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terça-feira, 29 de maio de 2012

Vergonha da Europa



por Günter Grass [*]


Tu te afastas do país que foi o teu berço,

próximo do caos, porque o mercado não é justo.



Ao procurar a alma, o que encontrou

é agora considerado sucata.



Como um devedor atado nu ao pelourinho, um país sofredor

deve agradecer o que tu dizes.



A pobreza condenou o país cujas riquezas

adornam museus: obtidas com o teu saqueio.



Com a força dos braços o bem-aventurado país das ilhas

devastado, usava o uniforme de Hölderlin na tua mochila.



Mal tolerado país cujos coronéis vossos

outrora foram tolerados como um aliado.



Perdem direito ao país no qual o teu poder de parceiro legal

apertava o teu cinto cada vez com mais força.



Antígona desafia-o ao vestir de negro e por todo o país

roupas de luto, o povo que tu hospedas.



No entanto, o país tem de despertar o respectivo Creso

de todos aqueles brilhos dourados acumulados na tuas arcas.



Saúde finalmente, bebam! clama a claque dos Comissários

mas irado está Sócrates cujo cálice está cheio até à borda.



A amaldiçoar no coro, o que é característico de vós, os deuses,

exigirão repudiar o Teu Olimpo.



Tu vais definhar privada de alma

sem o país que te concebeu, tu, Europa.



[*] http://pt.wikipedia.org/wiki/Günter_Grass



O original encontra-se em www.sueddeutsche.de/ . Tradução automática do Google, com correcções (resistir.info poderá substituí-la quando dispuser de uma melhor).



Este poema encontra-se em http://resistir.info/ .



domingo, 27 de maio de 2012

FÁBULAS

FÁBULAS - A arte da guerra


Há muitos milhares de anos a China estava dividida em diversos senhores da guerra. Os conflitos eram permanentes e os consensos impossíveis. Os campos cultivados pelos camponeses eram devastados pelas constantes incursões guerreiras, saqueadas as colheitas, exterminados os jovens que, escondidos nas serranias, se recusavam a militar nos exércitos de bandidos, raptadas as mulheres em idade fértil, espezinhados pelas patas da cavalaria os anciãos que não queriam abandonar as suas choupanas. A luz que antes iluminava as planícies dera lugar às trevas. Sombrias veredas, lodosos os rios, arruinadas as fábricas, esventrados os barcos dos pescadores, cheios os templos de gentes que temiam que o futuro fosse ainda pior que o presente.

Ora, sucedeu que um pequeno Estado viu-se cercado por um poderoso exército coligado de senhores da guerra. O território não era rico de recursos naturais, perdera pelos sucessivos saques muitos dos melhores dos seus meios de subsistência e, mesmo assim, era cobiçado.

Os exércitos invasores acamparam na fronteira, montaram tendas de campanha, acenderam fogueiras e banquetearam-se três dias e três noites, com o propósito de provocar o desespero nos sitiados, o desânimo, a resignação. Entrementes, introduziram mensageiros disfarçados de autóctones que difundiram boatos, mentiras e ilusões. De facto, os chefes dos exércitos invasores, ao contrário do habitual, não quiseram perder um único homem em batalhas inúteis. Os habitantes haviam de se render pelo espectro do medo que rondava por toda a parte. Na realidade os senhores da guerra contavam com a conivência da corte do pequeno reino sitiado. A corte manteve-se reunida permanentemente para encontrar uma saída: encontravam-se cercados e somente uma aliança com os invasores se mostrava realista, ou, pelo menos, inevitável. Era assim que pensavam o rei e os seus acólitos. Pregavam a submissão voluntária, emitiam decretos que admitiam como verdadeiras as mentiras dos saqueadores que já se impacientavam.

Após acaloradas discussões a corte, ao arrepio dos mais resistentes, decidiu por fim lançar um engodo que abrisse o apetite dos sitiantes, planeando evitar uma guerra mortífera e ganhar o mais que possível fosse. Uma longa fila de carregadores, escoltados por guardas, foi recolher os tesouros dos palácios reais, aproveitou-se a calada da noite, o negrume das trevas, propagou-se que os tesouros não eram do povo mas da corte e que, portanto, não havia razão alguma para revoltas, e transportou-se o ouro e as pedras preciosas para uma praça ao pé da fronteira, donde se era visto pelos invasores, visto e ouvido. O que fizeram então o rei e os seus acólitos? Anunciaram que se iria realizar ali mesmo um leilão das maiores riquezas do reino, um leilão absolutamente livre, sem regras e sem regulamentações, sem taxas e alcavalas, do qual ficaria a ganhar quem fosse mais rápido. O que parecia uma tragédia, não era o que parecia. O que parecia um engodo, não era artimanha nenhuma. O pouco povo que assomou às janelas julgou-se a assistir a um espetáculo, com tambores e fogo de artifício. A mentira funcionava na perfeição, não do outro lado da fronteira, mas deste.

Evidentemente que quem chegou mais rapidamente foi a cavalaria poderosa dos exércitos invasores. Chegou arrogante e tranquila, arrematou por tuta e meia o grosso tesouro, recebeu os cumprimentos respeitosos do rei e o beija-mão dos acólitos e levantou as tendas de campanha, sem perder um único soldado.

Mais tarde escribas ao serviço da corte lavraram sábias sentenças sobre a arte da guerra desse rei que o povo rapidamente esqueceu. Ainda hoje podemos ler nesses velhíssimos pergaminhos como se pode ganhar uma guerra, perdendo-a.

Nozes Pires

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Catastroika (legendas em português)

Llamamiento del Dr. Rath a la población de Alemania, Europa y al mundo, ...

Porquê o socialismo?

Para a História do Socialismo


Documentos

www.hist-socialismo.net

Tradução do inglês por Anabela Magalhães, revisão e edição por CN, 08.03.2012

(original inglês em: http://www.monthlyreview.org/598einstein.php)

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Porquê o Socialismo?1


Albert Einstein


Será aconselhável para quem não é especialista em assuntos económicos e

sociais exprimir opiniões a propósito do socialismo? Eu creio que sim, por várias

razões.

Consideremos primeiro a questão do ponto de vista do conhecimento científico.

Pode parecer que não há diferenças metodológicas fundamentais entre a

astronomia e a economia: em ambos os campos os cientistas procuram descobrir

leis com aceitação geral para um grupo circunscrito de fenómenos de modo a tornar

a interligação destes fenómenos tão claramente compreensível quanto possível.

Mas, na realidade, estas diferenças metodológicas existem. A descoberta de leis

gerais no campo da economia é complicada pela circunstância de que os fenómenos

económicos observados são com frequência influenciados por muitos outros

factores, que são muito difíceis de avaliar separadamente. Além disso, a experiência

acumulada desde o início do chamado período civilizado da história da humanidade

– como é bem conhecido – tem sido largamente influenciada e limitada por causas

que não são, de modo nenhum, exclusivamente económicas por natureza. Por

exemplo, a maior parte dos principais Estados ficou a dever a sua existência à

conquista. Os povos conquistadores estabeleceram-se, legal e economicamente,

como a classe privilegiada do país conquistado. Ficaram com o monopólio da

propriedade da terra e nomearam um clero entre as suas próprias fileiras. Os

sacerdotes, que controlavam a educação, tornaram a divisão de classes da sociedade

numa instituição permanente e criaram um sistema de valores pelos quais, desde

então, o povo se tem guiado, em grande medida inconscientemente, no seu

comportamento social.

Mas a tradição histórica, digamos, faz parte do passado; em parte alguma se

superou verdadeiramente a fase do desenvolvimento humano, que Thorstein

Veblen2 chamou de «predatória». Os factos económicos observáveis pertencem a

essa fase e mesmo as leis que podemos determinar a partir deles não são aplicáveis

1 Artigo escrito por Albert Einstein especialmente para o primeiro número da revista norteamericana

Monthly Review, Nova Iorque, Maio de 1949. (Texto traduzido e publicado pelo

site resistir.info, em 4.07.2002: resistir.info/mreview/porque_o_socialismo.html. (N. Ed.)

2 Veblen, Thorstein Bunde (1857-1929), economista e sociólogo norte-americano,

segundo o qual as instituições da economia são influenciadas por dois instintos de base, o

instinto artesão e o instinto predador. Pelo primeiro, o homem enriquece-se pelo seu

trabalho, enquanto pelo segundo procura desapossar os outros dos seus bens e dos

resultados do seu trabalho. (N. Ed.).

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a outras fases. Uma vez que o verdadeiro objectivo do socialismo é precisamente

superar e ir além da fase predatória do desenvolvimento humano, a ciência

económica no seu estado actual pouca luz pode lançar sobre a sociedade socialista

do futuro.

Em segundo lugar, o socialismo orienta-se por um objectivo ético-social. A

ciência, contudo, não pode criar objectivo e, muito menos, incuti-los nos seres

humanos; quando muito, a ciência pode fornecer os meios para atingir

determinados objectivos. Mas os próprios objectivos são concebidos por

personalidades com ideais éticos elevados e – se estes ideais não forem nadosmortos,

mas vitais e vigorosos – são adoptados e levados avante por aqueles muitos

seres humanos que, semi-inconscientemente, determinam a evolução lenta da

sociedade.

Por estas razões devemos precaver-nos para não sobrestimarmos a ciência e os

métodos científicos quando se trata de problemas humanos; e não devemos

presumir que os peritos são os únicos que têm o direito a expressarem-se sobre

questões que afectam a organização da sociedade.

Inúmeras vozes têm afirmado desde há algum tempo que a sociedade humana

atravessa uma crise, que a sua estabilidade foi gravemente abalada. É característico

deste tipo de situação que os indivíduos se sintam indiferentes ou mesmo hostis em

relação ao grupo, pequeno ou grande, a que pertencem. Para ilustrar o meu

pensamento, permitam-me que refira aqui uma experiência pessoal. Falei

recentemente com um homem inteligente e cordial sobre a ameaça de outra guerra,

que, na minha opinião, colocaria em sério risco a existência da humanidade, e

observei que só uma organização supra-nacional ofereceria protecção contra esse

perigo. Imediatamente o meu visitante, muito calma e friamente, disse-me:

«Porque se opõe tão profundamente ao desaparecimento da raça humana?»

Estou certo de que há um século ninguém teria feito tão ligeiramente uma

afirmação deste tipo. É uma afirmação de um homem que se esforçou em vão para

atingir um equilíbrio interior e que perdeu mais ou menos a esperança de o

conseguir. É a expressão de uma solidão e um isolamento penosos de que tanta

gente sofre hoje em dia. Qual é a causa? Haverá uma saída?

É fácil levantar estas questões, mas é difícil responder-lhes com algum grau de

segurança. No entanto, devo tentar o melhor que posso, embora esteja consciente

do facto de que os nossos sentimentos e esforços são muitas vezes contraditórios e

obscuros e que não podem ser expressos em fórmulas fáceis e simples.

O homem é simultaneamente um ser solitário e um ser social. Enquanto ser

solitário, tenta proteger a sua própria existência e dos que lhe são próximos,

satisfazer os seus desejos pessoais, e desenvolver as suas capacidades inatas.

Enquanto ser social procura ganhar o reconhecimento e afeição dos seus

semelhantes, partilhar os seus prazeres, confortá-los nas suas tristezas e melhorar

as suas condições de vida. É apenas a existência destes esforços diversos e

frequentemente conflituosos que explica o carácter especial do ser humano, e a sua

combinação específica determina em que medida um indivíduo pode alcançar um

equilíbrio interior e contribuir para o bem-estar da sociedade. É perfeitamente

possível que a força relativa destes dois impulsos seja, em grande parte,

determinada por hereditariedade. Mas a personalidade que finalmente emerge é

largamente formada pelo ambiente em que o indivíduo se encontra por acaso

durante o seu desenvolvimento, pela estrutura da sociedade em que cresce, pela

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tradição dessa sociedade, e pela apreciação que faz de determinados tipos de

comportamento. O conceito abstracto de «sociedade» significa para o ser humano

individual as soma total das suas relações directas e indirectas com os seus

contemporâneos e com todas as pessoas de gerações anteriores. O indivíduo é capaz

de pensar, sentir, lutar e trabalhar sozinho, mas depende tanto da sociedade – na

sua existência física, intelectual e emocional – que é impossível pensar nele, ou

compreendê-lo, fora do quadro da sociedade. É a «sociedade» que lhe fornece

comida, roupa, casa, instrumentos de trabalho, a linguagem, formas de pensamento

e a maior parte do conteúdo do pensamento; a sua vida foi tornada possível pelo

labor e realizações de muitos milhões de indivíduos no passado e no presente, que

se escondem sob a pequena palavra «sociedade».

É evidente, por conseguinte, que a dependência do indivíduo em relação à

sociedade é um facto natural que não pode ser abolido – tal como no caso das

formigas e das abelhas. No entanto, enquanto todo o processo de vida das formigas

e abelhas é estabelecido, nos mais ínfimos pormenores, por instintos hereditários

rígidos, o padrão social e o relacionamento dos seres humanos são muito variáveis e

susceptíveis de mudança. A memória, a capacidade de fazer novas combinações, o

dom da comunicação oral tornaram possíveis desenvolvimentos entre os seres

humanos que não são ditados por necessidades biológicas. Estes desenvolvimentos

manifestam-se nas tradições, instituições e organizações; na literatura; nas obras

científicas e de engenharia; nas obras de arte. Isto explica, num certo sentido, como

pode o homem influenciar a sua vida através da sua própria conduta e como, neste

processo, o pensamento e a vontade conscientes podem desempenhar um papel.

Através da hereditariedade, o homem adquire à nascença uma constituição

biológica que devemos considerar fixa ou inalterável, incluindo os desejos naturais

que são característicos da espécie humana. Além disso, durante a sua vida, adquire

uma constituição cultural que adopta da sociedade através da comunicação e

através de muitos outros tipos de influências. É esta constituição cultural que, no

decurso do tempo, está sujeita à mudança e que determina, em larga medida, a

relação entre o indivíduo e a sociedade. A antropologia moderna ensina-nos,

através da investigação comparativa das chamadas culturas primitivas, que o

comportamento social dos seres humanos pode apresentar grandes diferenças, em

função dos padrões culturais dominantes e dos tipos de organização que

predominam na sociedade. É nisto que podem assentar as suas esperanças aqueles

que se esforçam para melhorar a sorte do homem: os seres humanos não estão

condenados, por causa da sua constituição biológica, a aniquilarem-se uns aos

outros ou à mercê de um destino cruel auto-infligido.

Se nos interrogarmos sobre como deveria mudar a estrutura da sociedade e a

atitude cultural do homem para tornar a vida humana tão satisfatória quanto

possível, devemos estar permanentemente conscientes do facto de que há

determinadas condições que não podemos alterar. Como atrás mencionámos, a

natureza biológica do homem, para todos os fins práticos, não está sujeita à

mudança. Além disso, os desenvolvimentos tecnológicos e demográficos dos

últimos séculos criaram condições que se manterão. Em populações com uma

densidade relativamente elevada, que dispõem de bens indispensáveis à sua

existência, é absolutamente necessário haver uma divisão extrema do trabalho e um

aparelho produtivo altamente centralizado. O tempo em que os indivíduos ou

grupos relativamente pequenos podiam ser completamente auto-suficientes – que

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visto à distância parece tão idílico – pertence definitivamente ao passado. Não é

grande exagero dizer-se que a humanidade constitui já hoje uma comunidade

planetária de produção e consumo.

Chego agora ao ponto em que posso indicar sucintamente o que para mim

constitui a essência da crise do nosso tempo. Trata-se da relação do indivíduo com a

sociedade. O indivíduo tornou-se mais consciente que nunca da sua dependência

relativamente à sociedade. Mas não sente esta dependência como um bem positivo,

como um laço orgânico, como uma força protectora, mas antes como uma ameaça

aos seus direitos naturais, ou ainda à sua existência económica. Além disso, a sua

posição na sociedade é tal que os impulsos egoístas do seu ser estão constantemente

a ser acentuados, enquanto os seus impulsos sociais, que são por natureza mais

fracos, se deterioram progressivamente. Todos os seres humanos, seja qual for a

sua posição na sociedade, sofrem este processo de deterioração. Inconscientemente

prisioneiros do seu próprio egoísmo, sentem-se inseguros, sós, e privados do gozo

cândido, simples e não sofisticado da vida. O homem só pode encontrar sentido na

vida, curta e perigosa como é, através da sua devoção à sociedade.

A anarquia económica da sociedade capitalista, tal como existe actualmente, é,

na minha opinião, a verdadeira origem do mal. Vemos diante de nós uma enorme

comunidade de produtores cujos membros procuraram incessantemente despojar

cada qual dos frutos do seu trabalho colectivo – não pela força, mas, em geral, em

total conformidade com as regras legalmente estabelecidas. A este respeito, é

importante compreender que os meios de produção – ou seja, toda a capacidade

produtiva necessária para produzir bens de consumo, bem como novos bens de

capital – podem ser legalmente, e na sua maior parte são, propriedade privada de

indivíduos.

Para simplificar, no debate que se segue, chamarei «operários» a todos aqueles

que não partilham a posse dos meios de produção – embora isto não corresponda

exactamente à utilização habitual do termo. O detentor dos meios de produção está

em posição de comprar a força de trabalho do operário. Ao utilizar os meios de

produção, o operário produz novos bens que se tornam propriedade do capitalista.

O ponto essencial deste processo é a relação entre o que o trabalhador produz e o

que lhe é pago, ambos medidos em termos de valor real. Na medida em que o

contrato de trabalho é «livre», o que o trabalhador recebe é determinado não pelo

valor real dos bens que produz, mas pelas suas necessidades mínimas e pela

quantidade de força de trabalho de que o capitalista necessita em relação ao

número de operários que procuram emprego. É importante compreender que,

mesmo em teoria, o salário do operário não é determinado pelo valor do seu

produto.

O capital privado tende a concentrar-se em poucas mãos, em parte por causa da

concorrência entre os capitalistas e em parte porque o desenvolvimento tecnológico

e a crescente divisão do trabalho encorajam a formação de unidades de produção

maiores à custa de outras mais pequenas. O resultado destes desenvolvimentos é

uma oligarquia de capital privado cujo enorme poder não pode ser eficazmente

controlado mesmo por uma sociedade que tem uma organização política

democrática. Isto é verdade, uma vez que os membros dos órgãos legislativos são

escolhidos pelos partidos políticos, largamente financiados ou influenciados por

outras vias pelos capitalistas privados que, para todos os efeitos práticos, separam o

eleitorado da legislatura. A consequência é que os representantes do povo não

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protegem suficientemente os interesses das camadas desfavorecidas da população.

Além disso, nas condições existentes, os capitalistas privados controlam

inevitavelmente, directa ou indirectamente, as principais fontes de informação

(imprensa, rádio, educação). É assim extremamente difícil para o cidadão, e na

maior parte dos casos completamente impossível, chegar a conclusões objectivas e

fazer uso inteligente dos seus direitos políticos.

A situação que prevalece numa economia baseada na propriedade privada do

capital caracteriza-se por dois princípios centrais: primeiro, os meios de produção

(capital) são privados e os detentores utilizam-nos da forma que lhes convém;

segundo, o contrato de trabalho é livre. É claro que neste sentido não existe uma

sociedade capitalista pura. Deve-se notar, em particular, que, através de longas e

duras lutas políticas, os trabalhadores conseguiram obter para certas categorias

deles formas melhoradas de «contrato de trabalho livre». Mas, vista no seu

conjunto, a economia actual não difere muito do capitalismo «puro».

A produção realiza-se tendo em vista o lucro e não o uso. Não há nenhuma

garantia de que todos aqueles que tenham capacidade e queiram trabalhar possam

encontrar emprego; existe quase sempre um «exército de desempregados». O

operário receia constantemente perder o seu emprego. E dado que os

desempregados e os operários mal pagos consomem pouco, a produção de bens de

consumo é restringida, e a consequência são grandes privações. O progresso

tecnológico resulta frequentemente em mais desemprego em vez de um

aligeiramento da carga de trabalho para todos. O objectivo do lucro, em conjunto

com a concorrência entre capitalistas, é responsável por uma instabilidade na

acumulação e utilização do capital que conduz a depressões cada vez mais graves. A

concorrência sem limites conduz a um enorme desperdício do trabalho e ao

estropiamento da consciência social dos indivíduos que mencionei atrás.

Considero este estropiamento dos indivíduos como o pior mal do capitalismo.

Todo o nosso sistema educativo sofre deste mal. Uma atitude exageradamente

competitiva é incutida no aluno, que é educado para venerar o poder aquisitivo

como preparação para a sua futura carreira.

Estou convencido que só há uma forma de eliminar estes sérios males,

nomeadamente através do estabelecimento de uma economia socialista,

acompanhada por um sistema educativo orientado para objectivos sociais. Nesta

economia, os meios de produção são detidos pela própria sociedade e são utilizados

de forma planificada. Uma economia planificada, que ajuste a produção às

necessidades da comunidade, distribuiria o trabalho a ser feito entre aqueles que

podem trabalhar e garantiria o sustento a todos os homens, mulheres e crianças. A

educação do indivíduo, além de promover as suas próprias capacidades inatas,

procuraria desenvolver nele um sentido de responsabilidade pelo seu semelhante

em vez da glorificação do poder e do sucesso na nossa actual sociedade.

No entanto, é necessário lembrar que uma economia planificada não é ainda o

socialismo. Uma economia planificada pode ser acompanhada por uma completa

sujeição do indivíduo. A realização do socialismo exige a resolução de alguns

problemas políticos e sociais extremamente difíceis: como é possível, com uma

centralização em grande escala do poder económico e político, evitar que a

burocracia se torne omnipotente e arrogante? Como se pode proteger os direitos do

indivíduo e assegurar um contrapeso democrático ao poder da burocracia?

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A clareza sobre os objectivos e problemas do socialismo é da maior importância

na nossa época de transição. Visto que, nas actuais circunstâncias, a discussão livre

e sem entraves destes problemas constitui um tabu poderoso, considero a fundação

desta revista como um serviço público importante.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Das guerras do ópio às guerras do petróleo

por Domenico Losurdo


"A morte de Kadafi é uma viragem histórica", proclamam em coro os dirigentes da NATO e do Ocidente, sem se incomodarem sequer em guardar distâncias em relação ao bárbaro assassinato do líder líbio e das mentiras desavergonhadas que proferiram os chefes dos "rebeldes". Sim, efectivamente trata-se de uma viragem. Mas para entender o significado da guerra contra a Líbia no âmbito do colonialismo é preciso partir de longe...

Quando em 1840 os navios de guerra ingleses surgem diante das costas e das cidades chinesas, os agressores dispõem de um poder de fogo de milhares de canhões e podem semear destruição e morte em grande escala sem temer a artilharia inimiga, cujo alcance é muito reduzido. É o triunfo da política das canhoneiras: o grande país asiático e sua civilização milenar são obrigados a render-se e começa o que a historiografia chinesa denomina acertadamente como "o século das humilhações", que termina em 1949 com a chegada ao poder do Partido Comunista e de Mao Zedong.

Nos nossos dias, a chamada Revolution in Military Affairs (RMA) criou em muitos países do Terceiro Mundo uma situação parecida com a que a China enfrentou no seu tempo. Durante a guerra contra a Líbia de Kadafi, a NATO pôde consumar tranquilamente milhares de bombardeamentos e não só não sofreu baixas como sequer correu o risco de sofre-las. Neste sentido a força militar da NATO, mais do que um exército tradicional, parece-se a um pelotão de execução. Assim, a execução final de Kadafi, mais do que um facto causal ou acidental, revela o sentido profundo da operação em conjunto.

É algo palpável: a renovada desproporção tecnológica e militar reaviva as ambições e as tentações colonialistas de um Ocidente que, a julgar pela exaltada auto-consciência e falsa consciência que continua a ostentar, nega-se a saldar contas com a sua história. E não se trata só de aviões, navios de guerra e satélites. Ainda é mais clara a vantagem com que Washington e seus aliados podem contar em capacidade de bombardeamento mediático. Também nisto a "intervenção humanitária" contra a Líbia é um exemplo de manual: a guerra civil (desencadeada, entre outras coisas, graças ao trabalho prolongado de agentes e unidades militares ocidentais e no decorrer da qual os chamados "rebeldes" podiam dispor desde o princípio até de aviões) apresentou-se como uma matança perpetrada pelo poder contra uma população civil indefesa. Em contrapartida, os bombardeamentos da NATO que até o fim assolaram a Sirte assediada, faminta, sem água nem medicamentos, foram apresentados como operações humanitárias a favor da população civil da Líbia!


Hoje em dia este trabalho de manipulação, além de contar com os meios de informação tradicionais de informação e desinformação, vale-se de uma revolução tecnológica que completa a Revolution in Military Affairs. Como expliquei em intervenções e artigos anteriores, são autores e órgãos de imprensa ocidentais próximos ao Departamento de Estado os que celebram que o arsenal dos EUA se enriqueceu com novos e formidáveis instrumentos de guerra. São jornais ocidentais e de comprovada fé ocidental que contam, sem nenhum sentido crítico, que no decorrer das "guerras internet" a manipulação e a mentira, assim como a instigação à violência de minorias étnicas e religiosas, também mediante a manipulação e a mentira, estão na ordem do dia. É o que está a acontecer na Síria contra um grupo dirigente mais acossado do que nunca por haver resistido às pressões e intimidações ocidentais e se ter negado a capitular diante de Israel e a trair a resistência palestina.

Mas voltemos à primeira guerra do ópio, que termina em 1842 com o Tratado de Nanquim. É o primeiro dos "tratados desiguais", ou seja, imposto com as canhoneiras. No ano seguinte chega a vez dos Estados Unidos. Também envia canhoneiras para arrancar o mesmo resultado que a Grã-Bretanha e inclusive algo mais. O tratado de Wahghia (nas proximidades de Macau) de 1843 sanciona o privilégio da extraterritorialidade para os cidadãos estado-unidenses residentes na China: mesmo que cometam delitos comuns, subtraem-se à jurisdição chinesa. O privilégio da extraterritorialidade, evidentemente, não é recíproco, não vale para os cidadãos chineses residentes nos Estados Unidos. Uma coisa são os povos colonizados e outra muito diferente a raça dos senhores. Nos anos e décadas posteriores, o privilégio da extraterritorialidade amplia-se aos chineses que "dissidem" da religião e da cultura do seu país e convertem-se ao cristianismo (com o que teoricamente passam a ser cidadãos honorários da república norte-americana e do Ocidente em geral).

Também nos nossos dias o duplo critério da legalidade e da jurisdição é um elementos essencial do colonialismo: os "dissidentes", ou seja, os que se convertem à religião dos direitos humanos tal como é proclamada de Washington a Bruxelas, os Quisling potenciais ao serviço dos agressores, são galardoados com o prémio Nobel e outros prémios parecidos depois de o Ocidente ter desencadeado uma campanha desaforada para subtrair os premiados à jurisdição do seu país de residência, campanha reforçada com embargos e ameaça de embargo e de "intervenção humanitária".

O duplo critério da legalidade e da jurisdição alcança suas cotas mais altas com a intervenção do Tribunal Penal Internacional (TPI). Os cidadãos estado-unidenses e os soldados e mercenários de faixas e estrelas espalhados por todo o mundo ficam e devem ficar fora da sua jurisdição. Recentemente a imprensa internacional revelou que os Estados Unidos estão dispostos a vetar a admissão da Palestina na ONU, entre outras coisas, para impedir que a Palestina possa denunciar Israel perante o TPI: seja como for, na prática quando não na teoria, deve ficar claro para todo o mundo que só os povos colonizados podem ser processados e condenados. A sequência temporal é em si mesma eloquente. 1999: apesar de não haver obtido autorização da ONU, a NATO começa a bombardear a Jugoslávia; pouco depois, sem perda de tempo, o TPI tratar de incriminar não os agressores e responsáveis da ruptura da ordem jurídica internacional estabelecida após a II Guerra Mundial e sim Milosevic. 2011: violentando o mandato da ONU, longe de se preocupar com o destino dos civis, a NATO recorre a todos os meios para impor a mudança de regime e ganhar o controle da Líbia. Seguindo uma pauta já ensaiada, o TPI trata de incriminar Kadafi. O chamado Tribunal Penal Internacional é uma espécie de apêndice judicial do pelotão de execução da NATO. Poder-se-ia dizer inclusive que os magistrados de Haia são como padres que, sem perder tempo a consolar a vítima, esmeram-se directamente em legitimar e consagrar o verdugo.

Uma última observação. Com a guerra contra a Líbia, perfilou-se numa nova divisão do trabalho no âmbito do imperialismo. As grandes potências coloniais tradicionais, como a Inglaterra e a França, valendo-se do decisivo apoio político e militar de Washington, centram-se no Médio Oriente e na África, ao passo que os Estados Unidos deslocam cada vez mais seu dispositivo militar para a Ásia. E assim voltamos à China. Depois de haver deixado para trás o século de humilhações que começou com as guerras do ópio, os dirigentes comunistas sabem que seria insensato e criminoso faltar pela segunda vez ao encontro com a revolução tecnológica e militar: enquanto liberta centenas de milhões de chineses da miséria e da fome a que os havia condenado o colonialismo, o poderoso desenvolvimento económico do grande país asiático é também uma medida de defesa contra a agressividade permanente do imperialismo. Aqueles que, inclusive na "esquerda", se põem a reboque de Washington e Bruxelas na tarefa de difamação sistemática dos dirigentes chineses demonstram que não se preocupam nem com a melhoria das condições de vida das massas populares nem com a causa da paz e da democracia nas relações internacionais.

23/Outubro/2011

O original em italiano : http://www.domenicolosurdo.blogspot.com/



Artigo em francês : Des guerres de l’opium aux guerres du pétrole



Este artigo traduzido em português encontra-se em http://resistir.info/





Domenico Losurdo is a frequent contributor to Global Research. Global Research Articles by Domenico Losurdo

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Neo-liberalismo

O estado capitalista em tempos de globalização
António Avelãs Nunes*


1. – Sob a inspiração do neoliberalismo, uma onda privatizadora varreu a Europa e o mundo, desencadeada, fundamentalmente, por razões ideológicas. Privatizou-se tudo, incluindo setores ligados à produção e à distribuição de bens e serviços essenciais à vida das pessoas (até a água!). Estas mudanças vieram levantar novas questões, obrigando a reequacionar o papel do estado capitalista nas condições entretanto criadas. Os mais moderados (ou realistas) logo se aperceberam de que as privatizações arrastavam consigo a necessidade de salvaguardar determinados interesses públicos, impondo um conjunto de obrigações de serviço público às empresas privadas que forneçam „serviços públicos‟ (a garantia da sua qualidade, universalidade, segurança, continuidade e acessibilidade ao conjunto da população, com base num „preço razoável‟). Assim começou a ganhar corpo a noção de “economia de mercado regulada” (ou “economia social de mercado”), sobre a qual se construiu o conceito de estado regulador: em nome das virtudes da concorrência e do primado da concorrência, „liberta-se‟ o estado das suas competências e das suas responsabilidades enquanto estado económico e esvazia-se o conteúdo do estado social, o estado responsável pela prestação de serviços públicos. 2. – Este o quadro em que surgiu, a partir dos anos 80 do século XX, o novo figurino do estado capitalista, o estado regulador. A defesa da concorrência é entregue a agências (ou autoridades) de defesa da concorrência; a regulação setorial dos vários mercados regulados é confiada a agências reguladoras. No âmbito da CEE/UE, a entrega das funções referidas a entidades reguladoras independentes decorre, em grande medida, do quadro legal comunitário e da atuação da Comissão Europeia. Os Tratados não proibem a presença de empresas públicas nos vários setores de atividade económica. Mas as empresas públicas são obrigadas a atuar de acordo com a lógica das empresas privadas e ficam sujeitas à sacrossanta concorrência livre e não falseada. Isto significa que, mesmo na área dos serviços públicos, não pode haver setores reservados às empresas públicas.


1 Retoma-se a problemática abordada, com maior desenvolvimento, num livro editado pelas Edições Avante! em 2010: As Voltas que o Mundo Dá – Reflexões a Propósito das Aventuras e Desventuras do Estado Social, posteriormente editado, com algumas alterações, em 2011, no Rio de Janeiro, pela Editora Lumen Juris.

2

Imposta pelas instituições comunitárias, a liberalização do mercado dos serviços públicos traduziu-se claramente, segundo a lógica do mercado e da concorrência, na desregulação desses setores. A pressão resultante das necessidades decorrentes do mercado interno único acabou por conduzir à privatização das empresas públicas produtoras e distribuidoras de serviços públicos, servindo a regulação de capa protetora deste recuo histórico.

Os defensores do estado regulador esforçam-se por dar a entender que ele não abandonou inteiramente a sua veste de estado intervencionista, invocando que o seu propósito é exatamente o de condicionar ou balizar a atuação dos agentes económicos, em nome da necessidade de salvaguardar o interesse público.

Afirmando que não é conveniente deixar o mercado entregue a si próprio, proclamam a necessidade de o estado definir o estatuto jurídico do mercado e sustentam que esta responsabilidade pública de regular (ou responsabilidade pública de garantia) é, ainda, uma forma de intervenção do estado na economia, designada, por isso mesmo, economia de mercado regulada.

A regulação do mercado representaria, assim, o modo de o estado assegurar a realização do interesse público e o respeito da ordem pública económica, apresentando-se o direito da regulação como a “disciplina jurídica do mercado e da economia, como o novo direito público da economia”. (Pedro Gonçalves)

3. – Não posso acompanhar esta operação redentora do estado regulador, este empenho em continuar a apresentá-lo como estado económico, com o objetivo de nos fazer crer que, graças a este estado regulador, os serviços públicos continuam na esfera da responsabilidade pública.

Filho das políticas que têm vindo a anular a responsabilidade do estado no terreno da economia e a esvaziar a sua capacidade de intervenção como operador nos setores estratégicos e na área dos serviços públicos, o estado regulador foi „inventado‟ justamente para encobrir as políticas que visam impedir o estado de assumir a sua tradicional responsabilidade no que toca à prestação de serviços públicos à margem do mercado. Não pode ser o contrário delas.

Por isso defendo que este estado regulador se apresenta, fundamentalmente, como estado liberal, visando, em última instância, assegurar o funcionamento de uma economia de mercado, sem epítetos, em que todos os setores de atividade ficam sujeitos às regras „sagradas‟ da concorrência e em que – afastada a intervenção do estado – o mercado regule tudo, incluindo a vida das pessoas.

3

A este propósito, importa esclarecer que a ideologia liberal dominante impôs desde muito cedo a ideia de que esta função de regulação, embora justificada pela necessidade de salvaguarda do interesse público, deveria ser prosseguida, não pelo estado enquanto tal, mas por agências (ou entidades, ou autoridades) reguladoras independentes.

Estas são uma invenção norte-americana (fortemente ativada no quadro do New Deal) e que chegou à Europa há pouco mais de trinta anos, através do Reino Unido. Com uma diferença. Nos EUA, desde finais do século XIX que a regulação interveio como uma forma de ampliar a intervenção do estado na economia. Ao invés, a sua presença na cena europeia significa um retrocesso relativamente à importância do papel do estado enquanto estado económico, em especial no que se refere à produção e prestação de serviços públicos.

A solução de substituir o estado por estas agências significa que o estado (o estado democrático), considerado incapaz de administrar o setor público da economia (incluindo a prestação de serviços públicos, com longa, profunda e positiva tradição na Europa), é também considerado incapaz de exercer bem esta função reguladora, que – dir-se-ia – não poderia deixar de constituir o „conteúdo mínimo‟ do „estado mínimo‟. Esta é uma solução que respeita o dogma liberal da separação entre o estado e a economia: o estado deve manter-se afastado da economia, porque a economia é a esfera privativa dos privados e o estado é uma pura instância política.

O que se pretende é subtrair à esfera da política (i.é, à competência dos órgãos políticos democraticamente legitimados) a ação destas entidades ditas independentes, alegando-se que só assim se consegue a sua neutralidade.

Segundo alguns, esta neutralidade exigiria mesmo que o estado abrisse mão da titularidade ou da participação no capital de qualquer empresa. Só assim – invocam os mais radicais – o estado pode ser, como regulador, um árbitro neutral, estatuto incompatível com uma situação em que o estado seja simultaneamente regulador e regulado. Tal raciocínio „esquece‟, por conveniência, que este foi um dos argumentos invocados, em momento anterior, para justificar que não fosse o estado, enquanto tal, a exercer a função reguladora, devendo esta ser confiada a agências independentes do estado.

4. – Esta ideia de subtrair a administração à ação da política é justificada com o „argumento‟ de que as funções das entidades reguladoras são funções meramente técnicas e não-políticas.

É por demais evidente que as autoridades reguladoras independentes vêm chamando a si parcelas importantes da soberania, sendo por demais evidente que essas agências exercem funções políticas e tomam decisões políticas, que afetam a vida, o bem-estar e os interesses de milhões de pessoas.

4

Mas os defensores do estado regulador insistem na nota de que as agências reguladoras independentes são organismos técnicos, politicamente neutros, acima do estado, pondo em relevo que “o seu ethos radica na neutralidade da actuação sobre o mercado através da promoção da eficiência”. (Susana TAVARES DA SILVA) Todo este esforço visa justificar o facto de elas não prestarem contas perante nenhuma entidade legitimada democraticamente nem perante o povo soberano. E só pode entender-se pela consciência que todos temos – mesmo os defensores do estado regulador – de que a prestação de contas é a pedra de toque da democracia. Sem ela, temos a morte da política. E temos uma ameaça à democracia, tal como a entendemos.

Por isso contesto a legitimidade deste poder tecnocrático e defendo que as suas funções deveriam ser confiadas a entidades legitimadas democraticamente e politicamente responsáveis. A política não pode ser substituída pelo mercado, nem o estado democrático pode ser substituído por um qualquer estado oligárquico-tecnocrático, em nome da velha ideia liberal de que a democracia se esgota na liberdade individual e de que a liberdade só é garantida pelo mercado e só se realiza no mercado.

Aqui radica, na minha ótica, a verdadeira questão colocada pelo estado regulador. Ele traz consigo a substituição do estado democrático por um estado tecnocrático, que se pretende fazer passar por um estado neutro (acima das classes), „governado‟ por pessoas competentes, que não pensam em outra coisa que não seja o interesse público.

Só que tal „estado‟ tem um pecado original: não é um estado democrático e é mais permeável à influência dos grandes interesses privados do que o estado democrático, pela simples mas decisiva razão de que as entidades em que assenta esse tal estado tecnocrático não prestam contas a ninguém nem respondem politicamente pela sua ação.

(excerto. Ver texto completo in O Diário on-line)
*Professor de economia da U. de Coimbra

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Documentos históricos

Documentos


www.hist-socialismo.net

Tradução do castelhano e edição por CN, 03.04.2012

(http://www.nuovopci.it/arcspip/article62f3.html)

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Contribuição para o balanço da experiência

dos países socialistas (1)

Rapporti Sociali

n.ºs 6/7, Janeiro de 1990

Quais são os ensinamentos da experiência dos países socialistas desde a revolução de

Outubro até hoje?

Uma vez conquistado o poder político, arrebatado o poder às velhas classes

dominantes, destruído o velho Estado e criado em seu lugar um novo, as massas

proletárias e populares, sob a direcção do Partido Comunista e das organizações de

massas, começam a transformar as relações de produção com a ajuda do novo Estado.

A conquista do poder por parte do proletariado e a eliminação das velhas instituições

burguesas não levam por si próprias à instauração de novas relações de produção, nem

estas novas relações de produção surgem imediatamente, nem são ordenamentos

legislativos instaurados mediante uma decisão estatal.2 Em consequência, por si próprios

não determinam a extinção do Estado, mas instauram um novo Estado que, dado o papel

que a nova classe dominante (a classe operária) assume na sociedade, traz consigo os

gérmenes da sua extinção gradual.3

1 Este artigo, não assinado, foi publicado pela primeira vez na revista italiana Rapporti Sociali

n.ºs 6/7, de Janeiro de 1990. (N. Ed.)

2 Só a fantasia evasiva dos processos, de que dão mostras Antonio Negri, Rossana

Rossanda e outros cantores da «maturidade do comunismo», podia dar à luz a ideia das novas

relações de produção como um ordenamento da sociedade já preparado e que só a resistência

da burguesia impede de o pôr em prática. [Negri, Antonio (1933), filósofo e político marxista

italiano, é apontado como o ideólogo das Brigadas Vermelhas, tendo sido preso na sequência do

atentado contra Aldo Moro, em 1978. Sai da prisão em 1983, ao ser eleito deputado pelo Partido

Radical. Foge depois para França e só regressa a Itália em 1997, obtendo a libertação definitiva

em 2003. Rossanda, Rossana (1924), comunista italiana desde a juventude, participou no

movimento de resistência antifascista, tornando-se responsável pela política cultural do PCI. É

eleita deputada em 1963, assumindo nos anos 60 concepções anti-soviéticas. Em 1969 é

expulsa do partido, fundando depois o diário il Manifesto, que se torna também num partido

político. (N. Ed.)]

3 Quando os marxistas falam em extinção do Estado não o entendem como o

desaparecimento de organismos nos quais se forma a vontade colectiva dos membros da

sociedade e que permitem a sua realização. Os burgueses e os seus agentes procuram

apresentar o Estado actual como um organismo desse tipo (como porta-voz e executor da

vontade da sociedade). Nesse sentido, desfiguram a consigna dos comunistas, convertendo-a

numa palavra vazia de significado. Com efeito, é evidente que, na sociedade socialista e

comunista, deverão existir e existirão organismos em que essa vontade colectiva se expressa na

prática; isto será absolutamente necessário ao papel que assumirá finalmente o colectivo no que

2

Após a instauração do seu próprio poder político, do seu próprio Estado, o

proletariado enfrenta a tarefa de superar as relações capitalistas de produção.4

Assim, por conseguinte, o proletariado enfrenta a tarefa de criar instituições sociais

adequadas às forças produtivas que têm já um carácter social, de desenvolver as forças

produtivas que são ainda predominantemente privadas e de criar os instrumentos para a

gestão do processo produtivo por parte dos trabalhadores associados em função das suas

necessidades.

Além disso, após a revolução, com a destruição do poder político dos capitalistas e a

abolição da propriedade capitalista das forças produtivas, as contradições próprias das

relações de produção, que devem ser transformadas, não desaparecem por si próprias

imediatamente, como tão pouco desaparecem a velha ideologia e as velhas chagas sociais

provocadas pela burguesia. De igual modo, não desaparecem imediatamente as ideias

retrógradas, os limites sociais, culturais, económicos, ou de qualquer outro tipo,

existentes num país que acaba de se libertar.

As formas transitórias que as relações de produção e as instituições sociais assumem

durante a transição da relação de capital para o comunismo são variadas e determinadas

em concreto (não escolhidas arbitrariamente). Por outro lado, estão submetidas à

verificação prática e à passagem para formas superiores, dentro de um processo que,

para além dos contributos dos impulsos subjectivos e da dialéctica vanguarda-massas,

está necessariamente ligado ao processo de superação do trabalho necessário.

Além disso, existem duas premissas indispensáveis à sociedade comunista: a

abundância de bens materiais e a transformação dos indivíduos em todos os aspectos,

morais, culturais, etc. São duas condições que se devem perseguir em simultâneo durante

a fase de transição do capitalismo para o comunismo.

Esta fase que separa a sociedade capitalista da sociedade comunista é a fase de

construção do socialismo. Uma fase de transição durante a qual se criam as premissas

para alcançar o comunismo. Uma fase em que há avanços e retrocessos, dentro da

tendência geral, histórica, que é o avanço para o comunismo.

O socialismo não é, pois, um novo modo de produção, mas uma fase histórica de

transição do modo de produção capitalista para o comunismo, como deixou claro Marx,

na Crítica ao Programa de Gotha.5 Um país socialista é um país onde os indivíduos estão

ainda divididos em classes e existe luta de classes, onde a relação de capital ainda não

desapareceu, mas apenas foi abolida essencialmente a propriedade privada capitalista

das forças produtivas. Um país onde o poder político (o Estado) está nas mãos de uma

classe que luta para superar a relação de capital e para se transformar a si própria e toda

a humanidade, nas mãos de indivíduos capazes de dominar as condições da sua própria

reprodução e as suas próprias relações. Estas exigências realizam-se através de

respeita à actividade produtiva de cada membro da sociedade. Isto de acordo, naturalmente,

com as exigências colocadas pelo processo de produção e reprodução das condições materiais

de existência, tal como no capitalismo desenvolvido. Os marxistas falam de extinção do Estado

no sentido da extinção do que é sobretudo o Estado nas sociedades divididas em classes

antagónicas: monopólio da violência organizada, mediante o qual a classe dominante impõe a

sua lei às outras classes, apresentando-a ou não como emanada da vontade geral. Para quem

compreende esta essência do Estado, é óbvio que a sua extinção vai de par com o

desaparecimento da divisão da sociedade em classes antagónicas.

4 Ou seja, o domínio do trabalho morto sobre o trabalho vivo, a relação em que o trabalho

passado subordina a si próprio e absorve o trabalho vivo para se multiplicar, o papel de

vendedores de força de trabalho ao qual a sociedade burguesa vincula os trabalhadores.

5 Marx e Engels, Obras Escolhidas em três tomos, ed. Avante!, Lisboa, 1982, t. III, pp. 5-30. (N. Ed.)

3

organizações, instituições, práticas e costumes de milhões de indivíduos. Um país

socialista é um país cujas instituições sociais personificam, dão vontade, consciência e

voz à força motriz da superação da relação de capital; é um país em que a força do Estado

e do poder, em geral, está dirigida para facilitar o crescimento e a generalização desses

germens de comunismo de que Lénine falava na sua análise sobre o significado dos

sábados comunistas.6

Uma vez conquistado o poder, o proletariado toma rapidamente algumas medidas que

encaminham o processo de transição ou que permitem o seu desenvolvimento.

Seguidamente trata-se de ver se as medidas, que se tomam pouco a pouco, e se a situação

criada continuam a ser úteis à transição.

O proletariado exerce o poder político não por definição. O proletariado só exerce o

poder político:

1. Se o movimento proletário, as organizações do proletariado estão presentes no lugar

onde se estabelece a linha que guia a acção dos organismos de Estado;

2. Se as pessoas que compõem os organismos estatais estão em ligação constante com

o proletariado;

3. Se a linha que guia a acção dos órgãos do Estado representa na prática os interesses

históricos do proletariado;

4. Se é promovida a participação das massas no exercício do poder político (o que é

algo mais do que a participação no debate político e o conhecimento das questões

políticas), com a consequente e gradual difusão das funções políticas e a correspondente

extinção do Estado, enquanto corpo separado que tem o monopólio da repressão.

Um dos aspectos que diferencia a sociedade socialista da capitalista é a propriedade

dos meios de produção. Abolir a propriedade privada capitalista dos meios de produção,

torná-la propriedade de uma organização social (na URSS essa organização era tanto o

Estado federal, como os Estados republicanos e os sovietes locais) é um passo necessário,

embora não seja exclusivo.7 Todavia, uma vez abolida a propriedade privada capitalista

dos meios de produção, ainda fica a faltar levar a cabo uma participação efectiva dos

trabalhadores no seu governo, uma colaboração efectiva de cada unidade produtiva com

as demais unidades produtivas e uma orientação efectiva das actividades de cada unidade

produtiva, visando a satisfação de determinadas necessidades da sociedade.

A subordinação das actividades económicas das unidades produtivas a um único plano

válido para toda a sociedade é uma característica necessária da sociedade socialista. No

entanto, se se torna regra que as unidades produtivas e os indivíduos se subtraem a um

plano deste género com subterfúgios, incumprimentos e excepções, desenvolvendo

actividades alheias às planificadas, é evidente que tal plano só existirá no papel, ou, pelo

menos, haverá uma contradição entre o plano e a actividade económica real. Não

devemos confundir a elaboração e aprovação de um plano económico com o facto de a

actividade económica dos indivíduos e das unidades produtivas estar em conformidade

com ele: são duas coisas distintas.

6 Sobre as formas transitórias das relações de produção e das correspondentes instituições

da sociedade ver Lénine: Uma Grande Iniciativa (1919) [V.I. Lénine, Obras Escolhidas em três

tomos, Ed. Avante!, t. III pp. 139-160. (N. Ed.)] e «Relatório sobre os Sábados Comunistas na

Conferência da Cidade de Moscovo do PCR(b) (1919) [Obras Escolhidas em seis tomos, Ed.

Avante!, t. V, pp. 14-19. (N. Ed.)]

7 Com efeito, não é uma medida exclusiva: também a propriedade cooperativa, isto é, a

propriedade de um grupo de trabalhadores, foi em todos os países socialistas a forma de

organização da actividade económica de sectores produtivos inteiros, nos quais as forças

produtivas tinham uma carácter social limitado.

4

Perante

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Aquecimento Global: Uma Abordagem Alternativa

by Francisco Roland Di Biase

Global Research, April 9, 2012


A mudança climática existe e sempre existiu. O planeta não é estático, é um sistema dinâmico. A grande discussão, como argumentei no artigo “Mudança Climática Existe, Só Não É Causada Pelo Homem”[1], é se atualmente a mudança climática é causada pelo homem, devido ao aumento da concentração de CO2 na atmosfera, ou se é um fenômeno natural. De qualquer forma, qualquer que seja a causa, precisamos entender o fenômeno e enfrentá-lo de forma lógica, pensando em quais soluções assegurarão um melhor futuro para o planeta e consequentemente à humanidade.



Um dos grandes problemas quando se fala em diminuir os efeitos das mudanças climáticas é que a grande maioria das pessoas olha o problema pelo ângulo errado e consequentemente soluções equivocadas são apresentadas. E isso é resultado de como a mídia trata o problema, sempre de forma sensacionalista focando as catástrofes, o chamado terrorismo midiático. O resultado é medo e histeria, nublando a cabeça das pessoas, impossibilitando um pensamento claro da situação.





Um bom exemplo desse comportamento é a frase de efeito que apareceu no trailer do filme “Uma Verdade Inconveniente”: De longe, o filme mais assustador que você jamais verá[2]. E isso não é o pior porque por volta de 2min e 22seg aparece uma explosão nuclear, dá para acreditar? Vejam o vídeo no You Tube[2] e confiram. Mas esse tipo de estratégia não é exclusividade de ninguém, é só assistirmos o vídeo de abertura da conferência climática da ONU, COP15 sediada em Copenhagen em 2009[3] que temos outro exemplo.





Não podemos esquecer que o objetivo não é reduzir os gases do efeito estufa por si só, mas melhorar a qualidade de vida da humanidade e o ambiente.





No filme “Uma Verdade Inconveniente”[4], Al Gore afirma que o nível dos oceanos vai aumentar 6 metros até 2100 devido aos efeitos do aquecimento global e apresenta uma projeção de computador onde uma parte considerável de Manhattan (Nova York) e outros locais no mundo ficarão debaixo d’água. Mas o próprio relatório do IPCC[5], que ele usa como uma de suas fontes, diz que o nível dos oceanos vai aumentar cerca de 30 centímetros (na pior das hipóteses 59 centímetros) até 2100 e não 6 metros.


E qual a melhor forma de lidar com esse problema? É só olharmos para os últimos 150 anos onde o nível dos oceanos subiu cerca de 30 centímetros e não foi uma catástrofe. Claro que convenientemente os principais meios de comunicação não se importaram em nos dizer. A humanidade se adaptou a essa mudança e o melhor exemplo é a Holanda que tem uma parte considerável de seu território abaixo do nível do mar e para lidar com a situação construiu vários e imensos diques evitando a inundação.





Outro “fato” que Al Gore nos mostra é que devido ao aquecimento global cidades que foram construídas acima da linha de mosquitos vão começar a ter problemas com doenças como malária que tem o mosquito como agente transmissor. E esse exemplo é interessante porque ele fala especificamente que isso está ocorrendo em Nairóbi. O fato é: Nairóbi tem problema devido à malária? Sim, sem dúvida. É devido ao aquecimento global? Não, definitivamente não. O Professor Paul Reiter[6] do Instituto Pasteur em Paris, nos lembra, que a malária já era um grande problema na época da fundação de Nairóbi em 1899 e também que é uma doença relacionada muito mais fortemente com a pobreza extrema do que o calor[7]. Aqui no Brasil sabemos muito bem disso porque convivemos com a malária, principalmente no norte do país onde temos temperaturas muito elevadas, mas a doença não atinge proporções epidémicas como em certos locais da África, ela está sob controle. Também não podemos esquecer que mosquitos não são exclusivos de regiões quentes, hoje em dia qualquer um que já assistiu algum programa na televisão sobre o ártico sabe que lá também tem muitos mosquitos. Então a melhor forma de combatermos esse problema é usar o dinheiro para diminuir a pobreza, principalmente com a construção de redes de saneamento básico e água potável.

A questão dos ursos polares. Quem não fica comovido com a animação mostrada em “Uma Verdade Inconveniente” de um urso polar nadando no meio do oceano sem nenhum sinal de terra ou gelo. Praticamente ninguém é contra a ideia de salvar os ursos polares, principalmente entre crianças. É um tema que ecoa profundamente nelas e em menor grau nos adultos. Mas resolveram omitir que ursos polares são exímios nadadores, eles podem nadar até 100 quilômetros por dia. E também que sua população está em crescimento. Em 1960 estimava-se que existiam 5 mil indivíduos, hoje estima-se que sejam 22 mil. E mais uma vez somos conduzidos a olhar o “problema” pelo ângulo errado. Se o Protocolo de Kioto fosse completamente implementado (todos os países do mundo assinassem e respeitassem) salvaríamos 1 urso por ano. Sabemos que o homem mata entre 300 a 500 ursos polares por ano então se realmente queremos ajudá-los a melhor forma não é cortando emissões de CO2, mas parando de atirar neles.[7]

Outro argumento muito usado é que o aumento da temperatura causará mais ondas de calor e consequentemente mais mortes. Mas o que deixam de falar é que em contrapartida várias pessoas deixarão de morrer de frio no inverno. Estima-se que até 2100, 400 mil pessoas a mais morreriam devido ao calor, mas em compensação 1.8 milhão não morreriam de frio.[7] Não podemos esquecer também do efeito da ilha de calor urbana. As grandes cidades do mundo colapsaram por causa dele? Não, elas se adaptaram. Não acho que o aumento do calor nos centros urbanos seja bom, mas 1 ou 2 graus a mais não causará o fim do mundo.

Também vemos muitas reportagens da destruição devastadora que os furacões estão causando hoje em dia. E tudo isso por que o aumento da temperatura dos oceanos fará surgir mais furacões e mais fortes. Apesar desse argumente ser questionável, não existe nenhum estudo científico que prove isso, se realmente for verdade a maior destruição, hoje, no litoral não é porque os furacões são mais fortes ou em maior quantidade, mas porque existem mais pessoas e construções nessas áreas de risco do que há 50 anos. É obvio que os danos causados por um furacão que passe em um local desses hoje serão muito maiores que se o mesmo furacão passasse no mesmo local 50 anos atrás.


Freeman Dyson, um dos mais renomados físicos vivos, disse que “‘Uma Verdade Inconveniente’ é uma grande obra de propaganda” e argumenta que os esforços políticos para reduzir as causas da mudança climática distraem as pessoas de outros problemas globais que deveriam ter prioridade.[7] Ele diz: “Não estou dizendo que o aquecimento não causa problemas, óbvio que causa. Obviamente, devemos tentar compreendê-lo. Eu estou dizendo que os problemas estão sendo grosseiramente exagerados. Eles tiram dinheiro e atenção de outros problemas que são muito mais urgentes e importantes. Pobreza, doenças infecciosas, educação pública e saúde pública. Sem mencionar a preservação de seres vivos na terra e nos oceanos.”[8]



Apesar de toda a discussão em cima do uso dos combustíveis fósseis a verdade é que só vamos parar de usá-los quando outras formas de energia forem tão baratas quanto ele. Por isso, um ponto chave, é que as soluções propostas precisam ser de tal forma a tornar isso uma realidade. Precisamos fazer com que seja mais barato não emitir CO2 do que emitir.





As soluções propostas atualmente de cortar emissões de CO2 vão custar caro e os efeitos práticos serão mínimos. Só para termos uma ideia de números vejamos o Protocolo de Kioto. Se tivesse sido cumprido, reduzir as emissões de CO2 para níveis abaixo dos de 1990 até 2012, teria custado 180 bilhões de dólares por ano e a redução na temperatura teria sido de 0.005°C em 2100.[7] Fica claro que ele é mais simbólico do que qualquer outa coisa. Outro exemplo é a proposta da União Europeia de cortar 20% das emissões de CO2 até 2020 incentivando as energias renováveis. Isso teria um custo de 250 bilhões por ano e a redução da temperatura seria de 0.5°C em 2100.[7]





Com essa quantidade de dinheiro de que estamos falando com certeza existem outras alternativas que podemos implementar com o foco de fazer a emissão de CO2 ser economicamente mais cara.





Um bom lugar para colocar parte desse dinheiro é na energia das ondas, uma área que os principais meios midiáticos praticamente ignoram e a tecnologia existe desde a década de 1970. A crise do petróleo do início dos anos 1970 fez o governo da Inglaterra investir em formas alternativas de energia. E uma das ideias que receberam financiamento era a do Professor Stephen Salter[9] da Universidade de Edimburgo. Ele inventou o chamado Salter’s Duck[7] (Pato de Salter), um dispositivo que converte a energia das ondas em eletricidade através da rotação de giroscópios localizados internamente. Ele inclusive criou vários protótipos e conseguiu uma eficiência de cerca de 90%. Mas como sabemos muitas vezes as coisas não fazem sentido, o programa das energias alternativas era operado pela Agência de Energia Atômica do Reino Unido (United Kingdom Atomic Energy Authority), e como foi antes dos acidentes de Three Mile Island e Chernobyl, a prioridade e o dinheiro, claro, foi para a energia atômica.





Outro dispositivo com o potencial de beneficiar enormemente a humanidade que merece mais atenção e aumento de investimentos é a Célula Fotoeletroquímica.[10] Muitas vezes chamada de fotossíntese artificial, porque gera hidrogênio a partir de luz e água. Basicamente é uma placa feita de um material especial, geralmente semicondutores, colocada dentro de um recipiente com água. E quando a luz, solar ou não, incide em cima da placa, começa a conversão da água em oxigênio e hidrogênio. O problema é conseguir fabricar essas placas com baixo custo ou encontrar materiais mais baratos para fabricá-la.





Outro boa ideia pode ser os chamados reatores nucleares de 4ª geração (como base de comparação o reator de Angra 3 é de 2ª geração). Com essa tecnologia, que só existe no papel por falta de investimentos, poderemos resolver dois problemas de uma só vez. O problema de gerar energia sem queimar combustíveis fósseis, óbvio e do lixo nuclear. Isso porque esses reatores poderão usar o próprio lixo nuclear, que acumulamos durante anos das usinas antigas, como combustível, diminuindo sua meia-vida para 20 anos (plutônio por exemplo tem meia vida de 24,200 anos) e assim depois de 100-150 anos a radioatividade será mínima.[7]





Essa forma de encarar o problema do aquecimento global está sendo proposta há alguns anos por algumas pessoas como Bjorn Lomborg que muitas vezes são ridicularizadas pela mídia. Ele foi o idealizador do Copenhagen Consensus em 2004, quando era diretor do Environmental Assessment Institute (Instituto de Avaliação Ambiental) da Dinamarca. O Copenhagen Consensus nasceu como uma conferência focada em priorizar os problemas mundiais e encontrar as melhores soluções disponíveis baseadas na análise custo-benefício. Na sua primeira conferência realizada, o painel de especialistas reuniu oito renomados economistas, incluindo quatro Prêmios Nobel.[11] Eles criaram uma lista com os principais problemas globais; doenças, subnutrição e água potável estavam no topo enquanto mudança climática acabou no final. Em 2006 foi criado o Copenhagen Consensus Center[12], tendo como diretor o próprio Bjorn Lomborg, sob os auspícios da Copenhagen Business School. O centro é um think tank com ênfase nas mesmas ideias da conferência: focar menos no que é “tecnicamente possível” e mais no que é realisticamente factível, ou seja, nós poderíamos parar de emitir CO2 agora, mas o impacto para as nações em desenvolvimento seria desastroso.





Como Lomborg diz: “Nós estamos amedrontando as crianças com exageros – elas acreditam que não terão um futuro e que o mundo vai acabar”. E ainda que “precisamos exigir que a mídia pare de assustar nossas crianças e à nós. Precisamos de um diálogo mais racional, mais construtivo e menos assustador.” [13]







Referências:





[1] Mudança Climática Existe, Só Não É Causada Pelo Homem por Francisco Roland Di Biase, Global Research.

http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=22061





[2] Trailer do filme “Uma Verdade Inconveniente”

http://www.youtube.com/watch?v=OAK8Cd4t0WA





[3] Vídeo de abertura da conferência climática da ONU COP15 sediada em Copenhagen em 2009:

http://www.youtube.com/watch?v=7Yl4PRZbbjs



[4] Uma Verdade Inconveniente de Davis Guggenheim

http://www.imdb.com/title/tt0497116/





[5] Relatórios do IPCC

http://www.ipcc.ch/ipccreports/tar/vol4/english/index.htm





[6] Paul Reiter – Wikipedia

http://en.wikipedia.org/wiki/Paul_Reiter





[7] Cool It (2010) do diretor Ondi Timoner com Bjorn Lomborg, baseado no livro de Bjorn Lomborg de mesmo nome.

http://www.imdb.com/title/tt1694015/





[8] Wikipedia - Freeman Dyson

http://en.wikipedia.org/wiki/Freeman_Dyson





[9] Wikipedia – Stephen Salter

http://en.wikipedia.org/wiki/Stephen_Salter





[10] Wikipedia – Photoelectrochemical cell

http://en.wikipedia.org/wiki/Photoelectrochemical_cell





[11] Lista de participantes do Copenhagen Consensus de 2004

http://www.copenhagenconsensus.com/Default.aspx?ID=1376





[12] Copenhagen Consensus Center

http://www.copenhagenconsensus.com/





[13] Scared silly over climate change por Björn Lomborg no The Guardian

http://www.guardian.co.uk/commentisfree/cif-green/2009/jun/15/climate-change-children







segunda-feira, 7 de maio de 2012

Quem foi Osama? Quem é Obama?


by Michel Chossudovsky


Global Research, May 7, 2012






Enquanto o presidente e supremo comandante dos Estados Unidos da América, Barack Hussein Obama "celebra" o primeiro aniversário da alegada morte de bin Laden, mantém-se inalterada a questão de fundo de QUEM FOI OSAMA BIN LADEN. ( Remarks by President Obama in Address to the Nation from Bagram Air Base, Afghanistan , ver vídeo no fim do artigo)



Cheio de mentiras e invenções, o discurso cuidadosamente elaborado do presidente Obama encerra um mundo de total fantasia, em que os "maus da fita" estão à espreita e "conspiram actos de terrorismo". Entretanto, diz-se que os "jihadistas" estão a ameaçar a civilização ocidental.



Cada uma de todas as afirmações do discurso de 1º de Maio de Obama na base da Força Aérea de Bagram, relativas ao papel da Al Qaeda, é uma invenção: (abaixo damos excertos das Notas de Obama em itálico, os comentários do autor estão indicados entre parênteses rectos [ ]):



Foi aqui, no Afeganistão, que Osama bin Laden instalou um porto seguro para a sua organização terrorista.

[ Osama foi recrutado pela CIA , a Al Qaeda foi montada com o apoio da CIA. O porto seguro de Osama foi protegido pelos serviços secretos dos EUA].



Foi para aqui, no Afeganistão, que a al Qaeda trouxe novos recrutas, os treinou e congeminou actos de terrorismo.

[Os Mujahideen foram recrutados e treinados pela CIA. A Arábia Saudita, aliada da América, financiou as escolas corânicas Wahabbi, Ronald Reagan elogiou os Mujahideen como "Combatentes pela Liberdade". Sem o público americano saber, os EUA divulgaram os ensinamentos da jihad islâmica em manuais "Made in America", elaborados na Universidade de Nebraska ].



Foi aqui, a partir destas fronteiras, que a Al Qaeda lançou os ataques que mataram aproximadamente 3000 homens, mulheres e crianças inocentes.

[Obama refere-se aos ataques do 11/Set. Até hoje não há provas de que a Al Qaeda tenha estado envolvida nisso. Além disso, como confirmado pela CBS News, a 10 de Setembro de 2001, Osama bin Laden deu entrada num hospital militar paquistanês em Rawalpindi por especial favor do Paquistão, aliado da América . Terá coordenado os ataques de 11/Set a partir da sua cama no hospital?]



E assim faz agora 10 anos, os Estados Unidos e os nossos aliados entraram em guerra para garantir que a al Qaeda nunca mais poderia usar este país para lançar os seus ataques contra nós.

[Os ataques do 11/Set foram a justificação para a guerra no Afeganistão, com base na "auto defesa". Dizia-se que o Afeganistão abrigava a Al Qaeda e portanto era cúmplice num descarado acto de guerra contra os EUA.



A verdade é que o governo dos talibãs por duas vezes nas semanas que se seguiram ao 11/Ser ofereceram-se (através dos canais diplomáticos) para entregar Osama bin Laden ao sistema judicial dos EU. O presidente George W. Bush recusou a oferta do governo talibã, alegando que a América "não negoceia com terroristas".



A NATO entrou em guerra invocando o Artigo Cinco do Tratado de Washington: um acto de guerra contra um membro da NATO é considerado um acto de guerra contra todos os membros da NATO ao abrigo da doutrina da segurança colectiva].



Apesar do êxito inicial, por uma série de razões, esta guerra demorou mais do que o inicialmente previsto. Em 2002, bin Laden e os seus lugares-tenentes escaparam pela fronteira e estabeleceram um porto seguro no Paquistão. A América passou quase oito anos a travar uma outra guerra no Iraque. E os aliados extremistas da al Qaeda no seio dos talibãs travaram uma brutal insurreição.

[O paradeiro de Osama bin Laden foi sempre bem conhecido dos serviços secretos dos EUA. O presidente Obama transmite a ilusão de que as forças dos EUA-NATO e os seus operacionais de informações não conseguiam encontrar bin Laden. Nas palavras do antigo secretário da Defesa, Donald Rumsfeld (2002), "é como procurar uma agulha num palheiro".



O presidente Obama também sugere que os operacionais do Al Qaeda, equipados com mísseis Stinger e Kalashnikovs, tinham conseguido superar a máquina militar de muitos milhões de milhões de dólares dos EUA-NATO].



Mas nos últimos três anos, a maré mudou. Quebrámos a dinâmica dos talibãs. Montámos fortes forças de segurança afegãs. Destruímos a liderança da al Qaeda, eliminando 20 dos seus 30 líderes de topo. E há um ano, a partir duma base aqui no Afeganistão, as nossas tropas lançaram a operação que matou Osama bin Laden.

[Muito se tem escrito sobre esta questão. Não há provas quanto à identidade da pessoa que foi alegadamente morta pelas Forças Especiais SEAL. Nas palavras de Paul Craig Roberts, "A história do governo dos EUA sobre bin Laden foi tão mal cozinhada que não demorou 48 horas a ser alterada profundamente…" ]



A meta que estabeleci – derrotar a al Qaeda e impedir qualquer hipótese de ela se reconstituir – está agora ao nosso alcance.

[Há muitos indícios de que a Al Qaeda, enquanto "trunfo secreto" patrocinado pelos EUA está "viva e a mexer-se". Desde 11 /Set, a Al Qaeda evoluiu para uma entidade multinacional com "filiais" em diversos lugares quentes geopolíticos por todo o mundo.



Na Líbia e na Síria, brigadas da Al Qaeda são os soldados de infantaria da aliança militar EUA-NATO.



Onde quer que o aparelho militar e de informações dos EUA esteja instalado, a Al Qaeda está presente:



A Al Qaeda no Iraque, a Al Qaeda na Península Arábica (AQAP), o Grupo de Combate Islâmico da Líbia (GCIL), o Al Shaabab (Somália), a Al Qaeda no Magreb Islâmico, o Jaish-e-Mohammed (JEM) (Exército de Maomé) (Paquistão), a organização Jemaah Islamiya (JI) (Indonésia), o Movimento Islâmico do Uzbequistão, etc. (Ver Organizações Terroristas Estrangeiras do Departamento de Estado dos EUA, Conselho de Segurança das Nações Unidas, Lista de indivíduos, grupos, empresas e outras entidades associadas com a Lista de Sanções Al-Qaida ).



Ironicamente, em todos estes países, os serviços de informações dos EUA coordenam abertamente as actividades dos grupos filiados da Al Qaeda. Oficialmente, o contraterrorismo consiste em combater a jihad islâmica. Não oficialmente, por meio de operações secretas, os serviços secretos ocidentais apoiam os seus "trunfos" incluindo entidades terroristas da lista do Departamento de Estado dos EUA .



Além disso, estas diversas organizações terroristas estão hoje a ser usadas em operações militares secretas EUA-NATO contra países soberanos (por ex: Líbia e Síria). Segundo fontes dos serviços de informações israelenses:



"Entretanto, na sede da NATO em Bruxelas e no supremo comando turco estão a ser traçados planos para o seu primeiro passo militar na Síria, que é armar os rebeldes com armas para combater os tanques e os helicópteros com a intenção de dissolver o contestado regime de Assad. Em vez de repetir o modelo líbio de ataques aéreos, os estrategas da NATO estão a pensar mais em termos de injectar grandes quantidades de foguetões anti-tanques e anti-aéreos e metralhadoras pesadas nos centros de protesto para vencer as forças blindadas do governo". (DEBKAfile, NATO vai fornecer aos rebeldes armas anti-tanque, 14/Agosto/2011)]

Quem é ou era Osama?



Um "trunfo dos serviços secretos", nomeadamente um instrumento da CIA para justificar a "Guerra Global contra o Terrorismo".



Vale a pena recordar que a 14 de Setembro de 2001, tanto a Câmara como o Senado adoptaram a resolução histórica que autorizou o presidente a "perseguir" países que " ajudaram os ataques terroristas [de 11/Set]".





O presidente está autorizado a usar toda a força necessária e adequada contra as nações, organizações, ou pessoas que considerar que planearam, autorizaram, praticaram, ou ajudaram os ataques terroristas que ocorreram a 11 de Setembro de 2011, ou albergaram essas organizações ou pessoas, a fim de impedir quaisquer actos futuros de terrorismo internacional contra os Estados Unidos por essas nações, organizações ou pessoas.



Actualmente, em 2012, há amplos indícios de que:



1) A Al Qaeda não esteve por detrás dos ataques do 11/Set ao World Trade Centro e ao Pentágono.



2) Também há indícios pormenorizados de que organismos do governo dos EU e da NATO continuam a apoiar e a "albergar essas organizações" [a Al Qaeda e suas organizações afiliadas]. Na Líbia, os rebeldes "pró-democracia" foram liderados por brigadas paramilitares da Al Qaeda sob a supervisão das Forças Especiais da NATO. A "Libertação" de Tripoli foi levada a efeito por "antigos" membros do Grupo de Combate Islâmico da Líbia (GCIL). Os jihadistas e a NATO trabalharam de mãos dadas. Essas "antigas" brigadas afiliadas da Al Qaeda constituem a espinha dorsal da rebelião "pró-democracia ".



3) Há indícios crescentes de que as torres do WRC foram deitadas abaixo através de demolição controlada, levantando a hipótese de cumplicidade e encobrimento no seio do governo dos EU, dos serviços secretos e militares. (Ver os escritos de Richard Gage, Undisputed Facts Point to the Controlled Demolition of WTC 7 , Global Research, Março 2008. Ver também o vídeo, Richard Gage Controlled Demolitions Caused the Collapse of the World Trade Center (WTC) buildings on September 11, 2001, Global Research)



Quem é Obama?



Um mentiroso político e um criminoso de guerra.



Os discursos escritos de Obama são distorções descaradas. As realidades são viradas de pernas para o ar. Os actos de guerra são apregoados como operações de paz…



Ironicamente, o texto da resolução do Congresso de 14 de Setembro de 2001 (ver acima) não exclui acção judicial e investigação criminal dirigida contra patrocinadores dos EUA-NATO de terrorismo internacional, incluindo o presidente Obama, que utilizaram os trágicos acontecimentos do 11/Set como pretexto para travar uma "guerra sem fronteiras" ao abrigo da bandeira humanitária da "Guerra Global contra o Terrorismo".


2/Maio/2012





sexta-feira, 4 de maio de 2012

ESTA Reflexão poderá ser escrita hoje, amanhã ou qualquer outro dia sem risco de equívoco. Nossa espécie se defronta com problemas novos. Quando expressei há 20 anos, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, que uma espécie estava em perigo de extinção, tinha menos razões do que hoje para advertir sobre um perigo que via talvez à distância de 100 anos.




Então uns poucos líderes dos países mais poderosos dirigiam o mundo. Aplaudiram por mera cortesia minhas palavras e continuaram placidamente cavando a sepultura de nossa espécie.



Parecia que em nosso planeta reinava o senso comum e a ordem. Há tempos que o desenvolvimento econômico apoiado pela tecnologia e a ciência parecia ser o Alfa e o Ômega da sociedade humana.



Agora tudo está muito mais claro. Verdades profundas foram abrindo caminho. Quase 200 Estados, supostamente independentes, constituem a organização política à qual teoricamente corresponde a tarefa de reger os destinos do mundo.



Cerca de 25 mil armas nucleares em mãos de forças aliadas ou antagônicas dispostas a defender a ordem em mutação, por interesse ou por necessidade, reduzem virtualmente a zero os direitos de bilhões de pessoas.

Não cometerei a ingenuidade de atribuir à Rússia ou à China a responsabilidade pelo desenvolvimento desse tipo de armas, depois da monstruosa matança de Hiroshima e Nagasaki, ordenada por Truman, após a morte de Roosevelt.



Tampouco cairia no erro de negar o holocausto que significou a morte de milhões de crianças e adultos, homens e mulheres, principalmente judeus, ciganos, russos e de outras nacionalidades, que foram vítimas do nazismo. Por isso, repugna a política infame dos que negam ao povo palestino seu direito a existir.



Alguém pensa por acaso que os Estados Unidos serão capazes de atuarem com a independência que o preserve do desastre inevitável que os espera?



Em poucas semanas os US$ 40 milhões que o presidente Obama prometeu arrecadar para sua campanha eleitoral só servirão para demonstrar que a moeda de seu país está muito desvalorizada e que os Estados Unidos, con sua insólita e crescente dívida pública que se aproxima dos US$ 20 trilhões, vivem do dinheiro que imprimem e não do que produzem. O resto do mundo paga o que eles dilapidam.



Ninguém crê tampouco que o candidato democrata seja melhor ou pior que seus adversários republicanos: chame-se Mitt Romney ou Rick Santorum. Anos-luz separam os três de personagens tão relevantes como Abraham Lincoln ou Martin Luther King. É realmente inusitado observar uma nação tão poderosa tecnologicamente e um governo ao mesmo tempo tão órfão de ideias e valores morais.



O Irã não possui armas nucleares. Acusa-se o país de produzir urânio enriquecido que serve como combustível energético ou componente de uso médico. Queira-se ou não, sua posse ou produção não é equivalente à produção de armas nucleares. Dezenas de países utilizam o urânio enriquecido como fonte de energia, mas este não pode ser empregado na confecção de uma arma nuclear sem um processo prévio e complexo de purificação.



Contudo, Israel, que com a ajuda e a cooperação dos Estados Unidos fabricou o armamento nuclear sem informar nem prestar contas a ninguém, até hoje sem reconhecer a posse destas armas, dispõe de centenas delas. Para impedir o desenvolvimento das pesquisas em países árabes vizinhos, atacou e destruiu os reatores do Iraque e da Síria. E declarou o propósito de atacar e destruir os centros de produção de combustível nuclear do Irã.



Em torno desse crucial tema tem girado a política internacional nessa complexa e perigosa região do mundo, onde se produz e fornece a maior parte do combustível que move a economia mundial.



A eliminação seletiva dos cientistas mais eminentes do Irã, por parte de Israel e de seus aliados da Otan, se converteu em uma prática que estimula os ódios e os sentimentos de vingança.



O governo de Israel declarou abertamente seu propósito de atacar a usina produtora de urânio enriquecido no Irã, e o governo dos Estados Unidos investiu centenas de milhões de dólares na fabricação de uma bomba com esse propósito.



Em 16 de março de 2012 Michel Chossudovsky e Finian Cunningham publicaram um artigo revelando que "um importante general da Força Aérea dos EUA descreveu a maior bomba convencional - a antibunkers de 13,6 toneladas - como 'grandiosa' para um ataque militar contra o Irã".



"Um comentário tão loquaz sobre um artefato assassino em massa teve lugar na mesma semana na qual o presidente Barack Obama se apresentou para advertir contra a 'fala leviana' sobre uma guerra no Golfo Pérsico."



"...Herbert Carlisle, vice-chefe do Estado Maior para operações da Força Aérea dos EUA. [...] agregou que provavelmente a bomba seria utilizada em qualquer ataque contra o Irã ordenado por Washington."



"O MOP, ao qual também se referem como 'a mãe de todas as bombas', está projetado para perfurar através de 60 metros de concreto antes de detonar sua bomba. Acredita-se que é a maior arma convencional, não nuclear, no arsenal estadunidense."



"O Pentágono planifica um processo de ampla destruição da infraestrutura do Irã e massivas vítimas civis mediante o uso combinado de bombas nucleares táticas e monstruosas bombas convencionais com nuvens em forma de cogumelo, incluídas a MOAB e a maior GBU-57A/B ou Massive Ordenance Penetrator (MOP), que excede a MOAB em capacidade de destruição."



"A MOP é descrita como 'uma poderosa nova bomba que aponta diretamente para as instalações nucleares subterrâneas do Irã e Coreia do Norte. A imensa bomba - maior do que que 11 pessoas colocadas ombro a ombro, ou mais de 6 metros desde a base até a ponta."



Peço ao leitor que me desculpe por esta complicada linguagem do jargão militar.



Como se pode verificar, tais cálculos partem do pressuposto de que os combatentes iranianos, que totalizam milhões de homens e mulheres conhecidos por seu fervor religioso e suas tradições de luta, se renderão sem disparar um só tiro.



Em dias recentes os iranianos viram como os soldados dos Estados Unidos que ocupam o Afeganistão, em apenas três semanas, urinaram sobre os cadáveres de afegãos assassinados, queimaram os livros do Corão e assassinaram mais de 15 cidadãos indefesos.



Imaginemos as forças dos Estados Unidos lançando monstruosas bombas sobre instituições industriais capazes de penetrar 60 metros de concreto. Jamais semelhante aventura tinha sido concebida.



Não é preciso uma palavra mais para compreender a gravidade de semelhante política. Por esse caminho nossa espécie será conduzida inexoravelmente para o desastre. Se não aprendemos a compreender, não aprenderemos jamais a sobreviver.



De minha parte, não abrigo a menor dúvida de que os Estados Unidos estão a ponto de cometer e conduzir o mundo ao maior erro de sua história.

Fidel Castro











O que eles dizem...

Europa tem que tomar mais medidas para vencer crise


por LusaOntem



A diluição da soberania orçamental, a partilha parcial de responsabilidades da dívida pública e o aprofundamento dos mecanismos de supervisão e intervenção paneuropeia são alguns dos passos que a Fitch considera que a Europa deve dar para sair da crise.



"A Fitch acredita que serão necessárias medidas adicionais para resolver a crise" na Europa, lê-se num relatório hoje divulgado pela agência de notação financeira norte-americana.



"Estas novas medidas poderão incluir a diluição da soberania orçamental dos países da zona euro, a potencial partilha parcial de responsabilidades da dívida pública e dos recursos, bem como medidas para impulsionar os instrumentos paneuropeus de supervisão e intervenção financeira, combinadas com mais reformas institucionais para fortalecer a governação económica da zona euro", consideram os especialistas da Fitch.



Segundo a agência de 'rating', é de esperar que a zona euro "inverta a ordem da crise e sobreviva intacta, enquanto prossegue o ajustamento económico combinado com passos graduais no sentido da integração económica e orçamental".



Porém, alerta para "o risco de desfechos alternativos que, apesar de ser pequeno, está a crescer e não pode ser ignorado até que uma recuperação económica de base alargada esteja em curso".



A recuperação é o cenário central da Fitch, mas a entidade avançou hoje com cinco cenários alternativos "estilizados e puramente ilustrativos" sobre o futuro da zona euro.



Estes cenários, por ordem de possibilidade de se virem a concretizar, são a saída da Grécia da União Económica e Monetária (EMU, na sigla em inglês), uma semi-união orçamental, o euro-marco (com a Alemanha e outros pesos pesados a deixarem a moeda única, com os países menos influentes a permanecerem), os Estados Unidos da Europa e a rutura completa.

O que eles dizem...à Europa. Isto é, ao capital financeiro europeu. Conselhos de comadres. Na crise que provocaram os seus interesses não são idênticos.

terça-feira, 1 de maio de 2012

1º DE MAIO


1.º de Maio - Dia do Trabalhador



Todos os anos, no dia 1 de Maio, comemora-se, em todo o mundo, o Dia do Trabalhador.





As origens do Dia do Trabalhador não são muito recentes. A história deste dia começa no séc. XIX.





Nessa época, abusava-se muito dos trabalhadores, porque chegavam a trabalhar entre 12 e 18 horas por dia, o que era muito cansativo e até prejudicial à saúde!





Já há algum tempo que os reformadores sociais (aqueles que propunham reformas, ou seja, mudanças na sociedade) defendiam que o ideal era dividir o dia em três períodos: 8 horas para trabalhar, 8 horas para dormir e 8 horas para o resto, o que incluía a diversão.





Foi com o objectivo de lutar pelas 8 horas de trabalho diárias que, no dia 1 de Maio de 1886, milhares de trabalhadores de Chicago (EUA) se juntaram nas ruas para protestar contra as suas más condições de trabalho.





A manifestação devia ter sido pacífica, mas as forças policiais tentaram pará-la, o que resultou em feridos e mortos.





Este acontecimento ficou conhecido como "os Mártires de Chicago", por causa das pessoas que foram feridas e mortas só por estarem a lutar pelos seus direitos.





Quatro dias depois, houve uma nova manifestação pela redução do horário de trabalho e melhores condições.





Mais uma vez, a polícia virou-se contra os manifestantes e acabou por prender 8 pessoas, 5 das quais foram condenadas à forca!





Como o povo estava cada vez mais revoltado, estas condenações só serviram para "deitar mais achas na fogueira" e despertar a atenção de todo o mundo.





Em 1888, dois anos depois destes acontecimentos, os presos foram libertados por um júri que reconheceu que os trabalhadores estavam inocentes.





Em 1889, o Congresso Internacional em Paris decidiu que o dia 1 de Maio passaria a ser o Dia do Trabalhador, em homenagem aos "mártires de Chicago".





Só em 1890, os trabalhadores americanos conseguiram alcançar a sua meta das 8 horas de trabalho diárias!





Em Portugal, devido ao facto de ter havido uma ditadura durante muito tempo, só a partir de Maio de 1974 (o ano da revolução do 25 de Abril) é que se passou a comemorar publicamente o Primeiro de Maio.





Sabias que só a partir de Maio de 1996 é que os trabalhadores portugueses passaram a trabalhar 8 horas por dia?









 

Viagem à Polónia

Viagem à Polónia
Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

Viagem à Polónia

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Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.