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domingo, 17 de maio de 2009

COMENTÁRIO

«A Razão Pura nunca existiu.»,«Falta inventar um novo imperativo categórico.»
Existiu na Filosofia e com que força e tradição! Continua a subsistir, latente, em certos idealismos do século passado (e Husserl não está isento de modo algum). De resto, as metafísicas não morreram. embora se disfarcem de «espiritualismos» (e P. Ricoeur não está isento), de neo-teologias, de aflorações místicas. Se algum materialismo (no sentido filosófico) tende para reducionismos biologistas ou, inversamente, sociologistas, não pouco idealismo (no sentido filosófico) padece da tentação da 'transcendência', seja de um 'Ser' oculto, seja de uma divindade sobrenatural.
Quanto ao «imperativo categórico» ele depende da clarificação das condições que possibilitam o conhecimento objectivo, pois que a racionalidade não só é necessária como é possível; contudo, e ao invés do que afirmam certos cientistas que se scudam na «neutralidade», esse(s) imperativo(s) remetem para o domínio da acção (pessoal, colectiva), para a ética, para a política e para a estética. Os chamados «valores» não valem nada se não emergirem das e imergirem nas condições concretas (forças e relações de produção; habitus, status, 'capital simbólico' e ideologias), conhecendo objectivamente e agindo subjectivamente.
A estética é uma forma de acção humana, não poucas vezes de um indivíduo solitário que comunica e co-move um público, a ética não está ausente, nem mesmo uma determinada forma de intervenção política. De Nietzsche a Deleuze sabemos isso. Nem o Heidegger da 'segunda fase' consegue convencer-nos do contrário, apesar dos seus esforços de uma 'interpretação do sentido', depurado de imperativos éticos...Cabe normalmente (ou por definição?) ao filósofo formular conceitos, proposições e imperativos; não o exigimos ao artista; porém, quer este fale do amor, da solidão na grande cidade, quer fale da guerra, fala-nos ao coração...da mente. Mobiliza-nos. Nesses instantes intensos em que um B. Brecht, ou um Artaut, nos interpelam, ou F. Bacon, L. Freud, não esquecendo nunca Picasso, ou a fotografia de S. Salgado, sentimos que uma força externa nos sacode e desassossega. Não é esse estado que origina o filosofar?

2 comentários:

FilosMadTorres disse...

Por isso a filosofia é a síntese superior, não na ordem a importância mas na ordem epistémica.

helena disse...

Com o devida respeito pela Galeria dos Imortais, e sem pretender 'pintar bigodes à Mona Lisa', todos os ‘-ismos’ têm origem em condições concretas e estas derivam, invariavelmente, naqueles.
Toda a tese sofre da tentação de síntese - absoluta, tirânica, dissimulada ou aberta. Nunca neutra, em nenhuma das suas possíveis conjugações. Não tem sentido insistir no maniqueísmo - Logos /Imago - ambos visam a co-mobilidade… psicológica (filosófica ou artística, é indiferente). É e sempre foi esse o combate, em qualquer das arenas: entre subjectividade(s).
Foi a exclusividade do paradigma logocêntrico, que alienou o Homem da natureza e dos seus iguais. Quantos homens inteligentes e cultos legitimaram algumas das mais terríveis perversões da História da humanidade!
A filosofia do futuro deverá intervir na reformulação dos currículos, na reeducação das massas, aguçando-lhes a sensibilidade, mantendo, contudo o labor proposicional, crítico e exegético do Real. Mas no campo dos valores, a educação pela arte é, sem dúvida, mais universal, porque geradora de uma aprendizagem de empatia e incorporação dos outros no Eu. Fornece o vislumbre (não hipotético, mas concreto) do 'véu de ignorância' entre os homens, ao nível do 'ser' e do 'ter'.
Por isso, toquem os ditirambos, convocando a Dança entre Apolo e Diónisos!

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Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

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Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.