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quarta-feira, 26 de outubro de 2016


A verdadeira crise humanitária não é Alepo

Uma retrospectiva da intervenção dos EUA no Médio Oriente desde o 11 de Setembro mostra uma implacável marcha em direcção à trágica perspectiva hoje colocada: o confronto militar com a Rússia, a segunda maior potência nuclear. A previsível eleição de Hillary Clinton será um passo mais em direcção a essa catástrofe.
Porque será que apenas ouvimos falar da “crise humanitária em Alepo” e não da crise humanitária em todo o resto da Síria, onde a perversão que governa Washington desencadeou os seus mercenários do ISIS para trucidarem o povo sírio? Porque será que não ouvimos falar da crise humanitária no Iémen onde os EUA e o seu vassalo saudita estão a massacrar mulheres e crianças? Porque será que não ouvimos falar da crise humanitária na Líbia onde Washington destruiu um país deixando o caos em seu lugar? Porque será que não ouvimos falar na crise humanitária no Iraque, que já se arrasta há 13 anos, ou a crise humanitária no Afeganistão, que já vai em 15 anos?
A resposta é que a crise em Alepo é a crise de Washington estar a perder os seus mercenários do ISIS perante o exército sírio e a força aérea russa. Os jihadistas enviados por Obama e pela assassina criatura Hillary (“We came, we saw, he died”; “Viemos, vimos, ele morreu”) para destruir a Síria estão a ser destruídos eles próprios. O regime Obama e os prostituto-jornalistas (“presstitutes”) ocidentais estão a tentar salvar os jihadistas abrigando-os sob o manto da “crise humanitária”.
Este tipo de hipocrisia é padrão em Washington. Se o regime de Obama tivesse um mínimo de preocupação acerca de “crises humanitárias” não teria orquestrado crises humanitárias na Síria, Iraque, Afeganistão, Líbia e Iémen.
Está a decorrer uma campanha presidencial nos EUA e ninguém levantou a questão de porquê estarem os EUA determinados em derrubar um governo sírio democraticamente eleito que é apoiado pelo povo sírio.
Ninguém perguntou porque é que o palhaço na Casa Branca tem legitimidade para remover o presidente da Síria lançando contra o povo sírio jihadistas abastecidos pelos EUA, que os prostituto-jornalistas apresentam falsamente como “rebeldes moderados”.
Washington não tem, obviamente, resposta aceitável para tal pergunta, e é essa a razão por que a pergunta não é colocada.
A resposta à pergunta é que a estratégia de Washington para a desestabilização do Irão e depois das províncias muçulmanas da Federação Russa, a anterior Ásia central soviética, e a província muçulmana da China, é a substituição de governos estáveis pelo caos do jihadismo. Iraque, Líbia, e Síria tinham sociedades seculares estáveis nas quais a mão firme dos governos intervinha para prevenir o confronto sectário entre seitas muçulmanas. Através do derrube desses governos seculares e do esforço actual para derrubar Assad, Washington desencadeou o caos do terrorismo.
Não existia terrorismo no Médio Oriente até Washington o trazer com as suas invasões, bombardeamentos, tortura.
Jihadistas como os que Washington utilizou para derrubar Khadafi surgiram na Síria quando o Parlamento Britânico e o governo russo bloquearam a invasão da Síria que Obama planeara. Como Washington foi impedido de atacar directamente a Síria, Washington utilizou mercenários. Os prostitutos que fazem de conta ser os media americanos fizeram a Washington o favor de propagandear que os terroristas jihadistas são democratas sírios em rebelião contra a “ditadura de Assad”. Esta gritante e transparente mentira tem sido repetida tantas vezes que agora é confundida com a verdade.
Não existe qualquer espécie de ligação entre a Síria e a justificação inicial de Washington para recorrer à violência no Médio Oriente. A justificação inicial foi o 9/11, e foi utilizada para invadir o Afeganistão com base na invenção de que os taliban davam acolhimento a Osama bin Laden, o “cérebro”, que na altura estava a morrer por insuficiência renal num hospital paquistanês. Osama bin Laden era um activo da CIA que fora utilizado contra os soviéticos no Afeganistão. Não foi o perpetrador do 9/11. E os taliban também não, com toda a certeza.
Mas os prostituto-jornalistas deram cobertura à mentira do regime de Bush, e o público foi enganado com a frase de que devemos “derrotá-los lá fora antes que nos ataquem em casa”.
Evidentemente que os muçulmanos não iam atacar-nos em casa, Se os muçulmanos constituem uma ameaça, porque continua o governo dos EUA a trazer tantos para cá enquanto refugiados das guerras de Washington contra os muçulmanos?
O 9/11 foi o “novo Pearl Harbor” dos neoconservadores, aquele que eles tinham escrito ser necessário para desencadearem as suas guerras no Médio Oriente. O primeiro Secretário do Tesouro de Bush disse que ao assunto da primeira reunião do gabinete de Bush foi a invasão do Iraque. Isto foi antes do 9/11. Por outras palavras, as guerras de Washington no Médio Oriente foram planeadas anteriormente ao 9/11.
Os neoconservadores são sionistas. Ao mergulharem o Médio Oriente no caos alcançam ambos os seus objectivos. Eliminam oposição organizada à expansão israelita e criam jihadismo que pode ser utilizado para desestabilizar países como Rússia, Irão e China que constituem um entrave ao exercício do poder unilateral que, acreditam, o colapso soviético depositou na “nação indispensável”, os EUA.
Osama bin Laden, o alegado cérebro do 9/11, estava a morrer, não estava a dirigir uma guerra de terror contra Washington a partir de uma gruta no Afeganistão. Os taliban estavam concentrados em consolidar o seu poder no Afeganistão, não em atacar o Ocidente. Depois de bombardear casamentos, funerais, e jogos de futebol de crianças, Washington deslocou-se para o Iraque. Não existia qualquer indício de beligerância do Iraque em relação a Washington. Inspectores de armamento da ONU disseram que não existiam armas de destruição massiva no Iraque, mas Washington não os ouviu. As meretrizes que integram os media norte-americanos ajudaram o regime de Bush a criar a imagem de uma América sob o cogumelo de uma nuvem nuclear se os EUA não invadissem o Iraque.
O Iraque não dispunha de armas nucleares e toda a gente o sabia, mas os factos eram irrelevantes. Havia uma agenda em andamento, uma agenda não declarada. Para avançar com uma agenda que não ousava revelar o governo recorreu ao medo. “Temos que os matar antes que nos venham eles aqui matar.”
E portanto o Iraque, um país estável e progressivo, foi reduzido a ruínas.
Seguiu-se a Líbia. Khadafi não queria juntar-se ao Comando Africano de Washington, a China estava a desenvolver campos de exploração de petróleo na Líbia oriental. Washington estava já incomodado com a presença russa no Mediterrâneo e não queria que a China também aí estivesse presente. Portanto Khadafi tinha que ser removido.
Depois foi Assad a ser acusado, com testemunhos falsificados, de ter utilizado armas químicas contra a rebelião que Washington desencadeara. Ninguém, nem mesmo o Parlamento Britânico, acreditou na transparente mentira de Washington. Incapaz de encontra apoio que desse cobertura a uma invasão, a psicopata AssassHillary (“Killary”) enviou os jihadistas que Washington utilizara para destruir a Líbia para derrubar Assad.
Os russos, que até esta altura tinham sido ingénuos e crédulos a ponto de confiarem em Washington, descobriram finalmente que a instabilidade que Washington estava a fomentar se dirigia contra eles. O governo russo decidiu que a Síria constituía a sua linha vermelha e, a solicitação do governo sírio, intervieram contra os jihadistas apoiados por Washington.
Washington sente-se ultrajado e ameaça agora cometer ainda outra criminosa violação do Padrão de Nuremberga agredindo ostensivamente a Síria. Semelhante passo irresponsável colocaria Washington em conflito militar com a Rússia e, por implicação, com a China. Os europeus, antes de permitirem que Washington dê início a um conflito tão perigoso, fariam bem em registar a advertência de Sergei Karaganov, membro do Conselho de Política Externa e Defesa do ministério russo dos Negócios Estrangeiros: “A Rússia nunca mais voltará a combater no seu próprio território. Se a NATO der início a uma invasão contra uma potência nuclear como nós, a NATO sofrerá uma punição.”
O facto de o governo dos EUA ser criminosamente demente deveria assustar qualquer pessoa na face da Terra. AssassHillary está apostada em entrar em conflito com a Rússia. Apesar disso, Obama, os prostituto-jornalistas e o “establishment” democrata e republicano estão a fazer todo o possível para instalar na Sala Oval a pessoa que irá maximizar o conflito com a Rússia.
A sobrevivência do planeta está nas mãos de criminosos dementes. É essa a verdadeira crise humanitária.
Nota: O Ten-General Michael Flynn, director da Agência de Informações de Defesa (DIA) do Pentágono declarou numa entrevista que a criação do ISIS foi “uma decisão deliberada de Washington.” V. por exemplo, https://www.rt.com/usa/312050-dia-flynn-islamic-state/ Also: http://russia-insider.com/en/secret-pentagon-report-reveals-us-created-isis-tool-overthrow-syrias-president-assad/ri7364. A DIA advertiu que ISIS viria a evoluir para um principado salafista que ocuparia partes do Iraque e da Síria http://www.judicialwatch.org/wp-content/uploads/2015/05/Pg.-291-Pgs.-287-293-JW-v-DOD-and-State-14-812-DOD-Release-2015-04-10-final-version11.pdf A advertência foi ignorada uma vez que o regime neoconservador de Obama via o ISIS como um recurso a ser utilizado contra a Síria.
Paul Craig Roberts | ODiario.info 

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Reflexão sobre histórias polémicas do PCUS, da Revolução de Outubro e da URSS

Miguel Urbano Rodrigues    21.Oct.16    
Este artigo foi escrito para ser incluído num livro póstumo que estou a preparar. Alterei essa decisão porque a minha companheira me persuadiu de que a sua publicação imediata, nestes dias em que a Humanidade (incluindo Portugal) está atolada na crise estrutural do monstruoso sistema do capital condenado a desaparecer pode ser útil.
Li em l961, na Guiné Conakri, a tradução francesa da História do Partido Comunista (bolchevique) da URSS, revista e aprovada em 1938 pelo Comité Central do PCUS. Em Portugal, por iniciativa do camarada Carlos Costa, a referida História foi publicada em 2010 com o subtítulo Breve Curso e um prefácio, muito elogioso, de Leandro Martins, então chefe da redação do «Avante!». A iniciativa gerou polémica no PCP.
OLHARES INCOMPATÍVEIS SOBRE A HISTÓRIA
Tenho na minha biblioteca de Gaia a citada História do Partido Comunista (bolchevique), diferentes edições da História da União Soviética, editadas em espanhol pela Editorial Progresso de Moscovo, e a tradução portuguesa da História da Grande Revolução Socialista de Outubro da mesma editora, editada en l977.
A História do PCUS publicada em 1938 e aprovada pelo Comité Central do Partido foi traduzida em 67 línguas e dela foram vendidos mais de 42 milhões de exemplares. Mas, após o XX Congresso, foi retirada das livrarias e bibliotecas soviéticas.
Não foi sem uma sensação de mal-estar que decidi expressar a minha opinião sobre essa obra, a da Revolução de Outubro e uma das Histórias da Rússia e da URSS, a elaborada pelos historiadores A. Fadeiev, Bridsov, Chermensky, Golikov e A. Sakharov, membros da Academia das Ciências da União Soviética. Foi editada em espanhol, também pela Progresso, em 1960.
Porquê o mal-estar?
Por estar consciente da extrema dificuldade de estabelecer fronteiras entre o positivo e o negativo, entre a evocação da História e a deturpação da História que, por vezes no mesmo capítulo, ora coincidem ora se fundem ou cruzam em confusão labiríntica.
Na História do Partido Comunista (bolchevique) os primeiros três capítulos são dedicados ao combate pela criação de um partido operário revolucionário (o futuro Partido Operário Social Democrata da Rússia - POSDR, inicialmente marxista), à luta dos bolcheviques contra os mencheviques e à primeira revolução russa (1904/1907). A narrativa é interessante, com destaque para o papel decisivo que Lenin desempenhou nessa fase histórica.
Os capítulos 4, 5 e 6 incidem sobre o período que vai da reação stolypiana à Revolução de Fevereiro de 17 que derrubou a autocracia czarista. Uma informação muito rica e inédita para os leitores do Ocidente valoriza essas páginas que iluminam a ascensão e o fortalecimento contínuo do Partido bolchevique e a importância da obra teórica de Lenin como ideólogo. As Teses leninistas de Abril, que implicaram uma viragem decisiva na linha do Partido, merecem atenção especial. Ao exigir «todo o Poder aos Sovietes», Lenin sepultou a ideia da longa duração da revolução democrático-burguesa, mobilizando o Partido e os trabalhadores contra o Governo Provisório da Rússia, esboçando a estratégia da revolução proletária rumo ao socialismo.
No capítulo 7 os autores da História do Partido evocam os acontecimentos que precederam a Revolução de Outubro e a preparação desta, com muitas citações de Lenin que facilitam a compreensão das lutas travadas contra o Governo de Kerenski e no próprio Soviete de Petrogrado.
Mas a linguagem do livro, a partir do 4º capítulo, dedicado à reação stolypiana no período que precedeu o início da guerra de 1914/18, muda muito e distancia-se do rigor, da serenidade e isenção exigíveis a historiadores responsáveis, como são académicos soviéticos de prestígio mundial como Evgueni Tarlé.
Para caracterizar o oportunismo dos mencheviques, dos economicistas, dos empiriocriticistas e denunciar e criticar os erros de Kamenev, Zinoviev, Rikov, Preobrazhensky, Trotsky e demonstrar a sua incompatibilidade com o leninismo, os autores da História do Partido Comunista (bolchevique) da URSS recorrem a uma adjetivação agressiva e insultuosa e deturpam grosseiramente a História.
Repetidamente, Stalin começa a aparecer em muitas páginas, sendo-lhe atribuídas decisões e iniciativas importantes numa época em que era ainda um dirigente pouco destacado do Partido, embora próximo de Lenin.
Não é verdade que Trotsky tenha aderido ao Partido para o minar por dentro, com o objetivo de o destruir.
Kamenev e Zinoviev assumiram nas vésperas da insurreição de Outubro posições que levaram Lenin a qualificá-los de traidores, mas a atitude de Trotsky, que era presidente do Soviete de Petrogrado, não suscitou então qualquer crítica de Lenin.
Relativamente às negociações de Brest Litovsk os autores da História do Partido Comunista deturpam também os acontecimentos. Lenin censurou Trotsky, que era o chefe da delegação soviética, por não ter cumprido as instruções para assinar a paz com os alemães, mas nunca chamou traidores a ele e a Bukharin, que assumira uma posição ultraesquerdista, nem a Radek e Piatakov. Afirmam os referidos historiadores que eles formavam um grupo anti bolchevique que travou «no seio do partido uma luta furiosa contra Lenin». É falso que planeavam «prender V.I. Lenin, J.V. Stalin e I.M. Sverdlov, assassiná-los e formar um novo governo de bukharinistas, trotskistas e sociais revolucionários de esquerda».
É falso que Trotsky, tendo «como lugar tenentes na luta Kamenev, Zinoviev e Bukharin, tentava «criar ma URSS uma organização politica da nova burguesia, partido da restauração capitalista».
A prova de que não tinham agido como conspiradores e traidores foi a nomeação posterior de todos eles para tarefas da maior responsabilidade, precisamente por indicação de Lenin. Trotsky foi Comissário da Defesa durante o período mais dramático da guerra civil e da intervenção militar das potências da Entente, dos EUA e do Japão; Zinoviev assumiu a presidência da III Internacional com a aprovação de Lenin; Bukharin foi chefe da redação do Pravda de l924 a 1929, com o aval de Stalin.
No capítulo 9 a deturpação da História prossegue.
Ainda em vida de Lenin, Trotsky, durante o debate sobre os Sindicatos e a função da NEP assumiu posições que foram duramente criticadas por Lenin, mas continuou no Politburo com a aprovação deste.
Nas páginas dedicadas ao XIII Congresso do Partido, a breve referência à Carta que Lenin, já inválido, lhe dirigiu a 24 de dezembro de 1922, meses antes de sofrer o último e devastador derrame cerebral, omite o conteúdo e significado desse documento fundamental.
Os autores da História afirmam que «Nos acordos tomados pelo XIII Congresso foram levadas em conta todas as indicações feitas por Lenin nos seus últimos artigos e cartas».
Trata-se de uma indesculpável inverdade.
A Carta de Lenin e a adenda do dia 4 de Janeiro de 1923 foram lidas a muitos delegados mas não publicadas. Somente foram publicamente divulgadas na URSS em 1956.
Porquê?
Nessa Carta Lenin transmitia ao Congresso a sua opinião sobre os mais destacados membros do Comité Central, cuja ampliação ele propunha.
A CARTA DE LENIN AO XIII CONGRESSO
Pela sua importância transcrevo a seguir excertos da extensa carta de Lenin ao XIII Congresso na qual chamava a atenção para o grave perigo que ameaçava o Partido se não fossem introduzidas alterações na sua estrutura de direção:
«O camarada Stalin, tendo chegado a secretário-geral, tem concentrado nas suas mãos um enorme poder, e não estou seguro de que o utilizará sempre com suficiente prudência. Por outro lado, o camarada Trotsky, como já demonstrou a sua luta contra o CC devido ao problema do Comissariado do Povo para as Vias de Comunicação, não se destacou apenas pela sua grande capacidade. Como pessoa, embora seja o homem mais dotado do atual CC, tem demasiada confiança em si mesmo e é excessivamente atraído pelas facetas puramente administrativas das coisas».
Esboçava depois em poucas linhas os perfis de Kamenev, Zinoviev, Piatakov, e Tomsky que eram então, com Bukharin, Trotsky, Stalin e ele, membros do Politburo. A Bukharin apontava as fragilidades, mas elogiava-o também muito.
Sobre Stalin advertia nessa adenda: “É demasiado brutal e esse defeito, perfeitamente tolerável nas relações entre nós, comunistas, não o é nas funções de secretário-geral. Proponho portanto aos camaradas que estudem uma forma de o transferir e nomear para esse lugar uma outra pessoa que somente tenha em todas as coisas uma única vantagem, a de ser mais tolerante, mais leal, mais educado, e mais atento para com os camaradas, de temperamento menos caprichoso, etc. Essas características podem parecer apenas pormenores, mas pelo que disse antes das relações entre Stalin e Trotsky, não são ínfimos pormenores mas pormenores que podem assumir uma importância decisiva».
Contrariando especulações frequentes em historiadores do Ocidente, a hipótese de Trotsky ser nomeado secretário-geral é absurda. A velha guarda do Partido nunca o aceitaria.
Há leves discrepâncias entre as traduções em inglês, francês, português e espanhol da Carta de Lenin ao Congresso e da adenda posterior. Mas são irrelevantes.
A EPOPEIA DA RECONSTRUÇÃO DA RUSSIA E DA INDUSTRIALIZAÇÃO
O capítulo 10 é o melhor do livro.
A Rússia saíra arruinada da guerra mundial, da civil e da agressão das potências da Entente. Dezenas de cidades e centenas de aldeias tinham sido destruídas. A produção na agricultura e na indústria caíra para níveis muito inferiores aos de 1913. Durante a catastrófica seca de1921/22 milhões de pessoas morreram de fome.
O governo soviético enfrentou tremendos desafios.
As fábricas existentes eram obsoletas.
Transcrevo da História do Partido:
«Era necessário construir toda uma serie de setores industriais desconhecidos na Rússia czarista; construir novas fábricas de máquinas e ferramentas, de automóveis, de produtos químicos e metalúrgicos; organizar uma produção própria de motores e de materiais para a instalação de centrais elétricas; aumentar a extração de metais e carvão, pois assim o exigia a causa do triunfo do socialismo na URSS.
Era necessário criar uma nova indústria de guerra, construir novas fábricas de artilharia, de munições, de aviões, de tanques e de metralhadoras, porque assim o exigiam os interesses de defesa da URSS nas condições do cerco imperialista.
Era necessário construir fábricas de tratores, fábricas de máquinas agrícolas modernas para abastecer a agricultura, para dar a milhões de pequenos camponeses individuais a possibilidade de passarem à grande produção kolcosiana, porque assim o exigiam os interesses do triunfo do socialismo no campo».
Essas tarefas gigantescas exigiam milhares de milhões de rublos. Ora os cofres do Tesouro estavam vazios.
Como o Poder soviético havia anulado todas as dívidas a países capitalistas contraídas pela autocracia czarista, o crédito estrangeiro era uma impossibilidade absoluta.
Os excedentes da agricultura eram a única fonte a que o Poder soviético podia recorrer. Mas para os obter era indispensável que a agricultura estivesse em condições de os produzir.
Um duplo desafio se colocava: empreender a coletivização das terras e modernizar em tempo mínimo a agricultura, dotando os kolkhoses e os sovkhoses (quintas do Estado) de meios técnicos adequados.
O Poder Soviético, contra as previsões de Paris, Londres e Washington, que consideravam impossível a sua sobrevivência, ganhou essa batalha épica.
Ela coincidiu com intensas lutas internas no Partido (Trotsky foi expulso em 1927 e deportado para o Cazaquistão, Kamenev e Zinoviev também foram expulsos, embora tenham sido posteriormente readmitidos) e exigiu a destruição dos kulaks que tinham enriquecido enormemente durante a NEP.
Não há precedentes na História da Humanidade para transformações tão profundas e rápidas como as que então ocorreram na URSS.
En l926/27 foram investidos na indústria mil milhões de rublos, três anos depois 5 mil milhões. Nesse breve período foram construídas a Central Elétrica do Dnieper, o caminho-de-ferro que ligou o Turquestão à Sibéria, a gigantesca fábrica de tratores de Stalinegrado, a fábrica de automóveis AMO.
Em 1928 a superfície dos kolkhoses era de 1 390 000 hectares; em 1929 ultrapassava 4 262 080 hectares e em 1930 15 milhões de hectares.
No triénio l930/33 a indústria cresceu o dobro.
Esses êxitos foram porem manchados por graves desvios dos princípios e valores leninistas.
Na coletivização das terras não foram apenas os kulaks o alvo da repressão. Ela atingiu também e brutalmente, milhões de pequenos camponeses que resistiram à integração nos kolkhoses.
Stalin criticou os «excessos esquerdistas» de quadros do Partido num artigo em que denunciou os «graves erros daqueles que se tinham desviado da linha do Partido» através de medidas de coação administrativa».
São obviamente fantasistas as estatísticas forjadas no Ocidente segundo as quais dezenas de milhões de camponeses russos e ucranianos foram mortos no processo de coletivização.
Mas é inegável que cabem a Stalin grandes responsabilidades por crimes cometidos nesse período.
A História do Partido Comunista (bolchevique) é omissa a esse respeito.
As ideias de Lenin sobre a coletivização eram incompatíveis com a política de Stalin para a agricultura e com os métodos a que recorreu num contexto de exacerbada luta dentro do Comité Central.
Mas, a minha discordância frontal da estratégia do secretário-geral do PCUS, já investido do enorme poder que Lenin temia e denunciou, não me impede de reconhecer que ele foi um revolucionário excecionalmente dotado que realizou em menos de uma década uma obra colossal.
Distancio-me totalmente dos elogios insistentes e ditirâmbicos a Stalin, mas registo que, terminado com êxito antes do prazo o I Plano Quinquenal, a Rússia se transformara de país agrário atrasado, com estruturas medievais, num grande país industrial. Um país em que quase 75% da população adulta era analfabeta tornou-se um país instruído e culto com uma rede impressionante de escolas superiores, secundárias e básicas em que eram ensinadas as línguas de dezenas de nacionalidades que conviviam no espaço soviético do Báltico e do Mar Negro ao Pacífico; o primeiro país do mundo em que o Estado garantia a saúde a educação gratuita a todos os cidadãos.
CONCLUSÕES
No capítulo das Conclusões os autores da História do Partido (bolchevique) tentam apresentar o regime soviético no final dos anos 30 como a concretização do leninismo. Stalin seria o seu intérprete fiel.
O andamento da História demonstrou a falsidade dessa aspiração.
Já na época, o culto da personalidade de Stalin era incompatível com o projeto de Lenin.
Somente em 1956 no XX Congresso do PCUS foi levantado o tema.
Khrushchov, que nunca havia dirigido a mais leve critica ao secretário-geral, esboçou dele um perfil medonho. Posteriormente soube-se que o famoso Relatório ao Congresso estava semeado de informações falsas. Mas o culto da personalidade de Stalin, por ele estimulado, foi uma realidade.
A chamada desestalinização não pode esconder que a chegada ao poder de Khrushchov assinalou o início da política revisionista que conduziu à destruição da URSS.
Quem enterrou o Socialismo na União Soviética foi Gorbatchov, mas quem abriu a cova foi Khrushchov.

SOBRE A HISTÓRIA DA GRANDE REVOLUÇÃO SOCIALISTA DE OUTUBRO

A versão portuguesa, publicada em 1977 pela Progresso foi preparada por um grupo de académicos, mas a editora soviética não cita os seus nomes.
Pelo estilo, pela linguagem e pelas fontes consultadas (que ocupam 71 páginas no índice) é uma obra muito diferente da História do Partido Comunista (bolchevique) de 1938.
As primeiras referências a divergências na fração bolchevique do POSDR aparecem somente nas páginas 152 e 163. Os autores sublinham que Trotsky, Kamenev e Zinoviev não acreditavam na «vitória da revolução socialista na Rússia», Os dois últimos denunciaram mesmo num artigo a preparação da insurreição do 7 de novembro (25 de Outubro no calendário Juliano, ainda vigente) o que levou Lenin a acusá-los de «traidores».
A III Parte da História em apreço é dedicada à Edificação do Estado Soviético e a Transformações Revolucionárias no País.
Nas 200 páginas que ocupa são frequentes as críticas a Kamenev e Zinoviev e escassas as referencias a Stalin e Trotsky.
As críticas a Trotsky surgem a propósito das posições contraditórias que assumiu como chefe da delegação soviética nas negociações de paz de Brest Litovsk com os alemães e os austríacos.
Mas a linguagem dessas críticas não é agressiva. Os autores escrevem que «Tal como os comunistas “de esquerda” (então liderados por Bukharin), Trotsky não acreditava na possibilidade de conservar o Poder Soviético sem o apoio das revoluções nos países da Europa ocidental. Lenin tinha dado instruções para assinar o tratado de paz se os alemães apresentassem um ultimato».
E Trotsky, como chefe da delegação, ignorou as indicações de Lenin, refugiando-se na fórmula absurda «nem paz nem guerra!» Mas quando os alemães retomaram a ofensiva a 18 de Fevereiro, Trotsky, na reunião de emergência do Comité Central, votou com Lenin pela assinatura imediata do tratado imposto pelos alemães, o que se fez a 3 de Março.
Os autores não referem sequer a expulsão de Trotsky do Partido em 1927 e a sua deportação para a Ásia Central.
Esse grupo de historiadores são obviamente seguidores disciplinados da linha revisionista adotada pelo PCUS após o XX Congresso. E refletem na sua História um tipo de sectarismo tão condenável como o dos redatores da História do Partido Comunista (bolchevique).
A escassez de referências a Trotsky não se justifica.
Se é falso que ele tenha sido o cérebro de um plano tenebroso que visaria desmembrar a URSS, entregando o Extremo Oriente aos japoneses e a Ucrânia a Hitler, é indesmentível que o fundador da IV Internacional conspirou permanentemente no exílio contra a União Soviética.
UMA HISTÓRIA DA URSS TAMBÉM POLÉMICA
A História da URSS preparada pelos cinco membros da Academia das Ciências citados no início deste artigo é também uma obra polémica na qual a deturpação dos acontecimentos históricos reflete o espirito do revisionismo khrushchoviano.
É um manual pouco ambicioso destinado à juventude. O título é aliás incorreto porque os autores tentam condensar em quatrocentas e poucas páginas a história dos povos que desde o paleolítico se instalaram ao longo dos séculos no espaço da futura União Soviética.
O Capítulo I, de Bridsov e A. Sakharov, é dedicado às comunidades primitivas e ao período da escravidão.
No Capítulo II, de Sakharov, o tema é o feudalismo e abrange a fundação do Estado Russo, as invasões mongóis, a desintegração da Horda de Ouro, e finda com o desenvolvimento na Rússia das relações capitalistas.
A perspetival marxista não é facilmente identificável nessas páginas que contêm informações muito interessantes, ausentes nos trabalhos de historiadores ocidentais sobre esses períodos. O nome de Stalin aparece pela primeira vez na página 141, incluído numa lista de bolcheviques que lutavam contra os mencheviques. Kamenev é citado na página 202 como líder dos «oportunistas de direita». Bukharin e Preobrazhensky na página 206 como «capituladores».
Trotsky é criticado (pág. 212) por «ter violado as instruções do CC do Partido e do governo soviético, negando-se a assinar as condições de paz».
O Stalin é atribuído, com Vorochilov, o êxito da vitória sobre Krasnov (pág. 231) em Tsaristsin (futura Stalinegrado).
O trotskismo volta a ser citado criticamente na pág. 258. Bukharin e Rykov são qualificados de «grupo anti partido de oportunistas» (pág. 261)
Nas páginas dedicadas à coletivização da agricultura a violação dos princípios do Partido é atribuída a funcionários e aos sovietes locais e valorizada como importante a crítica de Stalin a esses desvios. Mas não há referências aos crimes cometidos e à deportarão maciça de camponeses.
O Historiador não alude sequer aos processos dos anos 30 que findaram com os fuzilamentos de Kamenev, Zinoviev, Rakovsky, Bukharin, Preobrazhensky e outros velhos bolcheviques.
As primeiras referências ao culto da personalidade de Stalin aparecem na página 281. O autor do capítulo afirma que «a idolatria a Stalin infligiu graves danos ao Partido Comunista e à sociedade soviética» e sublinha que os êxitos obtidos pelo Partido e as massas populares foram injustamente atribuídos a Stalin.
No capítulo dedicado à II Guerra Mundial salienta-se que Stalin «assumiu a direção militar, económica e politica dom país, concentrando nas suas mãos a plenitude do Poder do Estado» (pág. 287).
No Capítulo IV, o académico F. Golikov dedica largo espaço (página 312 e seguintes) ao XX Congresso, informando que nele foi discutido o relatório do primeiro secretário, Khrushchov, sublinhando que «a questão de superar o culto da personalidade de Stalin e as suas consequências» mereceu especial atenção.
«O Congresso – escreve Golikov - revelou audaz e sinceramente as faltas e as deficiências no trabalho, resultantes da idolatria a Stalin, sobretudo nos últimos anos da sua vida e atividade. Alheio ao espirito do marxismo-leninismo e à natureza do regime socialista da sociedade, a androlatria travou o desenvolvimento da democracia soviética e impediu o avanço da União Soviética para o comunismo.
Mas, ao criticar os «aspetos erróneos da atividade de Stalin» a nova direção do Partido afirma que «como fiel marxista-leninista e firme revolucionário Stalin ocupará o seu devido lugar na História».
Na sessão plenária do CC de junho de 1957 salienta-se que «foi derrotado e desmascarado o grupo anti partido integrado por Malenkov, Kaganovitch, Molotov, Bulganin e Shepilov».
Seguem-se páginas apologéticas dos extraordinários êxitos que o PCUS sob a direção de Khrushchov estaria alcançando e que permitiriam à URSS «ocupar nos próximos 15 anos o primeiro lugar no mundo tanto quanto ao volume global da produção como à produção per capita. No país será criada a base material e técnica do comunismo».
Para mal da humanidade, essa previsão otimista foi desmentida pela História.
Pelo estilo e linguagem, no Ensaio em apreço transparece com clareza a mentalidade revisionista que empurrou a URSS para a sua desagregação e a reimplantação na Rússia do capitalismo.
É um trabalho que não contribuiu para o prestígio da historiografia soviética.
Transcorridas décadas, é minha convicção firme que a História do Partido Comunista (bolchevique) de 1938, a História da Grande Revolução de Outubro e as diferentes Histórias da URSS editadas nos anos 70 deturparam todas, com objetivos opostos, a História real de acontecimentos que deixaram marcas inapagáveis no caminhar da humanidade.
É útil recordar que a grande maioria dos historiadores ocidentais, epígonos do capitalismo, longe de contribuírem para iluminar a história real da União Soviética, a deturpam com perversidade para demonizar o marxismo e Lenin.
Em vésperas das comemorações do centenário da Revolução de Outubro, sinto a necessidade de afirmar que, não obstante as graves deformações que desnaturaram o projeto de Lenin, o desaparecimento da URSS configurou uma tragédia para a humanidade. A vitória da Revolução Socialista foi o maior acontecimento da História e a sua herança confirma que foi a experiência mais justa e ambiciosa de libertação do homem da sua exploração milenária.

*História do Partido Comunista (bolchevique) da URSS, Edição de Para a História do Socialismo, Portugal, Agosto de 2010, 527 páginas
** História da Grande Revolução Socialista de Outubro, Edições Progresso, Moscovo, 1977, 676 páginas
*** Historia de la URSS (Ensayo), publicada em 1960 pelas Edições Progresso, de Moscovo, 422 páginas

Serpa e Vila Nova de Gaia, Setembro e Outubro de 2016

               

sexta-feira, 14 de outubro de 2016


Soprando ao Vento – BobDylan



Soprando ao Vento

Quantas estradas um homem precisará andar
Antes que possam chamá-lo de homem?
Quantos mares uma pomba branca precisará sobrevoar
Antes que ela possa dormir na areia?
Sim, e quantas balas de canhão precisarão voar
Até serem para sempre banidas?
A resposta, meu amigo, está soprando ao vento
A resposta está soprando ao vento
Sim, e quantos anos uma montanha pode existir
Antes que ela seja dissolvida pelo mar?
Sim, e quantos anos algumas pessoas podem existir
Até que sejam permitidas a serem livres?
Sim, e quantas vezes um homem pode virar sua cabeça
E fingir que ele simplesmente não vê?
A resposta, meu amigo, está soprando ao vento
A resposta está soprando ao vento
Sim, e quantas vezes um homem precisará olhar para cima
Antes que ele possa ver o céu?
Sim, e quantas orelhas um homem precisará ter
Antes que ele possa ouvir as pessoas chorar?
Sim, e quantas mortes ele causará até saber
Que pessoas demais morreram
A resposta, meu amigo, está soprando ao vento
A resposta está soprando ao vento?

Blowin’ In The Wind

How many roads must a man walk down
Before you can call him a man?
How many seas must a white dove sail
Before she can sleep in the sand?
Yes and how many times must cannonballs fly
Before they’re forever banned?
The answer, my friend, is blowin’ in the wind
The answer is blowin’ in the wind
Yes and how many years can a mountain exist
Before it’s washed to the seas (sea)
Yes and how many years can some people exist
Before they’re allowed to be free?
Yes and how many times can a man turn his head
Pretend that he just doesn’t see?
The answer, my friend, is blowin’ in the wind
The answer is blowin’ in the wind
Yeah and how many times must a man look up
Before he can see the sky?
Yes and how many ears must one man have
Before he can hear people cry?
Yes and how many deaths will it take till he knows
That too many people have died
The answer, my friend, is blowin’ in the wind
The answer is blowin’ in the wind?
Via: voar fora da asa http://bit.ly/2dNn0PY

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Xenofonte: A mentira histórica num grande historiador

Miguel Urbano Rodrigues    12.Oct.16    
Historiador e precursor do moderno jornalismo, a obra de Xenofonte marcou sucessivas gerações durante seculos. A importância do seu legado não significa que ele tenha respeitado a História ou relatado com um mínimo de fidelidade acontecimentos que evoca. Deturpou conscientemente a vida e a personalidade de Ciro I, para a partir dessa deturpação construir a imagem modelar do “príncipe”.
Admiro Xenofonte desde a juventude.
Nos anos do «período especial», quando viajava para Cuba onde então residia, levava no bolso a Anábases, para reler no avião. A saga dos Dez Mil Gregos no regresso à pátria ajudava a compreender a resistência heróica do povo cubano.
Transcorridos muitos anos, com a vida útil a findar, reli nas ultimas semanas, com prazer, a Anábases e Ciropedia.
Xenofonte foi um escritor maravilhoso. Usou o talento e a imaginação para evocar acontecimentos ligados à História da humanidade.
Historiador e precursor do moderno jornalismo, a sua obra marcou sucessivas gerações durante seculos. Cícero, Júlio Cesar, Tácito, Arriano estudaram com atenção os seus livros.
A importância do legado de Xenofonte não significa que ele tenha respeitado a História ou relatado com um mínimo de fidelidade acontecimentos que evoca. Deturpou, pelo contrário, conscientemente a vida e a personalidade de Ciro.
Dois mil anos antes de Maquiavel, Xenofonte esboçou num livro belíssimo o retrato do príncipe perfeito tal como o concebia. O persa Ciro foi o modelo que o inspirou no seu «romance político» no qual alguns historiadores identificam afinidades com a Republica de Platão.
Não creio que tenha sentido escrúpulos em inventar um herói inexistente, tomando como referencia o imperador aqueménida.
Pode-se argumentar que Heródoto na sua História esboçou do homem e do estadista persa um perfil incompatível com o forjado por Xenofonte. Mas naquela época os leitores de ambos não excederiam centenas em cada geração.
Introduzida na Europa a Imprensa, foi o Ciro de Xenofonte que transmitiu às elites europeias a imagem do líder ideal na Antiguidade.
Em Pasárgada, frente ao túmulo de Ciro, numa visita inesquecível às ruinas da cidade por ele fundada, eu tinha na mão, recordo, a Ciropedia. Mas a minha meditação no local era tao enovelada que hoje sou incapaz de penetrar nesse labirinto.
Interrogo-me, por vezes, sobre a motivação de Xenofonte em deturpar a História real na Ciropedia, o que raramente fez em Anábases, onde os erros são sobretudo geográficos.
Logo no Capitulo III apresenta de Astíages, o rei medo, avô de Ciro o, retrato de um monarca sábio e bondoso que ama o neto e contribui positivamente para lhe formar o carácter. Inverte a realidade. Astíages, advertido por um mago de que Ciro viria a ser um grande rei, ordena ao mordomo, Harpago, que o mate. O crime não se consumou porque Harpago salvou o menino, entregando-o a um pastor que o criou. Ciro, aliás, combateu Astíages e conquistou a Média.
Xenofonte inventa também uma cronologia das campanhas de Ciro que falsifica a História. Atribui-lhe (e aos persas) um papel decisivo na guerra contra a Assíria. Ora Ciro nasceu meio seculo depois da destruição do império assírio pelo babilónio Nabucodonosor, aliado aos Medos.
Xenofonte não ignorava o fato. Mas reescreve a História, para a falsificar. Apresenta a campanha contra Creso, rei da Lídia, como consequência da derrota dos assírios. Situa também fora da data real a conquista da Babilónia.
Porquê? Mente conscientemente. Com que objetivo?
Na Ciropedia, o Rei dos Reis teria conquistado Chipre.
Porquê essa inverdade se ele nunca esteve sequer em Chipre?
Igualmente inesperadas são todas as referências de caracter religioso. Os deuses invocados por Ciro são sempre os gregos.
Porquê tamanho absurdo?
Ciro, segundo Xenofonte, sacrifica a Zeus, a Héracles, a toda uma panóplia de divindades do panteão helénico.
Porquê? Ciro era tolerante. Respeitou a religião dos povos conquistados. Sabe-se que sacrificou a Marduk em Babilónia. Mas o deus supremo dos persas era Ahura Mazda. Na Ciropedia não há contudo referências a ele nem a Mitra ou Anahita, deuses menores do mazdeísmo que evoluía para o monoteísmo.
Xenofonte não foi, porém, exceção. Ésquilo, numa das suas obras, transforma Dario I num devoto de Zeus. Heródoto, nas páginas que dedica à retirada da Grécia apos a derrota de Salamina, cita Zeus como se fora deus dos persas. Tucídides também deformou as práticas religiosas dos persas. As crenças e os rituais do mazdeísmo eram muitíssimo diferentes dos comuns na Grécia. Não havia pontes entre a religião dos persas e a dos helenos.
Conclusão: os clássicos gregos «traduziram» os nomes dos deuses persas, procurando equivalências, agredindo a história das religiões.
in O Diário info

                

Síria, o epicentro da ameaça global

Guerra na Siria_1
O cessar-fogo estabelecido na Síria com o patrocínio dos Estados Unidos e da Rússia teve como epílogo o fracasso anunciado e, já depois disso, Washington e Moscovo ficaram de costas voltadas – o que aliás tinham disfarçado muito mal até agora. De facto, os objectivos do envolvimento das duas grandes potências – e respectivos aliados mais ou menos assumidos – são não apenas diferentes como antagónicos.
Moscovo deseja o restabelecimento da integridade e da legitimidade da República Árabe Síria; e Washington pretende não se sabe ainda bem que produto final mas, para já, desintegrar o país tal como a NATO conseguiu no Iraque e na Líbia, recorrendo não poucas vezes ao terrorismo salafita e à manipulação de comunidades regionais como a curda, por exemplo.
Especula-se nos bastidores diplomáticos que um dos objectivos centrais da destruição da Síria e da instauração do fascismo na Ucrânia é o mesmo: impedir o funcionamento da rota da seda entre o Extremo Oriente e a Europa, almejada sobretudo pela China; mas seja ou não seja esse um dos fins, o que vai havendo pelo meio é uma aterradora tragédia humanitária e uma ameaça destruidora com dimensões susceptíveis de se tornarem planetárias.
A constatação dos factos não dispensa, antes exige, uma averiguação de circunstâncias que comprovadamente até eles conduziram – embora algumas delas estejam retidas nas malhas censórias da comunicação social ao serviço do regime global.
Não é novidade que na origem directa do fracasso da mais recente tentativa de cessar-fogo na Síria esteve um bombardeamento (admitido) da chamada coligação internacional contra tropas regulares sírias, cometido por aviões militares norte-americanos, o qual permitiu aos terroristas do Estado Islâmico recuperar posições anteriormente perdidas na região estratégica de Deir es-Ezzor. Antes disso, o secretário norte-americano da Defesa, Ashton Carter, advertira que não garantia o respeito dos seus homens pelo acordo que o secretário de Estado, John Kerry, assinara com Moscovo.
A seguir, aviões russos foram acusados de bombardear um comboio humanitário, gerando uma mediática onda de revolta das cúpulas da ONU e do «mundo civilizado». O que posteriormente foi escondido é o que agora aqui se revela: o comboio humanitário era uma iniciativa do Crescente Vermelho Sírio e fora monitorizado por autoridades ao serviço de Damasco, constatando-se que, ao contrário de muitos outros, incluindo alguns sob as insígnias da ONU, não transportava armas nem dava fuga a terroristas.
Na região onde o comboio foi dizimado não se detectaram sinais de qualquer bombardeamento aéreo: os veículos foram assaltados em terra e queimados por grupos de «rebeldes» que penetraram numa zona desmilitarizada, onde não deveriam estar, como é óbvio. Nos bastidores diplomáticos afiança-se que a operação teve o dedo do MI6 britânico, o qual desmente – o contrário seria absurdo.
Chegados a este ponto, eis-nos entrados em teorias da conspiração, dir-se-á. Mas existem cumplicidades comprovadas por escrito onde cabem acções como estas e outras do mesmo jaez. Documentos no qual se traça uma estratégia geral propícia ao recurso a manobras deste tipo.
Um documento oficial da Agência de Informação do Pentágono de 12 de Agosto de 2012, desclassificado em 18 de Maio de 2015 por empenhamento jurídico de uma organização não-governamental norte-americana, informa o seguinte: «Os países ocidentais, os Estados do Golfo e a Turquia apoiam as forças da oposição na Síria com o objectivo de estabelecer um principado salafita na Síria Oriental, finalidade que todas as potências que apoiam a oposição desejam para isolar o regime sírio».
À luz deste escrito não se estranha que, em 2013, o senador fascista John McCain, enquanto enviado da Casa Branca, se tenha encontrado clandestinamente na Síria com um grupo de terroristas extremistas islâmicos, entre os quais Ibrahim al-Badri, o «califa» do Isis ou «Estado Islâmico», como ficou fotograficamente documentado e foi reconhecido pelo próprio senador, embora muito posteriormente.
E também não se estranha igualmente que o presidente Obama, qual Nobel da Paz, tenha aprovado secretamente, também em 2013, a infiltração de «rebeldes» fundamentalistas na Síria, no âmbito da operação «Madeira de Sicómoro».
Não se julgue que estes documentos são avulsos, entreabrindo apenas a realidade. Não esqueçamos a força que lhes veio a ser dada pelos famosos e-mails de Hillary Clinton, encarada hoje como pretensa salvadora dos Estados Unidos e do mundo depois de, como secretária de Estado, ter sido peça chave das hecatombes da Líbia e da Síria. Escreveu a ilustre senhora em Dezembro de 2012: «Tendo em conta a relação estratégica entre o Irão e a Síria, o derrube de Assad seria um enorme benefício para Israel e faria diminuir o compreensível receio israelita de perder o monopólio nuclear». De uma assentada, duas verdades intimamente assumidas e que não constam do discurso oficial norte-americano: o objectivo de derrubar Assad e o estatuto nuclear de Israel, o segredo mais mal guardado do mundo.
Diz-se que quem fala verdade não merece castigo. Mas a candidata à Casa Branca fê-lo na privacidade do seu correio electrónico, no qual misturava abusivamente a vida pessoal e os assuntos de Estado. Não era suposto o mundo vir a saber estas coisas de tão insigne estadista, muito menos a evidente cumplicidade de uma pré-presidenta dos Estados Unidos com hecatombes no meio das quais abundam crimes contra a humanidade – não reconhecidos mas verdadeiros.
Se for eleita, Hillary Clinton arrisca-se a receber o Nobel da Paz no próximo Outono.
Via: O CASTENDO http://bit.ly/2d74ELV

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Nuvens negras no horizonte

A guerra na Síria está a aproximar-se de um conflito de tremendas consequências. O Pentágono está agir à revelia de Obama e quer "atolar" a Rússia. O caso dos 62 soldados sírios mortos pelo bombardeamento americana é uma prova concludente. A Rússia, que não é estúpida (isto é, Putin) instalou mísseis que abaterão quaisquer aeronaves não identificadas (aliás, nem dão tempo para isso). 
A ONU é aquilo que a gente sabe.

Crise: algumas perguntas e respostas

Jorge Figueiredo    09.Oct.16    Outros autores
Uma muito interessante e didáctica abordagem de tópicos essenciais para a compreensão da crise estrutural do capitalismo e para a identificação das suas possíveis saídas.
Pode haver um capitalismo sem crises?
Não, as crises periódicas, ou crises de conjuntura, são inerentes ao modo de produção capitalista. Trata-se de um assunto já bem estudado pelos mais diversos autores, inclusive Marx.
A presente crise económica é conjuntural?
Não, a presente crise é estrutural. Ela tem um carácter sistémico.
Já houve outras crises estruturais na história do capitalismo?
Sim, no passado verificaram-se crises de natureza estrutural, como as de 1880-1890, 1913 e 1929-1939.

O que desencadeia uma crise capitalista de natureza estrutural?
Em síntese, a crise é desencadeada por uma acumulação excessiva de Capital Fictício, a qual tem origem na queda da taxa de lucro obtida nas actividades produtivas da economia real. A queda da taxa de lucro é provocada basicamente pelo aumento da composição orgânica do capital (rácio capital constante/capital variável).
O que é Capital Fictício?
Trata-se do capital investido em títulos de crédito, tanto os clássicos (acções, obrigações, debentures, etc) como os modernos inventados recentemente (derivativos de toda espécie, como as CDOs, CDSs, MBSs, etc). O montante do capital fictício ultrapassa em muito o do capital real. Ver Capital Fictício
Uma crise estrutural pode ser resolvida rapidamente?
Não, a saída de uma crise estrutural exige que o capital fictício acumulado seja destruído. A referida destruição não pode ocorrer rapidamente. Enquanto não for realizada haverá um período de estagnação, ou depressão, que pode perdurar por muitos anos.
A estagnação é uma anomalia no modo de produção capitalista?
Como demonstrou Paul Sweezy, na sua fase monopolista a estagnação é uma característica inerente ao capitalismo. Assim, o que precisa ser explicado é a razão porque há crescimento e não porque há estagnação. Ver Capitalismo monopolista, de Paul Baran e Paul Sweezy.
Como se manifesta o Capital Fictício?
Manifesta-se na acumulação de dívidas por toda a sociedade (bancos, empresas, famílias e governos). A maior parte destas dívidas é impagável.
A destruição de capital fictício já verificada desde 2008 não foi suficiente?
Ainda não. Após a falência do Lehman Brothers os demais bancos sistémicos foram salvos pelos Estados respectivos através de medidas como as facilidades quantitativas, bail-outs e bail-in (no caso de Chipre). Actualmente há outros bancos “sistémicos” na fila de espera (Deutsche Bank, Commerzbank, Monte Paschi, etc).
Como foi a saída de crises estruturais anteriores do capitalismo?
A crise iniciada em 1929 só acabou com o início da II Guerra Mundial. Nesse caso verificou-se não só destruição de capital fictício como também de uma quantidade enorme de activos fixos, o que proporcionou um novo ciclo de acumulação. A crise do fim do século XIX acabou sem guerra, após a destruição (que levou dez anos) do capital fictício que fora acumulado.
Quais os desenlaces possíveis de uma crise estrutural?
Assumindo que não haja guerra nuclear, as principais saídas de uma crise estrutural ao longo do tempo podem ser em V, em L, em W, em raiz quadrada, em raiz ondulante, conforme os gráficos respectivos. Para mais pormenores ver Crises, os desenlaces possíveis.
Pode um país sair individualmente de uma crise estrutural?
Sim, se tiver forças, lucidez, um governo digno e unidade popular. Para isso será preciso romper com o capital monopolista e financeiro. Isso implica o repúdio da sua dívida externa (pelo menos da parte odiosa), a recuperação da sua soberania monetária, o abandono de organizações imperialistas (UE, FMI, OMC,…), a emissão de moeda pelo próprio governo (de modo a que este não tenha de ser endividar permanentemente junto a banqueiros privados) e a construção de uma economia que sirva o povo e não o capital financeiro.
Algum país já repudiou a sua dívida externa?
Sim, há muitos exemplos históricos. Eis alguns:
• Em 1776 os Estados Unidos repudiaram a sua dívida para com a Inglaterra.
• O México repudiou alguns pagamentos de dívida em 1867, 1914 e 1946.
• Em 1870, após a guerra civil, o governo federal dos EUA repudiou dívidas a bancos sulistas.
• Em 1898 Cuba repudiou dívidas a bancos espanhóis, consideradas odiosas.
• Em 1912 a Turquia ganhou num Tribunal Arbitral o processo referente ao seu repúdio à dívida para com a Rússia czarista.
• Em 1918 a Rússia repudiou a dívida czarista, particularmente aquela acumulada com a I Guerra Mundial.
• Em 1919 um novo governo da Costa Rica considerou ilegítima a dívida de governos anteriores e consequentemente pediu a sua anulação, o que foi devidamente assegurado num tribunal dos EUA.
• Em 1919 o Tratado de Versalhes isentou a Polónia da dívida acumulada para com a Alemanha durante a I Guerra Mundial.
• Em 1931 o Brasil anulou grande parte da sua dívida externa após uma auditoria conduzida pelo ministro Osvaldo Aranha.
• Na década de 1930 treze outros países latino-americanos repudiaram dívidas que consideraram ilegítimas.
• Em 1953 o Acordo de Londres cancelou 51% da dívida da Alemanha acumulada durante a II Guerra Mundial. Foi acordado ali que o serviço da dívida que ultrapassasse 3,5% das receitas de exportação não teria de ser pago. Este cancelamento foi a chave para o crescimento da economia alemã.
• Em 1959, a seguir à Revolução, Cuba repudiou a dívida da ditadura de Batista.
• O governo pós-apartheid da África do Sul cancelou dívidas da Namíbia e de Moçambique para com o antigo regime racista.
• Em 2002, em meio à recessão provocada pelos empréstimos e políticas do FMI, o governo da Argentina anunciou a maior suspensão de pagamentos de dívida da história, no montante de US$80 mil milhões. Durante os anos seguintes a economia argentina cresceu a taxas de 8 a 9% ao ano.
• Sob a ocupação dos EUA, a dívida nacional do Iraque (US$125 mil milhões) foi renegociada tendo sida reduzida em mais de 80%.
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

sábado, 8 de outubro de 2016


“Habemus papam” nas Nações Unidas… e português!

Há muita ciclotimia na idiossincrasia lusa. Passamos da melancolia mais derrotada à euforia mais imparável com a vitória num europeu do futebol ou a eleição (a escolha negociadíssima) de um compatriota para lugar cimeiro nas funções públicas inter-nacionais. Passamos dos nabos que não metem uma (na baliza dos outros) aos melhores da Europa porque o Eder acertou um chuto; passamos de coitadinhos (queixosos por não nos ligarem peva) a senhores do mundo (porque Guterres se alcandorou a secretário-geral na ONU. Assim saltamos das águas paradas, quiçá submissas, esquecidos da nossa História, para as ondas alterosas do Universo onde só surfistas se atrevem.
Nas ondas patrioteiras que nos inundam de tempos em tempos é difícil surfar e mais ainda navegar, tranquila e lucidamente. Vá lá dizer-se que foram arranjos tácticos de não perder que nos deram, com a ajuda da Senhora de Fátima a Fernando Santos, uma vitoria “milagrosa”; vá lá ter-se dito, no momento próprio e no local certo, que a ida de Barroso para a Comissão Europeia em nada nos honrava antes era motivo para fazer corar quem tivesse desperta a vergonha; vá lá hoje dizer-se que a eleição de Guterres tem os seus quês e porquês, e foi resultado não de uma vitória cristalina mas de arranjos opacos. E de antecedentes. Vá lá lembrar-se que Guterres foi o primeiro-ministro português (1995-2002) da adesão ao euro, pela qual se bateu com tanta fé(zada) que nem se poupou a tiradas bíblicas como a de, à saída  da cimeira de Madrid de Dezembro de 95, dizer que, com a decisão tomada, ele (o euro) seria a pedra sobre que se iria edificar a Europa!
                                                        
Quem observe e comente a realidade, para lá e entre os pântanos paralisantes e as metafóricas ondas da Nazaré, terá horas difíceis, delicadas, sobretudo se pretender contribuir para a transformação da sociedade e está convicto que tal transformação só é possível com as massas, estando estas tão atreitas à incentivada ciclotimia.
Afirme-se, com tímida firmeza, que o compatriota António Guterres será o adequado parceiro, nas Nações Unidas, do Papa Francisco do Vaticano. Que houve fumo branco em Nova Iorque, que habemos papam na ONU. E reafirme-se que não há que esperar milagres. As ilusões apenas fabricam desiludidos.

  
Via: anónimo séc. xxi http://bit.ly/2dkrbBg

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

"A União Europeia é a grande derrotada" da nomeação de Guterres

Manuela Ferreira Leite muito crítica da União Europeia, na sequência da candidatura da búlgara Kristalina Georgieva.

© Getty Images
Política Ferreira Leite Há 13 Horas POR Pedro Filipe Pina

“Quem fica muito mal na fotografia é a União Europeia e é lastimável que assim seja. Muitos dos valores que estavam em causa são valores que a Europa devia defender” e não terá sido isso que aconteceu com a candidatura tardia, defendeu Manuela Ferreira Leite no seu espaço de comentário na antena da TVI24.
“Quando se pretende um processo de seleção em que seja o mérito o elemento decisor e não o candidato ficar refém de qualquer tipo de interesses, é um valor que qualquer instituição que se quer credível deve defender. Com a candidatura que fez [de Kristalina Georgieva], nas condições que todos sabemos, era uma candidatura que destruía não só o processo transparente como seria um descrédito para a instituição”, considerou a antiga ministra das Finanças.
Relativamente a António Guterres, “é um feito notável” por parte do português, feito esse que se verifica porque o processo permitiu que a decisão fosse por mérito, o que beneficiou o ex-primeiro-ministro português, salientou ainda Manuela Ferreira Leite, acrescentando que este facto “dá-lhe uma independência e credibilidade que só pode ser útil”.
“A União Europeia é a grande derrotada porque tentou um processo pouco legítimo, muito criticável, contra o que seria a credibilidade das instituições”, situação que “não abona a favor” da União Europeia.
Realçando que, naturalmente, terá tido momentos mais e menos bem conseguidos ao longo da sua carreira, “António Guterres tem uma marca na vida dele: sempre desempenhou funções de serviço aos outros”.
Já sobre o facto de Guterres ter sido uma escolha consensual, terá contribuído para tal “aquela tentativa de ir contra aquilo que era uma regra que estava estabelecida e subverter” o habitual processo de eleição para o cargo de secretário-geral das Nações Unidas.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016


Shimon Peres, destacado político Israelita, responsável por crimes contra a humanidade, morre aos 93 anos

Levantou-se um coro de elogios a propósito do falecimento de Shimon Peres. Figura muito destacada do sionismo, Peres foi um dos mais altos responsáveis e defensores dos crimes cometidos em nome da política colonial e genocida do estado de Israel. É portanto necessário contrapor a verdade histórica ao elogio e branqueamento do personagem que os media internacionais levam a cabo.
O ex-presidente israelita, Shimon Peres, morreu quarta-feira, 28 de Setembro, aos 93 anos de idade.
Peres nasceu na actual Bielorrússia em 1923, e a sua família mudou-se para a Palestina nos anos 30. Ainda jovem, Peres juntou-se à Haganah, a milícia que foi a principal responsável pela limpeza étnica de aldeias palestinas em 1947-1949, durante a Nakba.
Apesar da expulsão violenta dos palestinos ser um facto histórico, Peres afirmou que antes de Israel existir «não havia nada aqui».
Durante sete décadas, Peres foi primeiro-ministro (duas vezes) e presidente da República, foi membro de 12 governos e exerceu as funções de ministro das Finanças, da Defesa e dos Negócios Estrangeiros.
É muito conhecido no Ocidente pelo seu papel nas negociações que conduziram aos Acordos de Oslo de 1993, que lhe valeram, juntamente com Yitzhak Rabin e Yasser Arafat, o Prémio Nobel da Paz. A sua carreira, porém, desmente a reputação de «pomba».
Entre 1953 e 1965, Peres foi primeiro director-geral do Ministério da Defesa e depois vice-ministro da pasta. Devido às suas responsabilidades nesse tempo, Peres foi descrito como «um arquitecto do programa de armas nucleares de Israel».
Em 1975, segundo actas secretas entretanto reveladas, Peres encontrou-se com o ministro da Defesa sul-africano, Pik Botha, e ofereceu-se para vender ogivas nucleares ao regime do Apartheid. Em 1986, Peres autorizou a operação da Mossad que raptou em Roma o técnico nuclear Mordechai Vanunu, que revelara o programa nuclear de Israel.
Os colonatos ilegais de Israel na Margem Ocidental são geralmente associados ao Likud e outros partidos nacionalistas de direita, mas de facto foi o Partido Trabalhista, com a participação entusiástica de Peres, que deu início à colonização do território palestino recém-conquistado.
Durante o mandato de Peres como o ministro da Defesa, desde 1974 até 1977, o governo de Rabin estabeleceu uma série de colonatos na Margem Ocidental.
Depois do seu papel-chave nos primeiros dias dos colonatos, em anos mais recentes Peres interveio para minar quaisquer medidas, mesmo modestas, no sentido de sancionar aprovar os colonatos ilegais.
Como primeiro-ministro, em 1996 Peres ordenou e supervisionou a «Operação Vinhas da Ira», durante qual as forças armadas israelitas mataram cerca de 154 civis no Líbano e feriram mais cerca de 351.
O incidente mais tristemente célebre da campanha foi o massacre de Qana, quando Israel bombardeou um complexo das Nações Unidas e matou 106 civis que ali tinham procurado protecção. Um relatório da ONU indicou que, contrariamente à negação israelita, era «improvável» que o bombardeamento tivesse resultado «de erros técnicos e/ou processuais».
Peres foi um dos mais importantes embaixadores de Israel a nível mundial nos últimos dez anos, enquanto a Faixa de Gaza estava sujeita a um bloqueio devastador e a três grandes ofensivas. Peres apoiou sempre a punição colectiva e a brutalidade militar.
Em 2014, durante um bombardeamento sem precedentes de Gaza, Peres branqueou mais uma vez os crimes de guerra: depois de as forças israelitas terem matado quatro crianças que brincavam numa praia, Peres atribuiu a culpa aos palestinos. O asfixiante bloqueio, condenado internacionalmente como forma de punição colectiva, foi também defendido por ele.
Peres sempre deixou claro o objectivo de um acordo de paz com os palestinos. «A primeira prioridade é preservar Israel como um estado judaico.» Foi esta a razão do apoio do Partido Trabalhista aos Acordos de Oslo, como Rabin esclareceu num discurso ao Knesset em 1995, ao afirmar que aquilo que Israel esperava de Oslo era uma «entidade palestina» que fosse «menos do que um Estado». Jerusalém seria a capital indivisa de Israel, os principais colonatos seriam anexados e Israel permaneceria no Vale do Jordão.
Entre aqueles que afirmaram a sua intenção de participar no funeral contam-se Barack Obama, Hillary Clinton e Bill Clinton, assim como o príncipe Carlos e François Hollande.
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, chamou a Peres um parceiro para alcançar uma «paz dos bravos» e afirmou que a sua morte «é uma pesada perda humanidade e para a paz na região».
Num sentido diferente se pronunciou no passado dia 15 de Setembro Basel Ghattas, deputado no Knesset pela Lista Conjunta (coligação de partidos palestinos e da esquerda não sionista em Israel), ao afirmar no Facebook que «Shimon Peres está coberto da cabeça aos pés de sangue palestino».
Numa reacção relatada pela agência Associated Press, Sami Abu Zuhri, porta-voz do Hamas, disse esta quarta-feira que «Shimon Peres era o último dirigente israelita dos que fundaram a ocupação, e a sua morte é o fim de uma fase na história desta ocupação e o começo de uma fase nova de fraqueza».
Hanan Ashrawi, membro do Comité Executivo da Organização de Libertação da Palestina, afirmou que «o legado de Peres será recordado pelos palestinos como um defensor incansável do assassínio de crianças, da perpetuação da ocupação e da expulsão das suas terras dos palestinos delas originários». Wasel Abu Yousuf, também membro Comité Executivo da OLP, afirmou por seu lado que Peres «participou em todas as guerras israelitas desde o início. Foram cometidos massacres e ele foi o principal participante».

Drone bomb me*: como os EUA constroem monstros universais

Chamem-lhe teorias da conspiração, chamem-lhe fanatismo, chamem o que quiserem, mas basta procurar um bocadinho pelos sítios onde a informação não é detida por senhores da guerra e do dinheiro e o rasto está lá: para quem o quiser ver.
O Daesh, esse último grande monstro universal, afinal quer o quê e está ao serviço de quem?
23 de Fevereiro de 2015: a FARS informou que o Exército iraquiano havia derrubado dois aviões de carga do Reino Unido que transportavam armas para o EI.(Iraqi Army Downs 2 UK Planes Carrying Weaons for ISIL)
A 10 de Abril de 2015, a Press TV noticiou que, em resposta a um pedido sírio de que o EI fosse nomeado organização terrorista, os EUA, a Grã-Bretanha, a França e a Jordânia recusaram. Pode ser lido aqui.
Começaram a aparecer fotografias contemporâneas com membros do EI a exibir tatuagens do “Exército dos EUA” ou tendas com carimbos “US”.
A 19 de Maio de 2015, Brad Hoof, em levantreport.com, «Documento da Agência de Defesa e Informação de 2012: O Ocidente facilitará o ascenso do Estado Islâmico “por forma a isolar o regime Sírio”», baseado na divulgação de uma seleção de documentos anteriormente confidenciais, obtidos pela Judicial Watch no Departamento de Defesa e no Departamento de Estado. O documento pode ser lido aqui.
Sobre este relatório, também Jeremy R. Hammond faz uma extensa e fundamentada análise, em Fevereiro de 2016.
O Washington Post, a 15 de Maio de 2012 já afirmava que já os EUA financiavam os «rebeldes»: Syrian rebels battling the regime of President Bashar al-Assad have begun receiving significantly more and better weapons in recent weeks, an effort paid for by Persian Gulf nations and coordinated in part by the United States, according to opposition activists and U.S. and foreign officials.
A 22 de Junho de 2015, o ex-contratado da CIA, Steven Kelley, explicou que os EUA “criaram o EI para benefício de Israel” e para ter “uma guerra sem fim” no Médio Oriente, que torne os países daquela região “incapazes de fazer frente a Israel” e forneça um “fluxo constante de encomendas de armas para o complexo industrial militar em casa, que está a alimentar com muito dinheiro os senadores que apoiam estas guerras”.
Em Novembro de 2015, Vladimir Putin revelou que 40 países – incluindo alguns do G20 – estão a suportar financeiramente o EI, o que começa a revelar a extensão da duplicidade das nações ocidentais, incluindo e especialmente, dos EUA, que têm usado ataques contra o EI concebidos para danificar ou destruir as infraestruturas da Síria.
Ainda nesse mês, várias  fontes noticiaram que os camiões de combustível que transportavam petróleo da Síria para a Turquia estavam “fora dos limites” e que os condutores teriam que ser avisados antecipadamente dos planos dos EUA para os atacarem. Nem a Fox News escondeu.
O New York Times, a 23 de Janeiro de 2016, faz manchete: os EUA dependem do dinheiro saudita para apoiar os rebeldes.
E, claro, em Setembro, em plenas tréguas, os EUA atacam forças anti-terroristas sírias e russas.
Eis algumas pistas, algumas leituras, algumas provas de que a morte, os bombardeamentos, os refugiados, têm responsáveis que movimentam o mundo como o seu tabuleiro privado, no interesse na exploração dos recursos naturais dos países que agora atacam, provocando a barbárie total. Isto é o império. E os muros constroem-se em Calais, levantam-se vedações na Europa, abre-se fogo sobre seres humanos que fogem da barbárie. Escolhidos de cima pelos EUA, porque são culpados. E alvos a abater. A humanidade é alvo a abater.

Via: Manifesto 74 http://bit.ly/2dTCoww

Viagem à Polónia

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Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

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Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.