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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A Besta

Rotunda das Olaias, Lisboa. Quatro raparigas e um rapaz, militantes da JCP, pintam um mural, protegidos pela lei. Chegam polícias, que defendem a lei e os cidadãos que a cumprem, leva-nos para a esquadra. Ali, obrigam duas das jovens, menores de idade com certeza, a despirem-se totalmente. Um porta-voz oficial da PSP declara, em resposta aos protestos públicos que se seguiram, que o acto respeitou estrictamente a lei, na medida em que as vítimas poderiam transportar armas ou drogas. Seleccionaram duas delas, aos outros não procederam a essa revista "sumária" (sic).
A PSP demonstrou, assim, que os tiques fascistas permanecem, quer na velha geração, quer na nova. O fascismo é sempre não só torcionário como obsceno e aviltante. Sempre que militares ou polícias detêm a autoridade e as armas tendem a proceder como os carniceiros das prisões no Iraque ou em Guantanamo, no Chile ou no Portugal da PIDE-DGS. A guerra nos Balcãs demonstrou perfeitamente esse impulso irresistível para o mal absoluto.
É que a Besta dormita mas não dorme.
Imagine-se o que sucederia neste país doente, com uma democracia corrompida, se amanhã se instalasse de novo uma "democracia" musculada, autoritária, que alguns desejam para "salvar" Portugal da bancarrota.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A questão fundamental

Não é o controlo do déficit que é o mais importante.
Não é a sacanagem do Banco Central Europeu.
Não é o acordo ou o desacordo para alemão ver.

O que é fundamental
é descobrir onde está o embuste.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

AO FIM DO DIA (peça em quatro actos)

Personagens:

Uma mulher

Um homem

O filho pródigo



1º Acto



Mulher: Ouve só o que diz aqui “O Correio da Manhã”.

Homem: Não leio “O Correio da Manhã».

Mulher: Estás sempre a dizer isso. Mas eu bem te apanho a espreitar para dentro dele.

Homem: Não espreito para dentro de coisa nenhuma.

Mulher: Pois não, não espreitas para a professora que anda a posar nua…pois, pois…

Homem: Nem sei do que falas. E que tal deixares-me ouvir o noticiário?

Mulher: Fazemos o mesmo, António, fazemos o mesmo, tu vês e ouves, eu leio. Repetem-se uns aos outros. Devem ter uma única fonte onde todos vão beber.

Homem: Esse pasquim alimenta-se de produtos tóxicos.

Mulher: Tóxicos ou não, são factos, acontecimentos comuns. De resto, estamos a discutir por teimosia: eu quase nunca leio este jornal…

Homem: Nem esse, nem nenhum. Aos jornais que compro, folheia-os distraidamente enquanto pensas na morte da bezerra, aos telejornais nem sequer os ouves na cozinha.

Mulher: Duplamente enganado: na cozinha temos outro televisor, como devias saber…

Homem: Para as telenovelas.

Mulher: Não é verdade. Oiço as notícias, tu é que não sabes porque só entras na cozinha para cheirar o jantar na panela. E quanto à “morte da bezerra”, é uma expressão muito infeliz para designar os meus pensamentos.

Homem: É uma maneira de falar, nunca na minha vida pensei alguma vez que fosses burra. Eu sei em que pensas constantemente. E era isso que eu queria que deixasse de ser uma obsessão.

Mulher: O nosso filho…o Jorge.

Homem: Já to disse muitas vezes: ele só volta quando souber que um de nós está a morrer, ou já morto e enterrado.

Mulher: Não posso ouvir-te dizer essas coisas horríveis, António! Que pai és tu que desiste de reaver o filho? Que pai?

Homem: Um pai realista. O Jorge abandonou-nos faz agora um ano…um ano!

Mulher: Quando fez vinte anos…

Homem: Exacto. Sem mais nem menos. Ou melhor, depois de fazer todas as tropelias e mais alguma, de ser um mau estudante e um mau filho…

Mulher: Não exageres. Era um miúdo. Devias saber como são os jovens, também foste rapaz e não me consta que tivesses sido um santinho. Além disso, estás a ser muito injusto: o Jorge até foi um aluno razoável, escolheu um bom curso superior e segui-o…

Homem: Abandonou-o a meio. E o curso foi escolhido por ti…

Mulher: Essa é boa! Não me ajudaste a convencê-lo? Fomos realistas, queríamos o bem dele, era um curso com futuro, não uma ilusão que ele perseguia…

Homem: Como todos nós, quando temos dezoito anos.

Mulher: Quererás insinuar que a culpa foi nossa? Ou melhor, que foi só minha?

(Silêncio)

Mulher: Está um fim de tarde bonito…morre o verão, chega o Outono. Como aprecio as folhas cor de cobre das árvores nesta época! Melancolia, há melancolia no ar, como se a vida se despedisse…tanta gente tem o mundo! Nuns sítios agora faz sol, noutros é noite…Nuns, morre-se de fome, noutros, de fartura…Melancolia…Chegam até mim tantas lembranças! O primeiro beijo que me deste…que demos um ao outro, num desvão de escada, já lá vão vinte e cinco anos, não foste muito romântico, apanhaste-me desprevenida…sim, claro, não me fiz rogada, andávamos à deriva depois dos divórcios, trinta e cinco anos de idade cada um, a mesma idade…Vinte e cinco anos já se esfumaram, tão depressa passa o tempo…Não achas que a juventude é a melhor idade?...não falas, não respondes? Eu sei, perguntei-te isso provavelmente uma dúzia de vezes, é natural que nos lembremos dela quanto mais envelhecemos…Pareces indiferente a tudo, às recordações…Será que recordas ou evitas, foges das lembranças como o gato da água escaldada? É a idade, meu querido, é a idade! Quando a nossa relação estava no início, falávamos muito desses tempos anteriores…quando andávamos ambos no mesmo Liceu, colegas sem amizade especial um pelo outro…uma atracção que só chegou mais de vinte e cinco anos depois…porquê? Nunca o saberemos. Cada um seguiu a sua vida, cada um para o seu lado, casámos, não tivemos filhos, divorciámo-nos…e aqui estamos….tu, mergulhado num jornal que já deves ter lido duas vezes, e eu a escutar as folhas a caírem lá fora…melancolia. Lembras-te do professor de português do sétimo ano, baixote, que dava as aulas aos saltinhos pela sala? Sempre desconfiei que ele era medíocre e ridículo, porém conseguia entusiasmar-nos às vezes, sobretudo quando líamos uns para os outros as nossas redacções, pena que naqueles tempos as discussões nas aulas fossem escassas, domesticados que estávamos desde a escola primária. Não dizes nada? Lembras-te das acácias em flor nas avenidas de Lourenço Marques? Claro que te lembras…no fundo, és uma pessoa sensível…Que nos aconteceu, António? Fomos tão felizes! Quando o Jorge nasceu, os primeiros anos da sua meninice…tão traquina, tão esperto…como tudo mudou…Porque foi que ele desapareceu subitamente? Porquê? Que aconteceu nesse dia fatídico? Teve a ver connosco? Duvido, já o víamos irregularmente, desde que se mudara para a residência universitária. Que se passou naquela cabeça? Terá sido manipulado por alguém? Terá sido aquela galdéria com quem andava?

Homem: Lá voltas tu ao Jorge. Não há conversa que não chegue aí. Conhecemos acaso a tipa? Nunca a trouxe cá, mal sabemos quem era…vimo-la uma única vez e depressa.

Mulher: Por isso mesmo. Parece que ele tinha vergonha.

Homem: Se calhar, se calhar foi isso mesmo: vergonha…vergonha por ambos serem toxidependentes…

Mulher: Alto lá, António! Meteste na cabeça que o Jorge era toxicómano! Viste-o drogado?

Homem: Havia no quarto dele sinais mais do que suficientes disso. Quantas vezes fomos à residência e não o encontrámos? Cada vez desaparecia mais, até desaparecer de todo. Sim, acho que ele se envergonhava do seu estado, que não encontrava saída para o vício, talvez tenha começado a endividar-se, a roubar, para alimentar o vício.

Mulher: Horrível! Já eu mesma imaginei tudo isso que dizes, mas não me atrevia a pensá-lo em voz alta…é tão horrível!

(Silêncio)

Homem: (Folheando o jornal) Temos que nos distrair ambos senão damos em malucos. Resiste com coragem, não voltes a ter outra recaída…Foram precisos seis meses para te curares da depressão, não esqueças! Tem fé, ele há-de voltar para nós…nem que seja para nos mostrar o nosso primeiro netinho. Era bom, não era? Tem esperança. As loucuras da juventude hão de passar-lhe como passam as dos outros…tão depressa como passou a nossa juventude.

Mulher: Assim seja…É por causa do natal, já se aproxima a passos largos. Hoje que dia do mês é?

Homem: Dia vinte …de Novembro.

Mulher: É o natal, é…sem o Jorge…mais um natal sem ele.

2º Acto



(A mesma sala. Toca o telemóvel)

Mulher: É o meu! Ah, é a Emília!...Sim, estou…olá, está tudo bem contigo?...sim, cá estamos, curtindo a velhice…pois, pois, estamos ainda novos…sim, a saúde vai indo bem, os achaques do costume…pois, o verão terminou, chega a humidade…é…e o teu marido? Ah, compreendo, assustado com as taquicardias…claro, quem já teve já duas ou três, não admira…Mas diz, conta lá! Percebo na tua voz uma boa notícia…Sim, estou pronta para te ouvir, apre! Já estou a ficar nervosa! Diz lá…O quê? A sério? Não acredito!...Onde?...Tens a certeza que era ele?...Olha que podes ter confundido…já não o vemos vai para um ano…sei lá, podes ter confundido…pois, não foi assim há tanto tempo que ele tivesse de mudar muito…Ai, nem acredito! E como o achaste?...Mais magro?...Não te reconheceu?...ah, sim, não te viu, ou fingiu não ter visto…Andava depressa ou devagar? Como é que estava vestido?...Sim, pois, nada mal…Que notícia, Emília, que notícia! O Jorge! Não estava acompanhado com a galdéria com quem andava?...Pois, eu sei, simpatizavas com ela, eu sei, mas eu não…sempre a vi como uma galdéria…quantas vezes te disse, Emília, que os olhos dela não me enganavam…sim, disse-te isso, uma drogada, enfim, uma toxidependente…via-se naqueles olhos mortiços…Então ele ia sozinho…é bom sinal…Tá, adorei ouvir-te! Vou contar ao António…Beijinho para ti, um abraço para o Zé…e obrigado…fica bem, adeuzinho! (Larga o telemóvel) Ouviste, António? Percebeste?

Homem: Ouvi e não acredito. A Emília é míope, para não dizer que é outra coisa.

Mulher: Chiça, que tu andas mauzinho de todo! A Emília usa lentes de contacto, como eu, e tu usas óculos, ora…Ela deu-me a certeza, a certezinha, de que viu o Jorge…Onde? Na rua, num passeio…sim, devia andar mais gente por aí, sim, e depois? Era caso para ela se enganar? Eu cá acredito. E fico muito feliz! Muito! O Jorge está vivo e nem andava mal vestido…e, sobretudo, anda por cá, pela nossa terra, pela terra dele…Vou experimentar ligar-lhe.

Homem: Ó mulher, já experimentaste quinhentas vezes, já concluímos há um ror de tempo que ele mudou o número, não é por aí que conseguiremos chegar até ele.

Mulher: António, alguma coisa temos de fazer!

Homem: Certo, mas supõe que o encontramos…E se ele nos evitar?...sei lá, se fugir…nem sei que dizer…também estou nervoso como tu…quero vê-lo, mas receio o encontro…

Mulher: Qual receio, qual carapuça! Vamos procurá-lo, os pais não receiam os filhos. Não vai fugir de nós. Até acho que ele se mudou para cá com alguma intenção. Desconfio que o nosso filho anda desorientado, sozinho e precisa de nós.

Homem: Tens razão. Se ele se mudou do buraco onde vivia em qualquer cidade que ignoramos, é porque precisa de nós. Veste um casaco, metemo-nos no carro e passamos a cidade a pente fino. Talvez eu não tenha sido um bom pai, mas tu és uma mulher valente.

Mulher: Vamos então! O teu receio, António, é simples ressentimento, não leves a mal que to diga.

Homem: Será. Uma mãe perdoa mais depressa que um pai.

Mulher: Ou a mulher sabe perdoar porque neste caso não há nada para perdoar.





3º Acto



(Regressam. Despem os casacos. Têm um ar cansado)

Mulher: Vou fazer qualquer coisa para comermos.

Homem: Eu bem que te convidei para comermos lá fora.

Mulher: Depois de tantas voltas fracassadas, não me peças para me sentar num restaurante…E pela noite não sou capaz de andar por essas ruas à procura de um fantasma.

Homem: Bem dito: de um fantasma.

Mulher: não devia ter dito isso. Eu continuo a acreditar que ele anda por cá, tu é que não.

Homem: Mas procurá-lo-ei sempre que tu queiras.

Mulher: Eu sei, António, eu sei. Tenho-te sempre ao meu lado.

4º Acto

(A mesma sala. O homem dormita no sofá. A mulher assiste a qualquer coisa na tv. Som estridente da campainha da porta. O homem desperta com algum alvoroço. A mulher dirige-se à porta e espreita pelo visor)

Mulher: António! António! É o Jorge! O nosso filho!

Homem: (Pondo-se imediatamente de pé) Meu Deus!

Mulher: (Abre a porta, fica especada um instante e, num acto súbito, abraça o indivíduo esquálido, de roupa coçada, que a observa com timidez) Meu filho!

Jorge: Minha mãe!

(O pai aproxima-se e abraçam-se os três)

Homem: (Afastando-se um pouco para observar o filho) Vens com fome! Anda para a cozinha, a tua mãe vai arranjar-nos uma ceia.

Mulher: Talvez lhe apeteça um banhozinho quentinho primeiro, apetece-te meu filho?

Jorge: Ok, pode ser, mãe, pode ser.

Mãe: Então vá, enquanto eu preparo a ceia. Tens tudo no teu quartinho, Jorge, veste o pijama se preferires. Está tudo no mesmo sítio onde o deixaste…Nada mudou, pois não, António?

Homem: Nada mudou. Estava apenas à tua espera.

FIM

Nozes Pires

22 Outubro 2010

A mentira

O mentiroso deveria ter em mente que, para ser acreditado, precisa de dizer apenas as mentiras necessárias.
L. Svevo (1861-1928)

Na boca do mentiroso, até a verdade é suspeita.
J. Benavente Y Martinez (1866-1954)

A mentira, como o óleo, flutua à superfície da verdade.
H. Sienkiewicz (1846-1916)

Assim como o mentiroso está condenado a não ser acreditado quando diz a verdade, é privilégio de quem goza de boa reputação ser acreditado mesmo quando mente.
M. de Cervantes (1547-1616)

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Ser moderno

Ser moderno hoje significa ter uma atitude amiga do Ambiente.
Ser ecologista militante, preocupado com a Cidade e com o mundo rural que a envolve. Não permitir que ela o sufoque. Transportar para o campo os bens da cidade, transportar para a cidade os bens do campo.
Defender energias limpas e fontes alternativas. Não desperdiçar a água, a terra, a electricidade, o sol.
Aprender a flora e a fauna da sua terra.
Preservar, cultivar, amar.
Lutar contra os desperdícios e o consumismo.
Lutar, acima de tudo, por causa de tudo, contra o Capital predador que rapina, esbulha, explora, degrada, desperdiça recursos humanos e naturais. É o pior inimigo. Tanto se encontra a Oeste como no extremo oriente. Tanto se encontra sob regimes capitalistas como sob regimes de "democracia popular". Nos EU e na China.
Lutar pela perservação do Ambiente natural é lutar contra a pobreza, a miséria, a ignorância.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O direito de resistência

Os senhores do grande capital pagarão muito menos que o povo trabalhador com estas medidas de austeridade ou Orçamento Geral do Estado. As medidas centram-se nos esbulho dos salários, na reducção substancial das obrigações do Estado com a Segurança Social, a Educação, Cultura e Ensino, nos investimentos públicos e nos deveres com as autarquias, no imposto do IVA (sobre o consumo) e nos impostos por via das receitas fiscais (em que os escalões mais baixos são os mais penalizados). Tudo que prejudique os grandes lucros e os dividendos não é mexido, ou apenas é beliscado para português ver. Uma minoria rica e poderosa continua rica e poderosa. O povo é expoliado. Sem qualquer culpa formada. A discriminação de classe fica bem à vista. Porém, a crer em sondagens parece que mais de metade da população acha bem. Que metade é essa? Qual o grau de obediência a que chegámos? Onde está a afirmação desses milhões de trabalhadores (nos quais se incluem pequenos empresários e agricultores)? Foram sondados os dois milhões de pobres, os 700 mil desempregados, os funcionários públicos, os trabalhadores a recibo verde ou contrato a prazo?
O filósofo John Locke, pai do Estado moderno liberal, não se esqueceu de reclamar para o povo -detentor da soberania- o direito de resistência contra o Estado que ofenda os direitos naturais inalienáveis (os únicos que não se podem ceder no contrato social).
O direito de resistência, repito.

domingo, 17 de outubro de 2010

Farsantes

Os bufões eram personagens das óperas-bufas. Há os comediantes, que personificam qualquer papel e há oscómicos que se esforçam por fazer rir. Há os oportunistas, os que se aproveitam de uma boa oportunidade para obterem qualquer ganho. Há os fantoches e os trauliteiros.
O presidente do Chile aproveitou a oportunidade de um drama que poderia ter sido uma horrível tragédia, para viajar à Europa alcandorando-se em herói. Os media fizeram-lhe o favor. Os mineiros, sem o saberem e provavelmente sem o quererem, deixaram-se "palmar" pelo seu presidente, um obscuro personagem da extrema-direita que se apresentou ao eleitorado como liberal. Na verdade foi um apoiante da ditadura do Pinochet assassino e tem um irmão que colaborou com a repressão sangrenta. Deste presidente (e provavelmente de anteriores) se deve a falta de segurança nas minas e a reabertura de minas que tinham  sido desactivadas, da mesma maneira que à sua política neo-liberal se deve a exploração desenfreada dos operários chilenos.
Levou uma pedra da mina que abateu com 33 mineiros dentro, para oferecer ao primeiro-ministro britânico, que lhe deve fazer bom uso, embora não se vislumbre qual.
O verdadeiro herói, o mineiro chefe-de-turno que liderou admiravelmente os seus camaradas soterrados, não acompanhou o seu presidente nesta viagem gloriosa.
Não sei se deva rir com tamanho comediante. A comoção que me provocou o drama dos mineiros e das suas famílias (explorada ate à exaustão pelos media, que se esqueciam sistematicamente de descrever as condições de trabalho no Chile) impede-me. Um bom bufão faz-me rir. Este farsante mete-me asco.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Viagem ao Parque Natural de Donhana

O Parque Nacional de Doñana situa-se na parte mais oriental da Província de Huelva, e estende-se por três províncias: Huelva na sua maior parte, mas também Sevilha e Cádiz. Doñana é a maior reserva biológica de Espanha, contando com a maior extensão de área protegida, com mais de 50000 hectares.




O Parque Nacional de Doñana engloba um total de 80000 hectares, entre os mais de 50000 hectares do próprio parque e os quase 30000 hectares dos arredores. Tal facto torna-o na área protegida mais importante de Espanha e numa das mais importantes da Europa. É uma zona uma enorme beleza, um dos mais importantes conjuntos de dunas da Europa e é o lugar onde se refugiam muitas espécies que se encontram em perigo de extinção.

Doñana é actualmente uma paragem obrigatória para milhares de aves migratórias que anualmente cruzam o Estreito de Gibraltar. Espécies que chegam vindas de todos os pontos da Europa e da Ásia, que por aqui passam e que continuam os seu caminho: flamingos, falcões, cegonhas negras ... bem como espécies que vivem nesta zona, tal como a Águia Imperial ou o Lince Ibérico ... Doñana dá abrigo a centenas e centenas de espécies, sejam elas terrestres ou marinhas, quer se trate ou não de aves, todas elas espécies que convivem no seio de um ecossistema único que há que preservar.

O Parque Nacional de Doñana é um tesouro não só devido à sua fauna, mas também devido à sua flora, às suas zonas litorais, às espécies autóctones e aos 30 quilómetros de praias selvagens que existem entre o Rio Guadalquivir e Matalascañas.

Para ir até ao Parque de Doñana, também conhecido como Coto de Doñana, pode aceder-se de barco, cruzando o Rio Guadalquivir.

O único sinal da presença do Homem dentro dos limites do Parque em mais de 30 km de praia é Torre Carboneras, uma pequena torre de vigilância, datada do século XVI. Deste ponto até ao interior do parque apenas se consegue chegar atravessando grandes dunas de areia e pinhais.

Antigamente, no local onde hoje é o coto, as famílias que aí habitavam viviam da pesca e do fabrico de carvão. Doñana é uma viagem pelo passado, pela Natureza, um passeio que chega até Matalascañas, onde começam as urbanizações.




terça-feira, 12 de outubro de 2010

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O medo

O medo suporta o lucro
como as ondas ruins suportam o navio
O medo é uma pistola apontada
à cabeça pelo próprio
O medo é uma receita
que se avia nas fábricas,
nas lojas,
nos guichês,
em toda a parte onde se trabalha.
O medo é sempre antigo
e sempre novo
como um espectro sem alma
errante, a sua casa
é a nossa casa.
A sua origem é a nossa origem.
Quando pedimos, o medo está lá.
Quando esperamos, o medo está lá.
Quando nos ajoelhamos, o medo está lá.
Sempre o medo.
Com ele construiram-se cidades,
quartéis,
muros
e estradas que não vão dar a parte nenhuma.
Com o medo conduzem-nos à socapa
sem medo
para o medo.

sábado, 2 de outubro de 2010

Um mundo às avessas

O povo não existe.
Se existisse, explodia nas ruas.
Portanto, é uma ficção inútil.
Não existem pobres nem ricos:
se existissem pobres, faleciam com a austeridade;
se existissem ricos, eram eles a pagar o déficit; como não são, não existem.
Não existem representantes do povo,
pois que o povo não existe.
Não governam, porque governar é distribuir a justiça;
visto que ela não existe,
também não há governo.

Por consequência não vale a pena temermos o futuro,
já que ele também não existe.

No entanto uma dúvida me atormenta:
se isto digo é porque em mim algo existe.
À cautela vou pensando que, se calhar,
existimos todos,
e tudo não passa de um sonho mau.
Ah, que o sol traga  a madrugada,
para eu marchar nas ruas com o meu povo!
Mostraremos aos crápulas
que é a nossa força unida
que faz nascer um país!

Affonso Romano de Sant'Ana

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A implosão da mentira


Fragmento 1




Mentiram-me.Mentiram-me ontem
e hoje mentem novamente. Mentem
de corpo e alma, completamente.
E mentem de maneira tão pungente
que acho que mentem sinceramente.
Mentem, sobretudo, impune/mente.


Não mentem tristes. Alegremente
mentem. Mentem tão nacional/mente
que acham que mentindo história afora
vão enganar a morte eterna/mente.


Mentem.Mentem e calam. Mas suas frases
falam. E desfilam de tal modo nuas
que mesmo um cego pode ver
a verdade em trapos pelas ruas.


Sei que a verdade é difícil
e para alguns é cara e escura.
Mas não se chega à verdade
pela mentira, nem à democracia
pela ditadura.



Affonso Romano de Sant'Anna

Viagem à Polónia

Viagem à Polónia
Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

Viagem à Polónia

Viagem à Polónia
Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.