Pelo Socialismo
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Enviado por mail
Tradução do inglês de LG
Colocado em linha em: 2013/06/17
A posição do Líbano no contexto dos
desenvolvimentos regionais e como lidar com a
atual fase do plano do “Novo Médio Oriente”
Dr. Marie Nassif-Debs *
O Líbano, com todos os seus estratos sociais e regiões, está a viver uma etapa crucial e
até mesmo perigosa da sua história, que poderá levar a mudanças radicais no contexto
da aceleração de desenvolvimentos regionais, especialmente no que diz respeito à Síria e
à Palestina, juntamente com desenvolvimentos que estão a afetar o Iraque, a Turquia e a
questão curda, como resultado do início da implementação do acordo de cessação das
hostilidades curdas, como um prelúdio para a libertação do líder curdo do PKK,
Abdullah Ocalan. Entretanto, os projetos de formar governo estão novamente a recuar,
apesar das afirmações que reforçaram, recentemente, que uma solução estaria à vista
como resultado de sucessivas visitas à Arábia Saudita e outros países. Esperar pelo
resultado do que se está a passar na arena da Síria e para além dela, começando com a
abertura da frente al-Qussair e o que foi dito sobre a abertura da frente dos Golã,
levando ao resultado das cimeiras Putin-Netanyahu e Putin-Obama, os partidos da
classe dominante estão a reposicionar-se internamente através de processos de
discriminação, sob a proteção da lei eleitoral, com o objetivo de adiar as eleições
parlamentares para voltarem a baralhar as cartas e reorganizar as fileiras, enquanto
esperam pelos resultados da porta aberta às forças bélicas na Síria e, também, pelo que
será decidido em Washington e Moscovo nos próximos meses.
Daqui podemos aceder aos desenvolvimentos da situação libanesa, que assistiu a uma
séria escalada em Tripoli e no norte de Bekaa. Nestas duas regiões, vizinhas das
fronteiras sírias, as forças sectárias envolvidas na crise da Síria, tentam alterar a
correlação de forças no Líbano a seu favor, antes da Conferência de Genebra e dos
Estados Unidos tomarem decisões nas reuniões com os russos, ao longo dos próximos
meses.
Como analisamos esta fase, que descrevemos como decisiva e perigosa?
Será possível responder-lhe com vista a afastar as forças sectárias ou a
guerra civil que paira no horizonte?
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Para poder analisar a próxima fase, precisamos de recuar ao quadro pintado pelo plano
imperial (EUA) para a área, após quase todos os regimes árabes terem entrado em
negociações com a entidade israelita, aquando da Conferência de Madrid, em 1991.
Apesar do facto do regime libanês não integrar diretamente essas negociações e apesar
do facto da libertação do território ser um resultado de um ato de resistência e sem
assinar qualquer acordo com o inimigo, dentro das linhas dos acordos de Camp David,
ou Oslo, ou Wadi Araba, este regime, dado que a sua estrutura se baseia num equilíbrio
sectário que foi redesenhado pelo Acordo de Taif, entrou pela porta grande no jogo do
Médio Oriente, através da divisão da sua classe dominante em dois campos polarizados,
manchados com as cores sectárias dos crescentes1 Sunita e Xiita, e filiando-se assim nos
dois eixos regionais existentes e nos equilíbrios internacionais que os governam. As
vitórias da resistência nacional contra o inimigo sionista tornaram-se frágeis e não
afetaram a situação social ao ponto de fazer emergir a necessária transformação social.
Pelo contrário, como resultado das repercussões da crise síria e das possibilidades de
desenvolvimento da causa palestiniana, devido a algumas respostas árabes ao plano
sionista adotado pela administração Obama, sob o tema “Israel é o estado dos judeus no
mundo”, o Líbano está hoje a assistir a uma deterioração assustadora da paz civil, que se
reflete em envolver-se diretamente em vários assuntos sírios, sob vários pretextos,
incluindo apoio às aspirações democráticas do povo sírio, ou o lançamento de frentes de
resistência contra o inimigo sionista, ou confrontando a maré dos Tafkiri [extremistas
islâmicos] … etc.
Neste contexto, deparamo-nos com três assuntos básicos:
Primeiro – O plano do Emir do Qatar e do presidente da presente sessão da
Liga Árabe
O Qatar anunciou este plano sob um nome sonoro de “paz” baseado na possibilidade de
entrar em trocas de território entre a entidade israelita e a Autoridade Palestiniana. Se o
pretexto neste argumento recua à determinação das fronteiras do Estado da Palestina,
isto é, as fronteiras anteriores a Junho de 1967, incluindo Jerusalém Leste, então a
verdadeira tradução deste plano é a aprovação da “Transferência”, isto é, a transferência
dos Palestinianos das suas terras, para que os imperialistas sionistas completem a sua
ocupação, como um prelúdio do desenho de novas fronteiras para o seu Estado. Isto
incluiria a possibilidade de implementação de uma nova limpeza religiosa através da
aquisição de territórios palestinianos que assim permaneceram após a Nakba, em 1948.
O que significa isto, na prática, para os refugiados palestinianos? Significa que é
impensável falar sobre o direito de regresso incluído na Resolução 194 da ONU. Ou, mais
claramente, que as populações refugiadas no Líbano e na Jordânia estão para ficar ou
podem mesmo aumentar devido às implicações da crise Síria e os palestinianos que
estão a viver no campo de refugiados de Yarmouk, em Damasco, e outros campos, serem
1 Bandeiras turcas – [NT]
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forçados a fugir para o Líbano, depois dos seus centros de acolhimento se tornarem
locais infiltrados por alguns dos participantes do “Exército Livre da Síria” e
especialmente alguns das forças de combate Salafistas [extremistas islâmicos].
Podemos então deduzir que o novo plano do Qatar não é mais do que o retrógrado
reescrever do Acordo de Oslo com toda a sua interpretação, que inclui esforços para
forçar palestinianos a permanecer em alguns dos países Árabes onde se encontram. Isto,
para o Líbano, tem uma dupla dimensão. Leva a uma instabilidade interna libanesa,
como resultado de lutas sectárias que estão destinadas a intensificarem-se. Tal seria um
alívio para a entidade israelita e dá-lhe mesmo a oportunidade de intervir uma vez mais
nos assuntos internos libaneses, como é o caso de cada vez que este conflito se agrava.
Segundo – Tentativas de avançar para dividir a Síria
A este respeito, o papel Turco tem-se tornado cada vez mais claro, apoiado pelos EUA e
combinado com o apoio financeiro dos Estados do Golfo Árabe. Os bombardeamentos
criminosos que tiveram lugar em Rihaniya e o que tem sucedido recentemente nas
imediações da área estratégica de Al-Qussair, que liga a área rural de Damasco com a
região de Homs e a costa síria, indicam que novas tentativas se desenham para demarcar
fronteiras dentro do território sírio, antes que comece a cimeira EUA-Rússia, de forma a
tornar estas fronteiras como um começo para este ou aquele grupo expandirem o seu
controlo através da continuação das batalhas, mais tarde, se os dois poderes
internacionais não chegarem a acordo quanto a uma solução.
A divisão da Síria, a ocorrer, lançará a penúltima fase do plano do “Novo Médio
Oriente”, cuja fase de demarcação de fronteiras dos Crescentes Sunita e Xiita, isto é, as
duas regiões de influência americana e russa, com Israel a recuperar algum do papel que
perdeu depois da guerra no Iraque, como um resultado da intervenção imperialista
direta na guerra.
Terceiro – O completar da divisão do Iraque e as suas implicações na região
do Golfo
O novo fator curdo, isto é, o acordo entre o governo Erdogan e o PKK para o termo da
luta e para os resistentes do PKK se mudarem para a região iraquiana curda, que se
fortaleceu após ter sido aprovado por Masoud Barzani, constitui um sério primeiro passo
para alterar a autorregulação nesta região para um núcleo do Estado curdo, que foi
estabelecido no início dos anos 90 do século vinte. Isto significa escancarar a porta ao
sucesso da fragmentação do Iraque, de acordo com um esquema pré planeado,
juntamente com a expansão da região de influência política e económica turca, durante o
desenvolvimento dos acordos existentes sobre o petróleo iraquiano. E também durante a
pressão sobre o Iraque (e até sobre a Síria), no que diz respeito à redistribuição das
reservas de água, dado o impacto na agricultura ativa turca e na monopolização de
stocks de alimentos, dada a sua importância estratégica, como é indicado por numerosos
estudos.
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Como deve a Esquerda árabe enfrentar este plano?
À luz dos acontecimentos, podemos discernir a importância primordial do plano
imperialista-sionista e o facto de alguns árabes terem colaborado com eles, incluindo
aqueles a quem o plano acabou por tirar de cena, como é o caso do caminho sinuoso para
o regime Sírio, que não aprendeu com as oportunidades perdidas.
Isto requer que unamos o combate, que apenas pode ter êxito com duas condições
cumulativas:
A primeira reside na união de todas as forças da resistência, sejam árabes ou de fora do
mundo árabe, contra o plano de fragmentação do Médio Oriente e de o tornar numa área
de conflitos sectários e étnicos.
A segunda reside no desenvolvimento do Encontro da Esquerda Árabe como um quadro
de trabalho coletivo, bem como na expansão da sua atividade, de forma a promover um
encontro da Esquerda na região do Médio Oriente. Os comunistas deverão constituir o
seu núcleo duro e sólido, a fim de implementar um programa que una os objetivos de
combater o plano imperialista com todos os seus alvos, assim como as necessidades de
mudança social para a construção de uma sociedade socialista.
Beirute, maio de 2013
* Vice-Secretária-geral do Partido Comunista Libanês – [NT]
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