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quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Cem horas com Fidel

Confira o texto de Ignácio Ramonet para a apresentação da biografia de Fidel Castro, escrita a quatro mãos com o próprio comandante-em-chefe!

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“Cem horas com Fidel” é o título da apresentação escrita por Ignácio Ramonet à biografia de Fidel que ele escreveu a quatro-mãos com o próprio comandante-em-chefe. Fidel Castro: biografia a duas vozes foi lançado em 2006 pela Boitempo após uma dura batalha para conseguir os direitos de publicação no Brasil, pois os agentes espanhóis haviam recebido proposta de uma grande editora local. O fator decisivo foi quando o próprio Fidel, por intervenção direta de Emir Sader e de Ignácio Ramonet, tomou posição e disse aos agentes que no Brasil o livro deveria sair pela Boitempo. E assim foi feito. Nossa edição, que teve sua tiragem completamente esgotada e já está em processo de reimpressão, tem prefácio de Fernando Morais e tradução de Emir Sader. Confira, abaixo, a apresentação completa, escrita por Ignácio Ramonet.

“O volume de informações contidas nesta obra faz com que
Fidel Castro: biografia a duas vozes deixe de ser apenas um livro que se lê numa sentada para se converter em uma referência permanente para quem quiser entender melhor a história desse homem, Fidel Castro, e de sua Revolução Cubana. Este é, sem dúvida, um livro indispensável.” Fernando Morais

Por Ignácio Ramonet.

Eram duas da madrugada e conversávamos havia horas em seu escritório particular. Um cômodo austero, amplo, de teto alto, com largas janelas cobertas por cortinas claras que dão para um grande terraço do qual se pode avistar uma avenida principal em Havana. Ao fundo, uma imensa biblioteca e uma longa e maciça mesa de trabalho repleta de livros e documentos. Tudo muito ordenado. Dispostos em prateleiras ou sobre mesinhas de cada lado de um sofá, uma figura de bronze e um busto do “apóstolo” José Martí, e também uma estátua de Simón Bolívar, outra de Sucre e um busto de Abraham Lincoln. Em um canto, feita de arame, uma escultura de Quixote montado no Rocinante. E, nas paredes, além de um grande retrato a óleo de Camilo Cienfuegos, um de seus principais lugar-tenentes na Sierra Maestra, apenas três outros quadros: uma carta autografada de Bolívar, uma foto com dedicatória de Hemingway exibindo um enorme peixe-espada (“Ao Dr. Fidel Castro, que pegue um como este no poço de Cojímar. Com a amizade de Ernest Hemingway”) e uma fotografia de seu pai, Dom Ángel, após regressar de sua longínqua Galícia por volta de 1895…
Sentado diante de mim, alto, corpulento, de barbas quase brancas, em seu impecável uniforme verde-oliva de sempre, sem qualquer sinal de cansaço apesar da hora avançada, Fidel respondia com calma. Às vezes em voz tão baixa, quase sussurrada, que mal dava para ouvir. Estávamos no final de janeiro de 2003 e começava a primeira série de nossas longas conversas que me fariam regressar a Cuba várias vezes nos meses seguintes, até dezembro de 2005.
A ideia desse diálogo havia surgido um ano antes, em fevereiro de 2002. Eu havia ido a Havana para dar uma conferência na Feira do Livro. Lá estava também Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia de 2001. Fidel apresentou-o dizendo: “É economista e norte-americano, mas é o mais radical que já vi. A seu lado, eu sou um moderado”. Pusemo-nos a conversar sobre a globalização liberal e sobre o Fórum Social Mundial de Porto Alegre, do qual eu acabara de chegar. Fidel quis saber tudo, os temas em debate, os seminários, os participantes, as perspectivas… Expressou sua admiração pelo movimento altermundialista: “Emergiu uma nova geração de rebeldes, muitos deles norte-americanos, que se valem de novas formas e métodos distintos de protestar, e que estão fazendo os donos do mundo tremer. As idéias são mais importantes que as armas. Tirando a violência, todos os argumentos devem ser empregados para enfrentar a globalização”.
Como sempre, as ideias saíam de Fidel aos borbotões. Tinha uma visão mundial. Analisava a globalização, suas consequências e a maneira de enfrentá-las com argumentos de uma modernidade e de uma astúcia que punham em relevo as qualidades que muitos biógrafos nele sublinharam: seu senso de estratégia, sua capacidade de avaliar uma situação concreta e sua rapidez de análise. Tudo isso acrescido de uma experiência acumulada em tantos anos de governo, de resistência e de combate.
Ao escutá-lo falar, pareceu-me injusto que as novas gerações não conhecessem melhor sua trajetória e que, vítimas inconscientes da constante propaganda contra Cuba, tantos amigos comprometidos com o movimento altermundialista, sobretudo os mais jovens, na Europa, considerem-nos às vezes apenas um homem da Guerra Fria, um dirigente de uma etapa superada da história contemporânea e que pouco pode contribuir para as lutas do século XXI.
Para muitos, no seio mesmo da esquerda, o regime de Havana suscita hoje incertezas, críticas e oposições. Ainda que a Revolução Cubana continue a despertar entusiasmos, trata-se de um tema que fragmenta e divide. Fica cada vez mais difícil encontrar alguém, a favor ou contra Cuba, que, na hora de fazer um balanço, dê uma opinião serena e desapaixonada.
Eu acabava de publicar um pequeno livro de conversas com o subcomandante Marcos, o herói romântico e galáctico dos zapatistas mexicanos, e sabia que Fidel o havia lido e se interessado por ele. Propus então ao comandante cubano fazer algo parecido, mas de maior amplitude. Ele não havia escrito suas memórias, e é quase certo que, por falta de tempo, nunca o faça. Seria então um tipo de “biografia a duas vozes”, um testamento político, um balanço de sua vida feito por ele mesmo ao chegar quase aos oitenta anos, e depois de mais de meio século daquele ataque ao quartel Moncada de Santiago de Cuba, em 1953, onde, em certa medida, começou sua epopeia pública.
Poucos homens conheceram a glória de entrar vivos na história e na lenda. Fidel é um deles. É o último “monstro sagrado” da política internacional. Pertence a essa geração de insurgentes míticos – Nelson Mandela, Ho Chi Minh, Patrice Lumumba, Amílcar Cabral, Che Guevara, Carlos Marighela, Camilo Torres, Turcios Lima, Mehdi Ben Barka – que, perseguindo um ideal de justiça, lançaram-se nos, anos posteriores à Segunda Guerra Mundial, à ação política com a ambição e a esperança de mudar um mundo de desigualdades e discriminações, marcado pelo início da guerra fria entre a União Soviética e os Estados Unidos. Como milhares de intelectuais e progressistas em todo o mundo, e entre eles até os mais inteligentes, essa geração pensava com sinceridade que o comunismo anunciava um esplêndido porvir, e que a injustiça, o racismo e a pobreza poderiam ser extirpados da face da Terra em menos de uma década.
Naquela época, no Vietnã, na Argélia, em Guiné-Bissau, em mais de meio planeta, sublevavam-se os povos oprimidos. A humanidade ainda estava, em grande parte, submetida à infâmia da colonização. Quase toda a África e boa porção da Ásia continuavam dominadas e avassaladas pelos velhos impérios ocidentais. Enquanto as nações da América Latina, em tese independentes havia século e meio, permaneciam exploradas por minorias privilegiadas e freqüentemente subjugadas por ditadores cruéis (Batista em Cuba, Trujillo na República Dominicana, Duvalier no Haiti, Somoza na Nicarágua, Stroessner no Paraguai…), amparados por Washington.
Fidel escutou minha proposta com um leve sorriso, em tom alegre. Encarou-me com olhos penetrantes e maliciosos e me perguntou com ironia: “Você quer mesmo perder seu tempo conversando comigo? Não tem coisas mais importantes a fazer?”. Claro que eu lhe respondi que não. Dezenas de jornalistas do mundo, dentre os quais os mais célebres, levam anos esperando a oportunidade de conversar com ele. Para um jornalista profissional, qual trabalho mais importante pode haver que entrevistar uma das personalidades históricas mais significativas da segunda metade do século XX e deste que já se inicia?
Fidel Castro não é por acaso o chefe de Estado que mais tempo está exercendo seu cargo? Já lidou com nada menos que dez presidentes norte-americanos (Eisenhower, Kennedy, Johnson, Nixon, Ford, Carter, Reagan, Bush pai, Clinton e Bush filho). Manteve relações com alguns dos principais líderes que marcaram a marcha mundial depois de 1945 (Nehru, Nasser, Tito, Kruschev, Olof Palme, Ben Bella, Boumediene, Arafat, Indira Gandhi, Salvador Allende, Brejnev, Gorbachev, Mitterrand, Jiang Zemin, João Paulo II, o rei Juan Carlos etc.). E conheceu alguns dos principais intelectuais e artistas do nosso tempo (Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Ernest Hemingway, Graham Greene, Arthur Miller, Pablo Neruda, Jorge Amado, Oswaldo Guayasamín, Henri Cartier-Bresson, Julio Cortázar, José Saramago, Gabriel García Márquez, Eduardo Galeano, Oliver Stone, Noam Chomski e muitíssimos outros).
Sob sua direção, seu pequeno país (de pouco mais de 100 mil km2 e 11 milhões de habitantes) pôde conduzir uma política de grande vigor em escala mundial, disputando até um braço-de-ferro com os Estados Unidos, cujos dirigentes não conseguiram derrubá-lo, eliminá-lo, ou sequer modificar o rumo da Revolução Cubana.
A Terceira Guerra Mundial esteve a ponto de eclodir em outubro de 1962 por causa da atitude do governo norte-americano, que protestava contra a instalação de mísseis nucleares soviéticos em Cuba, cuja função era, sobretudo, impedir um novo desembarque como o de 1961 em Praia Girón (baía dos Porcos), realizado desta vez diretamente pelas Forças Armadas norte-americanas com a intenção de derrubar o regime cubano.
Há mais de quarenta anos Washington impõe a Cuba um devastador embargo comercial (reforçado nos anos 1990 pelas leis Helms-Burton e Torricelli), que obstrui seu desenvolvimento econômico normal e contribui para agravar a difícil situação econômica, com conseqüências trágicas para seus habitantes. Os Estados Unidos levam adiante, além disso, uma guerra ideológica e midiática permanente contra Havana por intermédio das potentes Rádio Martí e TV Martí, instaladas na Flórida para inundar a ilha de propaganda, como nos piores tempos da Guerra Fria.
Por outro lado, várias organizações terroristas hostis ao regime cubano – Alpha 66 e Omega 7, entre outras – têm sede em Miami, onde possuem campos de treinamento e de onde, incessantemente, enviam à ilha comandos armados para cometer atentados, com a cumplicidade passiva das autoridades norte-americanas. Cuba é um dos países que mais vítimas teve (acima de 3 mil) e que mais sofreu com o terrorismo nos últimos quarenta anos.
Apesar dos tão persistentes ataques por parte dos Estados Unidos, incluindo muitas tentativas contra sua vida, Fidel declarou, depois das odiosas agressões de 11 de setembro de 2001 contra Nova York e Washington: “Nenhuma dessas circunstâncias jamais nos levou a deixar de sentir uma profunda dor pelos ataques terroristas de 11 de setembro contra o povo norte-americano. Dissemos que, quaisquer que sejam nossas relações com o governo de Washington, daqui nunca sairá alguém para cometer um ato de terrorismo nos Estados Unidos”. E sublinhou: “Que me cortem uma das mãos se alguém encontrar aqui uma única frase dita com o propósito de rebaixar o povo norte-americano. Seríamos uma espécie de fanáticos ignorantes se puséssemos a culpa no povo norte-americano pelas diferenças entre ambos os governos”.
Como reação às constantes agressões vindas de fora, o regime preconiza plenamente no interior do país a união. Mantém o princípio do partido único e tende a punir com severidade as discrepâncias, aplicando à sua maneira o velho lema de Santo Ignacio de Loyola: “Em uma fortaleza sitiada, toda dissidência é traição”. Por isso, os relatórios anuais da Anistia Internacional criticam a atitude das autoridades em matéria de liberdades (liberdade de expressão, liberdade de opinião, liberdades políticas) e recordam que, em Cuba, há dezenas de “presos de opinião”.
Qualquer que seja a causa, trata-se de uma situação que não se justifica. Como tampouco se justifica a aplicação da pena de morte, atualmente suprimida na maioria dos países desenvolvidos (com as notáveis exceções de Estados Unidos e Japão). Um democrata não pode considerar normal a existência de presos de opinião e a manutenção da pena capital.
Esses relatórios críticos da Anistia não constatam, no entanto, casos de tortura física em Cuba, de “desaparições”, de assassinatos políticos ou de manifestações reprimidas com violência pela força pública. Tampouco se constatou um único levantamento popular contra o regime. Nem mesmo um caso em 46 anos de revolução. Enquanto em alguns Estados próximos considerados “democráticos” – Guatemala, Honduras, República Dominicana, até o México, sem falar da Colômbia, por exemplo –, sindicalistas, opositores, jornalistas, sacerdotes, prefeitos, líderes da sociedade civil continuam sendo impunemente assassinados, sem que esses crimes habituais suscitem comoção na mídia internacional.
A isso seria necessário acrescentar a violação permanente dos direitos econômicos, sociais e culturais de milhões de cidadãos nesses Estados e na maioria dos países pobres do mundo: a escandalosa mortalidade infantil, o analfabetismo, os sem-teto, os sem-trabalho, os sem-cuidados sanitários, os mendigos, as crianças de rua, as favelas, a droga, a criminalidade e toda sorte de delinquência… Fenômenos desconhecidos ou quase inexistentes em Cuba.
Assim como é inexistente o culto oficial à personalidade. Ainda que a imagem de Fidel esteja muito presente na imprensa, na televisão e nas ruas, não existe retrato oficial, nem estátua, nem moeda, nem rua, nem prédio, nem monumento com o nome de Fidel Castro ou de algum dos líderes vivos da Revolução.
Apesar da incessante fustigação externa, esse pequeno país, apegado à sua soberania, obteve resultados inegáveis em matéria de desenvolvimento humano: abolição do racismo, emancipação da mulher, erradicação do analfabetismo, redução drástica da mortalidade infantil, elevação do nível cultural geral… Em questão de educação, de saúde, de pesquisa médica e de esportes, Cuba alcançou níveis que situam o país no grupo das nações mais eficientes.
A propósito da cultura, que outro país desse tamanho possui tantos e tão bons escritores, tantos e tão bons pintores, tantos e tão bons músicos, diretores de cinema, poetas, autores de cartazes, bailarinos, atores, escultores…? A esse respeito, a Revolução estimulou uma suntuosa “idade de ouro” artística.
A diplomacia cubana continua sendo uma das mais ativas do mundo. Seu regime, nos anos 1960 e 1970, apoiou as guerrilhas em muitos países da América Central (El Salvador, Guatemala, Nicarágua) e do Sul (Colômbia, Venezuela, Bolívia, Argentina). Suas Forças Armadas, projetadas para o outro lado do mundo, participaram em campanhas militares de grande envergadura, em particular nas guerras da Etiópia e de Angola. Sua intervenção neste último país terminou com a derrota das divisões de elite da República da África do Sul, o que acelerou de forma indiscutível a queda do regime racista do apartheid.
A Revolução Cubana, da qual Fidel Castro é inspirador e líder carismático, continua sendo, graças a seus sucessos e apesar de suas evidentes carências (dificuldades econômicas, gigantesca incompetência burocrática, corrupção em pequena escala generalizada, penúria, apagões, escassez de transportes, racionamento, dureza da vida cotidiana, restrições de certas liberdades), uma referência importante para milhões de deserdados do planeta. Aqui ou ali, na América Latina e em outras partes do mundo, mulheres e homens protestam, lutam e às vezes morrem tentando alcançar objetivos sociais como alguns dos logrados pelo modelo cubano.
O que acontecerá quando, por causas naturais, o presidente cubano desaparecer? É obvio que haverá mudanças, uma vez que nada na estrutura do poder (nem no Estado, nem no partido, nem nas Forças Armadas) possui sua autoridade. Uma autoridade que lhe confere sua quádrupla qualidade de fundador do Estado, de teórico da Revolução, de chefe militar vitorioso e de condutor, há 46 anos, da política de Cuba.
Alguns analistas prevêem que, como ocorreu no Leste europeu após a queda do muro de Berlim, o regime atual seria destituído rapidamente. Estão equivocados. É muito pouco provável que assistamos em Cuba a uma transição semelhante à da Europa Oriental, onde um sistema imposto de fora e detestado por uma parte importante da população desmoronou em pouquíssimo tempo.
Ainda que os adversários de Fidel Castro não reconheçam, a lealdade da maioria dos cubanos à Revolução é uma realidade política. E se trata de uma lealdade fundamentada num nacionalismo que, ao contrário do ocorrido nos países comunistas do Leste europeu, tem suas raízes na resistência histórica contra as pretensões anexionistas ou imperialistas dos Estados Unidos.
Gostem ou não os seus detratores, Fidel tem um lugar reservado no panteão mundial consagrado às figuras que com mais empenho lutaram pela justiça social e que mais solidariedade prestaram aos oprimidos da Terra.
Por todas essas razões – às que vieram acrescentar-se, em março e abril de 2003, meu desacordo com a detenção de cerca de setenta dissidentes não-violentos e o fuzilamento de três seqüestradores de uma embarcação –, parecia-me inconcebível que um dirigente dessa envergadura, criticado de forma tão feroz por numerosos meios de comunicação ocidentais, não oferecesse sua versão pessoal, seu próprio testemunho direto sobre os grandes combates que marcaram sua existência e sobre as lutas em que permanece envolvido.
Fidel, que costuma pronunciar tantos discursos, deu poucas entrevistas em sua vida. E só foram publicadas quatro conversas longas com ele em cinqüenta anos. De Gianni Miná (duas), de Frei Betto e de Tomás Borge. Depois de quase um ano de espera, ele disse que aceitava minha proposta e que manteria comigo sua quinta longa conversa, que acabou sendo, ao final, a mais extensa e completa de todas as que concedeu.
Preparei-me a fundo, como para uma maratona. Li e reli dezenas de livros, artigos e relatórios. Consultei muitos amigos, melhores conhecedores do complexo itinerário da Revolução Cubana, os quais me sugeriram questões, temas e críticas. A eles as perguntas deste livro-conversa devem suas principais qualidades.
Antes de nos sentarmos para trabalhar na quietude, na penumbra e no silêncio de seu escritório particular – já que uma parte das entrevistas era filmada para um documentário –, quis conhecer um pouco melhor, de perto, o personagem, descobri-lo em suas atividades diárias, em seu manejo dos assuntos cotidianos. Porque até então eu só havia conversado com ele em circunstâncias breves e muito precisas, durante reportagens na ilha ou em minha participação em algum congresso ou evento, como a já mencionada Feira do Livro de Havana.
Ele aceitou a ideia e me convidou a acompanhá-lo durante vários dias em diversos itinerários, tanto por Cuba (Santiago, Holguin, Havana) como pelo exterior (Equador). Em carro, em avião, andando, almoçando ou jantando, conversamos sobre as notícias do dia, suas experiências passadas, suas preocupações presentes… sobre todos os temas imagináveis, mas sem gravador. Em seguida eu reconstruía os diálogos, de memória, nos meus cadernos.
Descobri assim um Fidel cordial, quase tímido, bem educado e muito cavalheiro, que escuta com interesse seus interlocutores e fala com simplicidade, sem afetação. Com maneiras e gestos de uma cortesia à moda antiga, está sempre atento aos demais, em particular a seus colaboradores, a suas escoltas, e nunca muda o tom de suas palavras. Nunca o ouvi dar uma ordem. Mas exerce uma autoridade absoluta à sua volta. Por sua marcante personalidade. Onde ele estiver, só se ouve uma voz: a sua. É quem toma todas as decisões, pequenas ou grandes. Ainda que consulte as autoridades políticas que dirigem o partido e o Estado e se mostre muito respeitoso e formal em relação a elas, em última instância cabem a ele as decisões. Não há ninguém, desde a morte de Che Guevara, no círculo de poder em que transita, que tenha um calibre intelectual próximo ao seu. Nesse sentido, dá a impressão de ser um homem solitário. Sem amigo íntimo nem companheiro intelectual de sua estatura. É um dirigente que vive, pelo que pude observar, de maneira modesta, quase espartana: nenhum luxo, mobiliário austero, comida saudável e frugal. Hábitos de monge-soldado. Inclusive seus inimigos admitem que ele figura entre os poucos chefes de Estado que não se aproveitaram de suas funções para enriquecer.
Sua jornada de trabalho, sete dias por semana, costuma terminar às cinco ou seis da manhã, quando amanhece o dia. Mais de uma vez interrompeu a conversa às duas ou três da madrugada porque ainda tinha, sorridente e cansado, de participar de umas “reuniões importantes”… Dorme apenas quatro horas por noite e, de vez em quando, uma ou duas horas mais em qualquer momento do dia. Mas é também, embora não admita, um grande madrugador. Viagens, deslocamentos, reuniões, visitas e intervenções encadeiam-se sem trégua, a um ritmo intenso. Seus assistentes – todos jovens, de cerca de trinta anos de idade e brilhantes –, no final da jornada acabam exaustos. Dormem em pé, esgotados, incapazes de acompanhar o ritmo desse incansável moço de quase oitenta anos. Fidel exige notas, relatórios, telex, notícias da imprensa internacional e estrangeira, estatísticas, resumos de programas de televisão ou de rádio, telefonemas, opiniões recolhidas em frequentes pesquisas nacionais… De uma curiosidade infinita, não deixa de pensar, de matutar, de animar sua equipe de assessores. É o antidogmático por antonomásia. Nada mais contrário a ele que o dogma, o preceito, a regra, o sistema, a verdade revelada. É um transgressor instintivo e, ainda que pareça óbvio dizer, um rebelde permanente. Sempre alerta, em ação, à frente de um pequeno Estado-Maior – o grupo constituído por seus assistentes –, franqueando uma nova batalha. Refazer a Revolução, outra vez e com firmeza. Sempre com ideias, pensando o impensável, imaginando o inimaginável. Com um atrevimento mental espetacular. Incapaz, efetivamente, de conceber uma ideia que não seja descomunal.
Uma vez discutido e definido um projeto, nenhum obstáculo o detém. Sua realização lhe parece óbvia. “A intendência seguirá”, dizia De Gaulle. Fidel pensa da mesma maneira. Dito e feito. Acredita com paixão no que está fazendo. Seu entusiasmo move as vontades. Como um fenômeno quase de magia, as idéias parecem materializar-se diante de nós; as coisas, os acontecimentos se tornam palpáveis. As palavras se convertem em fatos. Deve ser isso o tal carisma.
Fidel Castro é um homem dotado de uma estatura impressionante, de um indiscutível carisma e também de um poderoso encanto pessoal. Possui uma destreza visceral para se comunicar com o público. Sabe como ninguém captar a atenção de uma platéia, dominá-la, eletrizá-la, entusiasmá-la e provocar torrentes de aplausos por horas e horas. O escritor Gabriel García Márquez, que o conhece bem, assim relata seu modo de se dirigir às multidões: “Começa sempre com voz quase inaudível, com um rumo incerto, mas aproveita qualquer lampejo para ir ganhando terreno, palmo a palmo, até que, como se desse uma grande bofetada, apodera-se da platéia. É a inspiração, o estado de graça irresistível e deslumbrante, que só são negados por quem não teve a glória de vivê-los”.
Tantas vezes descrito, seu domínio da arte da oratória é prodigioso. Não me refiro a seus discursos públicos, muito conhecidos, mas a uma simples conversa durante uma refeição. Uma torrente de palavras, despretensiosas, impactantes. Uma avalanche verbal que acompanha sempre, agitando o ar, com os gestos graciosos de suas finas mãos.
Possui um senso da História profundamente ancorado em si próprio, e uma sensibilidade extrema em relação a tudo que concerne à identidade nacional. Cita José Martí, o herói da independência de Cuba, muito mais que a qualquer outro pesonagem da história do movimento socialista ou operário. Martí constitui sua principal fonte de inspiração. Ele o lê e relê. É também fascinado pelas ciências, pela investigação científica. É apaixonado pelo progresso da medicina. Curar as crianças, todas as crianças. Movido pela compaixão humanitária e pela solidariedade internacional, sua ambição, mil vez repetida, é semear saúde e saber, medicina e educação por todo o planeta. Sonho quimérico? Não é à toa que seu herói favorito na literatura seja dom Quixote. Vê-se que é uma pessoa que atua por aspirações nobres em si mesmas, por ideais de justiça e eqüidade. E que faz pensar na frase de Che Guevara: “Uma grande revolução só pode nascer de um grande sentimento de amor”.
Fidel gosta da precisão, da exatidão, da pontualidade. Diante de qualquer tema, realiza cálculos aritméticos com uma velocidade assombrosa. Com ele, nada de aproximações. Consegue recordar-se do mais mínimo detalhe. Durante nossas conversas, sempre o excelente historiador Pedro Álvarez Tabío, que o ajuda, se for necessário, a precisar um dado, uma data, um nome, uma circunstância… Às vezes sobre seu próprio passado (“A que horas eu cheguei à granjinha Siboney na véspera do assalto ao Moncada?”. “A tal hora, comandante”) ou sobre qualquer aspecto secundário de um acontecimento distante (“Como se chamava aquele segundo dirigente do Partido Comunista da Bolívia que não queria ajudar o Che?”. “Fulano”, responde Pedro. Uma segunda memória ao lado da sua que já é portentosa, de uma precisão inaudita.
Uma memória tão rica que parece impedi-lo, às vezes, de refletir de maneira sintética. Seu pensamento é arborescente. Tudo se encadeia. Ramifica-se. Tudo tem a ver com tudo. Digressões constantes. Parênteses permanentes. O desenvolvimento de um tema o leva, por associação de idéias, por recordação de uma ou outra situação ou personagem, a evocar um tema paralelo e outro e outro e outro, distanciando-se assim do tema central. A tal ponto que o interlocutor teme, um instante, ter perdido o fio. Mas desanda logo o que foi andado e volta a retomar a idéia principal.
Em nenhum momento, ao longo de mais de cem horas de conversa, Fidel impôs um limite qualquer às questões que teríamos de abordar. Como intelectual que é, não teme o debate. Ao contrário, ele o requer, necessita dele, o estimula. Sempre disposto a litigar com quem quer que seja. Com argumentos em abundância. E uma maestria retórica impactante. Com grande respeito para com o outro. Com muito tato. É um debatedor e um polemista temível, culto, a quem só repugnam a má-fé e o ódio.
Se alguma pergunta ou algum tema faltam neste livro, responsáveis são as minhas carências como entrevistador e jamais a sua rejeição em abordar um ou outro aspecto de sua longa experiência política. Como se sabe, algumas conversas, em função da disparidade intelectual entre aquele que pergunta e aquele que responde, são na verdade monólogos nos quais aquele que pergunta não possui a responsabilidade de ter razão. Não se tratava, nessas conversas, de polemizar nem de discutir – o jornalista não é um estadista –, mas de compilar sua versão pessoal de um itinerário biográfico e político, que é histórico. Em nenhum instante me passou pela cabeça evocar sua vida íntima, sentimental, sua esposa, seus filhos… Creio que não se devem expor certos limites. Todo homem público, por mais célebre que seja, tem também direito ao perímetro inviolável de sua privacidade.
Aquelas longas sessões de trabalho de 2003 resultaram num primeiro esboço deste livro. No entanto, os meses foram passando e o texto não ficava pronto para ser publicado. Enquanto isso, a vida e os acontecimentos foram seguindo seu curso. Em setembro de 2004, tive a oportunidade de retornar a Havana e ter outro encontro com Fidel Castro, no qual aproveitamos para atualizar e completar alguns temas de nossas primeiras conversas. Em 2005 voltei mais uma vez a conversar horas com ele, sempre com o objetivo comum de atualizar e finalizar o livro. Isso, basicamente, foi realizado, porém decidimos conjuntamente que eu poderia elaborar notas adicionais ao texto da entrevista para que o leitor compreendesse o que aconteceu e como evoluíram – até o final de 2005 – alguns dos temas abordados em nossas conversas. O leitor deverá levar isso em conta. Só inseri essas notas de “atualização” nos casos imprescindíveis.
A queda do muro de Berlim, a desaparição da União Soviética e o fracasso histórico do socialismo autoritário de Estado não parecem ter modificado o sonho de Fidel Castro de instaurar no seu país uma sociedade de novo tipo, menos desigual, mais saudável e mais bem educada, sem privatizações nem discriminações, e com uma cultura global integral. E sua nova e estreita aliança com a Venezuela do presidente Hugo Chávez consolida suas convicções.
No outono da sua vida, mobilizado agora a favor da ecologia e do meio ambiente e contra a globalização neoliberal e a corrupção interna, segue na trincheira, na linha de frente, conduzindo a batalha pelas ideias em que crê. E às quais, segundo parece, nada nem ninguém o farão renunciar.
Paris, 31 de dezembro de 2005.
***
Ignacio Ramonet nasceu na Galícia, em 1943. É diretor, em Paris, do Le Monde Diplomatique. Especialista em geopolítica e estratégia internacional, é professor de Teoria da Comunicação na Universidade Denis Diderot de Paris. É doutor em Semiologia e História da Cultura pela Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, onde foi aluno de Roland Barthes. É um dos fundadores da Attac e membro do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial. Pela Boitempo, publicou Fidel: biografia a duas vozes (2006) e Mídia, poder e contrapoder: da concentração monopólica à democratização do poder (2013).

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Chegou o novo título da Biblioteca Lukács, coordenada por José Paulo Netto na Boitempo... 📚

MARX E ENGELS COMO HISTORIADORES DA LITERATURA, de György Lukács 📚 ★ Um precioso mapa da visão de Marx e Engels sobre a arte, feito por um dos maiores filósofos marxistas e pensadores da estética no século XX. ★

Marx e Engels se ocuparam a fundo dos problemas da arte e da literatura, mas não chegaram a publicar escritos abordando o tema de maneira sistemática. Nesta obra, o filósofo húngaro György Lukács realiza um trabalho magistral de destrinchar e examinar o tratamento que os fundadores do marxismo dedicaram ao tema da estética. Referência fundamental para pensar o imbricamento entre estética e política. “A certeza de que na obra de Marx há in nuce uma estética contrapôs Lukács aos marxistas contemporâneos dele. Em vez de acrescentar à obra de Marx uma estética elaborada por outro pensador, – como Kant, por exemplo –, cabia aprofundar as geniais observações feitas por Marx sobre a arte e literatura.” – Hermenegildo Bastos, que assina o prefácio do livro. ★ Já nas livrarias! ★

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domingo, 27 de novembro de 2016

Fidel! Sempre!

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Trump and the “Collapse of Capitalism” (COC): Foibles, Fables and Failures, The Financial Press and its Keepers

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US officialdom and their media megaphones have systematically concocted narratives having less to do with political reality and more with their hallucinogenic world view.  Pre-election and post-election reportage weaves a tapestry of fiction and fantasy.
We will discuss the most pernicious of these remarkable foibles and fables and their predictable failures.
1. Collapse of Capitalism 
The pundits, prestigious editorialists and ‘economists with gravitas’, have convinced themselves that the election of Donald Trump would ‘lead to the Collapse of Capitalism (COC)’. 
They cited his campaign attacks of globalization and trade agreements, as well as his ‘reckless’ swipes at speculators.  In reality, Trump was criticizing a specific kind of capitalism.  The pundits overlooked the variety of capitalisms that constitute the US economy.  With their snouts deep in the trough, their own vision was limited; their curly tails blindly twirled meaningless formulae on blackboards; their ample backsides flapping away in place of their mouths.  Thus occupied, they easily ignored Trump’s glorification of national capitalism.
Trump followed the legacy of protectionism in US policies established by George Washington and Alexander Hamilton and carried into the administrations of Franklin Roosevelt and others.  Capitalism comes in various forms and is promoted by different protagonists at different times in our history.  Some leaders have championed such economic sectors as domestic energy production, manufacturing, mining and agriculture and depended largely on the local labor markets.  Nevertheless, the pundits’ dream of a final collapse of capitalism with the rise of Trump turned into a real stock market bonanza, the ‘DOW’ boomed to record levels, and monopolists rubbed their hands in anticipation of larger and more lucrative merger and acquisitions.
The world’s largest billionaire bankers had bankrolled Secretary Hillary Clinton, the ‘million-dollar-a-speech’ War Goddess.   They had bet heavily against the populist-nationalist Donald Trump and they lost.  Their pre-paid political manifestos, addressed to the readers of the NY Times, flopped and sputtered: Most readers and investors in domestic markets had placed their bets on ‘The Donald’.  Their domestic celebrations pumped up the market after the election.  The unimaginable had happened: George Soros had bet and lost!  The ‘deplorable’ electorate preferred the obnoxious nationalist to the obnoxious speculator. ‘Who’d a thunk it?’
2.   Color-coded ‘Manhattan Spring’ 
From electoral losers to street putschists, the speculators and their whiny media mouthpieces strive to overthrow the election process. 
Against the tens of millions of free voters, the speculators bankrolled a few thousands demonstrators, drunk with their own delusions of starting a color-coded ‘Manhattan Spring’ to overthrow the elected President.  
Decked out in black ‘anarchist chic’, the window vandals and historically illiterate students were energized by the promise to replicate the putsches in Kiev and Tbilisi.  They took to the streets, cracked a few some windows and signed thousands of ‘on-line petitions’ (while denouncing Trump as the ‘Second Coming of Kristalnacht’).   The media magnified the theatrics as a sort of uprising to restore their loser-emancipator to the throne – the bleery-eyed Jean D’Arc of the Hedge Funds.  The losers lost and Hillary will hopefully retire to count her millions.  The stock market soared to record heights.
3. The four most influential financial newspapers, the Wall Street Journal (WSJ), the Financial Times (FT), the New York Times (NYT) and the Washington Post (WP) had deeply mourned their ‘Paradise Lost’
Long-gone was the rotting vassal-state of Russia under Boris Yeltsin 1991 – 2000, source of so much Western pillage.  Their bile turned to venom, directed at the new Nemesis:  Putin.   The election of Vladimir Putin led to a remarkable economic and social recovery for Russia.  From a Western controlled gangster-capitalist ‘thug-ocracy’, Russia has become a modern global power asserting its own sovereignty and national interests.
Gone are the days when Harvard economists could sack Russia of millions through their various ‘democracy’ foundations and Wall Street bankers could launder billions from the criminal oligarchs.  Pentagon planners had dismantled Russian bases throughout its previous Warsaw Pact neighbors and set up NATO bases on Russia’s borders. 
State Department functionaries had overthrown elected pro-Russian regimes in the Ukraine, Georgia and as far afield as Libya.  These were the unfettered joys of the US unipolar rulers and their stable of prestigious press pimps and academics, until Putin arrived to spoil the party.  And in the run-up to the US election, the Clintonites and their Democratic entourage in the media launched the most frenzied demonic attack accusing Vladimir Putin of financing Trump’s campaign, of hacking Clinton’s messy, unsecured e-mail messages to undermine elections, of bombing Syrian hospitals full of children, of preparing to invade Latvia and Poland etc., etc.  If there is one sliver of truth in the vassal press, it is that the demonic changes made against Putin reflected the gory reality of Hillary Clinton’s well-documented policies.
Clinton’s model for a democratic Russia was the drunken President Yeltsin, bankrolled by thugs as they gorged themselves on the corpse of the USSR.  But Vladimir Putin was elected repeatedly by huge majorities and his governance has been far more representative of the Russian electorate than those of the recidivist loser, Hillary Clinton.  Russia didn’t ‘invade’ the Ukraine or Crimea.  It was the ‘potty-mouthed’ Victoria Nuland, US Undersecretary of State for European Affairs, who boasted of having tossed a mere 5 billion dollars into neo-fascist–kleptocratic putsch that took over Ukraine and who famously dismissed the concerns of the European Union…with her secretly recorded ‘F— the EE’  comment to the US Ambassador!
At some point, reality has to bubble up through the slime: Putin never financed Trump – the billionaire financed his own campaign. On the other hand, Clinton was bankrolled by Saudi despots, Zionist billionaires and Wall Street bankers.  The mass media, the WSJ, FT, NYT and the WP, dutifully served the same stale, old sexist gossip about Trump in support of the sweet and sour, wide-eyed Madam Strangelove, who never hesitated to rip the lives out of thousands of Muslim women in their own countries.  The media celebrated Madame Clinton’s nuclear option for Syria (the ‘No-Fly Zone’) while it ridiculed Trump’s proposal to negotiate a settlement with Putin.
The media accused Trump of being a sexist, racist, anti-immigrant villain, all the while ignoring Secretary of State Clinton’s blood-soaked history of bombs and destruction, of killing of tens of thousands women in the Middle East and Africa and driving hundreds of thousands among the two million sub-Sahara Africans formerly employed in Libya under Gadhafi’s rule onto rotting ships in the Mediterranean Sea.
Who in Madame’s media count the millions of people dispossessed or the 300,000 killed by the US-promoted mercenary invasion of Syria?  Where were the feminists, who now dredge up Trump’s crude ‘crotch talk’, when millions of women and children of color were killed, injured, raped and dispossessed by Madame Clinton’s seven wars?  Given the choice, most women would prefer to defend themselves from the stupid words of a vulgar misogynist over the threat of a Clinton-Obama predator drone ripping their families to shreds.  Nasty, juvenile words do not compare with a history of bloody war crimes.
It is much easier to denounce Xi Jinping, Vladimir Putin and Donald Trump than to analyze the consequences of Madame Candidate Clinton’s policies. The mass media, subservient to Clinton, wave the flag of  ‘worker struggles’ and highlight ‘capitalist exploitation’ when they describe China, Russia and the businesses of US President-Elect Trump.  But their perspective is that of the ‘Uni-Polar Empire’.  They cite non-unionized worker protests in Chinese factories and peasants fighting the rapacious developers.
They cite corrupt oil sales in Russia.  They find cheap immigrant labor employed on Trump’s building projects.  The media describe and defend Hong Kong separatists.  They heap praise on the Uighar, Chechen and Tibetan terrorists as “freedom fighters” and “liberators”.  They fail to acknowledge that, as bad as worker exploitation is in these examples, it is far less horrific than the suffering experienced by millions of local and immigrant peasants and workers who have been injured, killed and rendered jobless and homeless by US bombing campaigns in Libya and US invasion-destruction of Iraq, Afghanistan and Syria. The imperial media’s phony ‘anti-capitalist-exploiter stories’ against Trump, Putin and the Chinese are mere propaganda rhetoric designed to entice leftists, influence liberals and reinforce conservatives by playing on workers’ plight inflicted by national adversaries instead of imperial conquests and egregious crimes against humanity.
These financial scribes are very selective in their critique of economic exploitation: They denounce political adversaries while churning out vapid cultural stories and reports on the ‘eclectic tastes’ of the elite.  Their weekend cultural pages may occasionally contain a critique of some predatory financiers next to a special feature on an unusual sculptor or successful upwardly mobile immigrant writer.  Day after day, the same financial media publishes predictable ‘bootlickeries’ masquerading as reports on vulture capitalists, warmongers and imperial warlords.  They court and offer advice to Wall Street, the City of London and Gulf State sheikdoms.  They write in blubbering awe at the bold multi-billion dollar mergers and acquisitions, which eliminate competitive prices and establish effective monopolies.  Then they deftly turn to rant against President-Elect Donald Trump’s pronouncements on workers’ rights – he is ‘the demagogue threatening free-market … capitalism’.
The fear and loathing of the ‘Wildman’ Trump, so evident in the four most prestigious English language newspapers, is nowhere to be found in reference to Secretary Clinton’s pathological glee over the gruesome torture-murder of the injured President Gadhafi by her allied jihadi tribesmen.  The global and domestic implications of the US Secretary of State expressing glee and high pitched squeals on viewing the filmed torture and final ‘coup de grace’ on the wounded head of the Libyan President was never analyzed in the respectable press.  Instead, the press superficially covers the plight of millions of immigrants and refugees who would never have left their jobs and homes were it not for the US destruction of the Middle East and North Africa.  The respectable media defend the US officials directly responsible for the plight of these migrants flooding and threatening to destabilize Europe.
The same newspapers defend the ‘human rights’ of Chinese workers in local and US-owned factories who out-competed domestic American factories, but ignore the plight of millions of unemployed and destitute workers trying to survive in the US war zones and Israeli-occupied territories.
The Presidential elections made millions of American voters starkly aware of the mendacity of the mass media and the corruption of the Clinton political elite.
The media and the Clinton-elite denounced the Trump voters as ‘deplorables’ and totally mischaracterized them.  They were not overwhelmingly unemployed, bitter former industrial workers or minimum wage, uneducated racists from the gutted ‘heartland’.  ‘Angry white male workers’ constituted only a fraction of the Trump electorate.  Trump received the vote of large sections of suburban middle class professionals, managers and local businesspeople; joined by downwardly mobile Main Street shopkeepers, garage owners and construction contractors.  A majority of white women voted for Trump.  City household residents, still trying to recover from the Obama-Clinton era mortgage foreclosures, formed an important segment of the Trump majority, as did underpaid university and community college graduates – despairing of ever finding long-term stable employment.  In short, low-paid, exploited and precarious business owners and service sector employees formed a larger section of the Trump majority than the stereotyped ‘deplorable angry white racists’ embedded in the media and Clinton-Sanders propaganda.
Post-election media has magnified the political significance and size of the anti-Trump demonstrations.  Altogether the demonstrators barely surpassed a hundred thousand in a country of 100 million voters.  Most have been white students, Democratic Party activists and Soros-financed NGOs.  Their demonstrations have been far smaller than the huge pro-Trump public rallies during the campaign. The pro-Clinton media, which consistently ignored the size of Trump’s rallies, doesn’t bother to make any comparison.  They have focused exclusively on the post-election protest, completely papering over the outrageous manipulation by which the Democratic National Committee under ‘Debbie’ Wasserman Schultz cheated Clinton’s wildly popular left-wing rival, Bernie Sanders, during the primaries.
Instead, the media has been featuring Clintonesque ‘feminist’ professionals and ‘identity’ political activists, ignoring the fact that a majority of working women voted for Trump for economic reason.  Many politically conscious African-American and Latino women knew that Clinton was deeply involved in policies that deported 2 million immigrant workers and family members between 2009 – 2014 and destroyed the lives of millions of women of color in North and Central Africa because of her war against the government of Libya.  For millions of female and male workers, as well as immigrants – there was a ‘lesser evil’ – Trump.  For them, the Donald’s nasty remarks about women and Mexicans were less disturbing than the real history of Hillary Clinton’s brutal wars destroying women of color in Africa and the Middle East and her savage policies against immigrants.
The more bizarre (but transient) aspect of the anti-Trump smear campaign came from a hysterical section of the pro-Hillary ‘Zionist Power Configuration’ (ZPC) and ‘Israel-First’ crackpots who accused him and some of his appointees of anti-Semitism.  These venomous propagandists slapped the Manhattan real-estate mogul Trump with an odd assortment of labels:  ‘fascist’, ‘misogynist’, ‘anti-Israel’, Ku Klux Klan apologist and White Nationalist.  The Minnesota Senator and former comedian Al Franken described Trump’s critique against Wall Street Bankers and finance capital as ‘dog whistles’ for anti-Semites, labeling the candidate as a 21st century disseminator of the ‘Protocols of Zion’.  Senator Franken darkly hinted that ‘rogue’ (anti-Semitic) agents had infiltrated the FBI and were working to undermine Israel’s favorite, Clinton.  He even promised to initiate a post-election purge of the FBI…upon Clinton’s victory… Needless to say, the Senator’s own rant, published (and quickly buried) two days before the election in the Guardian, did not help Madame Hillary with the security apparatus in the United States.  History has never been a strong point with the Comedian Senator Al Franken, who should have know better than to threaten the deep security state: his Mid-West predecessor Senator Joseph McCarthy quickly deflated after he threatened the generals.
The accusations of anti-Semitism against Trump were baseless and desperate:  The Trump campaign team has prominently included Jews and Israel-Firsters and secured a minority of Jewish votes, especially among smaller businesspeople supporting greater protectionism.  Secondly, Trump condemned anti-Semitic acts and language and did not appeal to any of the extremist groups.
Thirdly (and predictably) the Zionist Anti-Defamation League (ADL) slapped an anti-Semitic ‘guilt by association’ label on Donald Trump because of his consistent criticism of US wars and occupations in the Middle East, which Trump had correctly pointed out cost the US over two trillion dollars – money that would have totally rebuilt the failing US infrastructure and created millions of domestic jobs.  For the loony ADL, the US wars in the Middle East have enhanced Israel’s security and thus any opposition to these wars is anti-Semitic or ‘guilt by association’.
The ADL directors, who have raked in over $3 million dollar salaries over the past 5 years ‘protecting’ US Jews, objected to Trump because Hillary Clinton was the darling of the pro-war Israel-First lobbies and Obama-Clinton appointees.
Trump’s daughter Ivanka (a convert to Judaism) is married into a prominent Orthodox Jewish family with strong ties to Israel; the Trump clan is close to elements among the Israeli elite, including the uber-racist Netanyahu.  These hysterical slanders against ‘Trump the Anti-Semite’ reflect the fact that the most prominent domestic Jewish power bloc, ‘the 52 Presidents of American Jewish Organization’ had invested heavily in Hillary Clinton.  No matter what the cost, no matter what the land grab, no matter how many Palestinians were ‘killed or maimed by Jewish settler-vigilantes’; the State of Israel could always count on Clinton’s unconditional support.  The Lobby would not need to ‘petition’ their ‘First Woman’ President; Madame Hillary would have anticipated Israel’s every desire and even embellished their rhetoric.
In the end, Senator Al Franken’s rabid anti- Trump rant went too far … vanishing from the Guardian website in less than one day.  Influential Zionist organizations turned their backs on the Senator Comedian; the Zionist Organization of America reprimanded the ADL for its intemperate slanders – sensing that Clinton could lose.
The Franken-Zionist power structure’s last-ditch efforts to attack Trump must have provoked a very negative response within the US ‘deep state’.  There can be no doubt that the entire intelligence, military and security elites struck back and put their organizational ‘thumb on the scale’. The FBI’s release of damaging documents related to Secretary Clinton undermined the ADL’s candidate in the run-up to the election and hinted at an interesting power struggle behind the curtains.
The FBI’s release of confidential documents, likely including epistles from Chappaqua to and from Tel Aviv, linked tangentially to the pedophilic crimes of the disgraced Congressman (and former Clinton ally) Anthony Weiner was a heavy blow.  The Netanyahu Cabinet put distance between themselves and their favorites, probably telling AIPAC leaders to muzzle Al Franken and pretend his threats to purge the FBI had never been launched.  They were clearly worried that their lunatic attack dogs could set the entire US Security State on a hostile track against Israel.
The Franken-ADL trial balloon fizzled and disappeared.  The intelligence establishment pounded the final nail into the coffin of Hillary Clinton’s Presidential aspirations.   She even briefly accused the FBI of ruining her candidacy – hinting at some partial but oversimplified truth. A Zionist darling to the end, Hillary would never dare to identify and castigate the crazy and incompetent Zionist provocateurs that had helped to turn the Deep State against Madame Secretary.
A last note: 
Once Clinton lost and Trump took ‘the prize’, the Zionist Power Structure deftly switched sides:  the former ‘Anti-Semite’ candidate Trump became ‘Israel’s Best Friend in the White House’.  None of the 52 leading Zionist organizations would join the street protests.
The foibles, fables and failure of the financial press and their keepers lost the elections but are back, hard at work, remaking President-Elect Trump into a global free marketer.

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Articles by: Prof. James Petras
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sábado, 19 de novembro de 2016

George Soros y la trama anti-Trump
Wright Millsen su libro “The Power Elite” (1.956), indica que la clave para entender la inquietud norteamericana se encontraría en la sobre-organización de su sociedad. Así, establishment sería “el grupo élite formado por la unión de las sub-élites política, militar, económica, universitaria y mass media de EEUU”, lobbys de presión que estarían interconectadas mediante “una alianza inquieta basada en su comunidad de intereses y dirigidas por la metafísica militar”, concepto que se apoya en una definición militar de la realidad y que habría transformado la economía en una guerra económica permanente y cuyo paradigma serían los Rockefeller al participar en los lobbys financiero, industria militar y judío y uno de cuyos miembros, David sería el impulsor de Trilateral Comission” (TC) o Trilateral(1973).
George Soros y la trama anti-Trump
Donald Trump, candidato en principio totalmente refractario a la disciplina de partido y devenido en la “bestia negra” del establishment acabó finalmente siendo elegido Presidente de EEUU en las Presidenciales de Noviembre y su sorpresivo triunfo marcará junto con el Brexit marcará el finiquito del “escenario teleológico” en el que la finalidad de los procesos creativos eran planeadas por modelos finitos en los que primaba la intención, el propósito y la previsión y su sustitución por el “escenario teleonómico”, marcado por dosis extremas de volatilidad que afectarán de manera especial al Nuevo Orden Geopolítico Mundial.
Nueva Geopolítica Primus Inter Pares (G3)
Con Trump asistiremos al finiquito de la Unipolaridad de Estados Unidos y de su papel de gendarme mundial y su sustitución por la nueva doctrina de la Multipolaridad o Geopolítica Inter-Pares, formado por la Troika EEUU, China y Rusia (G3), quedando de paso la UE, Japón, India y Brasil como convidados de piedra en el nuevo escenario geopolítico. Así, en una conferencia pronunciada por Trump en la sede de la influyente revista política “The National Interest”, Donald Trump expuso las líneas maestras de su política exterior que podrían sintetizarse en su lema “Estados Unidos lo primero”, lo que de facto supondría el retorno al proteccionismo económico tras cancelar el Tratado de Libre Comercio con Canadá y México (TLCAN) así como el TTIP y la Asociación Transpacífico (TPP por sus siglas en inglés), pieza central de la Administración Obama en su política de reafirmación del poder económico y militar en la región del Pacífico. Ello sería un misil en la línea de flotación de los intereses geopolíticos del conocido como “Club de las Islas” con activos cercanos a los 10 trillones € y cuya cabeza visible según el espía ruso Daniel Estulin,sería el financiero y experto diseñador de “revoluciones de colores”, George Soros.
Por otra parte, en una entrevista a la cadena estadounidense ABC, el Presidente electo de EEUU, Donald Trump expresó sin ambages la idea de que la “OTAN está obsoleta, no sirve para combatir el terrorismo y cuesta demasiado a EEUU”, por lo que exigió a los países europeos integrantes de la OTAN “ pasar por caja” pues la aportación económica de dichos países europeos sería de un exiguo 2% del PIB nacional, quedando el grueso de la financiación en manos de EEUU.(el 70% de cerca del Billón $ del total del presupuesto). Asimismo, Trump denunció la “excesiva cantidad de armamento que circula actualmente en el mundo” lo que supondría la asunción de la Doctrina del Aislacionismo de EEUU en el plano militar y la entronización del G-3 (EEUU, Rusia y China) como “primus inter pares” en la gobernanza mundial. Ello supondría la suspensión del programa nuclear de EEUU con una duración de treinta años y un coste de un Billón $ al igual que la paralización del sistema diseñado para detectar misiles de crucero en territorio estadounidense (JLENS) por lo que sería un misil en la línea de flotación del complejo militar-industrial que tiene perfilado para la etapa post-Obama la recuperación del papel de EEUU como gendarme mundial mediante la quinta fase del despliegue del escudo antimisiles en Europa (Euro DAM) y un incremento extraordinario de las intervenciones militares estadounidenses en el exterior (léase Nueva Guerra en Oriente Medio).
Soros y la trama anti-Trump
Hasta Eisenhower, la CIA fue únicamente la organización de inteligencia central para el gobierno de los Estados Unidos y estuvo detrás de múltiples tareas de entrenamiento de insurgentes y desestabilización de gobiernos contrarios a las políticas del Pentágono, pero los lobbys militar y financiero (ambos fagocitados por el looby judío) no pudieron resistir a la tentación de crear un gobierno de facto que manipulara los entresijos del poder, derivando en la aparición de un nuevo ente (el complejo militar-industrial, en palabras de Eisenhower), refractaria a la opinión pública y al control del Congreso y Senado de los Estados Unidos). En la actualidad, la Compañía se habría transmutado en el llamado Departamento de Seguridad Nacional ( Homeland Security) y de la hidra-CIA habrían nacido 17 nuevas cabezas en forma de agencias de inteligencia que integrarían la Comunidad de Inteligencia de EEUU ( la Cuarta Rama del Gobierno según Tom Engelhardt) , agentes patógenos de naturaleza totalitaria y devenidos en Estado paralelo, verdadero poder en la sombra fagocitado por el “Club de las Islas” de George Soros y que se habría conjurado contra un Trump partidario de la Geopolítica Primus InterPares o G3.
Dicha trama anti-Trump habría sido diseñada tras la reciente reunión celebrada en Washington en la que participaron cerca de 200 patrocinadores de la campaña electoral de Hillary Clinton encuadrados en la llamada Alianza Democracia (DA), megaorganización fundada por George Soros en el 2.005 y constaría de una primera fase para torpedear el traspaso de poderes Obama-Trump mediante una “revolución patriótica o multicolor” en EEUU. Así, según el portal Zero Hegde, las espontáneas manifestaciones populares anti-Trump habría sido inspiradas por el portal digital MoveOn.org, patrocinado por el ínclito Soros bajo el lema “Levántate y lucha por los ideales estadounidenses” y cuya segunda fase sería truncar la carrera política de Trump , tras lo que el VicePresidente Mike Pence asumiría la Presidencia y retornaría a la senda de las seudodemocracias tuteladas por el verdadero Poder en la sombra de EEUU (Cuarta Rama del Gobierno).

Viagem à Polónia

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Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

Viagem à Polónia

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Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.