Translate

quarta-feira, 28 de setembro de 2016


Que futuro para as FARC?

Em Cartagena de Indias ,foi ontem,26 de Setembro, assinado o Acordo Definitivo de Paz ,que poe termo na Colômbia a uma guerra de 52 anos .
Miguel Urbano Rodrigues presta homenagem às FARC-EP, mas distancia-se do otimismo que na cerimonia , a que compareceram 14 chefes de estado e de governo, expressaram o presidente Juan Manuel Santos e o comandante-chefe da organização guerrilheira, Rodrigo Londoño.
O Acordo Definitivo de Paz foi assinado no Centro de Convenções de Cartagena de Índias, no dia 26 de Setembro, pelo comandante chefe das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exercito Popular e o presidente Juan Manuel Santos.
Compareceram 14 chefes de estado e de governo, entre os quais o general Raul Castro. John Kerry, secretário de Estado dos EUA, representou o seu país. Presentes também as delegações das FARC-EP e do governo colombiano que durante quatro anos negociaram o Acordo de Paz em Havana.
Ban Ki- Moon, secretário-geral da ONU, abriu a serie de discursos. Falaram depois, o comandante chefe das FARC-EP, Rodrigo Londoño (aliás Timochenko) e o Presidente Juan Manuel Santos. Este ofereceu a Londoño uma miniatura da pomba da paz.
No próximo dia 2 de outubro, o Acordo será submetido a um plebiscito nacional.
O ex presidente Álvaro Uribe e as forças de extrema-direita que o apoiam empenharam-se numa campanha feroz contra o Acordo, mas tudo indica que o povo colombiano o aprovará por ampla maioria.
O presidente Juan Manuel Santos e o comandante Timochenko expressaram otimismo nas suas intervenções, refletindo a grande esperança de paz do povo colombiano. O fim do conflito armado (52 anos de guerra) é uma realidade, mas a chamada reconciliação nacional é, por ora, uma impossibilidade.
MUITA INCERTEZA NO HORIZONTE
As FARC-EP vão transformar-se em Movimento Nacional, decididas a desempenhar um papel fundamental na vida do país.
Mas as perspetivas do futuro são nevoentas.
Em algumas das antigas frentes a entrega das armas é tema polemico que não suscita unanimidade.
Abstenho-me de previsões.
Sei que os comandantes que em Havana participaram das negociações com os representantes governo enfrentavam uma situação muito difícil.
Por um lado, os meios de deteção no solo da guerrilha são hoje muito mais eficazes graças a sofisticadas tecnologias eletrónicas cedidas pelos EUA à força aérea colombiana. Simultaneamente, segundo observadores internacionais, as FARC-EP não contavam já com a solidariedade das populações camponesas nas principais zonas de combate. E essa carência de um apoio maciço dos camponeses dificultava extremamente a movimentação das guerrilhas. A morte de dirigentes fundamentais como o comandante chefe Manuel Marulanda – um herói da América Latina – e a perda de chefes históricos como os comandantes Raul Reyes, Jorge Briceño e Alfonso Cano, assassinados pelas Forças Armadas, foram duros golpes para as FARC-EP.
Não são somente os chefes guerrilheiros que encaram o futuro com muita apreensão. Os dirigentes que firmaram a paz também conservam a memória inapagável do que aconteceu à união patriótica após os acordos de La Urive assinados durante o mandato de Pestrana que criaram a zona demilitarizada.
O temor de que essa tragédia se repita é real. Uribe e os grupos paramilitares não hesitarão em optar pelo terrorismo com o apoio da oligarquia rural.
UMA GUERRILHA HERÓICA
Reafirmei ao longo das últimas décadas a minha solidariedade com as FARC-EP.
Caluniada, combatida pelo mais poderoso exército da América Latina, armado e financiado pelos EUA, colocada pela ONU e pela Comunidade Europeia na lista das organizações terroristas, a guerrilha-partido de Manuel Marulanda, assumindo-se sempre como marxista-leninista, entrou há muito na História como protagonista de uma epopeia.
Com exceção do vietnamita não se encontra precedente comprável ao seu na luta revolucionária de um povo pela liberdade e independência.
A certeza de que o futuro se apresenta carregado de nuvens sombrias para os combatentes desmobilizados das FARC-EP não afeta minimamente o meu respeito e admiração por essa gente maravilhosa.
Tive a oportunidade de conviver durante semanas no acampamento do comandante Raul Reyes, em El Caguan, com homens e mulheres das FARC. Mantive com Reyes ate à sua mort contato amistoso.
Desenvolvi ,antes e depois, com o comandante Rodrigo Granda laços de uma amizade fraterna.
Numa jornada inesquecível em La Macarena conheci o comandante-chefe Marulanda que me concedeu uma entrevista posteriormente publicada pelo Avante!
Registo que encontrei na vida poucos comunistas tão preparados ideologicamente como os comandantes das FARC que conheci.
Cumpro um dever ao prestar com estas palavras a minha modesta homenagem às Forças Armadas Revolucionarias da Colômbia – Exército do Povo.
Vila Nova de Gaia, 27 de Setembro de 2016
Miguel Urbano Rodrigues | ODiario.info

Interessante texto!

Pós-teísmo

Don CupittDesde a década de 50 nossa civilização ocidental passou por transformações culturais profundas. Chamamos isso genericamente de pós-modernismo. É um conceito bastante controverso, porém suficientemente sedimentado nas ciências sociais para ser simplesmente rejeitado. As mudanças ocorreram na arquitetura, arte, literatura, moda, economia, comunicações, transportes e mudaram substancialmente nossa percepção de mundo, as relações interpessoais e diluíram identidades baseadas em noções de território, nacionalidade, etnicidade, política e religião.
Os sistemas religiosos baseados na consciência do pecado, da culpa, da expiação e redenção foram fortemente impactados com essa diluição identitária. Os grandes sistemas religiosos são herdeiros da revolução neolítica e foram criados para atender à estrutura política e ideológica das civilizações que nasceram a partir disso e dominaram o mundo pelos cinco a sete milênios posteriores. Foi a religião das cidades-estado, dos impérios sagrados e ancoradas no dualismo entre o sagrado e o profano, nas identidades territoriais e coletivas. Os impérios da era neolítica substituíram as religiões animistas com seus espíritos errantes e impuseram a disciplina dos deuses da guerra, muito mais poderosos e exigentes.
O contraponto a isso ocorreu na Grécia com a desmitificação da religião, especialmente na filosofia platônica. A filosofia mostrou o quanto a religião e todos os aspectos de nossa vida são governados pelos signos da linguagem que criamos, isto é, a estabilidade do mundo depende da estabilidade dos nossos signos linguísticos. Enquanto eles permanecerem inalterados, teremos um conjunto de explicações coerentes do mundo. Posteriormente a metafísica platônica foi fundida à metafísica cristã numa relação de subordinação. Essa relação gerou o teísmo filosófico ou filosofia realista de Deus, cujo fundamento enlaça elementos do judaísmo e do cristianismo numa narrativa histórica do mundo, que por séculos justificou a missão civilizadora da Europa em suas conquistas coloniais e missionárias.
Foi preciso o aparecimento da modernidade e a criação da filosofia crítica para separar a filosofia da metafísica e isso não foi possível sem que se degolasse as duas metafísicas, platônica e cristã. Portanto, de Descartes a Derrida as ilusões da metafísica ocidental foram sendo demolidas, e, juntamente com ela, a credibilidade e inteligibilidade de Deus. O resultado foi o fim do teísmo, da crença em absolutos e a crise dos sistemas religiosos baseados em regras estabelecidas a serem rigidamente observadas.
No Cristianismo essa crise começou a cristalizar-se no período pós-iluminista.  O século 19 foi agonizante para a teologia cristã. Depois de Hume e Kant, a metafísica ruiu e o que sobrou dela foram versões seculares da escatologia cristã e o historicismo. Na década de 1880 a velha ordem havia sido quase tão completamente desmontada que Nietzsche anunciou a “morte de Deus”. A narrativa está no livro “A Gaia Ciência”; é a metáfora de um homem louco que vai ao mercado numa ensolarada manhã com uma lanterna acesa gritando que procura a Deus. As pessoas, que já não acreditavam mais em Deus, riem e perguntam se ele emigrou, se está viajando ou dormindo.
O homem louco então começou a discursar para eles e disse que Deus estava morto e eles eram os responsáveis por tal ato; começou a fazer-lhes questionamentos pungentes, no que silenciou todo o mercado. “Como foi que matamos Deus? Como conseguimos esvaziar o mar? Quem nos deu uma esponja para apagar o horizonte inteiro? Que fizemos quando desatamos esta terra do seu sol? Para onde vai ele agora? Para onde vamos nós mesmos? […] não estamos incessantemente a cair? Não estamos errando através de um vazio infinito? Não anoitece eternamente? Não ouvimos ainda o barulho dos coveiros que enterram Deus? Quem nos limpará este sangue? Que água poderá nos lavar?”
A parábola termina com o homem entrando em várias igrejas no mesmo dia. “Expulso e interrogado teria respondido da mesma maneira: ‘O que são estas igrejas senão túmulos e monumentos fúnebres de Deus?” A metáfora do homem louco de Nietzsche prenunciava o fim da religião como aquelas pessoas a conheciam e o triunfo do niilismo. Essa crise teológica e de consciência teve como epicentro a Alemanha até disseminar-se para outros lugares. Foi preciso aproximadamente sete décadas para que essa consciência viesse a cristalizar-se na Europa com o nome de pós-modernidade.
Esse é o tema do livro Depois de Deus: o futuro da religião (Editora Rocco, 1999), do filósofo e clérigo inglês Don Cupitt. O autor discute como a religião ainda pode sobreviver numa ordem cultural marcada pela morte de Deus. Cupitt é conhecido como “sacerdote ateu” e propõe uma espiritualidade que dispensa a expectativa em vida após a morte. Ele reconhece que Deus está morto, mas propõe que ainda é importante que as pessoas (ao menos aquelas que não conseguem viver sem fé religiosa) ainda se comuniquem com ele, mas numa forma de comunicação peculiar: da mesma forma que continuamos a amar nossos entes queridos que já morreram e quando visitamos seus túmulos conversamos com eles, tentamos imaginar sua presença e sua companhia, algo semelhante pode ser feito com relação a Deus:
Nietzsche segue em seu estilo típico do século XIX falando sobre as igrejas serem os “túmulos de Deus”, mas não lhe ocorre que podemos um dia visitar igrejas para sermos estimulados a falar com Deus, da mesma maneira que visitamos os túmulos para nos comunicarmos com nossos mortos, e com benefícios semelhantes.
Cupitt sugere que o modelo de religião da pós-modernidade é muito próximo do budismo, com uma ascese voltada para a contemplação, o relaxamento e o esvaziamento. Nossa época é marcada pela instabilidade dos signos e pelo trânsito de significados, o que impossibilita a permanência de uma narrativa (Significado) totalizante, onde o outro é herege, pecador, apóstata, pagão, inimigo de Deus. A religião baseada no autoritarismo, no poder absoluto de uma divindade que exclui e condena está fadada à rejeição e ressignificação.
Cupitt fala a partir da Europa, onde as reações à religião são diferentes do que acontece em nosso meio. Aqui, por exemplo, um número expressivo de pessoas enxerga as igrejas neopentecostais, por exemplo, como empresas dirigidas por líderes inescrupulosos ávidos por dinheiro. Do ponto de vista sociológico, é uma visão equivocada. Elas possuem, sim, uma estrutura empresarial e não é por acaso. As instituições da pós-modernidade são as grandes empresas multinacionais, que rompem paradigmas territoriais, linguísticos e culturais e desconstroem relações sociais baseadas em laços sanguíneos e de fidelidade. É esse o modelo organizacional das igrejas neopentecostais, internacionalistas em sua essência, afeitas à publicidade, pós-cristãs e voltadas mais para a prosperidade material do que à busca da vida eterna. Seu êxito em países pobres atende a uma demanda por ascensão social e integração econômica, requisitos indispensáveis à integração sociocultural. Mas não significa que essas agências religiosas ainda não estejam vinculadas a esquemas teológicos dualistas e ideologias salvacionistas. Estão, mas não mais da mesma forma como o Cristianismo costumava se apresentar mesmo em suas variadas versões protestantes. Essa mudança paradigmática é bem enfatizada por ele dessa forma:
É muito curioso que Deus e Mamom (o falso deus da riqueza e da cobiça) tenham trocado de lugar eticamente. Mamon é um internacionalista. Ele quer que as pessoas sejam saudáveis e bem-educadas. Ele quer paz e estabilidade, progresso e prosperidade universal. Ao contrário, Deus (especialmente no Oriente Médio) parece ter se tornado um Moloque que exige a ignorância, a pobreza e a guerra.
Por fim, ele propõe que a velha teologia assentada em dogmas e numa linguagem obsoleta do divino seja substituída por uma teologia poética, uma religião universal inclusiva, cujo ideal tenha por base signos unificadores de valores, uma versão minimalista da teologia cristã, que, segundo ele, seria a única justificativa para que alguém ainda possa continuar cristão.
O autor dialoga muito com Kant e Derrida e traz para a Teologia abordagens da Filosofia da Linguagem para mostrar que a metafísica e o realismo (visão segundo a qual há absolutos que coordenam a vida humana e uma realidade que independe de nossa linguagem) são concepções ingênuas desmontadas pela filosofia pós-modernista e sobre a qual ainda estão assentadas religiões mundiais como o cristianismo e o Islã. Sua proposta é mostrar que a morte de Deus é uma constatação irreversível e que essas religiões se refugiaram no fundamentalismo para não abrir mão dos signos territoriais de exclusão e com uma teologia sobrenaturalista.
Partindo da premissa de que criamos e recriamos o mundo a partir das categorias linguísticas e culturais que temos à nossa disposição, Cupitt diz que as religiões de deuses étnicos e de guerra, cujos significados abarcam tudo já não correspondem mais à atual tendência de afirmação de uma nova cultura mundial secular. Nesse contexto o nacionalismo político e o fundamentalismo religioso subsistem apenas “na boca daquelas pessoas que mais temem as mudanças que estão ocorrendo e que tentam resistir-lhes ao máximo”.
Don Cupitt parece ser bastante otimista em sua perspectiva de religião universal, haja vista que mesmo a ideia de uma cultura mundial secular também pode ser tomada como a universalização frequentemente belicista de um modelo cultural. Mas é compreensível como ele coloca a universalização do modelo de modernidade ocidental e as transformações culturais que produz. De toda forma, sua abordagem a partir de Hume e Kant até chegar à filosofia da linguagem contemporânea é bastante pertinente e não há dúvida de que a metafísica platônica e cristã entrou em forte declínio a partir do último quarto do século 19 num processo que se agudizou a partir da década de 1950, com a tomada de consciência de uma modernidade mais crítica de si mesma e do que a antecedeu. É uma leitura e proposta de religião humanista instigante, crítica, mesmo que não seja completa ou parcialmente viável.

in Bertone Sousa.blogspot.com

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Documentos


PCP frisa "limitações do Governo PS" e critica "submissão" à UE

O PCP sublinha as "limitações do Governo PS" por "não romper com os constrangimentos externos" e "interesses do capital monopolista", no projeto de resolução política para o XX Congresso Nacional, entre 02 e 04 de dezembro, em Almada.

© Global Imagens
Política 'Avante!' Há 4 Horas POR Lusa
"O fraco crescimento económico, depois da brutal quebra verificada durante o Governo anterior, a desaceleração do ritmo das importações e exportações, a contínua desvalorização do investimento público ou os ténues avanços no plano da criação de emprego testemunham as limitações que as opções do Governo PS em não romper com os constrangimentos externos e com os interesses do capital monopolista colocam à necessária e indispensável resposta política para assegurar a afirmação de um Portugal desenvolvido e soberano", lê-se.
PUB
No documento, publicado hoje no 'Avante!', o jornal oficial dos comunistas, e aprovado no fim de semana pelo Comité Central, os comunistas lembram ainda que, "num momento em que se repete apelos para pactos de regime, designadamente a partir do Presidente da República a propósito da Justiça, ou para alterações à lei eleitoral para as autarquias a pretexto das candidaturas de cidadãos eleitores (...) o significado da opção feita pelo PS, de acordo com o PSD e o BE, no processo de eleição dos juízes para o Tribunal Constitucional baseada em critérios que se traduziram na discriminação do PCP".
No entanto, o documento, que pode ainda vir a sofrer alterações até e inclusive na reunião magna do final do ano, destaca que "a solução política encontrada e os compromissos de inversão de rumo nela assumidos (designadamente na Posição Conjunta do PS e do PCP), pesem embora dificuldades e contradições ditadas pelas notórias diferenças programáticas e de percurso, foi possível, com a luta dos trabalhadores e do povo e a contribuição decisiva do PCP, repor direitos e rendimentos e dar resposta a alguns problemas mais urgentes".
"O Comité Central do PCP sublinha que os desenvolvimentos mais recentes evidenciam o caráter inconciliável entre a submissão a imposições da União Europeia (UE) e uma política capaz de dar resposta sólida e coerente aos problemas nacionais", continua o texto, condenando a "operação que as instituições europeias têm em curso para condicionar e impor a agenda de exploração e empobrecimento que querem ver retomada no país" numa "escalada de pressões e chantagem".
Para os comunistas, "a dimensão da dívida pública e os seus encargos, as imposições associadas ao Pacto de Estabilidade e Crescimento, ao Tratado Orçamental, ao euro e à União Económica e Monetária, o domínio monopolista sobre a banca e a restante economia, entre outros, são barreiras contra qualquer intenção de um mais decidido afrontamento de opções e políticas que têm sido responsáveis pelo rumo de declínio e retrocesso nacionais".
"A resposta do grande capital à situação na UE, nomeadamente às consequências do referendo sobre a saída da Grã-Bretanha, confirma-se como uma fuga para diante na imposição de um diretório de grandes potências liderado pela Alemanha e integrando a França e a Itália", critica o PCP.
Segundo a resolução política do PCP, "a Cimeira de Bratislava, realizada a 16 de setembro, confirma a persistência de uma profunda crise na e da UE, sintomática da sua incapacidade para fazer face aos gravíssimos problemas económicos e sociais que afetam a generalidade dos estados-membros", ao "centrar-se num 'roteiro' federalista que tem como elementos mais imediatos o aprofundamento do caráter imperialista da UE por via de uma renovada deriva militarista e securitária".
Os dirigentes do PCP reiteram também que a "recapitalização e desenvolvimento da Caixa Geral de Depósitos corresponde a uma necessidade estratégica que não pode nem deve ser subestimada", desde que "integralmente suportada pelo Estado" e defenda "postos de trabalho" e "uma rede de balcões de proximidade ao serviço das populações".
O Comité Central do PCP decidiu ainda marcar a próxima Festa do "Avante!" para entre 01 e 03 de setembro de 2017, no renovado recinto da Amora, Seixal.
O documento vai ser novamente submetido a debate nas organizações regionais do PCP, seguindo-se a eleição para delegados ao congresso de Almada, no Complexo Municipal dos Desportos local, sob o lema: "PCP - Com os trabalhadores e o Povo. Democracia e Socialismo".

terça-feira, 20 de setembro de 2016

O poder do inconsciente e sua recente descoberta são o tema principal do livro Subliminar, do físico americano Leonard Mlodinow FELIPE PONTES, COM JÚLIA KORTE       Novos estudos mostram que o poder do inconsciente é muito maior do que imaginávamos
Você não comanda sua vida (Foto: reprodução/Revista ÉPOCA)Responda sem pensar: quanto é 9 menos 5 menos 2? De acordo com um estudo científico recente, você não precisa calcular racionalmente para saber o resultado. Em novembro, cientistas da Universidade Bordeaux Segalen, na França, fizeram uma série de experimentos para provar que a leitura e as operações matemáticas simples (com até três números de 1 a 9) podem ser executadas inconscientemente.
No estudo, o neurocientista Ran Hassin expôs mais de 300 pessoas a palavras e equações com uma técnica de pesquisa chamada supressão contínua do flash (CFS, em inglês). Pelo método, uma frase ou sequência numérica apareciam em frente ao olho esquerdo de cada indivíduo. Ao mesmo tempo, o olho direito era bombardeado com formas coloridas que mudavam rapidamente. As imagens cambiantes serviam para chamar a atenção, enquanto as outras informações eram registradas apenas inconscientemente. Em seguida, ao ser apresentado a uma série de números, o indivíduo reconhecia os números que representavam o resultado da soma ou a subtração que acabara de ver. O mesmo valia para palavras e frases. “Várias operações que considerávamos uma marca de nossa racionalidade podem ser feitas inconscientemente”, afirma François Ric, professor de psicologia da Universidade Bordeaux Segalen, um dos precursores de Hassin na exploração do inconsciente. “Nós guardamos e usamos, sem saber, mais informações do que imaginamos.”     >> Leonard Mlodinow: "A neurociência está apenas arranhando a superfície do cérebro"
O poder do inconsciente e sua recente descoberta são o tema principal do livro
Subliminar (Zahar, 304 páginas, R$ 39,90), do físico americano Leonard Mlodinow. Reconhecido pelo best-seller internacional O andar do bêbado, que abordava a forte influência do acaso em nossa vida, Mlodinow defende que a mente subliminar é responsável pelos instintos que nos ajudam a sobreviver e a socializar. “O inconsciente é uma ferramenta de sobrevivência”, disse Mlodinow a ÉPOCA. “Pensamentos conscientes, como a decisão de escrever um romance ou investir dinheiro, não têm propósito evolutivo.” Para explicar o funcionamento do inconsciente e medir todo seu poder, ele reuniu uma ampla bibliografia sobre o assunto – da filosofia do século XVIII aos estudos dos anos 2000, quando o advento das máquinas de ressonância magnética revolucionou as pesquisas sobre o tema.
a mensagem 771 inconsciente (Foto: reprodução/Revista ÉPOCA)Uma das primeiras conclusões do livro é que o inconsciente é muito diferente daquele imaginado por Sigmund Freud, criador da psicanálise e responsável por popularizar o conceito. A ciência, até agora, mostra que Freud acertou ao supor que o pensamento racional ocupa apenas uma parte pequena de nosso cérebro. Mas errou ao descrever o inconsciente como uma parte reprimida da mente. A ideia do inconsciente freudiano – um armazém de memórias e fantasias sexuais que pode ser acessado pela psicanálise – é difícil de provar. As máquinas de ressonância magnética mostram que o cérebro usa os mesmos circuitos neurais para processar pensamentos conscientes e inconscientes. “A mente subliminar está interconectada e influencia nosso pensamento racional o tempo todo”, diz Mlodinow.
Essa influência pode ser imperceptível no cotidiano, mas é constante. “Estimo que 90% do que nosso cérebro faz nunca chega à consciência”, afirma o neurocientista britânico Chris Frith, do University College, em Londres. Tal proporção seria tão alta devido ao controle inconsciente de processos fisiológicos do corpo, como respiração e batimento cardíaco, mas também a outras atividades, como o processamento de imagens, a noção de distância e o reconhecimento de rostos. “Somos constantemente bombardeados por imagens, sons e sensações que influenciam o que pensamos”, diz Frith. “Não temos tempo de pensar racionalmente em cada aspecto.”
A partir da década de 1990, estudos de psicologia social ou cognitiva também colaboraram com a nova classificação do inconsciente. Mlodinow afirma que o caso mais impressionante que estudou para escrever o livro foi uma pesquisa feita em 2008, sobre um homem que ficou cego quando um derrame destruiu a parte do cérebro que processa as imagens, o córtex visual. Exames mostraram que ele não conseguia discernir formas, detectar cores ou movimentos nem fontes intensas de luz. Mesmo assim, como seus olhos estavam intactos, percebia inconscientemente se alguém estava feliz ou triste ao observar uma foto. Acertou duas de cada três vezes em que foi questionado. Meses depois, o homem participou de outro teste, em que precisava passar por um corredor cheio de obstáculos. Ele ziguezagueou perfeitamente. Não colidiu com nenhum objeto e afirmou que não sabia como fizera aquilo. “Nunca vi algo tão contraintuitivo”, diz Mlodinow.
Da mesma forma como conduz um homem teoricamente cego em meio a um labirinto, o inconsciente influencia de forma imperceptível muitas de nossas decisões tidas como racionais. Em 2006, psicólogos da Universidade Princeton apresentaram fotos de candidatos a cargos políticos nos Estados Unidos a participantes de um estudo. Depois de mostrar fotos por apenas um quarto de segundo, pediam que os participantes dissessem qual candidato parecia ser mais “competente”. Curiosamente, 69% dos candidatos escolhidos tinham vencido as eleições para o governo e 72% se tornaram senadores. Segundo a pesquisa, para a grande maioria dos eleitores, a análise cuidadosa das propostas dos candidatos não seria capaz de desfazer uma impressão inconsciente causada por uma imagem em alguns centésimos de segundo.
Uma história do inconsciente (Foto: Getty Images, Corbis (2), reprodução (2) e Keystone)(Fotos: Getty Images, Corbis (2), reprodução (2) e Keystone)
Nossas decisões de consumo também são regidas pelo inconsciente. Em 1999, o psicólogo Adrian North, da Universidade Heriot-Watt, na Escócia, colocou quatro vinhos franceses e quatro alemães, do mesmo tipo e preço, nas prateleiras de um supermercado na Inglaterra. Alternadamente, o estabelecimento tocava música francesa (com acordeão) num dia e alemã (com uma banda de metais) no outro. Nos dias em que o som ambiente era a música francesa, 77% dos vinhos comprados eram da França. No dia em que a trilha sonora era alemã, 73% dos consumidores levaram garrafas de vinho alemão para casa. O efeito era completamente imperceptível para quase todos os participantes do estudo. Para confirmar isso, os pesquisadores abordavam os compradores na saída do supermercado. Quando perguntados sobre a influência da música em suas compras, só um em cada sete a admitia. E somente um em cada 44 afirmou que o som ambiente teve um papel decisivo na escolha da bebida. “Ao comprar um vinho, uma pessoa pensa em critérios como a uva, a região ou o que comerá no jantar. Mas não imagina que algo como a música possa mexer tanto com sua decisão”, diz Mlodinow.

Nas mãos de um vendedor, o controle sobre esse tipo de influência subliminar poderia render fortunas. Desde muito antes dos avanços no estudo do inconsciente, publicitários tentam usar a força do inconsciente para mudar nossas decisões de consumo. O esforço nem sempre é bem-sucedido. Em 1957, o americano James Vicary afirmou que aumentou as vendas de Coca-Cola e pipoca num cinema ao exibir secretamente frases como “Beba Coca” e “Coma pipoca” por frações de segundos durante um filme. Cinco anos depois, Vicary admitiu que fraudou o sucesso de seu estudo sobre propaganda subliminar. Estudos posteriores mostraram que técnicas primárias como a dele não dariam resultados. Mais recentemente, agências publicitárias vêm apostando num ramo conhecido como neuromarketing, que usa técnicas avançadas da neurociência para identificar fatores que possam atrair consumidores. Os resultados permanecem inconclusivos. “A maioria das companhias que usa o neuromarketing se recusa a apresentar sua metodologia. Isso torna difícil atestar com precisão sua eficácia”, afirma Roger Dooley, consultor de marketing e autor do livro
Brainfluence: 100 ways to persuade and convince consumers with neuromarketing (Cem maneiras de persuadir e convencer consumidores com o neuromarketing).

Desvendar os segredos do inconsciente pode ser útil não só para influenciar nossas decisões de compra e engordar algumas contas bancárias, mas também para corrigir erros enraizados nas profundezas da mente. O inconsciente também tem um lado maligno. É nele que se manifesta o preconceito étnico, mesmo em pessoas que jamais se definiriam como preconceituosas. Para vencer totalmente os preconceitos, seria necessário combatê-los nesse terreno. “O inconsciente não necessariamente compactua com o consciente”, diz Mlodinow. “Ninguém gosta de admitir que não controla totalmente a si mesmo.” Quanto maior for nosso conhecimento sobre o funcionamento do inconsciente, mais fácil será a tarefa de tentar escapar de suas armadilhas e assumir o controle – ou, ao menos, de perceber quando estamos sob a influência de fatores irracionais. 

 

domingo, 18 de setembro de 2016

Humboldt e o descobrimento da natureza

Pouco conhecido hoje fora dos meios académicos, Alexander Humboldt foi um dos últimos grandes humanistas com uma cultura integrada, aberto a múltiplos ramos do pensamento científico. Eminentes naturalistas identificam no sábio prussiano um precursor do darwinismo. Foi amigo de Goethe, Schiller, Jefferson e Bolívar.
Foi em Berlim Leste, na RDA, que, ao passar frente à Universidade que tem o seu nome, tomei consciência em 1978 da minha ignorância sobre Humboldt.
Mas somente muitos anos depois, quando residia em Cuba, li pela primeira vez um livro seu. Humboldt era muito popular entre os intelectuais da Ilha. Fidel admirava-o, citava-o com frequência, e fizera traduzir muitos dos seus livros.
Quase esquecido hoje fora dos meios académicos, Humboldt foi um dos últimos humanistas de cultura integrada, aberta a todos ramos do conhecimento científico. Eminentes naturalistas identificam nele um percursor do darwinismo.
Segundo The Economist, os atuais ecologistas «devem tudo» a Humboldt. E na opinião da The New York Review of Books, «as suas teorias nunca estiveram tão vivas».
INFÂNCIA, ADOLESCENCIA E JUVENTUDE
Alexander Von Humboldt (1769-1859) nasceu numa família abastada da aristocracia prussiana. Não teve uma infância feliz. O pai faleceu quando tinha cinco anos e a mãe, uma senhora muito religiosa e de mentalidade convencional, não revelou muito afeto pelos filhos.
Alexander e o irmão Wilhelm tiveram uma educação privilegiada com os melhores professores. Mas não tinham diálogo com a mãe. Os dois irmaos, ligados por uma amizade profunda, eram muito diferentes. Wilhelm, estudioso, adorava a História e a mitologia e cedo manifestou um grande interesse pela linguística.
Alexander preferia o campo a Berlim. Durante as férias no castelo de Tegel, propriedade familiar, dava longas caminhadas. Os animais, as plantas, o céu, as rochas, as montanhas e os rios, a Natureza em geral, exerciam sobre ele fascínio.
Ao contrário do irmão, era um solitário e os seus poucos amigos não o compreendiam.
Formou-se, sem brilho especial, em engenharia. Do seu primeiro emprego como inspetor de minas, apreciou sobretudo a oportunidade de viajar muito pelo país.
Mas o seu interesse não era profissional: dirigia-se sobretudo aos cenários, aos fenómenos da Natureza e aos homens. Os mineiros eram sobrexplorados,o que o indignava. O iluminismo era satanizado na monarquia prussiana de «direito divino».
Datam dessa época as suas experiências com a chamada eletricidade animal. Sem ler Feuerbach e Marx foi desde a juventude um materialista convicto.
Aos 21 anos, com um amigo, Georg Forster, que acompanhara Cook numa das suas viagens, visitou durante quatro meses a Inglaterra, a Holanda e a França.
Essa perambulação europeia contribuiu para reforçar a sua aversão pela atmosfera obscurantista da Prússia. Amava a liberdade, era um liberal.
Ao visitar o irmão, já casado e com filhos, em Iena onde então residia, teve a oportunidade de conhecer dois gigantes da literatura: Goethe e Schiller. Desenvolveu uma solida amizade com ambos. Ele e Goethe descobriram uma paixão comum pela botânica, pelas transformações climáticas, pelo regime de ventos, pela capacidade das árvores para enriquecer a atmosfera com humidade.
Juntos lamentaram a forma como o homem perturbava o equilíbrio harmonioso da Natureza, a sua tendência a destruir o ambiente.
Sem disso tomar consciência, o jovem Humboldt foi o pai do movimento ambientalista.
AMÉRICA LATINA: AVENTURA E CIÊNCIA
Em junho de 1799, acompanhado do médico e botânico francês Aimé Bonpland, embarcou na Corunha para a Venezuela. O rei de Espanha, Carlos IV, autorizara-o a visitar as suas colonias da América, privilegio raríssimas vezes concedido a um estrangeiro.
Humboldt era um jovem naturalista de 22 anos, admirado por Goethe, mas desconhecido na Europa.
Ao regressar cinco anos depois foi recebido em Paris e na Alemanha como figura proeminente da comunidade científica.
Ele próprio teve dificuldade em compreender a sua vertiginosa elevação aos píncaros da fama. A sua obra monumental somente seria publicada no regresso ao longo de mais de cinco décadas.
Mas textos seus, enviados de países que percorrera, haviam sido amplamente divulgados na Europa e nos Estados Unidos suscitando surpresa e admiração.
Humboldt rompera como naturalistas fronteiras tradicionais da ciência.
Ao desembarcar em Cumaná no oriente venezuelano, teve a sensação de que chegar a outro planeta. Tudo era diferente e não imaginado: as plantas, as árvores, o clima, o mar, os rios, as montanhas, as planícies. Tudo o encantou, exceto o sistema colonial e a escravatura.
Desceu o Orenoco, atravessou a estepe dos LLanos, conheceu a amazónia equatoriana, escalou o Chimborazo, o gigante andino que na época, erradamente, era tido como a montanha mais alta do mundo.
Conviveu com tribos de índios e impressionou-o o conhecimento que tinha das árvores floresta de todos os animais da selva. Reagiu aos estereótipos europeus sobre a barbárie dos selvagens.
Nos Andes esboçou aquilo a que chamou Naturgemalde, palavra que pode designar um quadro da natureza que aponta para totalidade.
«A Natureza - afirmou - é uma totalidade viva, não um agregado morto». E desenhou o Naturgemalde, representando em corte transversal como uma rede em que tudo estava ligado. As plantas distribuíam-se segundo a latitude desde os líquenes da linha das neves aos carvalhos e já na base as palmeiras tropicais.
O Naturgemalde condensava< num estranho quadro de 90 por 60 cm a síntese das teses revolucionárias de Humboldt sobre a integração da Natureza.
Depois de visitar o Peru e estudar ruinas da civilização incaica embarcou no Equador para o México onde permaneceu um ano. Na época a arqueologia ainda não realizara as escavações que iluminaram a história de Tenochtitlan e da sua destruição por Cortez. Mas o que viu foi suficiente para Humboldt sentir deslumbramento pela cultura dos antigos mexicanos. A sua aversão pela colonização espanhola aumentou
Apos uma breve passagem por Cuba viajou para os Estados Unidos. Mantinha há muito correspondência com Jefferson que o admirava muito.
A empatia entre ambos foi imediata. Humboldt era um falador excepcional.Emitia por minuto o dobro de palavras de uma pessoa normal, Mas Jefferson escutava-o embevecido. Convidou-o para a Casa Branca onde o sábio prussiano conviveu com intelectuais e políticos, incluindo o futuro presidente Madison.
Teve uma despedida triunfal quando embarcou para França em junho de 1804.
A OBRA FOI ESCRITA EM PARIS E BERLIM
Uma biografia de um nível excecional reavivou no mundo da cultura, nos últimos anos, o interesse pelo genial cientista: A Invenção da Natureza- As aventuras de Alexander Von Humboldt, o herói esquecido da ciência.*
A autora, Andrea Wulf, dedicou anos a esse trabalho, definido pelo Finantial Times como «uma fascinante história das ideias»
.

Humbolt fixou residência em Paris. A Academia das Ciências e o Jardin des Plantes eram para ele indispensáveis para as suas pesquisas.
Achava Berlim uma cidade provinciana, insipida sem uma universidade.
Mas o rei da Prússia, Frederico Guilherme III seu grande admirador, atribui-lhe uma generosa pensão. Tinha gasto grande parte da fortuna pessoal nas viagens e na preparação da sua obra.
Paris aparecia-lhe como o polo da cultura europeia que deslocava as fronteiras do pensamento científico. Ali desenvolveu amizades com cientistas famosos como Gay Lussac, Cuvier, Lamarck.
Teve grandes amigos, mas nunca se interessou por mulheres.
Ao iniciar a escrita de Viagem às Regiões Equatoriais do Novo Continente não imaginava que essa obra teria 34 volumes e lhe exigiria muitos anos de um trabalho exaustivo. O primeiro tomo teve por título Ensaio sobre Geografia das Plantas. Nele defendia uma compreensão revolucionária da natureza incompatível com a de Lineu, o celebre botânico sueco. Goethe ao ler o livro afirmou numa conferência que Humboldt iluminara a ciencia com «uma brilhante chama».
Quando Napoleão esmagou a Prússia reduzindo-a a potência de segunda classe, o rei forçou Humboldt a mudar-se para Berlim. Ai escreveu Perspectivas da Natureza, traduzido em onze línguas.
Era uma obra simultaneamente científica e literária, acessível a múltiplas classes sociais. Descrevia a Natureza, lembra Andrea Wulf, «como rede de vida com plantas e animais dependentes uns dos outros”, sublinhando as ligações internas das forças naturais.
«Comparava os desertos da África com os LLanos da Venezuela e as charnecas do Norte da Europa, paisagens muito afastadas umas das outras, mas agora combinadas num retrato único da Natureza»
Goethe, fascinado, escreveu uma carta ao amigo expressando o seu entusiasmo. Chateaubriand afirmou achar aquela escrita tão extraordinária que «se acredita estar a deslizar nas ondas com ele, a perdermo-nos com ele nas profundezas dos bosques».
De volta a Paris com autorização do rei (escreveu parte da sua obra em francês) retomou a correspondência com Jefferson e Bolivar. O libertador das colónias espanholas admirava o sábio prussiano. Orgulhava se da influência que exercera na sua luta. Via nele «o descobridor do Novo Mundo».7
Charles Darwin visitou-o em Paris. Era então um jovem naturalista quase desconhecido. Nao escondia aos amigos que fora A Narrativa Pessoal que o decidira a embarcar no Beagle para a viagem que lhe permitiu escrever A Origem das Espécies, o livro que o imortalizaria.
Numa das suas idas a Londres tentou mais uma vez obter autorização da Companhia da India Oriental para visitar o subcontinente. O ministro Canning e o próprio rei de Inglaterra intercederam por ele. A sua aspiração era escalar os Himalaias, Mas a Companhia, que então tinha um poder absoluto na India, não atendeu o seu pedido. Conhecia os textos anti-colonialistas de Humboldt.
No seu regresso definitivo a Berlim, obteve junto do czar Nicolau I da Rússia autorização para visitar a Sibéria.
Foi a sua última grande aventura. Desceu até a Cordilheira do Altai entre o Cazaquistão, a Rússia, a Mongólia e China. Percorreu 16 000 quilómetros em seis meses. Tinha 60 anos, mas aguentou bem m os gelos siberianos e os calores abrasadores das estepes russas. No regresso, foi recebido em Petersburgo, na Academia Imperial das Ciências como um herói.
Puskin dele disse ao escutá-lo: «Cativantes discursos jorravam da sua boca».
A viagem permitiu-lhe confirmar a sua teoria sobre conexões que ligavam todos os fenómenos e forças da Natureza.
O COSMO, SINTESE DO SEU PENSAMENTO
Humboldt tinha mais de 65 nos quando concebeu a ideia de um livro que, escreve Andrea Wulf, representasse numa «única obra todo o mundo material».
Foi, inesperadamente, o mais famoso dos seus livros: Cosmo, Um Esboço da Descrição Física do Universo.
O primeiro tomo foi publicado na Alemanha em 1845,seis anos depois de iniciado.
Humboldt transporta os leitores - comenta Wulf - numa viagem desde o espaço exterior até á Terra».
O segundo tomo foi publicado dois anos mais tarde em 1847-Nele conduz o leitor-esclarece a biógrafa - «numa viagem do espirito pela história humana desde antigas civilizações até aos tempos modernos».
Em 1850/51 publicou o terceiro tomo. Na introdução informou que seria o ultimo e nele tentava superar deficiências dos anteriores.
Mas afinal escreveu mais dois tomos. O quarto, em 1857, incidia sobre o geomagnetismo, os vulcões e os terramotos.
Humboldt, muito debilitado apos uma apoplexia, continuou a escrever com a paixão de um jovem. Segundo Andrea Wulf, recebia aproximadamente 4 000 cartas por ano e respondia ainda a mais de 2000.
Desde a morte do irmão sua tendência para a solidão acentuou-se. Wilhelm e ele eram muito diferentes. O irmão era também um sábio, mas também um diplomata. Foi embaixador na Itália, na Inglaterra e na Áustria e fundador da Universidade de Berlim, quando ministro da Educação. Desde meninos uma amizade indestrutível os uniu.
Escreveu o quinto tomo já muito doente. Enviou o manuscrito ao editor semanas antes de morrer e foi publicado postumamente.
Quando faleceu, a 6 de maio de 1959, tinha 89 anos.
Em toda a Europa, na América e na Ásia foram escritas milhares de páginas sobre o cientista e o homem.
Para o reio Guilherme IV da Prússia, Alexander Von Humboldt foi «o maior homem desde o Dilúvio».
____
*Andrea Wulf, A Invenção da Natureza-As Aventuras de Alexander Von Humboldt, o herói esquecido da ciência, 544 páginas, Circulo de Leitores, Lisboa

in O Diário.info

O ser social se entregará à barbárie ou encontrará a rota de sua emancipação na plena humanidade?
páginas 272 formato 23.00 x 16.00 x 1.70 cm Peso 435 gr ano de publicação 2013 isbn 978-85-7559-344-8

György Lukács e a emancipação humana

Marcos Del Roio (org.)

R$ 39,00
Comprar
"Qual a importância de se debater a obra do pensador húngaro György Lukács neste início de século XXI?

É em tom de urgência que a figura de György Lukács (1885-1971), seguramente uma das mais influentes do século XX, surge como referência incontornável para se pensar a emancipação humana. Fruto dos debates realizados no III Seminário Internacional Teoria Política do Socialismo, György Lukács e a emancipação humana conta com a colaboração de alguns dos principais estudiosos nacionais e internacionais da obra do pensador húngaro, como José Paulo Netto, Nicolas Tertulian, Sergio Lessa, Ivo Tonet, Csaba Varga, Mauro Luis Iasi, Antonino Infranca, Ester Vaisman e Miguel Vedda, entre outros.
Diante de um quadro de crise econômica, com fortes indícios de ser estrutural, de esgotamento do padrão civilizatório modernizador e de regressão de consciência histórica, torna-se cada vez mais claro que a universalização da dinâmica do capital e de seu poder político coloca a humanidade diante de uma encruzilhada decisiva para o seu futuro. As próximas décadas serão determinantes para saber se o ser social se entregará à barbárie ou encontrará a rota de sua emancipação na plena humanidade.
Constituído em um momento de fragmentação teórica e fechamento histórico, o projeto de Lukács de renascimento do marxismo e de sua concepção de totalidade, avesso às formas modernas de mistificação e totalitarismo político, é de especial relevância para nosso tempo, dominado pela dissolução da ideia de verdade, pelas filosofias da desconstrução e pelo que os autores descrevem como o “irracionalismo contemporâneo”.
Organizada em três partes – dialética e trabalho; política e revolução; estética e luta ideológica –, em um reflexo do caráter multifacetado da obra de Lukács, o livro revela as múltiplas frentes nas quais se apresenta a relevância do pensamento lukacsiano hoje. Na introdução, o pensador húngaro Csaba Varga defende, como marco teórico definitivo, o incompleto projeto ontológico de Lukács – presente nas páginas póstumas de Para uma ontologia do ser social – como “uma das mais elevadas sínteses de sua obra e que deve ser vista como sua última e duradoura mensagem”. Daí a difícil tarefa a que os autores deste livro se propõem, pois parte da inestimável riqueza da obra lukacsiana está também em sua incompletude: trata-se de um projeto que só se realizará plenamente no momento da emancipação humana.
Mais do que um atestado da relevância do pensamento de Lukács para a contemporaneidade, o livro reflete sua urgência em tempos de barbárie social. Nas palavras de Angélica Lovatto, que assina a orelha, György Lukács e a emancipação humana representa “uma importante trincheira para o combate ao avanço da onda pós-moderna com a qual nos debatemos em difícil peleja nestes tempos bicudos de crise da ordem societária do capital e seus efeitos nefastos para o mundo do trabalho”. Constitui leitura e ponto de partida obrigatórios para pensar a reconstrução dos patamares teórico-práticos – sólidos, mas não dogmáticos – para a tão almejada emancipação humana.
Sumário
INTRODUÇÃO
A atualidade da obra de Lukács para a moderna teoria social: Para uma ontologia do ser social na reconstrução das ciências sociais
Csaba Varga
PARTE I: DIALÉTICA E TRABALHO
O “Moses Hess...” de Lukács
José Paulo Netto
A ontologia em Heidegger e em Lukács: fenomenologia e dialética
Nicolas Tertulian
Lukács, trabalho e classes sociais
Sergio Lessa
Lukács, trabalho e emancipação humana
Ivo Tonet
PARTE II: POLÍTICA E REVOLUÇÃO
Lukács: a ponte entre o passado e o futuro
Mauro Luis Iasi
Lukács e a crítica marxista do irracionalismo na via prussiana de objetivação do capital e na fase do imperialismo alemão
Antonio Rago Filho
Lukács e a democratização socialista
Marcos Del Roio
Notas sobre ontologia e política em Lukács
Paulo Barsotti
A atualidade da concepção política em Lukács
Antonino Infranca
PARTE III: ESTÉTICA E LUTA IDEOLÓGICA
O jovem Lukács: a superação da estética romântica
Arlenice Almeida da Silva
Anotações sobre Dostoiévski e a teoria do romance do jovem Lukács
Carlos Eduardo Jordão
Lukács: crítica romântica ao capitalismo ou “romantismo revolucionário”?
Ester Vaisman
Lukács e Brecht: afinidades entre seus pensamentos tardios
Miguel Vedda
Emancipação humana e arquitetura na Estética de Lukács
Juarez Torres Duayer
CONCLUSÃO: CONTRA O IRRACIONALISMO
Lukács e a crítica do irracionalismo: elementos para uma reflexão sobre a barbárie contemporânea
Maria Lúcia Silva Barroco

Jorge LUKÁCS

Resultado de imagem para györgy lukács
Resultado de imagem para györgy lukács
Resultado de imagem para györgy lukács
Resultado de imagem para györgy lukács
Resultado de imagem para györgy lukács
Resultado de imagem para györgy lukács
Resultado de imagem para györgy lukács
Resultado de imagem para györgy lukács
György Lukács
Filósofo
György Lukács ou Georg Lukács foi um filósofo húngaro de grande importância no cenário intelectual do século XX. Wikipédia
Nascimento: 13 de abril de 1885, Budapeste, Hungria
Falecimento: 4 de junho de 1971, Budapeste, Hungria

Viagem à Polónia

Viagem à Polónia
Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

Viagem à Polónia

Viagem à Polónia
Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.