Translate

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

O marxismo romântico de Erik Olin Wright

As utopias reais de Erik Olin Wright semeavam esperança – mas uma esperança alimentada por processos reais e não simplesmente especulativos. Ele dizia que não é possível prefigurar o futuro emancipado no vazio. Precisamos saber colher exemplos no presente. E imaginar futuros alternativos é uma questão central tanto para a crítica científica quanto para a política socialista. Nisso, Erik foi um mestre insuperável.

Por Ruy Braga.

O sociólogo estadunidense Erik Olin Wright nos deixou logo após a meia-noite do dia 22 de janeiro de 2019. Lutava há pouco mais de oito meses contra uma leucemia mielóide aguda que, finalmente, o levou. Erik tinha 71 anos, a maior parte dos quais vividos na cidade de Madison, em Wisconsin, para onde se mudou logo após terminar, em meados dos anos 1970, seu doutorado em sociologia na Universidade da Califórnia em Berkeley. Como o próprio Erik lembrou inúmeras vezes, ele foi um produto daqueles tempos tormentosos e fascinantes de ativismo social e radicalismo político que tomaram a sociedade estadunidense e suas universidades nos anos 1960 e início dos anos 1970.

Após iniciar seu programa de pós-graduação, Erik acabou escapando de ser recrutado pelo exército para a Guerra do Vietnã por ser seminarista e trabalhar como capelão estudantil na prisão de San Quentin. Dessa experiência, surgiu seu primeiro livro, em coautoria com alguns prisioneiros.1 Nessa época, Erik já havia acumulado certo traquejo acadêmico, ao estudar em Harvard e em Oxford, onde foi aluno do grande historiador marxista inglês Christopher Hill. Em Berkeley, interessou-se pelo tema das classes sociais a partir de um diálogo crítico com as teorias de estratificação social que então vertebravam os debates sobre desigualdades nos estudos sociológicos.
Erik demoliu essas teorias e estudos baseados no status social dos indivíduos por meio de uma problematização bastante ortodoxa do conceito marxista de classe social. Para ele, as classes sociais deveriam ser definidas a partir do conceito de exploração econômica do trabalho. Ou seja, a clivagem básica das classes deveria ser estabelecida entre os exploradores, isto é, aqueles que dominam os meios de produção impondo às expensas de outros grupos a apropriação do excedente econômico, e os explorados, isto é, aqueles que produzem o excedente econômico, mas não se apropriam da totalidade daquilo que criam.
O grande problema para uma definição marxista das classes sociais baseada no conceito de exploração estava localizado não tanto na identificação dos polos da estrutura social, mas, no que existiria entre eles. Em suma, como devemos interpretar aqueles grupos que não são exploradores e explorados? Como explicar o papel desempenhado pelas camadas intermediárias no processo de reprodução da estrutura de classes? Muitos marxistas diziam que as “classes médias” seriam, na verdade, resíduos de modos de produção do passado e que cedo ou tarde, elas iriam se dissolver em uma das classes fundamentais da sociedade capitalista. Outros enfatizavam sua novidade, ancorando-as em uma ideologia que as afastariam da classe trabalhadora envolvida com a transformação material da natureza.
Por um lado, Erik desafiou a tese “passadista” simplesmente constatando que as camadas intermediárias não estavam desaparecendo do cenário das sociedades capitalistas maduras. Por outro, ele apontou de forma clara as insuficiências teóricas e empíricas de uma definição ideológica das “classes médias” que afastava setores cada vez maiores das classes trabalhadoras não manuais do polo explorado da sociedade capitalista. Criticando abertamente o trabalho de Poulantzas, Erik estimou que se aceitássemos a definição do marxista grego, concluiríamos que 70% da população vivendo nos Estados Unidos no final dos anos 1960 faria parte da “classe média”.2
Sinteticamente, Erik argumentou que Poulantzas definiu a classe trabalhadora em termos incorretamente restritivos. Como apenas os trabalhadores produtivos estariam qualificados para fazer parte da classe, os trabalhadores assalariados em áreas improdutivas, como bancos, por exemplo, seriam excluídos da classe trabalhadora e, apesar de compartilhar com esta as mesmas condições de vida e de trabalho, absorvidos na “nova pequena burguesia”. O mesmo ocorreria com os trabalhadores do setor público e os trabalhadores administrativos. Além disso, Erik questionou a coerência do conceito poulantziano de “nova pequena burguesia”. Existiriam dois grupos principais abrigados nessa categoria. Os primeiros são gerentes e supervisores, que Poulantzas supõe incorretamente serem improdutivos. Esses seriam marcados pelo “domínio das relações políticas que eles mantêm no local de trabalho”.
No entanto, de acordo com Erik, não estava claro o que seria especificamente “político”, e não econômico, na função de gerentes e supervisores. O segundo grupo, “engenheiros e técnicos”, seria considerado produtivo, mas estaria envolvido em uma forma de aplicação da ciência à produção que se entrelaçaria com práticas ideológicas correspondentes à ideologia dominante. Mais uma vez, não fica claro por que a suposta divisão mental/manual do trabalho deveria ser vista como “a” linha divisória entre as classes, em vez de simplesmente separar grupos diferentes de trabalhadores.3
A conhecida solução de Erik para o problema das “classes médias” combinou os polos antinômicos no conceito de “localizações contraditórias de classe”, isto é, posições de classe localizadas entre as classes fundamentais: pequenos empregadores entre a pequena burguesia e o capital em grande escala, supervisores e gerentes entre o capital e o trabalho assalariado, e empregados semiautônomos entre o trabalho assalariado e a pequena burguesia. A partir daí, Erik passou a testar empiricamente sua teoria analisando em primeiro lugar as mudanças na estrutura de classes nos Estados Unidos e, posteriormente, em colaboração com sociólogos de outros países, mapeando os efeitos de classe em questões como mobilidade social entre gerações, relações familiares, padrões de amizade, desigualdades de gênero e formas de consciência de classe em diferentes contextos nacionais.4
No início dos anos 1980, Erik juntou-se ao grupo de cientistas sociais, economistas e filósofos conhecidos como “marxistas analíticos”. Apesar do posterior abandono do marxismo como referência central do grupo, ele continuou participando de suas reuniões e seminários, pois isso o estimulava pessoal e intelectualmente. Erik destacou-se como um marxista analítico único, tanto em termos teórico-metodológicos quanto políticos. Metodologicamente, ele nunca cedeu ao individualismo, permanecendo um “coletivista” no tocante à análise das classes. Além disso, ele jamais demonstrou hostilidade à dialética marxista, optando por circunscrevê-la ao entendimento segundo o qual as sociedades capitalistas seriam “estruturalmente instáveis”, isto é, incapazes de solucionar as contradições que elas geram.
Politicamente, Erik foi um radical comprometido até o último fio de sua vasta cabeleira com a superação do capitalismo. Como lembrou seu ex-orientando, Vivek Chibber, antes de tudo, o socialismo era a bússola moral de Erik. Essa dimensão de sua vida transbordou em sua obra e, no início dos anos 1990, quando o socialismo burocrático colapsava e muitos intelectuais marxistas pulavam de seu barco, tentando salvar-se do iminente naufrágio, Erik iniciou no recém-criado Havens Centre da Universidade de Wisconsin em Madison, um ciclo de conferências dedicado às “utopias reais”, isto é, não um conjunto de sonhos especulativos, mas alternativas realistas ao capitalismo condensadas em movimentos, organizações, instituições e projetos realmente existentes.
Sua obra prima, Envisioning Real Utopias (2009), condensou todo o acúmulo daquela década e meia de debates e engajamentos práticos com ativistas do mundo todo em torno das utopias reais. Por meio de exemplos criteriosamente garimpados e estudados, Erik buscou revelar a natureza anticapitalista de certas instituições, teorizando sobre aquilo que haveria em comum entre organizações e movimentos espalhados pelos quatro cantos do globo capazes de impulsionar o socialismo. Ao mesmo tempo, procurou conectar ativistas, aproximando suas experiências, num autêntico espírito internacionalista. Seu otimismo era contagiante, mesmo pra alguém como eu, cuja sensibilidade política sempre esteve mais alinhada àquilo que Erik recusava: a estratégia de transição ao socialismo via “esmagamento” do capitalismo.
Ele próprio advogava a combinação de dois tipos diferentes de estratégias emancipatórias, isto é, “intersticiais” capazes de criar alternativas fora do Estado e “simbióticas” que envolveriam o Estado através de lutas em seu interior.5 Regular e erodir o capitalismo: por meio da mobilização social seria possível criar espaços contrários ao Estado capitalista para, então, transformar esses espaços em colaboração com um Estado reformado.
Erik costumava dizer que ser pessimista é fácil. Difícil é ser otimista quando o neoliberalismo triunfou no mundo todo. Manter acesa a chama do socialismo quando, para lembrar Žižek, parece ser mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo é que é o grande desafio. As utopias reais de Erik semeavam esperança – mas uma esperança alimentada por processos reais e não simplesmente especulativos. Ele dizia que não é possível prefigurar o futuro emancipado no vazio. Precisamos saber colher exemplos no presente. E imaginar futuros alternativos é uma questão central tanto para a crítica científica quanto para a política socialista.
Nisso, Erik foi um mestre insuperável. Concordando ou discordando de sua teoria da transição ao socialismo, a arquitetura do edifício criado por ele é de uma beleza notável. A radicalidade existencial de seu compromisso com um mundo emancipado também. Alicerçada em três valores inegociáveis para ele, igualdade, liberdade e comunidade, sua obra foi criteriosamente construída como a mais importante contribuição do marxismo para o pensamento sociológico em todos os tempos.
E apesar de sua consagração internacional, ele próprio exalava modéstia por todos os poros. E não era uma forma disfarçada de vaidade, mas, algo sincero e existencial. Ele nunca deixava de responder a uma mensagem. Lembro-me de pedir a ele instruções a respeito de como fazer para enviar um estudante de graduação da USP para Madison e ele responder detalhando os passos e ainda colocando outros colegas de seu departamento pra ajudar. Em 2014, em Yokohama, ele assistiu a um debate que participei com Guy Standing, Jennifer Chun e Marcel Paret. Logo após o fim da sessão, Erik veio conversar comigo pedindo meu paper. Enviei-lhe por e-mail e, no dia seguinte, lá estava ele, apontando isso e perguntando sobre aquilo… Confesso que a gente fica meio intimidado nessas horas, mas, Erik sabia como poucos ser respeitoso e nos deixar à vontade, contribuindo para que nossas ideias se tornassem mais claras e precisas.
Provavelmente, Erik não gostaria do título que escolhi para essa pequena homenagem. Penso que aos seus ouvidos o adjetivo “romântico” soaria desarmônico, em desalinho com seu pragmatismo teórico. No entanto, uso o conceito de “romantismo” no sentido a ele atribuído por Michael Löwy e Robert Sayre, isto é, como uma “estrutura mental coletiva”, uma “sensibilidade anticapitalista” cujo elemento unificador é a oposição ao mundo burguês.6
Em outras palavras, as variantes dessa sensibilidade são partes fragmentadas de uma crítica da civilização capitalista empreendida em nome de valores de um passado pré-moderno, em especial, aqueles ligados aos sentimentos comuns que garantem a reprodução de nossa existência social. Assim, o romantismo nutre-se de uma espécie de revolta dos valores humanos contra a autocracia do valor abstrato, criando um paradoxo: como, em meio à reificação do presente, a busca nostálgica por uma comunidade verdadeiramente humana pode nos ajudar a antever o futuro desejado?
Aqui, é necessário lembrar que o romantismo é herdeiro da tradição da crítica social iluminista e que, portanto, ele também revela-se na necessidade de uma utopia. Nesse sentido, a nostalgia de um passado mais ou menos imaginário conecta-se à crítica do capitalismo por meio da revolta romântica contra a naturalização do presente. Daí a importância em escavar experiências sociais contemporâneas capazes de incorporar as qualidades sociais perdidas para o capitalismo, prefigurando certas dimensões da sociedade futura na qual desejamos viver.
Erik soube revolver como ninguém esse campo de experiências sociais a fim de extrair inspiração para a emancipação vindoura. Ao antever suas utopias reais, ele conseguiu atualizar a expectativa de uma sociedade alternativa na forma de uma promessa ainda não de todo cumprida, mas, rica em aspirações emancipatórias.
De certa maneira, o socialismo de Erik dialogava com uma tradição política radical fortemente enraizada, até pelos menos o início dos anos 1930, em comunidades espalhadas pelos Estados Unidos e cuja maior expressão eleitoral foram as candidaturas do líder sindical socialista Eugene Debs (1904, 1908, 1912 e 1920).7 Quando Erik insistia em resgatar o “social” do socialismo, parece-me que é essa tradição comunitária que o inspirava. Mas, talvez, a forma mais simples de ilustrar o marxismo romântico de Erik seja recorrendo a sua parábola favorita: o Shmoo.

Essa criatura fantástica surgiu nos anos 1940 nas tirinhas desenhadas por Al Capp: em Dogpatch, uma comunidade semi-rural, apareceu um Shmoo, animal cuja principal característica consistia em satisfazer as necessidades materiais básicas dos seres humanos. Nada de luxo, mas, apenas o necessário para a sobrevivência. No início da história, os capitalistas competiam a fim de aumentar a jornada de trabalho e diminuir os salários. Mas, após a chegada do Shmoo, os trabalhadores decidiram abandonar seus antigos empregadores, vivendo por conta própria. Evidentemente, trata-se de uma metáfora usada por Erik para explicar a renda básica universal, uma de suas utopias reais.8
Recuar a uma história em quadrinhos dos anos 1940 retratando uma comunidade semi-rural ameaçada pela exploração capitalista para explicar uma solução política contemporânea capaz de prefigurar um futuro emancipado ilustra à perfeição a “sensibilidade anticapitalista” romântica de Erik. Diante dos avanços da mercantilização, a comunidade reage, prevalecendo por contar com recursos que os capitalistas nem mesmo podiam imaginar: um Shmoo! Nascido na vibrante Berkeley, mas criado no interior do pacato e agrícola Estado do Kansas, Erik estava sempre com aquele sorriso ingênuo e enigmático estampado nos lábios. Na minha cabeça, esse sorriso doce dissimulava algo que os capitalistas não podiam antecipar.
O último post do blog que ele criou a fim de narrar sua luta contra a leucemia foi uma carta para seus netos propagandeando a arte de fazer patetices. É um texto ao mesmo tempo divertido, terno, forte e comovente. De fato, havia algo de lindamente ingênuo em Erik. No entanto, tratava-se de uma ingenuidade assentada em um intelecto poderosíssimo. Um verdadeiro laboratório de utopias reais. Num futuro emancipado, Erik será lembrado como um herói do conhecimento, um gigante das ciências sociais. Para todos que o conheceram, no entanto, ele era isso tudo. E muito, muito mais…

Olin Wright na Boitempo | Escrito pouco antes de sua morte, Como ser anticapitalista no século XXI? condensa décadas de trabalho em um manifesto conciso, afiado e de uma didaticidade revolucionária.



“Erik Olin Wright foi, entre muitas coisas, um escritor visionário, que teve a imaginação necessária para prever como seria a vida após o capitalismo. Ele incorporava uma maneira inteira de pensar sobre o capitalismo e o mundo: clara, precisa e sem rodeios. Este livro, seu último, deve ser um ponto de referência indispensável para quem quer tornar o mundo um lugar melhor.” — Bhaskar Sunkara
“Dotado de uma capacidade ilimitada de botar suas ideias em prática de forma precisa e simples, sem com isso diluí-las, Erik dava aos militantes uma visão de projeto coletivo para o qual cada um poderia contribuir. Dado o ressurgente interesse em ‘socialismo’ entre a nova geração de pensadores e ativistas, foi aumentando sua quantidade de seguidores.”  Michael Burawoy


NOTAS
1 Ver Erik Olin Wright, The Politics of Punishment: A Critical Analysis of Prisons in America, Nova Iorque, HarperCollins, 1973.
2 Dispensável dizer que, com bem lembrou Erik, uma sociedade capitalista capaz de multiplicar incessantemente as “classes médias” não necessita de uma revolução socialista.
3 Ver Erik Olin Wright, Class, Crisis and the State, Nova Iorque/Londres, Verso, 1978.
4 Ver Erik Olin Wright, Class Counts: Comparative Studies in Class Analysis, Cambridge, Cambridge University Press, 1997.
5 Ver Erik Olin Wright, Envisioning Real Utopias, Nova Iorque, Verso, 2009.
6 Para mais detalhes, ver Michal Löwy e Robert Sayre, Revolta e melancolia: o romantismo na contracorrente da modernidade, São Paulo, Boitempo, 2015.
7 Evidentemente, não é acidental que Eugene Debs seja igualmente a principal referência política do senador Bernie Sanders.
8 Alguns alunos de Erik criaram um vídeo narrando as tirinhas de Li’l Abner sobre o Shmoo intitulado: “Erik Olin Wright e o Shmoo: a luta continua”. O vídeo está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Fc8n_QuqTig.
* * *
Para aprofundar a reflexão sobre as novas configurações das revoltas subalternas no mundo, recomendamos acompanhar o WebCurso de Ruy Braga na TV Boitempo. Intitulado “Entendendo o precariado”, trata-se de uma leitura comentada de seu mais recente livro pela Boitempo, A rebeldia do precariado: trabalho e neoliberalismo no Sul global. Ao todo são quatro aulas dedicadas a destrinchar essa densa e explosiva obra. Cada dia fica mais claro o poder de revelação do conceito de “precariado” na nossa conturbada conjuntura política, econômica e social. No Brasil, nenhum intelectual tem se dedicado com tanta maestria a explorar as perspectivas políticas e analíticas abertas por esse conceito no interior do arcabouço teórico marxista quanto Ruy Braga.
* * *
Ruy Braga, professor do Departamento de Sociologia da USP e ex-diretor do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania (Cenedic) da USP, é autor, entre outros livros, de Por uma sociologia pública (Alameda, 2009), em coautoria com Michael Burawoy, e A nostalgia do fordismo: modernização e crise na teoria da sociedade salarial (Xama, 2003). Na Boitempo, coorganizou as coletâneas de ensaios Infoproletários – Degradação real do trabalho virtual (com Ricardo Antunes, 2009) e Hegemonia às avessas (com Francisco de Oliveira e Cibele Rizek, 2010), sobre a hegemonia lulista, tema abordado em seu mais novo livro, A política do precariado: do populismo à hegemonia lulista. É também um dos autores dos livros de intervenção Cidades rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil (Boitempo, Carta Maior, 2013) e Por que gritamos golpe? Para entender o impeachment e a crise política no Brasil (Boitempo, 2016). A Boitempo prepara para 2017 o lançamento de mais novo livro A rebeldia do precariado. Colabora para o Blog da Boitempo mensalmente, às segundas.

3 comentários em O marxismo romântico de Erik Olin Wright

  1. Maria Amélia // 04/02/2019 às 4:43 pm // Responder
    *Maria Amélia Ferracciú Pagotto* EBTT- Sociologia Coordenadora de Pesquisa, Inovação e Pós-graduação IFSP – Campus Capivari Av. Dr. Ênio Pires de Camargo, 2971 – São João Batista Capivari / SP mameliapagotto@ifsp.edu.br http://www.ifspcapivari.com.br (19) 992244117
    Curtir
  2. CLARA ALCIONE MARTINS // 05/02/2019 às 12:03 pm // Responder
    Queria ter acesso a carta que ele escreveu aos netos. Fiquei tão tocada com seu texto. Utopia Real…..que maravilha. Vou procurara os textos do Erick. Confesso que não conheço
    Curtir
    • Oi Clara. Segue uma parte da carta.
      On the Art of Goofiness
      Journal entry by Erik Olin Wright — Jan 21, 2019
      Recent blogs have been pretty heavy, understandably. I’m in the last days of my life. That kind of focuses the mind around the biggest questions. And that’s been combined with some health crises that had such powerful physical impact on me that I needed to share that as well. So while I hope the spirit of these blogs is not just relentless gloom and doom, they have certainly not been lighthearted. Now, so you can get a fuller picture of what my life is like, even in the midst of this, I thought I would share with you the section of the letter to my grandchildren that Becky and I have just completed, Becky typing and me dictating. This is a section of my letter to my grandchildren that describes an extremely salient aspect of my relationship to my children while they were growing up. Which is to cultivate a kind of goofiness, silliness, joking around, a playfulness that pops up sometimes unexpectedly and takes many different forms. Some of this goofiness in a way milder forms I carry into seminars sometimes or other activities with students. but it was away more intense when it was goofiness with my kids. one aspect of this goofiness was storytelling. now my stories weren’t always goofy, they weren’t always pure silliness, but I would say silliness played a part in nearly all the stories I’d tell my kids. I much preferred telling them stories to reading them stories. so what follows is an excerpt of my letter to my grandchildren, which contains some general discussion of goofiness as a thing we do together. and, in particular, the problem of how you tell spontaneous stories that are free flowing and come easily so it’s not work on the part of the parent, it’s fun. and the key to this is what I would call creating a gimmick, which is what I would call a story-telling machine. you get a good gimmick, you get a gimmick in your head, and the gimmick basically tells the story. the stories don’t need plots, they just need a structure that’s funny and enjoyable. And a really good gimmick invites the kids to jump in, put their ideas into the fray, and contribute story ideas and little things that they want to see happen. well, enough introduction. Let’s go to the excerpt.
      Excerpt of letter to my grandchildren
      Goofiness as part of a way of life was really important to me and to my relationship with my children. Now, goofiness takes lots of different forms: there’s many ways to be goofy. A closely related term is silly. It means having, as part of your way of life, something to counter the dead seriousness of our human condition, to make life fun and funny and not to take everything so seriously. And, for me, the idea of being silly as one of the ways you live in the world has always been an important way of expressing that need. I do take the world very seriously, I’ve devoted my career to social justice research and to mentoring my students and to being a loving and active father. That’s serious business. That’s taking the way of life as something important, and you have to devote attention to it. But there’s so much that’s hard in the world and difficult, and as you get older you get more aware of the difficulties, if you’re in our particular privilege condition where children can be shielded from some of the difficulties. So goofiness for me has always been a way of lightening things up. It doesn’t mean “don’t be so serious,” it means, “in addition to being serious, have a lighthearted view of life as well as a serious one.”
      So one way I express my goofiness is by telling goofy stories, but there were other ways. I think one that was sort of close to telling stories is that I would drive the kids to school through a wonderful little drive called the Edgewood Pleasure Drive, kind of a wooded drive on the way to Wingra School, and we would drive along this road which was canopied with trees, probably about a half a mile all together, and I would pretend that there were dinosaurs leaping out at us. I would drive at about 10-15 miles an hour and when a dinosaur would leap out, I would slam on the breaks, just abrupt stop, so everyone would jerk forward. I did it in a way that was safe–the kids were all buckled up–and clearly not at a pace that would cause neck problems or anything like that (at least I hope my judgment was good enough.) It would make the drive to school hilarious; I could get everyone in the car just completely cracked up with the fun of imagining there were dinosaurs leaping out at us. And it became very participatory, the kids would yell, “Oh, there’s a dinosaur!” and I would slam on the breaks.
      Or if we were having a dinner party, I would slip the lid of some pan under my shirt and take a wooden spoon and give myself a whack in the tummy and make a resounding noise and get the kids to just crack up. And I’d do that unexpectedly, it wouldn’t be part of a game, I could get myself set up and just whack. That was goofiness.
      But I would say that one of the most important goofinesses was telling stories. They would be fun to listen to, and as the kids got older, they’d become more participatory and hilarious because of their contribution to the goofiness. Well, people would often marvel at how well I tell stories–I don’t plan them out, I can just tell them–but the key to my way of telling stories that makes it easy to tell a funny story is to have a kind of gimmick, a basic idea about some device that generates the goofiness of the story. The story doesn’t actually go anywhere–there are almost no plots to any of my stories, things happen, but they’re just kind of random and the kids just throw in their own randomness–but if you’ve got a good gimmick, the stories just kind of tell themselves. So I had several of these. The earliest were stories that came to be known as the Josie and Jessica stories. And the basic gimmick was that these two kids were buddies, and that Josie could turn himself into any animal he wanted, but it would only last a half hour and then he would turn back to Josie; and he couldn’t turn himself into the same animal twice in a row, and if he did it too many times in a day, he would get stuck for 24 hours. Which would create problems. If you’re playing as a gorilla and you get stuck as a gorilla, and then you have to figure out how to live as a gorilla for a day. So they would have various adventures, always around getting stuck, that is where the adventure would start.
      When I had a good gimmick, I could basically tell a good story in my sleep. So we would be on a long road trip, I’d be driving and I could basically tell a good Josie and Jessica story, I didn’t have to plan it out. Or another gimmick was the search in the high sierras for the McMurtry Mine. Or our endless treks through the jungle on the Road to Mandalay, where Sam was always relegated to a donkey named Slow Poke and everybody else got to announce what animal they were riding. Sam was just enough older than the other kids that I could tease him, he would be the butt of jokes, and he would realize it was part of the fun. If you have a ten-year-old and a five-year-old and you’re telling a story to both of them, you can have the adventure be that they’re riding through a jungle and the little kids get to announce their animals and Sam would always be on Slow Poke; and Sam would take the tease and be fully part of the fun of it, just enough older to realize that this made the whole thing sillier and it wasn’t that he was relegated to some lesser role.
      Sometimes I would record these stories. The full set of Josie and Jessica stories and many of the Blizzard Epics and the search for the McMurtry Mines, they’re recorded and you can listen to them, and you can hear your moms yelling out things because I would say something would happen and Becky or Jenny would say, “No, no it didn’t happen like that.” Becky especially at a certain age had a very shrill voice when interrupting my stories. It would just be a kind of shriek. Well, we have recordings of this and you can transport yourself back 30 or 40 years, all of this recorded in the mid 1980s, so a long time ago, and you can see what it was like for me to tell these stories with participation from your moms. One set of these stories, the first set, I actually recorded when we lived with another family in Berkeley, in the early 1970s, the Zuckers. Now here’s a very sweet thing from that set of recorded stories: I recorded those stories, especially Josie and Jessica and the Gorilla. Jonathan Zucker, who was not born when these stories were recorded, he was born in 1974 and I told them to his sister in 1972. Well, Jonathan Zucker had a lot of trouble falling asleep when he was about 6, and his mom and dad thought my recorded story would help him sleep, and it did, it was kind of a magic bullet. He listened to that story, Josie and Jessica and the Gorilla, from around 6 til around 13, so for quite a long time, and he would fall asleep listening to the story. Then when he was a little older, 15 or 16, he became a counselor at a summer camp in Berkeley called Camp Kee Tov. And kids would be sitting around a campfire and Jonathan would tell this story, word for word, exactly how I told it, because he’d listened to it hundreds and hundreds of times, including one part in the recording where I sneezed–and when he got to that part in the story, he would sneeze as well. And to me this is this marvelous human phenomenon. Storytelling around the campfire goes back to ancient times, it’s the way religious stories and myths and parables started, it’s what’s called an oral tradition, not written down, you couldn’t put a sneeze in a written down story in the same way, but these stories affirmed the value and sometimes the goofiness of life. Jonathan Zucker would tell the story to the camp Kee Tov kids, and he would sneeze at exactly the place I sneezed twenty years earlier. To me that’s a wonderful and deep illustration of the continuity over time of what it means to be human and live together in community and transmit these cultural phenomenon.
      Now to really have a story, a child must of course have language. And language kicks in for children at different times; of course, children can understand things before they can speak, but to really tell a story I’d say a child has to be at least 3 years old, and then it really kicks off around four, four and a half, and that’s in my experience when a child really gets into the story itself. But I’ve been thinking about what gimmick I wanted for you. I didn’t just want to retell the Josie and Jessica stories to Vernon and Safira, and then Ida when she came along. And I had this basic idea of a world in which everyone is a witch, and they just don’t know it. And a witch in this world is someone who has a special power to realize this potential, something they’ve dreamed about.
      So here’s the first episode of Safira, Vernon, and Ida: the World’s First Tripulo.
      Now, you may not know it, but we live in a world where everybody, or at least almost everybody, turns out to be a witch. Now, what’s a witch? Witches aren’t bad things, they aren’t evil, they’re just ordinary people who have a special witchly power. They have some sort of power which they might not even know they have. Everyone has a special power, but they might not know they have it, they have to discover their special power. Well, this is how it happens: you have to, at some point, say out loud, “oh I wish I could do x” I wish I had the power to do this, to solve this problem, had this skill. Well, if you say this and it’s not your special power, nothing happens. If you want to be a great dancer and you’re in ballet class at age 10 and you’re stumbling about you can’t do anything and you say I wish I could be a great dancer and it’s not your witchly power, nothing happens. But if you happen to say—outloud or in your head—let’s say you’re having a music lesson and you’re stumbling on your violin over a difficult passage and you say, “I wish I could play the violin beautifully, like Itzhak Perlman” and that power happens to be your witchly power, suddenly you have it. Now it turns out that all of the great musicians of the world and all of the great architects and ballerinas and authors, they all had that as their witchly power and at some point longed for it and said it out loud in their heads. And that triggered getting over the hump and activating the power. They still had to put in the effort, to go from a person with witchly power be a fabulous musician to actually being a fabulous musician, but that’s how it started off. And that’s how witchly powers work for a singulo, a singulo is someone who has the power all on their own. So most people are singulos. And there can be powers that aren’t about being a world famous musician, a power could be being a fantastic breadmaker—someone loves making bread, they do it a lot, but it comes out kind of tough, and one day they said, “I wish I could make beautiful bread,” and suddenly you can make beautiful bread like a professional baker.
      Mostly the powers that singulos have are good, life-enhancing powers, but they can occasionally be dangerous. You could have a person who says, “god, I really wish I could see through walls,” and that turned out to be their singulo power. Well, that could be used for all sorts of nasty purposes. Or, “I wish I could be super strong and lift up cars.” Well, lifting up cars could be good if someone is trapped under one, but you also could do a lot of damage. But anyway, singulos have isolated individual powers.
      Duplos have an added complexity: you can only activate your power if you’re touching another duplo who has the same power and you say it at the same time. Well, how likely is that? You could have two duplos who both want to fly, but how likely is it that they’re going to bump into each other, be touching and at the same time say, “I wish we could fly.” So there are duplos, but very rarely do they discover their powers. And there has never been a tripulo, which would be three people who would get together and have the same tripulo power and say it out loud at the same time.
      Well, this is a story about three little witches. Fantastic people. Cousins and siblings. The eldest of these witches is a little girl named Safira. She was born in Australia, but comes back to the United States when she’s three and a half years old. A live wire, buzzing about in the world, filled with energy and good cheer and fun. She has a cousin named Vernon, five months younger. And then along two years later, two and a half years later, comes the baby of the three named Ida. They don’t live in the same town, but they live close enough that they see each other from time to time. Well, the story begins when Safira is about five years old or so and Vernon is four and a half and little Ida is two. One day, visiting in Philadelphia where Vernon lives, Safira and Vernon are playing in the big open living room space in that house. And Safira runs to Vernon and tackles him and they go tumbling to the floor and Safira yells out, “Oh, Vernon! Wouldn’t it be fun if we could fly?” and Vernon thinks, “Yeah, that would be really fun,” and they’re holding onto each other because Safira had tackled Vernon, and they suddenly lift off the floor together. Whoa. “Whoa, look what happened!” Safira says. They let go of each other, they’re at the ceiling of the house, and when you break the connection, the power disappears; you don’t get into free fall, it’s a gentle dissent and you can guide yourself down. So it’s not particularly dangerous, but you have to be holding onto each other, touching—you could be holding hands, holding feet, entangled in some way, but you have to have physical contact for the power to work. So Safira and Vernon are zooming around the house, learning how to do it: it’s a skill. They’ve got the power now, but they have to learn how to accelerate, how to avoid objects, how to move a foot for some directionality, and so forth. They go into the kitchen where their moms are making dinner, and their moms see their children on top of the ceiling and they say, “Whoa, whoa come on down.” They’ve never seen this before, they’ve never seen two kids zooming around in the air. So Vernon and Safira let go and drift down to the floor.
      Well, you can imagine the moms are pretty concerned. This looks like great fun, but what would happen if you were outside? Would you just go up and up? You could get lost. They had to understand what was going on. So they went down to the public library in Philadelphia to see if they had any information about people who could fly. And they did find in the corner of the library a little book that said if you wanted to learn about people with special powers you had to go to a library in Edinburgh. So Jenny and Becky went off. Adriano and Mark looked after the children in Philadelphia, and Jenny and Becky got on a plane and flew off to Edinburgh. And they found the book that gave all the information about singulos and duplos. There wasn’t much information on duplos, because they’re very rare, but they got the basic picture. They went back to Philadelphia and sat the kids down and said, “Look. It turns out that you are a very special kind of person called a duplo. You’re young. We don’t know how this is going to develop, but let’s just set some rules about this. First of all, if you’re going to do it, you have to tell us–just don’t go willy nilly flying off into the sky, let’s just take it slow and always tell us about it. Secondly, we’re a little concerned that if you’re holding hands and flying high in the sky you might let go without meaning to, and even though it’s not dangerous because you don’t go into free fall, you could get lost. So we’re going to design a set of garments in which you’re attached through the garment–so it’s by one foot maybe, sweaters or a pair of pants attached at the cuff, but you need to have these special garments if you’re going to fly, and let’s see if that works, if that’s enough of a connection to make sure your powers are activated; it’s just a little safer.” And they all had a very good discussion. The kids were excited, of course. It was tremendous fun. And then Jenny and Becky said, “The last thing is, we want to go to a safe place where we can practice these skills, where we can really see how these develop and you can figure out how to do it.”
      Well, time went on, they were five and then they turned six and then they turned seven. And all this time, Ida would tag along but without any special power, she wasn’t part of the game. And one day when they were outside at a state park, little Ida came up and said, “Do I have any special powers? You have so much fun, and I get to watch and tag along, but can I play too?” And it occurred to Safira and Vernon that, well, they had never tested it out. They hadn’t held on to Ida and said, “Okay, Ida, say outloud, ‘I wish I could fly,’ and we’ll all say it together, maybe she has the same special power.” So, they didn’t tell their moms and dads that they were going to try this out. They were in a big field. They were wearing a garment where they were attached at the ankles, loose and comfortable, didn’t interfere with the fun. They got together, all touching, and Ida said, “Oh, I wish I could fly.” And Vernon and Safira said the same thing, “we love that we can fly and wish that Ida could fly with us.” And they shot up into the sky like they were rockets. They were turbocharged. They were like airplanes, they could zoom incredibly fast. Vernon and Safira could control their own powers enough as duplos that they immediately put the breaks on. But there they were: the world’s first tripulo. Flying around in the sky together was exhilarating. But Ida had no skill yet, she didn’t know the rules, and at one point she just let go.
      Now remember, letting go isn’t dangerous, but in this case it just turned off Ida’s power without turning off Safira and Vernon’s, because they were still attached to each other. Vernon and Safira could still fly and guide their flight; all that Ida could do was just drift down without any power, like a glider would. Safira and Vernon chased after her, now with diminished power. They wanted to rescue her, but it was a windy day and they lost track of her at one point. Ida drifted down to the side of a kind of cliff, they were in a sort of hilly area, where there was a big tree protruding from the cliff, in which there was a large eagle’s nest. And she landed, kerplunk, in the eagles’ nest which happened to have three large baby eagles in it. Well, the mama eagle soon arrived and saw this strange bird in her nest. Now you might think the mama eagle would get upset about this and might be aggressive, but no, she was a very sweet mama eagle, bringing back bits of meat for her babies, and she thought, as a gracious host, that she’d feed the new odd eagle with no feathers first. And she tried to stuff this raw meat down Ida’s throat, which Ida really didn’t like. So Ida was fussing with this eagle—“Get away from me, stop doing that, no, yuck, I don’t want that, ugh”—and finally Vernon and Safira, flying around looking for Ida, spotted her in the eagles nest and they swooped down and rescued her, and continued on their way. They held on to Ida they told Ida, “You can’t let go of us.” They were going down to the field, next to Lake Michigan where their parents were waiting. “Just stay calm, hold onto us, and we’ll make this dissent without any further problems.” So they swooped down and ended up back with their moms and dads.
      It was a very warm summer day and all the sharks of Lake Michigan were gathered in a big party. This was shark day in Lake Michigan, and it turned out they were gathered right next to where Becky and Jenny and Adriano and Mark were waiting for the threesome to come back. So the threesome lands, and Jenny and Becky especially were very relieved. They were kind of excited to learn that Ida had the same powers that her cousin and sibling have, so that they can be a tripulo, and thought of all the fun things they can do together. Well Ida, when they landed, they were hot, and immediately she jumped into Lake Michigan for a swim, not realizing the lake was full of sharks at that point and the sharks happened to be gathered right where they were. She was a pretty good swimmer for a five-year-old and suddenly she bumped into a shark. These weren’t aggressive sharks, they weren’t particularly dangerous, but they started playing and flapping around and bumping into each other, and nobody on land knew they were friendly sharks. So Vernon and Safira said, “We’ve got to get Ida out of there,” and they said “To the rescue!” and they jumped into the water as well to rescue Ida from the sharks that she was playing with.
      They were in the water, a bit away from shore, and they grabbed Ida, but Ida didn’t want to go out. And Ida said to herself, “Wouldn’t it be great if I could swim like the sharks.” And it just so happened that Vernon and Safira were kind of thinking the same thing, “Wouldn’t it be great if we could swim like sharks.” They were all holding onto each other and they said it at the same time and whammo! They could swim like sharks. My god, they could swim way better than sharks. They just discovered that their special power was not specifically flying, their special power was that they could do in a supercharged way any form of mobility. They could run like a rabbit. They could hop like kangaroos, they could swim like sharks, they could fly like eagles. They had the super power of mobility. Fancy, exciting mobility. And this opened up a world of play and adventure that would keep them having adventures for years and years to come.
      And that’s the end of the first episode.
      You can see how that’s a story generating machine. There’ll be different occasions for different problems to arise. The foundation is laid. So I won’t be there on a road trip or around a camp fire or at the cottage to pursue this, but maybe the template will survive and other stories will get generated by it.
      ***
      So that’s the excerpt.

sábado, 25 de janeiro de 2020

  • Apoie o Colunas Tortas!
  • Biblioteca
  • Marxismo e Karl Marx: história, biografia e conceitos

    Por Vinicius Siqueira.

    Índice

    1. Marxismo em gestação
    2. Os desenvolvimentos de Marx
    3. A organização política de Marx
    4. O princípio materialista
    5. Ideologia
    6. De volta à organização política
    7. Marx e O Capital
      1. A teoria do valor
      2. O dinheiro
      3. Mais-Valia
    8. E-book Análise do Discurso: Conceitos Fundamentais de Michel Pêcheux
    9. 17 artigos sobre marxismo
    10. Marxismo: curso livre da Editora Boitempo
    11. Referências

    O Marxismo: a teoria de Karl Marx [a]

    Marx fundou uma nova ciência: a ciência da história. Vou ilustrar isso. As ciências com as quais somos familiares têm seus alicerces em alguns “continentes”. Antes de Marx, dois desses continentes haviam sido abertos ao conhecimento científico: o continente da matemática e o continente da física. O primeiro pelos gregos (Tales), o segundo por Galileu. Marx abriu um terceiro continente ao conhecimento científico: o continente da história.
    [Louis Althusser, A Filosofia Como Uma Arma Revolucionária]
    Karl Marx nasceu em uma família de rabinos em 1818 na cidade de Tréveris, na Alemanha. Naquele momento, judeus não podiam exercer uma série de profissões, assim, seu pai se viu forçado a se converter ao luteranismo para advogar formalmente. Quando jovem, frequentava o Ginásio de Trèves, terminando o curso de língua alemã com uma curiosa dissertação[1].
    Duas ideias foram desenvolvidas na dissertação, que deveria ter como tema “reflexões de um jovem a propósito da escolha de uma profissão”, e acompanharam Marx pelo restante de sua vida e no desenvolvimento daquilo que viria a ser o marxismo: 1) o homem feliz é aquele que faz os outros homens felizes, sendo assim, a melhor profissão é aquela “que proporciona ao homem a oportunidade de trabalhar pela felicidade do maior número de pessoas, isto é, pela humanidade”[2]; 2) na vida, há obstáculos que impedem as pessoas de viverem a vida com total controle sobre seus destinos.
    Podemos entender os dois movimentos básicos das ideias acima desenvolvidas: um movimento de expansão, de solidariedade, que coloca no homem feliz a necessidade de participar da vida em sociedade o máximo possível; e um movimento de contração, de limite, pois o homem não pode ser feliz com tanta simplicidade, já que há partes da vida das pessoas que se desenvolvem sem seu controle, com obstáculos e dificuldades que aparecem sem sua vontade.
    Em 1835, decidiu cursar direito na Universidade de Bonn e de 1838 a 1840 trabalhou em sua tese de doutorado, tendo em vista a possibilidade de se tornar professor, a terminou e entregou à Universidade de Jena. Porém, obedecendo a segunda ideia desenvolvida em Trèves, Marx não conseguiu seu posto universitário: na época, os associados ao grupo dos Hegelianos de Esquerda foram perseguidos por Frederico Guilherme IV da Prússia. Bruno Bauer, hegeliano de esquerda e amigo de Karl Marx, foi proibido de continuar lecionando em Bonn, Ludwig Feuerbach foi retirado de sua cadeira universitário e, mais tarde, impedido novamente de lecionar, por sua vez, Marx não conseguiu nenhum cargo de professor e se viu direcionado à vida do jornalismo[3][4].

    Marxismo em gestação: Karl Marx como jornalista

    Em 1842, Karl Marx era noivo e desempregado. Sem dinheiro para sustentar uma família e sem perspectiva de exprimir suas ideias numa cátedra universitária, Marx decidiu publicar suas ideias como jornalista. Seu amigo Arnold Ruge era editor da revista Anais Alemães e aceitou o primeiro artigo de Marx que foi imediatamente censurado. Ironicamente, o texto era de tom contrário à censura.
    Karl Marx também escreveu para a Gazeta Renana, de Colônia, na Prússia, e voltou a discutir a liberdade de imprensa, mas sob termos que guardavam o germe do marxismo em gestação. Segundo Marx, “a liberdade número um para a imprensa consiste em não ser ela uma indústria”[5]. Enquanto alguns deputados liberais da região do Reno haviam feito oposição ao fortalecimento da censura, não admitiam a possibilidade de eliminar sua atuação enquanto indústria. Para Marx, o que retira da imprensa a capacidade de informar com objetividade e criticar com independência é justamente o fato dela ter de ser comercializada. É o comércio da imprensa que a torna ilusória, mentirosa e covarde.
    Por isso, Marx escreveu que aqueles deputados liberais, que haviam defendido a liberdade de imprensa como “uma liberdade comercial qualquer”, tinham acabado por defender a liberdade de imprensa tal como a corda “defende” o pescoço do enforcado.[6]
    Ou seja, quando inserida no comércio de informações, a imprensa se vê refém da demanda e de seus patrocinadores e influenciadores. Ela fica presa numa rede de relações necessárias a sua existência no mercado capitalista, porém, essa existência retira a chance de produzir uma crítica independente e informar com objetividade qualquer tipo de notícia. A permanência da imprensa no mercado tem como exigência a crítica e a objetividade dependentes da esfera econômica e suas leis e influências.
    Em outubro de 1843, Karl Marx se mudou para Paris, onde planejou com Ruge a abertura de uma nova publicação, os Anais Franco-Alemães, e escreveu uma Introdução à crítica da filosofia do direito de Hegel,
    na qual mostrava que as considerações teóricas de Hegel sobre o direito eram inócuas, porque não indicavam os meios práticos, materiais e sociais capazes de levar à efetiva superação dos problemas humanos que elas abordavam.[7]
    Para Marx, o poder que se realiza através da matéria só pode ser vencido por um outro poder que também se realiza na matéria e a teoria se transforma em força material justamente quando se apodera das massas[8] e são somente as massas proletárias capazes de promover uma mudança da ordem social, econômica e jurídica.
    A filosofia pôs a nu a desumanidade do mundo presente. Feuerbach mostrou que a religião é uma solução ilusória, uma alienação. No entanto, a filosofia se mostrou impotente para, por si mesma, superar a desumanidade e acabar com a alienação. Marx chegou à conclusão de que a filosofia precisava dispor de uma arma material capaz de fazer prevalecer, prática e socialmente, o ideal de humanismo.[9]
    A arma, nas condições da sociedade atual, diz Marx, é o proletariado.
    A primeira e única edição dos Anais Franco-Alemães foi lançado em 1844 e foi logo suspensa devido as dificuldades com a sua difusão clandestina na Alemanha e de divergências de Marx com Ruge[10]. A edição contava com a Introdução à crítica da filosofia do direito de Hegel e também seu trabalho Sobre a questão judaica. O mote deste foi o artigo de Bruno Bauer sobre a questão judaica, em que o autor reclama do egoísmo judaico em reivindicar somente a liberdade religiosa com vistas na prática do judaísmo tradicional. Como judeus são homens, parte da humanidade, não deveriam se limitar à busca pela sua liberdade religiosa, mas deveriam lutar pela libertação política do gênero humano.
    Essa libertação política deve ser entendida como uma libertação através da criação de leis. De uma libertação que depende das leis estabelecidas para a sociedade. Marx, por seu turno, se interessou pela crítica, mas a achou ainda rasa. A libertação política não pode ser confundida com a emancipação humana, já que esta só será alcançada com a mudança das leis, mas também com a transformação do sistema social de produção e distribuição de riquezas. A liberdade política, portanto, depende da liberdade econômica, o que já poderia ser visto em suas críticas à forma de mercadoria que a imprensa adquire quando comercializada.
    “O ser humano só será verdadeira livre quando todos os homens puderem desenvolver uma atividade criadora que não esteja sujeita às pressões deformadoras da propriedade privada e do dinheiro”[11], assinala Konder, explicando o pensando de Marx. Aqui, ele já carregava o interesse pela economia que será marca do marxismo.
    Judaísmo e cristianismo são religiões impotentes em combater a exploração do homem pelo homem e ambas são frutos da sociedade dividida em classes. São, em geral, o grito de desespero contra uma sociedade insatisfatória que é dada aos homens. Entretanto, são impotentes na hora de guiar os homens na luta pela superação das instituições baseadas na propriedade privada. “Por isso, as religiões funcionam como o ópio do povo, pregando o conformismo e a resignação”[12].
    As religiões funcionam como o ópio do povo, entretanto não são o ópio do povo, isso porque a religião pertence a um período histórico e tem uma função que a sociedade da época acaba lhe reservando. As religiões vigentes no bojo do capitalismo funcionam como o ópio do povo porque retiram o poder de rebeldia das massas lhes dando esperanças de um mundo melhor no pós-vida, no entanto, a ilusão que a religião impõe aos homens reflete as condições do próprio mundo que tornou essas ilusões necessárias. Acabar com o ópio do povo envolve acabar com as condições que tornaram necessário o funcionamento da religião como agente de conformidade das massas.
    Enquanto Bruno Bauer acreditava que a superação de todas religiões seria atingida com leis que tornassem todos os homens iguais e garantissem a liberdade política dos cidadãos, Marx assumia a necessidade de atingir a estrutura social e econômica da sociedade.

    Os desenvolvimento de Marx e a teoria marxista na economia

    A filosofia alemã foi o início dos estudos de Karl Marx, que passou para a economia política inglesa. Marx decidiu analisar minuciosamente o sistema capitalista crescente no país. Para isso, anotou suas ideias em folhas soltas que mais tarde seriam publicadas sob o nome de Manuscritos econômico-filosóficos de 1844. Nesses manuscritos, Marx deu desenvolvimento a sua teoria da alienação, parte integrante da teoria marxista presente na juventude do filósofo.
    Segundo Marx, apesar de também trabalharem e produzirem, os animais não humanos só o fazem para atender necessidades imediatas , “os animais nunca podem ser livres ao trabalhar, pois a atividade deles é determinada unicamente pelo instinto ou pela experiência limitada que podem ter”[13]. Os homens podem planejar, podem projetar aquilo que querem fazer e, a partir disso, conceber caminhos diferentes para sua realização. Podem escolher livremente o caminho que melhor lhes aprouver e segui-lo.
    É o livre desenvolvimento do trabalho criativo que parece, para o Marx da primeira metade da década de 1840, ser a chave à emancipação humana, mas o filósofo percebe que o trabalho humano assume formas desumanas: os trabalhadores que produzem bens necessários à vida não se realizam em suas atividades. Na indústria moderna do capitalismo, o trabalho é odiado pelos trabalhadores, que o encaram como uma atividade imposta, imbecilizante e opressora.
    O capitalista é dono dos meios de produção e os trabalhadores nada possuem, a não ser sua própria força de trabalho, que se torna mercadoria comprada por um salário. Para trabalhar (e ter um sustento), o trabalhadores se veem forçados a vender sua força de trabalho ao capitalista. Evidentemente, essa venda se dá num contexto vantajoso para o capitalismo e desvantajoso para o trabalhador, que tem muito mais urgência em garantir o sustento que o capitalista em encontrar um funcionário para dar lucro a sua empresa.
    Marx chamou de alienação do trabalho precisamente esse fenômeno pelo qual o trabalhador, desenvolvendo a sua atividade criadora em condições que lhe são impostas pela divisão da sociedade de classes, é sacrificado ao produto do trabalho. Para Marx, os regimes baseados na propriedade privada dos meios de produção – sobretudo o capitalismo – tendem a transformar o homem num mero meio para a produção da riqueza particular (simbolizada pelo dinheiro).[14]
    O produto não é mais criado livremente pelo produtor, que está preso numa inversão: ele que depende das exigências do produto, representado pelo mercado capitalista em que será vendido.
    A divisão da sociedade em classes também distancia o capitalista da experiência cotidiana do trabalho produtivo, impedindo que reconheça as potencialidades criadoras do ser humano. A alienação afeta os indivíduos da classe dominante em sua maneira de pensar, de ser e de compreender o mundo e como são a classe que domina um dado período histórico, utilizam-se de instituições e símbolos para tornar universal sua visão particular. Essa visão, sem dúvida, serve para justificar a ordem social que lhes é vantajosa. Mas a própria criação dos capitalistas, as instituições e símbolos que garantem uma certa justificativa para o mundo em que vivem, também adquire um caráter estranho, certa vida própria através da alienação desenvolvida entre ela e o capitalista.
    Para ter um exemplo dessa alienação dos capitalistas basta pensar no mercado capitalista. Os capitalistas criaram o mercado para a venda de seus produtos. Como, porém, estão divididos e competem uns contra os outros, os capitalistas jamais conseguem controlar o mercado em conjunto: este fica sujeito a movimentos surpreendentes e desequilibrados, capazes de levar qualquer capitalista individual à falência.[15]
    Por isso o mercado é tratado como uma entidade produzida sem qualquer intenção humana. Como uma realidade já posta que o capitalista precisa viver sempre pressupondo sua eterna existência.

    A organização política de Marx

    Os Manuscritos Econômico-Filosóficos de 1844 foram a última amostra do pensamento de Marx sem a presença de seu companheiro de vida Friedrich Engels. Depois que este iniciou suas contribuições para a Gazeta Renana, em 1842 se encontrou com Marx em Colônia, mas somente em 1844, em Paris, estreitaram os laços de amizade e de trajetória intelectual.
    Em sua vida na França, Marx foi convidado para entrar em diversas associações comunistas, mas sempre de caráter intempestivo e conspiratório. Para Marx, era necessário organizar a classe trabalhadora e unir os revolucionários em torno de posições justas para os interesses da classe. Com a morte dos socialistas utópicos de maior prestígio, como Saint Simon em 1825 e Charles Fourier em 1837, seus discípulos continuaram trabalhando em suas posições, porém todos fora do campo de entendimento que Marx gostaria de dialogar. Enquanto os primeiros era demasiadamente apóstolos de seu mestre, os segundos estavam preocupados demais com a organização dos falanstérios e com questões irrelevantes do ponto de vista político e econômico.
    Por sua vez, na ativa do movimento operário, Louis Blanc liderava um grupo que não queria se incompatibilizar definitivamente com a burguesia. Para ele, mudanças graduais, através da participação da política institucional, seriam possíveis com habilidade do proletariado e, assim, conseguiriam convencer a classe dominante a aceitar uma ordem social mais humana.
    Mikhail Bakunin, anarquista russo, transitava por posições ora confusas, ora variáveis que não podiam ser sintetizadas em um programa coerente. Ainda no campo anarquista, Joseph Proudhon era adepto de reformas econômicas “racionais”, pacíficas, além de ser hostil às agitações comunistas e não ter participação regular em atividades políticas. Por fim, Etienne Cabet tinha aderido ao comunismo após a leitura da Utopia, de Thomas Morus, o que, segundo Marx, era uma atitude ingênua.
    Karl Marx não conseguia estabelecer com nenhum deles um diálogo frutífero e viu em Engels o único parceiro revolucionário disposto a esta empresa. Já em 1844, escreveram em parceria A Sagrada Família, direcionando críticas a Bruno Bauer, que depois de ser impedido de lecionar em Bonn, construiu um grupo de seguidores em torno da revista Gazeta Literária Geral, onde ridicularizava os esforços revolucionários da época e professava aversão às massas.

    O princípio materialista no marxismo

    Como Karl Marx viveu num clima de profundo respeito e estudo da obra de Friedrich Hegel, seu pensamento precisava passar pelo idealista de um jeito ou de outro. Para Hegel, em oposição à metafísica vigente, o movimento é central na vida e ele carrega em seu bojo a contradição.
    Os filósofos metafísicos procuravam primeiro analisar cada ser e cada coisa, separadamente, para depois tratar de levar em conta as relações entre os seres, entre as coisas. Hegel, todavia, com seu método dialético, ensinou que os seres e as coisas existem em permanente mudança, entrosados um com os outros, e que só é possível entendê-los se desde o início forem devidamente consideradas as suas ligações recíprocas.[16]
    Para Bruno Bauer e seus apoiadores, Marx havia considerado a classe trabalhadora como a classe dos deuses, ao atribuir-lhe um papel, para eles, messiânico. Marx, utilizando a dialética como frente de suas análises, entendia que a classe trabalhadora não deveria ser vista isoladamente, mas em suas relações recíprocas com a classe capitalista. Apesar de suas debilidades momentâneas, era essa a classe em posição de iniciar uma grande transformação social, devido a sua posição na sociedade capitalista.
    Além de defender sua posição, Marx também atacou Bruno Bauer e seus colaboradores. Para Marx, Bauer não conseguiu se desvencilhar do ponto já superado da filosofia hegeliana, que é seu aspecto especulativo, que lhe faz ser idealista. Por serem filósofos de gabinete, não entendiam as consequências práticas do método dialético.
    O aspecto idealista também pode ser visto na visão de Bauer sobre a humanidade: para o autor, a evolução da humanidade é projeto acabado e projetado na consciência divina. Sendo um plano racionalmente perfeito, a história passaria a ser somente uma forma de demonstrar sua indefectibilidade. Ele achava que, numa postura contemplativa, se encontrasse o plano perfeito de Deus e o informasse às elites, o mundo entraria em harmonia. No exato oposto de sua conclusão, Marx rebatia: um conjunto de ideias não pode superar um estado de coisas, no máximo, pode superar as ideias desse estado de coisas. Para uma superação a nível material, é necessário que os homens ajam.
    Novamente, por ser um funcionário de escritório, um filósofo de gabinete, Bauer considerava que a única atividade humana criadora e realmente produtiva era o pensamento, mas Marx acreditava que o pensamento precisava da prática, de um uso social para provar sua eficácia (necessidade explícita nas Teses contra Feuerbach, lançadas em 1845).
    Enquanto o idealismo tem como proposta a mudança do mundo através da transformação interior dos espíritos das elites, a linha filosófica materialista sempre indicou que há circunstâncias externas aos indivíduos que delimitam seu campo de ação, sendo necessário transformar as circunstâncias para sonhar com um mundo diferente.
    Já em Bruxelas, para onde se mudou após ser expulso de Paris em 1845 devido a pressão do incomodado Frederico Guilherme IV, Marx continuou seus desenvolvimentos acerca do materialismo. Ele considerava que os materialistas de até então não haviam compreendido o processo do conhecimento. O homem, na teoria materialista da época, era descrito como uma máquina pronta para registrar todas as impressões externas. Como entendiam que o ser humano era primeiramente um ser biológico, não um ser social, concebiam a formação da consciência numa dinâmica mecânica, “na qual os indivíduos apareciam como meros produtos do meio[17].
    Marx inseriu um componente ativo na visão materialista: as circunstâncias externas formam o homem assim como o homem as transforma. Ele não é passivo neste processo, mas sim intervém ativamente na realidade. Desta forma, o componente prático não pode ser descartado na descrição do processo de conhecimento do homem, pois este curso envolve 1) a transformação do mundo pelo homem e 2) a transformação homem por ele mesmo. Interpretar o mundo é uma tarefa anterior ao trabalho mais importante de modificá-lo.
    Se a modificação do mundo é tarefa de primeira importância, sendo possível na concepção do processo do conhecimento elaborada por Marx, ele não ficava satisfeito, enquanto comunista, com teorias que não tivessem ligação com a prática. Os comunistas modernos não podiam 1) admitir teorias sem prática declarada e 2) assumir uma postura passiva, sem qualquer autonomia ao pensamento, considerando que ele se desenvolve unicamente como produto das condições exteriores.

    Ideologia em Marx

    Marx iniciou a construção de um materialismo prático através da crítica à ideologia, que resultou no livro A Ideologia Alemã, redigido em 1846. A ideologia é constituída de todas as formas de representar a vida que os indivíduos assumem num dado momento histórico. Eles planejam como viver a vida, como encará-la, têm objetivos e esperanças perante a própria existência e perante a sociedade.
    Para Engels e Marx, entender a ideologia envolve um exercício antropológico de entender o que ocorreu nos primeiros momentos da humanidade: segundo os autores, o homem primitivo vivia pelos seus instintos e necessidades imediatas, portanto, seus movimentos eram guiados segundo as demandas da natureza. Entretanto, o homem passou a construir suas ferramentas e modificar a natureza, passou a produzir seus meios de subsistência e, portanto, criou uma economia produtora. O desenvolvimento do trabalho produtivo não foi somente positivo, pois a sua hegemonia na sociedade humana também foi causa da escravidão: um homem só pode ficar ocioso para mandar em homens escravos numa economia de produção acima das necessidades imediatas. Ainda mais, sem o desenvolvimento dos meios de produção, nem mesmo compensava manter um escravo, que produzia menos que os gastos para mantê-lo vivo (como comida, moradia e vestuário). Foi este desenvolvimento específico que a escravidão passou a valer à pena e, assim, a exploração do trabalho escravo gerou “a primeira forma de divisão social do trabalho e a primeira forma de propriedade privada de uma fonte de produção”[18].
    A divisão social do trabalho e o nascimento da propriedade privada dos meios de produção gerou um corte na sociedade humana. Era impossível nascer qualquer ponto de vista universal, comum e espontâneo, porque a divisão da sociedade entre os que dominam e os que são dominados gerou uma situação de conveniência da parte dos dominantes de modo que passaram a acreditar que seu ponto de vista particular era a expressão natural e conveniente a todos os homens. O particular foi colocado como universal.
    De outra forma,
    As idéias da classe dominante são, em cada época, as idéias dominantes. Ou, dito em outros termos, a classe que exerce o poder material dominante na sociedade é, ao mesmo tempo, o seu poder espiritual dominante.[19]
    A classe dominante utiliza os aparelhos de Estado para inculcar nos dominados a justificativa de sua própria exploração e prejudicar qualquer ação possível de resistência.

    De volta à organização política

    Em 46, Karl Marx foi até Bruxelas para participar de uma reunião promovida por uma organização comunista fundada por Wilhelm Weitling. Este era líder revolucionário de prestígio e acreditava que com um exército de trabalhadores e marginais conseguiria impor seu programa revolucionário. Marx, por sua vez, fez fortes críticas ao autor, ressaltando que era tolice acreditar em revolução socialista em países que nem mesmo havia acontecido uma revolução burguesa, que era irresponsável clamar por trabalhadores para ações revolucionárias ingênuas. Não obstante, ainda exigiu de Weitling um programa revolucionário baseado na ciência para depois oferecê-lo aos trabalhadores.
    No mesmo ano, Marx recebeu o livro de Pierre-Joseph Proudhon chamado A filosofia da miséria. Respondeu esta publicação com seu A miséria da filosofia. Nele, provoca Proudhon e o coloca como hegeliano farsante, na medida em que só usa seu vocabulário, mas não consegue aplicar sua dialética. Sua ideia levava a ciência social a um status de buscadora do lado bom das instituições. Depois desta etapa, seria responsabilidade dela a incorporação do lado bom encontrado nas pesquisas aos estágios mais avançados da sociedade.
    Segundo Marx, Proudon tinha a mentalidade típica de um pequeno burguês. Um amor à contradição: quanto mais a classe capitalista o proletariza, mais ele repele a ideologia proletária; quanto mais longe está do status de um capitalista, mais tem esperança de um dia chegar lá.
    Proudhon, por exemplo, considerava a greve uma ação criminosa, enquanto Marx a considerava, muitas vezes, como a única ferramenta que o capitalismo possibilita aos trabalhadores. É o próprio sistema capitalista que também aglomera e dá a chance aos trabalhadores de se reconhecerem enquanto classe.
    Dois anos depois, Marx e Engels compareceram ao 2º Congresso da Liga dos Comunistas e ficaram encarregados de escrever um manifesto comunista. Lenin salienta que
    Esta obra expõe, com uma clareza e um vigor geniais, a nova concepção do mundo, o materialismo conseqüente aplicado também ao domínio da vida social, a dialética como a doutrina mais vasta e mais profunda do desenvolvimento, a teoria da luta de classes e do papel revolucionário histórico universal do proletariado, criador de uma sociedade nova, a sociedade comunista.[20]
    O manifesto comunista, obra de 1848, tem início numa síntese do desenvolvimento social da humanidade. Para Marx e Engels, a história de todas as sociedades após o surgimento da propriedade privada é a história da luta de classes. “A própria burguesia só tinha conseguido tomar o poder e implantar o capitalismo por meio de uma dura luta contra as instituições feudais”, afirma Konder[21].
    Ainda mais, em busca de novos mercados, o capitalismo invadiu todo globo terrestre e desenvolveu a tecnologia brilhantemente. Entretanto, a contradição não pode ser deixada de lado: sempre que uma classe passa a ser dominante, quando consegue tomar o poder, organiza a sociedade a seu modo e se torna a classe proprietária. A burguesia entra em oposição ao proletariado por ser uma classe proprietária (dos meios de produção) enquanto o proletário não é proprietário de nada, somente de sua força de trabalho que precisa vender para conseguir um salário. O objetivo do proletariado é tomar o poder para implantar um tipo de organização social que torna a propriedade um bem coletivo, social.
    Continuando o ano de 1848, Marx e Engels publicaram a primeira edição da Nova Gazeta Renana, em Colônia. Como o movimento operário estava fraco naquela região, Marx considerava importante manter diálogo com democratas burgueses e se colocar como frente de esquerda dentro da liberal-democracia. Logo foi recebido com críticas por André Gottschalk, médico e líder da oposição a Marx. Para ele, o proletariado deveria de imediato implantar o comunismo e Gottschalk também era contra a participação da classe nas eleições. Marx, em seguida, criticou seu oportunismo falsamente radical.
    Em 1849, Marx foi para Londres e também travou discussões com o revolucionário August Willich, que acreditava não nas condições históricas para a revolução proletária, mas sim na disposição dos trabalhadores para o embate. Um tipo de posição voluntarista que atrasa a estratégia da luta dos trabalhadores.
    Com um salto de onze anos, em 1860, a briga de Marx foi com Karl Vogt, já num patamar filosófico e epistemológico, não tanto organizacional. Vogt era um materialista vulgar que acreditava que as ideias eram produzidas pelo cérebro como órgão biológico, mas não enxergava uma dinâmica qualitativamente diferente na produção da bílis pelo fígado e das ideias pelo cérebro. Não levava em consideração, portanto, o processo social da produção das ideias e, assim, ignorava que a classe dominante detém as ideias dominantes numa dada sociedade.
    Na parte política, Vogt dificultava as ações revolucionárias na Suíça, país em que morava.
    Ultrapassadas as primeiras barreiras, em 1864 a Associação Internacional dos Trabalhadores foi fundada. A então Primeira Internacional exigia alguns princípios dos trabalhadores organizados sob seu suporte: 1) a emancipação trabalhadora deverá vir deles próprios; 2) a libertação dos trabalhadores é a libertação de todas as classes; 3) a luta política deve servir como parte da emancipação econômica da classe trabalhadora; e, por fim, 4) a libertação do proletariado deve ocorrer através da união teórica e prática dos trabalhadores de diferentes países.
    A Internacional começou suas atividades contrapondo as investidas de Napoleão III contra a classe trabalhadora e contribuindo na organização de greves pela Europa.

    Marx e O Capital

    Então, em 1867, Marx publica o primeiro volume d’O Capital.

    A teoria do valor

    No início da obra máxima de Marx é feita uma importante distinção: o valor de uso e o valor de troca.
    1. O valor de uso: que está no valor dado pelo usuário das coisas, é o valor que reside na utilidade das coisas[22].
    2. O valor de troca: que, ao contrário do valor de uso que é subjetivo, se trata de um valor objetivo e reside na relação social de troca, na venda e na compra de coisas[23].
    Nas palavras de Lenin,
    A mercadoria é, em primeiro lugar, uma coisa que satisfaz uma qualquer necessidade do homem; em segundo lugar, é uma coisa que se pode trocar por outra. A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso. O valor de troca (ou simplesmente o valor) é, em primeiro lugar, a relação, a proporção na troca de um certo número de valores de uso de uma espécie contra um certo número de valores de uso de outra espécie.[24]
    As diferentes mercadorias precisam de algo em comum para serem trocadas: todas elas são produtos do trabalho humano.
    Para Marx, o fato dos economistas burgueses confundirem e utilizarem conjuntamente os dois tipos de valor os levou a se afastarem da realidade. A explicação marxista do valor ao longo d’O Capital é predominantemente uma análise de valores de troca. Sendo assim, quanto mais trabalho humano aplicado na fabricação de uma mercadoria, mais valor de troca ela terá. Sendo maior o valor de troca, maior o valor da mercadoria em relação às outras mercadorias dentro do mercado.
    No entanto, este valor de troca baseado no trabalho inserido em todos os momentos de fabricação e modificação do produto até se tornar mercadoria não é calculado pela quantidade pontual de trabalho inserida por um operário particular, mas sim pelo trabalho socialmente necessário para a fabricação do produto, portanto, pelo trabalho necessário por um trabalhador médio com condições médias de exercer o trabalho necessário para uma dada aplicação. O trabalho não é calculável, mas o tempo de trabalho sim, ele é contável e tem relação direta com as condições de trabalho, sendo assim, o valor da mercadoria é calculado a partir do tempo socialmente necessário de trabalho para sua fabricação.
    Cada mercadoria considerada isoladamente não representa portanto senão uma certa parte do tempo de trabalho socialmente necessário. A grandeza do valor é determinada pela quantidade de trabalho socialmente necessário ou pelo tempo de trabalho socialmente necessário para a produção de determinada mercadoria, de determinado valor de uso.[25]
    No entanto, vale dizer que o mercado não se comporta assim em qualquer situação. As obras de arte não valem no mercado conforme o tempo socialmente necessário para sua fabricação. Essa lei geral não é aplicável em qualquer situação.

    O dinheiro

    A troca só é possível com excedente econômico, com uma produção maior do que o necessário para o consumo. Konder explica que o excedente comercializado, trocado, não fazia da troca uma atividade principal na vida das sociedades humanas[26]. Entretanto, conforme a atividade de troca se tornou regular, a produção passou a atender o excedente e, entre o valor de uso, a utilidade; e o valor de troca, ou seja, a produção visando a própria troca, este último ganhou predominância.
    O dinheiro apareceu como uma mercadoria que tem como valor de uso a possibilidade de ser usada para a troca de outras mercadorias. Se, de início, o dinheiro somente era usado para a troca de mercadorias, após o século XVI ele passou a ser cada vez mais utilizado como capital. E qual a diferença entre dinheiro e capital? Sua forma de circulação: o capital é uma relação social que envolve sua multiplicação. O capitalista não vende uma mercadoria para ter dinheiro e comprar outra, mas sim compra uma mercadoria (a força de trabalho e todos os equipamentos necessário para a fabricação) com objetivo de vendê-la (em forma de outra mercadoria) e conseguir mais dinheiro nesta transação.

    Mais-Valia

    O dinheiro não se multiplica por mágica, mas sim através de uma sobra de valor na circulação das mercadorias. Diz Lenin,
    Num certo grau do desenvolvimento da produção de mercadorias, o dinheiro transforma-se em capital. A fórmula da circulação de mercadorias era: M (mercadoria) – D (dinheiro) – M (mercadoria), isto é, venda de uma mercadoria para a compra de outra. Pelo contrário, a fórmula geral do capital é: D – M – D, isto é, compra para a venda (com lucro). E a este “acréscimo” do valor primitivo do dinheiro posto em circulação que Marx chama mais-valia. Este acréscimo do dinheiro da circulação capitalista é um fato conhecido por todos. E precisamente este “acréscimo” que transforma o dinheiro em capital, ou seja, numa relação social de produção historicamente determinada.[27]
    O século XVII acontece o que é chamado de Revolução Comercial, em que a acumulação de dinheiro se deu ainda na coexistência de uma burguesia e do sistema feudal. Depois desta acumulação originária de capital foi possível substituir de vez o sistema feudal pelo novo sistema capitalista e, neste novo sistema, o trabalhador já não está mais preso em nenhum local fixo de trabalho, portanto, pode livremente procurar emprego e vender sua força de trabalho. Essa liberdade, vai dizer Konder, é enganosa,
    Por não controlarem como classe o poder econômico, os trabalhadores não controlam o aparelho de Estado, não participam das eleições em condições de eleger governantes que realmente representam a classe operária. Por não possuírem os meios de produção, os trabalhadores são obrigados a vender sua força de trabalho aos donos das empresas, nas condições impostas pelo mercado.[28]
    Como o trabalhador vende sua força de trabalho no mercado capitalista, a vantagem na hora da negociação é do capitalista. Ele precisa do trabalhador para operar suas máquinas com menor urgência do que o trabalhador precisa do salário para sobreviver.
    O capitalista calcula os gastos com a conservação e a renovação de suas máquinas, calcula os salários e calcula o valor que a mercadoria produzida em sua fábrica poderá ter no mercado. Descontada do valor do produto a parte que o capitalista paga ao operário sob a forma de salário, o que sobra é a mais-valia.[29]
    A mais-valia não pode ser confundida com lucro, pois nela ainda estão armazenados os gastos necessários para o funcionamento e evolução do negócio e o valor de aluguel do local em que o estabelecimento se encontra. O lucro é só mais uma parte da mais-valia.

    Mercadoria

    Mercadoria é aquilo que é produzido para venda no mercado, não para consumo imediato. É necessário entender que a produção de mercadorias não é a característica nuclear do capitalismo, pois essa produção já existia antes do sistema capitalista. Nele, a produção se aprofundou e se transformou no tipo de produção hegemônico.
    Ao se expandir, o capitalismo foi estendendo o sistema de produção para o mercado às mais diversas áreas. Em certo sentido, devemos dizer que o capitalismo foi o regime que mercantilizou a vida humana.[30]
    No capitalismo, o dinheiro passou a ter papel principal nas relações humanas, na medida em que todas as coisas passaram a ser transformadas em mercadoria. Entretanto, como as mercadorias são feitas para o mercado, não para o consumo do produtor, do trabalhador, o sistema de produção se distancia e domina o homem, em vez de ser dominado por ele. Chegando a tal ponto da ala fisiocrata da economia burguesa estudar os fenômenos econômicos como se fossem regidos por leis naturais. Até mesmo para Adam Smith havia uma mão invisível agindo nos fenômenos econômicos.
    Com a falta de justificativa humana racional para a existência de tal sistema, é necessário criar uma racionalidade externa, fora do controle humano. A economia fica fora do controle humano através de ilusões sobre um funcionamento autônomo do mundo das mercadorias, restando ao homem o papel de engrenagem neste sistema. Marx nomeia de fetichismo da mercadoria essa forma ilusória tomada pela mercadoria.
    Para Marx, o funcionamento do mercado capitalista também coloca um capitalista contra o outro, fazendo o grande capitalista incorporar o pequeno, num movimento de concentração de capital e formação de monopólios. Depois disso, o passo seguinte é a formação de braços corporativos em outros países, num comportamento imperialista.
    No contexto de formação de grandes monopólios, há também a concentração de grande número de trabalhadores, que passam a viver juntos em número cada vez maior e de forma cada vez mais organizada politicamente, até que o sistema capitalista não consegue mais dar conta da contradição entre a produção altamente socializada e a apropriação capitalista dos frutos do trabalho, o que gera a revolução.

    Revolução

    A tarefa de analisar a revolução ficou cada vez mais urgente e o primeiro sinal da história chegou com a Comuna de Paris. Adolphe Thiers, então presidente da França, se viu sem controle da Guarda Nacional e em 1871 abandonou a capital francesa e se dirigiu a Versalhes, deixando o coração de seu país ao desespero de enfrentar as tropas de Otto von Bismarck, chanceler alemão no 2º Reich.
    Um Comitê Central controlava a Guarda Nacional e, ao perceber que a cidade foi abandonada, convocou o povo parisiense para novas eleições. “Era uma direção coletiva, em que predominavam elementos representativos das classes trabalhadoras: pela primeira vez na história da humanidade o proletariado se achava no poder”[31].
    O Governo da Comuna:
    • Instalou armazéns para a venda de itens de primeira necessidade praticamente a preço de custo;
    • Apesar de abandonado pelos funcionários, a comuna manteve todos os serviços postais em funcionamento;
    • Suspendeu a venda de objetos penhorados;
    • Prorrogou o prazo de pagamento de obrigações comerciais;
    • Interrompeu as ações judiciais de despejo;
    • Entregou as oficinas abandonadas pelos proprietários aos sindicatos;
    • Prestou assistência médica à população de maneira mais eficiente que aquele prestado nos últimos anos, mesmo com carência de medicamentos;
    • Planejou um sistema de ensino universal, mas não teve tempo de implementar devido a invasão de Thiers no fim da comuna.
    No fim, o governo da Comuna gastou por volta de 41 milhões de francos, seis vezes menos que o governo de Thier gastava no mesmo período. Depois de se acertar com Bismarck e lhe prometer territórios e o pagamento de uma grande quantia, Thiers recebeu seus prisioneiros de guerra e, sentido-se mais forte, invadiu a capital francesa massacrando a resistência operária.

    Bakunin e Lassale

    Marx tinha um histórico peculiar com anarquistas: em 1845, combateu as teses de Max Stirner; em 1847, combateu Proudhon; entretanto, em 1868, encontrou-se com um Bakunin disposto a participar da Internacional e fazendo uma autocrítica em que se colocava sob os objetivos da revolução econômica[32].
    Apesar de se fortalecer após a Comuna, a Internacional passou por problemas de organização com um grande número de filiados. Bakunin trouxe à discussão seus ideais anarquistas exatamente no momento em que era necessário construir um programa de ação rigoroso. O anarquista se posicionou contra a participação dos trabalhadores na política institucional e difundiu o mito de que a revolução viria através de uma grande greve geral.
    Marx criticou o anarquismo como uma concepção romântica e uma influência desagregadora que só poderia prejudicar o indispensável e paciente trabalho de organização do proletariado para a revolução socialista. Os companheiros de direção da Internacional consideraram justa a crítica de Marx e repeliram as posições anarquistas.
    Bakunin, então, acusou Marx de querer monopolizar a direção do movimento operário, impondo-lhe métodos ditatoriais: “Como alemão e como judeu, Marx é da cabeça aos pés um autoritário”[33].
    Lassale, por sua vez, deu trabalho para Marx desde a década de 50. O autor escreveu uma peça de teatro criticada por Marx, na medida em que os personagens se definiam mais pelos discursos que proferiam do que por suas ações. Para Lassale, valia até uma aliança com Bismarck pela união da Alemanha.
    No entanto, foi em 1874, com Lassale já morto, que Marx precisou escrever aquilo que se tornaria a Crítica do Programa de Gotha. Com as eleições na Alemanha, os partidos de esquerda conseguiram bons resultados e lassalianos construíram um documento, em Gotha, com um programa revolucionário comum, no entanto, sem qualquer rigorosidade filosófica e econômica.
    Um dos pontos centrais na Crítica é a distinção entre socialismo e comunismo. Enquanto o primeiro ainda não garante um novo tipo de divisão social do trabalho, ainda mantém a existência do Estado; o segundo não tem mais a presença do Estado e, desfrutando uma segurança econômica, os indivíduos podem se livrar de formas primárias de egoísmo e, finalmente, superar a divisão social do trabalho como é.
    Resumidamente:
    • Socialismo: cada indivíduo ainda recebe parte da riqueza social segundo sua produção;
    • Comunismo: “De cada um de acordo com suas possibilidades, a cada um de acordo com suas necessidades”.

    Morte de Marx

    Os dois últimos volumes do Capital demoraram para serem escritos. Marx ainda teve que parar sua produção para prestar apoio a Engels em seu embate com Duhring, escrevendo o capítulo econômico do Anti-Duhring.
    No último período de sua vida, na década de 70 e 80, Marx planejou escrever um livro sobre a evolução histórica da instituição família, mais tarde Engels publicou A Origem da Família, da propriedade privada e do Estado (1884) com base nas anotações de Marx.
    Um livro dedicado integralmente à dialética também foi planejado, mas nem mesmo existem anotações.
    Depois da morte de sua esposa (1881) e depois de sua filha (1883), Marx faleceu em 14 de março de 1883 com um abscesso no pulmão.

    E-book Análise do Discurso: Conceitos Fundamentais de Michel Pêcheux

    E-book Análise do Discurso: Conceitos Fundamentais de Michel Pêcheux
    E-book Análise do Discurso: Conceitos Fundamentais de Michel Pêcheux, escrito por Vinicius Siqueira, do Colunas Tortas.
    A análise do discurso é uma das esferas de pesquisa mais interessantes de conhecer. Como descreve Pêcheux, é a articulação entre o marxismo, a psicanálise e a linguística.
    Entretanto, há pouco material introdutório na internet ou de fácil leitura nas bibliotecas. O objetivo do e-book Análise do Discurso: Conceitos Fundamentais de Michel Pêcheux é justamente preencher essa lacuna para iniciantes na análise do discurso.
    O e-book tem 131 páginas, é perfeito para ler na tela do computador, no tablet ou celular e discute os conceitos de condições de produção do discurso, sujeito, formação discursiva, interdiscurso, formação ideológica, pré-construído, o funcionamento da ideologia, acontecimento discursivo e memória discursiva, mas também exibe o conceito de constructo discursivo, proposto pela pesquisadora brasileira Ana de Godoy, e aplica os conceitos propostos na análise do enunciado “Não vou pagar o pato”, famoso nos protestos da direita brasileira até o momento do impeachment.
    Na compra, ganhe de bônus o e-book Lendo Louis Althusser: Resenha Detalhada de Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado, que tem papel essencial na obra de Pêcheux.
    • Formato: PDF
    • 34 páginas
    São R$16,99. Clique abaixo e adquira!
    Vinicius Siqueira é pós-graduado em sociopsicologia e editor do portal de conteúdo de ciências humanas Colunas Tortas. Também é autor de “Homo Psychologicus: Lendo Doença Mental e Psicologia de Foucault” e “Foucault e a Arqueologia”.

    17 artigos sobre marxismo do Colunas Tortas

    Abaixo, nossos artigos que falam sobre marxismo:

    Marxismo: curso livre IV Curso Livre Marx-Engels da Editora Boitempo

    O IV Curso Livre Marx-Engels foi ministrado em 2014, com organização da editora Boitempo, em São Paulo. Todas as aulas e as devidas introduções abaixo dos vídeos foram retiradas do site da Boitempo. Veja abaixo:
    1. Alysson Mascaro | Marx, Engels e a crítica do Estado e do direito
    Nesta aula de abertura do IV Curso Livre Marx-Engels, ministrada pelo jurista e filósofo do direito Alysson Leandro Mascaro, revelam-se elementos para teorizar na perspectiva marxista o poder, a política, o Estado, as relações de classe e o direito.
    2. Antonio Rago | A crítica do idealismo em Marx e Engels
    Esta segunda aula do IV Curso Livre Marx-Engels, ministrada por Antonio Rago, procura mostrar o avanço em relação ao Marx de 1844: a tese do “papel histórico universal” do proletariado (que aparece com a primeira crítica à cultura alemã pós-hegeliana, A sagrada família) e a elaboração do conceito crítico-negativo de ideologia, que surge na continuidade da citada crítica, precisamente em A ideologia alemã (1846), com a crítica feita a Feuerbach e a colocação da questão do método “que ascende da terra ao céu”.
    3. José Paulo Netto | A atualidade do Manifesto Comunista
    O Manifesto do Partido Comunista, ou simplesmente Manifesto Comunista (1848), demonstra a madurez de Marx e Engels, com 30 e 28 anos respectivamente. Nesta aula, ministrada por José Paulo Netto, curador desta quarta edição do Curso Livre Marx-Engels, faz um tratamento cuidadoso desse texto fundamental, com ênfase em sua atualidade.
    4. Osvaldo Coggiola | Análises concretas da luta de classes
    Nesta aula (que implica um salto cronológico em relação ao andamento da primeira à terceira), mostra-se como os princípios elementares do “Manifesto Comunista” mais a maturação metodológica propiciada pela militância de Marx e Engels convertem-se em suportes de preciosas “análises concretas de situações concretas” (Lenin caracterizava assim o marxismo). Aula dedicada a Marx e Engels como “analistas de conjuntura”.
    5. Ricardo Antunes | A constituição da classe trabalhadora
    O eixo desta aula, ministrada pelo sociólogo do trabalho Ricardo Antunes, é a passagem de Marx à posição revolucionária, com o aparecimento formal do proletariado e sua emersão efetiva (com o peso do trabalho na constituição do ser social, um ser da práxis) nos Manuscritos econômico-filosóficos (1844). É fundamental a importância de Engels nesse período da evolução de Marx, em seu ensaio nos Anais Franco-Alemães (1844) e A situação da classe trabalhadora na Inglaterra(1845).
    6. Mario Duayer | A crítica ontológica do capital
    Nesta aula a questão central é Marx e a crítica da economia política, recorrendo especialmente aos “Grundrisse” (1857). Mario Duayer procura expor como determinada leitura desses textos deu origem a uma vertente alternativa de teoria crítica, voltada para a dimensão dominadora da ontologia do trabalho.
    7. Jorge Grespan | A crítica da economia política em Marx
    Nesta aula a questão central é novamente Marx e a crítica da economia política, recorrendo desta vez principalmente a “O capital”, de Marx. Compreender a arquitetônica obra de Marx nos seus três níveis, produção, circulação e consumo, bem como as relações internas dos conceitos em cada um, é o objetivo da aula em questão.
    8. Ruy Braga | Democracia, trabalho e socialismo em Marx e Engels
    Nesta última aula do IV Curso Livre Marx-Engels, ministrada por Ruy Braga, a ênfase é em como Marx concebe o papel do programa do partido na luta democrática e sua concepção da transição socialista; o texto básico é a Crítica do programa de Gotha (1875) e, subsidiariamente, O socialismo jurídico (1887).
    Homenagem | Chico de Oliveira
    As três primeiras edições do Curso Livre Marx-Engels (realizadas respectivamente na PUC-SP, na UERJ e no Sindicato dos Bancários de São Paulo) contaram com mais de 3 mil alunos e homenagearam os intelectuais marxistas Jacob Gorender, Leandro Konder e Carlos Nelson Coutinho. O escolhido desta vez foi o sociólogo Francisco de Oliveira, professor titular aposentado de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP) e autor de extensa obra, da qual destacamos Noiva da revolução: elegia para uma re(li)gião (Boitempo, 2008) e Crítica à razão dualista: o ornitorrinco (São Paulo, Boitempo, 2003).

    Referências

    [a] Texto baseado em KONDER, Leandro. Marx  Vida e Obra. 7ª ed, Editora: Paz e Terra S. A. São Paulo – SP, 1999.
    [1] KONDER, Leandro. Marx  Vida e Obra. 7ª ed, Editora: Paz e Terra S. A. São Paulo – SP, 1999, p.17.
    [2] KONDER, Leandro. Marx  Vida e Obra… p.17.
    [3] KONDER, Leandro. Marx  Vida e Obra… p.22.
    [4] LENIN, Vladimir Ilitch Ulianov. Karl Marx: Breve Esboço Biográfico. Seguido de uma Exposição do Marxismo. The Marxists Internet Archive, 1914. E-book. Posição: 5-7.
    [5] Marx, Karl IN KONDER, Leandro. Marx  Vida e Obra. 7ª ed, Editora: Paz e Terra S. A. São Paulo – SP, 1999, p.24.
    [6] KONDER, Leandro. Marx  Vida e Obra… p.24.
    [7] KONDER, Leandro. Marx  Vida e Obra… p.28.
    [8] KONDER, Leandro. Marx  Vida e Obra… p.28.
    [9] KONDER, Leandro. Marx  Vida e Obra… p.28.
    [10] LENIN, Vladimir Ilitch Ulianov. Karl Marx: Breve Esboço Biográfico. Seguido de uma Exposição do Marxismo… Posição: 18-20.
    [11] KONDER, Leandro. Marx  Vida e Obra… p.29.
    [12] KONDER, Leandro. Marx  Vida e Obra… p.29.
    [13] KONDER, Leandro. Marx  Vida e Obra… p.33.
    [14] KONDER, Leandro. Marx  Vida e Obra… p.35.
    [15] KONDER, Leandro. Marx  Vida e Obra… p.36.
    [16] KONDER, Leandro. Marx  Vida e Obra… p.36.
    [17] KONDER, Leandro. Marx  Vida e Obra… p.51.
    [18] KONDER, Leandro. Marx Vida e Obra… p.54.
    [19] KONDER, Leandro. Marx Vida e Obra… p.55.
    [20] LENIN, Vladimir Ilitch Ulianov. Karl Marx: Breve Esboço Biográfico. Seguido de uma Exposição do Marxismo… Posição: 26.
    [21] KONDER, Leandro. Marx Vida e Obra… p.64.
    [22] KONDER, Leandro. Marx Vida e Obra… p.112.
    [23] KONDER, Leandro. Marx Vida e Obra… p.112.
    [24] LENIN, Vladimir Ilitch Ulianov. Karl Marx: Breve Esboço Biográfico. Seguido de uma Exposição do Marxismo… Posição: 205.
    [25] LENIN, Vladimir Ilitch Ulianov. Karl Marx: Breve Esboço Biográfico. Seguido de uma Exposição do Marxismo… Posição: 205.
    [26] KONDER, Leandro. Marx Vida e Obra… p.115.
    [27] LENIN, Vladimir Ilitch Ulianov. Karl Marx: Breve Esboço Biográfico. Seguido de uma Exposição do Marxismo… Posição: 213.
    [28] KONDER, Leandro. Marx Vida e Obra… p.118.
    [29] KONDER, Leandro. Marx Vida e Obra… p.119.
    [30] KONDER, Leandro. Marx Vida e Obra… p.121.
    [31] KONDER, Leandro. Marx Vida e Obra… p.128.
    [32] KONDER, Leandro. Marx Vida e Obra… p.135.
    [33] KONDER, Leandro. Marx Vida e Obra… p.136.

    Viagem à Polónia

    Viagem à Polónia
    Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

    Viagem à Polónia

    Viagem à Polónia
    Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.