A espuma das palavras
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sábado, 20 de abril de 2024
quarta-feira, 17 de abril de 2024
Erro ou traição?
– Investigação sobre o fim da URSS
– Livro de Alexandre Ostrovski (Paris, Edições Delga, 2023, 797 p., €33)
Roger Keeran [*]
O poeta palestino Mahmoud Darwish disse que "há mais inspiração e riqueza humana na derrota do que na vitória". Darwish queria dizer que há uma grande poesia na derrota, mas talvez quisesse dizer que as derrotas, mais do que as vitórias, nos obrigam a refletir e a tirar lições. Este livro de Alexandre Ostrovski é uma fonte rica de lições a retirar da derrota do socialismo soviético. Escrito pelo historiador russo da Academia de Ciências de Leninegrado em 2011 e publicado em francês pelas Edições Delga em 2023, Erreur ou Trahison (Erro ou Traição) é o livro mais exaustivo sobre o colapso soviético até hoje publicado.
Ostrovski tem três objectivos: primeiro, reconstruir os acontecimentos que levaram ao colapso; segundo, determinar se o colapso foi "espontâneo" ou "propositado"; e terceiro, descobrir o papel que os líderes soviéticos desempenharam nos acontecimentos que conduziram ao colapso.
Quanto ao primeiro objetivo, Ostrovski faz um relato minucioso dos acontecimentos desde 1985 até ao colapso soviético em 1991. Quanto ao segundo e terceiro objectivos, Ostrovski defende que o colapso não foi espontâneo nem inevitável, nem resultou de "erros" dos dirigentes. Pelo contrário, o colapso deveu-se às políticas e acções deliberadas de Mikhail Gorbachev e dos seus colaboradores mais próximos, em particular Alexander Yakovlev. Desde o início, estes homens tinham um plano geral para enfraquecer o Partido Comunista Soviético, abandonar a economia socialista planificada e introduzir uma economia de mercado com propriedade privada e um governo parlamentar liberal.
Tendo escrito um livro com Joe Jamison (que usava o pseudónimo de Thomas Kenny) sobre o colapso soviético, publicado em 2010 (um ano antes do livro de Ostrovski), estava ansioso por saber em que pontos os nossos dois livros concordavam e divergiam, e que novas informações Ostrovski, com a vantagem de ter fontes em língua russa, poderá ter descoberto. No que respeita às linhas gerais dos acontecimentos que conduziram ao colapso e à responsabilidade global de Gorbachev e dos seus aliados próximos pelo colapso, os dois livros concordam. Do mesmo modo, concordamos com Ostrovski em que a União Soviética não enfrentou qualquer crise em 1985 e que o colapso não foi inevitável nem espontâneo.
No entanto, existem diferenças. Enquanto nós sublinhamos as raízes das ideias reformistas de Gorbachev em Nikolai Bukharin e Nikita Khrushchev e o papel da segunda economia (mercado negro) no enfraquecimento do socialismo e na preparação de uma base ideológica e material para o oportunismo de Gorbachev, estas ideias não ocupam um lugar importante em Ostrovski. Além disso, por vezes, o desprezo compreensível de Ostrovski por Gorbachev leva-o a ver conspirações (como no incidente de Rust abaixo) que podem ser verdadeiras mas não são apoiadas pelas provas disponíveis. Além disso, enquanto nós atribuímos o crescimento do nacionalismo em algumas repúblicas soviéticas à inépcia de Gorbachev, Ostrovski vê-o como resultado de um esforço calculado de Gorbachev para enfraquecer o Partido Comunista e o Estado.
Com o seu acesso a uma grande variedade de fontes russas, incluindo jornais e diários, actas de reuniões, relatórios e entrevistas, Ostrovski fornece 800 páginas de novos factos e ideias que tornam este livro uma leitura inestimável. Sem tentar relatar toda a nova informação, concentrar-me-ei antes na luz que Ostrovski lança sobre a questão mais desconcertante que envolve o colapso: como é que Gorbachev conseguiu levar a cabo a sua destruição do Partido, da economia socialista e do Estado soviético multinacional sem ser travado por outros comunistas.
Na primavera de 1985, quando Mikhail Gorbachev se tornou Secretário-Geral, a grande maioria do Politburo, do Comité Central, da comunidade militar e dos serviços secretos e da população em geral ter-se-ia oposto aos planos de Gorbachev e de Yakovlev, se os tivesse conhecido. Gorbachev e os seus aliados admitiram-no mais tarde. Por isso, Gorbachev e Yakovlev só puseram em prática os seus planos revelando-os gradualmente e utilizando sem escrúpulos o engano, a duplicidade, a demagogia e a crueldade para ultrapassar os seus camaradas. Esta é a chave para compreender como foram bem sucedidos.
Gorbachev e Yakovlev compreenderam a importância de preparar o terreno para as suas reformas, assumindo o controlo da ideologia do partido e minando as ideias e políticas comunistas tradicionais. Uma das primeiras medidas de Gorbachev foi nomear Yakovlev para dirigir o Departamento de Propaganda do Comité Central, colocando-o à frente da ideologia do Partido e dos jornais, revistas e outros meios de comunicação social do país. Yakovlev utilizou então uma tática a que, noutro contexto, Mao Tsé Tung chamou "usar a bandeira vermelha para combater a bandeira vermelha". Como Yakovlev disse mais tarde, o seu plano visava "usar a autoridade de Lenine para derrubar Estaline, o estalinismo. E depois, em caso de sucesso, usar Plekhanov e a social-democracia para derrubar Lenine e, finalmente, derrubar a revolução em geral a caminho do liberalismo e do 'socialismo moral'". Seguiu-se a mais amarga das ironias: um ataque a Estaline, o homem que mais do que ninguém construiu o socialismo soviético, serviu como a ponta aguçada da cunha que minou o socialismo.
Ostrovski considera a trapaça de Yakovlev, mas não reconhece que o seu êxito só ocorreu porque Khrushchev havia preparado o caminho, fazendo da condenação de Estaline a ideologia dominante do Partido Comunista. Em 1977, quando leccionava na Universidade de Cornell, recebi um candidato a doutoramento da Universidade Estatal de Moscovo que estava a fazer investigação sobre os Estados Unidos. Um dia, abordei uma discussão sobre os "erros" de Estaline e aquele jovem comunista protestou: "Estaline não cometeu erros. Ele cometeu crimes". O repúdio total de Estaline marcou a ideologia soviética após o discurso de Khrushchev sobre o culto da personalidade no XX Congresso do PCUS, em 1956, e diferia marcadamente dos chineses, que concluíram que Estaline estava 70% certo e 30% errado. Ao atacarem Estaline, Yakovlev e os seus aliados estavam a empurrar uma porta aberta e, ao associarem as suas reformas a um ataque a Estaline, estavam a estigmatizar preventivamente os adversários da reforma como estalinistas.
No início, Gorbachev cultivou o apoio de líderes do Partido honestos e muito respeitados, como N.I. Ryzhkov e Yegor Ligachev, que eram a favor de reformas económicas segundo as linhas propostas anteriormente por Yuri Andropov. Mais tarde, quando se opuseram a medidas para enfraquecer o Partido e o sistema socialista, Gorbachev virou-se contra eles. De um modo geral, Gorbachev e Yakovlev recompensaram e promoveram magistralmente os seus aliados, ao mesmo tempo que despromoviam ou marginalizavam os seus opositores.
Ostrovski mostra como Gorbachev introduziu novas ideias e políticas fora do Partido e, por vezes, junto de líderes estrangeiros, sem as discutir previamente com o Politburo. Além disso, para promover a sua agenda, planeou habilmente alguns acontecimentos e explorou outros de forma oportunista.
No relato de Ostrovski, Gorbachev não surge como um vagabundo provinciano e ingénuo cujas reformas produziram consequências imprevistas e conduziram involuntariamente ao colapso do Partido Comunista, do socialismo e da União Soviética. Em vez disso, segundo Ostrovski, Gorbachev e os seus colaboradores mais próximos sabiam que a União Soviética não estava a enfrentar nenhuma crise iminente e, consequentemente, enfrentar uma crise ou mesmo uma crise iminente não era a verdadeira motivação para o seu programa de glasnost e perestroika. Gorbachev ampliou as preocupações existentes sobre a estagnação da economia soviética e a corrida ao armamento para atingir o seu verdadeiro objetivo, que era transformar o socialismo soviético numa versão de social-democracia.
Ostrovski apresenta provas e argumentos convincentes para cada elo desta cadeia. (Embora até ele admita que ainda não é possível escrever uma história conclusiva do colapso porque alguns documentos continuam indisponíveis). Quanto à questão de saber se o sistema socialista enfrentava uma crise iminente em 1985, os colaboradores próximos de Gorbachev, V. A. Medvedev e G. K. Shakhnazarov, bem como o próprio Gorbachev, admitiram anos mais tarde que essa crise não existia. Em 2008, por exemplo, em resposta a uma pergunta de um entrevistador, Gorbachev afirmou que, sem as suas acções, a União Soviética teria durado anos.
Gorbachev tinha um plano de reformas quando se tornou Secretário-Geral em 1985? Gorbachev não tinha um plano bem elaborado, mas ele e Yakovlev tinham uma ideia geral do que queriam fazer, e criou imediatamente um grupo de trabalho fora da estrutura e da aprovação do Politburo e do Comité Central para desenvolver um plano em segredo. Dirigido pelo omnipresente Alexander Yakovlev, cujas impressões digitais estão em todos os aspectos da glasnost e da perestroika, o grupo de trabalho desenvolveu este plano entre março e junho de 1985. Embora os participantes no grupo de trabalho atestem o plano, o documento em si permanece desconhecido, e Gorbachev nunca apresentou esse plano ao Politburo ou ao Comité Central.
A duplicidade de Gorbachev revelou-se desde o início. Em 11 de março de 1985, quando foi proposto para Secretário-Geral, Gorbachev afirmou: "Não precisamos de mudar as nossas políticas". No mesmo dia, após a sua aprovação no novo cargo, Gorbachev apelou a "mudanças radicais nos mecanismos produtivos e económicos, bem como na gestão do país". A duplicidade de Gorbachev e do seu círculo íntimo foi abertamente admitida por Yakovlev em 2003. Comentando a abordagem de Gorbachev, Yakovlev disse que era "uma cara de Jano", falando, por um lado, da continuidade da construção do socialismo e, por outro, da reestruturação das condições existentes.
Outro exemplo da duplicidade de Gorbachev dizia respeito às suas primeiras acções em matéria de política externa. Gorbachev estava convencido de que só poderia fazer as reformas internas que desejava reduzindo as despesas militares soviéticas, e só o poderia fazer reduzindo a ameaça do exterior através do cultivo da cooperação entre os líderes europeus e americanos. Gorbachev introduziu assim a ideia de "uma casa comum europeia", a ideia de que a União Soviética, a Europa de Leste e a Europa Ocidental deveriam cooperar para promover a paz, o comércio e, em última análise, a integração económica. Esta ideia aparentemente inócua e visionária implicava, de facto, uma mudança radical na ideologia e na política soviéticas. A integração económica não era possível, por exemplo, enquanto a URSS tivesse uma economia planificada e a Europa Ocidental uma economia de mercado. Alguns foram atraídos pela visão de paz e prosperidade sem se aperceberem de que isso significava o abandono de uma economia socialista planificada. No entanto, Gorbachev discutiu esta ideia com líderes da Europa Ocidental, como François Mitterand, de França, e nos meios de comunicação social soviéticos, antes de a apresentar ao Politburo.
Gorbachev também utilizou a ameaça da "Guerra das Estrelas" como argumento para promover o desanuviamento e fazer concessões unilaterais ao Ocidente. Em março de 1983, o Presidente Ronald Reagan tinha declarado a intenção dos Estados Unidos de construírem um sistema de defesa antimíssil, designado por Iniciativa de Defesa Estratégica (Strategic Defense Initiative, SDI) ou Guerra das Estrelas. Muitos membros das comunidades militar e científica soviéticas pensaram que a Guerra das Estrelas representava uma ameaça fictícia (idle), uma vez que um sistema de defesa a laser não era viável (um juízo que se revelou historicamente correto, uma vez que os EUA nunca construíram um sistema desse tipo). Gorbachev, no entanto, rejeitou esta opinião e argumentou que a Guerra das Estrelas representava uma ameaça real e que combatê-la exigiria uma despesa que a União Soviética não poderia suportar, pelo que era imperativo procurar o desarmamento com o Ocidente, mesmo que isso implicasse que a União Soviética fizesse concessões unilaterais. Foi exatamente isso que aconteceu.
Ostrovski dá muitos outros exemplos de como Gorbachev criou ou explorou os acontecimentos para afastar os opositores do poder e levar por diante as suas reformas. Em maio de 1987, ocorreu um incidente menor quando um pequeno avião Cessna pilotado por um jovem alemão, Matthais Rust, aterrou junto ao Kremlin. Ostrovski argumenta que nenhum avião poderia ter penetrado nas defesas soviéticas sem ser detectado e/ou comunicado sem algum tipo de cooperação dos serviços secretos soviéticos. Ostrovski implica, assim, que só uma conspiração envolvendo Gorbachev, o KGB e os militares, e talvez até os serviços secretos americanos, poderia explicar este incidente. Se Ostrovski estiver correto (embora ainda não tenha surgido nenhum indício a revelar tal conspiração), isso mostraria um nível espantoso de engano. Se Gorbachev engendrou este incidente pode ser discutível, mas é incontestável que ele utilizou esta brecha nas defesas soviéticas como uma razão para afastar alguns dos seus opositores do cargo e substituí-los pelos seus apoiantes. Entre os destituídos encontrava-se o ministro da Defesa S. L. Sokolov. Depois disso, Yakovlev entrou no gabinete de Ligachev, regozijando-se e dizendo jovialmente: "Olha. As minhas mãos estão cobertas de sangue até aos cotovelos".
No final, os comunistas honestos que queriam melhorar o sistema socialista, mas que se opunham a Gorbachev, enfrentaram enormes obstáculos. Tinham de respeitar as restrições impostas pela sua própria adesão aos princípios comunistas da disciplina e do centralismo democrático, desafiando simultaneamente o líder do partido, que detinha o poder, a influência e o respeito inerentes a essa posição, e que estava disposto a espezinhar as regras, a ideologia, as políticas e a ética comunistas. Yakovlev admitiu que o Partido Comunista só podia ser destruído recorrendo à "disciplina" do Partido e à "confiança" dos comunistas no secretário-geral que o Partido havia inculcado durante anos. Para ter êxito com o programa de reformas, Yakovlev disse que eram necessários recuos e truques. Confessou mais tarde que distorcia muitas vezes as coisas e "falou mais do que uma vez em 'renovar o socialismo', quando sabia muito bem que o caminho seguido levaria à destruição do socialismo".
Uma outra questão no relato de Ostrovski merece ser mencionada. Terá sido Gorbachev bem sucedido porque os serviços secretos americanos desempenharam um papel no colapso soviético? Ostrovski salienta que os diplomatas e os agentes dos serviços secretos americanos ficaram geralmente surpreendidos com o colapso soviético, o que constitui a melhor prova de que o colapso não foi, em primeiro lugar, obra deles, mas um assunto interno. Ostrovski observa, no entanto, que os diplomatas e os agentes dos serviços secretos americanos encorajaram e promoveram as reformas de Gorbachev a cada passo e, mais tarde, alguns ficaram com os louros do colapso. Além disso, Ostrovski discute em profundidade as suspeitas que surgiram sobre as possíveis ligações de Yakovlev à CIA. Essas suspeitas surgiram durante a sua estadia na Universidade de Columbia em 1960 e, mais tarde, durante os anos de Gorbachev. O mais grave é que V. A. Kryuchkov, o chefe do KGB, escreveu nas suas memórias que, a partir de 1989, "começaram a chegar informações extremamente alarmantes que indicavam ligações de Yakovlev aos serviços especiais americanos". Kryuchkov estava tão preocupado que abordou o assunto com Gorbachev, o qual, naturalmente, desviou um inquérito sério sobre o comportamento do seu colaborador mais próximo. Ostrovski sugere que a alegação de Yakovlev de que queria uma investigação para limpar o seu nome era altamente duvidosa e inconsistente com o seu comportamento. No final, Ostrovski afirma que as relações de Yakovlev com os serviços secretos americanos, quaisquer que tenham sido, continuam a ser um aspeto não esclarecido do colapso soviético.
Apesar de Ostrovski fazer uma análise exaustiva da forma como Gorbachev e os seus aliados se safaram com a destruição do socialismo, alguém poderia ainda perguntar: porque é que comunistas como Ligachev e Ryzhkov não foram suficientemente duros ou perspicazes para ver através das mentiras e dos enganos? Como é que comunistas tão traidores como Gorbachev e Yakovlev conseguiram ascender a posições de poder? O que motivou Gorbachev e Yakovlev a quererem transformar o sistema? (Relativamente a esta última questão, Ostrovski fornece algumas provas de que Gorbachev e Yakovlev receberam ou, pelo menos, esperavam uma recompensa financeira do Ocidente pela sua traição). É claro que uma regressão infinita de porquês pode dificultar qualquer explicação. Estas questões não diminuem o feito de Ostrovski. Sublinham, no entanto, a importância de olhar para além das motivações e acções dos indivíduos, para os problemas sociais, económicos e ideológicos subjacentes (como o crescimento da segunda economia e a persistência do oportunismo) que facilitaram a traição de Gorbachev.
É lamentável que os americanos que queiram seguir a ideia de Darwish e procurar inspiração e lições na derrota soviética não disponham de uma versão em língua inglesa de um dos melhores livros sobre o assunto. Se se tornar disponível em inglês, não deixem de aproveitá-la.
03/Fevereiro/2024
Ver também:
[*] Historiador, estado-unidense, autor de O socialismo traído (Ed. Avante!, 2008)
O original encontra-se em mltoday.com/book-review-error-or-betrayal-an-inquiry-into-the-end-of-the-soviet-union/
Este artigo encontra-se em resistir.info
terça-feira, 16 de abril de 2024
Como a direita portuguesa venceu a eleição
Sofia Schurig
A direita obteve mais de 50% dos votos nas eleições gerais de Portugal em março. Ela fez isso politizando um escândalo de corrupção e criando uma divisão entre a esquerda radical e a centro esquerda.
No ano que marca o quinquagésimo aniversário da revolução portuguesa, a extrema-direita populista é a grande vencedora das eleições que ocorreram em 10 de março. O Chega, partido liderado por André Ventura e inspirado por Matteo Salvini, Marine Le Pen e o presidente do Vox, Santiago Abascal (que esteve em Portugal para participar da campanha), conquistou mais de um milhão de votos e se estabeleceu como a terceira força no mapa político português.
No dia da eleição, Portugal voltou às urnas apenas dois anos após as eleições que deram ao Partido Socialista (PS) uma maioria absoluta através do apoio dos partidos de esquerda, o Bloco de Esquerda (BE) e o Partido Comunista Português (PCP). O escândalo de corrupção que levou à renúncia do primeiro-ministro anterior, António Costa, ainda não foi investigado e explicado, mas a verdade é que, após oito anos de governança, que incluíram a era pós-austeridade, a pandemia de COVID-19, a guerra na Ucrânia, a crise inflacionária e vários escândalos menores dentro do próprio governo, a imagem do partido estava desgastada, tornando impossível suportar mais um escândalo, desta vez alegadamente envolvendo o próprio primeiro-ministro. Em 7 de novembro de 2023, o governo caiu e foram convocadas eleições antecipadas.
A tarefa foi difícil para o novo secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, político associado à ala esquerda do partido por muitos anos, que foi eleito apenas dois meses antes das eleições. Por sua vez, a centro-direita, representada nestas eleições pela coligação Aliança Democrática (AD), composta pelo Partido Social Democrata (PSD), o Partido Popular (CDS-PP) e o Partido Popular Monárquico (PPM), teve espaço para se afirmar como uma alternativa ao PS.
No entanto, os resultados mostram uma diferença estreita entre os dois partidos: 28,9% para a AD, com oitenta deputados, e 28% para o PS, com setenta e oito deputados. Em terceiro lugar está o Chega, com 18,1% dos votos e cinquenta deputados eleitos; seguido pelo partido liberal de direita, a Iniciativa Liberal (IL), com 4,9% dos votos e mantendo seus oito deputados, então o BE com 4,4% e mantendo seus cinco deputados, a coligação do PCP com 3,2% dos votos e quatro deputados (perdendo dois), o partido Livre com 3,2% e quatro deputados, e o PAN com 1,9% dos votos e um deputado.
Um Parlamento dividido, mas claramente à direita
Essas eleições mantêm a presença dos mesmos partidos que entraram na Assembleia em 2022. A grande mudança é a maioria clara da Direita: AD, IL e Chega conquistaram mais de 50% dos votos. Em termos de mandatos, os partidos de direita conquistaram pelo menos 135 mandatos, bem acima dos 116 necessários para garantir maioria absoluta.
No entanto, o líder da AD, Luís Montenegro, reiterou ao longo da campanha eleitoral que não faria acordo para formar governo com o Chega. Isso resultará em uma crise política ou em Montenegro quebrando suas promessas pré-eleitorais ao entrar em negociações com a extrema direita. Pedro Nuno Santos (PS) também é claro: ele não fará parte de nenhum governo de bloco central com a AD. É difícil agora imaginar um governo estável em Portugal. O governo minoritário da AD assumirá o poder em 2 de abril, após o que começarão negociações difíceis após o verão e provavelmente se concentrarão no orçamento do estado.
A menor taxa de abstenção desde 1995
Um dos fatos mais interessantes sobre essas eleições é a baixa taxa de abstenção (menos de 34%), o que significou um universo eleitoral mais amplo e uma maior dispersão de votos. Por exemplo, o BE manteve o mesmo percentual de votos em comparação com 2022, embora tenha conquistado cerca de trinta mil votos a mais.
A baixa abstenção é parte da explicação para o crescimento do Chega, que foi capaz, combinando um foco na corrupção com um programa econômico profundamente neoliberal, de atrair eleitores desiludidos. O discurso anti-sistema, que atualmente é totalmente dominado pela extrema direita, também levou muitos jovens a votarem neste partido. Mas a posição da AD e de Montenegro durante a campanha — de que nunca farão um acordo de governo com o Chega — também tornou este partido o depósito dos votos de protesto.
Este é um fato importante que pode explicar em parte a ascensão da extrema direita. Em 2022, o líder do partido de centro-direita PSD não fez a mesma promessa. Isso levou à normalização do voto tático para o PS garantir que o Chega não chegasse ao poder, garantindo ao partido de centro-esquerda uma maioria absoluta e garantindo um baixo resultado para o PSD.
A questão da imigração
O Chega também conquistou dois dos quatro mandatos eleitos pela comunidade emigrante. Este é um fenômeno novo, dado que um partido fora do centro esquerda e direita nunca havia conseguido eleger deputados fora do país. As questões da migração tornaram-se um tópico central no debate político português na última década — durante os anos do memorando de austeridade imposto pela troica (Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e Comissão Europeia), o país experimentou sua maior onda de emigração, comparável apenas àquela que ocorreu durante os anos 1960 e 70 devido à pobreza, fascismo e às guerras coloniais em que Portugal estava envolvido.
Ao mesmo tempo, Portugal testemunhou um aumento exponencial da imigração, tanto de migrantes de classe média alta (muitos dos chamados nômades digitais), quanto de migrantes da classe trabalhadora do Brasil e de países do sudeste asiático. A tensão entre as dinâmicas da emigração e da imigração foi explorada oportunisticamente pela extrema direita, um fato que ajuda a explicar o voto migrante.
O dilema de Pedro Nuno Santos
O novo secretário-geral do PS, embora tenha representado a facção mais à esquerda de seu partido por muitos anos (ele foi, na verdade, uma figura central na governança do PS com o apoio do BE e do PCP), foi eleito apenas dois meses antes das eleições. Essa realidade criou um dilema difícil: por um lado, tentar manter uma linguagem política mais assertiva e radical, e por outro, não perder a estrutura e o apoio do partido que acabara de conquistar. Esse dilema criou uma campanha confusa por parte do PS, o que também revela a situação complexa que a esquerda portuguesa teve que negociar.
Próxima paragem: eleições europeias
As eleições para o Parlamento Europeu ocorrerão entre 6 e 9 de junho entre os estados-membros da União Europeia. Isso representa um novo desafio para a Esquerda: dado que as posições críticas à UE foram altamente punidas nas urnas, é provável que a Esquerda responda às eleições adotando posições programáticas vacilantes sobre questões relacionadas à UE. Esta é uma posição particularmente perigosa para um país como Portugal adotar. Qualquer tentativa de fortalecer a soberania popular ou instituir uma política industrial e regime de planejamento só é possível através de um confronto com o bloco, uma tarefa difícil, mas necessária.
Além disso, nas eleições europeias, Portugal tende a testemunhar altos níveis de abstenção e votação de protesto — uma dinâmica que pode reforçar ainda mais a extrema-direita desta vez. Curiosamente, o Chega, ao contrário de suas organizações irmãs na Europa, não tem uma posição crítica à UE, mostrando que mesmo para a extrema-direita portuguesa, a questão europeia é muito difícil de navegar.
Entre a afirmação e o compromisso
Desde 2015, quando tanto o BE quanto o PCP decidiram apoiar um governo do PS no parlamento, a esquerda portuguesa se encontrou em uma posição difícil em que ambos os partidos lentamente têm perdido influência eleitoral. As coisas chegaram ao limite durante as eleições de 2022, quando ambos os partidos decidiram parar de apoiar o governo do PS eleito em 2019, forçando eleições antecipadas em que o BE e o PCP foram punidos pelo eleitorado por duas razões fundamentalmente diferentes. Por um lado, os eleitores criticaram seu apoio a um governo que não cumpriu as expectativas que criou, e, por outro lado, os eleitores também se opuseram ao seu papel em minar esse mesmo governo e precipitar uma crise política.
As eleições de 10 de março confirmaram essa tendência, mesmo que o Bloco tenha garantido mais votos do que em 2022. A Esquerda permanece presa entre se afirmar e se comprometer com o PS para evitar o crescimento da extrema direita. A campanha dos dois partidos demonstra essa mesma tensão. Tanto o BE quanto o PCP conseguiram trazer para o debate político as questões dos direitos trabalhistas, do serviço nacional de saúde, da educação pública e da brutal crise habitacional em Portugal, no entanto, a tática das campanhas foi afirmar sua total disposição para negociar um governo com o PS. O partido Livre compartilha a mesma abordagem.
A Esquerda deve se envolver em um processo de reflexão estratégica séria para reverter seu próprio declínio. Isso envolverá o fortalecimento da organização de base para combater o medo, a insegurança e a insatisfação que inflamam a extrema direita.
No ano em que celebramos o quinquagésimo aniversário da Revolução dos Cravos, precisamos dessa força e organização mais do que nunca.
Sobre os autores
é ativista nos movimentos sociais de Portugal. É membro do Bloco de Esquerda e editora contribuinte para Jacobin. Co-editou o livro Europe in Revolt.
Entrevista a Miquel Ramos: “El objetivo de la extrema derecha es derribar el consenso en materia de derechos humanos e instaurar un nuevo sentido común que prescinda de ellos”
Publicado:
Miquel Ramos (València, 1979) es un periodista especializado en el monitoreo y el análisis de grupos de extrema derecha y de los discursos de odio que promueven. Sin duda, es una de las personas que mejor conoce la actividad y los riesgos que entraña el fascismo en el Estado español. Publica habitualmente los resultados de sus investigaciones en medios como La Marea, El Salto, Público y La Directa. Además, es coautor, junto a David Bou (periodista de La Directa) de la web www.crimenesdeodio.info, una herramienta para la memoria de los crímenes de odio con resultado de muerte cometidos en el Estado español entre 1990 y 2020. Esta web contiene una base de datos que recoge los 101 que pudieron identificar, contrastar, clasificar por tipología y documentar con la intención de recuperar la memoria de las víctimas mortales del odio.
El año pasado Miquel coordinó la redacción y publicación del informe De los Neocon a los Neonazis: La Derecha Radical en el Estado español (editado por Rosa-Luxemburg-Stiftung), una descripción minuciosa de todo el cosmos de la extrema derecha en el Estado español, desde sus expresiones institucionales, con Vox a la cabeza, hasta sus tentáculos en el fútbol, las redes sociales y los espacios de generación de pensamiento, como fundaciones o lobbies.
El pasado 28 de marzo salió a la venta su último libro, Antifascistas: Así se combatió a la extrema derecha española desde los 90 (Capitan Swing), un recorrido por la violencia ejercida por grupos fascistas y la respuesta que encontró en colectivos antifascistas. Pese a encontrarse ocupado con la presentación del libro en distintas ciudades, todo ello mientras informa de los (numerosos) movimientos de la extrema derecha que se están dando a diario en Ucrania (seguidle en Twitter para manteneros informadas), ha tenido la generosidad de dedicarnos un tiempo para responder a las preguntas que le hemos formulado respecto de su libro y de su trabajo.
Todo por Hacer (TxH): En los últimos años hemos asistido a un reforzamiento de grupos y partidos de extrema derecha en toda Europa, EEUU, India, algunos países de Latinoamérica, etc. ¿Por qué? ¿Hay una razón que lo explique a nivel mundial o en cada región obedece a causas distintas?
Miquel Ramos (MR): Hay elementos comunes en todas las extremas derechas y en algunas de las razones de su ascenso, pero también hay factores que obedecen a las características de cada país. Como rasgo común podríamos apuntar el miedo de las élites a perder sus privilegios económicos hace que estos promuevan a este tipo de formaciones y estimulen sus relatos a través de los medios de comunicación, sobre todo en torno al eje de la seguridad, es decir, infundiendo miedo. Por otra parte, el desgaste de los partidos tradicionales hace que los partidos ultraderechistas se presenten como novedosos e incluso antiestablishment, a pesar de ser profundamente neoliberales. Un contrapeso populista a las izquierdas transformadoras que en muchos países han logrado captar el descontento, sobre todo en América Latina. Lo que al final une a todos los partidos ultraderechistas es su nacionalismo, su racismo, su lucha contra los derechos de las mujeres y de los colectivos LGTBI, y su alianza con las élites contra cualquier propuesta que suponga una amenaza a sus privilegios.
TxH: En el informe De los neocón a los neonazis (2021) analizas todo el espectro de la derecha española, desde Vox hasta grupos neonazis, pasando por la caspa nacionalcatólica de Abogados Cristianos. ¿Qué tienen en común todas estas organizaciones?
MR: El objetivo de todos estos grupos, más allá de su campo de batalla particular, es derribar el consenso en materia de derechos humanos e instaurar un nuevo sentido común que prescinda de estos. Una ofensiva global contra los derechos humanos, una batalla cultural que lleva décadas en marcha contra los consensos en materia de derechos, lo que la extrema derecha llama ‘marxismo cultural’. El terreno de juego de cada una de estas organizaciones es diferente, y esto condiciona su manera de hacer. Más allá de los partidos, que pretenden ganar poder institucional, están los movimientos sociales neofascistas, que están en las calles y tratan de competir con la izquierda con las banderas sociales. Luego, los lobbies y think tanks tienen otras funciones, como formar a sus cuadros y a sus militantes, presionar a las instituciones o publicitar las propuestas y los discursos de las extremas derechas. Hay mucha diversidad dentro de la extrema derecha, como lo hay en la izquierda. Y muchos frentes de batalla.
TxH: En el informe le dedicas un capítulo entero a la extrema derecha durante la pandemia. ¿Cómo ha aprovechado la crisis sanitaria el fascismo para reforzarse?
MR: En el Estado español lo ha intentado pero no le ha salido tan bien como esperaba. En otros países, la extrema derecha ha estado metida desde el principio en la mayoría de las protestas contra las medidas anticovid, así como en los canales de propaganda negacionista y conspiranoica de todo tipo, tratando de pescar ante esta situación de desconcierto generalizado. Las conspiraciones siempre han sido un terreno fértil para las extremas derechas, y en esta ocasión también. Por otra parte, más allá de lo conspiranoico, también ha tratado de usar la gestión institucional de esta situación para acusar al Gobierno de ser incompetente y casi de las muertes que provocó el virus.
TxH: El año pasado cubriste de manera responsable el homenaje a la División Azul, exponiendo que se ensalzó el nazismo y se hicieron proclamas antisemitas. A raíz de tu exclusiva los medios generalistas otorgaron un altavoz a la portavoz de Bastión Frontal y le dejaron expresar sus ideas sin explicar cómo incitan al odio. Son los mismos medios que entrevistan a Abascal en prime time o dicen que se agredió a una neonazi en Murcia por llevar una pulsera con la bandera de España. ¿Qué responsabilidad tienen los medios en la normalización del fascismo?
MR: Los medios son en gran parte responsables de esta normalización y este ascenso de la extrema derecha. Su subordinación a la espectacularidad y su falta de compromiso provocaron precisamente que su tratamiento en el caso citado fuese completamente distinto al nuestro en La Marea. Algo parecido ya pasó con Hogar Social Madrid, que se convirtió en un fenómeno mediático y vivió durante años de una sobreexposición mediática muy amable. Con Vox ha pasado también desde el primer momento porque muchos periodistas no han sabido tratar el fenómeno más allá del escándalo y el espectáculo. Y eso la extrema derecha lo sabe bien, por eso provoca constantemente titulares y apariciones en los medios por sus exabruptos y sus acciones, absolutamente calculadas para estar constantemente en el centro del debate. Pero, por otra parte, los medios se pasan el día amplificando el relato de la extrema derecha, sobre todo en materia de seguridad pública y otros asuntos en los que ésta está muy cómoda: migraciones, violencia, independentismo, criminalización de los movimientos sociales, etc… Les hacen gran parte del trabajo usando los mismos marcos y el mismo lenguaje que la extrema derecha. Luego, es normal que recojan lo que estos han sembrado.
TxH: En marzo publicaste Antifascistas (Capitán Swing), un ensayo sobre la lucha contra el fascismo desde los 90. ¿Cómo ha mutado la extrema derecha desde esa década?
MR: La extrema derecha española ya empezó a cambiar a mediados de los 90, con los primeros partidos que trataban de asemejarse a sus homólogos europeos, disfrazados de demócratas. Desde entonces, su evolución ha sido todavía más rápida, ya en sintonía con el resto del mundo, copiando sus estrategias, sus campañas y cosechando sus mismos éxitos. Si durante los 90 la extrema derecha era vista como los franquistas engominados y decrépitos, o como los skinheads nazis, hoy, aunque siguen existiendo estos personajes, nos encontramos ante una extrema derecha mucho más normalizada e institucionalizada. Por lo tanto, no se puede combatir de la misma manera que se hacía contra los grupos nazis en los 90. Estamos hablando ya de actores políticos, influencers y entramados mediáticos muy potentes que han normalizado el discurso que hace 30 años solo reivindicaban los nazis.
TxH: El libro es una historia coral del antifascismo de los últimos 30 años. ¿Qué tipo de colectivos y personas aparecen en él?
MR: He intentado recoger el testimonio de personas que han estado a lo largo de estos últimos 30 años en diferentes escenarios de la lucha contra la extrema derecha en distintos territorios. Desde activistas que crearon sus plataformas y sus colectivos locales hasta periodistas o políticos cuya experiencia y opinión creía interesante reflejar en este libro. El protagonismo, sin duda, es para aquellas personas que nunca se avergonzaron de llamarse antifascistas. Que estuvieron en primera línea y se jugaron el tipo. No todas las personas a las que entrevisto coinciden en todo, y por eso me parece interesante que cada cual cuente su experiencia y haga sus propios juicios sobre lo que vivió. Las conclusiones se las dejo al lector.
TxH: Por último, has escrito en numerosas ocasiones que el verdadero cordón sanitario contra la ultraderecha está en las calles y en los barrios. ¿Qué debemos hacer los movimientos sociales para frenar el avance del fascismo?
MR: Los movimientos sociales son hoy el mejor antídoto contra la extrema derecha. Estar en los barrios, con la gente, trabajando a pie de calle y por y para la comunidad, es imprescindible para vacunar contra el odio y el miedo que la extrema derecha trata de infundir. Señalar a los verdaderos culpables de la precariedad y ofrecer el apoyo mutuo como alternativa a lo securitario y a los discursos de odio. Trabajar la solidaridad de clase, el apoyo mutuo, los cuidados y el sentido comunitario es construir un muro frente a la extrema derecha, que tan solo ofrece más policía y menos servicios públicos y menos derechos para las personas más vulnerables. Las instituciones no van a acabar con la extrema derecha porque en parte, ésta forma parte de éstas, así que, como hemos dicho siempre, solo el pueblo salva al pueblo.
sexta-feira, 12 de abril de 2024
Ante las próximas derrotas en Ucrania y Medio Oriente y la desdolarización creciente, un EE.UU. dividido ocupa Latinoamérica para frenar a China
Por Eduardo J. Vior(*)
analista internacional
La combinación de previsibles derrotas político-militares, pérdida de competitividad, desdolarización de vastas regiones del mundo y la creciente división ideológica y cultural dentro del campo occidental conducen a un aceleramiento de los movimientos tectónicos que están haciendo temblar el mundo desde hace dos años. En particular, del modo en que se resuelva la lucha por el poder en Estados Unidos dependerá el curso de su confrontación con la República Popular de China por la organización del mundo, es decir, entre la competencia pacífica y la guerra nuclear.
El fracaso de la contraofensiva ucraniana en el pasado verano boreal y la interrupción de las transferencias legales de fondos de Estados Unidos al país europeo permiten aseverar que Ucrania no puede ganar la guerra que inició contra Rusia hace diez años. Después del fracaso de la contraofensiva en Zaporiyia y la pérdida de decenas de miles de efectivos, los avances rusos en Donetsk, Lugansk y Járkov han puesto al ejército de Kiev a la defensiva.
Fracturada por intensas luchas de poder, que, en realidad, reflejan las diferentes estrategias que compiten en Washington, Ucrania sólo puede retrasar la ofensiva rusa, si construye una eficiente línea defensiva. Aun así, su derrota militar es una cuestión de tiempo. En algún momento de los próximos meses su frente cederá y deberá aceptar las condiciones que Rusia imponga para firmar la paz. Probablemente, en ese momento los servicios occidentales comenzarán una guerra de guerrillas con los restos del ejército ucraniano, pero no podrán ocultar la derrota política y militar de la OTAN.
Entre tanto, en Asia Occidental el Imperio también está retrasando su derrota. Al plantearse objetivos desmedidos y demasiado ligados a la supervivencia personal del primer ministro Benyamin Netanyahu, las Fuerzas de Defensa de Israel (FDI) se empantanaron en una guerra en varios frentes que no pueden ganar y la masacre contra la población de la Franja de Gaza ha cambiado la visión que…
…la opinión pública mundial tenía de Israel: ahora lo ve mayoritariamente como un Estado genocida.
Mientras tanto, EE.UU. insiste en multiplicar los frentes. Primero, atacó a Yemen junto con Gran Bretaña y un puñado de aliados, pero no pudo evitar que el comercio israelí tuviera que abandonar el estrecho de Bab el Mandeb y se desviará por el Cabo de Buena Esperanza (4.500km más). Las pérdidas del Estado sionista ascienden entre tanto a decenas de miles de millones de dólares.
Al bombardear este viernes 2 bases de milicias pro iraníes en Siria e Irak, los norteamericanos cayeron en la trampa del Eje de la Resistencia liderado por Irán y extendieron la guerra de Gaza.
Su presencia en ambos países representa una cuña en el frente de la Resistencia y le permite desde hace doce años robar el petróleo de Siria. Para peor, su Fuerza Aérea esperó cinco días para bombardear, tiempo suficiente para que las milicias vaciaran las instalaciones. Evidentemente, Washington quiso enviar a Teherán una advertencia sin dañarla, pero es peor, ya que los bombardeos justifican a las milicias que los atacan permanentemente en ambos países y amplían la guerra de Gaza.
Después de cuatro meses de guerra, Israel no ha podido vencer a la resistencia palestina, la mitad de sus fuerzas están comprometidas en la frontera con Líbano, la guerrilla palestina en Cisjordania no cesa en sus ataques y los yemeníes han dañado su comercio.
Además, la división de su liderazgo y la oposición de gran parte de la población al gobierno de Benyamin Netanyahu ponen un serio límite a su esfuerzo de guerra. Si, además, sus aliados occidentales insisten en ampliar el teatro de operaciones, más integral y abarcadora será la negociación que el Eje de la Resistencia imponga a Israel y los norteamericanos. EE.UU. está a punto de perder su hegemonía en Asia Occidental e Israel ha quedado a la defensiva, con el consecuente fracaso de su proyecto expansionista.
La estrategia neoconservadora de guerra permanente es desde la presidencia de Ronald Reagan (1981-89) el correlato necesario de la hegemonía del capital financiero especulativo concentrado, no sólo, porque la guerra continua alimenta la industria armamentista, sino también, porque abrir a los tiros nuevas posibilidades de inversión en el exterior resultaba hasta hace poco más rápido que invertir en el desarrollo de la tecnología y la industria nacionales. Expandiendo la deuda pública se podía comprar todo a precio vil en el exterior y se fomentaba un lucrativo negocio para bancos y fondos de inversión que se enriquecen con las obligaciones del Estado. Además evitaba el crecimiento de clases trabajadoras que luego obligaran a los más ricos a ceder algo de su poder y propiedad.
Cuarenta años de concentración de la riqueza en una ínfima oligarquía super rica creó una mayoría empobrecida e impulsó la resistencia de sectores productivos que consideran tanta guerra un despilfarro y reclaman el cierre del mercado norteamericano para recuperar su competitividad. Razones históricas y anclajes ideológicos hicieron que los neoconservadores globalistas vayan de la mano con liberales universalistas y todo tipo de corrección política (la llamada cultura woke). Quienes defienden el mercado interno, en cambio, se vistieron de reaccionarios, racistas, xenófobos y machistas.
Desde principios de la década pasada Estados Unidos está irremisiblemente partido en dos facciones irreconciliables. En el comienzo de la campaña para las elecciones presidenciales de noviembre próximo, entonces, la fractura se agravó y el país está en pleno conflicto constitucional por la grave crisis migratoria en la frontera sur.
En medio de la campaña electoral ambos partidos aprovechan la tragedia de los inmigrantes para ganar puntos. Durante meses se negoció en el Senado un compromiso bipartidista por el cual los demócratas se avendrían a un cierre total de la frontera mexicana a cambio de que los republicanos votarán nuevas partidas de ayuda a Ucrania. Este compromiso se desinfló en la medida en que Donald Trump se fue perfilando como el futuro candidato presidencial republicano. Tanto él como Joe Biden tienen ahora más interés en polarizar que en resolver la crisis. Al hacerlo, empero, llevaron el país al borde de la ruptura.
Los gobernadores de 25 estados (la mitad del país) y los fiscales federales de 26 de ellos han manifestado su apoyo a la rebeldía de Texas contra la orden de la Corte Suprema de EE.UU., para que el estado de la Estrella Solitaria (de su bandera) retire el alambre de púas que ha colocado en un tramo de su frontera con México en el litoral del Río Bravo. La cerca de 48 kilómetros a orillas del río Bravo forma parte de la estrategia del gobernador republicano de Texas, Greg Abbott, para evitar la llegada de migrantes. Su colega de Florida, el republicano Ron DeSantis, y la precandidata del mismo partido Nikki Haley se han solidarizado con la rebeldía texana.
Demócratas y republicanos insisten en agudizar la fractura del país, sin hacerse cargo de las consecuencias que puedan sobrevenir. En el resto del mundo, en tanto, cunde la desconfianza.
No sólo Estados Unidos se caracteriza por incumplir sus compromisos y promesas, sino que su división actual permite dudar de la solidez de los compromisos que sus gobiernos contraigan, ya que no se sabe si el próximo gobierno los honrará.
Si la política estadounidense suscita desconfianza, es lógico que su moneda pierda credibilidad.
El secuestro de 300.000 millones de dólares de depósitos privados y públicos de Rusia en bancos occidentales como resultado de las sanciones de 2022 y el robo de las reservas áureas de Venezuela en Londres muestran un sistema económico y financiero occidental que incumple sistemáticamente las reglas de la economía capitalista mundial. No puede reclamar previsibilidad quien actúa arbitrariamente y cambia sus decisiones de un día a otro.
Esta pérdida de la confianza de muchos países hacia EE.UU. está llevando a cada vez más naciones emergentes a abandonar el dólar y buscar asociaciones internacionales más respetuosas de las reglas. Por eso BRICS ha duplicado este año la cantidad de sus miembros. La presidencia rotativa rusa de BRICS 10 durante 2024 ha puesto los términos del intercambio entre sus miembros en el tope de agenda. Un grupo de expertos está analizando los posibles mecanismos de pago dentro del bloque, incluyendo las monedas digitales y la interacción de los sistemas de pago, pero por lo pronto se dará prioridad al pago en monedas nacionales. Rusia y China así como Rusia Irán ya comercian en sus monedas nacionales. Dentro de la Unión Económica Euroasiática se está implementando un mecanismo de conversión entre las monedas nacionales y otros países del Sur están siguiendo el ejemplo. Aunque todavía minoritaria, la desdolarización avanza en el mundo.
Ante su pérdida de influencia en Europa, Asia y África, EE.UU. se está haciendo fuerte en América Latina y el Caribe.
Mientras acuerda con Ecuador, Perú y Paraguay el ingreso de fuerzas militares, retoma las sanciones contra Venezuela, impide la normalización de Haití, incrementa su intervención militar en Guyana y desequilibra Argentina. El Comando Sur está aumentando la militarización de la región de un modo como no sucedía desde la década de 1970. Al mismo tiempo, la militarización de las fuerzas de seguridad de los países de la región y la intervención de sus ejércitos en tareas policiales desguarnecen el territorio y favorecen a las redes de narcotráfico.
No sólo los recursos minerales, sino especialmente el transporte y las comunicaciones son de especial interés para la intervención norteamericana. Incapacitados para competir con China, los Estados Unidos busca desmembrar los estados latinoamericanos y anular su control del territorio, para impedir a futuro el surgimiento en la región de un bloque defensivo. Cualquiera que sea el resultado de las elecciones presidenciales de noviembre próximo, esta política se mantendrá en lo sustancial.
Sin embargo, esta actitud propia del perro del hortelano es de patas cortas. Quien mucho abarca, poco aprieta. Mucho menos, si no ofrece alternativas de desarrollo a cambio del sometimiento. En algún momento se relaja la vigilancia y/o se combinan dos o más crisis simultáneas y el mecanismo de control salta por los aires.
De acuerdo a la mayoría de las previsiones de los organismos internacionales en la próxima década China superará a EE.UU. como primera potencia del mundo y en 2037 será la mayor economía del mundo. Ya adelantada tecnológicamente a su competidor en 35 de 37 sectores de vanguardia. Aunque EE.UU. sigue teniendo el mayor PBI total, China ya en 2022 lo superó en cuanto al poder adquisitivo por persona. Mientras que en 2023 su PBI creció en 5,5%, la economía norteamericana se incrementó en 2,5% y la del resto de los miembros del G7 permaneció estancada.
En la última década y media China ha sido el motor principal del crecimiento económico del mundo, aportando el 35% del crecimiento del PBI nominal del globo, mientras que Estados Unidos ha contribuido en un 27%. Aunque ambos países tienen un serio problema de deuda pública, las acreencias totales contra China ascendían en septiembre pasado a U$S 47,5 billones, mientras que Estados Unidos debía U$S 70 billones. Para refinanciar su deuda, EE.UU. depende de mantener una política de altas tasas de interés que, si bien benefician a su economía, dañan el crecimiento global. China, por el contrario, sigue aumentando el consumo e incrementando su presencia internacional como forma de sobrellevar la deuda.
La competencia entre ambas potencias se centra actualmente en el comercio, las finanzas y las tecnologías de punta.
Estados Unidos tiene serios problemas para competir con China en los mercados del Sur Global y por eso busca cerrarlos a las inversiones chinas. Al mismo tiempo bloquea el acceso de su competidor a los últimos desarrollos tecnológicos, aunque sin resultados duraderos. Algo más de éxito tiene en el mercado financiero, si bien, gracias a la ampliación de BRICS 10 y al proyecto de la Franja y la Ruta, la República Popular puede encarar emprendimientos de grandes dimensiones que atraen inversiones importantes.
En la rivalidad entre ambos centros del mundo asoma ya India que, a punto de superar al tercero en retroceso (Alemania)..
…se apresta a disputar con ambos mercados e inversiones. Todavía no representa un problema, pero se prevé que las pujas por desplazar a uno u otro comenzarán antes del fin de la década.
A esta altura de la competencia hegemónica pesan mucho las diferentes estrategias políticas y culturales. Mientras que EE.UU. sigue recurriendo a su fuerza militar y a la imposición de su voluntad, China está desarrollando un entretejido de redes concéntricas y multipolares en las que todos los actores ganan a la vez. Si bien Beijing carece de la ideología universalista de su contrincante, la confianza que genera su tratamiento respetuoso de las diferencias le está deparando grandes éxitos.En el corto plazo, hasta las elecciones presidenciales de noviembre próximo, puede anticiparse que Estados Unidos intentará sostener a la vez el esfuerzo militar en Ucrania, Asia Occidental y en el Mar de la China Meridional. Al mismo tiempo mantendrá la presión sobre América Latina y el Caribe y sobre Europa. En esta sobreextensión de su esfuerzo de guerra reside precisamente su debilidad. Cualquier evento que se produzca en algún escenario de conflicto puede quebrar su línea defensiva y tendrá repercusiones en el resto del mundo. Habrá que armarse de paciencia y estar atentos a cualquier grieta que aparezca en la armadura.
(*) Dr. Eduardo Vior es miembro de Dossier Geopolitico
Quienes somos
Dossier Geopolítico está conformado por pensadores, investigadores y analistas de las: Relaciones Internacionales, de la Defensa, de la Seguridad, de la Estrategia ,de la Geopolitica, y de la Filosofia, etc. con el objetivo de enriquecer un nuevo espacio de conocimiento Geopolitico en la compleja realidad del subcontinente. Realidad que se conforma no sólo por lo que es, sino también por lo que puede ser. Es nuestra intención, entonces, trabajar tanto sobre lo que está en acto como lo que está en potencia, utilizando una metodología histórico-fenomenológica en el primer aspecto y una hermenéutico-prospectiva en el segundo; siempre a través de un abordaje interdisciplinario que permita atender la variedad de registros que constituyen la realidad suramericana.
Ideológicamente nos inscribimos dentro del ideario de Patria Grande de nuestros próceres de la Independencia y en la corriente de pensamiento no–conformista que cuestiona tanto al pensamiento único como a lo políticamente correcto
Objetivo
Dossier Geopolitico es una plataforma virtual mediante la cual, analizamos la realidad mundial en un escenario cambiante y conflictivo desde la mirada de nuestro “hinterland” Suramericano, dando herramientas de análisis e instrumento para que distintos organismos políticos-económicos-sociales y formativos, tomen decisiones y de esta manera contribuir al debate general en tiempos de la post verdad y dependencia periférica. Y para que desde la originalidad de Iberoamérica pensemos el mundo desde nuestro espacio continental, con el aporte de distintas disciplina científicas para crear una Escuela Nueva de la Ciencia Geopolitica Suramericana. Para ello estableceremos las formas de relación entre los espacios geográficos, es decir los espacios y territorios, y los grupos humanos organizados en la forma de unidades políticas (comunidades, pueblos, naciones, Estados), y por el otro, pretende develar el sentido de la relación entre las distintas unidades políticas contemporáneas en el tiempo en el marco de dichos espacios o soportes.
segunda-feira, 8 de abril de 2024
Ascensão e Queda do Socialismo e Ascensão, Queda e Futuro do Socialismo – Mário Nuti
« Algumas conclusões
A ascensão do socialismo estava enraizada nas
desvantagens do capitalismo, que mobilizaram o trabalho
humano e a imaginação trazendo prosperidade sem
precedentes, mas também gerando desemprego do trabalho
e da capacidade produtiva assim como flutuações e crises
intermitentemente mas com frequência crescente e em
escala cada vez maior, criando assim ao longo do tempo
uma desigualdade cada vez maior, especialmente no último
período do pós-guerra.
Ascensão e queda do Socialismo
A construção do socialismo num país atrasado,
com trabalho abundante, vasto e despótico, afectou o
desenvolvimento do planeamento centralizado na URSS,
com os seus próprios conflitos e contradições agravados
pela falta de democracia política e pela convicção de que
as leis económicas não funcionariam de modo algum
na economia socialista ( Rosa Luxemburgo, Bukarine,
Hilferding e outros pensadores bolchevistas). O sistema
de tipo soviético foi impressionantemente bem-sucedido
na realização da industrialização, urbanização, crescimento
acelerado, rearmamento e na vitória numa guerra mundial;
na conquista do espaço e no aumento dos níveis de educação,
saúde e de maior igualdade do que a alcançada nas economias
capitalistas. Entretanto sofreu do autoritarismo, da repressão
de liberdades básicas e da falta da democracia política. O
sistema de tipo soviético também não conseguiu adaptar-
se aos desafios levantados pelas suas próprias realizações,
e, eventualmente, foi derrubado pela sua ineficiência,
instabilidade, desequilíbrios internos e externos que
conduzem a uma dívida esmagadora e à perda de apoio
popular.
A transição para as economias de mercado abertas com a
propriedade privada e empresas, por sua vez, foi muito cara -
com algumas exceções - por causa da abordagem da terapia
de choque adotada, da interrupção inevitável dos fluxos
comerciais devida à desintegração económica e monetária e
das instituições hiperliberais e das políticas que prevaleceram
na transição.
No último período pós-guerra, um modelo social-
democrata, que prosseguia os valores socialistas numa
economia de mercado sem a propriedade e empresa pública
dominante, foi desenvolvido na Escandinávia e noutros países
capitalistas, exemplificado pelo Modelo Social Europeu
na UE, e serviu bem os países que o adotaram. No final da
década de 1990, o modelo social-democrata foi pervertido
pelos seus líderes políticos que passaram a adotar um
capitalismo hiperliberal, austero e globalista, levando à crise,
ao desemprego e à desigualdade crescente. Nos últimos
anos esta deformação da social-democracia chocou com
derrotas eleitorais estrondosas e repetidas, a favor de partidos
rapidamente acusados de populismo quando estes são a
expressão do descontentamento popular.
Uma sequela deste longo ensaio, em preparação, ocupar-
se-á do futuro do socialismo. O modelo chinês de uma
economia de mercado sob o capitalismo de estado é
considerado e rejeitado devido à sua natureza autoritária.
O modelo jugoslavo do socialismo do mercado associativo
é também considerado e rejeitado como inigualitário e
tendencialmente ineficiente. Outras formas de enxertar
instituições socialistas num modelo capitalista também são
consideradas e consideradas de ajuda positiva, mas limitada na
concepção de uma alternativa social-democrata.
Popov (2017) encara a possibilidade da criação bem-
sucedida de um “novo socialismo”, com a realização de
políticas mais igualitárias por parte de algumas economias
de mercado, adotando a redistribuição de rendimento, maior
regulamentação e um fardo orçamental mais pesado, e com
maior ênfase na propriedade pública numa economia mista.
A redução da desigualdade e o seu impacto adverso nas
tensões sociais tornarão estas economias mais igualitárias e
mais competitivas ao nível internacional relativamente aos
seus concorrentes menos esclarecidos. Sigo a abordagem
de Popov, mas ao mesmo tempo rejeito a conveniência de
uma maior igualdade de rendimento alcançada através de
migrações incondicionais e sem limites num mundo sem
fronteiras.
O novo socialismo, para além de controlar e gerir as
migrações, precisa de enfrentar os desafios da gestão da
globalização, reduzindo os seus impactos distributivos
adversos, lidando com o desemprego e com as implicações
distributivas da robotização e da inteligência artificial,
lidando com as alterações climáticas e com a conservação de
recursos. A diferença em relação ao capitalismo existente será
primeiramente uma diferença de políticas, mas essas políticas
exigem diferenças fundamentais nos instrumentos de
políticas económicas disponíveis, para se construir um sistema
muito diferente do capitalismo que realmente existe hoje.
Disse e assim salvei a minha alma
Dixi et salvavi animam meam (Marx 1875).
Florença, 16 Abril de 2016.
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Ascensão e queda do Socialismo
Fonte
Domenico Mario Nuti, The rise and fall of socialism. Texto
publicado originalmente por DOC Research Institute, cujo
endereço eletrónico é : https://doc-research.org/2018/05/rise_
and_fall_of_socialism/ e no seu blog cujo endereço é: https://
dmarionuti.blogspot.com/´