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quarta-feira, 26 de agosto de 2009

GERAÇÕES

A minha geração asas tinha mas não voava, como as galinhas. Havia sem pré um galo vigilante e um peru na engorda para o natal.
A tua geração tem asas mas não comunica, nas múltiplas formas de comunicar com o indicador direito. Há sempre um cartão de memória e uma mão cheia de palavras esdrúxulas.
A minha geração contemplava a outra margem e poucos ousaram desafiar a correnteza.
A tua geração não vê as margens para que não veja outras alternativas.
A minha geração sorvia golfadas de erva e imaginava diamantes no céu, à medida em que as pedras rolantes lhe esmagavam a cabeça.
A tua geração embebeda-se e vomita nas sarjetas e tropeça nos destroços das barbies, enquanto os papás assistem a realities-shows.
A minha geração não ia à escola; quando ia, abandonava-a; quando não a abandonava depressa, trazia na algibeira um curso superior de pedreiro.
A tua geração foi à escola ainda mal lhes cresciam os dentes; também a abandona, sem palmatoadas e sem curso de pedreiro. Quando prossegue, persegue o sonho do papá que gostaria de ser arquitecto, mas ficou-se pela construção civil.
A minha geração tinha medo, um medo obscuro, mas viscoso como um verme. Havia um poço onde se trituravam os ossos com um torniquete.
A tua geração não acredita nas bruxas mas vai a Fátima; não teme monstros paternais que caem das cadeiras, nem papões a espreitar das esquinas disfarçados de abutres distraídos. A tua geração teme o futuro porque ignora que eles escrevem torto por linhas direitas.
A minha geração foi à guerra e quem vai à guerra dá e leva. Hoje é pó a sete palmos de chão.
A tua geração assiste à guerra nos telejornais, enquanto pensa noutra coisa, ou lê as sms dos múltiplos amigos virtuais.
A minha geração debandou para o estrangeiro, atravessou a fronteira com os ouvidos alerta para os lobos e os carabineiros.
A tua geração vai estudar para fora ao abrigo de programas comunitários, não deixando para trás comunidades nenhumas.
Quando eu morrer levo a certeza de que pus o pé na outra margem numa certa madrugada de Abril. O antes e o depois foram meros episódios de uma história que há-de ter um fim.
A tua geração consome novidades sem história, crendo que são verdadeiras as histórias que lhes contam.

1 comentário:

Sara Gonçalves disse...

Os tempos mudaram. O ontem já não é o hoje nem o hoje será o amanhã. Coisas melhores para trás ficaram, coisas piores também. No entanto, como os homens não sabem aprender com os erros (porque acham que errar é mau) este mundo ainda se tornou mais decadente. Alguns aspectos contribuiram para isso: a televisão (inúmeras vezes repugnante); os jogos de computador que impingem aos pequenos; os filmes em que saltam cabeças de dois em dois minutos; e muitas outras coisas que se fosse a escrever não saíria mais daqui. Com esta vontade tão grande de inovar, criou-se um enorme buraco entre as pessoas. Os pais já não se sentam à mesa com os filhos a ter uma simples conversa; os filhos, por sua vez, estão-se borrifando para eles; e a nuvem da frieza do ser humano está a tornar-se cada vez maior. Quando chover, a cheia será tão grande que não haverá retorno.

P.S. Falando no geral. Felizmente, há excepções!

Viagem à Polónia

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Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

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Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.