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quarta-feira, 5 de julho de 2017

Interrogações tempestivas



O ASSALTO A TANCOS É UMA HISTÓRIA MUITO MAL CONTADA

O caso do assalto a Tancos, que tem evidentes incidências políticas, anda muito mal contado. A versão "oficial", largamente corroborada pelos Media, é a de que um vasto arsenal bélico foi furtado em dois paióis do Exército há alguns dias, aproveitando falhas do sistema de segurança (humanas e electrónicas) e que todo o pesado material saiu do recinto através de um buraco feito pelos assaltantes na cerca de arame. 

Mas esta versão só pode ser engolida por totós. Ora pensem bem no que nos contam e vejam lá se a coisa é verosímil. Os paióis situam-se a meio quilómetro do buraco feito na vedação. Os assaltantes teriam portanto cortado o arame farpado, percorrido a pé uma longa distância (durante alguns minutos), arrombaram depois os portões (que decerto não estavam no trinco, mas estranhamente ninguém ouviu o barulhão, deviam ter tomado uns valentes dopings para dormirem tão bem); após o que escolheram calmamente o material que procuravam, que pesava várias toneladas. Nisto perderam imenso tempo; e depois, alombando com a carga às costas, percorreram o caminho inverso e carregaram à mão um valente camião que estava estacionado lá ao pé. 

Ora esta narrativa é tão impossível e tão pueril que é impossível de aceitar por pessoas com dois dedos de testa. E já nem falo de algo que tem sido muito referido: que, a ser assim, só alguém teleguiado por pessoas que forneceram informações e que estavam (ou trabalhavam) no interior do perímetro, poderiam saber aonde os intrusos deviam ir e saber o que lá estava. Mas essa nem sequer é a coisa mais importante. Este ataque, se é que ele aconteceu, só pode ter ocorrido através da porta d'armas (a entrada principal) e não perpetrado através de um buraco na vedação. Que foi por lá que entrou e que depois saiu a viatura pesada de transporte. 

Que quem estava a comandar o portão principal, ou era conivente com a conspiração, ou tinha sido autorizado por algum superior a deixar entrar e sair aquele camião concreto sem fazer perguntas, nem pedir papéis, e que depois nem vasculhou o conteúdo à saída. Coisa que se faz em qualquer supermercado, como bem sabemos, quanto mais numa instalação militar deste tipo. 

Há várias hipóteses possíveis aqui, em alternativa à versão que tem vindo a público.
A primeira: um conjunto de responsáveis da Base decidiu fazer uma "exportação" de material bélico para um qualquer destino externo, a troco de dinheiro ou de interesses políticos, militares, ou ideológicos.
 A segunda: pode não ter havido roubo algum, o buraco na vedação ser só uma treta para iludir os ingénuos, e a cena ter sido orquestrada para abater ao inventário material que nunca lá esteve realmente, por ter sido pago mas nunca entregue. 
A terceira: isto é uma operação dos serviços secretos, destinada a intervir no jogo político, a gerar umas valentes receitas para alguns e a criar uma crise de confiança e de medo na opinião pública. 

Há uma questão final, e decerto que não a menos importante. Tudo o que aconteceu (ou não aconteceu) em Tancos dificilmente poderá ser seriamente investigado pela Polícia Judiciária Militar, que é uma instituição não-independente, melhor dizendo totalmente dependente de uma hierarquia corporativa. Se a Polícia Judiciária Civil já suscita, frequentemente, as maiores dúvidas em termos de competência, isenção, idoneidade e especialização, já a Polícia Judiciária Militar as suscita ao quadrado: tem menos experiência, menos conhecimento, os seus efectivos são confrades dos potenciais criminosos ou conspiradores e, acima de tudo, funcionam em regime de máxima opacidade, crentes que estão de que tudo o que faça (ou não faça) será abafado pelas chefias, em nome de pretensos "interesses superiores". 

Ainda há pouco tempo percebemos que a investigação às mortes na instrução dos Comandos teve de envolver outras entidades exteriores à PJM para ganhar alguma eficácia e chegar com alguma consistência a Tribunal Civil. Lembro, finalmente, que Passos e Cristas andam aos pulinhos de contentes com o ocorrido em Tancos, a ponto de ontem (segunda) ambos terem vindo a público vender a ideia de que Portugal anda ao Deus dará e que o Governo não faz nada. E que esta terça o CDS/PP vai a Belém pressionar o Presidente da República sobre este assunto. Espero bem que Cristas e os seus amigos não estejam envolvidos nesta moscambilha, nem dela tenham tido prévio conhecimento, para bem dos próprios e de nós todos. E espero ainda que o preclaro Marcelo tenha o discernimento bastante para mandar esta gente dar uma volta ao bilhar grande, porque quem se comprometer com tal versão nesta fase do assunto vai ficar queimado. 

Bem andou António Costa em ter guardado a máxima discrição sobre esta história, porque tudo o que ele dissesse a tal respeito seria sempre considerado como demasiado muito, ou como demasiado pouco. Já agora, ainda uma nota: como era de esperar, Portugal teve de fornecer aos serviços da segurança militar e aos serviços de "intelligence" dos países da NATO e da UE uma lista exaustiva dos materiais alegadamente furtados. Não acham estranho que a mesma tenha fugido para um obscuro jornal digital do país vizinho, o El Español (uma espécie de Observador da direita espanhola), que a publicou por fuga de alguém altamente colocado, ou se calhar pela prestimosa mão do "jornalista" Sebastião Pereira? 

Mas acham que é assim que os serviços secretos funcionam, portugueses ou estrangeiros, oferecendo dados altamente confidenciais a uma publicação deste tipo? Os meus amigos que desçam à terra e não deixem que nos tomem a todos por parvos. Depois dos incómodos sucessos do Governo na frente económica, financeira e social, há quem esteja a recorrer ao incêndio de Pedrógão e ao assalto a Tancos para fazer aquilo que não conseguiram fazer junto dos famigerados mercados, ou através dessa criatura que é o senhor Schäuble

 "Já vi algumas coisas mas recuso-me a aceitar que alguém das direcções políticas de qualquer partido político português tenha remotamente alguma coisa a ver com este assunto. Os aproveitamentos e distorções são naturais e inevitáveis. Envolvimento directo ou indirecto, não. Acredito que há limites. Quanto ao El Espanhol, foi o pasquim que lançou a bojarda de Portugal ter recusado a ajuda dos bombeiros galegos. Que agora apareça envolvido nisto, pode indiciar que se trata de uma testa de ferro de alguém, cá, com intenções claramente criminosas. A juntar à historieta do Sebastião, e à forma como a operação Sebastião foi coordenada com os meios de comunicação portugueses, começa a formar um padrão. Começa a cheirar a campanha de desestabilização ao estilo sul americano"

Quem poderá estar por detrás disto deverá ser punido e ser conhecido. 
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