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sábado, 11 de julho de 2009

Reflexões sobre a pós-modernidade

Julgo observar uma inclinação nos autores e no público para percepcionarem e transmitirem uma representação da organização social em que esta se mostra desarmada, privada de mecanismos de defesa, sem controlo e sem regulamentação. Como se as regras não mais estivessem a ser respeitadas. Anda um espectro no ar, uma ameaça, um temor, um não-se-sabe-o-quê que pode atacar sem aviso cavalheiresco qualquer lugar. É das capitais, das grandes metrópoles que mais perpassa este sentimento. Os filmes mais premiados de Hollywood ou com mais sucesso constituem um exemplo de receptores e transmissores, simultaneamente, deste fenómeno («Este país não é para velhos»,«Batman, O cavaleiro das Trevas»). Pânico de multidões, ameaças, caos, eclipse dos heróis,estranheza, perda de controlo. Peças de teatro (ou encenações de textos recentes ou clássicos) sombrias, góticas, carregadas de agressividade, de destruição, sem catársis.Gritos,movimentos frenéticos, personagens esquizóides, identidades fragmentadas, à deriva, comportamentos anárquicos. Ataques de terroristas, quer sejam fanáticos quer sejam mafiosos,conspirações, envolvimento de políticos corruptos ou cujos remédios empregues são piores que os males que pretendem eliminar, personagens enlouquecidas pelo dinheiro ou por credos cujo conteúdo não se manifesta, sangue, dinheiro sujo, traficantes super-poderosos de drogas, de prostituição à escala global, ou de armas infinitamente letais. Efeitos especiais agredindo os espectadores com incêndios gigantescos, anti-heróis travestidos de samurais, corpos decapitados, membros decepados. Quanto maior for o talento do artista, maior o sucesso.Tarantino e Tim Burton, os Irmãos Cohen. Instalações e perfomances. Telas onde a beleza foi evacuada, somente o vazio, a perda, o luto, o horror.
Tempos do medo sem cólera. Mimésis de uma globalização destrutiva, de economias em ruptura, de multidões sem comunidades. Rasgões dilacerantes na coesão social.
Provavelmente estejam a verificar-se mudanças nesta ideologia pelo efeito esperançoso que o Presidente Obama parece trazer aos E.U., efeito que se propaga pelo planeta exaurido, violento e amedrontado.Porém, as consequências, as contradições, os males em marcha e os perigos são tão fundos e sistémicos que Obama poderá não ser mais que uma utopia.

1 comentário:

Joaquim Moedas Duarte disse...

Ler o teu texto foi, de certo modo, apaziguar a minha inquietação. Não sou capaz de pôr em palavras - como tu o fazes, e bem! - o mal-estar perante as manifestações da chamada "arte contemporânea", em todos os suportes que usa, e tu enumeras exaustivamente.

Para onde vamos?
De certo modo - e usando a famigerada expressão do Fukyama - na arte parece que chegámos ao fim da linha. Nada mais há a dizer, a fazer, a criar. A obsessão da originalidade é a pior armadilha e estamos cansados de tanta coisa original.

Vou tentar pôr alguma ordem na minha cabeça, tentada a cair no niilismo cómodo do "tudo é treta"...

Viagem à Polónia

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Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

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Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.