CARTA
Olá, como vais?
Que esta carta te encontre de boa saúde
É o que desejo,
Neste tempo obscuro
Em que uma linha curva é uma reta
Que vai para parte nenhuma.
Escrevo-te sem a alegria da chegada
Tão triste foi a partida.
Nem sei onde habitas
Fora do meu coração,
Dos meus nervos, da minha memória.
Somos parte daquela história
dos vencidos que se levantaram do chão.
Tive-te na cama, do lado esquerdo
Onde os achados e os perdidos
Desfraldam um cravo rubro na mão.
Não sei para onde foste,
Nem sei se deu fruto o teu ventre
Mulher madura, mãe, amante.
Sei que vives nos meus sonhos
E onde quer que eu grite: Avante!
É o teu corpo que vejo
Mais puro e inteiro o meu desejo
Que um mundo novo se levante.
Sopro, soluço, solar,
Essa sonoridade suave
Que invoca o teu nome, quantos?
De quantos a escutaste
Depois de mim?
Quantos te sussurraram promessas
Mentiras, amanhãs que não madrugaram?
Nesta vida às avessas
Quantos de ti, cravo, mulher,
Desertaram?
Nozes Pires
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