécia que permitam voos nos quais se trasladam ilegalmente supostos terroristas, ou que outros países como Roménia e Polonia possam alojar prisões secretas, tal como na Tailândia, onde tinham centros de tortura, faz com que estes países comecem a pensar que estarão de acordo com isso (…) porque se os EUA o fazem, deve estar certo.
A guerra contra o terrorismo
O regime “legitima-se pela ameaça do terrorismo, dizendo que salvará vidas e que qualquer pessoa que se lhe oponha corre o risco de manchar as mãos de sangue”, supostamente porque se não matas os terroristas eles te matam a ti ou a soldados da tua pátria.
“O programa de aviões não tripulados cria mais terroristas do que os que mata. Não existia o Estado Islâmico até começarmos a bombardeá-los. A maior ameaça que enfrentamos na região nasce das nossas próprias políticas”.
“Durante o governo de Bush, as pessoas foram sequestradas em todo o mundo e arrojadas nas prisões secretas, onde foram torturadas. Durante o governo de Obama os sequestros, as prisões secretas e as torturas foram substituídas por listas de morte e execuções extrajudiciais de pessoas, levadas a cabo por aviões não tripulados conhecidos como drones”.
“Os documentos mostram que nove em cada 10 pessoas assassinadas por drones não eram os objectivos previstos, mas civis que são depois classificados como inimigos mortos em acção, o que tem melhor aspecto estatisticamente”.
Também mostram quem decide sobre um objectivo. Como Secretária de Estado, Hillary Clinton foi uma dessas pessoas. Os documentos demonstram igualmente algo de que Edward Snowden falou anteriormente.
“A maioria dos ataques com drones não é dirigida contra indivíduos mas contra telefones móveis. E quem dirige el ataque não tem qualquer ideia se a pessoa que transporta o telefone móvel é o objecto da perseguição ou é a sua mãe que ocasionalmente pegou nele. É por isso que há tantos erros nos ataques com drones, e tantas festas de casamento atacadas. A informação que utilizam é perigosa e pouco fiável.
Quando vi estes documentos, não tive qualquer dúvida de que esta é história geopolítica mais importante do ano”, diz.
“A maior ameaça que enfrentamos na região nasce das nossas próprias políticas”.
Serviço de inteligência
“A informação que usam é perigosa e pouco fiável”.
“Não há confirmação mais forte de que o Governo participa em actos ilícitos que os documentos governamentais que detalham as suas próprias malfeitorias”.
“Depois do 11 de Setembro de 2001 mais de 1.200 organizações governamentais e quase 2.000 empresas privadas se viram subitamente a trabalhar no controlo do terrorismo. Quase cinco milhões de estado-unidenses tinham algum tipo de autorização de segurança, e cerca de 1,4 milhões tinham acesso a material altamente secreto. Como alguém o descreveu: ‘As autorizações de segurança foram entregues como Kleenex’”.
Todas competem entre si, todas querem descobrir e matar mais “terroristas”, e assim mantêm ou aumentam o seu orçamento para o ano seguinte.
Linguagem de guerra
“Em linguagem militar tudo é um acrónimo, tudo é um eufemismo. Não se diz assassínios, diz-se neutralizações. Não se diz ‘matar’, mas ‘operação de captura’, embora ninguém vá ser capturado. Eles têm sua própria cultura”.
“Quando utilizam a palavra ’segurança’ não estão a falar disso mas de estabilidade. Tal como quando eles dizem que estão salvando vidas quando bombardeiam pessoas”.
“Os estudos sobre a tortura da CIA demostraram que nunca houve informação de inteligência significativa sobre o tema, apesar de terem torturado muita gente durante muitos anos. O costo disso não inclui apenas a logística das prisões secretas mas também o dinheiro - estamos a falar de milhares de milhões de dinheiro dos contribuintes - que foi gasto para torturar as pessoas.”
Sobre o jornalismo
“É decepcionante que a grande imprensa nacional, jornais como o ‘Washington Post’, ‘The New York Times’, evitem informar sobre histórias como esta, por razões de concorrência, inclusivamente quando há interesse público em fazê-lo”.
“Não é suficiente que se possa escrever qualquer coisa. Os jornalistas devem sentir ao menos a obrigação que corresponde à realização de um serviço público. Ajudar as pessoas a entender aquilo que necessitam saber, tanto como o que querem saber”.
Mas dado que as revelações de Snowden mostraram que nem sequer os jornalistas mais próximos do regime se salvavam da espionagem da sua vida privada, as coisas mudaram.
“Hoje em dia muitos jornalistas de investigação nas democracias ocidentais trabalham com notas escritas à mão, passeios ao ar livre, correspondência com código encriptado e telefones celulares colocados em microondas quando se trata de material sensível”.
Política
Obama disse que a publicação das revelações de Snowden “prejudicou os EUA e as nossas capacidades de inteligência, havia uma forma de acompanhar estas conversas sem causar tal dano.” A candidata presidencial Hillary Clinton opinou o mesmo, agregando que os EUA têm uma tradição de protecção aos que alertam (whistleblowers).
“A tradição estado-unidense com respeito aos que alertam é enterrá-los”, diz Edward Snowden. A imprensa tão-pouco esteve nisso de acordo com Hillary Clinton. Escreveram que estava completamente equivocada tanto legal como histórica e retoricamente, uma vez que é óbvio que não é assim que tem sucedido.
Gente que alertou, como Edward Snowden, Daniel Ellsberg e Chelsea Manning - que proporcionou documentos secretos a WikiLeaks - podem dar testemunho disso. Mas há muitos mais. Desde 2007 o FBI vem provocando a queda em desgraça, o suicídio ou a fuga de altos responsáveis da NSA.
Terminologia militar
“Na linguajem militar tudo se converte em siglas, tudo se reescreve para que soe melhor. Não se diz execuções, diz-se homicídios selectivos. Diz-se que alguém deve ser “dado como baixa / capturado” mesmo que se saiba que um drone não vai capturar ninguém. É uma cultura.
Há uma grande quantidade de abstracção nisso. Não querem pensar no facto de que na realidade estão a matar pessoas, que essas pessoas podem ter família. Querem pensar neles como coisas, objectivos, como peças de um quebra-cabeças. Da mesma forma, não querem pensar que estão a entrar no coração da infra-estrutura mais importante para a comunicação no mundo - Google. Que, literalmente, te permite entrar na vida privada de cada um.
Querem pensar nisso como parte de uma infra-estrutura que pode ser uma valiosa fonte de informação de inteligência.”
http://www.dn.se/nyheter/fem-timmar-med-edward-snowden / 
in ODiário info

Solidários com Julian Assange, pelo muito que lhe devemos

ONU rejeita apelo do governo britânico sobre Assange
– Esta notícia foi omitida pelos media corporativos e o vídeo já foi retirado da internet.
por Christoph Peschoux
No dia 30 de Novembro de 2016 as Nações Unidas rejeitaram a tentativa de recurso do Reino Unido contra a decisão de Fevereiro da ONU em favor de Julian Assange.

A decisão portanto mantém-se em vigor e exige ao Reino Unidos e à Suécia que ponham um fim imediato à detenção de Julian Assange e lhe conceda compensação monetária. No ano passado as Nações Unidas concluíram o longo processo de 16 meses no qual o Reino Unido era uma das partes. O Reino Unido perdeu, recorreu e hoje perdeu outra vez. A ONU instruiu o Reino Unido e a Suécia da darem passos imediatos para assegurar a liberdade, proteção e desfrute de direitos humanos fundamentais do Sr. Assange. Nenhuns passos foram tomados, pondo em perigo a vida, a saúde e a integridade física do Sr. Assange, além de minar o sistema das Nações Unidas de proteção de direitos humanos.
Agora, as Nações Unidas consideraram que o pedido do Reino Unido de revisão desta decisão (apresentado em 24 de Março) era inadmissível. Assim, o Reino Unidos chegou ao fim da estrada na sua tentativa de derrube da decisão. Como membro do Conselho de Segurança e do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, o Reino Unido deve respeitar seu compromisso para com as Nações Unidas e libertar o sr. Assange imediatamente. Agora, mais do que nunca, é necessário liderança moral. Manter a detenção efectiva do sr. Assange (a qual em 7 de Dezembro de 2016 fará seis anos) só servirá para dar sinal verde a abusos futuros contra defensores do discurso livre e dos direitos humanos.
O Sr. Assange declarou: “Agora que todos os recursos estão esgotados espero que o Reino Unido e a Suécia cumpram suas obrigações internacionais e deixem-me livre. É uma injustiça óbvia e grotesca deter durante seis anos alguém que nem sequer foi acusado de qualquer delito”.
Excerto do
Comunicado de Imprensa da ONU :
“O grupo de peritos da ONU também considerou quatro pedidos de revisão de opiniões anteriores, apresentados pela República Árabe do Egipto, o Estado do Kuwait e o
Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte . O Grupo de Trabalho concluiu que os pedidos não cumprem as condições para uma revisão tal como estabelecido no parágrafo 21 dos seus métodos de trabalho e que portanto não eram admissíveis.
Via: GPS & MEDIA http://bit.ly/2h7UAnN

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Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

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Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.