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domingo, 20 de março de 2011
À rasca
O filósofo José Gil escreve uma crónica no último nº da revista Visão, sempre com interesse. Analisa o fenómeno da megamanifestação dos "precários" ou da "geração à rasca". ou...sabe-se lá o quê. Conclui que "As condições de vida impostas pelo capitalismo global estão a tornar obsoletos os discursos e práticas dos sindicatos e partidos. Surgem novas linhas de fuga que abrem fendas nos dispositivos do poder." A interpretação, a meu ver, está "contaminada" pelas teses pioneiras de Faucault e Deleuze, perseguidas por A. Negri, por exemplo, no seu famoso livro «O Império». Não reside aqui, para mim, matéria de completa discordância, mas de controvérsia. Afloram no discurso pós-modernistas se não expressões pelo menos "filosofemas" muito antigos, que lembram utopias do século XIX. A tese do "espontaneísmo" é uma delas. A expresssão "Multidão", tão glosada por Negri, vem de maquiavel e de Espinosa. Subjaz um certo neo-anarquismo. Afirma J. Gil que o novo discurso (sic) alimenta-se de "estabilidade e segurança", sem utopias e ideologias. É a tese central de um certo pós-modernismo. O fim das ideologias. Se as "multidões", ajuntadas "espontaneamente", desejam somente a segurança, encontram-se, então, a nível baixo de democracia, muito perto da despolitização (ou, pior, do desprezo pela política). Se fosse assim, ou se assim for, não vamos longe.
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