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quarta-feira, 13 de maio de 2009

PARADOXOS

I.
Não existe uma Ideia Pura ou Modelo com mais realidade que os seres determinados, ou fenómenos. Toda a doutrina que se apoia nessa crença é uma religião qualquer e, ao mesmo tempo, uma justificação do poder qualquer que ele seja (Um Poder Absoluto sobre poderes relativos); portanto, justificação da submissão, da inferioridade. É o império da Moral. Os «modelos» (que são sempre abstractos) são modos de classificação indispensáveis quando utilizados para essa finalidade.
II.
A crença numa racionalidade pura, superior, único meio de alcançar a Verdade, é uma variante dessa crença religiosa. Não existe Verdade Absoluta, o verdadeiro é um dispositivo do discurso, o resultado de um processo operado por uma colecção de subjectividades que recorrem ao método dedutivo e à experiência. É o Diálogo, a Análise e a Síntese. E é também uma «guerra», com e sem comas, entre ideias e interesses, e o seu resultado.
III.
A Razão não é uma «faculdade», é uma competência, uma aptidão. Um mecanismo cortical. Um instrumento operativo que se revelou há muito tempo mais vantajoso no confronto com a Natureza e entre os homens organizados em sociedades de qualquer tipo. Os progressos do Ocidente nos últimos séculos devem-se em boa parte a uma racionalidade lógica, técnica e científica, que forjou em condições concretas e singulares.
IV.
O que é racional não virá a ser real mais tarde ou mais cedo só porque o é. Depende, entre outras condições, da correlação de forças, pois que a própria vontade de tornar real o que é racional depende do poder que se tem.
V.
Se o que é racional é, em parte embora não no todo, relativo e circunstancial, então o que é racional é uma opção entre outras. O que é hoje racional pode deixar de sê-lo amanhã. A racionalidade que se soube impor como dominante numa determinada sociedade não tem que ser, por isso, a mais justa e necessária, e não se adequar a outro tipo de sociedade.

2 comentários:

helena disse...

Olá Nozes,

Excelente texto! De facto no paradigma do antigo Logos 'não corria sangue humano'. O traço de genialidade é hoje reconhecível não no academismo, mas na humana contradição. E na sua assumpção trágica, risível, dorida, 'patho-lógica'. Lembremo-nos dos verdadeiros e genuínos intelectos... Mais do que o seu edifício filosófico, sem dúvida admirável, é a língua de fora, na solidão do rosto de Einstein, ou a imagem 'do dia em que Nietzsche chorou'(ou em que se suicidou) ou um Leonardo da Vinci, justificando uma pausa numa das suas obras: "La minestra si freda",p.exemplo, que comprovam a sua tremenda humana simplicidade. A Razão Pura faliu, apenas porque nunca existiu. Concordo. Falta é inventar um novo imperativo categórico, quando falham também exclusivamente e a cultura e a educação.
Agrada-me a proposta de uma Educação pela Arte...

Bjis

helena disse...

Quanto aos mecanismos de legitimação do poder pela racionalidade abstracta, penso que dificilmente se imporá pacificamente. Por haver uma consciência quase universal do modelo contingencial e democrático que diluiu o poder Único e Absoluto. Este quando surge é mais cedo ou mais tarde desmascarado e acossado. Facilmente reconhecido em todas as suas expressões. Esta atitude é a última das ditaduras - a de não queremos voltar atrás.Infelizmente há sempre vestígios saudosiostas, aqui e ali, mas não têm a expressividade que desejariam.Tranquilizemo-nos.

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