Translate
segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
Documentos sobre a História
Pelo Socialismo
Questões político-ideológicas com atualidade
http://www.pelosocialismo.net
_____________________________________
Publicado em: http://www.hist-socialismo.com/docs/Porque_se_desmoronou_a_RDA.pdf
Tradução do alemão por PG, revisão e edição por CN, 16.10.2012
Colocado em linha em: 2012/11/04
Porque se desmoronou a RDA?1
Kurt Gossweiler
1993
No dia 7 de Outubro deste ano a RDA teria feito 44 anos.
No dia 3 de Outubro deste ano [1993], os actuais vencedores da História festejaram o 3.º aniversário da vitoriosa anexação da RDA, chamada «adesão».
Por esta razão houve, nos media, comentários dos vencedores e dos vencidos sobre a queda da RDA.
Porém, os comentários que mais me irritaram não foram os dos triunfantes vencedores, mas sim os de membros do meu partido, o PDS, como o seguinte:
Reiner Oschmann: «O socialismo ferrugento, apoiado por nós, nem era defensável, nem valia a pena ser defendido.»2
Para me recompor deste género de declarações de concordância com a derrota, desenterrei um velho artigo escrito por Clodomiro Almeyda, presidente do Partido Socialista do Chile, que procurou e encontrou asilo na RDA, fugindo ao fascismo de Pinochet, sobre o dia da introdução do DM,3 em 2 de Julho de 1990, na então ainda formalmente existente RDA:
«Na noite de 1 para 2 de Julho morreu de facto a República Democrática Alemã. (…) Para nós, chilenos, que vivemos muitos anos na RDA, onde fomos recebidos com hospitalidade generosa e solidária, desapareceu nesta noite a nossa segunda Pátria, foi-nos retirado algo que amávamos e que já fazia parte de nós. Desapareceu uma sociedade que – não obstante as suas deformações, deficiências e fraquezas, que conhecíamos e lamentávamos – na sua essência era uma sociedade democrática e que aspirava à igualdade.»4
Definido o tema – Porque se desmoronou a RDA? –, quero colocar a questão desde o início: Estará o fim da RDA, na verdade, correctamente caracterizado com o termo «colapso»?
1 Contribuição, até agora não publicada, para a homenagem ao 65.º aniversário de Dieter Frielinghaus, em 14 de Novembro de 1993. [In: K. Gossweiler, Contra o Revisionismo, Verlag zur Förderung der wissenschaftlichen Weltanschauung, Munique. 2.ª ed., 2004, pp. 387-398. (N.T.)]
2 Neues Deustchland, Editorial, 7.10.1993.
3 Deutsche Mark, moeda da RFA. (N.T.)
4 UZ, jornal do DKP (Partido Comunista Alemão), Essen, 28.9.1990.
2
Hanfried Müller, teólogo marxista cultíssimo e editor da revista Weißenseer Blätter, conhecida muito para além de Berlim-Brandeburgo e talvez até famosa, publicou aí há algum tempo um artigo intitulado: «Colapso, contra-revolução ou ambos?», o qual foi também publicado no Neues Deutschland, numa versão reduzida.5
Aí diz: «A palavra “colapso” desperta, em primeiro lugar, o pensamento para razões internas: o colapso de um inválido ou a implosão de um edifício caindo sobre si próprio. Se alguém for assassinado, não se fala de um “colapso”.
Diferentemente da palavra “colapso”, a palavra “contra-revolução” contém a ideia de luta e inimigo, sim, de luta de classes e inimigo de classe (…)
Se alguém é derrotado numa contra-revolução, não encontra justamente a própria culpa no facto de ter exercido o poder, mas sim em o ter perdido.»
E H.M. responde assim à sua pergunta do título: «Trata-se manifestamente de ambos: o socialismo sucumbiu numa contra-revolução.»
Considero esta resposta correcta, apesar de provocar, talvez, protestos e levantar a questão: Onde estava então a contra-revolução?
Mas se queremos manter a interrogação, então temos de perguntar: Porque não resistiu a RDA à contra-revolução?
Contudo, na minha opinião, esta especificação ainda não é suficiente.
Afinal a RDA, desde o primeiro dia da sua existência, esteve sempre sob o fogo do inimigo de classe imperialista, esteve sempre exposta às investidas da contra-revolução e, na verdade, muito mais fortes e claras do que em 1989 – sem sucumbir.
É preciso então perguntar ainda com maior precisão: Porque não continuou a resistir à contra-revolução, depois de 40 anos de luta de defesa bem sucedida?
Os ataques da contra-revolução tornaram-se muito mais fortes – ou a força interna de resistência afrouxou demasiadamente? Ou aconteceram ambas as coisas?
Neste ponto, alguém atento poderia objectar: mas sem a protecção da União Soviética e do seu exército, a RDA nunca podia ter resistido à pressão económica e militar da superior RFA.
Isto é naturalmente correcto. Mais ainda, é não só válido para a RDA como para todos os Estados europeus socialistas do CAME.6 A objecção aponta para o facto muito importante e decisivo de que é impossível analisar o desenvolvimento de cada país socialista só pelo seu desenvolvimento interno, pelas suas próprias relações económicas e políticas.
Não foi só a RDA que se desmoronou, foi também a Polónia socialista, a Hungria socialista, a Checoslováquia socialista, etc. e principalmente a União Soviética socialista, a muralha de defesa de todos estes países.
Com isto deve também ser claro que a pergunta – Porque sucumbiu a RDA? – tem de ser alargada para a questão: Porque sucumbiu o socialismo na Europa e na União Soviética?
Porque venceu a contra-revolução em todos os países socialistas europeus?
5 Weißenseer Blätter 4/1992; Neues Deutschlan de 26/27.9.1992.
6 Conselho de Assistência Mútua Económica. (N. Ed.)
3
O colapso da RDA não é um acontecimento singular, mas sim um aspecto de um acontecimento colectivo e só pode ser compreendido e explicado enquanto tal.
Vejamos alguns chavões dos anticomunistas de todos os matizes, nomeadamente: o sistema económico socialista é incapaz de funcionar e sobreviver porque se baseia na eliminação da regulação através do mercado, e o sistema político do socialismo, o stalinismo – porque é uma ditadura criminosa, uma burocracia ossificada – não podia terminar de outra forma sem ser na catástrofe.
Estes chavões anticomunistas foram assumidos durante muito tempo pelo movimento comunista como declarações indiscutivelmente correctas, porque aparentemente eram confirmados pelo colapso do socialismo europeu.
Um breve olhar sobre os destinos do movimento comunista deverá revelar a insustentabilidade de uma tal opinião primitiva e simplista.
Nós, comunistas da geração mais velha, sabemos por testemunho próprio que o caminho do movimento comunista se ergueu de profundas derrotas e cruéis perseguições às alturas das maiores vitórias históricas; os comunistas de todas as gerações hoje vivas sofreram conjuntamente a experiência dolorosa da queda profunda da altura da vitória, supostamente já impossível de anular, numa nova derrota inaudita. A frase de Karl Liebknecht, «Nós comunistas estamos habituados a ser lançados do cume para as profundezas,7 ganhou uma nova actualidade, em que custa a acreditar.
A vitória da Revolução de Outubro na Rússia marcou indelevelmente o século XX. No centro dos acontecimentos históricos deste século esteve, desde 1917, a luta entre capitalismo e socialismo e esta luta – contrariamente às aparências e à opinião dos desalentados – não está de forma nenhuma terminada.
A Alemanha pertence aos países em que as irradiações da vitória de Outubro mais se fizeram sentir. Rosa Luxemburgo exprimiu este facto assim: «Nunca nos devemos esquecer, quando vêm com as difamações contra os bolcheviques russos, de lhes responder: onde aprendestes o ABC da vossa revolução de hoje? Fostes buscá-lo aos russos: aos sovietes de operários e soldados!»8
A ideia do socialismo tinha penetrado tão fortemente nas mentes e nos corações dos trabalhadores na Alemanha, que, em 1919-20, até a burguesia alemã se muniu com uma falsificação socialista chamada «Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães» (NSDAP), criação de todas as forças anti-socialistas e contra-revolucionárias alemãs.
A irradiação da atracção da construção do socialismo na União Soviética foi especialmente forte nos anos da crise económica mundial, que foram simultaneamente anos do êxito, considerado impossível, do primeiro plano quinquenal na União Soviética.
Num livro publicado em 1931, com o título O Fim do Capitalismo, de Ferdinand Fried, um autor burguês, afirma-se que é necessário também na Alemanha passar da economia não planificada para a planificada já que: «A Rússia [com o plano quinquenal] passa por uma época de enormes investimentos, enquanto as fábricas
7 Karl Liebknecht, Discursos Escolhidos, Cartas e Artigos, Berlim, 1952, p. 530.
8 Rosa Luxemburgo, Eu fui, Eu sou, Eu serei!, Berlim, 1958, p. 105.
4
do resto do mundo se degradam por falta de actividade e o trigo tem de servir de combustível.»9
No jornal social-democrata Vorwärts, de 23 de Outubro de 1932, podia ler-se sob o título «Objectivo e caminho do socialismo»: «O mais valioso da experiência russa é a comprovada possibilidade de execução da economia planificada.»
Dois meses antes, em 28 de Agosto de 1932, um tal J. P. Mayer escrevia no mesmo jornal: «A longo prazo não há nenhum meio capitalista para dominar a crise. O movimento socialista entra assim no estádio da realização. O socialismo torna-se na questão de maior importância do presente, uma ordem actual de vida.»
A convicção da superioridade do socialismo em construção na União Soviética perante o capitalismo abalado pela crise era tão forte no movimento organizado do operariado alemão que até o chefe social-democrata de direita teve de a levar em conta numa campanha de massas designada «Socialismo é Tarefa do Presente!» – mas naturalmente não de forma séria.
E então quando, entre 1941 e 1945, a União Soviética e o seu Exército Vermelho deram provas de ser a força mais poderosa da coligação anti-Hitler, desferindo perante os olhos de um mundo espantado golpes decisivos sobre o inimigo fascista da humanidade – e isto depois de pesadas derrotas iniciais – aí, nenhum outro país ou povo do planeta desfrutava de maior simpatia junto das pessoas simples que o país e o povo soviéticos. Mesmo Churchill usou o entusiasmo das pessoas pela União Soviética e os seus dirigentes para aumentar a sua própria popularidade, chamando Stáline de seu amigo – «my friend Joe».
Facto é que a história mundial não conhece um segundo exemplo de um Estado e de uma ordem social que tenha suportado tão longamente uma carga permanente e passado tão duro e inimaginável exame como a União Soviética até à vitória sobre o fascismo; mas também [não conhece] um segundo exemplo de realização tão triunfal do mais difícil exame.
Quem nessa época tivesse afirmado que este Estado e esta ordem social não podiam funcionar nem sobreviver seria olhado exactamente como alguém que afirmasse em dia luminoso que era noite profunda.
E depois também, durante uma série de décadas, o movimento comunista e os países socialistas mantiveram-se como uma força que, como nunca, deu um impulso aos movimentos de emancipação da humanidade; pense-se só no seu papel decisivo na destruição do vergonhoso sistema colonial ou na vitória do povo vietnamita sobre a mais forte potência imperialista, os EUA.
E depois – esta decadência aparentemente súbita, este fim inglório!
Esta profunda queda do cume atingido em 1945 até ao poço sem fundo dos últimos anos levanta questões inexplicáveis, perante as quais, em muitos lugares, surge um sentimento de impotência.
Mas a recordação de um outro exemplo de um colapso inesperado na história do movimento operário internacional e alemão, a recordação do colapso da II Internacional, talvez ajude a chegar mais próximo da solução do enigma.
O Partido Social-Democrata Alemão, partido dirigente da II Internacional, tinha-se batido admiravelmente contra a Lei Anti-Socialista10 de Bismarck e alcançado uma vitória brilhante sobre o «chanceler de ferro».
9 Ferdinand Fried, O Fim do Capitalismo, Jena, 1931, p. 260.
5
Logo em 1912, no seu Congresso em Basileia, a Internacional Socialista sublinhou a sua determinação de lutar contra a eclosão da iminente guerra imperialista e, caso ainda assim rebentasse, fazer tudo para a transformar em guerra civil.
Mas quando em 1914 a guerra imperialista se tornou um facto, todas as direcções dos partidos da Internacional – com a excepção dos bolcheviques e da esquerda búlgara (tesniaki)11 – passaram-se com armas e bagagens para o campo dos «defensores da pátria» e, juntamente com os imperialistas dos respectivos países, incitaram os proletários contra os das «potências inimigas».
O que em 1914 pareceu uma derrocada «súbita», foi o resultado final de uma longa e insidiosa decomposição dos partidos socialistas, que já Marx e Engels tinham combatido na sua famosa carta circular, de Setembro de 1879, dirigida a Bebel e Wilhelm Liebknecht e outros:
«Desde há quase 40 anos que pusemos em evidência a luta de classes como poder motor próximo da história e, especialmente, a luta de classes entre a burguesia e proletariado, como a grande alavanca do revolucionarismo social moderno; é impossível, portanto, acompanharmos com pessoas que querem riscar esta luta de classes do movimento.»12
Esta carta dirigia-se contra as tentativas de Eduard Bernstein, entre outros, de tornar o SPD aceitável para a burguesia liberal, através da substituição do postulado da luta de classes pela prédica da conciliação de classes, ou seja, através da revisão dos princípios ideológicos do partido.
Todos sabemos que foi o revisionismo que provocou a decomposição da II Internacional e que transformou a antiga social-democracia proletária e revolucionária no «partido burguês dos trabalhadores», no «partido só reformas» oportunista que, por fim, na Revolução de Novembro [1918], se confirmou como
10 A Lei Anti-Socialista foi aprovada no Parlamento alemão em 18 de Outubro de 1879, sob a vigência do chanceler imperial Otto von Bismarck. O diploma, oficialmente designado Lei Contra o Perigo Público das Tentativas Sociais-Democratas (Gesetz gegen die gemeingefährlichen Bestrebungen der Sozialdemokratie), proibiu todas as organizações socialistas e a sua imprensa, o que obrigou os militantes a trabalharem na clandestinidade. Na legalidade apenas se manteve a representação parlamentar social-democrata. Todavia, a interdição não impediu a crescente popularidade dos socialistas, que continuaram a eleger os seus candidatos como independentes. Foi neste período que Bismarck decidiu introduzir o seguro de saúde, o seguro de desemprego e o seguro de acidentes, procurando reconciliar os trabalhadores com o Estado e esvaziar os partidos operários. Apesar disso, em 1890, após a resignação do chanceler, o Partido Operário Socialista da Alemanha (SAPD) é legalizado e concorre às eleições com a designação de Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD). A Lei Anti-Socialista acabou por ser revogada e nos anos seguintes o SPD continuou a crescer até se tornar o maior partido do Reichstag em 1912. (N. Ed.)
11 Os «tesniaki» foram uma espécie de bolcheviques búlgaros que, tal como a fracção dirigida por Lénine, romperam a ala reformista do Partido Operário Social-Democrata Búlgaro, constituindo, em 1903, um novo partido que manteve o nome, acrescido entre parênteses das palavras «socialistas estritos» (тесни социалисти – tesni socialisti), donde o acrónimo de «tesniaki» (тесняки). (N. Ed.)
12 Karl Marx e Friedrich Engels, Obras Escolhidas em três tomos, ed. Avante!, Lisboa, 1985, tomo III, p. 103. (N. Ed.)
6
defesa da contra-revolução burguesa, carniceiro dos operários e soldados revolucionários, com um Noske13 como «cão de fila».
O revisionismo, cujo núcleo político-ideológico é a substituição da luta de classes pela conciliação de classes e a substituição do internacionalismo proletário pelo nacionalismo burguês, envenena e desagrega o movimento operário revolucionário, se não for expulso definitiva e atempadamente do seu seio.
Esta experiência conduziu os sociais-democratas revolucionários à cisão com a social-democracia oportunista, no final da I Guerra Mundial, e à fundação de partidos comunistas e da Internacional Comunista.
É natural questionar se o colapso do movimento comunista e dos Estados socialistas, 70 anos depois, não se baseia num desenvolvimento idêntico ao do colapso da II Internacional.
A tese da incapacidade funcional e de vida do socialismo pressupõe, não o declarando, que o sistema dominante na URSS ou o modelo de Socialismo de 1917 a 1990, do início ao fim, se manteve, no fundamental, igual.
Na verdade, a União Soviética de 1985 a 1990 tem tão pouco em comum com a de 1917 ou 1945, como o SPD da época de Marx e Engels com o SPD de Wels, Ebert e Scheidemann.
A perspectiva de Gorbatchov e Chevardnádze está tão longe da de Lénine como a perspectiva de Bernstein e Kaustky da de Marx e Engels.
Contudo, reconhecer isto logo em 1985 era muito difícil. Mas quando Chevardnádze e Gorbatchov declararam na ONU que entendiam a política da coexistência pacífica, não como uma forma particular da luta de classes, mas sim como «princípio universal das relações entre estados», e quando anunciaram que queriam «desideologizar as relações internacionais» (discurso de Chevardnádze na 43ª Assembleia da ONU, Setembro de 1988), já quase não era possível deixar de ver a passagem do marxismo-leninismo para o revisionismo conciliador de classes. A aprovação da Guerra do Golfo norte-americana foi só a consequência prática e a comprovação desta passagem.
Desde que o socialismo na União Soviética e ela própria foram liquidados, Gorbatchov e os seus pares deixaram de ter vergonha em mostrar a sua maneira de pensar anticomunista e em se congratularem com o seu papel activo na destruição do Poder soviético. Na sua famosa entrevista à Spiegel, Gorbatchov, sincero, declarou que as suas «simpatias políticas pertencem à social-democracia» e a um «estado social do género do da Alemanha Federal».14
Para completar, seja citada ainda aqui uma declaração de Willy Brandt a um seu amigo íntimo, em que transmitiu as suas impressões sobre uma conversa com Gorbatchov, depois de regressar de uma visita a Moscovo em Maio de 1985 (!): «Já vi muita coisa na minha vida», disse Brandt, «mas ainda não tinha visto um anticomunista na direcção do Krémlin».15 Repare-se na data – Maio de 1985 –, um
13 Gustav Noske (1868-1946). Entrou para o SPD em 1884. Deputado ao Reichstag de 1906 a 1918. Especialista em assuntos militares e coloniais. Teve um papel decisivo na repressão sangrenta da «Revolta dos Marinheiros» em Kiel, durante a Revolução de Novembro de 1918 e nas insurreições de Janeiro de 1919. (N.T.)
14 Spiegel 3/1993, p. 124.
15 L’Humanité de 10.10.1992
7
mês depois de Gorbatchov assumir o cargo de secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética!
Não será isto importante e elucidativo também para responder à pergunta «Quais as causas da destruição da RDA?»
Além disso, isto esclarece uma particularidade, de que raras pessoas desconfiaram, mesmo entre os comunistas, nomeadamente o facto de os cabecilhas das potências imperialistas, desde que Gorbatchov assumiu do cargo de secretário-geral, manifestarem uma estima invulgar, deixando transparecer uma preocupação suspeita sempre que a sua posição na direcção do Partido e do Estado parecia ameaçada. Ao mesmo tempo que prometia fingidamente ao seu povo e a nós comunistas de todo o mundo reconduzir de novo a União Soviética ao caminho leninista e arrancar a URSS da estagnação para a vanguarda da civilização, aos políticos imperialistas, Gorbatchov dizia a verdade sobre as suas opiniões e desígnios.
Nessa altura, em meados dos anos 80, admirei-me muito quando Willy Brandt, numa reunião da Internacional Socialista, de que era seu presidente, fez a observação, como se fosse evidente, de que no centro da política mundial já não estava o conflito Leste-Oeste, mas que em seu lugar apareceria o conflito Norte-Sul.
Hoje sei qual a origem da sua espantosa previsão. Com tais líderes como Gorbatchov na direcção do PCUS, os Bush, Thatcher, Kohl e Brandt estavam sempre mais bem informados sobre as intenções e próximos passos de Moscovo do que nós, o povo simples, enganado e atraiçoado, e do que aqueles líderes dos países socialistas que se mantiveram comunistas e procuraram combater as influências e tendências revisionistas que sopravam de Moscovo.
Portanto, quando nos questionamos sobre as causas do desmoronamento do socialismo, e com isso também da RDA, não podemos ignorar o facto de que, a partir de um determinado momento – o mais tardar em 1985 –, o comando do navio do socialismo na União Soviética já não estava nas mãos dos comunistas, mas tinha sido transferido para os anticomunistas.
Isto torna explicável muito do que de ininteligível aconteceu. Mas simultaneamente suscita uma nova questão não menos difícil de responder: como afinal foi possível uma tal transferência? Não posso aqui ocupar-me desta questão. Mas se nos lembrarmos das circunstâncias em que, na altura, foi possível e levada por diante a degeneração da social-democracia revolucionária num partido de trabalhadores burguês e oportunista, então isso pode ajudar-nos a colocar-nos no rasto das causas da degeneração do movimento comunista.
Hoje, como no passado, a ideologia da conciliação de classes é a ideologia de gente que não confia em que o movimento dos trabalhadores e o socialismo possam derrotar o capitalismo com as suas próprias forças, ou seja, consideram o capitalismo como a ordem social superior a longo prazo. A possibilidade da vitória do revisionismo num partido socialista ou mesmo comunista existe pelo menos enquanto o capitalismo for economicamente superior ao socialismo. Por isso, a luta implacável contra o revisionismo é uma condição fundamental para a resistência do socialismo contra um imperialismo superior economicamente. Lá onde esta luta é posta de lado, ou que seja apenas enfraquecida e conduzida inconsequentemente, o revisionismo obtém a possibilidade de conquistar o partido por dentro. Tal conquista significa que o partido comunista fica nas mãos de anticomunistas e é transformado num instrumento de descredibilização do partido e de
8
desmantelamento do socialismo. Foi exactamente isto que se passou em alguns partidos comunistas, em primeiro lugar, no PCUS, o partido comunista dirigente.
Durante muito tempo, foi possível ridicularizar e excluir constatações deste género, rotulando-as de «teoria primitiva da conspiração».
Mas desde que Gorbatchov e os seus cúmplices começaram a vangloriar-se publicamente de terem aberto o caminho à restauração da «liberdade» ocidental nos então países socialistas, é altura de os comunistas olharem com lucidez para as consequências deste acontecimento monstruoso e rejeitarem versões históricas que têm a marca dos anticomunistas revisionistas.
Ao invés de pretenderem revelar ao povo toda a verdade, como foi declarado, as «revelações» históricas tiveram sobretudo o propósito de apresentar o passado socialista do país às novas gerações, que não viveram este passado, nas cores mais sombrias e repugnantes, para que ninguém tivesse a ideia de encarar como alternativa a reconstituição do poder soviético – por muito mau que o presente se apresentasse.
A rejeição da falsificação histórica anticomunista da era de Gorbatchov e agora de Éltsine não significa que se deva fazer uma leitura unilateral da história do período de Stáline. Mas, pelo menos para os comunistas, é urgente que se torne claro que o anti-stalinismo dos revisionistas anticomunistas é completamente hipócrita. Alegam condenar Stáline por omissões e crimes. Na verdade, condenam-no a partir da mesma posição e pelos mesmos «crimes» que os imperialistas o condenam, isto é, do ponto de vista do anticomunismo e pelo crime de ter mantido a União Soviética fora da sua área de poder.
Presenciamos hoje algo muito idêntico na RFA em relação à RDA. Esta é caluniada de «Estado injusto», não porque pelo facto de que também havia injustiças entre nós, mas porque tínhamos abolido a injustiça da ordem capitalista. Não nos acusam pelo facto de termos praticado um socialismo imperfeito, mas porque éramos socialistas, ou seja, ousámos desapossar o capital.
Resumindo: independentemente da quantidade de erros e da sua dimensão que a RDA e a direcção do Estado e o Partido cometeram – e certamente não houve poucos e entre eles grandes asneiras – não foram os próprios erros que lhe ditaram a sentença de morte. Todos os países socialistas europeus estavam unidos com a União Soviética para o que desse e viesse; com a sua derrocada, a queda de todos eles era inevitável.
Os próprios erros têm, no entanto, de ser rigorosamente examinados e as suas causas e consequências analisadas e interpretadas, no interesse da segunda República Democrática Alemã Unificada, que chegará um dia, assim a Humanidade sobreviva às devastações do capitalismo num planeta ainda habitável.
André Müller escreveu, no UZ (28.09.90), o seguinte necrológio do enterro da RDA em 3 de Outubro de 1990: «Uma República Democrática Alemã regressará. (…) Olhai em volta. Levantai a cabeça de novo! Vede como o capital se comporta, livre de qualquer consideração, vede como é a sua enaltecida democracia. (…) Não, a ideia da RDA não se deixará enterrar e se não sei como tudo continuará, (…) sei, porém, que neste 3 de Outubro de 1990 não há nenhuma razão para não nos reerguermos.» Isto ainda é mais válido em Outubro de 1993.
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
Louis Althusser
|
“É essencial ler e estudar o Capital. Devo acrescentar que é necessário e essencial ler e estudar Lênin e todos os grandes textos, novos ou antigos, aos quais se devem a experiência da luta de classe do movimento operário internacional. É essencial estudar os textos práticos do movimento operário revolucionário em sua realidade, seus problemas e contradições: seu passado e, acima de tudo, sua história presente.”
Louis Althusser
in "A Filosofia Como Uma Arma Revolucionária"
Louis Althusser
in "A Filosofia Como Uma Arma Revolucionária"
Louis Althusser nasceu em 16 de outubro de 1918 na cidade de Birmandrais, na Argélia, então colônia francesa, para onde parte das famílias de seus pais havia emigrado. Após cursar o ensino fundamental em Argel, Althusser vai em 1930 para a cidade francesa de Marselha, completando ali os seus estudos secundários. De 1936 a 1939 ele frequenta o Lycée du Parc de Lyon, no qual se prepara para o concurso de ingresso na École Normale Superieur (ENS) de Paris. Nesse período, Althusser era católico e militante da Jeunesse Étudiante Chrétienne. Em 1939 ele ingressa na ENS, mas antes mesmo de iniciar os seus estudos é mobilizado para lutar na Segunda Grande Guerra e cai prisioneiro dos alemães, permanecendo em um campo de concentração de 1940 a 1945. Após o conflito, passa então a estudar filosofia na ENS, na qual se formaria em 1948. Desde o período da guerra Althusser padece de sucessivas crises psíquicas, que o acompanharão por toda a sua carreira. A partir de 1948 assume o posto de "caiman" - professor encarregado de preparar os estudantes para os exames de agregation - na ENS. Este também é o ano em que Althusser ingressa no Partido Comunista Francês, tendo já há algum tempo deslocado-se de suas posições católicas anteriores para o marxismo. É no início dos anos sessenta, no entanto, que surgem os trabalhos mais importantes de Althusser - Pour Marx (A favor de Marx) e Lire Le capital (Ler O capital) - que, contrapondo-se à leitura dominante de Marx até então vigente, terão o efeito de uma verdadeira revolução teórica no campo marxista. Sua produção intelectual se estenderá até os anos 80, com retificações, aprofundamentos e o desenvolvimento de uma original teoria da ideologia e dos Aparelhos Ideológicos de Estado. Sempre sofrendo de crises psíquicas e passando por períodos de tratamento e convalescência, Althusser vive em 16 de novembro de 1980 o drama de ter causado involuntariamente, por estrangulamento, a morte de sua companheira, Hélène, em uma severíssima recaída na doença. Afasta-se, então, do trabalho acadêmico e da cena pública, mas continua a produção teórica imerso na solidão e na culpa. Daí resultarão a sua biografia, L'avenir dure longtemps (O futuro dura muito tempo), em que reconstitui a sua trajetória e a tragédia que se abateu sobre ele, assim como uma série de textos em que apresenta uma concepção nova do materialismo, recuperando o atomismo dos pensadores da Grécia antiga, por ele denominada de "materialismo aleatório" ou "materialismo do encontro", e na qual alguns veem uma ruptura com a sua concepção primeva, e outros uma continuidade com ela. Althusser veio a falecer no dia 22 de outubro de 1990, vítima de um ataque cardíaco.
A principal contribuição que Althusser deu à teoria marxista foi a crítica ao economicismo e ao humanismo que dominavam as leituras de Marx. Demonstrando a irremediável ruptura entre Hegel e Marx, Althusser oferece uma nova periodização da obra marxiana, distinguindo um período de juventude, ainda ideológico, não-marxista, um período de maturação, no qual Marx formula o corpo conceitual de sua teoria, mas ainda em parte prisioneiro da ideologia burguesa, e o período da maturidade, em que a teoria do materialismo histórico é fundada em bases científicas rigorosas. Assim, por meio do conceito de corte epistemológico, Althusser deixa ver na própria constituição da teoria marxista a emergência da problemática científica do interior do campo da ideologia e em luta com ele. A afirmação do caráter materialista da teoria de Marx, formada por um conjunto de conceitos científicos, como os de modo de produção, relações de produção, forças produtivas, ideologia, luta de classes, infraestrutura, superestrura, etc, vai se contrapor à interpretação do marxismo como um vago humanismo, ancorado na noção de homem e de seus "predicados", que remete ao direito burguês e à circulação mercantil, e que sustenta, portanto, os "valores" da própria ideologia burguesa dominante. Igualmente, Althusser rompe com a concepção de que para Marx o "motor" do processo social e histórico seria o desenvolvimento das forças produtivas, de tal sorte que um progresso linear em direção ao comunismo já estaria inscrito na história como destino inelutável. Rompendo com essa concepção teleológica e economicista, Althusser mostra que Marx, especialmente em O capital, sustenta o primado das relações de produção, abrindo a história para as incertezas da luta de classes. Dessa leitura de Marx, que põe no centro de sua concepção a luta de classes, Althusser recupera a noção de determinação em última instância do econômico, dando assim às instâncias da superestrutura uma eficácia própria que pode permitir a elas jogar o papel dominante na reprodução das relações sociais. A dialética marxiana, assim, é o contrário direto da dialética hegeliana, na qual a contradição se apresenta como o desdobramento de um princípio interno simples, ao passo que em Marx ela é sempre sobredeterminada, isto é, a contradição nunca se apresenta pura, mas como uma conjunção de determinações eficazes incidindo sobre um determinado objeto. Althusser criticou também a concepção de ideologia como falsa consciência, compreendendo-a como "uma representação da relação imaginária dos indivíduos com as relações de produção e com as relações delas derivadas", e lhe emprestando uma irredutível materialidade, tal como aparece no conceito de Aparelhos Ideológicos de Estado, que veio permitir que a concepção marxiana de Estado fosse ampliada e aprofundada.
Louis Althusser analisa o processo social como fenômeno objetivo, e não como o resultado da vontade de um sujeito. A sua intervenção teórica ao romper com os limites impostos pelas leituras hegelianas de Marx, põe em evidência a capacidade explicativa e transformadora do marxismo, constituindo, assim, entre as análises marxistas, uma referência importante para a luta dos trabalhadores contra o capital.
Atualmente estão disponíveis em Português as seguintes obras:
1967 | A Querela do Humanismo |
1968 | Sobre Brecht e Marx |
1968 - Fev | A Filosofia Como Uma Arma Revolucionária |
1978 - Abr | O Marxismo Como Teoria "Finita" |
segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
Balada de Neve
Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
. Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
. Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho…
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho…
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança…
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança…
E descalcinhos, doridos…
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!…
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!…
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.
AUGUSTO GIL
sábado, 22 de dezembro de 2012
Assunto: Por favor: não percam. Uma verdadeira prenda de Natal
(Um longo e magistral texto do escritor Mário de Carvalho a ler, divulgar, guardar e, sobretudo, a não perder)
*
Avé Portugal mendigo. Senhora da Linha em maré de pobres - Mário de Carvalho
Mário de Carvalho Avé Portugal mendigo. Senhora da Linha em maré de pobres
1.
A esmola. O próprio vocábulo hoje incomoda. Tem travos de aviltamento, atraso e rebaixo. No século XXI, há quem queira voltar à prática infamante da esmola! As saudades da Idade-Média tardam ao esconjuro. Mas o lastro da miséria não é aura que eleve aos céus. É chumbo que arrasta para as regiões inferiores, onde, segundo as mitologias, se arde.
Vem-me primeiro à ideia o orador Rufino de «Os Maias». É o meu espírito faceto. Mas eu não consigo ser sempre faceto. A memória não deixa. Acode-me o mal-estar de miúdo quando um padre me levou num grupo a distribuir embrulhos por tugúrios de Alfama. Para que os meninos do liceu soubessem como vivia a pobreza, explicou. Eu não precisava que me lembrassem como vivia a pobreza. Sabia e sabia bem. Tinha brincado com miúdos rotos e descalços que usavam carrinhos feitos de arame como agora em África. Tinha entrado em casas de chão batido em que não havia nem uma cadeira. Tinha visto os pedintes chegarem aos grupos, esfarrapados, longas barbas, bornal ao ombro, por entre os arremessos dos cães, e ficarem depois às sobras debaixo dum chaparro. Tinha espreitado a guarda a cavalo, de chapéu colonial, a patrulhar os campos e a assegurar-se de que tudo estava em ordem: «Assine aí, lavradora!». Tudo estava em ordem. A ordem da miséria e da degradação. A ordem natural das coisas. Pobres sempre haveria. Porque sim. À cautela, aquelas «Mauser» em bandoleira eram garantes.
Isto vem, claro, a propósito da doutora Maria Isabel Jonet. E começou a ser escrito após uma senhora deputada ter entrado em guincharia num programa de televisão conduzido por uma daquelas figuras curvadas que nos vêm abrir uma porta rangente, de candelabro na mão, olho torvo e beiçola descaída, quando o nosso carro sem gasolina parou numa charneca desértica, entre nevoeiros, sem haver mais que uma mansão decrépita.
A deputada estridulou acusações contra «campanhas» e destemperou insultos. Mal defendida ficou a ré Isabel. Mal vista a parlamentar. Diminuídos todos. Suscitado este texto.
2.
Eu até nem desgosto especialmente da Doutora Jonet. E não se trata de nenhuma simpatia atávica pelos simples. Acho que é mais defeito meu: uma dificuldade em antipatizar, da natureza daquelas portas perras que, por mais que se tente, não fecham. Aliás, nomeio a pessoa apenas para que não interpretem a omissão como pejorativa.
A actividade caridosa dos ricos também não me causa, em si, especial contrariedade. Cuidar dos outros nunca fez mal a ninguém. Enquanto certa gente se entretém com a caridade não está a fazer coisas piores: intrigas, festarolas, ostentações, frioleiras, chazinhos. E, em certos casos, malfeitorias.
Vou passar de alto as últimas declarações da respeitável senhora. Dizem-me que se tem desdobrado em entrevistas. E mais insinuam: que não se trata de uma bem organizada manobra de influências, abusando de subalternidades nos jornais, mas de coisa pior: vontade pérfida, por parte da imprensa, de a surpreender, mais uma vez, em inconveniências. Eu nunca entraria nem num jogo, nem noutro. De maneira que recorro à minha memória, que é fraca, pedindo desde logo que me corrijam, se estiver equivocado:
-- Aqui há tempos, a um propósito que tinha a ver com a entreajuda na família, afirmou convictamente que os filhos deviam ajudar «a cortar a relva»;
- Noutra ocasião, referindo-se aos jovens dos seus relacionamentos disse, por palavras suas, que esses eram as «elites» que iriam estar à frente deste país.
-- Na véspera das últimas eleições legislativas (em pleno período de reflexão) convidada pelo espertíssimo Doutor Rebelo de Sousa que a olhava com o amarotado deleite de quem acaba de fazer batota na «vermelhinha», a senhora debitou, item a item, dogma a dogma, todo (mas todo) o papagueio da cartilha que tem vindo a desgraçar este país.
A «relva» ainda passa. É a consequência de se viver num mundo fechado. Mas sendo uma pessoa tão viajada… Não interessa. Já conheci gente que andou pelos sítios mais desvairados e não viu nada. Pode ir-se e voltar-se da Conchinchina setenta vezes sem sair de intramuros.
O considerar que certo tipo de jovens está destinado a governar é uma concepção classista, capciosa, e até ofensiva para a esmagadora maioria da juventude. Mas temos de reconhecer que há falhas de educação que nos acompanham toda a vida. O saisons, o chateaux…
Já fazer propaganda em dias de defeso é muito mais grave. Mas creio que podemos atribuir as culpas a quem a convidou para aquele programa, naquela precisa noite, sabendo de antemão que a senhora não poderia deixar de dizer as inanidades que lhe estão na massa do sangue. Com tal habilidade e torsão de manobra não admira que o Professor Rebelo de Sousa acabe, tanta vez, por se rasteirar a si próprio.
Surpreende-me é que as pessoas que, outro dia, se indignaram com a questão dos bifes e das torneiras (parece ter havido, entretanto, outra pérola sobre a temperatura do dueto solidariedade/caridade) não deram nem pelo corte da relva, nem pela vocação oligárquica, nem pela violação encapotada da lei eleitoral. Não se tratou de uma mera impertinência de uma senhora num tropeço de infelicidade. Por trás há um pensamento. Uma ideologia. E há muita gente (se calhar muitos dos vociferantes) que tem consentido nessa ideologia que faz passar por «normal» uma concepção do mundo arcaizante.
3.
No país em que eu nasci, quem mandava eram os ricos que encarregavam das tarefas sujas uns professores de Coimbra e uns militares que por sua vez comandavam legiões de desgraçados. Durante gerações, houve pessoas, em número mínimo, que beneficiaram duma vida remansosa dentro dum circuito fechado e protegido. A sua insensibilidade social era completa. Nem se apercebiam de que em volta havia pobre gente maltratada, humilhada, presa, espancada. Se lhe chegassem rumores (através das criadas, por exemplo) considerariam que era natural. O imperfeito mundo funcionava assim mesmo, éramos «um país pobre», resignassem-se. E até encontravam uma especificidade nacional justificativa do nosso fascismo doméstico. Era desumano? Paciência. Havia oratórios, terços, missas, e em calhando cilícios e bodos aos pobres. A desumanidade redimia-se nos ritos.
De repente (surpresa para eles) caiu-lhes uma revolução em cima, transtornou-lhe os planos, estremeceu-lhes as carreiras, desmarcou-lhes as festas. O que se chama, na sabedoria popular «uma patada no formigueiro».
Nunca perdoaram esses momentos – fugazes - de perturbação das pequenas vidas. Não tardariam, eles e seus descendentes, a ser repostos nos lugares de antes (em circunstâncias e conluios que não importa agora rever) mas num quadro jurídico e institucional diverso: a democracia. Essa incomodidade áspera, própria de intelectuais irrealistas, operários transviados e outros lunáticos, mostrava-se demasiado imponente para se derrubar de golpe? Dissimulasse-se. Corroesse-se por dentro. Desviassem-se os recursos do Estado. Praticasse-se uma permanente cleptofilia. E, dentada a dentada, sangria a sangria, desgaste a desgaste, chegou o momento que julgaram oportuno para rasgarem as fantasias e voltarem aos plenos poderes de antes, a coberto dos seus criados. A vingança serve-se fria. Há um nome francês que se usa no caso: «revanche».
É deste movimento que a doutora Maria Isabel Jonet tem sido uma porta-voz, no seu estilo muito próprio. E só agora muita gente nota. Porque vinha tudo no embalo duma quotidiana propaganda que dia a dia, linha a linha, imagem a imagem, inculcava nos espíritos o acatamento dum mundo de diferenças e de desigualdades. O mundo em que a doutora Jonet – e outras pessoas do mesmo entendimento – se sentem realizadas.
Quando por todo o lado se apregoa – com grande favor jornalístico – a ideia de que o Engº Zulmiro não deve pagar o mesmo nos transportes que um reformado pobre, quando se dispõem contrapartidas distintas, conforme os escalões, nos cuidados de saúde, quando se estabelecem diferenças de tratamento ao sabor dos rendimentos declarados não é a justiça que estão a praticar. Muito ao contrário. É a normalização e a institucionalização das desigualdades. É um desenho do mundo em que a pobreza (a dos outros) se aceita como fatalidade. A restauração do despenhado mundo dos pobres, como eu o conheci.
Os ricos já têm o poder económico neste país. Asseguraram, através dos seus valetes, o poder político; ainda querem mais: exercer o poder pessoal, sobre as vidas de cada um, usando, ou sendo transmissários, do instrumento da esmola. É a imposição da desigualdade como ordem natural das coisas, como uma grelha implacável cravada na sociedade portuguesa. A esmola, neste quadro, faz lembrar o cajado do guardador de rebanhos. Pobres para serem mandados, distribuídos, orquestrados, mordidos, concentrados, castigados, benzidos.
E isso é bem diferente de praticar a caridade, nas falhas e interstícios do chamado Estado social. Não há aqui expressão de amor ao próximo. Não se trata dos casos (meritórios) em que se descarregam consciências, sem que uma mão saiba o que faz a outra. É, ao contrário, uma fórmula institucional de violência. Esse mal, sistémico e obsidiante, não se deixa compensar com os maquinismos do bem-fazer de uma indústria caridosa. Por um lado fabricam-se pobres, através dum sistema social iníquo. Por outro lado, esmolam-se os pobres que se criaram. É repulsivo? É, sim, e estão em campo as mesmas famílias (descendentes ou afins) praticantes dos bodos dos tempos do fascismo.
4.
Falemos agora de decência. É um conceito que não tem que ver com o sapatinho de vela no verão, o esgoleiramento da camisinha branca ao fim-de-semana, os gestos miúdos do chazinho ou a mãozinha no volante do Porshe, nem com os objectos «de marca» que irmanam paradoxalmente os extremos do espectro social. Vadios de cima e vadios de baixo (Eça confrontava-os no Chiado) entusiasmam-se pelos mesmos efeitos. Apuradas as razões, hão-de encontrar-se num subterrâneo fio de ligação, mais ou menos disfarçado: frivolidade iletrada. Aos de cima, chamou a doutora Isabel Jonet «elite», por manifesto equívoco. Como se no país não existissem cientistas, arquitectos, engenheiros, artistas, professores, médicos, advogados, e tudo tivesse que rasar-se pela bitola de alguns economistas, banqueiros, «gestores» e ociosos.
Um dos preceitos estruturantes que escora o nosso ordenamento jurídico e funda a confiança nos comportamentos eticamente regulados vem do direito romano e das ancestrais práticas de boa-fé e exprime-se no brocardo: «pacta sunt servanda», ou seja, os compromissos são para se cumprirem. E sobre isto não há expedientes de contabilistas, não há casuísticas habilidosas, não há reservas mentais, não há passes de futebolista atendíveis. Há uma obrigação? Cumpra-se.
Mas a plutocracia que tem mandado nos destinos dos portugueses transportou para o Estado os seus pequenos hábitos de manobrismo, de expedientes, habilidades, truques, quando não de falcatrua, que retiraram à entidade a sua natureza de «pessoa de Bem». Ser «de bem» é uma noção que está fora do alcance de quem apenas acha meritórios o lucro e as negociatas. Coisa abstracta e «intelectual», própria de «otários» para utilizar a linguagem das cadeias que acaba por não ser muito diferente, numa perspectiva de extremos tangenciais
É assim que vemos governantes a colocarem o Estado Português na situação de violar os compromissos tomados para com os seus trabalhadores e aposentados. A ignorar prazos contratuais. A incumprir as promessas juradas perante o seu eleitorado. A fazer negaças às própria constituição. De modo tão flagrante e provocatório que lhes fez perder a legitimidade formal que detinham à partida.
Ora quem se coloca fora da lei está a pedir um tratamento fora da lei. Mas eles não estão apenas a pedir pedradas. Estão a pedir o confisco dos seus relvados, dos seus automóveis, das suas casas, das suas piscinas, dos seus valores mobiliários, dos seus quadros, dos seus cavalos, das suas jóias e luxos e a supressão de todas as mordomias. Não que isso seja economicamente relevante. Mas significa a reposição de um mínimo de decoro.
Ser-lhes-á então tarde para perceber que numa situação de ruptura a própria polícia mudará de campo. Certos jornalistas descobrirão escrúpulos éticos insuspeitados. Economistas e contabilistas virão dizer que foram mal interpretados e nunca proferiram aquelas coisas. Irromperão múltiplos vira-casacas e desertores da tirania de mercado, dispostos a pisar a livralhada de Milton Friedman e a cuspir no retrato emoldurado da Senhora Thatcher.
E lá terão as pessoas de bom senso de arriscar a reputação e a pele para evitar que se maltratem umas dúzias de plutocratas amedrontados e seus serviçais de fatinho, rojados pelo chão, de folha de cálculo à mostra.
MdC
20-12-2012
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
documentos
Robert Owen e o socialismo utópicoPor tejo 28/10/2009 às 21:44
Uma rápida homenagem, na pessoa de Owen, aos socialistas pré-Marx.
O chamado socialismo utópico, se é criticado exactamente em razão de seu carácter fantasioso, utópico no verdadeiro sentido do termo, por outro lado foi o ponto de partida do socialismo científico e das lutas pela emancipação da classe trabalhadora. Produziu grandes homens: Saint- Simon (1760-1825), para quem já surge, em germe, o conceito da economia como o motor das instituições políticas; Charles Fourier (1772-1837), cujo espírito subtil, segundo Engels (in Anti-Dühring), o torna um dos maiores satíricos de todos os tempos; e Robert Owen (1771-1858).
Robert Owen foi uma figura notável. Dele diz Engels, na obra citada, ser um homem cuja pureza infantil atingia o sublime, e que era, ao mesmo tempo, um inato condutor de homens, como poucos?. Owen era dos que consideravam, como elemento formador da personalidade do indivíduo, o meio que o rodeia. Colocou suas ideias em prática na sua própria fábrica (era industrial): Uma população operária, que foi crescendo até chegar a 2.500 indivíduos, recrutada entre os elementos mais heterogéneos, a maioria dos quais sem qualquer princípio moral, converteu-se, em suas mãos, numa perfeita colónia modelo, na qual não se conhecem a embriaguez, a polícia, o cárcere, os processos, os pobres nem a beneficência pública (Engels, op. cit.). Mesmo com jornada de trabalho menor, a empresa de Owen lograva sempre grandes lucros. E, para isso, diz Engels, bastou colocar os trabalhadores em condições humanas de vida.
Mas isso não é suficiente, e Owen tinha consciência disso. Não basta dar condições decentes para os empregados; urge, e é essa a meta, fazer do trabalhador seu próprio patrão. Então Owen dessa forma desenvolveu suas teorias comunistas, dedicando a elas toda sua riqueza, com suas mal-sucedidas home-colonies. Engels: Ao abraçar o comunismo, a vida de Owen transformou-se radicalmente. Enquanto se limitara a agir como filantropo, colheu riquezas, aplausos, honrarias e fama. Era o homem mais popular da Europa?. Mas, ao implementar sua utopia, continua Engels, ?ocorreu o que estava previsto. Alijado da sociedade oficial, ignorado pela imprensa, arruinado por suas malogradas experimentações comunistas na América -às quais sacrificou toda sua fortuna,- entregou-se directamente à classe trabalhadora, no seio da qual ainda agiu durante trinta anos. A utopia não logrou êxito, mas lembra Engels que todas as melhorias dos trabalhadores ingleses (regulamentação do trabalho da mulher e crianças em fábricas, união sindical etc) estão associadas ao nome de Owen.
Fica aqui a homenagem a todos aqueles que não hesitaram em por em prática suas utopias.
Robert Owen foi uma figura notável. Dele diz Engels, na obra citada, ser um homem cuja pureza infantil atingia o sublime, e que era, ao mesmo tempo, um inato condutor de homens, como poucos?. Owen era dos que consideravam, como elemento formador da personalidade do indivíduo, o meio que o rodeia. Colocou suas ideias em prática na sua própria fábrica (era industrial): Uma população operária, que foi crescendo até chegar a 2.500 indivíduos, recrutada entre os elementos mais heterogéneos, a maioria dos quais sem qualquer princípio moral, converteu-se, em suas mãos, numa perfeita colónia modelo, na qual não se conhecem a embriaguez, a polícia, o cárcere, os processos, os pobres nem a beneficência pública (Engels, op. cit.). Mesmo com jornada de trabalho menor, a empresa de Owen lograva sempre grandes lucros. E, para isso, diz Engels, bastou colocar os trabalhadores em condições humanas de vida.
Mas isso não é suficiente, e Owen tinha consciência disso. Não basta dar condições decentes para os empregados; urge, e é essa a meta, fazer do trabalhador seu próprio patrão. Então Owen dessa forma desenvolveu suas teorias comunistas, dedicando a elas toda sua riqueza, com suas mal-sucedidas home-colonies. Engels: Ao abraçar o comunismo, a vida de Owen transformou-se radicalmente. Enquanto se limitara a agir como filantropo, colheu riquezas, aplausos, honrarias e fama. Era o homem mais popular da Europa?. Mas, ao implementar sua utopia, continua Engels, ?ocorreu o que estava previsto. Alijado da sociedade oficial, ignorado pela imprensa, arruinado por suas malogradas experimentações comunistas na América -às quais sacrificou toda sua fortuna,- entregou-se directamente à classe trabalhadora, no seio da qual ainda agiu durante trinta anos. A utopia não logrou êxito, mas lembra Engels que todas as melhorias dos trabalhadores ingleses (regulamentação do trabalho da mulher e crianças em fábricas, união sindical etc) estão associadas ao nome de Owen.
Fica aqui a homenagem a todos aqueles que não hesitaram em por em prática suas utopias.
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
Os grandes utopistas
Étienne Cabet Archive
Étienne Cabet Archive
1788-1856
The Voyage of the Icarus, 1842The Situation in Iowa, 1853
See also:The Code of Nature Morelly, 1755Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)Letters from an Inhabitant of Geneva to His Contemporaries Comte Claude Henri Saint-Simon, 1803Charles Fourier (1772-1837)
quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
Nicolau MAQUIAVEL
IntroduçãoNicolau Maquiavel foi um importante historiador, diplomata, filósofo, estadista e político italiano da época do Renascimento. Nasceu na cidade italiana de Florença em 3 de maio de 1469 e morreu, na mesma cidade, em 21 de Junho de 1527.
Vida e obras
Filho de pais pobres, Maquiavel desde cedo se interessou pelos estudos. Aos sete anos de idade começou a aprender latim. Logo depois passou a estudar ábaco e língua grega antiga.
Aos 29 anos de idade, ingressou na vida política, exercendo o cargo de secretário da Segunda Chancelaria da República de Florença. Porém, com a restauração da família Médici ao poder, Maquiavel foi afastado da vida pública. Nesta época, passou a dedicar seu tempo e conhecimentos para a produção de obras de análise política e social.
Em 1513, escreveu sua obra mais importante e famosa “O Príncipe”. Nesta obra, Maquiavel aconselha os governantes como governar e manter o poder absoluto, mesmo que tenha que usar a força militar e fazer inimigos. Esta obra, que tentava resgatar o sentimento cívico do povo italiano, situava-se dentro do contexto do ideal de unificação italiana.
Entre os anos de 1517 e 1520, escreveu “A arte da guerra”, um dos livros menos lidos do autor.
Em 1520, Maquiavel foi indicado como o principal historiador de Florença.
Nos “Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio”, de 1513 a 1521, Maquiavel defende a forma de governo republicana com uma constituição mista, de acordo com o modelo da República de Roma Antiga. Defende também a necessidade de uma cultura política sem corrupção, pautada por princípios morais e éticos.
O termo “maquiavélico”
Em função das ideias defendidas no livro “O Príncipe”, o termo “maquiavélico” passou a ser usado para aquelas pessoas que praticam actos desleais (até mesmo violentos) para obter vantagens, manipulando as pessoas. Este termo é injustamente atribuído a Maquiavel, pois este sempre defendeu a ética na política.
Frases de Maquiavel
- "Os homens ofendem mais aos que amam do que aos que temem."
- "Os homens ofendem mais aos que amam do que aos que temem."
- "O desejo de conquista é algo natural e comum; aqueles que obtêm sucesso na conquista são sempre louvados, e jamais censurados; os que não têm condições de conquistar, mas querem fazê-lo a qualquer custo, cometem um erro que merece ser recriminado."
- "Nada faz o homem morrer tão contente quanto o recordar-se de que nunca ofendeu ninguém, mas, antes, ajudou a todos."
- "Quem do prazer se priva e vive entre tormentos e fadigas, do mundo não conhece os enganos."
- "Todos os profetas armados venceram, e os desarmados foram destruídos."
- "A ambição é uma paixão tão forte no coração do ser humano, que, mesmo que galguemos as mais altas posições, nunca nos sentimos satisfeitos."
- "Os homens quando não são forçados a lutar por necessidade, lutam por ambição."
- "O homem que tenta ser bondoso todo tempo está fadado à ruína entre os inúmeros outros que não são bons."
- "O homem esquece de forma mais fácil a morte do pai do que a perda do património".
- "Na política, os aliados actuais são os inimigos de amanhã."
(da internet)
domingo, 9 de dezembro de 2012
|
Subscrever:
Mensagens (Atom)