“Recuperar o controlo, garantir a segurança.” Poderia ser um slogan do "Brexit", ou de Trump, mas não: é o nome do programa securitário que outro liberal de serviço, Donald Tusk, deu ao anúncio de que a Polónia abandonará a Convenção de Genebra (1951) sobre direito de asilo. E fá-lo misturando, como sempre neste discurso, refugiados com migrantes. O primeiro-ministro da Polónia, que já foi presidente do Conselho Europeu (anos em que dizia aquelas vacuidades da eurocracia e que agora vem mostrar quão vazias eram), e que a UE apresentou como o homem que recuperara a Polónia para os “valores europeus”, depois de, em dezembro, ter posto fim a oito anos de governo da ultradireita racista e religiosa polaca, vem agora dizer: “Não respeitaremos nem implementaremos nenhuma ideia da UE se estivermos certos de que mina a nossa segurança. Ninguém me obrigará nem me convencerá a assinar o pacto migratório” – um documento, recorde-se, verdadeiramente nauseabundo que, apesar de prever a distribuição de refugiados que entrem em algum país da UE pelos vários Estados-membros, legaliza as práticas mais ofensivas dos direitos humanos dos refugiados e dos migrantes, prendendo requerentes de asilo em novos Guantánamos fora de território europeu (como agora faz a neofascista Meloni na Albânia). Nesta nova modalidade liberal de criticar a ultradireita ultrapassando-a pela direita, Tusk acha que o governo da ultradireita polaca foi o “mais pró-imigração da Europa” por ter permitido que o país se “inundasse” de imigrantes! Há hoje um milhão de estrangeiros no país, menos de 3% da população, e a enorme maioria dos quais bielorrussos ou ucranianos fugidos à guerra, pelo que só pode ser cinismo dizer que os polacos “têm um medo de carácter civilizatório” (que embuste!) dos imigrantes (El País, 12/10/2024). Nauseabundo Toda esta agressividade xenófoba (“medo” do outro que deixou de ser um ser humano porque no-lo apresentam como “civilizatoriamente” diferente) e racista (um “outro” feito de pura maldade, quer porque estrangeiro e/ou professa outra religião, quer porque membro de uma minoria étnica), desde sempre acompanhada do desprezo/medo do pobre, é certamente produto deste irracionalismo ambiente com que se falsifica a realidade. Mas não basta culpar as redes e as fake news, se os primeiros a mentir são os governantes que, apresentando-se como guardiões da democracia e do Estado de direito, competem diretamente no campo da mentira com os campeões dela. Tusk jura que “o problema da imigração ilegal é hoje a questão mais importante na Polónia, na Europa e no mundo”, mas isso não é o que acham os europeus, cujas preocupações, segundo o Eurobarómetro, são “o reforço do combate à pobreza e exclusão social (33%), a necessidade de reforçar o acesso à saúde e o consequente investimento em saúde pública (32%) e a economia e a criação de emprego (31%)”. A chamada “crise migratória” aparece apenas em sétimo lugar. “Para 55% dos portugueses inquiridos, a situação económica e o emprego são a principal prioridade” (Daniela Nascimento, Monde Diplomatique – edição portuguesa, setembro 2024).
Com liberais destes, como Tusk ou Macron, os neofascistas nem precisam de se esforçar. As direitas tradicionais e o centrão social-democrata que fazem a gestão da UE têm contribuído decisivamente para a banalização da agenda e do discurso racista. A capacidade de articulação política que o racismo tem hoje é comparável com aquela que teve nos anos 1920 e 30, os da ascensão do fascismo. A extrema-direita neofascista não é capaz sozinha de romper alguns dos fundamentos do Estado de direito e do direito internacional. O do direito de asilo é um deles. Centenas de milhões de europeus migraram dentro do continente e para fora dele (especialmente para as Américas) nos últimos 200 anos, procurando o mesmo refúgio e fugindo das guerras, perseguição e miséria de que fogem todos os migrantes e todos os refugiados em qualquer momento da história. A securitização das migrações e, em especial, do direito de asilo, é uma impostura nauseabunda na boca de quem quer acabar com a democracia pela política do medo que, desde o 11 de Setembro, continua a ser usada como instrumento de governo. E o governo pelo medo tem um nome. Ditadura. Manuel Loff
Manuel Castells: “Os sistemas dos países não mudam por escolha, mudam por necessidade”
Erika Stael von Holstein e Luca de Biase/Re-Imagine Europa
: “Os sistemas dos países não mudam por escolha, mudam por necessidade”
Manuel Castells moldou o nosso entendimento de dinâmicas políticas numa sociedade em rede. Professor universitário e Wallis Annenberg Chair em Comunicação, Tecnologia e Sociedade na Universidade da Califórnia do Sul, a carreira académica de Castells envolve a maioria das principais universidades do mundo. É autor de 35 livros e é ex-ministro das Universidades do Governo espanhol. O seu trabalho alterou a forma como pensamos a organização da sociedade na complexa realidade em rede. Nesta conversa discorre sobre a forma como podemos re-imaginar o poder.
Manuel Castells: “Os sistemas dos países não mudam por escolha, mudam por necessidade” Talvez devêssemos começar com uma das questões fundamentais. O que se entende por “poder”? E é tão importante porquê? Mesmo que não pensem sobre poder, as pessoas estão numa relação de poder. A maioria delas numa posição subordinada de poder. Como tal, é importante saber o que é, especialmente se não estamos satisfeitos com o facto de nos encontrarmos sob uma estrutura específica de poder e se gostaríamos de a mudar. É importante saber o que queremos mudar porque, sem saber o que queremos mudar, não conseguimos mudar nada. Portanto, se me perguntarem o que é poder... Bem, poder, tradicionalmente, não é uma inovação. Poder é a capacidade que alguns seres humanos têm de forçar ou influenciar o comportamento de outros para que eles se comportem de acordo com os interesses e os valores dos detentores do poder.
Manuel Castells: “Os sistemas dos países não mudam por escolha, mudam por necessidade” E por que razão é tão importante compreender o papel do poder na nossa sociedade hoje? Não é só hoje. Ao longo da história da Humanidade, poder tem sido aquilo a que eu chamaria ADN das sociedades. Porque quem quer que seja que tenha poder, seja uma pessoa, sejam instituições nas quais uma pessoa ou várias pessoas são fundamentais, quem quer que seja que tenha poder tem a capacidade de estabelecer as regras, as normas e as instituições da sociedade, bem como a forma como vivemos. Portanto, é o ADN das sociedades e o nosso código de comportamento que é reforçado pelas instituições. Manuel Castells: “Os sistemas dos países não mudam por escolha, mudam por necessidade” Nós somos livres. Sim, nós somos livres dentro das condições que aqueles no poder consideram aceitáveis ou inaceitáveis. Felizmente, este poder não é absoluto — poder absoluto com algumas excepções na história, mesmo em momentos de um regime absolutista —, existe sempre alguma resistência. Existe sempre alguém a dizer: “Nem pensar”. Por norma, eles são mortos, mas, em princípio, existe sempre e sempre existiu: onde há poder, há resistência a esse poder. .Manuel Castells: “Os sistemas dos países não mudam por escolha, mudam por necessidade” De facto, onde há dominação, em termos de poder, a relação pode ser aceite, rejeitada ou contrariada. E por isso eu digo que, de facto, as instituições da sociedade são construídas através das dinâmicas e da relação entre poder e contrapoder. Manuel Castells: “Os sistemas dos países não mudam por escolha, mudam por necessidade” Contrapoder é a tentativa daqueles que não se sentem representados nas instituições da sociedade, e sob as condições de poder existentes no momento, de tentar alterar o panorama. Para alterar aquelas que são as regras da sociedade. E há diferentes formas de o fazer, desde esforços e mesmo, em alguns casos, desafios em termos evolutivos, para capacitar as nossas democracias através de mobilização para tentar vencer novas eleições. Manuel Castells: “Os sistemas dos países não mudam por escolha, mudam por necessidade” Portanto, o resultado entre poder e contrapoder é um conjunto de normas e instituições sob as quais nós vivemos e pelas quais nós vivemos. E isso, em certa medida, significa que estão sempre a mudar, constantemente. Todos os dias. Todos os dias há tentativas de impor poder de acordo com normas estabelecidas e de desafio a esse mesmo poder.
Manuel Castells: “Os sistemas dos países não mudam por escolha, mudam por necessidade” Nós estamos, neste momento, a assistir a grandes agitações sociais. Existem dinâmicas de poder e contrapoder a trabalhar neste momento. Como vê esta mudança? Como é que isso está a mudar a relação entre estes dois diferentes tipos de poder, numa sociedade em rede, depois de tantos anos com a Internet a ser algo central no nosso mundo? Para perceber isto, é preciso relembrar que existiram duas formas fundamentais de exercer poder ao longo da história e, de facto, todas as teorias de poder podem ser reduzidas a estas duas: poder por coerção e poder por persuasão.
Manuel Castells: “Os sistemas dos países não mudam por escolha, mudam por necessidade” Apesar de o poder por coerção ser mais decisivo — por exemplo, “tu fazes isto ou eu mato-te ou eu mando-te para a prisão”, o poder por persuasão é, na verdade, mais eficaz, porque influencia as nossas mentes. Agora, na era da Internet, o que tem acontecido é que a comunicação tem sido largamente descentralizada no mundo das redes sociais, que é muito mais autónoma em termos de mensagens, não em termos de domínio das grandes empresas, mas em termos de mensagens. Manuel Castells: “Os sistemas dos países não mudam por escolha, mudam por necessidade” Existem muito mais pessoas a intervir neste diálogo e nesta oposição e nestas controvérsias do que num mundo em que os media tradicionais teriam, de facto, a capacidade de moldar grande parte da comunicação. .Manuel Castells: “Os sistemas dos países não mudam por escolha, mudam por necessidade” É o que eu chamo “nós não mudámos para a liberdade digital; passámos de comunicação em massa para comunicação pessoal em massa”. Porquê pessoal? Porque as pessoas constroem as suas próprias redes desde o princípio, elas produzem as suas próprias mensagens e, ao mesmo tempo, são remetentes de mensagens e receptores de mensagens. .Manuel Castells: “Os sistemas dos países não mudam por escolha, mudam por necessidade” Existe uma constante interacção e uma constante descentralização do sistema de comunicação. Mas e depois? Bem, as pessoas que têm poder mobilizam os seus recursos também nas redes sociais para prevalecerem na modelação de comportamento. .Manuel Castells: “Os sistemas dos países não mudam por escolha, mudam por necessidade” E esta é a razão fundamental pela qual as redes sociais, ao invés de serem uma ágora electrónica, são um campo de batalha entre projectos, ideias e manipulações que ocorrem em simultâneo. Manuel Castells: “Os sistemas dos países não mudam por escolha, mudam por necessidade” Num dos seus livros, O Poder da Comunicação, realçou a importância da comunicação para o poder, o facto de o poder ser transformado de alguma forma através de redes de comunicação. Tornou-se bastante popular nos últimos anos culpar as redes sociais e a Internet pela maioria dos problemas que vemos hoje em dia. Como é que vê a relação entre a chegada das novas tecnologias e, ao mesmo tempo, o tipo de fragmentação que vemos na sociedade e o descontentamento crescente nas sociedades democráticas por todo o mundo? Bem, primeiro lembrem-se de que estamos a falar sobre o poder das ideias, mas ideias são, em termos de comunicação e em sistemas de comunicação alargados, tão poderosas a influenciar comportamentos como a desencadear emoções — lembrem-se que a neurociência tem demonstrado que nós somos animais emocionais. São as nossas emoções, os nossos sentimentos que determinam o nosso comportamento. Manuel Castells: “Os sistemas dos países não mudam por escolha, mudam por necessidade” Um dos principais erros que têm tido enormes consequências práticas na democracia liberal é pensar que políticas racionais, melhores políticas em termos racionais, vão convencer as pessoas. De forma nenhuma. De forma nenhuma. É bom para os governos e as instituições terem políticas razoáveis. Definitivamente. Mas não é dessa forma que conseguem convencer as pessoas se elas tiverem emoções muito fortes. O simples facto de ter uma política económica sensível e boa, um controlo da dívida, uma boa gestão do trânsito nas cidades não vai mudar os preceitos fundamentais. Portanto, a verdadeira questão é saber como vamos desencadear emoções positivas, ao invés de emoções negativas. E isso não tem a ver com a criação de políticas; tem a ver com comunicação. Manuel Castells: “Os sistemas dos países não mudam por escolha, mudam por necessidade” Agora, será que as tecnologias digitais e as redes sociais hoje são as culpadas pela perturbação que tem sido observada na sociedade? De maneira nenhuma. Porque a tecnologia não determina. A tecnologia modera. O que a Internet faz é favorecer uma comunicação sem impedimentos entre as pessoas. E essa capacidade expressa a variedade humana em qualquer sociedade, bem como a variedade de ideias e projectos. Hoje, a Internet é um espelho das nossas sociedades, um espelho de nós mesmos. Se nós não somos boas pessoas, isso será reflectido na Internet. Nós, na verdade, aceitamos uma ideia que muita gente aceitou: o advento da Internet como uma tecnologia de liberdade e uma tecnologia libertadora. É mesmo. Nós apenas nos esquecemos de que “livre” nem sempre significa “boa”. Manuel Castells: “Os sistemas dos países não mudam por escolha, mudam por necessidade” Existe um paradoxo entre o facto de a Internet ter nascido como uma ferramenta de liberdade, que permite a qualquer indivíduo expressar-se, e, ao mesmo tempo, existir uma concentração de poder nas mãos de um pequeno número de grandes empresas. Como é que explica isto? Nós temos de fazer uma diferenciação entre o controlo de posse, o controlo de conteúdo e o controlo de substância da comunicação, o que significa que é preciso que nos lembremos de que o modelo de negócio de base de todas essas empresas ou de todas as empresas ligadas à Internet é tráfego, densidade do tráfego, porque eles vivem dos nossos dados. E de vender os nossos dados ou de usar os nossos dados para publicidade. 91% das receitas da Google vem de publicidade indirecta — 91%, de acordo com a própria Google. Manuel Castells: “Os sistemas dos países não mudam por escolha, mudam por necessidade” Por isso mesmo, as empresas não estão interessadas em criar qualquer barreira a uma comunicação sem obstáculos. Eu prefiro “sem obstáculos” a “livre”. “Livre” depende de um contexto mais alargado. Por isso, as empresas estão interessadas em mais e mais tráfego. É por isso que a polarização as ajuda. Porque polarização significa que você diz uma coisa, eu vou dizer o contrário e vou lutar consigo até ao fim. Lutar até ao fim significa comunicar até ao fim. E isso é tráfego. Portanto, nem em termos de modelos de negócio nem na possibilidade de monopolizar o conteúdo e o tráfego as empresas param a chamada comunicação sem obstáculos na Internet. Monopólio de propriedade? Sim. Monopólio de comunicação? Não. Manuel Castells: “Os sistemas dos países não mudam por escolha, mudam por necessidade” Mencionou que as redes sociais não podem ser culpabilizadas, que não são a causa daquilo a que estamos a assistir, mas podem ser vistas mais como um catalisador. Ainda assim, vemos um aumento da falta de confiança por todo o mundo. Se olharmos para os barómetros, vemos que os níveis de confiança nos Governos e nas instituições tradicionais de poder têm descido por todo o mundo. Isto não é apenas um problema europeu, é um problema global. Como explica esta tendência sistémica? A democracia liberal está a perder as suas bases sociais de representação política devido a causas profundas como as pessoas se sentirem totalmente excluídas de qualquer processo de decisão, à excepção de colocarem o seu voto numa caixa uma vez em cada quatro anos. À excepção disso, elas não têm qualquer outro meio de representação política ou qualquer controlo. Como tal, o que é que fazem? Quando podem, protestam. Quando conseguem, apoiam partidos que se colocam fora do sistema para, então, entrarem no sistema. Logo que entram no sistema, pouco tempo depois, estes são integrados nas regras do sistema, mesmo a extrema-direita e ainda mais as pessoas à esquerda, porque são mais democráticas. E, assim que entram no sistema, são considerados iguais aos outros. Manuel Castells: “Os sistemas dos países não mudam por escolha, mudam por necessidade” A ligação de confiança tem sido quebrada na maioria das sociedades para a maioria das pessoas. E reparar essa ligação é algo muito sério porque lembrem-se: emoções. É ditado por emoções. Como tal, a não ser que sejamos capazes de desenvolver emoções positivas de maneira real e assim participar num processo de comunicação que seja efectivo, toda a tendência vai continuar a acelerar. Manuel Castells: “Os sistemas dos países não mudam por escolha, mudam por necessidade” Mas neste novo mundo que é criado pela arquitectura em rede da sociedade, é essa uma nova ideia de poder a emergir, ou é possível um novo balanço de poder? Em princípio, nós também estamos agora num mundo de poder em rede, porque existem estruturas de poder que, ao contrário de estarem historicamente separadas ou concentradas num só lugar, agora existem tanto a nível nacional como internacional. Manuel Castells: “Os sistemas dos países não mudam por escolha, mudam por necessidade” Os nós principais nas redes de poder são finanças, empresas de tecnologia, partidos políticos tradicionais, burocracias estatais tradicionais, a indústria dos meios de comunicação e as grandes empresas. Todos estes, tudo isto, fazem parte da rede. Assim, cada nó de poder tem a sua própria dinâmica e o seu próprio objectivo. Mas tudo isto faz parte da rede. .Manuel Castells: “Os sistemas dos países não mudam por escolha, mudam por necessidade” Disse que as pessoas têm perdido a confiança nas actuais formas de poder, quer sejam políticas, quer financeiras. E com todo o direito, tendo em conta o que disse até agora. Consegue ver algumas novas formas de poder a emergir pelo mundo? Eu vejo. A minha esperança que vem da observação que fiz ao longo da minha vida de muitos países tem sido sempre os movimentos sociais, o que não quer dizer movimentos políticos, apesar de terem sempre consequências políticas. .Manuel Castells: “Os sistemas dos países não mudam por escolha, mudam por necessidade” Mas eu considero movimentos sociais aqueles movimentos, movimentos autónomos, que não estejam ligados a qualquer opção ou partido político, que sejam movimentos culturais. Eles tentam mudar os valores da sociedade. .Manuel Castells: “Os sistemas dos países não mudam por escolha, mudam por necessidade” Agora, pensando amplamente na Europa. Eu penso que o principal problema é que os sistemas políticos têm tido pouca capacidade de traduzir a energia gerada pelos movimentos sociais em novas políticas e em possibilidades que voltem a legitimar as instituições. Manuel Castells: “Os sistemas dos países não mudam por escolha, mudam por necessidade” O problema não é tanto se eles são fontes de mudança. As fontes de mudança, no fim, necessitam de apoio ao nível das instituições políticas. E isso não está a acontecer. Portanto, eu ainda estou optimista porquê? Porque a história nunca acaba. E porque as lições de História nos mostram que mesmo quando não vemos o embrião de algo novo, quando não vemos os movimentos sociais ou tendências culturais diferentes, eles estão lá. Eles estão lá. E eles podem unir-se a dada altura e provocar um movimento social que vai desenvolver novas formas de democracia descentralizada. Penso que os sistemas dos países não mudam por escolha. Eles mudam por necessidade. Quando estamos à beira da catástrofe, aí existe alguma reacção. No meu livro Rupture, a conclusão é aquilo que eu prevejo, visto que não vejo forma de a democracia mudar nesses aspectos, a minha previsão é caos, é caos. Mas, acrescentei, o caos pode vir em diferentes formatos e a minha esperança é que seja um caos criativo, o que significa que, numa situação de caos, as coisas que aparentam ser impossíveis tornam-se possíveis. As pessoas encontram alguma
domingo, 13 de outubro de 2024
I. A estratégia nazisionista de classificar o povo palestiniano de terrorista desde há décadas para justificar a sua propaganda de "autodefesa" é a mesma estratégia usada pelos mais poderosos órgãos de comunicação, ditos de informação. É a estratégia que estes difundem das administrações norteamericanas imperiais e imperialistas.
II. As políticas de Israel e dos Estados Unidos no Médio Oriente visam, sobretudo, impedir os planos da China-Rússia e alguns membros dos BRICs da criação das Novas Rotas da Seda e impor a "rota" que melhor serve o imperialismo. Tudo isto está amplamente demonstrado pelos melhores analistas ocidentais e pela Rússia. Gaza, Líbano, Cisjordânia, Irão, são obstáculos a destruir.
terça-feira, 8 de outubro de 2024
Como Washington assumiu o controle da informação
ALAN MACLEOD 4 DE OUTUBRO DE 2024
Podemos deixar que algumas multinacionais ligadas ao aparelho militar dos EUA decidam o que podemos ou não saber? A questão merece ser colocada, porque estamos de facto confrontados com uma forma de imperialismo tecnológico. É o que explica o jornalista Alan Macleod, especialista em mídia, nesta intervenção no Congresso Internacional contra o fascismo, o neofascismo e expressões similares, realizado em Caracas nos dias 10 e 11 de setembro. (Eu'A)
Estamos vivendo talvez a maior revolução da mídia da história - ou pelo menos desde o nascimento da imprensa em 1440. Hoje, todos estão conectados uns aos outros por meio de seus smartphones e de uma rede global de comunicação instantânea. De certa forma, é maravilhoso. Mas essa rede não surgiu do nada. E aqueles que controlam o sistema não são forças benignas. De fato, uma batalha silenciosa está ocorrendo pelo controle dos meios de comunicação. Os Estados Unidos estão tentando – e conseguindo – estabelecer controle sobre nossas fontes de informação e comunicação, porque sabem que isso lhes dará um poder incrível. De fato, a mídia é o árbitro do que é digno de notícia, do que é lembrado e do que é esquecido, do que é visto e do que não é. O que significa que eles ditam às pessoas os parâmetros do que é possível e do que parece impossível. Como tal, pode-se dizer que não há força maior moldando o espírito humano hoje. E mais do que nunca, apenas algumas empresas controlam esse processo.
Acreditamos que esses grupos gigantes como Google, Facebook, Twitter e WhatsApp são empresas transnacionais de tecnologia que existem apenas no ciberespaço. Mas este não é o caso. São empresas americanas, com sede nos Estados Unidos e sob a jurisdição de Washington. Os Estados Unidos têm o poder de ditar a evolução da Internet Um exemplo flagrante dessa situação ocorreu em 2020, quando o governo dos EUA assassinou o líder iraniano Qassem Suleimani. Suleimani era a figura mais popular do Irã, e seu assassinato provocou uma onda de tristeza e raiva no país e em todo o mundo. No entanto, como o governo dos EUA designou a unidade militar de Suleimani como um grupo terrorista, o Facebook, o Instagram e outras plataformas dos EUA foram forçados a censurar qualquer homenagem a Suleimani, alegando que era "apoio ao terrorismo". Isso significa que os iranianos que conversam com outros iranianos em farsi foram impedidos de compartilhar uma opinião extremamente popular online, por causa do governo dos EUA. Assim, os Estados Unidos têm o poder de ditar a evolução da Internet, mas também das tecnologias de informação e comunicação em nível global. As grandes plataformas de mídia social competem e destroem a mídia local. E as quantidades extraordinárias de dados que eles acumulam sobre os indivíduos eram dificilmente imagináveis algumas décadas atrás. O imperialismo tecnológico controla as mentes De acordo com o antigo modelo clássico de imperialismo, os ocidentais despojaram o povo de seus recursos, dominaram a economia e controlaram fisicamente a terra.
Hoje, o imperialismo tecnológico domina os sistemas de informação e comunicação, permitindo que eles controlem psicologicamente nossas mentes. Ainda mais preocupante, minhas investigações jornalísticas mostraram que essas grandes empresas do Vale do Silício estão intimamente ligadas ao estado americano encarregado da segurança nacional, que também esteve na origem do nascimento da Internet. O Facebook, por exemplo, fez parceria com o Conselho Atlântico da OTAN, permitindo controlar os feeds de notícias de bilhões de usuários. E sua divisão de moderação de conteúdo é composta por ex-agentes da CIA. O chefe de moderação de conteúdo do Facebook é Aaron Berman, que até 2019 era um dos membros mais antigos da CIA. Em uma manhã de segunda-feira, ele deixou seu emprego na CIA para se tornar um alto funcionário do Facebook. O Google, por outro lado, nasceu de um projeto da CIA: a pesquisa realizada na Universidade de Stanford, que daria origem ao mecanismo de busca, foi financiada e supervisionada pela CIA. E, como acontece com o Facebook, o Google agora tem pessoas do sistema de segurança nacional americano em suas fileiras. Essas pessoas controlam os algoritmos que determinam o que o mundo vê – e não vê – em suas telas. Elon Musk, por sua vez, apesar de se apresentar como um dissidente, é um gigantesco empreiteiro do estado de segurança nacional. E ele deve seu sucesso comercial à sua parceria com Mike Griffin, ex-chefe da divisão de investimentos da CIA. Em outras palavras, Washington está estabelecendo um regime de imperialismo tecnológico que rivalizará e superará o poder e a influência dos imperialismos do passado.
É um verdadeiro império global, do qual todos fazemos parte. Portanto, acho que é imperativo que comecemos a ver as grandes corporações do Vale do Silício como extensões do imperialismo americano. O GAFAM e a ascensão do fascismo Sou jornalista e me concentro aqui na mídia. Mas não esqueçamos que toda vez que usamos Visa ou PayPal, compramos na Amazon ou usamos Uber ou outros aplicativos, uma pequena quantia de dinheiro sai direto de nossos bolsos nos Estados Unidos por meio do que é um gigantesco sistema de economia rentista. Agora, como todos sabemos, na esteira da decadência capitalista, o fascismo está em ascensão, inclusive na Europa e na América do Norte. Repetidas vezes, a história mostrou que os capitalistas sempre ficam do lado dos fascistas quando seu poder e riqueza são desafiados. E não é diferente hoje. Veja, por exemplo, Elon Musk, que atualmente está usando sua plataforma para promover a mudança de regime na Venezuela e no Brasil. Musk apoiou políticos de extrema direita como Maria Corina Machado e pediu a derrubada de Maduro. Ele também descreveu o Brasil [de Lula] como uma ditadura. E não esqueçamos seu suposto papel no golpe boliviano de 2019 contra Evo Morales e o MAS. No entanto, ao mesmo tempo, Musk saúda o argentino Javier Milei como um herói. E ele constantemente promove teorias da conspiração fascistas e racistas, demonizando os imigrantes. O Facebook e outras plataformas também lucram com o ódio e têm sido muito lentos para interromper o fluxo de xenofobia e fanatismo de extrema-direita em seus sites. Mas eles estão trabalhando horas extras para sufocar as vozes palestinas que se opõem à destruição fascista de Gaza por Israel. E muitos de nós nesta sala sabemos o que é ser censurado pelos algoritmos
dessas plataformas, para que nossas opiniões e mensagens não cheguem a um público amplo. O poder que os Estados Unidos acumularam ao controlar as mídias sociais é enorme. E esse imperialismo tecnológico se traduz em ações concretas. Em 2021, por exemplo, poucos dias antes das eleições na Nicarágua, o Facebook excluiu as contas e páginas de centenas de fontes de notícias, políticos e ativistas de esquerda, com o objetivo de inclinar a eleição dos sandinistas para o candidato apoiado pelos EUA. Quando essas pessoas vieram ao Twitter para reclamar, o Twitter também excluiu suas contas. Minha investigação revelou que a equipe da plataforma que tomou essa decisão estava cheia de espiões ocidentais. Outras informações são possíveis Mas o suficiente discutiu os problemas. Vamos falar sobre soluções. Na América Latina, entende-se, pelo menos desde o Relatório MacBride da UNESCO de 1980, que o imperialismo mediático é um grande problema e que há uma gigantesca desigualdade no controle de quem tem o direito de falar e definir a agenda internacional. A TeleSUR nasceu na América Latina da consciência da necessidade de redes de mídia pertencentes e operadas pelos países do Sul para combater a hegemonia do Ocidente. A TeleSUR teve algum sucesso, mas o que é necessário agora é construir redes sociais, aplicativos e infraestrutura de tecnologia central que sejam soberanas, não de propriedade e controladas por Washington ou empresas americanas com laços estreitos com o estado de segurança nacional dos EUA. Francamente, um dos únicos países do mundo que parece ter visto o perigo chegando e agiu de acordo é a China. Na China, esses aplicativos criados por espiões americanos não são legais e existem alternativas locais para tudo. Enquanto alguns
chamam essa medida de "autoritária", faço a seguinte pergunta: quem deve controlar os meios de comunicação? O governo ou oligarcas estrangeiros com laços estreitos com o estado de segurança nacional dos EUA que constantemente usam esses aplicativos para promover o discurso americano e a mudança de regime em todo o mundo? Seria possível criar serviços de mensagens, métodos de pagamento e plataformas de mídia social de propriedade e gerenciados da América Latina que pudessem estar sujeitos ao controle democrático? Parece-me possível. O principal problema é que simplesmente não parece haver um governo disposto a investir nessa área.
Apelo por uma internacional antifascista e anti-imperialista
SELMA BENKHELIFA, MUSTAPHA DIALLO
4 DE OUTUBRO DE 2024
A Venezuela pode e, de fato, deve ser líder nessa área. A Venezuela já fez parceria com outros países para criar meios de comunicação e encontrar maneiras de contornar as sanções ilegais impostas pelos Estados Unidos. O governo venezuelano entendeu a ameaça da "guerra mediática" nos anos 2000 e encorajou o estabelecimento de uma rede de mídia alternativa para combater a imprensa nacional de propriedade dos oligarcas. É imperativo que ataquemos o imperialismo tecnológico como você está fazendo com o imperialismo econômico. Outro caminho a explorar é o movimento para a criação de software livre e de código aberto com ferramentas para descentralizar a Internet. Esse movimento já foi popular e forte, e criou produtos que funcionam. É também essencial promover a literacia mediática crítica entre todos, jovens e idosos. Essa educação deve ser ensinada nas escolas e promovida pela própria mídia. Todos devem analisar e criticar tudo o que consomem. Quem escreveu ou
disse isso? Quais são suas intenções? Com que propósito eles escreveram? Quem os financia? Na sociedade de hoje, essas habilidades básicas são tão importantes quanto numeramento ou digitação. Passamos horas todos os dias consumindo mídia, mas não somos educados para entendê-la ou examiná-la de perto. Não será fácil. Os poderes constituídos têm sido implacáveis com as pessoas que tentam colocar alternativas em prática. Julian Assange, do Wikileaks, é perseguido há anos por expor os crimes do governo dos EUA. E veja o que está acontecendo com o fundador do Telegram, Pavel Durov, agora. Ele foi preso e enfrenta dez anos de prisão na França por se recusar a cooperar com as autoridades ocidentais, censurando ou cortando os meios de comunicação de seus inimigos. Mas nada que valha a pena fazer é fácil. A boa notícia é que um número crescente de pessoas está percebendo que os Estados Unidos dominam as ondas de rádio e que precisamos fazer algo a respeito. Congratulo-me com o facto de líderes latino-americanos como Nicolás Maduro estarem a lançar luz sobre o problema e a propor que façamos alguma coisa, porque confiar os nossos meios de informação e comunicação a estes oligarcas tecnológicos é um desastre e um caminho para o fascismo. Então, vou deixá-los com esta ideia: podemos e devemos construir uma tecnologia alternativa para combater o imperialismo digital. Vamos começar hoje e vamos vencer.
«(...) Antonio Gramsci desenvolveu o conceito de nazionale-popolare para
indicar o que é nacional e popular. Inicialmente, ele o relacionou
especificamente a produções culturais: obras literárias ou artísticas
que expressam as características distintivas da cultura nacional e são
reconhecidas como representativas pelas classes populares. Hoje usamos o
termo “nacional-popular” em um sentido mais geral para nos referirmos a
todos aqueles traços culturais, estéticos, comportamentais e habituais
difundidos entre as pessoas comuns de um determinado país. No entanto, o
conceito nos escritos de Gramsci também vai além de sua dimensão
cultural e diz respeito à identificação das massas populares com um
projeto nacional comum. Para Gramsci, a luta revolucionária não deve
cair no “cosmopolitismo e antipatriotismo mais superficiais”. Em vez
disso, deve forjar um vínculo sentimental com o “povo-nação”. Gramsci
acreditava que todo movimento revolucionário que se esforça para
governar deve incorporar e se identificar com o próprio país, e esse
princípio também deve ser aplicado à classe trabalhadora em sua luta
hegemônica contra a burguesia. Essa reflexão não surgiu no vácuo; já
estava esboçado no Manifesto Comunista de 1848, quando Marx e
Engels escreveram que o proletariado, para alcançar a vitória, “deve
constituir a si próprio como nação” e é, portanto, “ele próprio
nacional, embora não no sentido burguês da palavra”. Pode-se ouvir
nessas linhas o eco da Revolução Francesa, com o Terceiro Estado se
transformando em nação. Mas há diferentes sentidos de ser nacional. (...)» Jacopo Custodi, A esquerda não pode deixar o patriotismo para a direita, in JACOBINA
Um povo que sofreu um genocídio ("Holocausto") por parte de outro povo nazificado (passo a expressão) e que pratica um igual genocídio a outro povo, é a mais importante questão ética neste momento histórico.
Certamente que desde 1949, pelo menos, os judeus praticavam terrorismo sobre os povos árabes (é também de realçar que ambos os povos, de modo geral, são semitas, isto é possuem a mesma origem), uma permanente e propositada ação brutal de violências, discriminação, expropriação, escravatura assalariada e o colonialismo. Contudo, a opinião pública mundial, horrorizada, descobriu a realidade através da destruição de Gaza e dos massacres e é evidente que neste caso - de Gaza - os israelitas foram para além do imaginável. Comportaram-se como os nazis da II Guerra Mundial, seus algozes. Imitam-nos . Exatamente como os nazis japoneses, germanos, espanhóis, portugueses, romenos, ucranianos, etc,,etc.
Ou seja : os argumentos são ou têm sido (mas agora bem manifestados com clareza pelos chefes políticos e militares israelitas ) idênticos aos argumentos utilizados pelos nazis das mais diversas nações. O que nos leva a pensar em duas hipóteses :
Ou a doutrina nazi (chamemos-lhe assim, reunindo os argumentos comuns nessa ou numa mesma doutrina) foi criada nos finais do século dezanove, tal como se pode constatar na Alemanha, por um lado, e no sionismo, por outro, por vias filosóficas e religiosas, culturais em suma,
ou experiências fundamentais criaram as bases (e as fórmulas) dos genocídios. Refiro-me ao colonialismo dos europeus sobre os africanos no século dezanove e à carnificina da I Guerra Mundial, onde se aplicou o terror sobre as populações civis.
Haveria sempre a hipótese, de resto é a mais imediata e comum, de que está no ADN da espécie.
Não são de excluir condições bio-genéticas e a habituação da espécie humana a tais comportamentos (o inato e o adquirido, ambos transmitidos) ; porém, a vontade de expropriação de recurso naturais e de escravidão da força de trabalho é por demais evidente em todos os casos (alemão e israelita). O método marxiano que se baseia na experiência milenar da humanidade (Marx conhecia muito bem a história do império romano), é incontornável uma vez mais. Expropriação- apropriação forçada -, utilizando-se todos os meios brutais , dos territórios, recursos já edificados ou recursos naturais, e da mão de obra, foi e é a outra forma do capitalismo se implantar e expandir. Não apenas a forma jurídica do "indivíduo livre" que vende a sua mercadoria e recebe, por isso, um salário.
Já existia há milhares de anos antes do capitalismo? Sim. Muito antes do próprio império romano.Todavia, tanto a expropriação na fase "primitiva" do capitalismo (século XVI), como o colonialismo (século dezanove), existem com o capitalismo, constituem o capitalismo. A construção da doutrina , que mais tarde originará o "nacional-socialismo" e o "fascismo", vai desenvolvendo-se com estas práticas económico-jurídicas, e vai desenvolvendo-as. O racismo é tipicamente um exemplo.
Portanto, o socialismo comunista e o nazi-fascismo não têm a mesma origem. Antagonistas, reagem desde o início (finais do século dezoito) um contra o outro. O socialismo é a vertente humanista das civilizações humanas de todos os continentes. A outra doutrina é a vertente, também humana, talvez da espécie, tribal.