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Pelo Socialismo
Questões político-ideológicas com atualidade
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Publicado em: http://www.uniaonet.com/amcentral.htm
Colocado em linha em: 2012/03/25
DISCURSO DE ÍNDIO SURPREENDE CHEFES DE ESTADO NA REUNIÃO DA CÚPULA EUROPEIA1
Dívida externa de quem, cara pálida?
Um discurso feito por Guaicaípuro Cuatemoc embasbacou os principais chefes de Estado da Comunidade Europeia. A conferência dos chefes de Estado da União Europeia, Mercosul e Caribe, em maio de 2002, em Madrid, viveu um momento revelador e surpreendente: os chefes de Estado europeus ouviram perplexos e calados um discurso irónico, cáustico e de exatidão histórica que lhes fez Guaicaípuro Cuatemoc, cacique de uma nação indígena da América Central.
Eis o discurso:
"Aqui estou eu, descendente dos que povoaram a América há 40 mil anos, para encontrar os que a encontraram só há 500 anos. O irmão europeu da alfândega pediu-me um papel escrito, um visto, para poder descobrir os que me descobriram. O irmão financeiro europeu pede-me o pagamento – ao meu país –, com juros, de uma dívida contraída por Judas, a quem nunca autorizei que me vendesse. Outro irmão europeu explica-me que toda a dívida se paga com juros, mesmo que para isso sejam vendidos seres humanos e países inteiros sem lhes pedir consentimento. Eu também posso reclamar pagamento e juros.
Consta no "Arquivo da Companhia das Índias Ocidentais" que, somente entre os anos 1503 e 1660, chegaram a São Lucas de Barrameda 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata provenientes da América. Teria isso sido um saque? Não acredito, porque seria pensar que os irmãos cristãos faltaram ao sétimo mandamento! Teria
1 a) Consta no sítio http://flomana.wordpress.com/2008/08/20/carta-de-guaicaipuro-cuautemoc/ que este texto é uma ficção atribuída a Luís Britto Garcia (n. 1940), escritor venezuelano, publicada em 6 de outubro de 2003 – a propósito do Dia da Resistência Indígena (12 de outubro), sob o título “Guaicaípuro Cuatemoc cobra a dívida à Europa” – e na Revista “Renancer Indianista” n.º 7.
Aí se refere que o cacique Guaicaípuro existiu há menos de 500 anos, ainda que o seu nome real não incluísse Cuatemoc, que foi acrescentado. Aquele sítio também publica o texto em castelhano e em inglês, sob o título “Carta de Guaicaípuro Cuautemoc – Carta de um chefe índio aos governos da Europa”. No início da versão castelhana diz-se que Hugo Chávez recomendou a sua leitura ao rei de Espanha, na Cimeira Iberoamericana de 2007 e, no final da mesma, consta a data de maio de 2000. – [NE]
b) Não conseguimos confirmar a informação dada no sítio de onde retirámos o texto – que adaptámos à variante do português de Portugal – de que a carta terá sido lida na II Cimeira UE/Mercosul/Caribe, que se realizou em 17 e 18 de maio de 2002, ou se também se trata de ficção. Circula na Internet a versão de que o Embaixador mexicano, a que se atribui (erradamente) o nome do cacique índio, a teria aí lido. – [NE]
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sido espoliação? Guarda-me Tanatzin de me convencer que os europeus, como Caim, matam e negam o sangue do irmão. Teria sido genocídio? Isso seria dar crédito aos caluniadores, como Bartolomeu de Las Casas ou Arturo Uslar Pietri, que afirmam que a arrancada do capitalismo e a atual civilização europeia se devem à inundação de metais preciosos tirados das Américas! Não, esses 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata foram o primeiro de tantos empréstimos amigáveis da América destinados ao desenvolvimento da Europa. O contrário disso seria presumir a existência de crimes de guerra, o que daria direito a exigir não apenas a devolução, mas uma indemnização por perdas e danos. Prefiro pensar na hipótese menos ofensiva.
Tão fabulosa exportação de capitais não foi mais do que o início de um plano “MARSHALLTESUMA”, para garantir a reconstrução da bárbara Europa arruinada por suas deploráveis guerras contra os muçulmanos, criadores da álgebra, da poligamia, do banho diário e de outras conquistas da civilização. Para celebrar o quinto centenário desse empréstimo, podemos perguntar: Os irmãos europeus fizeram uso racional, responsável ou pelo menos produtivo desses fundos? Não. No aspecto estratégico, delapidaram-nos nas batalhas de Lepanto, em navios invencíveis, em terceiros reichs e várias outras formas de extermínio mútuo. No aspecto financeiro, foram incapazes, depois de uma moratória de 500 anos, tanto de amortizar o capital e juros, como de se tornarem independentes das rendas líquidas, das matérias-primas e da energia barata que lhes exporta e provê todo o Terceiro Mundo.
Este quadro corrobora a afirmação de Milton Friedman, segundo a qual uma economia subsidiada jamais pode funcionar, o que nos obriga a reclamar-lhes, para seu próprio bem, o pagamento do capital e dos juros que, tão generosamente, temos demorado todos estes séculos para cobrar. Ao dizer isto, esclarecemos que não nos rebaixaremos a cobrar de nossos irmãos europeus, as mesmas vis e sanguinárias taxas de 20% e até 30% de juros ao ano que os irmãos europeus cobram aos povos do Terceiro Mundo. Limitar-nos-emos a exigir a devolução dos metais preciosos, acrescida de um módico juro de 10%, acumulado apenas durante os últimos 300 anos, concedendo-lhes 200 anos de bónus. Sobre esta base e aplicando a fórmula europeia de juros compostos, concluímos, e disso informamos os nossos descobridores, que nos devem não os 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata, mas aqueles valores elevados à potência de 300, número para cuja expressão total será necessário expandir o planeta Terra. Muito peso em ouro e prata… quanto pesariam se calculados em sangue?
Admitir que a Europa, em meio milénio, não conseguiu gerar riquezas suficientes para esses módicos juros, seria como admitir seu absoluto fracasso financeiro e a demência e irracionalidade dos conceitos capitalistas. Tais questões metafísicas, desde já, não nos inquietam a nós, índios da América. Porém, exigimos a assinatura de uma carta de intenções que enquadre os povos devedores do Velho Continente na obrigação do pagamento da dívida, sob pena de privatização ou reconversão da Europa, de forma tal, que seja possível um processo de entrega de terras, como primeira prestação da dívida histórica..."
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Quando terminou seu discurso diante dos chefes de Estado da Comunidade Europeia, o Cacique Guaicaípuro Guatemoc não sabia que estava expondo uma tese de Direito Internacional para determinar a Verdadeira Dívida Externa. Agora resta que algum Governo Latino-Americano tenha a dignidade e coragem suficiente para impor seus direitos perante os Tribunais internacionais. Os europeus teriam que pagar por toda a espoliação que aplicaram aos povos que aqui habitavam, e com juros civilizados.
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quinta-feira, 29 de março de 2012
domingo, 25 de março de 2012
Um mundo de petróleo cada vez mais difícil
por Michael T. Klare [*]
Os preços do petróleo agora estão mais altos do que alguma vez estiveram – excepto nuns poucos momentos frenéticos antes do colapso económico global de 2008. Muitos factores imediatos estão a contribuir para esta alta, incluindo ameaças do Irão de bloquear o trânsito de petróleo no Golfo Pérsico, temores de uma nova guerra no Médio Oriente e perturbações na Nigéria, rica em petróleo. Algumas destas pressões podem diminuir nos meses pela frente, proporcionando alívio temporário na bomba de gasolina. Mas a causa principal dos preços mais elevados – uma mudança fundamental na estrutura da indústria petrolífera – não pode ser revertida e, assim, os preços do petróleo estão destinados a permaneceram altos por um longo tempo daqui para a frente.
Em termos de energia, estamos agora a entrar num mundo cuja natureza implacável ainda tem de ser plenamente apreendida. Esta mutação essencial foi provocada pelo desaparecimento do petróleo relativamente acessível e barato – o "petróleo fácil", na linguagem dos analistas da indústria. Por outras palavras, a espécie de petróleo que impulsionou uma expansão vertiginosa da riqueza global ao longo dos últimos 65 anos, bem como a criação de infindáveis comunidades suburbanas orientadas para o carro. Este petróleo está agora quase acabado.
O mundo ainda dispõe de grandes reservas de petróleo, mas estas são difíceis de alcançar, difíceis de refinar, a variedade "petróleo árduo". A partir de agora, todo barril que consumirmos será mais custoso para extrair, mais custoso para refinar – e, assim, mais caro na bomba de gasolina.
Aqueles que afirmam que o mundo permanece "inundados" de petróleo estão tecnicamente correctos: o planeta ainda dispõe de vastas reservas. Mas os propagandistas da indústria petrolífera geralmente deixam de enfatizar que nem todos os reservatórios de petróleo são semelhantes: alguns estão localizados próximos à superfície ou próximos à costa e estão contidos em rocha porosa; outros estão localizados no subsolo profundo, no offshore distante, ou presos em formações rochosas inflexíveis. Os sítios anteriores são relativamente fáceis de explorar e proporcionam um combustível líquido que pode ser prontamente refinado em líquidos utilizáveis; os segundos só podem ser explorados através de técnicas custosas, ambientalmente arriscadas e muitas vezes resultam num produto que deve ser fortemente processado antes que a refinação possa sequer começar.
A simples verdade sobre o assunto é esta: a maior parte das reservas fáceis do mundo já foram esgotadas – excepto aquelas em países espinhosos como o Iraque. Virtualmente todo o petróleo que resta está contido em reservas mais difíceis de serem atingidas. Isto inclui o petróleo do offshore profundo, o petróleo do Árctico e o petróleo de xisto, juntamente com as "areias betuminosas" do Canadá – as quais não são compostas de petróleo de modo algum, mas sim de lama, areia e alcatrão semelhante a betume. As chamadas reservas não convencionais destes tipos podem ser exploradas, mas muitas vezes a um preço desconcertante, não apenas em dólares mas também em danos para o ambiente.
No negócio do petróleo, esta realidade foi reconhecida primeiramente pelo presidente e CEO da Chevron, David O'Reilly, numa carta de 2005 publicada em muitos jornais americanos. "Uma coisa é clara", escreveu ele, "a era do petróleo fácil está acabada". Não só muitos dos campos existentes estavam em declínio, observou ele, como "novas descobertas de energia estão a ocorrer principalmente em lugares onde os recursos são difíceis de extrair, fisicamente, economicamente e mesmo politicamente".
Nova prova desta mutação foi proporcionada pela Agência Internacional de Energia (IEA) numa revisão de 2010 das perspectivas do petróleo mundial. Na preparação deste relatório a agência examinou os rendimentos históricos dos maiores campos produtores do mundo – o "petróleo fácil" sobre o qual o mundo ainda repousa para o grosso da sua energia de forma esmagadora. Os resultados foram espantosos: esperava-se que aqueles campos perdessem três quartos da sua capacidade produtiva ao longo dos 25 anos seguintes, eliminando 52 milhões de barris de petróleo por dia da oferta mundial, ou cerca de 75% a actual produção mundial. As implicações eram estarrecedoras: ou descobrir petróleo novo para substituir aqueles 52 milhões de barris/dia a Era do Petróleo chegará logo a um fim e a economia mundial entraria em colapso.
Naturalmente, como a IEA tornou claro em 2010, haverá novo petróleo, mas só da variedade difícil que exigirá um preço de todos nós – e do planeta, também. Para apreender as implicações da nossa crescente dependência do petróleo difícil, vale a pena dar uma olhadela a alguns dos mais apavorantes pontos sobre a Terra. Assim, apertem os vossos cintos de segurança: primeiro estamos a ir para o mar para examinar o "prometedor" novo mundo do petróleo do século XXI.
Petróleo de águas profundas
As companhias de petróleo têm estado a perfurar em áreas offshore desde há algum tempo, especialmente no Golfo do México e no Mar Cáspio. Até recentemente, contudo, tais esforços verificavam-se invariavelmente em águas relativamente rasas – umas poucas centenas de metros, na maior parte – o que permitia às companhias utilizarem perfuradores convencionais montados sobre colunas extensas. A perfuração em águas profundas, em profundidades que ultrapassam os 300 metros, é um assunto inteiramente diferente. Ela requer plataformas de perfuração especializadas, refinadas e imensamente custosas que podem custar milhares de milhões de dólares para produzir.
A Deepwater Horizon, destruída no Golfo do México em Abril de 2010 devido a uma explosão catastrófica, é bastante típica deste fenómeno. O vaso foi construído em 2001 por uns US$500 milhões e custa cerca de US$1 milhão por dia conservar e manter. Parcialmente devido a estes altos custos, a BP estava com pressa de acabar o trabalho do seu malfadado furo Macondo e mover a Deepwater Horizon para outro local de perfuração. Tais considerações financeiras, acreditam muitos analistas, explicam a pressa com a qual a tripulação do vaso selou o furo – levando a uma fuga de gases explosivos dentro do povo e a explosão resultante. A BP agora terá de pagar algo para além de US$30 mil milhões para atender as todas as reclamações pelo dano feito com a sua fuga de petróleo maciça.
A seguir ao desastre, a administração Obama impôs uma proibição temporária à perfuração no offshore profundo. Mal se passaram dois anos, a perfuração nas águas profundas do Golfo está outra vez em níveis de pré desastre. O presidente Obama também assinou um acordo com o México que permitia perfurar na parte mais profunda do Golfo, ao longo da fronteira marítima estado-unidense-mexicana.
Enquanto isso, a perfuração em águas profundas está a ganhar velocidade alhures. O Brasil, por exemplo, movimenta-se para explorar seus campos "pré sal" (assim chamados porque jazem abaixo de uma camada de sal) nas águas do Oceano Atlântico muito longe da costa do Rio de Janeiro. Novos campos offshore estão analogamente a ser desenvolvidos nas águas profundas do Gana, Serra Leoa e Libéria.
Em 2020, diz o analista de energia John Westwood, estes campos de águas profundas fornecerão 10% do petróleo mundial, quando eram apenas 1% em 1995. Mas este acréscimo de produção não sairá barato: a maior parte destes novos campos custará dezenas ou centenas de milhares de milhões de dólares para desenvolver e só se demonstrará lucrativo desde que o petróleo continue a ser vendido por US$90 ou mais por barril.
Os campos offshore do Brasil, considerados por alguns peritos como as mais prometedoras novas descobertas deste século, demonstrar-se-ão especialmente caras porque jazem sob 2400 metros de água e 4000 metros de areia, rocha e sal. Serão necessários os mais avançados e custosos equipamentos de perfuração do mundo – alguns deles ainda a serem desenvolvidos. A Petrobrás, a empresa de energia controlada pelo estado, já comprometeu US$53 mil milhões para o projecto em 2011-2015 e a maior parte do analistas acredita que isto será apenas um modesto pagamento inicial de um estarrecedor preço final.
Petróleo árctico
Espera-se que o Árctico proporcione uma fatia significativa da futura oferta mundial. Até recentemente, a produção no extremo Norte fora muito limitada. Excepto na área de Prudhoe Bay no Alasca e num certo número de campos na Sibéria, as grandes companhias tem geralmente evitado a região. Mas agora, ao verem poucas outras opções, elas estão a preparar-se para grandes investidas num Árctico em fusão.
De qualquer perspectiva, o Árctico é o último lugar para se querer ir a fim de furar por petróleo. As tempestades são frequentes e as temperaturas no Inverno mergulham muito abaixo do ponto de congelamento. A maior parte do equipamento comum não operará sob estas condições. São necessários substitutivos especializados (e custosos). As equipes de trabalho não podem viver na região por muito tempo. A maior parte dos abastecimentos – comida, combustível, materiais de construção – devem ser trazidos de milhares de quilómetros a um custo fenomenal.
Mas o Árctico tem os seus atractivos: milhares de milhões de barris de petróleo inexplorado. Segundo o U.S. Geological Survey (USGS), a área Norte do Círculo Árctico, com apenas 6% da superfície do planeta, contém uma estimativa de 13% do seu petróleo remanescente (e ainda maior fatia do seu gás natural não desenvolvido) – números com que nenhuma outra região pode competir.
Sobrando poucos lugares para ir, as grandes empresas de energia agora estão a preparar-se para uma corrida a fim de explorar as riquezas do Árctico. Neste Verão, espera-se que a Royal Dutch Shell comece furos de teste em porções dos Mares Beauforte Chukchi, ao Norte do Alasca (a administração Obama ainda conceder as autorizações finais de operação para estas actividades, mas espera-se a aprovação). Ao mesmo tempo, a Statoil e outras firmas planeiam perfurar no Mar de Barents, ao Norte da Noruega.
Com estes cenários energéticos extremos, o aumento da produção no Árctico impulsionará significativamente os custos operacionais das companhias de petróleo. A Shell, por exemplo, já gastou US$4 mil milhões só nos preparativos para furos de teste no offshore do Alasca, sem produzir um único barril de petróleo. O desenvolvimento em plena escala nesta região ecologicamente frágil, tenazmente contrariado por ambientalista e povos nativos locais, multiplicará este número muitas vezes mais.
Areias betuminosas e petróleo pesado
Espera-se que outra fatia significativa do futuro abastecimento mundial de petróleo venha das areias betuminosas do Canadá (também chamadas "areias petrolíferas) e do petróleo super-pesado da Venezuela. Nada disto é petróleo tal como é normalmente entendido. Não sendo líquidos nos seu estado natural, eles não podem ser extraídos pelos materiais de furação tradicionais, mas existem em grande abundância. Segundo o USGS, as areias betuminosas do Canadá contêm o equivalente a 1,7 milhão de milhões de barris de petróleo convencional (líquido), ao passo que os depósitos de petróleo pesado da Venezuela dizem abrigar outro milhão de milhões de petróleo equivalente – embora nem tudo seja considerado "recuperável" com a tecnologia existente.
Aqueles que afirmam que a Era do Petróleo está longe de ultrapassada apontam estas reservas como prova de que o mundo ainda pode extrair imensas quantidades de combustíveis fósseis inexplorados. E certamente é concebível que, com a aplicação de tecnologias avançadas e uma indiferença total para com as consequências ambientais, estes recursos na verdade serão colhidos. Mas não é petróleo fácil.
Até agora, as areias betuminosas do Canadá foram obtidas através de um processo análogo à mineração a céu aberto, utilizando pás monstruosas para arrancar uma mistura de areia e betume do solo. Mas a maior parte do betume próximo à superfície nas areias betuminosas ricas da província de Alberta foram exauridas, o que significa que toda extracção futura exigirá um processo muito mais complexo e custoso. Terá de ser injectado vapor nas concentrações mais profundas para fundir o betume e permitir a sua recuperação através de bombas maciças. Isto exige um investimento colossal em infraestrutura e energia, bem como a construção de instalações de tratamento para todos os resíduos tóxicos resultantes. Segundo o Canadian Energy Research Institute, o pleno desenvolvimento das areias petrolíferas de Alberta exigiria um investimento mínimo de US$218 mil milhões ao longo dos próximos 25 anos, não incluindo o custo de construir oleodutos para os Estados Unidos (tal como o proposto Keystone XL) para processamento em refinarias estado-unidenses.
O desenvolvimento do petróleo pesado da Venezuela exigirá investimento numa escala comparável. Acredita-se que o cinturão do Orenoco, uma concentração especialmente densa de petróleo pesado adjacente ao Rio Orenoco contenha reservas recuperáveis de 513 mil milhões de barris de petróleo – talvez a maior fonte de petróleo inexplorado do planeta. Mas converter esta forma de betume semelhante a melaço num combustível líquido excede em muito a capacidade técnica ou os recursos financeiros da companhia estatal, Petróleos de Venezuela SA. Consequentemente, ela está agora à procura de parceiros estrangeiros dispostos a investir os US$10 a 20 mil milhões necessários apenas para construir as instalações necessárias.
Os custos ocultos
Reservas difíceis como esta proporcionarão a maior parte do novo petróleo do mundo nos próximos anos. Uma coisa é clara: mesmo se puderem substituir o petróleo fácil nas nossas vidas, o custo de tudo o que está relacionado com petróleo – seja a gasolina na bomba, produtos com base no petróleo, fertilizantes, tudo por toda a parte das nossas vidas – está em vias de ascender. Habitue-se a isto. Se as coisas decorrerem como se planeia actualmente, estaremos pendurados no big oil nas próximas décadas.
E estes são apenas os custos mais óbvios numa situação em que abundam custos ocultos, especialmente para o ambiente. Tal como no desastre do Deepwater Horizon, a extracção em áreas do offshore profundo e em outras localizações geográficas extremas garantirá riscos ambientais sempre maiores. Afinal de contas, aproximadamente 22 milhões de litros de petróleo foram despejados no Golfo do México, graças à negligência da BP, provocando danos extensos a animais marinhos e ao habitat costeiro.
Recordar que, por mais catastrófico que fosse, ele ocorreu no Golfo do México, onde podiam ser mobilizadas forças amplas para a limpeza e a capacidade de recuperação do ecosistema era relativamente robusta. O Árctico e a Gronelândia representam um risco diferente, dado a sua distância das capacidades de recuperação estabelecidas e a extrema vulnerabilidade dos seus ecosistemas. Os esforços para restaurar tais áreas na sequência de fugas de petróleo maciças custariam muitas vezes os US$30 a 40 mil milhões que a BP pretende pagar pelo danos do Deepwater Horizon e serão muito menos eficazes.
Além de tudo isto, muitos dos campos de petróleo difícil mais prometedores estão na Rússia, na bacia do Mar Cáspio, e em áreas conflituosas da África. Para operar nestas áreas, companhias de petróleo serão confrontadas não só com os custos previsivelmente altos da extracção como também com custos adicionais envolvendo sistemas locais de suborno e extorsão, sabotagem por grupos de guerrilha e as consequências de conflitos civis.
E não esquecer o custo final: Se todos estes barris de petróleo e substâncias afins do petróleo forem realmente produzidos a partir dos menos convidativos lugares neste planeta, então nas próximas décadas continuaremos a queimar combustíveis fósseis maciçamente, criando sempre mais gases com efeito estufa [NR] como se não houvesse amanhã. E aqui está a triste verdade: se prosseguirmos no caminho do petróleo difícil ao invés de investirmos maciçamente em energias alternativas, podemos excluir qualquer esperança de impedir as mais catastróficas consequências de um planeta mais quente e mais turbulento.
De modo que, sim, há petróleo não convencional. Mas não, ele não será mais barato, não importa quanto haja. E, sim, as companhias de petróleo podem obtê-lo, mas olhando realistamente quem o desejaria?
[NR] Um falso problema. A situação energética mundial já é suficientemente má por si mesma, dispensando invencionices adicionais como o do mítico aquecimento global. Ver http://resistir.info/climatologia/impostura_global.html .
[*] Autor de The Race for What's Left: The Global Scramble for the World's Last Resources (Metropolitan Books).
O original encontr-se em www.tomdispatch.com/...
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
por Michael T. Klare [*]
Os preços do petróleo agora estão mais altos do que alguma vez estiveram – excepto nuns poucos momentos frenéticos antes do colapso económico global de 2008. Muitos factores imediatos estão a contribuir para esta alta, incluindo ameaças do Irão de bloquear o trânsito de petróleo no Golfo Pérsico, temores de uma nova guerra no Médio Oriente e perturbações na Nigéria, rica em petróleo. Algumas destas pressões podem diminuir nos meses pela frente, proporcionando alívio temporário na bomba de gasolina. Mas a causa principal dos preços mais elevados – uma mudança fundamental na estrutura da indústria petrolífera – não pode ser revertida e, assim, os preços do petróleo estão destinados a permaneceram altos por um longo tempo daqui para a frente.
Em termos de energia, estamos agora a entrar num mundo cuja natureza implacável ainda tem de ser plenamente apreendida. Esta mutação essencial foi provocada pelo desaparecimento do petróleo relativamente acessível e barato – o "petróleo fácil", na linguagem dos analistas da indústria. Por outras palavras, a espécie de petróleo que impulsionou uma expansão vertiginosa da riqueza global ao longo dos últimos 65 anos, bem como a criação de infindáveis comunidades suburbanas orientadas para o carro. Este petróleo está agora quase acabado.
O mundo ainda dispõe de grandes reservas de petróleo, mas estas são difíceis de alcançar, difíceis de refinar, a variedade "petróleo árduo". A partir de agora, todo barril que consumirmos será mais custoso para extrair, mais custoso para refinar – e, assim, mais caro na bomba de gasolina.
Aqueles que afirmam que o mundo permanece "inundados" de petróleo estão tecnicamente correctos: o planeta ainda dispõe de vastas reservas. Mas os propagandistas da indústria petrolífera geralmente deixam de enfatizar que nem todos os reservatórios de petróleo são semelhantes: alguns estão localizados próximos à superfície ou próximos à costa e estão contidos em rocha porosa; outros estão localizados no subsolo profundo, no offshore distante, ou presos em formações rochosas inflexíveis. Os sítios anteriores são relativamente fáceis de explorar e proporcionam um combustível líquido que pode ser prontamente refinado em líquidos utilizáveis; os segundos só podem ser explorados através de técnicas custosas, ambientalmente arriscadas e muitas vezes resultam num produto que deve ser fortemente processado antes que a refinação possa sequer começar.
A simples verdade sobre o assunto é esta: a maior parte das reservas fáceis do mundo já foram esgotadas – excepto aquelas em países espinhosos como o Iraque. Virtualmente todo o petróleo que resta está contido em reservas mais difíceis de serem atingidas. Isto inclui o petróleo do offshore profundo, o petróleo do Árctico e o petróleo de xisto, juntamente com as "areias betuminosas" do Canadá – as quais não são compostas de petróleo de modo algum, mas sim de lama, areia e alcatrão semelhante a betume. As chamadas reservas não convencionais destes tipos podem ser exploradas, mas muitas vezes a um preço desconcertante, não apenas em dólares mas também em danos para o ambiente.
No negócio do petróleo, esta realidade foi reconhecida primeiramente pelo presidente e CEO da Chevron, David O'Reilly, numa carta de 2005 publicada em muitos jornais americanos. "Uma coisa é clara", escreveu ele, "a era do petróleo fácil está acabada". Não só muitos dos campos existentes estavam em declínio, observou ele, como "novas descobertas de energia estão a ocorrer principalmente em lugares onde os recursos são difíceis de extrair, fisicamente, economicamente e mesmo politicamente".
Nova prova desta mutação foi proporcionada pela Agência Internacional de Energia (IEA) numa revisão de 2010 das perspectivas do petróleo mundial. Na preparação deste relatório a agência examinou os rendimentos históricos dos maiores campos produtores do mundo – o "petróleo fácil" sobre o qual o mundo ainda repousa para o grosso da sua energia de forma esmagadora. Os resultados foram espantosos: esperava-se que aqueles campos perdessem três quartos da sua capacidade produtiva ao longo dos 25 anos seguintes, eliminando 52 milhões de barris de petróleo por dia da oferta mundial, ou cerca de 75% a actual produção mundial. As implicações eram estarrecedoras: ou descobrir petróleo novo para substituir aqueles 52 milhões de barris/dia a Era do Petróleo chegará logo a um fim e a economia mundial entraria em colapso.
Naturalmente, como a IEA tornou claro em 2010, haverá novo petróleo, mas só da variedade difícil que exigirá um preço de todos nós – e do planeta, também. Para apreender as implicações da nossa crescente dependência do petróleo difícil, vale a pena dar uma olhadela a alguns dos mais apavorantes pontos sobre a Terra. Assim, apertem os vossos cintos de segurança: primeiro estamos a ir para o mar para examinar o "prometedor" novo mundo do petróleo do século XXI.
Petróleo de águas profundas
As companhias de petróleo têm estado a perfurar em áreas offshore desde há algum tempo, especialmente no Golfo do México e no Mar Cáspio. Até recentemente, contudo, tais esforços verificavam-se invariavelmente em águas relativamente rasas – umas poucas centenas de metros, na maior parte – o que permitia às companhias utilizarem perfuradores convencionais montados sobre colunas extensas. A perfuração em águas profundas, em profundidades que ultrapassam os 300 metros, é um assunto inteiramente diferente. Ela requer plataformas de perfuração especializadas, refinadas e imensamente custosas que podem custar milhares de milhões de dólares para produzir.
A Deepwater Horizon, destruída no Golfo do México em Abril de 2010 devido a uma explosão catastrófica, é bastante típica deste fenómeno. O vaso foi construído em 2001 por uns US$500 milhões e custa cerca de US$1 milhão por dia conservar e manter. Parcialmente devido a estes altos custos, a BP estava com pressa de acabar o trabalho do seu malfadado furo Macondo e mover a Deepwater Horizon para outro local de perfuração. Tais considerações financeiras, acreditam muitos analistas, explicam a pressa com a qual a tripulação do vaso selou o furo – levando a uma fuga de gases explosivos dentro do povo e a explosão resultante. A BP agora terá de pagar algo para além de US$30 mil milhões para atender as todas as reclamações pelo dano feito com a sua fuga de petróleo maciça.
A seguir ao desastre, a administração Obama impôs uma proibição temporária à perfuração no offshore profundo. Mal se passaram dois anos, a perfuração nas águas profundas do Golfo está outra vez em níveis de pré desastre. O presidente Obama também assinou um acordo com o México que permitia perfurar na parte mais profunda do Golfo, ao longo da fronteira marítima estado-unidense-mexicana.
Enquanto isso, a perfuração em águas profundas está a ganhar velocidade alhures. O Brasil, por exemplo, movimenta-se para explorar seus campos "pré sal" (assim chamados porque jazem abaixo de uma camada de sal) nas águas do Oceano Atlântico muito longe da costa do Rio de Janeiro. Novos campos offshore estão analogamente a ser desenvolvidos nas águas profundas do Gana, Serra Leoa e Libéria.
Em 2020, diz o analista de energia John Westwood, estes campos de águas profundas fornecerão 10% do petróleo mundial, quando eram apenas 1% em 1995. Mas este acréscimo de produção não sairá barato: a maior parte destes novos campos custará dezenas ou centenas de milhares de milhões de dólares para desenvolver e só se demonstrará lucrativo desde que o petróleo continue a ser vendido por US$90 ou mais por barril.
Os campos offshore do Brasil, considerados por alguns peritos como as mais prometedoras novas descobertas deste século, demonstrar-se-ão especialmente caras porque jazem sob 2400 metros de água e 4000 metros de areia, rocha e sal. Serão necessários os mais avançados e custosos equipamentos de perfuração do mundo – alguns deles ainda a serem desenvolvidos. A Petrobrás, a empresa de energia controlada pelo estado, já comprometeu US$53 mil milhões para o projecto em 2011-2015 e a maior parte do analistas acredita que isto será apenas um modesto pagamento inicial de um estarrecedor preço final.
Petróleo árctico
Espera-se que o Árctico proporcione uma fatia significativa da futura oferta mundial. Até recentemente, a produção no extremo Norte fora muito limitada. Excepto na área de Prudhoe Bay no Alasca e num certo número de campos na Sibéria, as grandes companhias tem geralmente evitado a região. Mas agora, ao verem poucas outras opções, elas estão a preparar-se para grandes investidas num Árctico em fusão.
De qualquer perspectiva, o Árctico é o último lugar para se querer ir a fim de furar por petróleo. As tempestades são frequentes e as temperaturas no Inverno mergulham muito abaixo do ponto de congelamento. A maior parte do equipamento comum não operará sob estas condições. São necessários substitutivos especializados (e custosos). As equipes de trabalho não podem viver na região por muito tempo. A maior parte dos abastecimentos – comida, combustível, materiais de construção – devem ser trazidos de milhares de quilómetros a um custo fenomenal.
Mas o Árctico tem os seus atractivos: milhares de milhões de barris de petróleo inexplorado. Segundo o U.S. Geological Survey (USGS), a área Norte do Círculo Árctico, com apenas 6% da superfície do planeta, contém uma estimativa de 13% do seu petróleo remanescente (e ainda maior fatia do seu gás natural não desenvolvido) – números com que nenhuma outra região pode competir.
Sobrando poucos lugares para ir, as grandes empresas de energia agora estão a preparar-se para uma corrida a fim de explorar as riquezas do Árctico. Neste Verão, espera-se que a Royal Dutch Shell comece furos de teste em porções dos Mares Beauforte Chukchi, ao Norte do Alasca (a administração Obama ainda conceder as autorizações finais de operação para estas actividades, mas espera-se a aprovação). Ao mesmo tempo, a Statoil e outras firmas planeiam perfurar no Mar de Barents, ao Norte da Noruega.
Com estes cenários energéticos extremos, o aumento da produção no Árctico impulsionará significativamente os custos operacionais das companhias de petróleo. A Shell, por exemplo, já gastou US$4 mil milhões só nos preparativos para furos de teste no offshore do Alasca, sem produzir um único barril de petróleo. O desenvolvimento em plena escala nesta região ecologicamente frágil, tenazmente contrariado por ambientalista e povos nativos locais, multiplicará este número muitas vezes mais.
Areias betuminosas e petróleo pesado
Espera-se que outra fatia significativa do futuro abastecimento mundial de petróleo venha das areias betuminosas do Canadá (também chamadas "areias petrolíferas) e do petróleo super-pesado da Venezuela. Nada disto é petróleo tal como é normalmente entendido. Não sendo líquidos nos seu estado natural, eles não podem ser extraídos pelos materiais de furação tradicionais, mas existem em grande abundância. Segundo o USGS, as areias betuminosas do Canadá contêm o equivalente a 1,7 milhão de milhões de barris de petróleo convencional (líquido), ao passo que os depósitos de petróleo pesado da Venezuela dizem abrigar outro milhão de milhões de petróleo equivalente – embora nem tudo seja considerado "recuperável" com a tecnologia existente.
Aqueles que afirmam que a Era do Petróleo está longe de ultrapassada apontam estas reservas como prova de que o mundo ainda pode extrair imensas quantidades de combustíveis fósseis inexplorados. E certamente é concebível que, com a aplicação de tecnologias avançadas e uma indiferença total para com as consequências ambientais, estes recursos na verdade serão colhidos. Mas não é petróleo fácil.
Até agora, as areias betuminosas do Canadá foram obtidas através de um processo análogo à mineração a céu aberto, utilizando pás monstruosas para arrancar uma mistura de areia e betume do solo. Mas a maior parte do betume próximo à superfície nas areias betuminosas ricas da província de Alberta foram exauridas, o que significa que toda extracção futura exigirá um processo muito mais complexo e custoso. Terá de ser injectado vapor nas concentrações mais profundas para fundir o betume e permitir a sua recuperação através de bombas maciças. Isto exige um investimento colossal em infraestrutura e energia, bem como a construção de instalações de tratamento para todos os resíduos tóxicos resultantes. Segundo o Canadian Energy Research Institute, o pleno desenvolvimento das areias petrolíferas de Alberta exigiria um investimento mínimo de US$218 mil milhões ao longo dos próximos 25 anos, não incluindo o custo de construir oleodutos para os Estados Unidos (tal como o proposto Keystone XL) para processamento em refinarias estado-unidenses.
O desenvolvimento do petróleo pesado da Venezuela exigirá investimento numa escala comparável. Acredita-se que o cinturão do Orenoco, uma concentração especialmente densa de petróleo pesado adjacente ao Rio Orenoco contenha reservas recuperáveis de 513 mil milhões de barris de petróleo – talvez a maior fonte de petróleo inexplorado do planeta. Mas converter esta forma de betume semelhante a melaço num combustível líquido excede em muito a capacidade técnica ou os recursos financeiros da companhia estatal, Petróleos de Venezuela SA. Consequentemente, ela está agora à procura de parceiros estrangeiros dispostos a investir os US$10 a 20 mil milhões necessários apenas para construir as instalações necessárias.
Os custos ocultos
Reservas difíceis como esta proporcionarão a maior parte do novo petróleo do mundo nos próximos anos. Uma coisa é clara: mesmo se puderem substituir o petróleo fácil nas nossas vidas, o custo de tudo o que está relacionado com petróleo – seja a gasolina na bomba, produtos com base no petróleo, fertilizantes, tudo por toda a parte das nossas vidas – está em vias de ascender. Habitue-se a isto. Se as coisas decorrerem como se planeia actualmente, estaremos pendurados no big oil nas próximas décadas.
E estes são apenas os custos mais óbvios numa situação em que abundam custos ocultos, especialmente para o ambiente. Tal como no desastre do Deepwater Horizon, a extracção em áreas do offshore profundo e em outras localizações geográficas extremas garantirá riscos ambientais sempre maiores. Afinal de contas, aproximadamente 22 milhões de litros de petróleo foram despejados no Golfo do México, graças à negligência da BP, provocando danos extensos a animais marinhos e ao habitat costeiro.
Recordar que, por mais catastrófico que fosse, ele ocorreu no Golfo do México, onde podiam ser mobilizadas forças amplas para a limpeza e a capacidade de recuperação do ecosistema era relativamente robusta. O Árctico e a Gronelândia representam um risco diferente, dado a sua distância das capacidades de recuperação estabelecidas e a extrema vulnerabilidade dos seus ecosistemas. Os esforços para restaurar tais áreas na sequência de fugas de petróleo maciças custariam muitas vezes os US$30 a 40 mil milhões que a BP pretende pagar pelo danos do Deepwater Horizon e serão muito menos eficazes.
Além de tudo isto, muitos dos campos de petróleo difícil mais prometedores estão na Rússia, na bacia do Mar Cáspio, e em áreas conflituosas da África. Para operar nestas áreas, companhias de petróleo serão confrontadas não só com os custos previsivelmente altos da extracção como também com custos adicionais envolvendo sistemas locais de suborno e extorsão, sabotagem por grupos de guerrilha e as consequências de conflitos civis.
E não esquecer o custo final: Se todos estes barris de petróleo e substâncias afins do petróleo forem realmente produzidos a partir dos menos convidativos lugares neste planeta, então nas próximas décadas continuaremos a queimar combustíveis fósseis maciçamente, criando sempre mais gases com efeito estufa [NR] como se não houvesse amanhã. E aqui está a triste verdade: se prosseguirmos no caminho do petróleo difícil ao invés de investirmos maciçamente em energias alternativas, podemos excluir qualquer esperança de impedir as mais catastróficas consequências de um planeta mais quente e mais turbulento.
De modo que, sim, há petróleo não convencional. Mas não, ele não será mais barato, não importa quanto haja. E, sim, as companhias de petróleo podem obtê-lo, mas olhando realistamente quem o desejaria?
[NR] Um falso problema. A situação energética mundial já é suficientemente má por si mesma, dispensando invencionices adicionais como o do mítico aquecimento global. Ver http://resistir.info/climatologia/impostura_global.html .
[*] Autor de The Race for What's Left: The Global Scramble for the World's Last Resources (Metropolitan Books).
O original encontr-se em www.tomdispatch.com/...
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
quarta-feira, 21 de março de 2012
domingo, 18 de março de 2012
Carta Para S
CARTA
Olá, como vais?
Que esta carta te encontre de boa saúde
É o que desejo,
Neste tempo obscuro
Em que uma linha curva é uma reta
Que vai para parte nenhuma.
Escrevo-te sem a alegria da chegada
Tão triste foi a partida.
Nem sei onde habitas
Fora do meu coração,
Dos meus nervos, da minha memória.
Somos parte daquela história
dos vencidos que se levantaram do chão.
Tive-te na cama, do lado esquerdo
Onde os achados e os perdidos
Desfraldam um cravo rubro na mão.
Não sei para onde foste,
Nem sei se deu fruto o teu ventre
Mulher madura, mãe, amante.
Sei que vives nos meus sonhos
E onde quer que eu grite: Avante!
É o teu corpo que vejo
Mais puro e inteiro o meu desejo
Que um mundo novo se levante.
Sopro, soluço, solar,
Essa sonoridade suave
Que invoca o teu nome, quantos?
De quantos a escutaste
Depois de mim?
Quantos te sussurraram promessas
Mentiras, amanhãs que não madrugaram?
Nesta vida às avessas
Quantos de ti, cravo, mulher,
Desertaram?
Nozes Pires
Olá, como vais?
Que esta carta te encontre de boa saúde
É o que desejo,
Neste tempo obscuro
Em que uma linha curva é uma reta
Que vai para parte nenhuma.
Escrevo-te sem a alegria da chegada
Tão triste foi a partida.
Nem sei onde habitas
Fora do meu coração,
Dos meus nervos, da minha memória.
Somos parte daquela história
dos vencidos que se levantaram do chão.
Tive-te na cama, do lado esquerdo
Onde os achados e os perdidos
Desfraldam um cravo rubro na mão.
Não sei para onde foste,
Nem sei se deu fruto o teu ventre
Mulher madura, mãe, amante.
Sei que vives nos meus sonhos
E onde quer que eu grite: Avante!
É o teu corpo que vejo
Mais puro e inteiro o meu desejo
Que um mundo novo se levante.
Sopro, soluço, solar,
Essa sonoridade suave
Que invoca o teu nome, quantos?
De quantos a escutaste
Depois de mim?
Quantos te sussurraram promessas
Mentiras, amanhãs que não madrugaram?
Nesta vida às avessas
Quantos de ti, cravo, mulher,
Desertaram?
Nozes Pires
sábado, 17 de março de 2012
Crise global: no olho do furacão
por Alejandro Nadal [*]
Dizem que o tempo é um invento para evitar que tudo aconteça no mesmo instante. A frase original é do escritor Ray Cummings e aparece no seu romance de ficção científica A garota do átomo dourado (publicado em 1929). Parece assim que hoje o tempo colapsa sobre si próprio e, efectivamente, todas as economias do planeta acusam simultaneamente os sintomas e as feridas da crise.
Isto pode parecer uma opinião demasiado pessimista. Afinal de contas a imprensa de negócios esforça-se por fazer-nos acreditar que a crise global entrou numa fase de acalmia e até de recuperação. A violência da crise na Grécia passou momentaneamente para um segundo plano com reestruturação da sua dívida, há uma semana. O euro parece que melhorou a sua posição e surgem outras "boas notícias". Nos Estados Unidos, pelo terceiro mês consecutivo, anuncia-se que foram gerados empregos e fala-se de uma "tímida recuperação".
Assim, parece que os ventos em furacão amainaram e que lá longe poderia despontar um raio de sol e o anúncio de melhores tempos. Mas não se pode enganar.
Na Grécia, o acordo reduziu em mais de cem mil milhões de euros a dívida com credores privados. Mas isso não é senão uma moratória disfarçada da reestruturação da dívida. A prova é que até uma parte dos temidos seguros de não pagamento foi activada (o montante apenas ultrapassou os 3 mil milhões de dólares, o que pode ser absorvido pelas seguradoras sem grandes problemas).
Todo este acordo foi para ganhar tempo, não para encontrar uma solução real para o problema da economia grega. No fundo, a Grécia permanece sem capacidade de enfrentar o serviço da sua dívida e as condições de política económica que lhe foram impostas (em especial pelo programa de austeridade) conduzirá necessariamente ao aprofundamento da catástrofe. O PIB já acusa uma queda de 6% em 2011 e este ano o prognóstico é muito mau. O desemprego ultrapassa 22% e entre jovens chega a 50%. Já há mais de 22 mil pessoas sem tecto em Atenas.
Todos os componentes da procura agregada da economia grega estão em queda vertical: o salário mínimo reduziu-se em 22% (e para alguns sectores a perda será de 32%). O corte da despesa pública representa outro golpe duro na procura agregada. É evidente que a meta de reduzir a dívida grega a 160% do PIB em 2020 é irrisória. O país vai arrebentar muito antes.
O ritmo de actividade económica na Europa continua a diminuir e a região está a entrar numa recessão que pode ser duradoura. O desemprego na União Europeia atinge já os 10,7% e é o mais alto em mais de 13 anos. O "motores" económicos não vão bem: o prognóstico favorável para 2012 é que a Alemanha e França cresçam 1,2 e 1,3%, respectivamente. A Itália e a Espanha mantêm-se mais ou menos estáveis, se fizermos caso dos diferenciais de financiamento da sua dívida soberana, mas essas duas economias estão claramente no umbral da uma forte recessão e isso fará que os mercados financeiros voltem a "inquietar-se". O custo financeiro da sua dívida voltará a crescer.
Nos Estados Unidos, as boas notícias sobre o desempenho do mercado de trabalho devem ser manejadas com cautela. Muitos dos empregos gerados continuam a ser de muito má qualidade. É normal, os problemas estruturais da economia estado-unidense não foram reparados e a tendência à precarização do trabalho mantém-se. Por outro lado, todos os componentes da procura agregada estão a contrair-se: o consumo, o investimento residencial e não residencial e até as exportações. E tal como na Europa, a austeridade na política fiscal não augura nada de bom.
Na China as coisas tão pouco andam bem. A anemia mundial afecta as suas exportações e isso envia uma mensagem clara à hierarquia chinesa no sentido de transformar a economia, abandonando a política de exportações selvagens. Isso implicaria aumentar o consumo interno, o que requer aumentar o nível dos salários e remunerações. Os novos líderes em Pequim não parecem inclinar-se nessa direcção e já estão a apostar na desvalorização do renminbi.
Para fechar com chave de ouro, a retórica de guerra no Médio Oriente faz com que o preço do petróleo se mantenha alto, o afectará negativamente a economia mundial. Israel continua a insistir em que não permitirá ao Irão dotar-se de armas nucleares. Isso pode ser parte de uma campanha de distracção sobre o problema palestino, mas é algo que incide sobre as expectativas e a evolução do preço internacional do petróleo bruto.
No cronómetro da crise, o tempo deforma-se reconcentra-se num ponto: a crise é um monstro que respira e retomar as suas forças. A lei da mercadoria, tão certeiramente definida por Marx, levou a lógica do capital até os rincões mais afastados do planeta. Para esta longa viagem, na sua equipagem o capital levou também as suas contradições e a propensão à crise. É o pulso das economias capitalistas.
[*] Economista, mexicano, http://nadal.com.mx
O original encontra-se em http://www.jornada.unam.mx/2012/03/14/opinion/028a1eco
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
quinta-feira, 15 de março de 2012
Leão Trotski
Leão Trotski
1879-1940
Inicialmente próximo dos mencheviques e em seguida bolchevique. Como Comissário de Guerra dirigiu o Exército Vermelho à vitória na guerra civil russa e sobre a invasão imperialista da Russa Soviética. Ajudou a criar e dirigiu a Oposição de Esquerda a Stalin. Desenvolveu a teoria da Revolução Permanente e fundou a 4ª Internacional.
Atualmente estão disponíveis em Português as seguintes obras:
1907 A Revolução de 1905 (prefácio à edição russa)
1911 - Nov Por que os Marxistas se Opõem ao Terrorismo Individual
1916 - Mar Saudações a Franz Mehring e Rosa Luxemburgo
1921 Na Escala da História Universal
1922 - Mai Saber Militar e Marxismo
1922 - Set O Futurismo
1923 Questões do Modo de Vida
1924 - Abr Lenine
1924 - Set As Lições de Outubro
1925 - Dez A Proteção das Mães e a Luta Pela Elevação do Nível Cultural
1928 - Dez O Marxismo e a Relação entre Revolução Proletária e Revolução Camponesa
1929 - Fev O Triunfo de Estaline [Texto em Galego]
1929 - Mai A Revolução Desfigurada [Texto em Galego]
1929 - Jun Mais uma vez sobre Brandler e Thalheimer [Texto em Galego]
1929 - Nov A Revolução Permanente
1929 Retorno ao Partido?
1930 O Suicídio de Maiakovsky
1930 - Jan O “Terceiro Período” dos Erros da Internacional Comunista
1930 - Abr A Palavra de Ordem da Assembléia Nacional na China
1930 - Mai O Que É o Centrismo
1930 - Mai Tarefas e Perigos da Revolução na Índia
1930 - Set O Perigo Fascista Paira Sobre a Alemanha
1930 História da Revolução Russa
1931 O Que é Uma Situação Revolucionária
1931 - Mar A Questão da Unidade Sindical [Texto em Galego]
1931 - Nov Está na Alemanha a Chave da Situação Mundial
1931 - Nov O Ultimatismo Burocrático
1932 - Nov O Que Foi a Revolução de Outubro
1934 - Out Aonde Vai a França?
1935 As Frações e a Quarta Internacional
1935 - Abr O Problema Nacional e as Tarefas do Partido Proletário
1936 - Jan A Traição do "Partido Operário de Unificação Marxista" Espanhol
1936 - Mar A França na Encruzilhada
1936 - Jul Os Estados Unidos Após a Crise de 1929
1936 Revolução Traída - Capitulo 5
1936 Moral e Revolução
1936 Menchevismo e Bolchevismo na Espanha
1937 Estalinismo e Bolchevismo
1937 - Out 90 Anos do Manifesto Comunista
1937 - Nov Uma Vez Mais: A União Soviética e Sua Defesa
1937 - Nov Um Estado Não Operário e Não Burguês
1938 Carta à Juventude
1938 Discurso Gravado para Conferência de Fundação da IV Internacional
1938 - Set O Programa de Transição
1938 - Set Entrevista de Leon Trotsky a Mateo Fossa
1939 - Abr A Questom Ucraniana [Texto em Galego]
1939 - Abr O Marxismo em Nosso Tempo
1939 - Jun Moralistas e Sicofantas Contra o Marxismo
1939 - Jul Carta aos Trabalhadores da Índia
1939 - Set Carta a James P. Cannon
1939 - Set A URSS na Guerra
1939 - Out Carta a Sherman Stanley (08/10/1939)
1939 - Out Novamente e uma Vez Mais, Sobre a Natureza da URSS
1939 - Out O Referedum e o Centralismo Democrático
1939 - Out Carta a Sherman Stanley (22/10/1939)
1939 - Out Carta a James P. Cannon (28/10/1939)
1939 - Nov Carta a Max Shachtman
1939 - Dez Carta a James P. Cannon
1939 - Dez Uma Oposição Pequeno-Burguesa no Socialist Workers Party
1939 - Dez Carta a John G. Wright
1939 - Dez Carta a Max Shachtman
1939 - Dez Carta à Maioria do Comitê Nacional (primeira carta)
1939 - Dez Carta à Maioria do Comitê Nacional (segunda carta)
1940 - Jan Carta à Maioria do Comitê Nacional (terceira carta)
1940 - Jan Carta à Maioria do Comitê Nacional (quarta carta)
1940 - Jan Carta a Joseph Hansen
1940 - Jan Carta Aberta ao Camarada Burnham
1940 - Jan Carta a James P. Cannon
1940 - Jan Carta a Farrell Dobs
1940 - Jan Carta a John G. Wright
1940 - Jan Carta a James P. Cannon
1940 - Jan Carta a William F. Warde
1940 - Jan Carta a Joseph Hansen
1940 - Jan De um Arranhão, ao Perigo de Gangrena
1940 - Jan Carta a Martin Abern
1940 - Fev Carta a Albert Goldman - 10/02/1940
1940 - Fev Carta a Albert Goldman - 19/02/1940
1940 - Fev De Volta ao Partido!
1940 - Fev Ciência e Estilo
1940 - Fev Carta a James P. Cannon
1940 - Fev Testamento
1940 - Fev Carta a Joseph Hansen
1940 - Mar Carta a Farrell Dobbs - 04/03/1940
1940 - Abr Carta a Farrell Dobbs - 04/04/1940
1940 - Abr Carta a Farrell Dobbs - 16/04/1940
1940 - Abr Os Moralistas Pequeno-Burgueses e o Partido Proletário
1940 - Abr Balanço dos Acontecimentos Filandeses
1940 - Mai Carta a James P. Cannon
1940 - Mai Manifesto da IV Internacional Sobre a Guerra Imperialista e a Revolução Proletária Mundial
1940 - Jun Carta a Abert Goldman
1940 - Ago Sobre o Partido "Operário"
1940 - Ago Carta a Albert Goldman
1940 - Ago Carta a Chris Andrews
1940 - Ago Classe - Partido – Direção
1940 O Homem Não Vive Só de Política
1940 Os Sindicatos na Época da Decadência Imperialista
in Arquivo Marxista (Marxists internet Archive) secção portuguesa
1879-1940
Inicialmente próximo dos mencheviques e em seguida bolchevique. Como Comissário de Guerra dirigiu o Exército Vermelho à vitória na guerra civil russa e sobre a invasão imperialista da Russa Soviética. Ajudou a criar e dirigiu a Oposição de Esquerda a Stalin. Desenvolveu a teoria da Revolução Permanente e fundou a 4ª Internacional.
Atualmente estão disponíveis em Português as seguintes obras:
1907 A Revolução de 1905 (prefácio à edição russa)
1911 - Nov Por que os Marxistas se Opõem ao Terrorismo Individual
1916 - Mar Saudações a Franz Mehring e Rosa Luxemburgo
1921 Na Escala da História Universal
1922 - Mai Saber Militar e Marxismo
1922 - Set O Futurismo
1923 Questões do Modo de Vida
1924 - Abr Lenine
1924 - Set As Lições de Outubro
1925 - Dez A Proteção das Mães e a Luta Pela Elevação do Nível Cultural
1928 - Dez O Marxismo e a Relação entre Revolução Proletária e Revolução Camponesa
1929 - Fev O Triunfo de Estaline [Texto em Galego]
1929 - Mai A Revolução Desfigurada [Texto em Galego]
1929 - Jun Mais uma vez sobre Brandler e Thalheimer [Texto em Galego]
1929 - Nov A Revolução Permanente
1929 Retorno ao Partido?
1930 O Suicídio de Maiakovsky
1930 - Jan O “Terceiro Período” dos Erros da Internacional Comunista
1930 - Abr A Palavra de Ordem da Assembléia Nacional na China
1930 - Mai O Que É o Centrismo
1930 - Mai Tarefas e Perigos da Revolução na Índia
1930 - Set O Perigo Fascista Paira Sobre a Alemanha
1930 História da Revolução Russa
1931 O Que é Uma Situação Revolucionária
1931 - Mar A Questão da Unidade Sindical [Texto em Galego]
1931 - Nov Está na Alemanha a Chave da Situação Mundial
1931 - Nov O Ultimatismo Burocrático
1932 - Nov O Que Foi a Revolução de Outubro
1934 - Out Aonde Vai a França?
1935 As Frações e a Quarta Internacional
1935 - Abr O Problema Nacional e as Tarefas do Partido Proletário
1936 - Jan A Traição do "Partido Operário de Unificação Marxista" Espanhol
1936 - Mar A França na Encruzilhada
1936 - Jul Os Estados Unidos Após a Crise de 1929
1936 Revolução Traída - Capitulo 5
1936 Moral e Revolução
1936 Menchevismo e Bolchevismo na Espanha
1937 Estalinismo e Bolchevismo
1937 - Out 90 Anos do Manifesto Comunista
1937 - Nov Uma Vez Mais: A União Soviética e Sua Defesa
1937 - Nov Um Estado Não Operário e Não Burguês
1938 Carta à Juventude
1938 Discurso Gravado para Conferência de Fundação da IV Internacional
1938 - Set O Programa de Transição
1938 - Set Entrevista de Leon Trotsky a Mateo Fossa
1939 - Abr A Questom Ucraniana [Texto em Galego]
1939 - Abr O Marxismo em Nosso Tempo
1939 - Jun Moralistas e Sicofantas Contra o Marxismo
1939 - Jul Carta aos Trabalhadores da Índia
1939 - Set Carta a James P. Cannon
1939 - Set A URSS na Guerra
1939 - Out Carta a Sherman Stanley (08/10/1939)
1939 - Out Novamente e uma Vez Mais, Sobre a Natureza da URSS
1939 - Out O Referedum e o Centralismo Democrático
1939 - Out Carta a Sherman Stanley (22/10/1939)
1939 - Out Carta a James P. Cannon (28/10/1939)
1939 - Nov Carta a Max Shachtman
1939 - Dez Carta a James P. Cannon
1939 - Dez Uma Oposição Pequeno-Burguesa no Socialist Workers Party
1939 - Dez Carta a John G. Wright
1939 - Dez Carta a Max Shachtman
1939 - Dez Carta à Maioria do Comitê Nacional (primeira carta)
1939 - Dez Carta à Maioria do Comitê Nacional (segunda carta)
1940 - Jan Carta à Maioria do Comitê Nacional (terceira carta)
1940 - Jan Carta à Maioria do Comitê Nacional (quarta carta)
1940 - Jan Carta a Joseph Hansen
1940 - Jan Carta Aberta ao Camarada Burnham
1940 - Jan Carta a James P. Cannon
1940 - Jan Carta a Farrell Dobs
1940 - Jan Carta a John G. Wright
1940 - Jan Carta a James P. Cannon
1940 - Jan Carta a William F. Warde
1940 - Jan Carta a Joseph Hansen
1940 - Jan De um Arranhão, ao Perigo de Gangrena
1940 - Jan Carta a Martin Abern
1940 - Fev Carta a Albert Goldman - 10/02/1940
1940 - Fev Carta a Albert Goldman - 19/02/1940
1940 - Fev De Volta ao Partido!
1940 - Fev Ciência e Estilo
1940 - Fev Carta a James P. Cannon
1940 - Fev Testamento
1940 - Fev Carta a Joseph Hansen
1940 - Mar Carta a Farrell Dobbs - 04/03/1940
1940 - Abr Carta a Farrell Dobbs - 04/04/1940
1940 - Abr Carta a Farrell Dobbs - 16/04/1940
1940 - Abr Os Moralistas Pequeno-Burgueses e o Partido Proletário
1940 - Abr Balanço dos Acontecimentos Filandeses
1940 - Mai Carta a James P. Cannon
1940 - Mai Manifesto da IV Internacional Sobre a Guerra Imperialista e a Revolução Proletária Mundial
1940 - Jun Carta a Abert Goldman
1940 - Ago Sobre o Partido "Operário"
1940 - Ago Carta a Albert Goldman
1940 - Ago Carta a Chris Andrews
1940 - Ago Classe - Partido – Direção
1940 O Homem Não Vive Só de Política
1940 Os Sindicatos na Época da Decadência Imperialista
in Arquivo Marxista (Marxists internet Archive) secção portuguesa
segunda-feira, 12 de março de 2012
Lições do Sul para uma Europa em crise?
– Retomar a ofensiva, sair da zona euro, romper com a armadilha neoliberal
por Rémy Herrera [*]
A extrema gravidade da crise que atinge actualmente a Europa, em particular a zona euro por via das dívidas ditas "soberanas", da Grécia à Itália entre outras, leva a colocar a questão: os povos europeus não terão lições a retirar das experiências pelas quais certos países do Sul estão a passar e das estratégias anti-crise que aí foram adoptadas? Porque o que é facto é que, até ao momento, têm sido as receitas do Norte, que se supõe serem universalmente válidas, as que foram na generalidade administradas às economias do Sul – ainda que estas receitas não lhes tenham sido muito convenientes, salvo raras excepções. Mas os tempos mudaram…
A Europa em crise
As soluções neoliberais de austeridade generalizada e de destruição dos serviços públicos hoje propostas (ou melhor dizendo, impostas) para tentar salvar o capitalismo em crise e relançar o crescimento são absurdas; elas constituem a forma mais segura de agravar ainda mais esta crise e de precipitar mais rapidamente o sistema no abismo. E isto ao mesmo tempo que favorecem, por todo o lado, a subida em força das extremas-direitas, racistas, demagógicas e sempre cúmplices da ordem estabelecida.
Neste contexto, a crise que a zona euro atravessa actualmente deve ser entendida como em íntima ligação com as próprias bases do processo da construção europeia. Acreditou-se ser possível criar uma moeda única sem Estado, mesmo o de uma Europa política que na verdade não existe. Havia aqui um erro de base nesta Europa que pretendia fazer convergir à força economias extremamente diferentes sem o reforço de instituições políticas à escala regional nem a promoção de uma harmonização social nivelando por cima. É assim que, de forma lógica, esta "má Europa", voltada contra os povos, anti-social e anti-democrática, é cada vez mais abertamente rejeitada.
Continuar a acreditar num novo "compromisso keynesiano" constituiria, entretanto, alimentar ilusões. O anterior, formulado após a Segunda Guerra mundial, não foi concedido pelos grandes capitalistas, foi alcançado pelas lutas populares, múltiplas e convergentes. Hoje a alta finança, que retomou o poder, não está disposta a nenhuma concessão. O keynesianismo – que poderia de facto desejar-se – não possui nem realidade nem futuro. Doravante, são os oligopólios financeiros quem domina e quem dita a sua lei aos Estados, para fixar as taxas de juro, a criação de moeda ou, quando tal é necessário, para nacionalizar.
Ruptura?
Perante a crise sistémica e os perigos que ela comporta – incluindo o de ver chegar ao poder extremistas de direita – é tempo de as forças progressistas na Europa retomarem a ofensiva, formulando de novo propostas alternativas para uma esquerda radical e internacionalista, orientadas no sentido da reconstrução de projectos sociais e de solidariedades voltadas para o Sul em luta.
Entre os debates urgentes a iniciar figura o da saída da zona euro, nomeadamente para a Europa do Sul, sob certas condições e segundo diferentes modalidades. É evidente que uma tal decisão seria difícil de assumir pelos pequenos países como a Grécia. Constituiria uma falsidade afirmar que desta opção de ruptura não resultariam dificuldades. Mas constituiria igualmente uma falsidade afirmar-se que uma tal via conduziria à catástrofe.
E isto por três razões pelo menos. Em primeiro lugar, há importantes economias europeias que não estão na zona euro, como o Reino Unido. Depois, há países que foram violentamente atingidos pela crise e que estão em vias de recuperar, fora da zona euro, nomeadamente a Islândia. Por fim, e fora do continente europeu, há países do Sul que ousaram a decisão de romper com as regras do sistema monetário internacional actual sem que de tal decisão decorresse qualquer situação de caos. Muito pelo contrário, tem sido precisamente essa via de ruptura – temporária – com os dogmas neoliberais que lhes tem permitido autonomizar-se e recuperar.
Que lições retirar do Sul?
Numerosas experiências recentes a Sul mostraram que a reconquista de elementos de soberania nacional – monetária, entre outras – e o voluntarismo político perante os diktat dos mercados financeiros abriram margens de manobra que permitiram a esses países sair de situações económicas dramáticas provocadas em larga medida pelo próprio funcionamento – injusto e inaceitável – do sistema capitalista mundial. Pensamos aqui, por exemplo, no processo de "desdolarização" em Cuba; ou no distanciamento da Venezuela em relação ao Fundo Monetário Internacional; ou ainda na criação do Banco do Sul (Bancosur), envolvendo países da Aliança Bolivariana para as Américas (ALBA) como a Bolívia e outros, incluindo o Brasil. Mas pode igualmente citar-se o caso de um país com um governo menos radical como a Argentina, que em finais de 2001 declarou a suspensão de pagamentos e que retomou com bastante rapidez o crescimento, sem que tenha ficado isolado em relação as ligações internacionais.
Suspensão de pagamentos, desvalorização da moeda e plano de reconversão da dívida foram as medidas que salvaram a Argentina do desastre neoliberal. Não há dúvida que uma saída do euro seria mais difícil para um país como a Grécia, que possui uma base produtiva e exportadora muito mais fraca do que a da Argentina (que assenta sobre a agro-indústria e a energia); mas certamente que daí não resultaria o "fim do mundo" para o seu povo, como insistem em anunciar os media dominantes. Uma tal decisão é difícil de tomar, tendo em conta as contas públicas deficitárias e o risco de fuga de capitais; mas ela parece doravante necessária como forma de saída da armadilha neoliberal – e isto antes que a Alemanha decida ela própria a exclusão desse país!
Pensemos igualmente no Equador, cujo governo realizou uma auditoria à sua dívida externa, anulou as dívidas "odiosas" (ou seja, ilegais e/ou ilegítimas), utilizou a suspensão dos reembolsos para reduzir o peso da dívida pública e libertou dessa forma recursos para as políticas sociais e para as infraestruturas. Em todas estas experiências, em que não se verificou qualquer catástrofe, a reapropriação por parte do Estado do seu poder de decisão política sobre a economia permitiu a cada país libertar-se do atoleiro em que estava mergulhado. Como foi o caso da Malásia, depois da crise asiática de 1998, quando o governo (que não era "de esquerda") colocou limites às imposições do FMI e conduziu a política anti-crise que lhe pareceu mais conveniente.
E porque não, então, na Europa? É certo que as situações diferem de continente para continente, mas as alternativas existem, sob a forma de transições pós-capitalistas, democráticas e sociais, solidárias com o Sul. O que é necessário não é a elaboração de soluções miraculosas ou prontas-a-usar, mas o reabrir dos espaços de debate à esquerda. É portanto mais do que tempo de falar, finalmente, sem tabus nem complexos, de soluções anti-crise colocadas ao serviço dos povos europeus: saída controlada da zona euro, desvalorização monetária (ou de uma eventual nova moeda comum), restabelecimento do controlo das variações dos fluxos financeiros, redefinição do papel político dos bancos centrais, nacionalização do sistema bancário e de certos sectores estratégicos da economia, anulação parcial das dívidas públicas, redistribuição acrescida da riqueza, reconstrução dos serviços públicos, desenvolvimento da participação popular, mas também o relançamento de uma regionalização europeia progressista e aberta ao Sul… Porque, na verdade, são os povos que são soberanos, não as dívidas.
29/Fevereiro/2012
[*] Economista, Investigador do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS)
Do mesmo autor:
Cuba e o projecto comunista
A propósito dos motins nos subúrbios franceses
Crise financeira ou... de superprodução?
As ideias feitas e a verdade escondida sobre Cuba
Depois do não francês
Os Fórums de Mumbai 2004: Que lições tirar?
O original encontra-se em http://www.granma.co.cu/2011/12/02/interna/artic01.html ,
a versão em português foi extraída de http://www.odiario.info/?p=2397
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
sexta-feira, 9 de março de 2012
Lembrando Howard Zinn
Noam Chomsky
04.Mar.12 ::
“As notáveis vida e obra de Howard Zinn resumem-se melhor nas suas próprias palavras. Ele explicava que a sua preocupação fundamental eram “as inúmeras pequenas acções de pessoas desconhecidas” que estão na origem de “grandes momentos” que a história regista.”
Cambridge, Mass. - Não é fácil para mim escrever sobre Howard Zinn, o activista e grande historiador dos E.U.A.. Foi um amigo muito próximo ao longo de 45 anos. As nossas famílias eram também muito chegadas. A sua esposa Roz, que morreu de cancro pouco tempo antes, era uma pessoa maravilhosa e uma grande amiga. É também triste dar conta de que toda uma geração parece estar a desaparecer, incluindo vários velhos amigos: Edward Said, Eqbal Ahmed e outros que não eram apenas perspicazes e produtivos eruditos, mas também militantes dedicados e corajosos, sempre disponíveis quando eram necessários, o que era uma constante. Uma combinação que é essencial quando se espera uma sobrevivência decente.
As notáveis vida e obra de Howard resumem-se melhor nas suas próprias palavras. Ele explicava que a sua preocupação fundamental eram “as inúmeras pequenas acções de pessoas desconhecidas” que estão na origem de “grandes momentos” que integram o registo histórico, um registo que será profundamente enganoso e carecerá de poder se separado destas raízes quando passa através dos filtros da doutrina e do dogma. A sua vida sempre esteve intimamente entrelaçada com os seus inúmeros escritos, discursos e entrevistas. Entregava-se desinteressadamente a outorgar poder às pessoas desconhecidas que provocaram grandes momentos. Isto era verdade quando era operário industrial e activista, e desde os dias, há 50 anos, em que era professor no Spelman College em Atlanta, Geórgia, uma faculdade negra que em grande parte estava aberta para a pequena elite branca.
Quando ensinava em Spelman, Howard apoiou os estudantes que estavam na vanguarda do movimento pelos direitos civis nos primeiros e mais perigosos dias, muitos dos quais chegaram a ser conhecidos anos mais tarde (Alice Walker, Julian Bond e outros) e que o amavam e veneravam, como acontecia com qualquer pessoa que o conhecesse bem. E, como sempre, não se limitou a apoiá-los, o que já era bastante raro, mas também se envolveu directamente com eles nas campanhas mais arriscadas, que não eram fáceis de empreender naquela época, antes que houvesse algum movimento popular organizado e perante a hostilidade do governo durante vários anos. Finalmente, o apoio popular inflamou-se, em grande parte graças às acções corajosas de jovens que se sentavam aos balcões onde se serviam os alimentos, dirigiam autocarros da liberdade, organizavam manifestações, enfrentavam o racismo amargo e a brutalidade, e às vezes a morte. **
Nos inícios da década de 1960 estava a tomar forma um movimento de massas com Martin Luther King num papel de liderança, e o governo teve de responder. Como recompensa pela sua coragem e honestidade, Howard foi imediatamente expulso da faculdade onde ensinava. Alguns anos mais tarde, escreveu regularmente no Comité de Coordenação dos Estudantes não Violentos, SNCC (sigla em Inglês), a principal organização daquelas ” “pessoas desconhecidas” ” cujas “inúmeras pequenas acções” desempenharam um papel tão importante na criação da corrente de opinião que permitiu a Martin Luther King ganhar uma influência significativa (como tenho certeza que ele teria sido o primeiro a dizer) e levar o país a cumprir com as emendas constitucionais de um século antes, que teoricamente concediam direitos civis básicos aos ex-escravos; pelo menos fazê-lo parcialmente, porque é desnecessário enfatizar que ainda há muito a fazer.
Uma influência civilizadora
A nível pessoal passei a conhecer bem Howard quando fomos juntos a uma manifestação pelos direitos civis em Jackson, Mississippi (acho eu) em 1964, a qual, mesmo numa data já tão tardia, foi cena de confronto público violento, brutalidade policial e indiferença, ou inclusive de cooperação com as forças de segurança por parte das autoridades federais, às vezes de um modo um pouco chocante.
Depois de ser expulso do college em Atlanta onde ensinava Howard veio para Boston e passou o resto de sua carreira académica na Universidade de Boston, onde foi, tenho a certeza, o membro do campus universitário mais admirado e amado, e também alvo de acerbo antagonismo e crueldade mesquinha por parte da administração. No entanto nos últimos anos, após a sua reforma, grangeou a honra e o respeito públicos, que sempre tinham sido esmagadores entre os estudantes, funcionários da universidade, grande parte do corpo docente e da comunidade em geral. Enquanto aí esteve, Howard escreveu os livros que lhe deram uma bem merecida fama. O seu livro “Logic of Withdrawal, ” de 1967, foi o primeiro a expressar, clara e firmemente, o que muitos apenas começavam a perceber: que os E.U.A. não tinham qualquer direito a pedir um acordo negociado no Vietname, acordo que teria deixado Washington com o poder e controlo substancial do país que havia invadido e, em seguida, em grande parte destruído.
Em vez disso os EUA tiveram que fazer o que todo o agressor deveria fazer, retirar e permitir que a população, em certa medida, pudesse reconstruir a partir das ruínas e, se possível, proceder com um mínimo de honestidade ao pagamento de reparações maciças pelos crimes que tinham cometido os exércitos invasores, neste caso vastos crimes. O livro teve uma enorme influência entre o público, ainda que os meios cultos de hoje dificilmente possam compreender a sua mensagem, o que mostra o trabalho tão necessário que temos adiante de nós.
É muito significativo que entre o público do tempo de final da guerra 70% considerasse a guerra “fundamentalmente errada e imoral” e não “um erro”, o que constitui um índice notável, considerando o facto de que esse pensamento apenas podia insinuar-se no meio da opinião dominante. Os escritos de Howard (e, como sempre, a sua destacada presença nos protestos e na resistência directa) foram um factor fundamental na educação de grande parte do país.
Nesses mesmos anos Howard tornou-se também um dos principais apoiantes do movimento de resistência que se estava a desenvolver. Estava entre os primeiros signatários da Apelo para Resistir à Autoridade Ilegítima (Call to Resist Illegitimate Authority) e estava muito próximo das actividades da organização Resistir, de que foi praticamente um dos organizadores. Participou também nas acções que tiveram um impacto significativo para promover o protesto contra a guerra. Howard estava sempre lá, onde era preciso (palestras, participação em desobediência civil, apoio a pessoas resistentes, prestar testemunhos em julgamentos).
“A história desde baixo”
Ainda mais influente no longo prazo do que os escritos e acções de Howard contra a guerra foi a sua obra-prima imortal, ” “ A outra história dos Estados Unidos”, ” um livro que literalmente mudou a consciência de uma geração. Nele desenvolveu com cuidado, lucidez e de forma exaustiva a sua mensagem sobre o papel crucial das pessoas que permanecem desconhecidos na prossecução da luta incessante pela paz e justiça, e sobre as vítimas do sistema de poder que cria a sua própria versão da história e tenta impô-la. Posteriormente, as suas “Vozes” da História do Povo, agora uma aclamada produção teatral e de televisão, levaram a muitas pessoas as palavras reais daqueles esquecidos ou ignorados que desempenharam um papel tão valioso na criação de um mundo melhor.
O feito único de Howard, sacando as acções e as vozes de pessoas desconhecidas das profundezas para onde tinham sido confinadas, gerou uma enorme pesquisa histórica que segue um caminho semelhante, centrada em períodos críticos da história americana, e se volta também para outros países, o que é muito bem-vindo. Não é algo totalmente novo (anteriormente houve pesquisa académica sobre temas eruditos), mas nada comparáveis à evocação, ampla e incisiva, que Howard faz da “história vista de baixo”, que compensa as omissões críticas em como tem sido interpretada e transmitida a história dos EUA.
O dedicado activismo de Howard prosseguiu literalmente sem parar até o fim, mesmo nos seus últimos anos, quando sofreu uma doença grave e uma perda pessoal (embora mal se soubesse, quando alguém se encontrava com ele ou era visto conversando incansavelmente com o público em todo o país). Onde havia uma luta pela paz e pela justiça, lá estava Howard, na frente, inesgotável com o seu entusiasmo e inspirador na sua integridade, compromisso, eloquência e decência pura. É difícil estimar quantas e até que ponto foram influenciadas vidas de jovens pelas suas realizações, tanto no seu trabalho como na sua vida.
Há lugares onde a vida e a obra de Howard tiveram uma ressonância especial. Um deles, que deveria ser muito melhor conhecido, é a Turquia. Não conheço outro país em que escritores proeminentes, artistas, jornalistas, académicos e outros intelectuais tenham reunido um registo tão impressionante de coragem e integridade para condenar crimes de Estado e de ir mais além para empreender a desobediência civil para acabar com a opressão e a violência, enfrentando uma forte repressão e por vezes sofrendo-a, para retomar imediatamente a sua tarefa.
É um registo honroso, único que eu saiba, um registo do qual o país deveria estar orgulhoso. E que deve ser um modelo para os outros, assim como a vida e a obra de Howard Zinn é um modelo inesquecível, que certamente deixa uma marca permanente na forma de entender a história e como se deveria viver uma vida decente e honrada.
* States , traduzido para o castelhano por Toni Strubel, História do Povo dos Estados Unidos, Hondarribia, Hiru, 2005, revista e corrigida pelo autor.
**Howard Zinn fala destes anos e essas lutas no seu livro” “Ninguém é neutro num comboio em movimento” “, Hondarribia, Hiru, 2001
“Noam Chomsky é professor emérito do Departamento de Linguística e Filosofia do MIT. Já escreveu vários livros políticos de grande sucesso, incluindo ”9-11: estava lá uma alternativa?” (Seven Stories Press), uma versão actualizada deste clássico, que só foi lançado esta semana com um novo ensaio (do qual este artigo foi adaptado) para comemorar o décimo aniversário dos ataques de 11 de Setembro.
Uma versão deste artigo foi publicada originalmente em TomDispatch.com. ”
Fonte: http://www.aljazeera.com/indepth/opinion/2012/01/201212382259755885.html
Traduzido do Inglês para Rebelión por Beatriz Morales Bastos
Tradução do espanhol: Guilherme Coelho
04.Mar.12 ::
“As notáveis vida e obra de Howard Zinn resumem-se melhor nas suas próprias palavras. Ele explicava que a sua preocupação fundamental eram “as inúmeras pequenas acções de pessoas desconhecidas” que estão na origem de “grandes momentos” que a história regista.”
Cambridge, Mass. - Não é fácil para mim escrever sobre Howard Zinn, o activista e grande historiador dos E.U.A.. Foi um amigo muito próximo ao longo de 45 anos. As nossas famílias eram também muito chegadas. A sua esposa Roz, que morreu de cancro pouco tempo antes, era uma pessoa maravilhosa e uma grande amiga. É também triste dar conta de que toda uma geração parece estar a desaparecer, incluindo vários velhos amigos: Edward Said, Eqbal Ahmed e outros que não eram apenas perspicazes e produtivos eruditos, mas também militantes dedicados e corajosos, sempre disponíveis quando eram necessários, o que era uma constante. Uma combinação que é essencial quando se espera uma sobrevivência decente.
As notáveis vida e obra de Howard resumem-se melhor nas suas próprias palavras. Ele explicava que a sua preocupação fundamental eram “as inúmeras pequenas acções de pessoas desconhecidas” que estão na origem de “grandes momentos” que integram o registo histórico, um registo que será profundamente enganoso e carecerá de poder se separado destas raízes quando passa através dos filtros da doutrina e do dogma. A sua vida sempre esteve intimamente entrelaçada com os seus inúmeros escritos, discursos e entrevistas. Entregava-se desinteressadamente a outorgar poder às pessoas desconhecidas que provocaram grandes momentos. Isto era verdade quando era operário industrial e activista, e desde os dias, há 50 anos, em que era professor no Spelman College em Atlanta, Geórgia, uma faculdade negra que em grande parte estava aberta para a pequena elite branca.
Quando ensinava em Spelman, Howard apoiou os estudantes que estavam na vanguarda do movimento pelos direitos civis nos primeiros e mais perigosos dias, muitos dos quais chegaram a ser conhecidos anos mais tarde (Alice Walker, Julian Bond e outros) e que o amavam e veneravam, como acontecia com qualquer pessoa que o conhecesse bem. E, como sempre, não se limitou a apoiá-los, o que já era bastante raro, mas também se envolveu directamente com eles nas campanhas mais arriscadas, que não eram fáceis de empreender naquela época, antes que houvesse algum movimento popular organizado e perante a hostilidade do governo durante vários anos. Finalmente, o apoio popular inflamou-se, em grande parte graças às acções corajosas de jovens que se sentavam aos balcões onde se serviam os alimentos, dirigiam autocarros da liberdade, organizavam manifestações, enfrentavam o racismo amargo e a brutalidade, e às vezes a morte. **
Nos inícios da década de 1960 estava a tomar forma um movimento de massas com Martin Luther King num papel de liderança, e o governo teve de responder. Como recompensa pela sua coragem e honestidade, Howard foi imediatamente expulso da faculdade onde ensinava. Alguns anos mais tarde, escreveu regularmente no Comité de Coordenação dos Estudantes não Violentos, SNCC (sigla em Inglês), a principal organização daquelas ” “pessoas desconhecidas” ” cujas “inúmeras pequenas acções” desempenharam um papel tão importante na criação da corrente de opinião que permitiu a Martin Luther King ganhar uma influência significativa (como tenho certeza que ele teria sido o primeiro a dizer) e levar o país a cumprir com as emendas constitucionais de um século antes, que teoricamente concediam direitos civis básicos aos ex-escravos; pelo menos fazê-lo parcialmente, porque é desnecessário enfatizar que ainda há muito a fazer.
Uma influência civilizadora
A nível pessoal passei a conhecer bem Howard quando fomos juntos a uma manifestação pelos direitos civis em Jackson, Mississippi (acho eu) em 1964, a qual, mesmo numa data já tão tardia, foi cena de confronto público violento, brutalidade policial e indiferença, ou inclusive de cooperação com as forças de segurança por parte das autoridades federais, às vezes de um modo um pouco chocante.
Depois de ser expulso do college em Atlanta onde ensinava Howard veio para Boston e passou o resto de sua carreira académica na Universidade de Boston, onde foi, tenho a certeza, o membro do campus universitário mais admirado e amado, e também alvo de acerbo antagonismo e crueldade mesquinha por parte da administração. No entanto nos últimos anos, após a sua reforma, grangeou a honra e o respeito públicos, que sempre tinham sido esmagadores entre os estudantes, funcionários da universidade, grande parte do corpo docente e da comunidade em geral. Enquanto aí esteve, Howard escreveu os livros que lhe deram uma bem merecida fama. O seu livro “Logic of Withdrawal, ” de 1967, foi o primeiro a expressar, clara e firmemente, o que muitos apenas começavam a perceber: que os E.U.A. não tinham qualquer direito a pedir um acordo negociado no Vietname, acordo que teria deixado Washington com o poder e controlo substancial do país que havia invadido e, em seguida, em grande parte destruído.
Em vez disso os EUA tiveram que fazer o que todo o agressor deveria fazer, retirar e permitir que a população, em certa medida, pudesse reconstruir a partir das ruínas e, se possível, proceder com um mínimo de honestidade ao pagamento de reparações maciças pelos crimes que tinham cometido os exércitos invasores, neste caso vastos crimes. O livro teve uma enorme influência entre o público, ainda que os meios cultos de hoje dificilmente possam compreender a sua mensagem, o que mostra o trabalho tão necessário que temos adiante de nós.
É muito significativo que entre o público do tempo de final da guerra 70% considerasse a guerra “fundamentalmente errada e imoral” e não “um erro”, o que constitui um índice notável, considerando o facto de que esse pensamento apenas podia insinuar-se no meio da opinião dominante. Os escritos de Howard (e, como sempre, a sua destacada presença nos protestos e na resistência directa) foram um factor fundamental na educação de grande parte do país.
Nesses mesmos anos Howard tornou-se também um dos principais apoiantes do movimento de resistência que se estava a desenvolver. Estava entre os primeiros signatários da Apelo para Resistir à Autoridade Ilegítima (Call to Resist Illegitimate Authority) e estava muito próximo das actividades da organização Resistir, de que foi praticamente um dos organizadores. Participou também nas acções que tiveram um impacto significativo para promover o protesto contra a guerra. Howard estava sempre lá, onde era preciso (palestras, participação em desobediência civil, apoio a pessoas resistentes, prestar testemunhos em julgamentos).
“A história desde baixo”
Ainda mais influente no longo prazo do que os escritos e acções de Howard contra a guerra foi a sua obra-prima imortal, ” “ A outra história dos Estados Unidos”, ” um livro que literalmente mudou a consciência de uma geração. Nele desenvolveu com cuidado, lucidez e de forma exaustiva a sua mensagem sobre o papel crucial das pessoas que permanecem desconhecidos na prossecução da luta incessante pela paz e justiça, e sobre as vítimas do sistema de poder que cria a sua própria versão da história e tenta impô-la. Posteriormente, as suas “Vozes” da História do Povo, agora uma aclamada produção teatral e de televisão, levaram a muitas pessoas as palavras reais daqueles esquecidos ou ignorados que desempenharam um papel tão valioso na criação de um mundo melhor.
O feito único de Howard, sacando as acções e as vozes de pessoas desconhecidas das profundezas para onde tinham sido confinadas, gerou uma enorme pesquisa histórica que segue um caminho semelhante, centrada em períodos críticos da história americana, e se volta também para outros países, o que é muito bem-vindo. Não é algo totalmente novo (anteriormente houve pesquisa académica sobre temas eruditos), mas nada comparáveis à evocação, ampla e incisiva, que Howard faz da “história vista de baixo”, que compensa as omissões críticas em como tem sido interpretada e transmitida a história dos EUA.
O dedicado activismo de Howard prosseguiu literalmente sem parar até o fim, mesmo nos seus últimos anos, quando sofreu uma doença grave e uma perda pessoal (embora mal se soubesse, quando alguém se encontrava com ele ou era visto conversando incansavelmente com o público em todo o país). Onde havia uma luta pela paz e pela justiça, lá estava Howard, na frente, inesgotável com o seu entusiasmo e inspirador na sua integridade, compromisso, eloquência e decência pura. É difícil estimar quantas e até que ponto foram influenciadas vidas de jovens pelas suas realizações, tanto no seu trabalho como na sua vida.
Há lugares onde a vida e a obra de Howard tiveram uma ressonância especial. Um deles, que deveria ser muito melhor conhecido, é a Turquia. Não conheço outro país em que escritores proeminentes, artistas, jornalistas, académicos e outros intelectuais tenham reunido um registo tão impressionante de coragem e integridade para condenar crimes de Estado e de ir mais além para empreender a desobediência civil para acabar com a opressão e a violência, enfrentando uma forte repressão e por vezes sofrendo-a, para retomar imediatamente a sua tarefa.
É um registo honroso, único que eu saiba, um registo do qual o país deveria estar orgulhoso. E que deve ser um modelo para os outros, assim como a vida e a obra de Howard Zinn é um modelo inesquecível, que certamente deixa uma marca permanente na forma de entender a história e como se deveria viver uma vida decente e honrada.
* States , traduzido para o castelhano por Toni Strubel, História do Povo dos Estados Unidos, Hondarribia, Hiru, 2005, revista e corrigida pelo autor.
**Howard Zinn fala destes anos e essas lutas no seu livro” “Ninguém é neutro num comboio em movimento” “, Hondarribia, Hiru, 2001
“Noam Chomsky é professor emérito do Departamento de Linguística e Filosofia do MIT. Já escreveu vários livros políticos de grande sucesso, incluindo ”9-11: estava lá uma alternativa?” (Seven Stories Press), uma versão actualizada deste clássico, que só foi lançado esta semana com um novo ensaio (do qual este artigo foi adaptado) para comemorar o décimo aniversário dos ataques de 11 de Setembro.
Uma versão deste artigo foi publicada originalmente em TomDispatch.com. ”
Fonte: http://www.aljazeera.com/indepth/opinion/2012/01/201212382259755885.html
Traduzido do Inglês para Rebelión por Beatriz Morales Bastos
Tradução do espanhol: Guilherme Coelho
segunda-feira, 5 de março de 2012
Princípios Elementares de Filosofia
Pelo Socialismo
Questões político-ideológicas com atualidade
http://www.pelosocialismo.net
_____________________________________
Obra editada pela “Prelo Editora, SARL”, em janeiro de 1975 (4.ª Edição)
Colocado em linha em: 2012/03/03
Princípios Elementares de Filosofia
Georges Politzer
[Esta importante obra publica-se por capítulos, semanalmente, iniciando-se com a
publicação do Índice das Matérias, Prefácio e Advertência dos editores franceses.]
Quarta parte – estudo da dialética
Capítulo IV e Capítulo V
CAPÍTULO IV – TERCEIRA LEI: A CONTRADIÇÃO
I. — A vida e a morte.
II. — As coisas transformam-se na sua contrária.
III. — Afirmação, negação e negação da negação.
IV. — Recapitulemos.
V. — A unidade das contrárias.
VI. — Erros a evitar.
VII. — Consequências práticas da dialéctica.
Vimos que a dialéctica considera as coisas como estando em perpétua mudança,
evoluindo continuamente, numa palavra, sofrendo um movimento dialéctico (1.ª lei).
Este movimento é possível, porque toda e qualquer coisa não é mais do que o
resultado, no momento em que a estudamos, de um encadeamento de processos, isto
é, de fases que saem umas das outras. E, levando o nosso estudo mais adiante, vimos
que esse encadeamento se desenvolve necessariamente no tempo num movimento
progressivo, «apesar dos retrocessos momentâneos».
Chamámos a esse desenvolvimento um «desenvolvimento histórico» ou «em espiral»,
e sabemos que se gera a si mesmo, por autodinamismo.
2
Mas, quais são, agora, as leis do autodinamismo? Quais as que permitem às fases sair
umas das outras? Chamam-se as «leis do movimento dialéctico».
A dialéctica ensina-nos que as coisas não são eternas: têm um começo, uma
maturidade, uma velhice, que termina num fim, a morte.
Todas as coisas passam por essas fases: nascimento, maturidade, velhice, fim. Por
que acontece assim? Por que não são as coisas eternas?
Eis uma velha pergunta que sempre apaixonou a humanidade. Por que é preciso
morrer? Não se compreende esta necessidade, e os homens, no decurso da história,
sonharam com a vida eterna, com os meios de mudar tal estado de coisas, na idade
média, por exemplo, inventando bebidas mágicas (elixires de juventude ou da vida).
Por que é que o que nasce é, portanto, obrigado a morrer? Eis uma grande lei da
dialéctica, que deveremos confrontar, para bem a compreender, com a metafísica.
I. — A vida e a morte.
Do ponto de vista metafísico, consideram-se as coisas de um modo isolado, tomadas
em si mesmas, e, porque a metafísica as estuda assim, considera-as de uma maneira
unilateral, isto é, de um só lado. É por isso que se pode dizer, dos que as vêem de um
só lado, que são metafísicos. Em poucas palavras, quando um metafísico examina o
fenómeno a que se chama vida, fá-lo sem o relacionar a qualquer outro. Vê a vida, por
si e em si, de uma maneira unilateral. Vê-a de um só lado. Se examinar a morte, fará a
mesma coisa; aplicará o seu ponto de vista unilateral, e concluirá dizendo: a vida é a
vida, a morte é a morte. Entre ambas, nada de comum; não se pode estar ao mesmo
tempo vivo e morto, porque são duas coisas opostas, inteiramente contrárias uma à
outra.
Ver assim as coisas, é fazê-lo de uma maneira superficial. Se as examinarmos um
pouco mais de perto, veremos, primeiro, que não as podemos opor uma à outra, não
podemos mesmo separá-las tão brutalmente, uma vez que a experiência e a realidade
nos mostram que a morte continua a vida, que a morte vem do vivo.
E a vida, pode sair da morte? Sim. Porque os elementos do corpo morto vão
transformar-se para dar origem a outras vidas e servir de adubo à terra, que será mais
fértil, por exemplo. A morte, em muitos casos, auxiliará a vida, permitirá a esta
nascer; e, nos próprios corpos vivos, a vida só é possível porque há uma contínua
substituição das células que morrem por outras que nascem1.
1 «Enquanto consideramos as coisas como em repouso e sem vida, cada uma por si, uma ao lado e após
a outra, não nos apercebemos, certamente, de qualquer contradição entre elas. Encontramos certas
propriedades que são, em parte, comuns, em parte, diversas, até contraditórias, mas que, neste caso,
são repartidas por coisas diferentes, não contendo, portanto, contradição em si mesmas. Nos limites
deste domínio de observação, ficamo-nos pelo modo de pensar corrente, o metafísico. Mas
procederemos de maneira diferente, se considerarmos as coisas nos seus movimento, mudança, vida,
acção recíproca uma sobre a outra. Aí, caímos imediatamente nas contradições.» (Friedrich ENGELS:
«Anti-Duhring», p. 52).
3
Portanto, a vida e a morte transformam-se continuamente uma na outra, e, em todas
as coisas, constatamos a constância desta grande lei: por toda a parte, as coisas
transformam-se na sua contrária.
II. — As coisas transformam-se na sua contrária.
Os metafísicos opõem as contrárias, mas, a realidade demonstra-nos que estas se
transformam uma na outra, que as coisas não permanecem elas próprias, se
transformam nas suas contrárias.
Se examinarmos a verdade e o erro, pensamos: não há nada de comum entre eles. A
verdade é a verdade, um erro é um erro. Este o ponto de vista unilateral, que opõe
brutalmente as duas contrárias, como se oporia a vida e a morte.
E, todavia, se dizemos: «Olha, chove!», acontece que, por vezes, ainda não acabámos
de o dizer e já não chove. Essa frase era exacta, quando a começámos, e transformouse
em erro. (Os Gregos já tinham constatado isso, e diziam que, para não errar, era
preciso não dizer nada!)
Do mesmo modo, retomemos o exemplo da maçã. Vê-se na terra uma maçã madura,
e diz-se: «Eis uma maçã madura». Contudo, estando na terra há um certo tempo, já
começa a decompor-se, de tal forma que a verdade se transforma em erro.
Também as ciências nos dão numerosos exemplos de leis consideradas, durante
muitos anos, como «verdades», que se revelaram, num dado momento, após os
progressos científicos, como «erros».
Vemos, portanto, que a verdade se transforma em erro. Mas, será que o erro se
transforma em verdade? No início da civilização, os homens imaginavam, sobretudo
no Egipto, combates entre os deuses, para explicar o nascer e o pôr do sol; era um
erro, na medida em que se dizia que os deuses empurravam ou puxavam o sol, para o
fazer mover. Mas, a ciência dá parcialmente razão a esse raciocínio, dizendo que há,
efectivamente, forças (puramente físicas, aliás) que fazem mover o sol. Veremos, pois,
que o erro não está nitidamente oposto à verdade.
Se, portanto, as coisas se transformam na sua contrária, como é isso possível? Como
se transforma a vida na morte?
Se houvesse apenas vida, a vida cem por cento, ela nunca poderia ser a morte, e se a
morte fosse totalmente ela própria, a morte cem por cento, seria impossível que uma
se transformasse na outra. Mas, já existe morte na vida e, por conseguinte, vida na
morte.
Observando de perto, veremos que um ser vivo é composto de células, que estas se
renovam, desaparecem e reaparecem no mesmo lugar. Vivem e morrem
continuamente num ser vivo, onde existe, portanto, vida e morte.
Sabemos, também, que a barba de um morto continua a crescer. O mesmo acontece
com as unhas e os cabelos. Eis fenómenos nitidamente caracterizados, que provam
que a vida continua na morte.
4
Na União Soviética, conserva-se, em condições especiais, sangue de cadáveres, que
serve para fazer transfusões: assim, com o sangue de um morto, refaz-se um vivo.
Podemos dizer que, por conseguinte, no seio da morte há a vida.
«A vida é, pois, igualmente uma contradição “existente nas coisas e nos fenómenos
em si”, uma contradição que, constantemente, se apresenta e resolve; logo que a
contradição cessa, a vida cessa também, intervém a morte»2.
Assim, as coisas não só se transformam umas nas outras, mas, ainda, uma coisa não é
apenas ela própria, mas outra que é a sua contrária, porque cada coisa contém a sua
contrária.
Toda a coisa é, ao mesmo tempo, ela própria e a sua contrária.
Se se representa uma coisa por um círculo, teremos uma força que a impelirá para a
vida, empurrando do centro para o exterior, por exemplo (expansão); mas teremos,
também, forças que a impelirão numa direcção oposta, forças de morte, empurrando
do exterior para o centro (compressão).
Assim, no interior de cada coisa, coexistem forças opostas, antagonismos.
Que se passa entre essas forças? Lutam. Por conseguinte, uma coisa não é apenas
movida por uma força agindo num só sentido, mas toda a coisa é, realmente, movida
por duas forças de direcções opostas. Para a afirmação e para a negação das coisas,
para a vida e para a morte. Que significa: afirmação e negação das coisas?
Existem, na vida, forças que a mantêm, que tendem para a sua afirmação. Além
dessas, também existem nos organismos outras que tendem para a negação. Em
todas as coisas, há forças que tendem para a afirmação e outras para a negação, e,
entre a afirmação e a negação, há contradição.
Portanto, a dialéctica constata a mudança; mas, por que mudam as coisas? Porque
não estão de acordo consigo próprias, porque há luta entre as forças, entre os
antagonismos internos, porque há contradição. Eis a terceira lei da dialéctica: As
coisas mudam, porque contêm em si mesmas a contradição.
(Se somos obrigados, por vezes, a empregar palavras mais ou menos complicadas
(como dialéctica, autodinamismo, etc.) ou termos que parecem contrários à lógica
tradicional e difíceis de compreender, não é pelo prazer de complicar às coisas, e,
nisso, imitar a burguesia3. Não. Mas, este estudo, embora elementar, pretende ser tão
completo quanto possível e permitir ler, em seguida, mais facilmente, as obras
filosóficas de Marx-Engels e Lenine, que empregam esses termos. Em todo o caso,
uma vez que devemos empregar uma linguagem que não é usual, procuraremos, no
âmbito deste estudo, torná-la compreensível a todos.)
III. — Afirmação, negação e negação da negação.
2 Friedrich ENGELS: «Anti-Duhring», p. 153.
3 Ver o artigo de René MAUBLANC em “A Vida operária”, de 14de outubro de 1937.
5
É
Questões político-ideológicas com atualidade
http://www.pelosocialismo.net
_____________________________________
Obra editada pela “Prelo Editora, SARL”, em janeiro de 1975 (4.ª Edição)
Colocado em linha em: 2012/03/03
Princípios Elementares de Filosofia
Georges Politzer
[Esta importante obra publica-se por capítulos, semanalmente, iniciando-se com a
publicação do Índice das Matérias, Prefácio e Advertência dos editores franceses.]
Quarta parte – estudo da dialética
Capítulo IV e Capítulo V
CAPÍTULO IV – TERCEIRA LEI: A CONTRADIÇÃO
I. — A vida e a morte.
II. — As coisas transformam-se na sua contrária.
III. — Afirmação, negação e negação da negação.
IV. — Recapitulemos.
V. — A unidade das contrárias.
VI. — Erros a evitar.
VII. — Consequências práticas da dialéctica.
Vimos que a dialéctica considera as coisas como estando em perpétua mudança,
evoluindo continuamente, numa palavra, sofrendo um movimento dialéctico (1.ª lei).
Este movimento é possível, porque toda e qualquer coisa não é mais do que o
resultado, no momento em que a estudamos, de um encadeamento de processos, isto
é, de fases que saem umas das outras. E, levando o nosso estudo mais adiante, vimos
que esse encadeamento se desenvolve necessariamente no tempo num movimento
progressivo, «apesar dos retrocessos momentâneos».
Chamámos a esse desenvolvimento um «desenvolvimento histórico» ou «em espiral»,
e sabemos que se gera a si mesmo, por autodinamismo.
2
Mas, quais são, agora, as leis do autodinamismo? Quais as que permitem às fases sair
umas das outras? Chamam-se as «leis do movimento dialéctico».
A dialéctica ensina-nos que as coisas não são eternas: têm um começo, uma
maturidade, uma velhice, que termina num fim, a morte.
Todas as coisas passam por essas fases: nascimento, maturidade, velhice, fim. Por
que acontece assim? Por que não são as coisas eternas?
Eis uma velha pergunta que sempre apaixonou a humanidade. Por que é preciso
morrer? Não se compreende esta necessidade, e os homens, no decurso da história,
sonharam com a vida eterna, com os meios de mudar tal estado de coisas, na idade
média, por exemplo, inventando bebidas mágicas (elixires de juventude ou da vida).
Por que é que o que nasce é, portanto, obrigado a morrer? Eis uma grande lei da
dialéctica, que deveremos confrontar, para bem a compreender, com a metafísica.
I. — A vida e a morte.
Do ponto de vista metafísico, consideram-se as coisas de um modo isolado, tomadas
em si mesmas, e, porque a metafísica as estuda assim, considera-as de uma maneira
unilateral, isto é, de um só lado. É por isso que se pode dizer, dos que as vêem de um
só lado, que são metafísicos. Em poucas palavras, quando um metafísico examina o
fenómeno a que se chama vida, fá-lo sem o relacionar a qualquer outro. Vê a vida, por
si e em si, de uma maneira unilateral. Vê-a de um só lado. Se examinar a morte, fará a
mesma coisa; aplicará o seu ponto de vista unilateral, e concluirá dizendo: a vida é a
vida, a morte é a morte. Entre ambas, nada de comum; não se pode estar ao mesmo
tempo vivo e morto, porque são duas coisas opostas, inteiramente contrárias uma à
outra.
Ver assim as coisas, é fazê-lo de uma maneira superficial. Se as examinarmos um
pouco mais de perto, veremos, primeiro, que não as podemos opor uma à outra, não
podemos mesmo separá-las tão brutalmente, uma vez que a experiência e a realidade
nos mostram que a morte continua a vida, que a morte vem do vivo.
E a vida, pode sair da morte? Sim. Porque os elementos do corpo morto vão
transformar-se para dar origem a outras vidas e servir de adubo à terra, que será mais
fértil, por exemplo. A morte, em muitos casos, auxiliará a vida, permitirá a esta
nascer; e, nos próprios corpos vivos, a vida só é possível porque há uma contínua
substituição das células que morrem por outras que nascem1.
1 «Enquanto consideramos as coisas como em repouso e sem vida, cada uma por si, uma ao lado e após
a outra, não nos apercebemos, certamente, de qualquer contradição entre elas. Encontramos certas
propriedades que são, em parte, comuns, em parte, diversas, até contraditórias, mas que, neste caso,
são repartidas por coisas diferentes, não contendo, portanto, contradição em si mesmas. Nos limites
deste domínio de observação, ficamo-nos pelo modo de pensar corrente, o metafísico. Mas
procederemos de maneira diferente, se considerarmos as coisas nos seus movimento, mudança, vida,
acção recíproca uma sobre a outra. Aí, caímos imediatamente nas contradições.» (Friedrich ENGELS:
«Anti-Duhring», p. 52).
3
Portanto, a vida e a morte transformam-se continuamente uma na outra, e, em todas
as coisas, constatamos a constância desta grande lei: por toda a parte, as coisas
transformam-se na sua contrária.
II. — As coisas transformam-se na sua contrária.
Os metafísicos opõem as contrárias, mas, a realidade demonstra-nos que estas se
transformam uma na outra, que as coisas não permanecem elas próprias, se
transformam nas suas contrárias.
Se examinarmos a verdade e o erro, pensamos: não há nada de comum entre eles. A
verdade é a verdade, um erro é um erro. Este o ponto de vista unilateral, que opõe
brutalmente as duas contrárias, como se oporia a vida e a morte.
E, todavia, se dizemos: «Olha, chove!», acontece que, por vezes, ainda não acabámos
de o dizer e já não chove. Essa frase era exacta, quando a começámos, e transformouse
em erro. (Os Gregos já tinham constatado isso, e diziam que, para não errar, era
preciso não dizer nada!)
Do mesmo modo, retomemos o exemplo da maçã. Vê-se na terra uma maçã madura,
e diz-se: «Eis uma maçã madura». Contudo, estando na terra há um certo tempo, já
começa a decompor-se, de tal forma que a verdade se transforma em erro.
Também as ciências nos dão numerosos exemplos de leis consideradas, durante
muitos anos, como «verdades», que se revelaram, num dado momento, após os
progressos científicos, como «erros».
Vemos, portanto, que a verdade se transforma em erro. Mas, será que o erro se
transforma em verdade? No início da civilização, os homens imaginavam, sobretudo
no Egipto, combates entre os deuses, para explicar o nascer e o pôr do sol; era um
erro, na medida em que se dizia que os deuses empurravam ou puxavam o sol, para o
fazer mover. Mas, a ciência dá parcialmente razão a esse raciocínio, dizendo que há,
efectivamente, forças (puramente físicas, aliás) que fazem mover o sol. Veremos, pois,
que o erro não está nitidamente oposto à verdade.
Se, portanto, as coisas se transformam na sua contrária, como é isso possível? Como
se transforma a vida na morte?
Se houvesse apenas vida, a vida cem por cento, ela nunca poderia ser a morte, e se a
morte fosse totalmente ela própria, a morte cem por cento, seria impossível que uma
se transformasse na outra. Mas, já existe morte na vida e, por conseguinte, vida na
morte.
Observando de perto, veremos que um ser vivo é composto de células, que estas se
renovam, desaparecem e reaparecem no mesmo lugar. Vivem e morrem
continuamente num ser vivo, onde existe, portanto, vida e morte.
Sabemos, também, que a barba de um morto continua a crescer. O mesmo acontece
com as unhas e os cabelos. Eis fenómenos nitidamente caracterizados, que provam
que a vida continua na morte.
4
Na União Soviética, conserva-se, em condições especiais, sangue de cadáveres, que
serve para fazer transfusões: assim, com o sangue de um morto, refaz-se um vivo.
Podemos dizer que, por conseguinte, no seio da morte há a vida.
«A vida é, pois, igualmente uma contradição “existente nas coisas e nos fenómenos
em si”, uma contradição que, constantemente, se apresenta e resolve; logo que a
contradição cessa, a vida cessa também, intervém a morte»2.
Assim, as coisas não só se transformam umas nas outras, mas, ainda, uma coisa não é
apenas ela própria, mas outra que é a sua contrária, porque cada coisa contém a sua
contrária.
Toda a coisa é, ao mesmo tempo, ela própria e a sua contrária.
Se se representa uma coisa por um círculo, teremos uma força que a impelirá para a
vida, empurrando do centro para o exterior, por exemplo (expansão); mas teremos,
também, forças que a impelirão numa direcção oposta, forças de morte, empurrando
do exterior para o centro (compressão).
Assim, no interior de cada coisa, coexistem forças opostas, antagonismos.
Que se passa entre essas forças? Lutam. Por conseguinte, uma coisa não é apenas
movida por uma força agindo num só sentido, mas toda a coisa é, realmente, movida
por duas forças de direcções opostas. Para a afirmação e para a negação das coisas,
para a vida e para a morte. Que significa: afirmação e negação das coisas?
Existem, na vida, forças que a mantêm, que tendem para a sua afirmação. Além
dessas, também existem nos organismos outras que tendem para a negação. Em
todas as coisas, há forças que tendem para a afirmação e outras para a negação, e,
entre a afirmação e a negação, há contradição.
Portanto, a dialéctica constata a mudança; mas, por que mudam as coisas? Porque
não estão de acordo consigo próprias, porque há luta entre as forças, entre os
antagonismos internos, porque há contradição. Eis a terceira lei da dialéctica: As
coisas mudam, porque contêm em si mesmas a contradição.
(Se somos obrigados, por vezes, a empregar palavras mais ou menos complicadas
(como dialéctica, autodinamismo, etc.) ou termos que parecem contrários à lógica
tradicional e difíceis de compreender, não é pelo prazer de complicar às coisas, e,
nisso, imitar a burguesia3. Não. Mas, este estudo, embora elementar, pretende ser tão
completo quanto possível e permitir ler, em seguida, mais facilmente, as obras
filosóficas de Marx-Engels e Lenine, que empregam esses termos. Em todo o caso,
uma vez que devemos empregar uma linguagem que não é usual, procuraremos, no
âmbito deste estudo, torná-la compreensível a todos.)
III. — Afirmação, negação e negação da negação.
2 Friedrich ENGELS: «Anti-Duhring», p. 153.
3 Ver o artigo de René MAUBLANC em “A Vida operária”, de 14de outubro de 1937.
5
É
sexta-feira, 2 de março de 2012
"Inteligência tática de captação de informações" nos media sociais
Espionagem e propaganda utilizando o Facebook e o Twitter
por Julie Lévesque
Um novo estudo feito pelo Conselho Mediterrâneo de Estudos de Inteligência (MCIS) no Almanaque de Estudos de Inteligência de 2012 atenta para o uso dos medias sociais como "a inovação em inteligência tática de captação aberta de informações". Joseph Fitsanakis da IntelNews.org, co-autor do estudo, declara:
Sustentamos que o Facebook, o Twitter, o YouTube e uma série de outras plataformas de redes sociais são cada vez mais consultadas por agências de inteligência como inestimáveis canais de aquisição de informações. Baseamos nossos resultados em três estudos de caso recentes, os quais, acreditamos, destacam a função da inteligência em relação às redes sociais. (Joseph Fitsanakis, Pesquisa: Cada vez mais espiões usam Facebook e Twitter para coleta de informações, intelNews.org), 13 de fevereiro de 2012. [1]
Porém, o que o estudo não menciona é o uso dos medias sociais feito por agências de inteligência para outros fins. A investigação nos leva a acreditar que os media sociais são somente um instrumento de captação de informações da inteligência, quando na verdade, um número de declarações mostrou que é utilizada para promover propaganda, inclusive para criar perfis falsos para dar suporte a operações secretas. Estas práticas são discutidas no Exército de Fakes de Mídia Social para Promover Propaganda, Mídia Social: Força Aérea Encomenda Software para Monitorar Exército de Fakes Virtuais e Pentágono Busca Manipular Mídia Social para Fins de Propaganda [2] , publicados no Global Research em 2011.
O estudo do MCIS se baseia parcialmente no contexto da "Primavera Árabe", o qual supostamente instigou o governo americano a desenvolver diretrizes para inteligência de coleta de informações a partir de redes sociais" [3] .
Novamente, não se considera que o governo americano oferece "treinamento de liderança" para estrangeiros desestabilizarem seus países de origem. Esta tática está descrita em detalhes no último artigo de Tony Cartalucci, Egito: Ativistas Financiados pelos Estados Unidos sob Julgamento: "Promoção de Democracia" Americana = Sedição Internacional [4] .
A "cyber dissidência" é financiada, dentre outros, pela Freedom House, vinculada à CIA. O primeiro dos eventos da Human Freedom do Instituto Bush, co-financiado pela Freedom House, foi intitulado "Conferência sobre Cyber Dissidentes: Resultados e Desafios Globais".
A conferência sobre cyber dissidentes destacou o trabalho, métodos, coragem e conquistas dos oito palestrantes dissidentes convidados, de sete países. Cinco desses países são regiões onde a liberdade foi extinta (todos avaliados como "não livres" pela Freedom House: China, Cuba, Irã, Síria e Rússia). Os outros dois países são regiões onde a liberdade está em perigo (ambos avaliados como "parcialmente livres" pela Freedom House) por causa de um governo autoritário que acumula mais poder, como na Venezuela, ou por causa da ameaça de grupos terroristas internos, como na Colômbia. (Conferência sobre Cyber Dissidentes: Resultados e Desafios Globais, Centro Presidencial George W. Bush) [5]
Países onde a "liberdade foi extinta" e que são aliados americanos, tais como Barém ou Arábia Saudita, não são listados acima. O único aliado americano listado é a Colômbia e considera-se que sua liberdade está ameaçada por grupos terroristas, e não por seu governo. Vale dizer que o governo colombiano foi acusado de espionar seus jornalistas e que a Comissão Inter-Americana de Direitos Humanos (IACHR) declara que a liberdade de expressão 'quase não existe' na Colômbia.
O objetivo do "treinamento de liderança" feito por ONGs americanas é o de desestabilizar os inimigos políticos da América em nome da liberdade. A "cyber dissidência" é, por sua vez, utilizada por agências de inteligência para operações secretas.
Notas
[1] Joseph Fitsanakis, Research: Spies increasingly using Facebook, Twitter to gather data , intelNews.org, 13/fevereiro/2012.
[2] Army of Fake Social Media Friends to Promote Propaganda , Social Media: Air Force ordered software to manage army of Fake Virtual People e Pentagon Seeks to Manipulate Social Media for Propaganda Purposes .
[3] (Ibid.)
[4] Egypt: US-funded Agitators on Trial: US "Democracy Promotion" = Foreign-funded Sedition .
[5] The Conference on Cyber Dissidents: Global Successes and Challenges, The George W. Bush Presidential Center .
O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=29288
Tradução de Sergio Oliveira.
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
por Julie Lévesque
Um novo estudo feito pelo Conselho Mediterrâneo de Estudos de Inteligência (MCIS) no Almanaque de Estudos de Inteligência de 2012 atenta para o uso dos medias sociais como "a inovação em inteligência tática de captação aberta de informações". Joseph Fitsanakis da IntelNews.org, co-autor do estudo, declara:
Sustentamos que o Facebook, o Twitter, o YouTube e uma série de outras plataformas de redes sociais são cada vez mais consultadas por agências de inteligência como inestimáveis canais de aquisição de informações. Baseamos nossos resultados em três estudos de caso recentes, os quais, acreditamos, destacam a função da inteligência em relação às redes sociais. (Joseph Fitsanakis, Pesquisa: Cada vez mais espiões usam Facebook e Twitter para coleta de informações, intelNews.org), 13 de fevereiro de 2012. [1]
Porém, o que o estudo não menciona é o uso dos medias sociais feito por agências de inteligência para outros fins. A investigação nos leva a acreditar que os media sociais são somente um instrumento de captação de informações da inteligência, quando na verdade, um número de declarações mostrou que é utilizada para promover propaganda, inclusive para criar perfis falsos para dar suporte a operações secretas. Estas práticas são discutidas no Exército de Fakes de Mídia Social para Promover Propaganda, Mídia Social: Força Aérea Encomenda Software para Monitorar Exército de Fakes Virtuais e Pentágono Busca Manipular Mídia Social para Fins de Propaganda [2] , publicados no Global Research em 2011.
O estudo do MCIS se baseia parcialmente no contexto da "Primavera Árabe", o qual supostamente instigou o governo americano a desenvolver diretrizes para inteligência de coleta de informações a partir de redes sociais" [3] .
Novamente, não se considera que o governo americano oferece "treinamento de liderança" para estrangeiros desestabilizarem seus países de origem. Esta tática está descrita em detalhes no último artigo de Tony Cartalucci, Egito: Ativistas Financiados pelos Estados Unidos sob Julgamento: "Promoção de Democracia" Americana = Sedição Internacional [4] .
A "cyber dissidência" é financiada, dentre outros, pela Freedom House, vinculada à CIA. O primeiro dos eventos da Human Freedom do Instituto Bush, co-financiado pela Freedom House, foi intitulado "Conferência sobre Cyber Dissidentes: Resultados e Desafios Globais".
A conferência sobre cyber dissidentes destacou o trabalho, métodos, coragem e conquistas dos oito palestrantes dissidentes convidados, de sete países. Cinco desses países são regiões onde a liberdade foi extinta (todos avaliados como "não livres" pela Freedom House: China, Cuba, Irã, Síria e Rússia). Os outros dois países são regiões onde a liberdade está em perigo (ambos avaliados como "parcialmente livres" pela Freedom House) por causa de um governo autoritário que acumula mais poder, como na Venezuela, ou por causa da ameaça de grupos terroristas internos, como na Colômbia. (Conferência sobre Cyber Dissidentes: Resultados e Desafios Globais, Centro Presidencial George W. Bush) [5]
Países onde a "liberdade foi extinta" e que são aliados americanos, tais como Barém ou Arábia Saudita, não são listados acima. O único aliado americano listado é a Colômbia e considera-se que sua liberdade está ameaçada por grupos terroristas, e não por seu governo. Vale dizer que o governo colombiano foi acusado de espionar seus jornalistas e que a Comissão Inter-Americana de Direitos Humanos (IACHR) declara que a liberdade de expressão 'quase não existe' na Colômbia.
O objetivo do "treinamento de liderança" feito por ONGs americanas é o de desestabilizar os inimigos políticos da América em nome da liberdade. A "cyber dissidência" é, por sua vez, utilizada por agências de inteligência para operações secretas.
Notas
[1] Joseph Fitsanakis, Research: Spies increasingly using Facebook, Twitter to gather data , intelNews.org, 13/fevereiro/2012.
[2] Army of Fake Social Media Friends to Promote Propaganda , Social Media: Air Force ordered software to manage army of Fake Virtual People e Pentagon Seeks to Manipulate Social Media for Propaganda Purposes .
[3] (Ibid.)
[4] Egypt: US-funded Agitators on Trial: US "Democracy Promotion" = Foreign-funded Sedition .
[5] The Conference on Cyber Dissidents: Global Successes and Challenges, The George W. Bush Presidential Center .
O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=29288
Tradução de Sergio Oliveira.
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
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