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segunda-feira, 31 de agosto de 2015
Opinião
Foi bom saber pelo jornal Avante! que o PCP se distingue das posições oficiais do PC grego, particularmente das mais recentes. O sectarismo é de excluir sem complacências. O passado de heroísmo do PC da Grécia não pagina nada bem com com confusões entre tácticas e estratégia, entre o objectivo principal e a ausência de etapas. A cobardia política e o oportunismo de Tsipras reflecte como num espelho o sectarismo de outros.
sexta-feira, 28 de agosto de 2015
O segundo capítulo da série documental "Aurora" foi lançado no passado dia 1 de Julho de 2012. Neste segundo capítulo é sugerido um novo caminho não só...
Oskar Lafontaine: “Esquerda europeia deve desenvolver um plano B”
O ex-ministro das Finanças alemão e fundador do Die Linke diz que “o euro converteu-se num instrumento de dominação económica da economia alemã e do...
“A esquerda europeia deve agora desenvolver um plano B para o caso de um partido num dos membros europeus se veja numa situação parecida [à da Grécia]”, defende Oskar Lafontaine. Para o fundador do Die Linke, é preciso “tirar o poder ao Banco Central Europeu (que não está legitimado democraticamente) de anular a democracia” e voltar a criar um sistema monetário europeu. A ideia de um "plano B para fazer face à Europa alemã" foi também defendida no domingo pelo dirigente da Frente de Esquerda francesa Jean-Luc Mélenchon, que se encontrou com Varoufakis para lhe propor a realização de uma conferência europeia dedicada a trabalhar esta proposta.
Num artigo publicado esta semana no Junge Welt, intitulado “O que podemos aprender com a chantagem ao governo do Syriza?”, Oskar Lafontaine defende que a questão que a esquerda deve responder não é “dracma ou euro?”, mas se “apesar do efeito social catastrófico está a favor da permanência do euro ou pelo contrário se pronuncia a favor de uma reconversão escalonada para um sistema monetário europeu mais flexível”.
Neste artigo, Lafontaine faz a sua “autocrítica” por ter defendido, “enquanto europeu convicto”, a política de transmisão de poderes a nível europeu. “Hoje está claro que a Comissão Europeia e o Parlamento Europeu se tornaram muletas executantes do lóbi financeiro e transferir mais competências a nível europeu é equivalente à desmontagem da democracia e do estado social de direito”.
“Sou favorável ao regresso a um sistema europeu de moedas que tenha em conta as experiências aprendidas com este sistema monetário e que com a sua construção beneficie todos os países que dele fazem parte”, prossegue Lafontaine, explicando que “o sistema monetário europeu funcionou com algumas dificuldades, mas melhor que a moeda única”, permitindo compensar os diferentes crescimentos económicos. Com o euro, diz Lafontaine, apenas os trabalhadores e pensionistas dos países periféricos “arcam com o peso da desvalorização interna através da descida dos salários, cortes de pensões e subidas de impostos”.
Neste artigo, Lafontaine faz a sua “autocrítica” por ter defendido, “enquanto europeu convicto”, a política de transmisão de poderes a nível europeu. “Hoje está claro que a Comissão Europeia e o Parlamento Europeu se tornaram muletas executantes do lóbi financeiro e transferir mais competências a nível europeu é equivalente à desmontagem da democracia e do estado social de direito”.
“O euro converteu-se num instrumento de dominação económica da economia alemã e do governo alemão na Europa. Uma esquerda que queira uma Europa democrática e social, deve mudar a sua política europeia e escolher novos caminhos”, conclui o antigo ministro das Finanças do SPD.
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quinta-feira, 20 de agosto de 2015
A grande mídia e o ódio ao PT
Por Jaime Alves e Raquel de Souza em 28/07/2015 na edição 861
A delinquência jornalística da grande mídia brasileira não tem limites. A mídia brasileira é um desastre ético-moral. Exemplo? Surpreende a agressiva campanha para destruir a biografia do ex-presidente Lula da Silva e tornar inviável o já desastroso governo da presidenta Dilma Rousseff. A segunda tarefa é relativamente fácil. Dilma e sua equipe parecem resignados a morrer abraçados a um projeto político que busca apaziguar o “Deus-Mercado” com ajustes e concessões que afetam diretamente os mais pobres. Se por um lado as ações do governo para minimizar a “crise” internacional são deturpadas no noticiário econômico, por outro o governo abraça a “liberdade de imprensa” como um valor absoluto que, portanto, não pode ser confrontado. Dilma continua na firme e autofágica crença de que o controle remoto é o melhor regulador dos meios.
Que a regulação da mídia não seja pauta do governo não surpreende, principalmente em função do esfarelamento da base aliada. O que não é óbvio ou racional é a sua estratégia política de comunicação. O acordo para flexibilizar jornadas de trabalho e evitar demissões é deturpado pela mídia e se manifesta na boca do povo como “governo reduz salários dos trabalhadores”; uma vez que o governo não reclama para si as operações da Polícia Federal, elas são canibalizadas pelo noticiário como ações contra o governo “mais corrupto da história”, e não como um trunfo da transparência no combate à corrupção. A biografia de Dilma Rousseff autoriza a presidenta a ocupar a rede nacional de televisão e apresentar à sociedade um saldo de todas as ações da PF esvaziando o discurso moralista da oposição e da mídia corporativa. Dilma, ao contrário, parece resignada a conceber a PF como uma entidade exógena ao seu governo.
No caso do ex-presidente Lula da Silva, o empenho da mídia para criar factoides revela um amadorismo insultante. O Globo e a Época, por exemplo, têm se esforçado para encontrar um elo entre Lula e a Operação Lava Jato. Requentar matérias antigas, fazer associação entre eventos díspares, sobredimensionar procedimentos-padrão do Ministério Público dando vazão às ambições pessoais de procurador com carreira profissional no mínimo curiosa, e o esforço orquestrado no campo semântico para que termos como “crime”, “corrupção” e “corrupto” sejam incessantemente associados ao Partido dos Trabalhadores e ao seu líder máximo fazem parte do esforço concertado de destruição da biografia de Lula e da trajetória do PT.
Autoritarismo e intolerância
Agressiva em seu esforço em associar Lula aos escândalos políticos, a revista Veja já chegou ao extremo de invadir a casa de parentes do ex-presidente para revelar uma suposta festa milionária do seu sobrinho. Desmascarada a fraude, a revista soltou uma nota de algumas linhas se desculpando ao presidente e à sua família “por quaisquer transtornos que possa ter ocasionado”. Veja minimiza o incidente como “um transtorno”, um errinho do repórter Ulisses Campbell, autor da matéria fantasiosa. Veja está bem acompanhada no que diz respeito à delinquência da imprensa brasileira. Do “podemos tirar se quiser”, da agência de notícias Reuters em referência aos escândalos na Petrobras sob o governo FHC, à omissão do nome do senador José Serra – pelo Estadão – em anotações de Marcelo Odebrecht identificadas pela Polícia Federal, a imprensa brasileira vai se especializando cada vez mais em produtora de fraudes jornalísticas. Se o discurso da imparcialidade ainda era vendido como estratégia de propaganda, agora, mais do que nunca, a imprensa está “transparente”. Transparente, para não deixar dúvidas, no sentido de nua, sem verniz, sem compromisso com o mito que a legitimava. De rabo preso com o entrevistado, a Folha de S.Paulo nos dá a dimensão exata desse abandono do “mito”: os documentos vazados pela PF dão conta do “acerto” entre a assessoria de Marcelo Odebrecht e o repórter da Folha para realizar uma entrevista leve, sem assuntos polêmicos e que oferecesse a oportunidade para o empreiteiro “dar seu recado”.
Até mesmo o Jornal Nacional, que em reação à queda de audiência modificou o seu formato para ficar mais “informal”, tem utilizado o recurso de concentrar as notícias relacionadas à Operação Lava Jato no horário próximo à novela das 9, quando os telespectadores mais céticos em relação ao discurso anticorrupção começam a sintonizar para assistir à novela do horário nobre. O ator-jornalista William Bonner aparece agora mais cordial e mais consternado com a “praga da corrupção” que assola o país.
Globo e companhia alimentam um protofascismo que se expressa tanto na estigmatização dos beneficiários de programas sociais, como o Bolsa-Família, como também nas ameaças a figuras e simpatizantes do PT em espaços públicos. A misoginia é outra manifestação deste processo alimentado pelo frenesi anti-pestista. Dilma tem sido criticada não apenas por ser presidenta, mas por ser mulher “severa”, intransigente”, inflexíveis”, características consideradas positivas em chefes de Estado do sexo masculino. Movimentos como o “Vem pra rua”, mobilizados em torno do perigoso patriotismo verde-amarelo, e o panelaço contra a presidenta Dilma expressam também o autoritarismo e a intolerância que chocam o ovo da serpente.
Sofisticação tecnológica e canalhice editorial
Os desdobramentos da Operação Lava Jato podem até comprovar as “sentenças” já decretadas pela mídia corporativa. Pode ser que as investigações tragam à tona novos escândalos envolvendo figuras proeminentes do Partido dos Trabalhadores. Ainda assim, Lula da Silva já é um fenômeno por sobreviver a uma máquina de guerra brutal, sem regras mínimas de combate. Vários nomes do PT foram e talvez sejam condenados, mas Lula, com seu capital político, continua sendo o alvo principal da saga golpista. Dificilmente Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor, sobreviveria a tamanha voracidade midiática. Imagine, se puder, o tempo de sobrevida política de alguns opositores de “tudo que está aí” se a imprensa dedicasse tamanha diligência para desvendar suas práticas predatórias? Um dos papéis fundamentais da atividade jornalística é fazer perguntas. No entanto, a imprensa se recusa a fazer algumas perguntas cruciais para entendermos a corrupção no Brasil porque ela teria que se colocar no lugar incômodo de questionar suas próprias práticas delinquenciais não apenas no jornalismo criminoso, mas também no campo fiscal, como os escândalos da Fifa, do HSBC e de fraudes na Receita Federal.
Os estudiosos da mídia podem discordar sobre o papel dos meios na construção de consensos, aquela velha discussão ainda não resolvida entre o que Umberto Eco chamou de “apocalípticos e integrados”. As quatro vitórias petistas – com o peso das articulação políticas nas redes sociais – seriam um exemplo de que os consumidores de notícias não são agentes passivos. Eles estrategicamente negociam, recusam, dão outro significado, e principalmente produzem contra-narrativas.
Talvez estejamos entre os “apocalípticos”, mas o eco das palavras “mensalão”, “corrupção”, “Petrobrás” e “Lava Jato”, incessantemente repetidas, criou uma rede de significados na qual o Partido dos Trabalhadores está aprisionado. Se por um lado os eleitores do PT são discursivamente associados à miséria, ao voto de cabresto e ao analfabetismo político – Diogo Mainardi, Cristina Lobo e Merval Pereira merecem crédito aqui –, por outro, a mídia fomenta e dá vazão às frustrações de uma classe média ressentida com as (ainda que precárias) conquistas sociais dos últimos doze anos. Os espaços quase monocromáticos da classe média branca começaram a ser parcamente diversificados em função de programas sociais que começaram a arranhar a hierarquia perversa do país. Nesse âmbito, para tal crime não há absolvição.
Na verdade, a narrativa midiática de estigmatização dos eleitores do PT não vem de hoje. Ela começou lá atrás e talvez tenha ficado mais pornográfica nas últimas eleições quando o Nordeste foi “responsabilizado” pela eleição de Dilma, ainda que Aécio Neves tenha perdido em seu estado natal e no Rio de Janeiro, seu estado de residência. O movimento de ruptura democrática estimulado pelas forças derrotadas nas eleições de 2014 revela não apenas uma vocação autoritária, como também uma terminante recusa a aceitar que na democracia o voto de membros de diferentes classes sociais tem o mesmo valor. O esforço midiático de demonização do PT, aliado ao impopular ajuste fiscal, se reflete nos índices perigosíssimos de aprovação do governo Dilma Rousseff, criando terreno fértil para a supuração de articulações políticas que almejam o impeachment.
Se as eleições de 2014 não foram suficientemente “sofridas” para levar a presidenta Dilma Rousseff a repensar as estratégias de comunicação do seu governo, elas pelo menos serviram para deixar os campos muito mais demarcados no que diz respeito à mídia corporativa: a prática jornalística, como trabalho de investigação criteriosa, checagem de fontes e equilíbrio de perspectivas, foi definitivamente abandonada. O que temos agora é a criminosa e calculada produção de verdades, sem consequências para as empresas jornalísticas. Uma mera nota de rodapé, na edição seguinte, já faz parte do cálculo do jornalismo delinquente. Quiçá o momento presente não seja tão mau para as forças progressistas do país. A mídia corporativa está desnuda: sofisticação tecnológica e canalhice editorial.
***
Jaime Alves e Raquel de Souza são, respectivamente, jornalista e professor de Antropologia, tradutora e doutoranda em Antropologia
in Observatório da Imprensa, Br.
sexta-feira, 14 de agosto de 2015
Imperialismo Norte Americano
Em 1823, os EUA estabeleceram uma política denominada Doutrina Monroe, que pregava a independência dos países da América em possíveis intervenções europeias. O verdadeiro objetivo da doutrina Monroe era o domínio sobre os demais países americanos. O lema dessa doutrina era: A América para os americanos. Na era do Presidente Theodore Roosevelt foi mais longe com seu famoso big stick (grande porrete). Uma política externa que dava aos Eua direito de invadir e interferir politicamente países vizinhos para manter a ordem. Na verdade, o objetivo do “Big Stick era evitar que os países da América Latina questionasse as decisões do governo norte americano.A política americana prosseguiu com seu objetivo de dominar cada vez mais as nações do mundo, e explorar os países fornecedores de matéria prima, como os diamantes da África, o petróleo do Oriente Médio, e a exploração de mão de obra barata em países da América Latina e a Ásia, África para trabalhar para as multinacionaisamericanas. ..http://www.anarquista.net/ imperialismo-norte-americano/
quinta-feira, 13 de agosto de 2015
Alemanha lucrou mais de 100 mil milhões com crise da Grécia
Hoje às 16:07
A Alemanha "beneficiou claramente com a crise grega" em mais de 100 mil milhões de euros, garante um estudo divulgado esta segunda-feira.
Quem o garante é o Instituto de Investigação Económica Leibniz, num estudo citado pela agência France Presse (AFP).
O instituto, sem fins lucrativos, considerou que aquele valor representa a poupança garantida pela Alemanha através de baixas taxas de juro sobre as suas obrigações, resultantes da atração da sua economia sobre investidores assustados com a instabilidade grega.
Quando os investidores enfrentam dificuldades, procuram tipicamente um mercado seguro para o seu dinheiro, e a sólida economia alemã "beneficiou desproporcionalmente" desse facto durante a crise da dívida na Grécia, lê-se no estudo, acrescentando que as poupanças "excedem os custos da crise, mesmo se a Grécia não pagasse todas as suas dívidas".
"Nos anos recentes, cada vez que os mercados financeiros souberam de notícias negativas sobre a Grécia, as taxas de juro sobre as obrigações do governo alemão caíram, e cada vez que as notícias foram boas, estas subiram", defende o documento.
Outros países como os Estados Unidos da América, a França e a Holanda também beneficiaram, mas "a um nível muito mais reduzido". Os estimados 100 mil milhões de euros que a Alemanha poupou desde 2010 constituíram cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
A Alemanha exigiu à Grécia disciplina fiscal e duras reformas económicas em troca da ajuda de credores internacionais. O ministro das finanças alemão, Wolfgang Schäuble, opôs-se a uma reestruturação da dívida grega, apontando para o orçamento equilibrado do seu governo.
Quando os investidores enfrentam dificuldades, procuram tipicamente um mercado seguro para o seu dinheiro, e a sólida economia alemã "beneficiou desproporcionalmente" desse facto durante a crise da dívida na Grécia, lê-se no estudo, acrescentando que as poupanças "excedem os custos da crise, mesmo se a Grécia não pagasse todas as suas dívidas".
"Nos anos recentes, cada vez que os mercados financeiros souberam de notícias negativas sobre a Grécia, as taxas de juro sobre as obrigações do governo alemão caíram, e cada vez que as notícias foram boas, estas subiram", defende o documento.
Outros países como os Estados Unidos da América, a França e a Holanda também beneficiaram, mas "a um nível muito mais reduzido". Os estimados 100 mil milhões de euros que a Alemanha poupou desde 2010 constituíram cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
A Alemanha exigiu à Grécia disciplina fiscal e duras reformas económicas em troca da ajuda de credores internacionais. O ministro das finanças alemão, Wolfgang Schäuble, opôs-se a uma reestruturação da dívida grega, apontando para o orçamento equilibrado do seu governo.
Fidel completa 89 e cidades brasileiras preparam homenagens
O líder histórico da Revolução Cubana, Fidel Castro, comemora, nesta quinta-feira (12), 89 anos de idade. Para homenagear sua trajetória de lutas, diversas atividades serão realizadas em São Paulo.
Reprodução
Às 18 horas, na Câmara do Vereadores da capital paulista, haverá um evento comemorativo. Também na cidade de São Paulo, o Movimento Paulista de Solidariedade a Cuba promoverá a exibição do filme “Looking For Fidel”, do diretor estadunidense Oliver Stone. A Atividade ocorrerá no Memorial da América Latina.No Rio de Janeiro, na Cinelândia, as comemorações também começarm no mesmo horário. Na cidade de Santos, no litoral paulista, a Associação Cultural José Martí organizará uma festa, no dia 15 de agosto, com comidas, bebidas e músicas típicas cubanas.
Fidel Castro foi o líder do movimento que deu um caráter socialista a Cuba, derrubando em 1959 a ditadura de Fulgêncio Batista. Após comandar a maior das Antilhas por vários anos, seu legado pode ser observado nas estruturas presentes no país, mas também na influência que possibilitou o surgimento de diversos movimentos progressistas na América Latina.
Mesmo sob o bloqueio econômico imposto pelos estadunidenses, ele conseguiu garantir saúde e educação universais aos cubanos e exportou o conceito para outros países, permitindo que profissionais médicos, altamente qualificados, ajudassem também outras nações, como no caso da Operação Milagre.
Do Portal Vermelho
domingo, 9 de agosto de 2015
The Global Economic Crisis, The Great Depression of the XXI Century.
Global Research, July 08, 2015
Url of this article:
http://www.globalresearch.ca/ the-global-economic-crisis- the-great-depression-of-the- xxi-century-2/19025
http://www.globalresearch.ca/
The following text is an excerpt of the Preface of The Global Economic Crisis. The Great Depression of the XXI Century, Montreal, Global Research, 2010.
Click here to buy the book!
In all major regions of the world, the economic recession is deep-seated, resulting in mass unemployment, the collapse of state social programs and the impoverishment of millions of people. The economic crisis is accompanied by a worldwide process of militarization, a “war without borders” led by the United States of America and its NATO allies. The conduct of the Pentagon’s “long war” is intimately related to the restructuring of the global economy.
We are not dealing with a narrowly defined economic crisis or recession. The global financial architecture sustains strategic and national security objectives. In turn, the U.S.-NATO military agenda serves to endorse a powerful business elite which relentlessly overshadows and undermines the functions of civilian government.
This book takes the reader through the corridors of the Federal Reserve and the Council on Foreign Relations, behind closed doors at the Bank for International Settlements, into the plush corporate boardrooms on Wall Street where far-reaching financial transactions are routinely undertaken from computer terminals linked up to major stock markets, at the touch of a mouse button.
Each of the authors in this collection digs beneath the gilded surface to reveal a complex web of deceit and media distortion which serves to conceal the workings of the global economic system and its devastating impacts on people’s lives. Our analysis focuses on the role of powerful economic and political actors in an environment wrought by corruption, financial manipulation and fraud.
Despite the diversity of viewpoints and perspectives presented within this volume, all of the contributors ultimately come to the same conclusion: humanity is at the crossroads of the most serious economic and social crisis in modern history.
The meltdown of financial markets in 2008-2009 was the result of institutionalized fraud and financial manipulation. The “bank bailouts” were implemented on the instructions of Wall Street, leading to the largest transfer of money wealth in recorded history, while simultaneously creating an insurmountable public debt.
With the worldwide deterioration of living standards and plummeting consumer spending, the entire structure of international commodity trade is potentially in jeopardy. The payments system of money transactions is in disarray. Following the collapse of employment, the payment of wages is disrupted, which in turn triggers a downfall in expenditures on necessary consumer goods and services. This dramatic plunge in purchasing power backfires on the productive system, resulting in a string of layoffs, plant closures and bankruptcies. Exacerbated by the freeze on credit, the decline in consumer demand contributes to the demobilization of human and material resources.
This process of economic decline is cumulative. All categories of the labor force are affected. Payments of wages are no longer implemented, credit is disrupted and capital investments are at a standstill. Meanwhile, in Western countries, the “social safety net” inherited from the welfare state, which protects the unemployed during an economic downturn, is also in jeopardy.
The Myth of Economic Recovery
The existence of a “Great Depression” on the scale of the 1930s, while often acknowledged, is overshadowed by an unbending consensus: “The economy is on the road to recovery”.
While there is talk of an economic renewal, Wall Street commentators have persistently and intentionally overlooked the fact that the financial meltdown is not simply composed of one bubble – the housing real estate bubble – which has already burst. In fact, the crisis has many bubbles, all of which dwarf the housing bubble burst of 2008.
Although there is no fundamental disagreement among mainstream analysts on the occurrence of an economic recovery, there is heated debate as to when it will occur, whether in the next quarter, or in the third quarter of next year, etc. Already in early 2010, the “recovery” of the U.S. economy had been predicted and confirmed through a carefully worded barrage of media disinformation. Meanwhile, the social plight of increased unemployment in America has been scrupulously camouflaged. Economists view bankruptcy as a microeconomic phenomenon.
The media reports on bankruptcies, while revealing local-level realities affecting one or more factories, fail to provide an overall picture of what is happening at the national and international levels. When all these simultaneous plant closures in towns and cities across the land are added together, a very different picture emerges: entire sectors of a national economy are closing down.
Public opinion continues to be misled as to the causes and consequences of the economic crisis, not to mention the policy solutions. People are led to believe that the economy has a logic of its own which depends on the free interplay of market forces, and that powerful financial actors, who pull the strings in the corporate boardrooms, could not, under any circumstances, have willfully influenced the course of economic events.
The relentless and fraudulent appropriation of wealth is upheld as an integral part of “the American dream”, as a means to spreading the benefits of economic growth. As conveyed by Michael Hudson, the myth becomes entrenched that “without wealth at the top, there would be nothing to trickle down.” Such flawed logic of the business cycle overshadows an understanding of the structural and historical origins of the global economic crisis.
Financial Fraud
Media disinformation largely serves the interests of a handful of global banks and institutional speculators which use their command over financial and commodity markets to amass vast amounts of money wealth. The corridors of the state are controlled by the corporate establishment including the speculators. Meanwhile, the “bank bailouts”, presented to the public as a requisite for economic recovery, have facilitated and legitimized a further process of appropriation of wealth.
Vast amounts of money wealth are acquired through market manipulation. Often referred to as “deregulation”, the financial apparatus has developed sophisticated instruments of outright manipulation and deceit. With inside information and foreknowledge, major financial actors, using the instruments of speculative trade, have the ability to fiddle and rig market movements to their advantage, precipitate the collapse of a competitor and wreck havoc in the economies of developing countries. These tools of manipulation have become an integral part of the financial architecture; they are embedded in the system.
The Failure of Mainstream Economics
The economics profession, particularly in the universities, rarely addresses the actual “real world” functioning of markets. Theoretical constructs centered on mathematical models serve to represent an abstract, fictional world in which individuals are equal. There is no theoretical distinction between workers, consumers or corporations, all of which are referred to as “individual traders”. No single individual has the power or ability to influence the market, nor can there be any conflict between workers and capitalists within this abstract world.
By failing to examine the interplay of powerful economic actors in the “real life” economy, the processes of market rigging, financial manipulation and fraud are overlooked. The concentration and centralization of economic decision-making, the role of the financial elites, the economic thinks tanks, the corporate boardrooms: none of these issues are examined in the universities’ economics programs. The theoretical construct is dysfunctional; it cannot be used to provide an understanding of the economic crisis.
Economic science is an ideological construct which serves to camouflage and justify the New World Order. A set of dogmatic postulates serves to uphold free market capitalism by denying the existence of social inequality and the profit-driven nature of the system is denied. The role of powerful economic actors and how these actors are able to influence the workings of financial and commodity markets is not a matter of concern for the discipline’s theoreticians. The powers of market manipulation which serve to appropriate vast amounts of money wealth are rarely addressed. And when they are acknowledged, they are considered to belong to the realm of sociology or political science.
This means that the policy and institutional framework behind this global economic system, which has been shaped in the course of the last thirty years, is rarely analyzed by mainstream economists. It follows that economics as a discipline, with some exceptions, has not provided the analysis required to comprehend the economic crisis. In fact, its main free market postulates deny the existence of a crisis. The focus of neoclassical economics is on equilibrium, disequilibrium and “market correction” or “adjustment” through the market mechanism, as a means to putting the economy back “onto the path of self-sustained growth”.
Poverty and Social Inequality
The global political economy is a system that enriches the very few at the expense of the vast majority. The global economic crisis has contributed to widening social inequalities both within and between countries. Under global capitalism, mounting poverty is not the result of a scarcity or a lack of human and material resources. Quite the opposite holds true: the economic depression is marked by a process of disengagement of human resources and physical capital. People’s lives are destroyed. The economic crisis is deep-seated.
The structures of social inequality have, quite deliberately, been reinforced, leading not only to a generalized process of impoverishment but also to the demise of the middle and upper middle income groups.
Middle class consumerism, on which this unruly model of capitalist development is based, is also threatened. Bankruptcies have hit several of the most vibrant sectors of the consumer economy. The middle classes in the West have, for several decades, been subjected to the erosion of their material wealth. While the middle class exists in theory, it is a class built and sustained by household debt.
The wealthy rather than the middle class are rapidly becoming the consuming class, leading to the relentless growth of the luxury goods economy. Moreover, with the drying up of the middle class markets for manufactured goods, a central and decisive shift in the structure of economic growth has occurred. With the demise of the civilian economy, the development of America’s war economy, supported by a whopping near-trillion dollar defense budget, has reached new heights. As stock markets tumble and the recession unfolds, the advanced weapons industries, the military and national security contractors and the up-and-coming mercenary companies (among others) have experienced a thriving and booming growth of their various activities.
War and the Economic Crisis
War is inextricably linked to the impoverishment of people at home and around the world. Militarization and the economic crisis are intimately related. The provision of essential goods and services to meet basic human needs has been replaced by a profit-driven “killing machine” in support of America’s “Global War on Terror”. The poor are made to fight the poor. Yet war enriches the upper class, which controls industry, the military, oil and banking. In a war economy, death is good for business, poverty is good for society, and power is good for politics. Western nations, particularly the United States, spend hundreds of billions of dollars a year to murder innocent people in far-away impoverished nations, while the people at home suffer the disparities of poverty, class, gender and racial divides.
An outright “economic war” resulting in unemployment, poverty and disease is carried out through the free market. People’s lives are in a freefall and their purchasing power is destroyed. In a very real sense, the last twenty years of global “free market” economy have resulted, through poverty and social destitution, in the lives of millions of people.
Rather than addressing an impending social catastrophe, Western governments, which serve the interests of the economic elites, have installed a “Big Brother” police state, with a mandate to confront and repress all forms of opposition and social dissent.
The economic and social crisis has by no means reached its climax and entire countries, including Greece and Iceland, are at risk. One need only look at the escalation of the Middle East Central Asian war and the U.S.-NATO threats to China, Russia and Iran to witness how war and the economy are intimately related.
Michel Chossudovsky, Montreal, May 2010
The book can be ordered directly from Global Research
The Global Economic Crisis: The Great Depression of the XXI Century
Contents of this Book
The contributors to this book reveal the intricacies of global banking and its insidious relationship to the military industrial complex and the oil conglomerates. The book presents an inter- disciplinary and multi-faceted approach, while also conveying an understanding of the historical and institutional dimensions. The complex relations of the economic crisis to war, empire and worldwide poverty are highlighted. This crisis has a truly global reach and repercussions that reverberate throughout all nations, across all societies.
In Part I, the overall causes of the global economic crisis as well as the failures of mainstream economics are laid out. Michel Chossudovsky focuses on the history of financial deregulation and speculation. Tanya Cariina Hsu analyzes the role of the American Empire and its relationship to the economic crisis. John Bellamy Foster and Fred Magdoff undertake a comprehensive review of the political economy of the crisis, explaining the central role of monetary policy. James Petras and Claudia von Werlhof provide a detailed review and critique of neoliberalism, focusing on the economic, political and social repercussions of the “free market” reforms. Shamus Cooke examines the central role of debt, both public and private.
Part II, which includes chapters by Michel Chossudovsky and Peter Phillips, analyzes the rising tide of poverty and social inequality resulting from the Great Depression.
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With contributions by Michel Chossudovsky, Peter Dale Scott, Michael Hudson, Bill Van Auken, Tom Burghardt and Andrew Gavin Marshall, Part III examines the relationship between the economic crisis, National Security, the U.S.-NATO led war and world government. In this context, as conveyed by Peter Dale Scott, the economic crisis creates social conditions which favor the instatement of martial law.
The focus in Part IV is on the global monetary system, its evolution and its changing role. Andrew Gavin Marshall examines the history of central banking as well as various initiatives to create regional and global currency systems. Ellen Brown focuses on the creation of a global central bank and global currency through the Bank for International Settlements (BIS). Richard C. Cook examines the debt-based monetary system as a system of control and provides a framework for democratizing the monetary system.
Part V focuses on the working of the Shadow Banking System, which triggered the 2008 meltdown of financial markets. The chapters by Mike Whitney and Ellen Brown describe in detail how Wall Street’s Ponzi scheme was used to manipulate the market and transfer billions of dollars into the pockets of the banksters.
Disclaimer: The contents of this article are of sole responsibility of the author(s). The Centre for Research on Globalization will not be responsible for any inaccurate or incorrect statement in this article.
Copyright © Prof Michel Chossudovsky, Global Research, 2015
quarta-feira, 5 de agosto de 2015
A construção do Despotismo Ocidental
Sujeição da Grécia e do Syriza indica: vivemos etapa final de desmonte da velha democracia. Esquerda só poderá enfrentar tal retrocesso se souber reinventar-se Por Boaventura de Sousa Santos
A Europa transformou-se num laboratório do futuro. O que nele se experimenta deve causar preocupação a qualquer democrata e, muito mais, a qualquer pessoa de esquerda. Duas experiências estão em curso em ambiente laboratorial, isto é, supostamente controlado. A primeira experiência é um teste de stress à democracia. A hipótese que orienta o teste é a seguinte: a deliberação democrática de um país forte pode sobrepor-se antidemocraticamente à deliberação democrática de um país fraco sem que tal altere a normalidade da vida política europeia. As condições para o êxito desta experiência são três: controlar a opinião pública de modo que os interesses nacionais do país mais forte sejam convertidos no interesse comum da zona euro; dispor de um conjunto de instituições não eleitas (Eurogrupo, BCE, FMI, Comissão Europeia) capazes de neutralizar e punir qualquer deliberação democrática que desobedeça ao diktat do país dominante; demonizar o país mais fraco de modo a que não suscite nenhuma simpatia junto dos eleitores dos restantes países europeus, especialmente junto dos eleitores dos países candidatos a desobedecer.
A Grécia é a cobaia desta tenebrosa experiência. Trata-se do segundo exercício de ocupação colonial do século XXI (o primeiro foi a Missão de Estabilização da ONU no Haiti a partir de 2004), um colonialismo de tipo novo, executado com o consentimento do país ocupado, ainda que sob inaudita chantagem. E, tal como o velho colonialismo, justificado como servindo o melhor interesse do país ocupado. A experiência está em curso e os resultados do teste de stress são incertos. Ao contrário dos laboratórios, as sociedades não são ambientes controlados, por maior que seja a pressão para os controlar. Uma coisa é certa: depois desta experiência, qualquer que seja o seu resultado, a Europa não será mais a Europa da paz, da coesão social e da democracia. Será o epicentro de um novo despotismo ocidental, rivalizando em crueldade com o despotismo oriental estudado por Karl Marx e Max Weber.
A segunda experiência em curso é um exercício sobre a solução final para a esquerda europeia. A hipótese que orienta esta experiência é a seguinte: não há lugar na Europa para a esquerda na medida em que esta reivindicar a existência de uma alternativa às políticas de “austeridade” impostas pelo país dominante.
As condições para o êxito desta experiência são três. A primeira consiste em provocar a derrota preventiva dos partidos de esquerda, punindo de maneira brutal o primeiro que tentar desobedecer. A segunda consiste em criar nos eleitores a ideia de que os partidos de esquerda não os representam. Até agora, a ideia de que “os representantes não nos representam” era uma bandeira do movimento dos indignados e do Occupy, contra os partidos de direita e seus aliados. Depois de o Syriza ser forçado a beber o cálice da cicuta austeritária, apesar do “não” do referendo grego que ele próprio apoiara, os eleitores serão levados a concluir que, afinal, também os partidos de esquerda não os representam. A terceira condição consiste em aprisionar a esquerda em falsas opções entre falsos Planos A e Planos B.
Nos últimos anos, a esquerda dividiu-se entre os que pensam que é melhor permanecer no euro e os que pensam que é melhor sair do euro. Ilusão: nenhum país pode optar por sair ordenadamente do euro, mas, se desobedecer, será expulso e o caos desabará implacavelmente sobre ele. Passa-se o mesmo com a restruturação da dívida que até agora tanto dividiu a esquerda. Ilusão: a restruturação ocorrerá quando tal servir os interesses dos credores e é por isso que mais esta bandeira de alguma esquerda se transforma agora numa política do FMI.
Também os resultados desta experiência são incertos e pelas mesmas razões acima referidas. Uma coisa é certa: para sobreviver a esta experiência, a esquerda terá de se refundar para além do que é hoje imaginável. Tal envolverá muita coragem, muita audácia e muita criatividade.
Pelo Socialismo
Questões político-ideológicas com atualidade
http://www.pelosocialismo.net
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Publicado em 2015/07/21, em: http://www.histsocialismo.com/docs/Huar_Intervencao_britanica_Grecia.pdf
Tradução do alemão por PG, revisão e edição por CN, 14.07.2015 (original em
http://www.stalinwerke.de/Diverses/stalinsbeitraege.html)
Colocado em linha em: 2015/07/31
O esmagamento da Grécia revolucionária* Ulrich Huar
O rei da Grécia Jorge II e o seu governo fugiram para o Egito imediatamente a seguir à invasão das tropas alemãs (6 de abril de 1941) e formaram aí um governo no exílio. A 27 de setembro de 1941, por iniciativa do Partido Comunista da Grécia, as forças democráticas de todos os estratos do povo uniram-se na Frente de Libertação Nacional (EAM, segundo a sigla grega1 ). Os ocupantes fascistas alemães criaram um governo marioneta, encabeçado pelo general G. Tsolakoglou2 , que recrutou tropas entre a população grega e enviou-as para a frente de combate contra a União Soviética, em 1943. Sob a direcção do PC da Grécia, os patriotas gregos formaram o Exército Popular de Libertação (ELAS3 ), unindo no seu seio os diferentes grupos de guerrilha. Contando com o apoio enérgico da maioria do povo, em meados de 1943, o ELAS já tinha libertado um terço da Grécia continental. 1
* Nota do Editor: O presente texto é um extracto adaptado do capítulo IV da obra de Ulrich Huar, Contribuições de Stáline para a Ciência Militar e Política Soviética (Verlag, Berlim, 2006), parcialmente traduzida e publicada em Para a História do Socialismo
(http://www.histsocialismo.com/docs/Huar_Staline_Militar_%20III.pdf). EAM, sigla grega de Ethniko Apeleftherotiko Metopo, Frente de Libertação Nacional. (N. Ed.) 2 Gueórguios Tsolakoglou (1886-1948), general grego, ocupou o cargo de primeiro-ministro do governo colaboracionista (1941-42), durante a ocupação fascista da Grécia. Após a libertação foi preso, julgado por um tribunal especial e condenado à morte, pena que foi comutada em prisão perpétua, vindo a morrer de leucemia. (N. Ed.) 3 ELAS, sigla grega de Ellinikós Laïkós ApeleftherotikósStratós, Exército Popular de Libertação da Grécia. (N. Ed.)
1Em 10 de março de 1944, os patriotas gregos formaram o Comité Político de Libertação Nacional (PEEA4 ). Nas eleições para o Conselho Nacional do PEEA participaram 1,8 milhões de pessoas, mais de 80 por cento dos cidadãos eleitores. No Conselho Nacional estavam representados todos os estratos do povo. Em maio de 1944, sob pressão dos britânicos, o PEEA concordou em formar um governo conjunto com o governo no exílio formado no Egito, sob a direção do socialdemocrata G. Papandréou5 . Este governo foi constituído no Cairo, em 2 de setembro de 1944. Aos comunistas e representantes da EAM, unidos no PEEA, foi prometido apenas 25 por cento dos lugares, o que estava muito aquém do seu real apoio popular. Através deste compromisso imposto ao PEEA, os partidos burgueses, que não haviam participado na luta de resistência e se tinham comportado de forma expectante e até cooperante com a potência ocupante alemã, garantiam a maioria absoluta no «Governo de Unidade Nacional». Face ao rápido avanço do Exército Vermelho nos Balcãs, as tropas alemãs viram-se obrigadas a retirar da Grécia. No início de novembro de 1944, aproveitando a retirada das tropas alemãs, o ELAS libertou a Grécia, com exceção de algumas ilhas. Cumprido o programa da Frente de Libertação Nacional (EAM), apoiado pela maioria do povo, devia agora ser completada a revolução democrática, anti-imperialista. A hegemonia do imperialismo britânico na Grécia e no Mediterrâneo oriental seria pelo menos reduzida, senão mesmo suprimida. O lado britânico queria impedir isso a todo o custo. O Foreign Office constatava com pesar que não era possível uma intervenção armada na Jugoslávia contra Tito, mas na Grécia, sim. Na perspectiva do Foreign Office, o governo britânico teria de utilizar a força, não obstante, assim nos assegura Sir Liewellyn Woodward, «não há a mínima dúvida de que a maioria da nação grega saudou a ingerência»
6 . O Governo britânico nunca se embaraçou a justificar as intervenções imperialistas. Em 13 de outubro de 1944, tropas britânicas aterraram em Atenas e no Pireu. As provocações do lado do exército de intervenção britânico, sob o comando do general 4 PEEA, sigla grega de Politiki Epitropi Ethikis Apeleftherosis, Comité Político de Libertação Nacional, que foi o órgão de governo nas regiões libertadas pela resistência, apoiado pelo Conselho Nacional, assembleia representativa eleita por voto secreto, em abril de 1944. (N. Ed.)
5 Gueórguios Papandréou, (1888-1968), político grego, três vezes primeiro-ministro da Grécia (1944-45, 1963 e 1964-65). Formado em Direito, foi governador das ilhas do Egeu (1917-20), deputado em 1923 e ministro da Educação entre 1930 e 1932. Durante a ocupação nazi exilou-se no Egito com a família real, tornando-se aí primeiro-ministro do governo no exílio. Ascende ao poder após a libertação, em outubro de 1944. Em 1961, funda o Partido Liberal União do Centro, que vence as eleições de 1963 e se apresenta como favorito nas eleições de 1967, que foram suspensas pelo golpe de Estado dos coronéis em 21 de Abril de 1967. (N. Ed.)
6 O Governo britânico «had to use force, but there is no doubt that the great majority of the Greek nation welcomed their interference…» (British Foreign Policy in the Second World War, Londres, 1962. Her Majesty’s Stationary Office,p. 351). Estranho! Uma página antes L. Woodward afirma que a monarquia grega era odiada por largas camadas da população, agora diz que a nação grega estava agradecida aos britânicos por lhe ter devolvido o seu querido rei.
2O Governo britânico nunca se embaraçou a justificar as intervenções imperialistas. Em 13 de outubro de 1944, tropas britânicas aterraram em Atenas e no Pireu. As provocações do lado do exército de intervenção britânico, sob o comando do general 4 PEEA, sigla grega de Politiki Epitropi Ethikis Apeleftherosis, Comité Político de Libertação Nacional, que foi o órgão de governo nas regiões libertadas pela resistência, apoiado pelo Conselho Nacional, assembleia representativa eleita por voto secreto, em abril de 1944. (N. Ed.) 5 Gueórguios Papandréou, (1888-1968), político grego, três vezes primeiro-ministro da Grécia (1944-45, 1963 e 1964-65). Formado em Direito, foi governador das ilhas do Egeu (1917-20), deputado em 1923 e ministro da Educação entre 1930 e 1932. Durante a ocupação nazi exilou-se no Egito com a família real, tornando-se aí primeiro-ministro do governo no exílio. Ascende ao poder após a libertação, em outubro de 1944. Em 1961, funda o Partido Liberal União do Centro, que vence as eleições de 1963 e se apresenta como favorito nas eleições de 1967, que foram suspensas pelo golpe de Estado dos coronéis em 21 de Abril de 1967. (N. Ed.)
6 O Governo britânico «had to use force, but there is no doubt that the great majority of the Greek nation welcomed their interference…» (British Foreign Policy in the Second World War, Londres, 1962. Her Majesty’s Stationary Office,p. 351). Estranho! Uma página antes L. Woodward afirma que a monarquia grega era odiada por largas camadas da população, agora diz que a nação grega estava agradecida aos britânicos por lhe ter devolvido o seu querido rei. 2Scobie7 e de políticos e oficiais gregos restauracionistas, conduziram à sublevação do ELAS. Agora Churchill estava no seu elemento. Na noite de 4 para 5 de dezembro autorizou telegraficamente o general Scobie a reprimir pela força os movimentos populares. Nas suas memórias, Churchill vangloria-se retrospetivamente da sua intervenção pessoal nos combates na Grécia. As instruções transmitidas por telegrama ao general Scobie são claras; estão documentadas as afirmações odiosas de Churchill, na sua dicção anticomunista, dando as instruções bárbaras, que teriam honrado qualquer déspota oriental. Posteriormente ainda procurou legitimá-las, difamando os comunistas e tratando as massas populares de «populaça»: «Agora interferia directamente na direcção do assunto. Quando soube que os comunistas tinham ocupado quase todas as esquadras de polícia em Atenas e assassinado a maioria dos polícias que não estavam de acordo com eles, e que se encontravam a menos de um quilómetro da sede do Governo, ordenei ao general Scobie e aos seus cinco mil soldados – que apenas dez dias antes tinham sido saudados pela população como libertadores – que interviessem e avançassem com a força das armas contra os assaltantes traidores. Não faz sentido fazer estas coisas a meio termo. A violência da populaça, com a ajuda da qual os comunistas queriam ocupar a cidade para se apresentarem ao mundo como o governo desejado pelo povo grego, só podia ser impedida pelo fogo das armas. Não houve tempo para convocar uma reunião governamental. «Eden8 e eu estivemos juntos até cerca das duas horas da manhã; estávamos ambos inteiramente de acordo que só a força das armas podia valer-nos. Vi que ele estava esgotado e disse-lhe:”Se quiser ir deitar-se, eu trato disto”. Ele retirou-se, e cerca das três [horas] redigi o seguinte telegrama para o general Scobie: «“(…) Você é responsável pela paz e pela ordem em Atenas e deve impedir todas as unidades da EAM/ELAS de se aproximarem da cidade e, se necessário, eliminá-las. Pode promulgar todos os regulamentos que entender necessários para controlar as ruas e prender elementos rebeldes. O ELAS procurará, naturalmente, onde existir o perigo de um tiroteio, enviar à frente mulheres e crianças. Em tais casos tem de actuar engenhosamente e evitar erros. Mas não hesite em disparar sobre todos os [elementos] armados na cidade, que se oponham às nossas autoridades ou às autoridades gregas por nós reconhecidas. Evidentemente que seria bom que o Governo grego com a sua autoridade se colocasse sob o seu comando, e Leeper9
7 Ronald MacKenzie Scobie (1893-1969), oficial britânico, general de brigada na II Guerra, ocupa vários postos de comando no Médio Oriente, no Sudão e na Líbia. Em dezembro de 1943 é nomeado comandante do 2.º Corpo do Exército Britânico, que foi enviado para a Grécia com a missão de expulsar os alemães e reprimir o movimento progressista de libertação nacional. (N. Ed.) 8 Robert Anthony Eden (1897-1977), conservador britânico, ministro dos Negócios Estrangeiros em três períodos (1934-35, 1935-38 e 1940-45), liderou a oposição parlamentar entre 1945 e 1951, tornando-se primeiro-ministro entre 1955 e 1957. (N. Ed.)
9 Reginald Wildig Allen Leeper (1888-1968), diplomata britânico, chefe do Political Intelligence Department (1938), onde iniciou a sua carreira. Foi embaixador junto do Governo grego no exílio (1943-44) e a seguir à libertação (1944-46), mantendo o apoio à monarquia contra o movimento 3procura convencer Papandréou a fazê-lo. Mas não hesite em atuar como se se encontrasse numa cidade conquistada, na qual uma insurreição estivesse em marcha.(…) 2. Caso os bandos do ELAS se aproximem da cidade a partir do exterior, encontra-se com certeza na situação de lhes dar uma lição, com os seus tanques, que coíba os outros de novas tentativas. Contará com a minha cobertura para todas as ações bem pensadas e sensatas. Temos de afirmar a nossa posição e autoridade em Atenas. Ganharia grande mérito se o conseguisse sem derramamento de sangue, mas se necessário também com derramamento de sangue.” «Este telegrama foi enviado dia 5, cerca das 4h e 50m. Tenho de concordar que estava formulado de forma um pouco severa. Porém, pressenti a necessidade urgente de dar ao comandante instruções claras, por isso usei premeditadamente as expressões mais fortes. Com uma tal ordem nas suas mãos, teria a coragem de atuar energicamente, já que lhe dei a certeza de cobrir todas as suas ações bem pensadas, independentemente das consequências. Toda a evolução me preocupava seriamente, contudo estava convencido de que aqui não podia haver nem fraquezas nem indecisões. Lembrei-me do famoso telegrama de Arthur Balfour10, nos anos 80, para a administração britânica na Irlanda: “Não hesite em disparar.” Esse telegrama foi então enviado pelo telégrafo público e provocou uma tempestade de indignação na Câmara dos Comuns, porém, evitou determinados derramamentos de sangue. O episódio revelou-se como uma das etapas mais importantes na subida de Balfour ao poder. Sem dúvida que as coisas agora eram diferentes, mas este “Não hesite em disparar” soou-me aos ouvidos como uma insinuação de dias longínquos»
11 . «Não hesite em disparar!» O general Scobie não hesitou. As ressalvas restritivas de Churchill tinham só uma função de álibi. A guerra suja de intervenção contra o Exército Popular de Libertação – elemento ativo da coligação anti-hitleriana – foi duramente criticada na Grã-Bretanha, o que Sir Llewellyn Woodward explicou com a falta de informação da população inglesa sobre «a violência da multidão e da ditadura comunista» 12. Através dos seus meios de comunicação, o Governo britânico ajudou a ultrapassar rapidamente esta lamentável «deficiência» informativa. progressista de libertação. (N.Ed.) 10 Arthur James Balfour (1848-1930), político conservador britânico, foi primeiro-ministro do Reino Unido, entre julho de 1902 e dezembro de 1905, e ministro dos Negócios Estrangeiros entre 1916 e 1919. Pertence-lhe a chamada Declaração Balfour, de 1917, a qual defendia a implantação de uma pátria judaica na Palestina, então integrada no Império Otomano. Entre 1924 e 1929 fez parte do governo de Stanley Baldwin. (N.Ed.) 11 Winston S. Churchill, Der ZweiteWeltkrieg (Edição revista pelo próprio Churchill das suas memórias em doze volumes), Frankfurt/Main, 2003, p. 1007 e seg. Sublinhado no original. 12 «(…) mob violence and communist dictatorship». L. Woodward, idem, ibidem, p. 358. 4Mas também nos EUA houve críticas à atuação do exército britânico contra o Exército Popular de Libertação. Manifestamente, o presidente Roosevelt também estava insuficientemente informado sobre «ditadura comunista» da «populaça». Como o seu filho Elliot Roosevelt se recorda, o presidente estava profundamente indignado com o combate das tropas inglesas contra a guerrilha na Grécia, «que tinha lutado corajosamente durante quatro anos contra os nazis». «Não me admiraria», disse o presidente Roosevelt, «se Winston [Churchill, UH] nos tivesse simplesmente transmitido que queria apoiar os monárquicos gregos. Isto estaria de acordo com o seu caráter. Mas assassinar a guerrilha grega! Usar as tropas inglesas para tal coisa!»
13. Roosevelt criticou pouco antes da sua morte a «capacidade inglesa de juntar num bloco os outros países contra a União Soviética».
14 Em janeiro de 1945, Harry Hopkins15, um conselheiro do presidente, informava Elliot Roosevelt sobre os «planos [de Churchill] de invasão a partir do Sul», como «a última tentativa de colocar soldados aliados nos Balcãs antes dos russos» 16 . Isto chegará para caraterizar as ambições de Churchill na Grécia e nos Balcãs. Naturalmente que Stáline compreendeu a política pérfida, as brutalidades dos intervencionistas britânicos na Grécia. Mas o Governo soviético não podia ajudar os patriotas gregos. Independentemente de um ataque contra as tropas britânicas ser demasiado arriscado, dada a relação de forças existente no Sul da península balcânica, um tal passo contra um parceiro de coligação podia ter conduzido à ruptura na coligação anti-hitleriana. Churchill sabia que Stáline não faria nada contra a intervenção britânica para evitar tal rutura. Roosevelt também evitou uma condenação pública de Churchill pelas mesmas razões. A originalidade da situação histórica consistia em que, por um lado, os parceiros da coligação anti-hitleriana dependiam uns dos outros, por outro lado, estavam divididos por contradições de classe, que teriam de ser dirimidas depois da guerra. Era uma difícil decisão para Stáline, abandonar ao seu destino os camaradas de classe gregos para manter a coligação anti-hitleriana. Em 1944/45, a guerra contra o fascismo alemão e contra o Japão tinha prioridade sobre as ações de luta delimitadas localmente. Os exércitos alemães lutavam ainda com obstinação fanática na frente germano-soviética. Uma rutura na coligação anti-hitleriana, mesmo na fase final da guerra, teria tido efeitos militares imprevisíveis. A decisão deve ter sido difícil para Stáline, mas não tinha outra alternativa. Assim, Churchill pôde ainda assinalar cinicamente que «ao longo das semanas em que se prolongaram os combates de rua 13 Elliot Roosevelt, Wieeressah (As he saw it), 1ª ed., Zurique, 1947, p. 278. 14 Idem, ibidem, p. 285.
15 Harry Hopkins (1890-1946), político norte-americano, foi um dos conselheiros de Roosevelt. Nos anos 30 torna-se conhecido como responsável federal pelos programas públicos de criação de emprego nos EUA. Defensor da aliança antinazi, participou nas conferências de Teerão, Ialta e Potsdam. (N. Ed.)
16 Idem, ibidem, p. 289.em Atenas, (…) não houve nenhuma palavra de acusação no Pravda ou no Izvéstia»
17 . Aditamento: Churchill e os restauracionistas gregos verificaram à sua maneira a teoria marxistaleninista do Estado e da revolução: primeiro esclarece-se a questão do poder, se necessário por banho de sangue, depois eleições «livres» e, veja-se, agora os partidos burgueses têm a maioria. Nas eleições «livres» de 31 de março de 1946, o PC da Grécia, o EAM e outros partidos democráticos não puderam participar. Milhares de combatentes da resistência contra o ocupante fascista foram assassinados pelas tropas contrarrevolucionárias, 75 mil foram presos e mais de 100 mil combatentes ativos do movimento de libertação foram perseguidos e empurrados para a ilegalidade. Em 1 de setembro de 1946 realizou-se um referendo «livre» sob as baionetas das tropas reacionárias, que aprovou o regresso do rei Jorge II e, em «livre autonomia», restabeleceu-se a hegemonia do imperialismo britânico na Grécia. Em fevereiro de 1952 consumou-se a entrada «livre» na NATO. Na verdade, a luta dos democratas gregos não estava e não está ainda terminada.
17 Churchill, idem, ibidem, p. 1008, sublinhado no original.
O esmagamento da Grécia revolucionária* Ulrich Huar
O rei da Grécia Jorge II e o seu governo fugiram para o Egito imediatamente a seguir à invasão das tropas alemãs (6 de abril de 1941) e formaram aí um governo no exílio. A 27 de setembro de 1941, por iniciativa do Partido Comunista da Grécia, as forças democráticas de todos os estratos do povo uniram-se na Frente de Libertação Nacional (EAM, segundo a sigla grega1 ). Os ocupantes fascistas alemães criaram um governo marioneta, encabeçado pelo general G. Tsolakoglou2 , que recrutou tropas entre a população grega e enviou-as para a frente de combate contra a União Soviética, em 1943. Sob a direcção do PC da Grécia, os patriotas gregos formaram o Exército Popular de Libertação (ELAS3 ), unindo no seu seio os diferentes grupos de guerrilha. Contando com o apoio enérgico da maioria do povo, em meados de 1943, o ELAS já tinha libertado um terço da Grécia continental. 1
* Nota do Editor: O presente texto é um extracto adaptado do capítulo IV da obra de Ulrich Huar, Contribuições de Stáline para a Ciência Militar e Política Soviética (Verlag, Berlim, 2006), parcialmente traduzida e publicada em Para a História do Socialismo
(http://www.histsocialismo.com/docs/Huar_Staline_Militar_%20III.pdf). EAM, sigla grega de Ethniko Apeleftherotiko Metopo, Frente de Libertação Nacional. (N. Ed.) 2 Gueórguios Tsolakoglou (1886-1948), general grego, ocupou o cargo de primeiro-ministro do governo colaboracionista (1941-42), durante a ocupação fascista da Grécia. Após a libertação foi preso, julgado por um tribunal especial e condenado à morte, pena que foi comutada em prisão perpétua, vindo a morrer de leucemia. (N. Ed.) 3 ELAS, sigla grega de Ellinikós Laïkós ApeleftherotikósStratós, Exército Popular de Libertação da Grécia. (N. Ed.)
1Em 10 de março de 1944, os patriotas gregos formaram o Comité Político de Libertação Nacional (PEEA4 ). Nas eleições para o Conselho Nacional do PEEA participaram 1,8 milhões de pessoas, mais de 80 por cento dos cidadãos eleitores. No Conselho Nacional estavam representados todos os estratos do povo. Em maio de 1944, sob pressão dos britânicos, o PEEA concordou em formar um governo conjunto com o governo no exílio formado no Egito, sob a direção do socialdemocrata G. Papandréou5 . Este governo foi constituído no Cairo, em 2 de setembro de 1944. Aos comunistas e representantes da EAM, unidos no PEEA, foi prometido apenas 25 por cento dos lugares, o que estava muito aquém do seu real apoio popular. Através deste compromisso imposto ao PEEA, os partidos burgueses, que não haviam participado na luta de resistência e se tinham comportado de forma expectante e até cooperante com a potência ocupante alemã, garantiam a maioria absoluta no «Governo de Unidade Nacional». Face ao rápido avanço do Exército Vermelho nos Balcãs, as tropas alemãs viram-se obrigadas a retirar da Grécia. No início de novembro de 1944, aproveitando a retirada das tropas alemãs, o ELAS libertou a Grécia, com exceção de algumas ilhas. Cumprido o programa da Frente de Libertação Nacional (EAM), apoiado pela maioria do povo, devia agora ser completada a revolução democrática, anti-imperialista. A hegemonia do imperialismo britânico na Grécia e no Mediterrâneo oriental seria pelo menos reduzida, senão mesmo suprimida. O lado britânico queria impedir isso a todo o custo. O Foreign Office constatava com pesar que não era possível uma intervenção armada na Jugoslávia contra Tito, mas na Grécia, sim. Na perspectiva do Foreign Office, o governo britânico teria de utilizar a força, não obstante, assim nos assegura Sir Liewellyn Woodward, «não há a mínima dúvida de que a maioria da nação grega saudou a ingerência»
6 . O Governo britânico nunca se embaraçou a justificar as intervenções imperialistas. Em 13 de outubro de 1944, tropas britânicas aterraram em Atenas e no Pireu. As provocações do lado do exército de intervenção britânico, sob o comando do general 4 PEEA, sigla grega de Politiki Epitropi Ethikis Apeleftherosis, Comité Político de Libertação Nacional, que foi o órgão de governo nas regiões libertadas pela resistência, apoiado pelo Conselho Nacional, assembleia representativa eleita por voto secreto, em abril de 1944. (N. Ed.)
5 Gueórguios Papandréou, (1888-1968), político grego, três vezes primeiro-ministro da Grécia (1944-45, 1963 e 1964-65). Formado em Direito, foi governador das ilhas do Egeu (1917-20), deputado em 1923 e ministro da Educação entre 1930 e 1932. Durante a ocupação nazi exilou-se no Egito com a família real, tornando-se aí primeiro-ministro do governo no exílio. Ascende ao poder após a libertação, em outubro de 1944. Em 1961, funda o Partido Liberal União do Centro, que vence as eleições de 1963 e se apresenta como favorito nas eleições de 1967, que foram suspensas pelo golpe de Estado dos coronéis em 21 de Abril de 1967. (N. Ed.)
6 O Governo britânico «had to use force, but there is no doubt that the great majority of the Greek nation welcomed their interference…» (British Foreign Policy in the Second World War, Londres, 1962. Her Majesty’s Stationary Office,p. 351). Estranho! Uma página antes L. Woodward afirma que a monarquia grega era odiada por largas camadas da população, agora diz que a nação grega estava agradecida aos britânicos por lhe ter devolvido o seu querido rei.
2O Governo britânico nunca se embaraçou a justificar as intervenções imperialistas. Em 13 de outubro de 1944, tropas britânicas aterraram em Atenas e no Pireu. As provocações do lado do exército de intervenção britânico, sob o comando do general 4 PEEA, sigla grega de Politiki Epitropi Ethikis Apeleftherosis, Comité Político de Libertação Nacional, que foi o órgão de governo nas regiões libertadas pela resistência, apoiado pelo Conselho Nacional, assembleia representativa eleita por voto secreto, em abril de 1944. (N. Ed.) 5 Gueórguios Papandréou, (1888-1968), político grego, três vezes primeiro-ministro da Grécia (1944-45, 1963 e 1964-65). Formado em Direito, foi governador das ilhas do Egeu (1917-20), deputado em 1923 e ministro da Educação entre 1930 e 1932. Durante a ocupação nazi exilou-se no Egito com a família real, tornando-se aí primeiro-ministro do governo no exílio. Ascende ao poder após a libertação, em outubro de 1944. Em 1961, funda o Partido Liberal União do Centro, que vence as eleições de 1963 e se apresenta como favorito nas eleições de 1967, que foram suspensas pelo golpe de Estado dos coronéis em 21 de Abril de 1967. (N. Ed.)
6 O Governo britânico «had to use force, but there is no doubt that the great majority of the Greek nation welcomed their interference…» (British Foreign Policy in the Second World War, Londres, 1962. Her Majesty’s Stationary Office,p. 351). Estranho! Uma página antes L. Woodward afirma que a monarquia grega era odiada por largas camadas da população, agora diz que a nação grega estava agradecida aos britânicos por lhe ter devolvido o seu querido rei. 2Scobie7 e de políticos e oficiais gregos restauracionistas, conduziram à sublevação do ELAS. Agora Churchill estava no seu elemento. Na noite de 4 para 5 de dezembro autorizou telegraficamente o general Scobie a reprimir pela força os movimentos populares. Nas suas memórias, Churchill vangloria-se retrospetivamente da sua intervenção pessoal nos combates na Grécia. As instruções transmitidas por telegrama ao general Scobie são claras; estão documentadas as afirmações odiosas de Churchill, na sua dicção anticomunista, dando as instruções bárbaras, que teriam honrado qualquer déspota oriental. Posteriormente ainda procurou legitimá-las, difamando os comunistas e tratando as massas populares de «populaça»: «Agora interferia directamente na direcção do assunto. Quando soube que os comunistas tinham ocupado quase todas as esquadras de polícia em Atenas e assassinado a maioria dos polícias que não estavam de acordo com eles, e que se encontravam a menos de um quilómetro da sede do Governo, ordenei ao general Scobie e aos seus cinco mil soldados – que apenas dez dias antes tinham sido saudados pela população como libertadores – que interviessem e avançassem com a força das armas contra os assaltantes traidores. Não faz sentido fazer estas coisas a meio termo. A violência da populaça, com a ajuda da qual os comunistas queriam ocupar a cidade para se apresentarem ao mundo como o governo desejado pelo povo grego, só podia ser impedida pelo fogo das armas. Não houve tempo para convocar uma reunião governamental. «Eden8 e eu estivemos juntos até cerca das duas horas da manhã; estávamos ambos inteiramente de acordo que só a força das armas podia valer-nos. Vi que ele estava esgotado e disse-lhe:”Se quiser ir deitar-se, eu trato disto”. Ele retirou-se, e cerca das três [horas] redigi o seguinte telegrama para o general Scobie: «“(…) Você é responsável pela paz e pela ordem em Atenas e deve impedir todas as unidades da EAM/ELAS de se aproximarem da cidade e, se necessário, eliminá-las. Pode promulgar todos os regulamentos que entender necessários para controlar as ruas e prender elementos rebeldes. O ELAS procurará, naturalmente, onde existir o perigo de um tiroteio, enviar à frente mulheres e crianças. Em tais casos tem de actuar engenhosamente e evitar erros. Mas não hesite em disparar sobre todos os [elementos] armados na cidade, que se oponham às nossas autoridades ou às autoridades gregas por nós reconhecidas. Evidentemente que seria bom que o Governo grego com a sua autoridade se colocasse sob o seu comando, e Leeper9
7 Ronald MacKenzie Scobie (1893-1969), oficial britânico, general de brigada na II Guerra, ocupa vários postos de comando no Médio Oriente, no Sudão e na Líbia. Em dezembro de 1943 é nomeado comandante do 2.º Corpo do Exército Britânico, que foi enviado para a Grécia com a missão de expulsar os alemães e reprimir o movimento progressista de libertação nacional. (N. Ed.) 8 Robert Anthony Eden (1897-1977), conservador britânico, ministro dos Negócios Estrangeiros em três períodos (1934-35, 1935-38 e 1940-45), liderou a oposição parlamentar entre 1945 e 1951, tornando-se primeiro-ministro entre 1955 e 1957. (N. Ed.)
9 Reginald Wildig Allen Leeper (1888-1968), diplomata britânico, chefe do Political Intelligence Department (1938), onde iniciou a sua carreira. Foi embaixador junto do Governo grego no exílio (1943-44) e a seguir à libertação (1944-46), mantendo o apoio à monarquia contra o movimento 3procura convencer Papandréou a fazê-lo. Mas não hesite em atuar como se se encontrasse numa cidade conquistada, na qual uma insurreição estivesse em marcha.(…) 2. Caso os bandos do ELAS se aproximem da cidade a partir do exterior, encontra-se com certeza na situação de lhes dar uma lição, com os seus tanques, que coíba os outros de novas tentativas. Contará com a minha cobertura para todas as ações bem pensadas e sensatas. Temos de afirmar a nossa posição e autoridade em Atenas. Ganharia grande mérito se o conseguisse sem derramamento de sangue, mas se necessário também com derramamento de sangue.” «Este telegrama foi enviado dia 5, cerca das 4h e 50m. Tenho de concordar que estava formulado de forma um pouco severa. Porém, pressenti a necessidade urgente de dar ao comandante instruções claras, por isso usei premeditadamente as expressões mais fortes. Com uma tal ordem nas suas mãos, teria a coragem de atuar energicamente, já que lhe dei a certeza de cobrir todas as suas ações bem pensadas, independentemente das consequências. Toda a evolução me preocupava seriamente, contudo estava convencido de que aqui não podia haver nem fraquezas nem indecisões. Lembrei-me do famoso telegrama de Arthur Balfour10, nos anos 80, para a administração britânica na Irlanda: “Não hesite em disparar.” Esse telegrama foi então enviado pelo telégrafo público e provocou uma tempestade de indignação na Câmara dos Comuns, porém, evitou determinados derramamentos de sangue. O episódio revelou-se como uma das etapas mais importantes na subida de Balfour ao poder. Sem dúvida que as coisas agora eram diferentes, mas este “Não hesite em disparar” soou-me aos ouvidos como uma insinuação de dias longínquos»
11 . «Não hesite em disparar!» O general Scobie não hesitou. As ressalvas restritivas de Churchill tinham só uma função de álibi. A guerra suja de intervenção contra o Exército Popular de Libertação – elemento ativo da coligação anti-hitleriana – foi duramente criticada na Grã-Bretanha, o que Sir Llewellyn Woodward explicou com a falta de informação da população inglesa sobre «a violência da multidão e da ditadura comunista» 12. Através dos seus meios de comunicação, o Governo britânico ajudou a ultrapassar rapidamente esta lamentável «deficiência» informativa. progressista de libertação. (N.Ed.) 10 Arthur James Balfour (1848-1930), político conservador britânico, foi primeiro-ministro do Reino Unido, entre julho de 1902 e dezembro de 1905, e ministro dos Negócios Estrangeiros entre 1916 e 1919. Pertence-lhe a chamada Declaração Balfour, de 1917, a qual defendia a implantação de uma pátria judaica na Palestina, então integrada no Império Otomano. Entre 1924 e 1929 fez parte do governo de Stanley Baldwin. (N.Ed.) 11 Winston S. Churchill, Der ZweiteWeltkrieg (Edição revista pelo próprio Churchill das suas memórias em doze volumes), Frankfurt/Main, 2003, p. 1007 e seg. Sublinhado no original. 12 «(…) mob violence and communist dictatorship». L. Woodward, idem, ibidem, p. 358. 4Mas também nos EUA houve críticas à atuação do exército britânico contra o Exército Popular de Libertação. Manifestamente, o presidente Roosevelt também estava insuficientemente informado sobre «ditadura comunista» da «populaça». Como o seu filho Elliot Roosevelt se recorda, o presidente estava profundamente indignado com o combate das tropas inglesas contra a guerrilha na Grécia, «que tinha lutado corajosamente durante quatro anos contra os nazis». «Não me admiraria», disse o presidente Roosevelt, «se Winston [Churchill, UH] nos tivesse simplesmente transmitido que queria apoiar os monárquicos gregos. Isto estaria de acordo com o seu caráter. Mas assassinar a guerrilha grega! Usar as tropas inglesas para tal coisa!»
13. Roosevelt criticou pouco antes da sua morte a «capacidade inglesa de juntar num bloco os outros países contra a União Soviética».
14 Em janeiro de 1945, Harry Hopkins15, um conselheiro do presidente, informava Elliot Roosevelt sobre os «planos [de Churchill] de invasão a partir do Sul», como «a última tentativa de colocar soldados aliados nos Balcãs antes dos russos» 16 . Isto chegará para caraterizar as ambições de Churchill na Grécia e nos Balcãs. Naturalmente que Stáline compreendeu a política pérfida, as brutalidades dos intervencionistas britânicos na Grécia. Mas o Governo soviético não podia ajudar os patriotas gregos. Independentemente de um ataque contra as tropas britânicas ser demasiado arriscado, dada a relação de forças existente no Sul da península balcânica, um tal passo contra um parceiro de coligação podia ter conduzido à ruptura na coligação anti-hitleriana. Churchill sabia que Stáline não faria nada contra a intervenção britânica para evitar tal rutura. Roosevelt também evitou uma condenação pública de Churchill pelas mesmas razões. A originalidade da situação histórica consistia em que, por um lado, os parceiros da coligação anti-hitleriana dependiam uns dos outros, por outro lado, estavam divididos por contradições de classe, que teriam de ser dirimidas depois da guerra. Era uma difícil decisão para Stáline, abandonar ao seu destino os camaradas de classe gregos para manter a coligação anti-hitleriana. Em 1944/45, a guerra contra o fascismo alemão e contra o Japão tinha prioridade sobre as ações de luta delimitadas localmente. Os exércitos alemães lutavam ainda com obstinação fanática na frente germano-soviética. Uma rutura na coligação anti-hitleriana, mesmo na fase final da guerra, teria tido efeitos militares imprevisíveis. A decisão deve ter sido difícil para Stáline, mas não tinha outra alternativa. Assim, Churchill pôde ainda assinalar cinicamente que «ao longo das semanas em que se prolongaram os combates de rua 13 Elliot Roosevelt, Wieeressah (As he saw it), 1ª ed., Zurique, 1947, p. 278. 14 Idem, ibidem, p. 285.
15 Harry Hopkins (1890-1946), político norte-americano, foi um dos conselheiros de Roosevelt. Nos anos 30 torna-se conhecido como responsável federal pelos programas públicos de criação de emprego nos EUA. Defensor da aliança antinazi, participou nas conferências de Teerão, Ialta e Potsdam. (N. Ed.)
16 Idem, ibidem, p. 289.em Atenas, (…) não houve nenhuma palavra de acusação no Pravda ou no Izvéstia»
17 . Aditamento: Churchill e os restauracionistas gregos verificaram à sua maneira a teoria marxistaleninista do Estado e da revolução: primeiro esclarece-se a questão do poder, se necessário por banho de sangue, depois eleições «livres» e, veja-se, agora os partidos burgueses têm a maioria. Nas eleições «livres» de 31 de março de 1946, o PC da Grécia, o EAM e outros partidos democráticos não puderam participar. Milhares de combatentes da resistência contra o ocupante fascista foram assassinados pelas tropas contrarrevolucionárias, 75 mil foram presos e mais de 100 mil combatentes ativos do movimento de libertação foram perseguidos e empurrados para a ilegalidade. Em 1 de setembro de 1946 realizou-se um referendo «livre» sob as baionetas das tropas reacionárias, que aprovou o regresso do rei Jorge II e, em «livre autonomia», restabeleceu-se a hegemonia do imperialismo britânico na Grécia. Em fevereiro de 1952 consumou-se a entrada «livre» na NATO. Na verdade, a luta dos democratas gregos não estava e não está ainda terminada.
17 Churchill, idem, ibidem, p. 1008, sublinhado no original.
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