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quinta-feira, 17 de março de 2011

Comentários avulsos sobre a situação política

1. O país caíu numa depressão que é já recessão económica. A responsabilidade cabe por inteiro aos governos das últimas décadas, PS e Direita coligada ou não, que enveredaram pelo neo-liberalismo, doutrina monetarista do «mercado livre» que erradicou o "Estado de Bem-Estar" de Keynes e o Estado Social europeu. Tal doutrina e tais políticas provocaram um quase colapso do Sistema, agravaram as contradições que se tornaram insanáveis no mesmo quadro (economistas de renome e insuspeitos declaram a morte do Sistema a continuar-se este rumo). Políticas monetaristas (exclusivamente de combate ao déficit), sem o fomento do crescimento, conduziram ao país a um desastre sem controlo possível nas próximas décadas se não cessarem.
2. O afundamento do nosso país (juntamente com outros países periféricos e dependentes) é, em parte, provocado pelas economias mais fortes (Alemanha, França) e, em outra parte, devido ao descontrolo inerente ao neo-liberalismo.
3. A eliminação do Estado Social e dos códigos de trabalho atiram a Europa para o século XIX. É a regressão civilizacional. O "liberalismo" com ou sem "neo".
4. O grande capital germânico ou outro está interessado na regressão pois que assim julga competir com as economias emergentes da China, Índia, Brasil, etc. As potências imperialistas ocidentais (com os E.U.A. à cabeça) temem as novas potências, ao mesmo tempo que as cobiçam. Os mais visionários pintam o nosso século como aquele em que os E.U.A. entrarão em choque violento com a China (uma nova "Guerra Fria"?).
5. A proposta apregoada pelo Prof Marcelo R. de Sousa - um Governo de "Salvação Nacional" constituído pelo PS, PSD e CDS- traria as mesmas políticas com a vantagem, julga ele, dos "mercados" (da União Europeia ou de Bruxelas) se tranquilizarem, ou seja: o grande capital e os especuladores acreditariam, enfim, no aprofundamento das reformas neo-liberais. A submissão dos trabalhadores à sobre-exploração e à centralização e acumulação do capital.
6. Quem manda no país são os grandes grupos económicos. Pressionam o governo e já se posicionam por detrás do programa do PSD (que o ex-ministro e homem de mão do grande capital, sr. Catroga, superintende).
7. A esquerda parlamentar (PCP; BE e Verdes) têm consecutivamente apresentado propostas exequíveis que solucionariam muitos dos graves problemas do endividamento e da estagnação. Só ignora quem não quer ouvir nem ler. Certamente que se elas se unissem seria bem melhor.
8. Sair ou não da U.E. não é uma questão imediata. Acusar-se a Esquerda de querer isolar o país imediatamente, é agitar-se um papão contra ela, impedir-se de se fazer ouvir. É uma táctica da "Guerra Fria". Do que se trata é disto: a zona Euro encontra-se descontrolada e em profunda crise (não há união alguma entre os países da U.E.); as políticas ditadas por Bruxelas não estão a resolver os problemas dos povos; é preciso re-negociar e reformar os termos em que assentou ultimamente a U.E., afastando-se ou mesmo violando os princípios que estiveram na sua origem. Os países do Sul precisam de se unir contra os interesses egoístas dos países mais poderosos (que têm enriquecido também à custa dos mais pobres, isto é, que os empobrecem).
9. Que há de utópico (neste caso: de impossível) nas palavras-de-ordem de "Mais e Melhor Estado Social", "Mais impostos para os especuladores e para os grandes grupos económicos que têm lucrado com a crise"? «Mais investimento na economia através do papel-motor do Estado»? «Mais justiça social, isto é, distribuição da riqueza mais equitativamente»? »Melhorar, e não afundar, o poder de compra dos portugueses, para salvar as pequenas e médias empresas, os empregos, a produção nacional»? «Investir na produção nacional: agricultura, pescas, indústria»? Etc, etc. Não cabem aqui todas as propostas avançadas pelas esquerdas parlamentares...Na realidade, muitas destas propostas são tão revolucionárias como os programas antigos das sociais-democracias e do economista Keynes...Serão de novo exequíveis quando os povos (porque razão alguns têm medo da palavra «povo»?) o quiserem. Para isso, os partidos políticos e outras forças sociais existem e têm de existir se desejarmos mais democracia. Porque, no funo, bem no fundo, do que se trata é de democracia - política e social -, mais e melhor. A democracia que a Direita não quer, como se pode provar facilmente. A soberania, dizem as doutrinas, reside no povo, não num capitalismo de bandidos.

1 comentário:

Joaquim Moedas Duarte disse...

Caro Nozes Pires

Como muita gente, sinto-me confuso, não tenho certezas de nada. Desconfio cada vez mais de explicações teóricas que, na prática, não alteram nada. As ideias são importantes mas elas só se projectam através da acção de homens concretos. E, como sabes, a História está cheia de boas ideias estragadas por homens maus.

Isto para dizer que tendo a concordar com muitas das coisas que aqui deixaste escritas, mas que também tendo a acreditar cada vez menos na sua viabilidade.
Sou assumidamente céptico-pessimista. E já não acredito na bondade do povo. Vejo povo em Fátima, no Estádio da Luz e no do Porto, como o vejo em comícios de todos os partidos e a enxamear os Centros Comerciais.
Sim, estou a ver cada vez menos com a cabeça e mais com o coração...

Sobre a esquerda europeia está tudo dito no texto que postaste antes deste.

Abraço.

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