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terça-feira, 5 de setembro de 2017




Para Domenico Losurdo, novo conflito mundial é possibilidade real

"A condução política de Washington corre riscos de provocar uma nova guerra mundial, que pode até atravessar o limiar nuclear", afirma à 'RBA' o filósofo italiano
por Redação RBA publicado 27/05/2017 12h59
reprodução
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Losurdo: esquerda deve perceber que a luta contra o imperialismo é parte integral da luta de classes para emancipação

São Paulo – Depois que o fenômeno republicano e midiático Donald Trump assumiu o poder nos Estados Unidos e radicalizou o discurso contra as minorias e oponentes do imperialismo, algumas vozes têm dito que o mundo pode estar a caminho de um novo conflito mundial.
Essa é uma tese que soa falsa, dependendo da credibilidade ou fundamentação de quem a afirma, mas nas palavras do filósofo italiano Domenico Losurdo ela é real: "A condução política de Washington corre riscos de provocar uma nova guerra mundial, que pode até atravessar o limiar nuclear", afirma ele, em entrevista à RBA, para quem os conflitos atuais, que colocam o Ocidente em oposição aos países fora de sua lógica, nada mais são do que expressões do pensamento tradicional colonialista.
A falta de conhecimento de história, um problema sério no Brasil, mas que atinge praticamente todo o mundo ocidental sob o furor consumista e imediatista, permite que a mídia tradicional, sempre a favor do poder instituído e dos ditames do capital, destile seu discurso conservador com menos resistência e menos sentimento de indignação que ocorreriam à luz da memória dos fatos. É o que se esforça por mostrar Losurdo.
"A luta contra o neoliberalismo precisa estar unida à luta contra o colonialismo, neocolonialismo e imperialismo", afirma o filósofo, que nesta entrevista concedida por e-mail também desmonta a linguagem que se mostra como nova roupagem para antigos conceitos. "Atualmente, as guerras coloniais e neocoloniais são frequentemente realizadas em nome dos valores e interesses ocidentais", sustenta o professor, demonstrando que, historicamente, o século 20 se rebelou contra a colonização, mas agora corremos o risco do retrocesso.
Nesta entrevista, o leitor tem a oportunidade de verificar pelos menos dois pontos: como o colonialismo continua vivo, portanto, com outras denominações, e também como a luta de classes se expressa no enfrentamento do neoliberalismo sobre os velhos conceitos de dominação.

Como o senhor descreve o colonialismo hoje? É um tipo de luta de classes, por que?
Desde 1989, o Ocidente, liderado pelos Estados Unidos, desencadeou guerras contra Panamá, Iraque, Iugoslávia, Líbia e Síria. Apesar das diferenças entre as guerras, esses países têm duas características em comum: eles são importantes do ponto de vista da geopolítica e têm por trás deles uma revolução feudal e outra anticolonial. Na verdade, frente a essas guerras, os atacantes preferem falar de "operações políticas internacionais". Mas essa linguagem vem da tradição colonial.
No começo do século 20, o presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, uma referência do colonialismo, imperialismo e racismo, gostava de justificar suas intervenções na América Latina precisamente desse modo, referindo-se às "operações políticas internacionais".
É verdade para os dias atuais que os Estados Unidos e seus aliados e vassalos têm celebrado suas guerras como "humanitárias". E de novo somos levados de volta para a linguagem da tradição colonial. Em seu tempo, (o colonizador britânico) Cecil Rhodes (1853-1902) resumiu a filosofia do Império Britânico deste modo: "filantropia, mais 5%". Atualmente, as guerras coloniais e neocoloniais são frequentemente realizadas em nome dos valores e interesses ocidentais. "Filantropia" tornou-se "valores do Ocidente" e o percentual de 5%, tornou-se "interesses do Ocidente".
As guerras desencadeadas pelo imperialismo desde 1989 (depois da vitória na Guerra Fria) causaram dezenas de milhares de mortes; são centenas de milhares de feridos; milhões de refugiados; destruíram países e condenaram ao subdesenvolvimento e ao desespero muita gente. É óbvio que a luta contra essas calúnias é uma luta de classes pela emancipação. Marx apontou: a barbaridade do capitalismo é manifestada primeiro nas colônias; por isso, a luta contra a dominação colonial e semicolonial é uma luta de classes por excelência.  

O senhor publicou no Brasil o livro "Esquerda Ausente". Qual o papel dos partidos de esquerda e dos movimentos sociais nos dias de hoje? Como eles podem se organizar?
Não pode ser considerado realmente de esquerda um partido ou força política que se limite a combater o neoliberalismo. Esta é a questão central. A luta contra o neoliberalismo precisa estar unida à luta contra o colonialismo, neocolonialismo e imperialismo. Especialmente em um momento como o presente. A condução política de Washington corre riscos de provocar uma nova guerra mundial, que pode até atravessar o limiar nuclear. Muitos observadores, incluindo os conservadores, destacam um ponto essencial: por algum tempo, o foco central da política externa norte-americana se ateve à habilidade de infligir uma 'primeira ação nuclear sem consequências' (para isso, sistemas antimísseis foram instalados nas fronteiras entre Rússia e China). Bom, a esquerda deve perceber que a luta contra o imperialismo, contra essa política de dominação e contra a guerra é uma parte integrante da luta de classes para emancipação.

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