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terça-feira, 29 de maio de 2018

O velho Marx

uma biografia de seus últimos anos (1881-1883)
Marcello Musto
R$ 39,00 Comprar
O velho Marx
  • autor: Marcello Musto
  • tradutor: Rubens Enderle
selo:
Boitempo Editorial
idioma:
Português
páginas:
160
formato:
23cm x 16cm x 0cm
peso:
276 gr
encadernação:
Brochura

O livro apresenta uma análise perspicaz dos anos finais e ainda pouco explorados da vida de Karl Marx. Combinando rigorosa abordagem acadêmica com uma escrita acessível, Marcello Musto derruba a lenda de que a partir de meados de 1870, devido a problemas de saúde e dificuldades pessoais, o filósofo alemão teria suspendido quase inteiramente sua pesquisa. Ao contrário, ele não só deu continuidade a seu trabalho, mas estendeu-o a novas disciplinas e a outras áreas do planeta.
A partir do estudo de manuscritos que vieram a público recentemente e ainda não foram traduzidos do alemão nem publicados em livro, Musto demonstra que Marx passa a se interessar por antropologia, pelas sociedades não ocidentais e pela crítica ao colonialismo europeu. Por trás disso, não havia, como se tem dito, mera curiosidade intelectual, mas o propósito teórico-político de alargar e refinar a compreensão do capitalismo
Além de desconstruir a imagem de um Marx eurocêntrico, economicista e exclusivamente absorvido pelo tema da luta de classes, esta biografia intelectual, com base nas de outros membros da família, oferece um retrato mais amplo e humano do autor em sua fase final. Permite ainda uma reavaliação inovadora de algumas de suas ideias-chave.
Outros títulos do autor

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Marx hoje: o fim está próximo… apenas não da forma que imaginávamos

Por Slavoj Žižek, via Philosophical Salon, traduzido por Daniel Alves Teixeira
Existe uma velha e deliciosa piada soviética sobre a rádio Yerevan: um ouvinte pergunta “É verdade que Rabinovitch ganhou um carro novo na loteria?”, e o rádio responde: “Em princípio sim, é verdade, somente não era um carro novo mas uma bicicleta velha, e ele não ganhou, ela foi roubada dele. ” Será que exatamente o mesmo não vale para o destino dos ensinamentos de Marx hoje, 200 anos depois de seu nascimento?

Vamos perguntar à rádio Yerevan: “Marx ainda é atual hoje?” Podemos adivinhar a resposta: em princípio sim, ele descreve maravilhosamente a dança louca da dinâmica capitalista que atingiu o seu pico apenas nos dias atuais, mais de um século e meio depois, mas… Gerald A. Cohen enumerou as quatro características da noção marxista clássica da classe trabalhadora: (1) ela constitui a maioria da sociedade; (2) ela produz a riqueza da sociedade; (3) ela consiste nos membros explorados da sociedade; (4) seus membros são as pessoas necessitadas na sociedade. Quando essas quatro características são combinadas, eles geram duas outras características: (5) a classe trabalhadora não tem nada a perder com uma revolução; (6) ela pode e vai se envolver em uma transformação revolucionária da sociedade.[1] Nenhum dos quatro primeiras se aplica à classe trabalhadora de hoje, e é por isso que as características (5) e (6) não podem ser geradas. (Mesmo que algumas das características continuem a se aplicar a partes da sociedade de hoje, elas não estão mais unidas em um único agente: as pessoas necessitadas na sociedade não são mais os trabalhadores, etc.)
O impasse histórico do marxismo reside não apenas no fato de que ele contava com a perspectiva da crise final do capitalismo, e portanto não conseguiu compreender como o capitalismo saiu de cada crise fortalecido. Há um erro muito mais trágico no corpo clássico do marxismo, descrito em termos precisos por Wolfgang Streeck: O marxismo estava certo sobre a “crise final” do capitalismo; nós estamos claramente entrando nela hoje, mas esta crise é apenas isso, um processo prolongado de decadência e desintegração, sem nenhum Aufhebung hegeliano fácil à vista, nenhum agente para dar a esta decadência uma reviravolta positiva e transformá-la em uma passagem para algum nível superior de organização social:
“É um preconceito marxista – ou melhor: modernista – que o capitalismo como uma época histórica só terminará quando uma nova e melhor sociedade estiver à vista, e um sujeito revolucionário pronto para implementá-la para o avanço da humanidade. Isso pressupõe um grau de controle político sobre nosso destino comum com o qual não podemos sequer sonhar após a destruição da ação coletiva e, mesmo da esperança para isso, na revolução globalista neoliberal. ”[2]
A visão de Marx era a de uma sociedade gradualmente se aproximando de sua crise final, uma situação na qual a complexidade da vida social é simplificada em um grande antagonismo entre capitalistas e a maioria proletária. No entanto, mesmo uma rápida olhada nas revoluções comunistas do século XX deixa claro que essa simplificação nunca ocorreu: os movimentos comunistas radicais foram sempre constrangidos a uma minoria de vanguarda e, para ganhar hegemonia, tiveram que esperar pacientemente por uma crise (geralmente uma guerra) que forneceu uma janela estreita de oportunidade. Em tais momentos, uma autêntica vanguarda pode tomar o dia, mobilizar as pessoas (mesmo que não a maioria) e assumir o controle. Os comunistas eram aqui sempre completamente “não dogmáticos”, prontos para serem parasitas em alguma outra questão: terra e paz na Rússia, libertação nacional e unidade contra a corrupção na China… Eles estavam sempre bem conscientes de que a mobilização acabaria logo, e estavam cuidadosamente preparando o aparato de poder para mantê-los no poder nesse momento. (Em contraste com a Revolução de Outubro que explicitamente tratou os camponeses como aliados secundários, a revolução chinesa nem sequer fingia ser proletária: ela endereçava diretamente os agricultores como sua base.)
O problema do marxismo ocidental (e mesmo do marxismo como tal) era a ausência do sujeito revolucionário: como é que a classe trabalhadora não completa a passagem do em si para o para-si e constitui a si mesma como um agente revolucionário? Esse problema forneceu a principal razão de ser da referência à psicanálise que foi evocada justamente para explicar os mecanismos libidinais inconscientes que impedem o surgimento da consciência de classe inscrita no próprio ser (situação social) da classe trabalhadora. Deste modo, a verdade da análise socioeconômica marxista era salva; não havia razão para dar fundamento às teorias “revisionistas” sobre a ascensão das classes médias, etc. Por essa mesma razão, o marxismo ocidental também estava em busca constante por outros atores sociais que pudessem desempenhar o papel de agente revolucionário, como o dublê substituto da classe trabalhadora indisposta: camponeses do Terceiro Mundo, estudantes e intelectuais, os marginais excluídos … A versão mais recente dessa ideia refere-se aos refugiados: somente o influxo de um número realmente grande de refugiados pode revitalizar a esquerda radical européia. Essa linha de pensamento é completamente obscena e cínica. Não obstante o fato de que tal desenvolvimento certamente daria um impulso imenso à brutalidade antiimigrante, o aspecto verdadeiramente louco dessa ideia é o projeto de preencher a lacuna dos proletários desaparecidos ao importá-los do exterior, para que então pudéssemos ter a revolução por um agente revolucionário substituto e terceirizado.
O fracasso da classe trabalhadora como sujeito revolucionário já está no cerne da revolução bolchevique. A arte de Lenin era detectar o “potencial de fúria” (Sloterdijk) dos camponeses desapontados. A Revolução de Outubro venceu devido ao slogan “terra e paz”, endereçado à vasta maioria camponesa, aproveitando o curto momento de sua insatisfação radical. Lenin já pensava por essas linhas uma década antes, motivo pelo qual ficou horrorizado com a perspectiva do sucesso da reforma agrária de Stolypin, que visava criar uma nova classe forte de agricultores independentes. Ele escreveu que se Stolypin tivesse sucesso, a chance de uma revolução estaria perdida por décadas. Todas as revoluções socialistas bem-sucedidas, de Cuba à Iugoslávia, seguiram esse modelo, aproveitando a oportunidade em uma situação crítica extrema, cooptando a libertação nacional ou outros “capitas de fúria”. Obviamente, aqui, um partidário da lógica hegemônica indicaria que essa é a própria lógica “normal” da revolução, que a “massa crítica” é alcançada precisamente e somente através de uma série de equivalências entre múltiplas demandas que são sempre radicalmente contingentes e dependentes de um conjunto específico, mesmo único, de circunstâncias. Uma revolução nunca ocorre quando todos os antagonismos colapsam no Grande único, mas quando eles combinam sinergeticamente seus poderes.
A questão não é apenas que a revolução não segue mais o curso da História, seguindo suas Leis, uma vez que não há História, já que a história é um processo aberto contingente. O problema é diferente: é como se houvesse uma Lei da História, uma linha principal de desenvolvimento histórico mais ou menos clara, e que a revolução somente poderia ocorrer em seus interstícios, “contra a corrente”. Os revolucionários têm que esperar pacientemente pelo período de tempo (geralmente muito breve) em que o sistema abertamente falha ou colapsa, para aproveitar a janela de oportunidade, tomar o poder que naquele momento estava nas ruas, está em disputa, e então fortalecer seu domínio no poder, construindo aparatos repressivos, etc., de modo que, uma vez terminado o momento de confusão e a maioria fique sóbria e desapontada com o novo regime, será tarde demais para se livrar dele, dado seu firme entrincheiramento.
Os comunistas também sempre calcularam cuidadosamente o momento certo de parar a mobilização popular. Vejamos o caso da Revolução Cultural Chinesa que, sem dúvida, continha elementos de uma utopia atuada. Em seu momento final, antes que a agitação fosse bloqueada pelo próprio Mao (já que ele já alcançara seu objetivo de restabelecer seu poder total e de se livrar da principal competição da nomenklatura), ocorreu a “Comuna de Xangai”: um milhão de trabalhadores que simplesmente tomou os slogans oficiais a sério, exigindo a abolição do Estado e até do próprio Partido, e querendo uma organização comunal direta da sociedade. É significativo que foi nesse exato momento que Mao ordenou que o exército interviesse e restaurasse a ordem. O paradoxo é o de um líder que desencadeia uma sublevação descontrolada, enquanto tenta exercer o poder pessoal total – a sobreposição da extrema ditadura e da extrema emancipação das massas.
A questão sobre a continuidade da relevância da crítica de Marx à economia política em nossa era do capitalismo global deve ser então respondida de uma maneira propriamente dialética: não apenas a crítica de Marx à economia política, seus contornos da dinâmica capitalista, ainda são totalmente atuais, mas deve-se também dar um passo à frente e afirmar que é apenas hoje, com o capitalismo global, que, em termos hegelianos, a realidade chegou ao seu conceito. Entretanto, uma inversão propriamente dialética intervém aqui: neste exato momento de plena atualidade a limitação tem que aparecer, o momento do triunfo é o da derrota. Depois de superar os obstáculos externos, a nova ameaça vem de dentro, sinalizando inconsistências imanentes. Quando a realidade alcança plenamente seu conceito, esse conceito em si precisa ser transformado. Aí reside o paradoxo propriamente dialético: Marx não estava simplesmente errado, ele estava certo na maior parte das vezes, mas mais literalmente do que ele próprio esperava estar.
Então qual é o nosso resultado? Devemos descartar os textos de Marx como um documento interessante do passado e nada mais? Em um paradoxo dialético, os próprios impasses e fracassos do comunismo do século XX, impasses que eram claramente alicerçados nas limitações da visão de Marx, aos mesmo tempo testemunham a sua atualidade: a solução marxista clássica fracassou, mas o problema permanece. O comunismo não é hoje o nome de uma solução, mas o nome de um problema, o problema dos comuns em todas as suas dimensões – os comuns da natureza como a substância de nossa vida, o problema de nossos comuns biogenéticos, o problema de nossos bens culturais (“propriedade intelectual”) e, por último mas não menos importante, os comuns como o espaço universal da humanidade do qual ninguém deve ser excluído. Qualquer que seja a solução, ela terá que lidar com esses problemas.
Nas traduções soviéticas, a bem conhecida declaração de Marx a Paul Lafargue “Ce qu’il y de certain, c’est que moi je ne suis pas marxiste” foi traduzida como “se isso é marxismo, então eu não sou marxista”. Este erro traduz perfeitamente a transformação do marxismo num discurso universitário: no marxismo soviético, mesmo o próprio Marx era marxista, participando do mesmo conhecimento universal que compõe o marxismo. O fato de que dele criou o ensinamento mais tarde conhecido como “marxismo” não oferece exceção, e assim sua negação apenas se refere a alguma versão errada específica que se proclama falsamente “marxista”. O que Marx queria dizer era algo mais radical: uma lacuna separa o próprio Marx, o criador que tem uma relação substancial com o seu ensino, dos “marxistas” que seguem este ensinamento. Essa lacuna também pode ser traduzida pela conhecida piada dos irmãos Marx: “Você parece o Emmanuel Ravelli. -Mas eu sou Emmanuel Ravelli. – Então não admira que se pareça com ele.” O cara que é Ravelli não se parece com Ravelli; ele simplesmente é Ravelli. E, da mesma maneira, o próprio Marx não é marxista (um entre os marxistas); ele é o ponto de referência excetuado da série. É a referência à ele que faz dos outros marxistas. E a única maneira de permanecer fiel a Marx hoje não é mais ser um “marxista”, mas repetir o gesto fundador de Marx de uma nova maneira.

[1] G.A.Cohen, If You’re an Egalitarian, How Come You’re So Rich?, Cambridge (MA): Harvard University Press 2001.
[2] Wolfgang Streeck, How Will Capitalism End?, London: Verso Books 2016, p. 57.

in Lavrapalavra blogspot.com

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Marx e a ciência política

Toda a ciência social digna de seu nome toma por base alguma concepção materialista da história e, assim, é tributária do pensamento de Marx.


Por Luis Felipe Miguel.

A obra de Karl Marx deixou sua marca em uma grande quantidade de campos do saber. Ele foi um filósofo, mas se tornou um economista. É um dos pais fundadores da sociologia. No caminho, revolucionou a ciência da história. O marxismo – um rótulo que não o agradava – evoluiu na forma de uma quase infinidade de correntes e leituras divergentes, contribuindo de diferentes maneiras para essas e outras disciplinas científicas (direito, antropologia, geografia, linguística). E não são apenas os marxistas que se alimentam das ideias de Marx. Elas assentaram muitas das bases do fazer científico nas humanidades. Thomas Kuhn dizia que as chamadas “ciências sociais” permanecem no estágio pré-científico, uma vez que nelas não vigora qualquer paradigma que seja compartilhado por todos os praticantes; a cada vez, temos que justificar nossas escolhas teóricas de fundo. Sem discutir aqui os limites da compreensão de Kuhn sobre o trabalho científico, é conveniente anotar que tal cizânia se liga às implicações políticas mais imediatas da ciência social, que sofre, assim, uma pressão maior para cumprir um papel de legitimação ideológica. Mas se pode dizer, sem medo de errar e contra o próprio Kuhn, que toda a ciência social digna de seu nome toma por base alguma concepção materialista da história e, assim, é tributária do pensamento de Marx.

A ciência política diante do marxismo

Delineado esse quadro, qual é a posição da ciência política? Trata-se certamente da disciplina das humanidades em que a penetração das ideias marxistas foi (e ainda é) mais difícil, por motivos que se ligam à sua própria formação. A ciência política nasceu nos Estados Unidos e se expandiu pelo mundo reproduzindo essa matriz. Desde o começo, privilegiou um foco estrito nas instituições formais, desconectadas do ambiente social em que se encontram. Foi marcada também por um apreço desmedido por modelos formais e extraiu-os em geral da economia neoclássica. Muitos de seus modelos mais influentes retiram dos agentes seu caráter de produtos históricos e patrocinam o fetichismo da empiria. Como resultado, em grande parte da ciência política sobrevive uma epistemologia ingênua, marcada pelo positivismo, o que explica o destaque de percepções bizarras, como a “teoria da escolha racional”, que projeta agentes políticos num vácuo histórico e social. Nesse registro, as abordagens comprometidas com a transformação do mundo são descartadas como “parciais”, mas são admitidas como “neutras” aquelas que aceitam o mundo tal como está e projetam sua permanência inconteste. Nada mais longe da tradição inaugurada por Marx.
Outro traço de origem da ciência política é seu caráter de disciplina auxiliar do Estado, voltada a ampliar a eficiência dos mecanismos de dominação. Como muitos de seus modelos têm caráter anistórico, as estruturas vigentes podem ser tomadas como simples “dados” e a pretensa neutralidade axiológica mascara o caráter conservador de sua análise. A ciência política passa longe, portanto, do caráter emancipatório que Marx quis dar à sua própria construção teórica. Quando Antonio Gramsci, nos Cadernos do cárcere, condenou a sociologia como uma ciência positivista burguesa e louvou a ciência política como verdadeiro caminho para a compreensão do mundo social, ele estava falando de uma fase anterior do pensamento sociológico. E também de uma ciência política completamente diferente; ele usa a expressão para designar a tradição de compreensão realista dos processos de poder, inaugurada por Maquiavel, não de uma nascente disciplina estadunidense. Na ciência política disciplinar, a abordagem crítica e antipositivista permanece na contracorrente.
As tradições de que a ciência política é herdeira a tornaram pouco receptiva às contribuições do marxismo. Mas há uma leitura alternativa que também merece consideração, segundo a qual foi o próprio marxismo que demonstrou pouca atenção pela política. Um texto provocativo de Norberto Bobbio respondia negativamente à questão que lhe servia de título: “Existe uma doutrina marxista do Estado?” A visão de que a política é apenas uma parte da “superestrutura” que reflete uma determinada base social, ou seja, de que não passa de um epifenômeno de conflitos mais profundos, teria levado a um subdesenvolvimento do pensamento marxista neste campo. Soma-se a isso a tendência, presente em boa parte do marxismo (sobretudo, mas não só, até as últimas décadas do século XX), de insulamento teórico, impedindo sua fecundação por outras correntes – no texto, Bobbio ironiza Umberto Cerroni, que, em livro de 1968, qualificou Wright Mills como “grande sociólogo” e concedeu a Max Weber o estatuto modesto de “observador atento. Sendo assim, a reflexão dos marxistas sobre o Estado e sobre a política em geral acaba condenada a, muitas vezes, simplesmente redescobrir o que muitos outros já haviam dito antes.
A leitura de Bobbio foi contestada por autores marxistas, que a apontaram como enviesada e seletiva. Mas não é possível negar que as obras fundadoras do marxismo concedem à política um papel limitado e, de fato, nela veem sobretudo o reflexo de estruturas mais profundas. Há um contraste entre a sensibilidade para a especificidade do político, presente nas obras em que Marx discute processos históricos concretos, e a teorização insuficiente quando ele trabalha em maior nível de abstração. Embora se possam indicar autores que, de dentro do marxismo da primeira metade do século XX, apresentaram uma discussão mais robusta sobre a política (como é o caso, por caminhos diversos, seja de Lênin, seja de Rosa Luxemburgo, seja de Eduard Bernstein), é no pós-guerras, com a divulgação da obra de Gramsci, que há um salto significativo na reflexão marxista sobre a política.

As contribuições do instrumental marxiano

A despeito de todas essas ressalvas, é possível e necessário destacar a utilidade do pensamento marxiano, ou do pensamento fecundado pela tradição marxista, para a produção de uma ciência política que seja mais capaz de entender o mundo social – e, quiçá, também de orientar a ação nele. Estou, portanto, alinhado à posição de Gramsci: trata-se de buscar uma disciplina que reflita mais sua inspiração primitiva, na obra de Maquiavel, e menos sua institucionalização, a partir dos últimos anos do século XIX, no ambiente acadêmico estadunidense. O caminho que proponho não é apenas encarar o “marxismo como ciência social”, para evocar o título do belo livro de Adriano Codato e Renato Perissinotto, o que sugere algo como sua normalização e incorporação nas vertentes teórico-metodológicas dominantes, mas de mantê-lo como tensionador da disciplina. O acréscimo fornecido pelo marxismo, assim como por outras correntes com projeto emancipatório (feminismo, estudos decoloniais), é o de uma teoria focada nos padrões vigentes de dominação que tem como horizonte a produção de uma sociedade nova. Um marxismo mutilado da décima-primeira tese sobre Feuerbach – aquela que diz que a questão não é interpretar o mundo, mas transformá-lo – perde seu diferencial.
Há muito no instrumental teórico e conceitual do marxismo que pode – e deve – ser apropriado pela ciência política, se ela deseja construir um entendimento mais aprofundado de seu objeto. Há as questões de método e é possível indicar também muitos outros elementos: a centralidade das classes sociais para o deciframento do conflito político; o entendimento do Estado como vinculado às disputas na sociedade; o conturbado conceito de “ideologia” e a atenção concedida aos circuitos socialmente estruturados de produção das preferências; a busca por padrões mais exigentes, atentos às formas de dominação e opressão incrustadas no cotidiano, de justiça e de liberdade. Mas creio que a primeira contribuição essencial do marxismo remete à compreensão do que é a própria política.
“Política” é um conceito complexo, sobre o qual o único consenso existente é que deve incluir, de alguma maneira, a ideia de disputa pelo poder. Se o conceito é reduzido ao mínimo, a política se torna desprovida de especificidade e coextensiva a todo o social, pois se sabe que as relações de poder perpassam toda a teia de relações humanas. No caminho inverso, a maior parte da ciência política busca estreitar a abrangência do conceito, limitando-o às dimensões estritas da política institucional (partidos, governos, parlamentos, eleições; também a diplomacia, como política externa). Com isso, porém, não apreende os conflitos relativos à politização de fenômenos sociais que escapam da política institucional ou do campo político propriamente dito. Não é capaz, portanto, de analisar fenômenos da dominação social que passam pelo impedimento à expressão de determinadas reivindicações ou reclamos nas arenas aceitas como políticas.
É mais frutífero compreender a política como um conjunto de práticas sociais, historicamente determinadas, cuja abrangência é fruto também das lutas sociais. Dito de outra maneira, ela é o processo pelo qual se obtém acesso ao exercício do poder e, por meio dele, à organização da vida coletiva numa determinada sociedade. O essencial é defini-la como “processo”, não como um espaço social predefinido. Com isso, entende-se que seus limites não são fixos e que inserir – ou não – um campo de questões no âmbito da política já é a primeira grande disputa política. O insulamento da política nas suas manifestações institucionais hoje reconhecidas, tal como produzido pela maior parte da ciência política, é uma forma de reificação de um processo histórico, que o despe de sua dinâmica e reduz nossa capacidade de interpretá-lo.
Todo o método científico de Marx se funda na compreensão de que qualquer fenômeno humano é dotado de sentido apenas à luz de seu percurso histórico e das relações sociais em que se introduz. São estas relações que produzem sua especificidade e o destacam de uma universalidade que também pode ser apreendida pelo pensamento – mas que, abandonada a si mesma, pouco nos diz sobre o mundo. Discutindo, nos Grundrisse, o conceito de “capital”, em oposição aos economistas burgueses que fazem dele uma permanência transistórica, ele observa que “as determinações que valem para a produção em geral têm de ser corretamente isoladas de maneira que, além da unidade – decorrente do fato de que o sujeito, a humanidade, e o objeto, a natureza, são os mesmos –, não seja esquecida a diferença essencial”. Se a produção humana da riqueza depende de um instrumento e de trabalho acumulado, mesmo que eles estejam apenas na “destreza acumulada na mão do selvagem pelo exercício repetido”, então sempre há capital. Entretanto, essa conclusão pelos economistas burgueses deixa de fora “justamente o específico, o que faz do ‘instrumento de produção’, do ‘trabalho acumulado’, capital”. Ou seja: o capital como abstração é condição para o trabalho humano. O capital como relação social que submete o trabalho nasce em determinadas circunstâncias históricas. É essa segunda percepção, muito mais do que a primeira, é que abre caminho para a compreensão da sociedade capitalista.
O mesmo pode ser dito, mutatis mutandis, para a política. Resumida à ideia de que mulheres e homens devem encontrar maneiras de organizar sua vida coletiva, ela é uma prática presente em qualquer sociedade humana. Mas a feição concreta dessa política muda, ao ponto de que sobra bem pouco em comum entre a política de uma sociedade de caçadores-coletores e a de um Estado-nação moderno. Em particular, a determinação histórica das práticas políticas implica uma definição do que é sua matéria, isto é, do que pode e deve estar submetido aos processos que aquela sociedade reconhece como políticos. A fórmula retórica “tudo é política”, com que às vezes se tenta sacudir o marasmo e apontar o significado das mais diferentes práticas sociais para a reprodução da ordem de dominação vigente, acaba por ignorar o esforço de circunscrição da política a determinado espaço, que é parte integrante desta mesma ordem de dominação: mesmo que “tudo” seja política, nem tudo conta como política numa determinada sociedade.
A ordem vigente de dominação, no entanto, é desafiada por movimentos que nascem no próprio tecido social; é nesse sentido que a definição do que é política consiste na disputa política elementar. Pelo menos grandes três ondas de ampliação das fronteiras da política ocorreram nos últimos dois séculos. O movimento operário politizou as relações de trabalho, que a burguesia desejava manter na condição de contratos privados entre empregados e patrões. O movimento feminista politizou a esfera doméstica, percebida tradicionalmente como respondendo a uma ordem natural e, portanto, inquestionável. O movimento ambientalista politizou a relação da humanidade com o meio natural que a cerca. Esses processos de politização são, em si mesmos, batalhas políticas essenciais, em que se defrontam projetos emancipatórios e seus adversários.
A última frase está no presente porque nenhuma destas batalhas pode ser considerada ganha, nem na sociedade, nem na teoria. A compreensão de que as relações de trabalho, a família e a exploração da natureza são questões políticas continua a ter que ser sustentada todos os dias. Contra ela opera um discurso de senso comum, que reduz a política aos espaços institucionais e que é refletido e reforçado pelo jornalismo, que setoriza as ações no mundo segundo sua lógica produtiva e reserva o noticiário político aos poderes constitucionais e aos partidos, relegando o conflito entre capital e trabalho às páginas de economia, as lutas pelos direitos de mulheres aos cadernos de “cotidiano” e o ambientalismo a umas ou outros, conforme o caso. A maior parte da ciência política, com seu institucionalismo estreito, funciona no mesmo diapasão.

Política e economia: para além da compartimentação e do determinismo

Há um reforço permanente da separação entre a política e a economia; somos levados a crer que se tratam de duas esferas naturalmente diversas, cujas fronteiras são apenas identificadas, não produzidas por nosso sistema de pensamento. Os discursos dominantes observam que a política não deve atrapalhar a economia. Mesmo em muito da tradição marxista se aceita, sem maior preocupação, a distinção entre luta econômica e luta política.
Mas Marx já indicava que há sempre um caráter político nas relações econômicas, não apenas porque a relação entre proprietários e trabalhadores é uma relação de autoridade, mas porque a subordinação se manifesta na própria operação da indústria capitalista, na qual o operário passa a ser “peça de uma máquina”. As reivindicações trabalhistas mais chãs, aceitas em geral como sendo apenas econômicas, como aquelas por melhoria no salário ou nas condições de trabalho, implicam uma contestação política, pondo em cheque a ideologia do contrato (que legitima o poder do patrão sobre o empregado) e também o direito do proprietário à extração de mais-valor e ao controle sobre o processo de produção, conforme certa vez observou André Gorz.
A separação entre economia e política é entendida melhor como sendo fruto de um trabalho ideológico primário, cujo resultado principal é fazer com que os problemas da exploração e da dominação deixem de ser entendidos como políticos e se tornem “econômicos”. Como demonstrou Ellen Meiksins Wood, essa divisão, da maneira como é aceita hoje, nasce com o próprio capitalismo. Nos modos de produção anteriores, as funções sociais vinculadas à produção, extração de mais-valor e apropriações e as funções vinculadas à repressão política costumavam ser exercidas pelos mesmos agentes, o que sublinhava sua indissociabilidade. O senhor feudal, por exemplo, era responsável por ambas. O capitalismo gera esferas diferenciadas ao alocar as funções “econômicas” aos proprietários privados e as funções “políticas” ao Estado. Com isso, despolitiza disputas essenciais, vinculadas à exploração e à dominação, que são relegadas à economia. Em síntese, diz ela, o que o capitalismo produz é uma diferenciação de tipos de atividades políticas, alocadas separadamente na esfera econômica privada e na esfera pública do Estado.
Essa separação é fundamental para perpetuar o império do capital, na medida em que a regulação promovida pelo mercado fica imune ao controle político. É o estratagema que permite driblar a tensão que é congenial ao casamento conflituoso entre capitalismo e democracia. A ordem democrática é baseada num credo igualitário, pelo qual a vontade expressa de cada cidadã ou cidadão deve pesar tanto quanto a de qualquer outro. Já no mercado capitalista a influência é determinada pela posse desigual dos recursos. Como escreveu Adam Przeworski, “só por mágica os dois mecanismos podem levar ao mesmo resultado”. A fixação da economia como um mundo à parte permite restringir o âmbito da democracia. Graças a isso, sociedades que aceitamos como democráticas convivem com hierarquias altamente autoritárias no âmbito das relações de produção (ou da esfera doméstica).
O pensamento de Marx busca, ao contrário, indicar a interrelação profunda entre as diferentes esferas da ação no mundo social. A formulação “canônica” aparece no célebre prefácio à Contribuição à crítica da economia política, de uma maneira, porém, que talvez tenha causado mais dano do que benefício. Lá está escrito que
“na produção social da própria existência, os homens [usado no sentido de “a humanidade”] entram em relações determinadas, necessárias, independentes da sua vontade; essas relações de produção que correspondem a um grau determinado de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. A totalidade dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem formas sociais determinadas de consciência. O modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social, política e intelectual.” (As armas da crítica, p. 106)
A metáfora base-superestrutura indica de forma gráfica o que Marx quer dizer, isto é, o impacto da organização das relações de produção em todos os aspectos da vida social, mas também cobra um preço. Ela encaminha para uma compreensão muito unidirecional e mesmo mecânica das influências entre as diferentes esferas do mundo humano. Marx fala em termos de correspondências e condicionantes. A um determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas correspondem certas relações de produção; a elas corresponde uma superestrutura jurídica e política, à qual corresponde por sua vez uma forma de consciência; o modo de produção condiciona o desenvolvimento de toda a vida social. É possível ler condicionantes e correspondências de uma maneira mais lassa, indicando sobretudo limites ou tendências. Mas é mais corrente interpretá-los de forma determinista, como se um estado levasse de forma obrigatória a outro. Assim, em última análise, do estágio de desenvolvimento das forças produtivas materiais nós poderíamos derivar, de forma inexorável, um conjunto de relações de produção, as quais, por sua vez, estabelecem também de maneira inelutável uma dada superestrutura.
É o tipo de leitura que faz com que Marx seja entendido – e não só por antimarxistas – como sendo um “determinista econômico”. Trechos dele próprio ajudam a sustentar essa posição. Por exemplo: ele está certamente correto quando escreve, em A miséria da filosofia, que ao adquirir novas forças produtivas, a humanidade acaba por alterar a maneira de ganhar a vida e, com isso, também todas as relações sociais. Mas arremata dizendo que “o moinho movido pelo braço humano nos dá a sociedade com o suserano; o moinho a vapor dá-nos a sociedade com o capitalista industrial” (p. 102). A sugestão de que há uma causalidade mecânica é inegável.
Essa não é a melhor maneira de interpretar a visão marxiana de fundo em relação à sociedade e à história. É necessário, em primeiro lugar, situá-la diante das interpretações então dominantes sobre o processo histórico. Na segunda metade do século XIX, grassavam, por exemplo, visões baseadas no britânico Thomas Carlyle, para quem “a história do mundo é apenas a biografia de grandes homens”. Para Marx trata-se, ao contrário, de inserir as ações individuais nas linhas de força dos grandes conflitos coletivos e das estruturas sociais. Mais importante ainda para a compreensão de sua obra, a filosofia de Hegel via a história como sendo o progresso da Razão, cujo núcleo dinâmico estava, portanto, no âmbito da consciência e das ideias. Marx chegou a descrever sua ambição intelectual como sendo colocar o hegelianismo com os pés no chão, Nele, a dialética “se encontra de cabeça para baixo. É preciso desvirá-la, a fim de descobrir o cerne racional dentro do invólucro místico”. Essa inversão é o materialismo histórico, que não nega o papel do pensamento no mundo, mas compreende que sua verdade depende de seu “caráter terreno”, da práxis que ele é capaz de engendrar.
Não se trata, portanto, de julgar que o mundo social deriva de forma mecânica das relações econômicas e que todo o resto – cultura, instituições, política – é epifenômeno da economia. Trata-se de entender que o mundo material condiciona a possibilidade e a efetividade do pensamento e que, justamente por ser assim, as disputas relativas à organização desse mundo material são as disputas centrais na sociedade. Essa compreensão mais sofisticada permite um entendimento mais preciso do mundo social, mas exige também maior esforço de operacionalização do que o mero determinismo econômico.
Muitos autores, partindo de Marx, buscaram estabelecer modelos capazes de apreender, de forma simultânea, as múltiplas determinações cruzadas entre as diferentes esferas da prática humana e a primazia da estrutura material na explicação histórica. Por exemplo, Louis Althusser apontava um padrão complexo de sobredeterminação entre as diferentes práticas humanas, incidindo umas sobre as outras, com a economia sendo “determinante em última instância”. Isto é, a economia é determinante a longo prazo e, concretamente, define que esfera da sociedade concentrará a tarefa de reprodução da ordem estabelecida. Na Idade Média, marcada pela naturalização de uma ordem que se assume como hierárquica, este papel cabia à religião. No capitalismo, em que a desigualdade é apresentada como fruto das trocas mercantis livres e voluntárias, a economia determina que ela própria é a instância dominante, para o que, aliás, contribui de forma central a própria separação entre economia e política, como visto antes.
Não invoquei Althusser para endossar sua teoria, mas para apontar como o materialismo histórico não significa determinismo econômico, nem indiferença a outras motivações para a ação humana. Significa, isso sim, que a atenção às circunstâncias materiais é importante para a explicação de qualquer movimento na sociedade humana, mesmo aqueles que parecem à primeira vista guardar pouca relação com elas. Uma mudança na doutrina católica – a invenção do purgatório – é melhor entendida quando conectada à emergência, na Baixa Idade Média, de uma camada urbana com recursos suficientes para comprar da Igreja a celebração de missas em prol de almas que permaneciam a meio do caminho entre o céu e o inferno. A revolução impressionista nas artes plásticas dependeu da disseminação da pintura ao ar livre, que gera quadros de menor dimensão, apropriados ao novo público consumidor burguês, ao passo que antes a produção voltada à nobreza e à Igreja privilegiava obras murais ou em grandes formatos. Os paradigmas estéticos que exaltam maior gordura corporal estão associados a sociedades com baixa oferta de calorias. E assim por diante. Não é determinismo: o surgimento das camadas médias urbanas na Europa medieval não engendra o purgatório, nem a ascensão da burguesia exige a pintura de cavalete. Mas as condições de êxito de inovações se ligam à situação material.

Por uma ciência política aberta às contribuições do marxismo

Se é assim para a teologia, a arte ou os padrões de beleza, certamente também é para a política. Aquilo que é aceito em geral como sendo os conflitos políticos correntes, que estão nas páginas de política dos jornais, que ocupam os “comentaristas políticos”, consiste nas brigas partidárias, nas lutas pelos cargos no Estado, nos esforços para a obtenção de maiorias eleitorais. São homens e mulheres – dada a estrutura sexista da sociedade, em geral mais homens do que mulheres – competindo pelo poder. É a “pequena política”, definida por Gramsci como compreendendo “as questões parciais e cotidianas que se apresentam no interior de uma estrutura já estabelecida em decorrência de lutas pela predominância entre as diversas frações de uma mesma classe política”. Ou seja, a pequena política põe em disputa a ocupação das posições de direção dentro de uma determinada ordem de dominação, mas não a própria ordem. “Portanto”, prossegue o revolucionário sardo, “é grande política tentar excluir a grande política do âmbito interno da vida estatal e reduzir tudo a pequena política”. Ao participar do fechamento de seu foco às questões da pequena política, elegendo como preocupação central os processos institucionalizados de disputa pelos cargos de comando do Estado, a ciência política corrobora o trabalho de naturalização da ordem de dominação vigente e de estreitamente das potencialidades emancipatórias da ação política.
Assim, a compreensão aprofundada da política exige tanto superar a marola das disputas do momento, conectando-as com os conflitos sociais mais profundos, quanto entender sua relação com os interesses materiais – a divisão do trabalho, o controle da riqueza, a distribuição dos frutos da cooperação social, o acesso aos diferentes espaços sociais. Foi o que o próprio Marx procurou fazer em seus escritos de conjuntura, como O 18 de brumário de Luís Bonaparte. A complexidade dessas obras mostra como não é um programa fácil de ser seguido, demandando uma grande clareza teórica em relação às contradições sociais fundamentais e, ao mesmo tempo, um olhar aguçado para as personagens do drama e as tramas em desenvolvimento.
A perspectiva marxiana, que ancora a disputa política nos conflitos sociais de base, serve de antídoto para as visões predominantes, que não veem mais do que a competição superficial, e também para as interpretações idealistas, que julgam que é possível transcender os interesses e fazer da política um exercício de uso puro da razão. Serve também para enfatizar que os conflitos não podem ser compreendidos sem relação com sua base material, ao contrário das vertentes que dão primazia absoluta ao simbólico, como as leituras conservadoras do “pós-materialismo” e aquelas, que se apresentam como mais progressistas, da “teoria do reconhecimento”. A aceitação da prioridade do reconhecimento tornou-se tão disseminada e influente que mesmo no interior do marxismo mais ortodoxo há quem entenda que o caminho não é questioná-la mas, ao contrário, atribuí-la pioneiramente ao próprio Marx – como fez, por exemplo, Domenico Losurdo.
A dimensão do reconhecimento permite apreender um aspecto da complexidade das motivações para o engajamento político, mas, tornada a explicação universal, é no mínimo tão limitada quanto o reducionismo econômico. Como enquadramento teórico geral, ainda é superior leitura do materialismo histórico que o vê não como determinação econômica, mas como sobredeterminação das diferentes práticas sociais. Ela permite entender que o que está em jogo, em última análise, é a maneira pelo qual mulheres e homens reproduzem a vida. Com isso, simultaneamente recusa a autonomia da política, que não é compreensível quando desconectada das relações e conflitos sociais mais amplos, e preserva a efetividade do momento político, que seria comprometida caso se aceitasse que as instituições e a cultura eram simplesmente derivadas do estágio de desenvolvimento das relações de produção.
Embora subteorizada pelo próprio Marx, essa efetividade transparece em seus escritos históricos e é desenvolvida pelos grandes pensadores marxistas da política, como Lênin, Gramsci, Althusser ou Poulantzas. A política é percebida como a prática que expressa as contradições presentes na sociedade e a arena em que se encontram as soluções, sempre provisórias, para elas. A fórmula gramsciana sintetiza com clareza: o “político em ato é um criador, um suscitador, mas não cria a partir do nada nem se move na vazia agitação de seus desejos e sonhos. Toma como base a realidade efetiva”. Trata-se de mais do que a frase surrada, atribuída a Bismarck, de que “a política é a arte do possível”, pois entende que a ação política incide também sobre o universo das possibilidades em aberto. Por isso – e essa é uma lição que Gramsci extrai de Maquiavel – a análise realista do mundo social não pode ser desatenta aos elementos, presentes na própria realidade, que a empurram para além de sua configuração atual. A ciência política, com frequência presa de uma miopia profunda, que a leva a trabalhar com o momento presente como se estive congelado, tem muito a ganhar com esse entendimento.
Trata-se de alcançar não uma “ciência política marxista”, que afirme uma filiação doutrinária a priori, mas uma ciência política aberta às contribuições do marxismo, seja em suas ferramentas analíticas, seja nos problemas que discute.
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Luis Felipe Miguel é professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, onde coordena o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades – Demodê, que mantém o Blog do Demodê, onde escreve regularmente. Autor, entre outros, de Democracia e representação: territórias em disputa (Editora Unesp, 2014), e, junto com Flávia Biroli, de Feminismo e política: uma introdução (Boitempo, 2014). É um dos autores do livro de intervenção Por que gritamos golpe? Para entender o impeachment e a crise política no Brasil. Seu livro mais recente é Dominação e resistência: desafios para uma política emancipatória (Boitempo, 2018). Colabora com o Blog da Boitempo mensalmente às sextas.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Por que publicar uma nova biografia de Marx?

Michael Heinrich é autor de uma nova biografia em três volumes que promete ser o trabalho definitivo para compreender, de forma integrada, a vida e a obra de Karl Marx. Nesta entrevista, ele fala a seu editor sobre a importância do projeto e discute os desafios de se enfrentar essa tarefa monumental.

Michael Heinrich e Ivana Jinkings, diretora da Boitempo, folheiam um dos volumes da Marx-Engels-Gesamtausgabe (MEGA) na sede da editora em São Paulo.

Entrevista especial com Michael Heinrich.

No dia 26 de outubro de 1868, Karl Marx escreveu a seu amigo Ludwig Kugelmann: “Por exemplo, pediram-me já há muito tempo, por escrito, por parte da Enciclopédia Meyer [Meyers Konversationslexikon], que lhes enviasse uma biografia. Eu não só não a fiz, mas nem sequer respondi à carta”. Marx provavelmente não teria aprovado o projeto apresentado aqui. Mas, afinal, também não se pode levar em conta todas as vontades… Nesta entrevista concedida ao seu editor alemão Paul Sandner, Michael Heinrich, autor de uma nova biografia em três volumes que promete ser o trabalho definitivo para compreender, de forma integrada, a vida e a obra de Karl Marx, fala sobre o que o levou a enfrentar esse desafio monumental. Realizada originalmente em alemão, a entrevista foi traduzida para o português por Claudio Cardinali, que também assina a tradução de Karl Marx e o nascimento da sociedade moderna: biografia e desenvolvimento de sua obra, Vol. 1: 1818-1841 (Boitempo, 2018), de Michael Heinrich, primeiro volume da obra, que tem lançamento mundial agora em maio de 2018 e já está disponível nas principais livrarias do país. O segundo e o terceiro volumes ainda estão sendo escritos e serão publicados, respectivamente, em 2020 e 2022. Boa leitura!

* * *
Até agora, você trabalhou sobretudo com a teoria marxiana. Em 1991 foi publicada sua tese de doutorado, a Ciência do Valor [Wissenschaft vom Wert], em 2004, sua Crítica da Economia Política – Uma Introdução, que é a mais difundida introdução aos três volumes do Capital em países germanófonos. Em 2008 e 2013, você publicou os dois volumes de Como ler O capital de Marx?, um comentário minucioso sobre os primeiros cinco capítulos d’O capital. Por que você está escrevendo agora uma biografia de Marx?
Como acontece muito na vida, o acaso tem seu papel, mas depois percebemos que a coisa toda não foi tão acidental assim. Acho que foi em 2006 que uma amiga minha me perguntou qual biografia de Marx eu poderia lhe recomendar. Eu até tinha algumas biografias do Marx em casa, mas nunca havia feito uma análise mais intensiva delas. [Franz] Mehring parecia-me consistente, mas já muito antigo, [Auguste] Cornu era extremamente detalhado, mas se limitava à juventude de Marx, [Francis] Wheen era uma leitura bastante agradável, mas na época eu ainda não havia percebido quanto desse livro era pura invenção. Eu não podia dizer claramente qual era a melhor biografia, e quanto mais procurava encontrá-la, mais percebia que as biografias existentes eram bastante insatisfatórias. Meu interesse foi despertado ali e eu comecei a pensar sobre as características que uma boa biografia deveria ter, sobre o que eu gostaria de encontrar em uma biografia de Marx, até que, por fim, comecei eu mesmo a conceber uma, mas ainda estava longe de ter certeza se, de fato, chegaria a escrevê-la um dia.
Bom, esse foi o impulso do acaso. Já o fato de eu ter prontamente aproveitado esse impulso foi menos acidental. Na verdade, eu trabalhei em todos os meus estudos sobre a teoria marxiana com o desenvolvimento dessa teoria. Eu havia percebido, já cedo, que era preciso considerar os textos individuais de Marx como passos de um desenvolvimento, que era preciso se perguntar quais eram as questões tratadas por ele, qual era o nível de conhecimento de Marx na época etc. Já em minha tese de conclusão no curso de Ciências Políticas, tratei do desenvolvimento do conceito de “Capital em geral” desde os Grundrisse até o Capital. Também na Ciência do Valor dou grande importância à questão do surgimento da crítica da economia política. E quando se analisa detalhadamente o desenvolvimento das teorias de um autor, acabamos nos deparando, mesmo que marginalmente, com acontecimentos biográficos: quando o autor estudou o quê; o que o motivou a tanto? Nesse sentido, não foi tão acidental que eu tenha reagido ao impulso de estudar a biografia de Marx.
Mas há uma grande diferença entre interessar-se por questões biográficas e escrever uma biografia, aprofundar-se na pesquisa biográfica. Já existe uma série de biografias de Marx, algumas delas inclusive bastante abrangentes. Por que mais uma agora, sua?
Há aproximadamente 30 biografias abrangentes de Marx. Não foi fácil tomar a decisão de escrever, eu mesmo, uma biografia do Marx. Anotei ideias, pensei em algumas concepções, mas, num primeiro momento, nada muito sério. Também não falei com muitas pessoas sobre a ideia, não queria anunciar algo que, possivelmente, não faria. Mas, de alguma forma, esse projeto de escrever uma biografia do Marx foi me envolvendo cada vez mais, e quanto mais eu estudava sobre o tema, mais eu percebia quão insuficientes eram as biografias disponíveis. Não só há uma grande quantidade de erros factuais, mas, com frequência, o material utilizado é escolhido a fim de fundamentar uma imagem de Marx já existente. Ao ler, tive muitas vezes a impressão de que a intenção ali não era investigar, mas meramente reafirmar. Nessa questão, tento uma aproximação mais franca, diferenciando com exatidão o que é comprovado por fontes do que é apenas uma hipótese, ora mais, ora menos plausível. Muitas biografias são, já desse ponto de vista, bastante questionáveis. Muitas vezes, especulações do autor são apresentadas como fatos, as fontes são analisadas de maneira acrítica, sendo que em alguns casos elas não são sequer citadas corretamente.
Mas a grande maioria das biografias de Marx são insuficientes por um outro motivo: vida e obra são geralmente dissociadas. Auguste Cornu e, em certa medida, também David McLellan tentaram proceder de maneira diferente, mas ambos os trabalhos foram publicados há mais de 40 anos, as informações conhecidas, tanto no que se refere às questões biográficas quanto aos manuscritos de Marx, já estão muito obsoletas. A tarefa de analisar igualmente vida e obra ainda está posta, e, devo dizer, acho justamente essa ligação particularmente interessante.
Mas o que são, exatamente, essas ligações entre vida e obra? Afinal, não se pode resolver problemas da teoria através de indícios da biografia.
Isso é verdade. Mas os motivos que levaram Marx, por exemplo, a considerar um determinado problema teórico especialmente urgente em um período específico, e menos importante em outro, têm a ver com a situação política na qual ele queria intervir com seus textos. Isso está relacionado às discussões em que ele estava inserido, que também levantaram novos questionamentos para a teoria. A correlação de vida e obra não está dada somente em pontos específicos. Ao observarmos a obra de Marx como um todo, vemos que ela basicamente representa uma série de projetos de larga escala que ele começou, interrompeu, desistiu, somente a fim de começar um outro projeto, um projeto diferente, que, igualmente, não seria finalizado, seguindo-se então o próximo projeto. Isso começa já com a tese de doutorado de Marx, de 1841, que deveria ser o início de uma série de estudos sobre as diversas escolas filosóficas pós-aristotélicas. Mas nunca ouve uma continuação, nem sequer a tese foi publicada pelo próprio Marx. Os famosos Manuscritos econômico-filosóficos deveriam ser uma crítica da economia nacional, a qual se seguiriam outras críticas, que Marx nunca escreveria; e assim vai. Esses diversos projetos interrompidos não são, de modo algum, expressão de uma flutuação aleatória. Também é possível perceber, nessas mudanças, avanços em seus estudos das condições econômicas e políticas. Mas os motivos das rupturas e dos recomeços não se encontram simplesmente no âmbito teórico, eles também estão relacionados com as circunstâncias da vida de Marx e com os diversos debates políticos em que ele estava envolvido. Em contrapartida, as novas perspectivas também influenciam diretamente o comportamento de Marx nesses debates. Quando determinadas estratégias políticas não mais lhe pareciam sensatas, era então preciso quebrar as velhas alianças e formar novas.
Mas as relações entre vida e obra não se dão somente no plano dos conflitos imediatos. Após a derrota da Revolução de 1848, Marx foi novamente para Paris, exilar-se; ele falava francês fluentemente, tinha muitos contatos lá, poderia trabalhar para diversos jornais, tendo, assim, um meio de subsistência. No entanto, o governo prussiano fez pressão para que ele fosse expulso de Paris. Só por isso Marx foi para Londres, ele nunca o teria feito “voluntariamente”: não falava inglês, tinha bem menos contatos que em Paris e não tinha chances de encontrar uma fonte de renda; lá, ele e sua família viveram, num primeiro momento, em grande miséria. Entretanto, Londres, o coração do capitalismo britânico, era na época o único lugar do mundo onde um livro como o Capital poderia ter sido escrito. Em Londres, não havia somente uma imprensa que discutia intensivamente temas econômicos e um parlamento que publicava importantes relatórios de estudos sobre questões econômicas e políticas, lá também se encontrava a maior biblioteca do mundo, um fator que era muito mais importante nessa época do que é hoje. Se Marx tivesse ficado em Paris, ele talvez até retornasse à Alemanha após alguns anos, e certamente teria escrito alguns livros importantes, mas provavelmente nada comparável ao Capital.
São histórias realmente interessantes. Mas não se corre também o risco de individualizar novamente a história, o risco de que a obra de Marx apareça exclusivamente como a obra de um grande gênio? Existe uma série de argumentos bastante críticos – muitos deles inspirados por ideias marxianas – em relação a essa interpretação de que a história seria a obra de “grandes homens”. O mesmo acontece no plano da história das ideias. Em vez de investigar os grandes gênios, Michel Foucault, por exemplo, direciona sua atenção à formação de discursos. Como você situa seu projeto nesses debates?
Investigar o papel de um indivíduo no processo histórico não significa automaticamente considerar a história de um ponto de vista individualizante. Karl Marx é, sem dúvida, um produto de seu tempo. Nesse sentido, dou grande importância, nessa biografia, não só às relações familiares, mas também às circunstâncias históricas e aos discursos que o influenciaram e com os quais ele se relacionava. E, para mim, isso tudo não é um mero contexto a partir do qual se pode identificar uns poucos impulsos aproveitados por Marx. O questionamento que sempre me acompanha é o seguinte: o que era realmente possível pensar naquela época, em que sentido Marx partilhava dessas ideias e até que ponto ele ia além delas? Em muitas biografias, a pessoa retratada é posta sozinha no centro das atenções, brilhando mais do que todo o resto. Isso pode rapidamente se tornar um culto à genialidade. Mas não necessariamente. Uma investigação biográfica não precisa estar em contradição com as ideias da história social ou daquilo que Foucault chama de “arqueologia do saber”. Muito pelo contrário: para mim, o estudo do papel de um único indivíduo só faz sentido dentro de um enquadramento teórico desse tipo. Assim, meu projeto se diferencia de muitas outras biografias de Marx também no plano da abordagem metodológica. E a fim de deixar isso claro, o primeiro volume contém um anexo tratando da “escrita biográfica”, onde eu exponho as consequências que tirei dos diversos debates literários e historiográficos acerca das possibilidades e limites das biografias.
Uma última pergunta. Como fica a questão da relevância política do seu projeto? Existe tal relevância ou se trata de um trabalho puramente científico?
Primeiramente, acho questionável a oposição entre “puramente científico” e “politicamente relevante”. Quando se trata de uma ciência que envolve a sociedade, há sempre uma relevância política, que às vezes é bem visível e às vezes meio escondida. No que tange à biografia de Marx visada por mim, vejo uma relevância política em vários níveis.
Em primeiro lugar, temos Marx em sua época, com suas questões políticas, que são – ao menos em parte – parecidas com algumas das questões atuais: qual a importância da liberdade de imprensa? Como uma esquerda radical se relaciona com instituições parlamentares? Como devem ser estruturadas as organizações de esquerda? Quais são as possíveis reivindicações políticas a curto e a longo prazo? Não quero dizer, com isso, que as respostas de Marx a essas perguntas foram sempre corretas, ou que se poderia, hoje, simplesmente copiar as estratégias de então. Mas, sem dúvida, é possível, a partir da análise detalhada dessas questões, desenvolver algumas ideias sobre como agir em determinadas situações, ou talvez como não agir.
Um outro nível – político – são as próprias biografias de Marx, que são intervenções no debate acerca de Marx e da teoria marxiana. No século XX, muitos críticos de Marx publicaram biografias com verdadeiras caricaturas dele, ao passo que alguns marxistas descreviam um Marx absolutamente sem defeitos, que sempre esteve no caminho certo e que foi sempre melhorando. As biografias mais recentes não chegam a ser tão rasas, mas também transmitem mensagens por vezes explicitamente políticas. Por exemplo, Jonathan Sperber afirma, em sua biografia de Marx publicada em 2013, que sua intenção era mostrar que Marx teria sido alguém completamente enraizado no século XIX e que não teria, atualmente, mais nada a nos dizer. Stedman Jones argumenta em uma direção parecida, mas não tão extrema, em sua biografia publicada em 2016. Como hipótese de pesquisa, tal afirmação é, sem dúvida, válida. Mas ambos os autores, para dizer o mínimo, não têm nenhum conhecimento profundo da crítica de Marx à economia política, o que não os impede de fazer juízos bastante abrangentes. Tais juízos, independentemente de quão fundamentados ou não, têm um papel importante no debate sobre Marx. Nesse sentido, acho realmente importante pôr algumas questões às claras, e mostrar que alguns juízos são, antes, preconceitos.
Além disso, uma biografia que trata igualmente vida e obra também pode ajudar na utilização e classificação dos textos de Marx. Através da Marx-Engels-Gesamtausgabe (MEGA) [Obras Completas de Marx e Engels], que está sendo publicada desde 1975 e que ainda está longe de ser finalizada, temos à disposição, hoje, muito mais textos – também melhor editados – de Marx e Engels do que cada geração anterior. A MEGA deixou claro que os escritos de Marx e Engels já conhecidos há tempos são, na verdade, apenas a ponta de um gigantesco iceberg, cujo volume e estrutura ainda estamos lentamente identificando. Isso, levando em conta não só o aparecimento de muita coisa nova, mas também a nova perspectiva que nos possibilita ver as obras já conhecidas, em alguns casos, sob uma nova luz. Muitas pessoas acreditam que tanto já foi dito e escrito sobre Marx e suas teorias que não é possível adicionar mais nada de novo. Minha opinião é quase que contrária: estamos apenas no início dos debates e eu espero que minha biografia do Marx seja uma espécie de guia que acompanhará esses muitos textos, novos ou reavaliados.
* * *
Leita também, no Blog da Boitempo, o artigo “Vida e obra: o significado político de uma leitura biográfica de Marx“, escrito por Michael Heinrich. Em depoimento inédito (e legendado!) para a TV Boitempo, Michael Heinrich fala sobre alguns dos principais diferenciais de sua biografia Karl Marx e o nascimento da sociedade moderna. Vale a pena conferir:

Onde encontrar o livro?

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Michael Heinrich é cientista político, matemático e biógrafo de Marx. Foi professor convidado de ciência política na Universidade de Viena e na Universidade Livre de Berlim. Atualmente é professor de economia na Universidade de Ciências Aplicadas de Berlim. Editor da PROKLA (Jornal da ciência social crítica) e do site Oekonomiekritik, participa do projeto MEGA 2, um monumental esforço internacional visando à publicação das obras completas de Marx e Engels. É autor, entre outros, do prefácio à edição da Boitempo do Livro II de O capital, de Marx e dos livros Crítica da economia política: uma introdução, Uma introdução aos três volumes d’O capital de Marx. Em 2018 a Boitempo publicará o primeiro volume de sua monumental biografia intelectual e política de Karl Marx: Karl Marx e o nascimento da sociedade moderna – ambicioso projeto que comportará ao menos três volumes ao todo!

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