São seis forças que
estão já a fabricar o nosso futuro. Mas prepare-se porque haverá sempre
surpresas, boas e más, por mais que queiramos ser adivinhos
Textos Jorge Nascimento Rodrigues Ilustração gonçalo viana Infografias Carlos Esteves
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Um planeta mais grisalho e a transbordar de gente
O
mundo vai estar cada vez mais povoado, pelo menos até perto de 2100,
mas também mais urbano e mais envelhecido. Em 2030, a população deverá
ter subido para 8,5 mil milhões — mais mil milhões do que hoje. Alguns
cenários apontam para um pico do crescimento populacional precisamente
em 2030. Os idosos (com mais de 65 anos) chegarão a mil milhões em 2030,
mais 300 milhões do que atualmente. Então representarão 13% da
população mundial e a pressão sobre os sistemas de saúde e de pensões
será muito elevada. Os países com populações jovens (com uma média de 25
anos ou menos de idade), que atualmente são 80, cairão para 50 em 2030.
Dois terços da população mundial viverão em cidades. Serão quase meia
centena as cidades com mais de 10 milhões de habitantes, mas apenas uma,
Paris, na Europa. Um grupo de 40 áreas metropolitanas cruzarão dois ou
mesmo três países contíguos.
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Uma combinação de alto risco: emergência climática e pressão sobre recursos vitais
Há
cada vez mais sinais de uma trajetória de convergência dos riscos
climáticos com a competição pelos recursos críticos, da água,
alimentação e energia. A mudança climática vai ter um efeito
multiplicador negativo sobre a já antevista escassez de recursos para
responder ao aumento populacional, aos hábitos de uma classe média
crescente e a grandes movimentos migratórios provocados por múltiplas
razões (tragédias climáticas, guerras, pandemias e pobreza extrema). A
dimensão desta convergência negativa torna-se ainda mais dramática se
tivermos em conta que 60% da população mundial vivem em regiões
costeiras, onde a pressão da mudança climática se vai sentir mais. A
população com escassez de água já saltou de 21% em 1980 para 30% em 2010
e vai subir para 32% em 2030, segundo o Water Scarcity Clock. Na frente
alimentar, houve um recuo na fome severa; 14,5% da população em 2005
(quase mil milhões de pessoas) para 11% em 2018 (820 milhões), mas
duvida-se da meta zero para a fome no mundo precisamente estabelecida
para 2030 pelas Nações Unidas.
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Embrulhados em dívida como se não houvesse amanhã
Em
20 anos, a dívida global (abrangendo famílias, empresas, sector
financeiro e Estado) saltou de 80 biliões (€75 biliões, ao câmbio da
altura) para 250,9 biliões de dólares (€225 biliões). Em percentagem do
PIB mundial atingiu um pico histórico de 322% em setembro de 2016.
Atualmente está em 320%. O peso de amortizações nos próximos anos é
elevado, o que acarreta um risco de uma grande crise financeira,
sobretudo nas economias emergentes. Só a dívida pública mundial poderá
aproximar-se de 100% do PIB na década de 2030 a 2040. Atualmente está em
80%. Ela vai continuar a ser um constrangimento importante para a
política orçamental de resposta a crises económicas e sociais que
ocorrerem, incluindo os choques provocados pela emergência climática. O
Institute of International Finance chama a atenção para um segundo nível
de convergência, agora entre os desafios da mudança climática (a que
nos referimos no cenário da tempestade perfeita) e o grau de
endividamento total tanto em países desenvolvidos (como o Japão e
Singapura) como pobres fortemente fustigados pelos extremos climáticos.
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Escravos da internet das coisas
Em
2030, mais de 75% da população terão conectividade móvel e 60% terão
acesso à banda larga. O dia a dia vai estar dominado pela internet das
coisas. O número de aparelhos interligados por pessoa vai chegar aos 15
em 2030, mais de sete vezes superior ao rácio 20 anos antes. Só na
próxima década vai mais do que duplicar. Mas a revolução digital é mais
do que a internet das coisas. Está a criar uma força inteligente
exterior aos humanos e uma segunda economia. A cibersegurança vai
tornar-se crítica em todos os domínios. Uma das componentes da revolução
digital é o que já se chama quarta revolução industrial, cujo conceito
está mais desenvolvido na Europa, com a liderança da Alemanha.
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Enchente de classe média mas com desigualdades crescentes
60%
da população mundial terão um estatuto de classe média em 2030, no
cenário mais otimista. Mais do que vai duplicar no peso do consumo
global desde a recessão de 2009. Em números serão mais de 5 mil milhões,
mais dois mil milhões do que atualmente. E 80% residirão nas economias
emergentes, um salto de mais de 20 pontos percentuais em relação a 2010.
Sobretudo na Índia e na China. O problema é que esta classe média vai
ser deixada para trás pela enorme concentração de riqueza no 1% do topo.
O peso na riqueza deste grupo de ricos vai subir 6 pontos percentuais
até 2050, enquanto o peso da classe média vai cair 2 pontos percentuais,
ficando praticamente com a mesma fatia que a nata dos ricos, o grupo do
topo de 0,1%. Para as classes que abrangem os 50% de baixo, há vários
cenários. No mais otimista, a fatia na riqueza subirá 3 pontos
percentuais.
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Geopolítica: entre a anarquia e a nova divisão em dois blocos
A
China ultrapassará os EUA no futuro, mas ainda está longe esse ponto de
inflexão. Mais próximo está o ponto de inflexão entre o peso da OCDE e
do resto do mundo, já em 2030. Todos os analistas falam de um mundo
multipolar e de que não haverá uma potência hegemónica na próxima
década. Mas nessa nebulosa, os cenários extremos dividem-se entre um
caótico G Zero (segundo Ian Bremmer, o fundador da consultora Eurasia) e
uma nova divisão em dois blocos liderados pelos EUA e China (como
defende o académico português Nuno Monteiro, diretor de Estudos sobre
Segurança Internacional na Universidade de Yale, nos EUA).
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