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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Carta aberta sobre as eleições autárquicas

Revejo-me no projecto utópico do torreense José Félix de Henriques Nogueira, introdutor das ideias republicanas e socialistas em Portugal, que morreu cede, porque os deuses levam para si bem cedo alguns grandes espíritos, talvez por ciúme, talvez por serem seus filhos dilectos. Não me revejo em tudo, não creio que seja possível conciliar longamente e sem conflitos o capitalismo (ainda que médio e pequeno) com o socialismo (devemos conservar ambos numa etapa mais ou menos longa, mas sempre de modo a que o socialismo extinga o capitalismo que tende sempre para se transformar em grande capital). Mas revejo-me na utopia concreta de conservar as nossas aldeias com as grandes cidades (que não podemos eliminar, mas devemos reduzir, qualificar, fragmentá-las com largos espaços de verde e de lazer). Sou conservador e revolucionário. Sinto-me bem nas vilas alentejanas, com a sua praça ajardinada no centro, as laranjeiras nos passeios, os bancos de madeira, os velhos à sombra cavaqueando, as crianças no pequeno parque infantil chilreando ao desafio com os pardais. Admiro a escolinha primária, pese embora o seu estilo «Estado Novo», acolhedora, próxima, e sinto nostalgia. Imagino no meio do breve casario, nobre ou humilde, o posto de saúde, à beira-mão, o médico amigo já idoso, afável, recebendo-os sem esperas, chamando-os pelos seus nomes próprios. Imagino caminhos vicinais limpos, bucólicos, por onde passeávamos à noite, inventando sustos, o cemitério da aldeia que circulávamos com temor e respeito, o grande charco que as chuvadas enchiam regularmente, o nosso lago, oceano de piratas e ilhas imponderáveis. No interior da Região (estou falando de regionalização) uma universidade, um Hospital, uma via-rápida sem portagens, um moderno caminho-de-ferro… A modernidade, os benefícios da civilização, as tecnologias benfazejas, o conhecimento e a cultura.
Ser ambas as coisas, conservador e revolucionário, eis, em duas palavras, a minha utopia. Porque a utopia é a contradição supostamente, desejavelmente, re-conciliada. E que outra coisa é a ecologia? Por isso, na filosofia amo Espinosa e na poesia Alberto Caeiro.

1 comentário:

Meg disse...

Comentar os teus escritos é um perfeito atrevimento da minha parte...
Mas se me encontro em tantas das tuas palavras, nessa utopia que persegues, também nos un Caeiro na Poesia, limito-me a deixar-te aqui o testemunho da minha admiração. Sincera.

Um abraço

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Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

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Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.