“O poder, em si, não constitui uma garantia moral:
o poderoso pode ter a espada na mão, mas nem por isso é dono do bem.”
(Contardo Calligaris)
A liderança é uma competência de caráter relacional, isto é, pressupõe uma relação entre duas ou mais pessoas fundamentada no exercício da influência. A regra é despertar o desejo, o interesse e o entusiasmo no outro a fim de que adote comportamentos ou cumpra tarefas. Além de relacional, a liderança também pode ser situacional, ou seja, determinada pelas circunstâncias.
O poder é o exercício da liderança. Em verdade, inexiste isoladamente, pois o que encontramos são relações de poder. Assim, é notório que se questione: como o poder é exercido por um líder?
Muitos são os estudos acerca dos tipos, bases e fontes de poder. Mencionamos, por exemplo, LIKERT e LIKERT (1979), KRAUSZ (1991), SALAZAR (1998) e ROBBINS (2002), mas ressaltando que todos beberam de alguma forma nos escritos de FRENCH e RAVEN (1959).
Fazendo uma compilação destes estudos, identificamos as seguintes formas de poder:
1. Poder por coerção. Baseia-se na exploração do medo. O líder demonstra que poderá punir o subordinado que não cooperar com suas decisões ou que adotar uma postura de confronto ou indolência. As sanções podem ser desde a delegação de tarefas indesejáveis, passando pela supressão de privilégios, até a obstrução do desenvolvimento do profissional dentro da organização. Pode ser exercido por meio de ameaças verbais ou não verbais, mas devido ao risco de as atitudes do líder serem qualificadas como assédio moral, o mais comum é retaliar o empregado, afastando-o de reuniões e eventos importantes, avaliando seu desempenho desfavoravelmente ou simplesmente demitindo-o.
2. Poder por recompensa. Baseia-se na exploração de interesses. A natureza humana é individualista e, quase sempre, ambiciosa. Ao propor incentivos, prêmios e favores, o líder eleva o comprometimento da equipe, fazendo-a trabalhar mesmo sem supervisão. A recompensa pode ser pecuniária, ou seja, em dinheiro, ou mediante reconhecimento e felicitações públicas. O risco de se usar este expediente como principal artifício para exercício do poder é vincular a motivação das pessoas e sua eficiência a algum tipo de retorno palpável e de curto prazo, inclusive enfraquecendo a autoridade do líder.
3. Poder por competência. Baseia-se no respeito. O líder demonstra possuir conhecimentos e habilidades adequados ao cargo que ocupa, além de atitudes dignas e assertivas. Os subordinados reconhecem esta competência e a respeitam veladamente. Um exemplo fora do mundo corporativo é a aceitação de uma prescrição médica, porque respeitamos o título do médico e seguimos seu receituário mesmo sem conhecer o profissional previamente ou o princípio ativo do medicamento.
4. Poder por legitimidade. Baseia-se na hierarquia. A posição organizacional confere ao líder maior poder quanto mais elevada sua colocação no organograma. É uma autoridade legal e tradicionalmente aceita, porém não necessariamente respeitada. Um exemplo típico é o poder que emana do “filho do dono” que pode ser questionado, embora raramente contestado, se sua inexperiência for evidenciada.
5. Poder por informação. Baseia-se no conhecimento. O líder, por deter a posse ou o acesso a dados e informações privilegiadas, exerce poder sobre pessoas que necessitam destas informações para realizar seus trabalhos. Note-se que o mero acesso a informações valiosas é suficiente para conferir poder a estas pessoas. É o caso das secretárias de altos executivos.
6. Poder por persuasão. Baseia-se na capacidade de sedução. O líder usa de argumentos racionais e/ou emocionais para envolver e convencer seus interlocutores da necessidade ou conveniência de realizarem certas tarefas, aceitarem decisões ou acreditarem em determinados projetos. Trabalha com base em aspectos comportamentais buscando ora inspirar, ora dissuadir os subordinados, de acordo com os objetivos pretendidos.
7. Poder por ligação. Baseia-se em relações. O líder apropria-se de sua rede de relacionamentos para alcançar favores ou evitar desfavores de pessoas influentes. Em tempos de desenvolvimento das chamadas redes sociais, ampliar e usar relações interpessoais constitui vantagem comparativa significativa.
8. Poder por carisma. Baseia-se na exploração da admiração. O líder adota um estilo envolvente, enérgico e positivo e alcança a obediência porque seus liderados simplesmente gostariam de ser como ele. As pessoas imitam-no, copiam-no, admiram-no com a finalidade de identificação.
Dentre todas as categorias apresentadas, não devemos idealizar uma forma de poder específica. Não há certo ou errado. Há o adequado. Em verdade, o mais indicado é que um líder saiba como, onde e quando exercer seu poder de acordo com o perfil dos subordinados, das circunstâncias e de seus objetivos. Assim, o poder carismático ou por recompensa podem proporcionar maior adesão e atração por suas ideias, da mesma maneira que o poder legítimo ou por coerção podem acarretar resistência por parte dos subordinados.
in Psicologia.pt . O portal dos psicólogos
Tom Coelho (Educador, conferencista e escritor com artigos publicados em 15 países. É autor de ´Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e profissional´, pela Editora Saraiva, e coautor de outros quatro livros)
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sábado, 30 de abril de 2011
sexta-feira, 29 de abril de 2011
ÉMILE DURKHEIM
“Se existe um ponto fora de dúvida atualmente é que todos os seres da natureza, desde o mineral até o homem, dizem respeito à ciência positiva, isto é, que tudo se passa segundo as leis necessárias”
Desde Comte a Sociologia tem um objeto, que permanece entretanto indeterminado: ela deve estudar a Sociedade, mas a Sociedade não existe: “Il y a des sociétés” (id., ibid. p. 88) – que se classificam em gêneros e espécies, como os vegetais é os animais. Após repassar os principais autores que lidaram com essa disciplina, conclui:
“Ela [a Sociologia] tem um objeto. claramente definido e um método para estudá-lo. O objeto são os fatos sociais; o método e a observação e a experimentação indireta, em outros termos, o método comparativo. O que falta atualmente é traçar os quadros gerais da ciência e assinalar suas divisões essenciais. (...) Uma ciência não se constitui verdadeiramente senão quando é dividida e subdividida, quando compreende um certo número de problemas diferentes e solidários entre si”
O domínio da ciência, por sua vez, corresponde ao universo empírico e não se preocupa senão com essa realidade. No mencionado artigo publicado na Revue Bleue, e antes de tratar do tema a que se propusera, faz algumas considerações de grande interesse, para mostrar como a Sociologia é uma ciência que se constitui num momento de crise – “O que é certo é que, no dia em que passou a tempestade revolucionária, a noção da ciência social se constituiu como por encantamento” – e quando domina um vivo sentimento de unidade do saber humano.
Parte de uma distinção entre ciência e arte. Aquela estuda os factos unicamente para os conhecer e se desinteressa pelas aplicações que possam prestar às noções que elabora. A arte, ao contrário; só os considera para saber o que é possível fazer com eles, em que fins úteis eles podem ser empregados, que efeitos indesejáveis podem impedir que ocorram e por que meio um ou outro resultado pode ser obtido. “Mas não há arte que não contenha em si teorias em estado imanente”
“A ciência só aparece quando o espírito, fazendo abstração de toda preocupação prática, aborda as coisas com o único fim de representá-las” . Porque estudar os factos unicamente para saber o que eles são implica uma dissociação entre teoria e prática, o que supõe uma mentalidade relativamente avançada, como no caso de se chegar a estabelecer leis relações necessárias, segundo a concepção de Montesquieu. Ora, com respeito à Sociologia, Durkheim concebe que as leis não podem penetrar senão a duras penas no mundo dos factos sociais: “e isto foi o que fez com que a Sociologia não pudesse aparecer senão num momento tardio da evolução científica” (id., ibid.,). Esta é uma idéia repetidas vezes encontrada nos vários artigos que Durkheim publicou na virada do século, como, por exemplo, na mencionada aula inaugural de Bordeaux.
Fica evidente que, apesar do seu desenvolvimento tardio, a Sociologia é fruto de uma evolução da ciência. Ela nasce à sombra das ciências naturais; eis a idéia final do mencionado artigo a propósito de Simmel: a Sociologia não corresponde a uma simples adição ao vocabulário, a esperança e a de que “ela seja e permaneça o sinal de uma renovação profunda de todas as ciências que tenham por objeto o reino humano”
in http://www.culturabrasil/.
terça-feira, 26 de abril de 2011
Como vejo a situação actual
Intervenção proferida na sessão comemorativa do 25 de Abril, em Abril de 2011, Runa, Torres Vedras
Comemoramos a insurreição militar e popular do dia 25 de Abril de 1974.
Normalmente a comemoração de datas históricas tende a converter-se num acto rotineiro. Uma mera formalidade sem conteúdo. As tradições e os mitos somente conservam a sua vitalidade se actualizarem, nos seus rituais, a vitalidade do acto fundador. Com esta data que ora nos reúne aqui sucede algo de singular: conserva-se nos mais velhos a lembrança e nos mais novos a curiosidade e o respeito. Podemos possuir opiniões diferentes, mas num aspecto, pelo menos em um, estamos de acordo: no valor das liberdades políticas conquistadas nesse acontecimento fundador. Eu direi a minha opinião sobe o passado e o presente. A minha opinião é partilhada por muitos portugueses, contudo muitos outros não pensam do mesmo modo.
Há 35 anos que somos governados pelos mesmos partidos. Dizer-se que quem assim o decidiu foi o povo não é inteiramente verdade, porque o partido mais votado, esse sim, mais votado ( e não duvidamos da legitimidade do voto), coligou-se não poucas vezes com outro ou outros partidos. E se assim fizeram é porque pensavam todos da mesma maneira. Não só os partidos que formaram governos nestes 35 anos foram praticamente os mesmos, como, e por consequência, as estratégias políticas foram similares. E este facto inquestionável é de uma importância crucial. É sobre factos que devemos discutir. Uns tantos são responsáveis pela situação que ora sofremos, outros menos, ou mesmo nada. Qualquer discussão séria e decente deve assentar nesta interrogação: Que políticas foram essas que, fora as hesitações e erros humanos compreensíveis e toleráveis, conduziram o país ao fundo do poço, a uma crise que é das piores que a nossa longa história conheceu?
Foram apenas erros ou incompetências como alguns querem fazer crer? Governos fracos, políticos débeis? Naturalmente que quem assim pensa, propõe governos fortes para executar a mesma política. Oiço e leio este raciocínio e estremeço. Aceito perfeitamente o livre direito de quem assim pensa e, consequentemente, sugere um partido político investido da força de uma maioria absoluta, ou uma coligação de partidos, um governo de “Salvação nacional” como se vai dizendo. É a expressão da liberdade de opinião e a demonstração de quem sem o pluralismo não se respeita a Constituição da República nem as aspirações que explodiram em festa no dia 25 de Abril de 1974. Certamente. Porém, ao designar-se esse partido ou essa coligação, vemos que são os mesmos que nos arrastaram para o atoleiro onde nos encontramos. Talvez a expressão seja forte demais, mas não acerto com outra. Nem se trata de lavar uma mão com a outra, mas de meter ambas as mãos nas mesmíssimas soluções. Dar-me-eis o direito, o direito de expressão que também a mim me assiste, de concluir que teimar no mesmo caminho não é arrepiar caminho.
Dir-me-eis que a situação é grave e exige soluções drásticas. Provavelmente pensareis que não vale a pena agora perder tempo a discutir as causas. Pois bem, não é assim que estou habituado a pensar racionalmente pela minha cabeça. Respondo-vos que concordo convosco sobre a gravidade da situação, no entanto as soluções que os partidos governantes se propõem aplicar não são diferentes entre si, digo mais: são as mesmas mas para pior. Neles o espírito de mudança, de mudar de vida, contido no 25 de Abril, está ausente. Direis que não, eu digo que sim. Direis que não há outra alternativa, eu digo que há. Direis que é inevitável, eu digo que inevitável só a morte por mais tempo que se viva.
Dizer-me –eis que estando falidos temos de pedir emprestado, e se nos emprestam temos de pagar. Pois aí é que bate o ponto: Em primeiro lugar, podíamos ter evitado a tempo e para isto houve quem avisasse; em segundo lugar, podemos enfrentar o problema da dívida pública, pela sua renegociação – incluindo taxas de juro, prazos de dívida e montantes, pela acção combinada na União Europeia com outros países em situações semelhantes; pela diversificação de fontes de financiamento, quer no plano internacional, quer estimulando a poupança interna; pela renegociação ou cessação de contratos das parcerias público-privadas. E isto só para fornecer alguns exemplos. Em terceiro lugar, é preciso que se volte a dizer: não podem ser os mesmos sacrificados a pagar a crise, que, de resto, não a provocaram; todos sabemos que os grandes grupos económicos e a banca a eles associados pagam uma mísera fracção do que deviam pagar se os sacrifícios fossem igualmente distribuídos por todos. Como se pode pregar um “Governo de Salvação Nacional” sem uma verdadeira justiça fiscal e social? Sinceramente não percebo. Sem um corajoso combate à especulação financeira, porquê falar num “governo forte”? Forte contra quem? Quem souber, que responda.
A realidade é que muitos estão mais pobres e alguns estão mais ricos. Grandes riquezas num país empobrecido. Diziam os filósofos antigos que parece existir nos povos uma tendência para a servidão voluntária. Se esta perturbadora sentença for justa, então escolheremos os mesmos para nos aplicarem açoites mais duros, vivendo como plebeus a invejar os príncipes. Será esta a dita “alma lusa”, masoquista, macambúzia e melancólica, que alguns descrevem? Não acredito, não quero acreditar. Existe em nós, como em todos os povos, uma vontade indomável, uma robusta esperança, às vezes aparentemente adormecida, que desperta não se sabe bem quando nem como, uma inteligência colectiva que surpreende os mais cépticos, que nos proíbe, se conhecermos a nossa história e a história universal, de nos classificarmos como povo submisso que não assume os seus direitos.
As eleições, sendo livres, constituem um esteio das democracias. Os partidos políticos, com todos os seus defeitos, são, apesar disso, um elemento vital das democracias. O pluralismo, as liberdades. Mas os direitos também.
Porque é de direitos e deveres que, do fundo, faz emergir a interrogação que vos coloquei no início: o direito a sermos auxiliados na doença, todos por igual, no ensino, na segurança social, nos salários e pensões que nos devem porque trabalhamos ou as pagámos, e o direito à nossa soberania nacional. Se permitirmos que nos tirem isto, seremos mais pobres, mais tristes, mais dependentes e submetidos. Deveres? Sim, falemos dos deveres: do dever de trabalharmos, investirmos e dinamizarmos a actividade económica, de pagarmos na proporção directa daquilo que ganharmos, de estimularmos e defendermos a produção nacional, de diminuirmos o peso das importações e aumentarmos as exportações, mesmo que para isso ou por causa disso belisquemos os interesses das potências estrangeiras. Porque não é delas que chegará a nossa salvação. Mas de nós próprios. É do povo, deste povo onde reside a soberania, e não dos grandes grupos económicos que se preparam para montar a tenda sobre um “governo de salvação nacional”.
À dura realidade se chegou depois de havermos entrado para a União Europeia (primeiro CEE) perdendo com isso mais do que ganhámos, e tal sucedeu porque não se soube defender a produção nacional. Ganhou-se alguma coisa, sem dúvida, mas perderam-se recursos fundamentais para o desenvolvimento independente do país: indústrias, pescas, agricultura, entre outras.
Veio o Euro e ganhou-se alguma coisa, mas perdemos mais do que ganhámos, logo que passou a euforia inicial. Em vez de construirmos alicerces para o edifício do futuro, deixámo-nos cair sob o jugo de um Pacto de Estabilidade que favorecia os países mais ricos e o qual foram eles os primeiros a não cumprir.
Hoje não há comentador que se preze que não lamente o atraso e a dependência do país. E é mesmo curioso constatar que de uma maneira geral, comentadores encartados e partidos políticos descobriram subitamente o que já se sabia há muito tempo: que o país, caído na estagnação e mesmo na recessão, necessita de investir e impulsionar o desenvolvimento, se mais não seja para poder pagar as dívidas.
Para pensar procuro o problema e as condições objectivas e subjectivas que geraram o problema. Por isso pergunto-me se foi correcto o Governo ter enterrado milhões no BPP e BPN e se ter endividado a juros usurários em benefício dos bancos, que intermediaram a dívida pública com dinheiro obtido no BCE a 1% e emprestado ao Estado a 7,8 e 9%. Por causa destas opões e atitudes do Governo e da Banca é que não me surpreendi logo que, quando a coisa deu para o torto, a elite da finança exigiu ao Governo a entrada do FMI, cuja "ajuda" inclui uma fatia específica para a Banca (se calhar para o negócio das privatizações a pataco que aí vem). Disse-o o próprio director-geral do FMI: "O problema de Portugal não é tanto a dívida pública como o financiamento dos bancos e a dívida privada".
De facto, a dívida pública portuguesa (previsão para 2011) corresponde a 97,3% do PIB e é inferior à de países como a Irlanda (107%), Grécia (150,2%), Bélgica (100,5%) ou Itália (120,2%). Mesmo as da França e Alemanha andam, respectivamente, pelos 86,8% e 75,9%.
Já a dívida privada, de que pouco se fala e cujas principais fatias são da Banca e do imobiliário, é de 220% do PIB! É essa dívida que a Comissão Administrativa de FMI, BCE e CE vem agora cobrar a pobres, pensionistas e desempregados.
O meu Partido rejeitou o seu envolvimento no ritual de encontros com a chamada “Troika”, porque o considera uma inaceitável atitude de abdicação e submissão nacional. A coerência tem os seus riscos: ser-se silenciado pela comunicação social, não se ser compreendido por uma parte da opinião pública. Seremos compreendidos pelos espoliados no seu trabalho e nos seus parcos rendimentos. Negoceiem, pois, com a “troika”, se acaso ela vem para negociar coisa alguma, e veremos depois se se confirma ou não o que já é antevisão geral: que o pacote de medidas que nos vão impor é igual ou pior do que o que já estava contido no PEC IV. Veremos quais os portugueses que vão pagar a dívida e para onde vai o empréstimo concedido. Veremos nos próximos anos se a geração “à rasca” continua ou não à “rasca”. Veremos se do Trabalho com direitos, restaurados pelo libertador 25 de Abril, sobram alguns dos poucos que já sobram.
Por mim, aqui, hoje, desta tribuna, reafirmo a frontal rejeição a uma intervenção externa, em si mesmo comprometedora do futuro da vida dos portugueses, do país e das suas perspectivas de desenvolvimento soberano. Reafirmo o direito de sermos informados pelo Governo português do conjunto de dados e elementos sobre a real situação financeira, económica e orçamental do país, os seus concretos compromissos e as disponibilidades e recursos próprios. Informação que só o Governo e as instituições nacionais vocacionadas para o efeito devem dar e não qualquer entidade estrangeira ou supranacional sem legitimidade.
Um resgate da dívida pública somente é admissível se assegurar o crescimento económico e salvaguardar as condições sociais dos trabalhadores. Não pode transferir para estes a responsabilidade e os sacrifícios da crise, medidas que reduzem ainda mais as pensões ou a desvalorização dos salários, nem políticas fiscais injustas, que continuarão a agravar a injustiça na redistribuição da riqueza.
Na União Europeia os trabalhadores portugueses trabalham tanto, ou mesmo mais, do que os outros, não trabalham menos horas, mas mais. Não é aí que se encontra a causa do problema.
Os banqueiros dizem não aguentar mais sacrifícios: pagam cada vez menos impostos, nos lucros de 2011 em relação ao ano anterior, com os mesmos lucros, vão pagar metade do imposto. Receberam nos últimos anos milhares de milhões de euros de apoios e avales do Estado. Foram beneficiados com milhares de milhões de transferência de poupanças dos portugueses quando o Governo degradou de forma brutal a remuneração dos certificados de aforro. Estão a embolsar milhões e milhões de euros com as parcerias público-privadas. Durante meses e anos especulou com a dívida pública.
Depois das experiências da Grécia e da Irlanda a intervenção externa não resolverá os problemas, antes agravará o atraso económico do país. Os banqueiros mandam e o Governo obedece. Iremos esgotar recursos no pagamento de uma dívida monstruosa, em vez de canalizá-los para o crescimento económico. Devíamos concertar com outros países com problemas semelhantes para que existisse uma acção convergente que ponha fim à espiral da especulação e exija a revisão do estatuto e dos objectivos do Banco Central Europeu.
O euro está em crise, mas não fomos nós - nem Portugal, nem os seus trabalhadores - que a provocámos. Também o dólar está em alarmante crise, pondo em grave risco a economia mundial, mas de certeza que não fomos nós que a provocamos.
Termino como comecei: nesta data histórica em que recuperámos a nossa liberdade, devíamos reafirmar que a soberania reside no povo português e somente nele. E quero crer que a sua aspiração mais funda e verdadeira é a um mundo melhor, mais justo e mais solidário. Nesta crença tenho vivido, com esta crença morrerei.
Nozes Pires
Assembleia Municipal
Comemoramos a insurreição militar e popular do dia 25 de Abril de 1974.
Normalmente a comemoração de datas históricas tende a converter-se num acto rotineiro. Uma mera formalidade sem conteúdo. As tradições e os mitos somente conservam a sua vitalidade se actualizarem, nos seus rituais, a vitalidade do acto fundador. Com esta data que ora nos reúne aqui sucede algo de singular: conserva-se nos mais velhos a lembrança e nos mais novos a curiosidade e o respeito. Podemos possuir opiniões diferentes, mas num aspecto, pelo menos em um, estamos de acordo: no valor das liberdades políticas conquistadas nesse acontecimento fundador. Eu direi a minha opinião sobe o passado e o presente. A minha opinião é partilhada por muitos portugueses, contudo muitos outros não pensam do mesmo modo.
Há 35 anos que somos governados pelos mesmos partidos. Dizer-se que quem assim o decidiu foi o povo não é inteiramente verdade, porque o partido mais votado, esse sim, mais votado ( e não duvidamos da legitimidade do voto), coligou-se não poucas vezes com outro ou outros partidos. E se assim fizeram é porque pensavam todos da mesma maneira. Não só os partidos que formaram governos nestes 35 anos foram praticamente os mesmos, como, e por consequência, as estratégias políticas foram similares. E este facto inquestionável é de uma importância crucial. É sobre factos que devemos discutir. Uns tantos são responsáveis pela situação que ora sofremos, outros menos, ou mesmo nada. Qualquer discussão séria e decente deve assentar nesta interrogação: Que políticas foram essas que, fora as hesitações e erros humanos compreensíveis e toleráveis, conduziram o país ao fundo do poço, a uma crise que é das piores que a nossa longa história conheceu?
Foram apenas erros ou incompetências como alguns querem fazer crer? Governos fracos, políticos débeis? Naturalmente que quem assim pensa, propõe governos fortes para executar a mesma política. Oiço e leio este raciocínio e estremeço. Aceito perfeitamente o livre direito de quem assim pensa e, consequentemente, sugere um partido político investido da força de uma maioria absoluta, ou uma coligação de partidos, um governo de “Salvação nacional” como se vai dizendo. É a expressão da liberdade de opinião e a demonstração de quem sem o pluralismo não se respeita a Constituição da República nem as aspirações que explodiram em festa no dia 25 de Abril de 1974. Certamente. Porém, ao designar-se esse partido ou essa coligação, vemos que são os mesmos que nos arrastaram para o atoleiro onde nos encontramos. Talvez a expressão seja forte demais, mas não acerto com outra. Nem se trata de lavar uma mão com a outra, mas de meter ambas as mãos nas mesmíssimas soluções. Dar-me-eis o direito, o direito de expressão que também a mim me assiste, de concluir que teimar no mesmo caminho não é arrepiar caminho.
Dir-me-eis que a situação é grave e exige soluções drásticas. Provavelmente pensareis que não vale a pena agora perder tempo a discutir as causas. Pois bem, não é assim que estou habituado a pensar racionalmente pela minha cabeça. Respondo-vos que concordo convosco sobre a gravidade da situação, no entanto as soluções que os partidos governantes se propõem aplicar não são diferentes entre si, digo mais: são as mesmas mas para pior. Neles o espírito de mudança, de mudar de vida, contido no 25 de Abril, está ausente. Direis que não, eu digo que sim. Direis que não há outra alternativa, eu digo que há. Direis que é inevitável, eu digo que inevitável só a morte por mais tempo que se viva.
Dizer-me –eis que estando falidos temos de pedir emprestado, e se nos emprestam temos de pagar. Pois aí é que bate o ponto: Em primeiro lugar, podíamos ter evitado a tempo e para isto houve quem avisasse; em segundo lugar, podemos enfrentar o problema da dívida pública, pela sua renegociação – incluindo taxas de juro, prazos de dívida e montantes, pela acção combinada na União Europeia com outros países em situações semelhantes; pela diversificação de fontes de financiamento, quer no plano internacional, quer estimulando a poupança interna; pela renegociação ou cessação de contratos das parcerias público-privadas. E isto só para fornecer alguns exemplos. Em terceiro lugar, é preciso que se volte a dizer: não podem ser os mesmos sacrificados a pagar a crise, que, de resto, não a provocaram; todos sabemos que os grandes grupos económicos e a banca a eles associados pagam uma mísera fracção do que deviam pagar se os sacrifícios fossem igualmente distribuídos por todos. Como se pode pregar um “Governo de Salvação Nacional” sem uma verdadeira justiça fiscal e social? Sinceramente não percebo. Sem um corajoso combate à especulação financeira, porquê falar num “governo forte”? Forte contra quem? Quem souber, que responda.
A realidade é que muitos estão mais pobres e alguns estão mais ricos. Grandes riquezas num país empobrecido. Diziam os filósofos antigos que parece existir nos povos uma tendência para a servidão voluntária. Se esta perturbadora sentença for justa, então escolheremos os mesmos para nos aplicarem açoites mais duros, vivendo como plebeus a invejar os príncipes. Será esta a dita “alma lusa”, masoquista, macambúzia e melancólica, que alguns descrevem? Não acredito, não quero acreditar. Existe em nós, como em todos os povos, uma vontade indomável, uma robusta esperança, às vezes aparentemente adormecida, que desperta não se sabe bem quando nem como, uma inteligência colectiva que surpreende os mais cépticos, que nos proíbe, se conhecermos a nossa história e a história universal, de nos classificarmos como povo submisso que não assume os seus direitos.
As eleições, sendo livres, constituem um esteio das democracias. Os partidos políticos, com todos os seus defeitos, são, apesar disso, um elemento vital das democracias. O pluralismo, as liberdades. Mas os direitos também.
Porque é de direitos e deveres que, do fundo, faz emergir a interrogação que vos coloquei no início: o direito a sermos auxiliados na doença, todos por igual, no ensino, na segurança social, nos salários e pensões que nos devem porque trabalhamos ou as pagámos, e o direito à nossa soberania nacional. Se permitirmos que nos tirem isto, seremos mais pobres, mais tristes, mais dependentes e submetidos. Deveres? Sim, falemos dos deveres: do dever de trabalharmos, investirmos e dinamizarmos a actividade económica, de pagarmos na proporção directa daquilo que ganharmos, de estimularmos e defendermos a produção nacional, de diminuirmos o peso das importações e aumentarmos as exportações, mesmo que para isso ou por causa disso belisquemos os interesses das potências estrangeiras. Porque não é delas que chegará a nossa salvação. Mas de nós próprios. É do povo, deste povo onde reside a soberania, e não dos grandes grupos económicos que se preparam para montar a tenda sobre um “governo de salvação nacional”.
À dura realidade se chegou depois de havermos entrado para a União Europeia (primeiro CEE) perdendo com isso mais do que ganhámos, e tal sucedeu porque não se soube defender a produção nacional. Ganhou-se alguma coisa, sem dúvida, mas perderam-se recursos fundamentais para o desenvolvimento independente do país: indústrias, pescas, agricultura, entre outras.
Veio o Euro e ganhou-se alguma coisa, mas perdemos mais do que ganhámos, logo que passou a euforia inicial. Em vez de construirmos alicerces para o edifício do futuro, deixámo-nos cair sob o jugo de um Pacto de Estabilidade que favorecia os países mais ricos e o qual foram eles os primeiros a não cumprir.
Hoje não há comentador que se preze que não lamente o atraso e a dependência do país. E é mesmo curioso constatar que de uma maneira geral, comentadores encartados e partidos políticos descobriram subitamente o que já se sabia há muito tempo: que o país, caído na estagnação e mesmo na recessão, necessita de investir e impulsionar o desenvolvimento, se mais não seja para poder pagar as dívidas.
Para pensar procuro o problema e as condições objectivas e subjectivas que geraram o problema. Por isso pergunto-me se foi correcto o Governo ter enterrado milhões no BPP e BPN e se ter endividado a juros usurários em benefício dos bancos, que intermediaram a dívida pública com dinheiro obtido no BCE a 1% e emprestado ao Estado a 7,8 e 9%. Por causa destas opões e atitudes do Governo e da Banca é que não me surpreendi logo que, quando a coisa deu para o torto, a elite da finança exigiu ao Governo a entrada do FMI, cuja "ajuda" inclui uma fatia específica para a Banca (se calhar para o negócio das privatizações a pataco que aí vem). Disse-o o próprio director-geral do FMI: "O problema de Portugal não é tanto a dívida pública como o financiamento dos bancos e a dívida privada".
De facto, a dívida pública portuguesa (previsão para 2011) corresponde a 97,3% do PIB e é inferior à de países como a Irlanda (107%), Grécia (150,2%), Bélgica (100,5%) ou Itália (120,2%). Mesmo as da França e Alemanha andam, respectivamente, pelos 86,8% e 75,9%.
Já a dívida privada, de que pouco se fala e cujas principais fatias são da Banca e do imobiliário, é de 220% do PIB! É essa dívida que a Comissão Administrativa de FMI, BCE e CE vem agora cobrar a pobres, pensionistas e desempregados.
O meu Partido rejeitou o seu envolvimento no ritual de encontros com a chamada “Troika”, porque o considera uma inaceitável atitude de abdicação e submissão nacional. A coerência tem os seus riscos: ser-se silenciado pela comunicação social, não se ser compreendido por uma parte da opinião pública. Seremos compreendidos pelos espoliados no seu trabalho e nos seus parcos rendimentos. Negoceiem, pois, com a “troika”, se acaso ela vem para negociar coisa alguma, e veremos depois se se confirma ou não o que já é antevisão geral: que o pacote de medidas que nos vão impor é igual ou pior do que o que já estava contido no PEC IV. Veremos quais os portugueses que vão pagar a dívida e para onde vai o empréstimo concedido. Veremos nos próximos anos se a geração “à rasca” continua ou não à “rasca”. Veremos se do Trabalho com direitos, restaurados pelo libertador 25 de Abril, sobram alguns dos poucos que já sobram.
Por mim, aqui, hoje, desta tribuna, reafirmo a frontal rejeição a uma intervenção externa, em si mesmo comprometedora do futuro da vida dos portugueses, do país e das suas perspectivas de desenvolvimento soberano. Reafirmo o direito de sermos informados pelo Governo português do conjunto de dados e elementos sobre a real situação financeira, económica e orçamental do país, os seus concretos compromissos e as disponibilidades e recursos próprios. Informação que só o Governo e as instituições nacionais vocacionadas para o efeito devem dar e não qualquer entidade estrangeira ou supranacional sem legitimidade.
Um resgate da dívida pública somente é admissível se assegurar o crescimento económico e salvaguardar as condições sociais dos trabalhadores. Não pode transferir para estes a responsabilidade e os sacrifícios da crise, medidas que reduzem ainda mais as pensões ou a desvalorização dos salários, nem políticas fiscais injustas, que continuarão a agravar a injustiça na redistribuição da riqueza.
Na União Europeia os trabalhadores portugueses trabalham tanto, ou mesmo mais, do que os outros, não trabalham menos horas, mas mais. Não é aí que se encontra a causa do problema.
Os banqueiros dizem não aguentar mais sacrifícios: pagam cada vez menos impostos, nos lucros de 2011 em relação ao ano anterior, com os mesmos lucros, vão pagar metade do imposto. Receberam nos últimos anos milhares de milhões de euros de apoios e avales do Estado. Foram beneficiados com milhares de milhões de transferência de poupanças dos portugueses quando o Governo degradou de forma brutal a remuneração dos certificados de aforro. Estão a embolsar milhões e milhões de euros com as parcerias público-privadas. Durante meses e anos especulou com a dívida pública.
Depois das experiências da Grécia e da Irlanda a intervenção externa não resolverá os problemas, antes agravará o atraso económico do país. Os banqueiros mandam e o Governo obedece. Iremos esgotar recursos no pagamento de uma dívida monstruosa, em vez de canalizá-los para o crescimento económico. Devíamos concertar com outros países com problemas semelhantes para que existisse uma acção convergente que ponha fim à espiral da especulação e exija a revisão do estatuto e dos objectivos do Banco Central Europeu.
O euro está em crise, mas não fomos nós - nem Portugal, nem os seus trabalhadores - que a provocámos. Também o dólar está em alarmante crise, pondo em grave risco a economia mundial, mas de certeza que não fomos nós que a provocamos.
Termino como comecei: nesta data histórica em que recuperámos a nossa liberdade, devíamos reafirmar que a soberania reside no povo português e somente nele. E quero crer que a sua aspiração mais funda e verdadeira é a um mundo melhor, mais justo e mais solidário. Nesta crença tenho vivido, com esta crença morrerei.
Nozes Pires
Assembleia Municipal
segunda-feira, 25 de abril de 2011
A conspiração para invadir o Iraque
Documentos do governo revelam que foram discutidos planos de exploração das reservas de petróleo do Iraque entre ministros do governo e as maiores companhias petrolíferas mundiais no ano anterior ao do destacado papel da Grã-Bretanha na invasão do Iraque.
Os documentos, aqui revelados pela primeira vez, levantam novas questões sobre o envolvimento da Grã-Bretanha na guerra, as quais dividiram o governo de Tony Blair e que apenas foi votado após as suas alegações de que Saddam Hussein tinha armas de destruição massiva.
Minutas de uma série de encontros entre ministros e executivos de petrolíferas contradizem a negação de interesse das companhias petrolíferas e de governos ocidentais da altura.
Os documentos não foram apresentados como prova no inquérito Chilcot em curso sobre o envolvimento do Reino Unido na guerra do Iraque. Em Março de 2003, pouco antes de a Grã-Bretanha entrar em guerra, a Shell denunciou as informações sobre conversações na Downing Street relativamente ao petróleo do Iraque como “altamente inexactas”. A BP negou que tivesse qualquer “interesse estratégico” no Iraque, enquanto Tony Blair se referiu à “teoria da conspiração do petróleo” como “completamente absurda”.
Porém, documentos de Outubro e Novembro do ano anterior traçam um quadro bem diferente.
Cinco meses antes da invasão do Iraque em 2003, a baronesa Symons, então ministra do Comércio, disse à BP que o governo pensava dever ser concedida às empresas de energia britânicas uma parte das enormes reservas de petróleo e gás, como recompensa pelo empenhamento militar de Tony Blair nos planos americanos pela alteração do regime.
Os documentos mostram que Lady Symons concordou em fazer lobby junto do governo Bush a favor da BP, visto que a petrolífera gigante receava estar a ser “eliminada” dos acordos que Washington calmamente estabelecia entre os governos americano, francês e russo e as respectivas empresas de energia.
As minutas de um encontro com a BP, a Shell e a BG (anteriormente British Gas) a 31 de Outubro de 2002 referem: “A baronesa Symons concordou que seria difícil justificar que as companhias britânicas no Iraque perdessem dessa forma, quando o Reino Unido tinha sido ele próprio um claro apoiante do governo dos EUA ao longo da crise.”
O ministro prometeu então “dar conta às companhias, antes do Natal” relativamente aos esforços empreendidos.
O Foreign Office convidou a BP a 6 de Novembro de 2002 para falar sobre as oportunidades no Iraque “após a mudança do regime”. As minutas referem: “ O Iraque é o grande futuro no petróleo. A BP está desesperada para entrar e ansiosa que os acordos políticos possam recusar-lhe essa oportunidade.”
Depois de outro encontro, este em Outubro de 2002, o director do departamento do Médio Oriente no Foreign Office, Edward Chaplin, referiu: “A Shell e a BP não podiam tolerar não tomarem parte activa no Iraque tendo em vista o seu futuro a longo prazo… Ficámos determinados em obter uma fatia aceitável da acção para as companhias do Reino Unido num Iraque pós-Saddam.”
Enquanto a BP insistia em público que “não tinha interesse estratégico” no Iraque, dizia em privado ao Foreign Office que o Iraque era “mais importante do que tudo o que temos visto desde há muito”.
A BP estava preocupada com possibilidade de Washington permitir que o contacto já existente entre a TotalFinaElf e Saddam Hussein se mantivesse após a invasão, o que faria do conglomerado francês a maior companhia petrolífera do mundo. A BP disse ao governo que pretendia assumir “riscos elevados” a fim de obter uma parte das reservas do Iraque, as segundas maiores do mundo.
Mais de 1000 documentos foram obtidos em cinco anos a coberto da liberdade de informação pelo especialista em petróleo Greg Muttitt. Revelam que houve nos fins de 2002 pelo menos cinco reuniões entre civis, ministros e a BP e a Shell.
Os contratos a 20 anos assinados na sequência da invasão foram os maiores na história da indústria do petróleo. Cobriram metade das reservas do Iraque – 60 mil milhões de barris de petróleo, comprados por companhias como a BP e a CNPC (China National Petroleum Company), cujo consórcio conjunto só por si espera fazer £403m ($658m) de lucros por ano com o campo de Rumaila no sul do Iraque.
Na semana passada, o Iraque elevou a produção de petróleo ao nível mais elevado da última década, 2,7 milhões de barris por dia, valor especialmente importante neste momento dada a volatilidade da região e a queda da produção líbia. Muitos dos opositores da guerra suspeitaram que uma das principais ambições de Washington na invasão do Iraque foi garantir uma fonte de petróleo barata e abundante.
Muttitt, cujo livro “Fuel on Fire” é publicado na próxima semana, disse: “Antes da guerra, o governo insistiu longamente que não tinha qualquer interesse no petróleo do Iraque. Estes documentos fornecem a prova de que essa pretensão é mentira”.
“Vemos que o petróleo constituía de facto uma das mais importantes considerações estratégicas do governo e que houve conluio secreto com companhias petrolíferas para lhes dar acesso a esse prémio enorme.”
Lady Simons, de 59 anos, ocupou posteriormente o posto de consultora num banco comercial britânico que lucrou com os contratos de reconstrução do Iraque pós-guerra. No mês passado, ligou-se como consultora não-remunerada ao National Economic Development Board da Líbia depois de o Coronel Gaddafi começar a disparar contra os dissidentes. A BP e a Shell recusaram comentar.
Não era pelo petróleo? O que foi dito antes da invasão
* Memorandum do Foreign Office, 13 de Novembro de 2002, a seguir à reunião com a BP: “O Iraque é o grande futuro no petróleo. A BP está desesperada para entrar e ansiosa que os acordos políticos não lhe neguem a oportunidade de competir. O potencial a longo prazo é enorme…”
* Tony Blair, 6 de Fevereiro de 2003: “Deixem-me falar do assunto do petróleo porque… honestamente, a teoria da conspiração do petróleo é uma das mais absurdas quando a analisamos. O facto é que, se o petróleo do Iraque fosse a nossa preocupação, posso dizer que podíamos provavelmente chegar amanhã a acordo com Saddam em relação ao petróleo. Não é o petróleo que é a questão, são as armas…”
* BP, 12 de Março de 2003: “Não temos qualquer interesse estratégico no Iraque. Se quem quer que chegar ao poder quiser envolvimento ocidental depois da guerra, caso haja guerra, o que sempre dissemos é que deverá ser a nível de competitividade igual. Não forçamos de nenhuma forma o nosso envolvimento.”
* Lord Browne, então director executivo da BP, 12 de Março de 2003: “Não é, nem na minha opinião, nem na da BP, uma guerra de petróleo. O Iraque é um produtor importante, mas deve decidir o que fazer com o seu património e o seu petróleo.”
* A Shell, a 12 de Março de 2003, afirmou que as informações sobre ter discutido oportunidades para o petróleo com a Downing Street eram “altamente inexactas”, acrescentado: “Nunca procurámos encontros com funcionários do governo britânico sobre a questão do Iraque. O assunto só surgiu durante as conversas nos encontros normais que temos de vez em quando com funcionários… Nunca pedimos ‘contratos’.”
* Publicado no “Independent”, 19.04.2011
Tradução: Jorge Vasconcelos
:: ODiario.info ::
Os documentos, aqui revelados pela primeira vez, levantam novas questões sobre o envolvimento da Grã-Bretanha na guerra, as quais dividiram o governo de Tony Blair e que apenas foi votado após as suas alegações de que Saddam Hussein tinha armas de destruição massiva.
Minutas de uma série de encontros entre ministros e executivos de petrolíferas contradizem a negação de interesse das companhias petrolíferas e de governos ocidentais da altura.
Os documentos não foram apresentados como prova no inquérito Chilcot em curso sobre o envolvimento do Reino Unido na guerra do Iraque. Em Março de 2003, pouco antes de a Grã-Bretanha entrar em guerra, a Shell denunciou as informações sobre conversações na Downing Street relativamente ao petróleo do Iraque como “altamente inexactas”. A BP negou que tivesse qualquer “interesse estratégico” no Iraque, enquanto Tony Blair se referiu à “teoria da conspiração do petróleo” como “completamente absurda”.
Porém, documentos de Outubro e Novembro do ano anterior traçam um quadro bem diferente.
Cinco meses antes da invasão do Iraque em 2003, a baronesa Symons, então ministra do Comércio, disse à BP que o governo pensava dever ser concedida às empresas de energia britânicas uma parte das enormes reservas de petróleo e gás, como recompensa pelo empenhamento militar de Tony Blair nos planos americanos pela alteração do regime.
Os documentos mostram que Lady Symons concordou em fazer lobby junto do governo Bush a favor da BP, visto que a petrolífera gigante receava estar a ser “eliminada” dos acordos que Washington calmamente estabelecia entre os governos americano, francês e russo e as respectivas empresas de energia.
As minutas de um encontro com a BP, a Shell e a BG (anteriormente British Gas) a 31 de Outubro de 2002 referem: “A baronesa Symons concordou que seria difícil justificar que as companhias britânicas no Iraque perdessem dessa forma, quando o Reino Unido tinha sido ele próprio um claro apoiante do governo dos EUA ao longo da crise.”
O ministro prometeu então “dar conta às companhias, antes do Natal” relativamente aos esforços empreendidos.
O Foreign Office convidou a BP a 6 de Novembro de 2002 para falar sobre as oportunidades no Iraque “após a mudança do regime”. As minutas referem: “ O Iraque é o grande futuro no petróleo. A BP está desesperada para entrar e ansiosa que os acordos políticos possam recusar-lhe essa oportunidade.”
Depois de outro encontro, este em Outubro de 2002, o director do departamento do Médio Oriente no Foreign Office, Edward Chaplin, referiu: “A Shell e a BP não podiam tolerar não tomarem parte activa no Iraque tendo em vista o seu futuro a longo prazo… Ficámos determinados em obter uma fatia aceitável da acção para as companhias do Reino Unido num Iraque pós-Saddam.”
Enquanto a BP insistia em público que “não tinha interesse estratégico” no Iraque, dizia em privado ao Foreign Office que o Iraque era “mais importante do que tudo o que temos visto desde há muito”.
A BP estava preocupada com possibilidade de Washington permitir que o contacto já existente entre a TotalFinaElf e Saddam Hussein se mantivesse após a invasão, o que faria do conglomerado francês a maior companhia petrolífera do mundo. A BP disse ao governo que pretendia assumir “riscos elevados” a fim de obter uma parte das reservas do Iraque, as segundas maiores do mundo.
Mais de 1000 documentos foram obtidos em cinco anos a coberto da liberdade de informação pelo especialista em petróleo Greg Muttitt. Revelam que houve nos fins de 2002 pelo menos cinco reuniões entre civis, ministros e a BP e a Shell.
Os contratos a 20 anos assinados na sequência da invasão foram os maiores na história da indústria do petróleo. Cobriram metade das reservas do Iraque – 60 mil milhões de barris de petróleo, comprados por companhias como a BP e a CNPC (China National Petroleum Company), cujo consórcio conjunto só por si espera fazer £403m ($658m) de lucros por ano com o campo de Rumaila no sul do Iraque.
Na semana passada, o Iraque elevou a produção de petróleo ao nível mais elevado da última década, 2,7 milhões de barris por dia, valor especialmente importante neste momento dada a volatilidade da região e a queda da produção líbia. Muitos dos opositores da guerra suspeitaram que uma das principais ambições de Washington na invasão do Iraque foi garantir uma fonte de petróleo barata e abundante.
Muttitt, cujo livro “Fuel on Fire” é publicado na próxima semana, disse: “Antes da guerra, o governo insistiu longamente que não tinha qualquer interesse no petróleo do Iraque. Estes documentos fornecem a prova de que essa pretensão é mentira”.
“Vemos que o petróleo constituía de facto uma das mais importantes considerações estratégicas do governo e que houve conluio secreto com companhias petrolíferas para lhes dar acesso a esse prémio enorme.”
Lady Simons, de 59 anos, ocupou posteriormente o posto de consultora num banco comercial britânico que lucrou com os contratos de reconstrução do Iraque pós-guerra. No mês passado, ligou-se como consultora não-remunerada ao National Economic Development Board da Líbia depois de o Coronel Gaddafi começar a disparar contra os dissidentes. A BP e a Shell recusaram comentar.
Não era pelo petróleo? O que foi dito antes da invasão
* Memorandum do Foreign Office, 13 de Novembro de 2002, a seguir à reunião com a BP: “O Iraque é o grande futuro no petróleo. A BP está desesperada para entrar e ansiosa que os acordos políticos não lhe neguem a oportunidade de competir. O potencial a longo prazo é enorme…”
* Tony Blair, 6 de Fevereiro de 2003: “Deixem-me falar do assunto do petróleo porque… honestamente, a teoria da conspiração do petróleo é uma das mais absurdas quando a analisamos. O facto é que, se o petróleo do Iraque fosse a nossa preocupação, posso dizer que podíamos provavelmente chegar amanhã a acordo com Saddam em relação ao petróleo. Não é o petróleo que é a questão, são as armas…”
* BP, 12 de Março de 2003: “Não temos qualquer interesse estratégico no Iraque. Se quem quer que chegar ao poder quiser envolvimento ocidental depois da guerra, caso haja guerra, o que sempre dissemos é que deverá ser a nível de competitividade igual. Não forçamos de nenhuma forma o nosso envolvimento.”
* Lord Browne, então director executivo da BP, 12 de Março de 2003: “Não é, nem na minha opinião, nem na da BP, uma guerra de petróleo. O Iraque é um produtor importante, mas deve decidir o que fazer com o seu património e o seu petróleo.”
* A Shell, a 12 de Março de 2003, afirmou que as informações sobre ter discutido oportunidades para o petróleo com a Downing Street eram “altamente inexactas”, acrescentado: “Nunca procurámos encontros com funcionários do governo britânico sobre a questão do Iraque. O assunto só surgiu durante as conversas nos encontros normais que temos de vez em quando com funcionários… Nunca pedimos ‘contratos’.”
* Publicado no “Independent”, 19.04.2011
Tradução: Jorge Vasconcelos
:: ODiario.info ::
domingo, 24 de abril de 2011
ERICH FROMM
Erich Fromm é um dos psicanalistas mais populares do mundo e, ao mesmo tempo, um dos menos considerados nos meios acadêmicos. A sua popularidade pode ser vista em suas inúmeras obras publicadas e reeditadas em vários países. A imagem negativa que ele possui nos meios acadêmicos se deve, por um lado, a algumas de suas afirmações e concepções e, por outro, à sua própria popularidade, que provoca um preconceito acadêmico de uma elite intelectual que quer um distanciamento em relação ao "grande público".
Erich Fromm: síntese entre Freud e Marx.
Fromm nasceu na Alemanha e foi um dos fundadores do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt, que mais tarde se tornaria conhecido como Escola de Frankfurt, ao lado de Karl Korsch e vários outros pesquisadores, que depois passou a ser identificada com os nomes de Theodor Adorno, Max Horkheimer, Walter Benjamin e Herbert Marcuse. Fromm participou da pesquisa sobre "a personalidade autoritária", que previu a ascensão do nazismo. As primeiras obras de Fromm são marcadas por um freudismo ortodoxo (Dobrenkov, 1978); depois, ele se torna um dos principais representantes do que se convencionou chamar "neofreudismo", "revisionismo", "freudo-marxismo" e "culturalismo" dentre outras expressões. Embora Fromm fosse colocado junto com os demais "revisionistas", "culturalistas" e "freudo-marxistas", ele ao mesmo tempo em que se aproximava de várias teses culturalistas de Karen Horney, Suliwan e outros, bem como do freudo-marxismo de Reich, para citar apenas alguns nomes, também se diferenciava e assumia uma posição distinta em vários aspectos.
Após a ascensão do nazismo, Fromm, tal como muitos intelectuais de sua época, abandona a Alemanha e vai para os Estados Unidos. Neste país ele irá produzir suas obras mais conhecidas e importantes, se tornando um dos grandes nomes da psicanálise a nível mundial. A sua trilogia composta pelos livros A Análise do Homem; O Medo à Liberdade e Psicanálise da Sociedade Contemporânea se tornou uma das mais importantes do século 20 para a psicanálise. Sua tentativa de unir psicanálise e marxismo também foi importante e foi expressa mais explicitamente em suas obras Meu Encontro com Marx e Freud e A Crise da Psicanálise. Os seus estudos sobre variadas questões (aldeia camponesa, destrutividade humana, história da psicanálise, pensamento de Marx, pensamento de Freud, religião, amor, contos de fada, etc.) possuem um fio condutor que perpassa toda a sua obra. A base do seu pensamento é um humanismo radical que se inspira fundamentalmente nas teses de Marx e Freud.
Fromm parte da idéia de natureza humana para unir Marx e Freud e elaborar sua concepção de psicanálise. Em O Conceito Marxista do Homem, Fromm abre a discussão em torno da alienação e da natureza humana exposta nos Manuscritos de Paris, escritos por Marx, o que será desenvolvido em outras obras. A sociedade de classes produz a alienação e esta é uma negação da natureza humana.
"Deu-nos Marx uma definição da "essência da natureza humana", da "natureza do homem em geral"? Deu, sim. Nos Manuscritos Filosóficos, Marx define o caráter específico dos seres humanos como "atividade livre e consciente", em contraste com a natureza do animal, que "não distingue a atividade de si próprio... e é a sua atividade". Em seus escritos posteriores, embora tenha abandonado o conceito de "caráter da espécie", a ênfase continua sendo a mesma: a atividade como característica da natureza não-mutilada e não-fragmentada do homem. Em O Capital, Marx define o homem como um "animal social", criticando a definição de Aristóteles do homem como "animal político" como sendo "tão característica da antiga sociedade clássica quanto a definição de Franklin do homem como "animal fabricante de ferramentas" é característica do reino ianque". A psicologia de Marx, assim como sua filosofia, é uma teoria da atividade humana e concordo inteiramente com a opinião de que a maneira mais adequada para descrever a definição de homem de Marx é a de um ser de práxis (...) (Fromm, 1977, p. 63).
Fromm critica aqueles que deformaram o pensamento de Marx, transformando-o num economicista e empobrecendo o seu pensamento e também critica Freud e sua concepção de homem como ser fechado e movido pelas forças da autopreservação e instintos sexuais (Fromm, 1977). As críticas de Fromm a Freud (1977; 1980) abrem espaço para ele partir da concepção de natureza humana em Marx e assim apresentar uma renovação da psicanálise num sentido freudo-marxista, indo além de várias outras tentativas neste sentido, tais como a de Osborn (1966), Reich (1973), entre outros. Ele se afasta da concepção biologista de natureza humana expressa por Freud e retoma a concepção de Marx (De La Fuente, 1989), entendendo a produtividade – termo que se presta a equívocos, como veremos adiante – como característica fundamental da natureza humana (Fromm, 1978).
in monografias.com
quinta-feira, 21 de abril de 2011
Carl Gustav Jung
Carl Gustav Jung (Kesswil, 26 de julho de 1875 — Küsnacht, 6 de junho de 1961) foi um psiquiatra suíço e fundador da psicologia analítica, também conhecida como psicologia junguiana.
Primeiros estudos
Jung em 1909.Já estudante de medicina, decide dedicar-se à, então obscura, especialidade de psiquiatria, após a leitura ocasional de um livro do psiquiatra Krafft-Ebing. Em 1900, Jung tornou-se interno na Clínica Psiquiátrica Burgholzli, em Zurique, então dirigida pelo psiquiatra Eugen Bleuler, famoso pela sua concepção de esquizofrenia.
Seguindo o seu treino prático na clínica, ele conduziu estudos com a associação de palavras. Já nessa época Jung propunha uma atitude humanista frente aos pacientes. O médico deveria "propor perguntas que digam respeito ao homem em sua totalidade e não limitar-se apenas aos sintomas". Desde cedo ele já adiantava a ideia do que hoje está ganhando força em todos os campos com o nome de "Holismo", o ponto de vista do homem integral. A seus olhos "diante do paciente só existe a compreensão individual". Por isso evitava generalizar um método, uma panaceia para um determinado tipo de anomalia psíquica. Cada encontro é único e, sendo assim, não pode incorrer em qualquer tipo de padronização.
Encontro com Sigmund Freud.
Em 1902 deslocou-se a Paris onde estudou com Pierre Janet, regressando no ano seguinte ao hospital de Burgholzli onde assumiu um cargo de chefia e onde, em 1904, montou um laboratório experimental em que implementou o seu célebre teste de associação de palavras para o diagnóstico psiquiátrico. Neste ínterim, Jung entra em contato com as obras de Sigmund Freud (1856-1939). Jung viu em Freud um companheiro para desbravar os caminhos da mente. Enviou-lhe copias de seus trabalhos sobre a existência do inconsciente, confirmando concepções freudianas de recalque e repressão. Ambos encantaram-se um com o outro, principalmente porque os dois desenvolviam trabalhos inéditos em medicina e psiquiatria.
Carta de Freud a Jung (de 1913).
A partir de então Freud e Jung passaram a se corresponder (359 cartas que posteriormente foram publicadas entre 1906 a 1913). O primeiro encontro entre eles, em 27 de fevereiro de 1907, transformou-se numa conversa que durou treze horas ininterruptas. Depois deste encontro estabeleceram uma amizade de aproximadamente sete anos, durante a qual trocavam informações sobre seus sonhos, análises, trocavam confidências, discutiam casos clínicos.
Porém, tamanha identidade de pensamentos e amizade não conseguia esconder algumas diferenças fundamentais. Jung jamais conseguiu aceitar a insistência de Freud de que as causas dos conflitos psíquicos sempre envolveriam algum trauma de natureza sexual, e Freud não admitia o interesse de Jung pelos fenômenos espirituais como fontes válidas de estudo em si. O rompimento entre eles foi inevitável. Seria nos anos 30 do século XX que esta divergência atingiria o auge. Se por um lado os livros de Freud eram proibidos e queimados publicamente pelos Nazistas, sendo Freud obrigado a deixar Viena pouco depois da anexação da Áustria, doente, nos seus 80 anos, para se dirigir ao exílio em Londres enquanto que quatro irmãs suas não foram autorizadas a deixar a Áustria, tendo perecido no Holocausto nos campos de concentração de Auschwitz e de Thereseinstadt, por seu lado Carl Jung tornar-se-ia neste mesmo período uma das faces mais visíveis da psiquiatria "alemã" da época.
Confronto com o inconscienteApós a separação de Freud, Jung sentiu o chão desmoronar-se sob os pés. O sentido da sua vida ficou em primeiro plano. Seguiu-se uma série de sonhos e visões que forneceram material para o trabalho de toda uma vida. Dir-se-ia que se ele não houvesse se empenhado na integração de todo aquele material que jorrou qual lava derretida, teria fatalmente sucumbido a uma psicose. Mas algo nele o impelia a ir adiante na compreensão de tudo o que se originava naturalmente de seu inconsciente. Em suas palavras, "Os anos durante os quais me detive nessas imagens interiores constituíram a época mais importante da minha vida e neles todas as coisas essenciais se decidiram. (…) Toda a minha atividade ulterior consistiu em elaborar o que jorrava do inconsciente naqueles anos (…)".
Foi durante essa fase de confronto com o inconsciente que ele desenvolveu o que chamou de "imaginação ativa", um método de interação com o inconsciente onde este se investe espontaneamente de várias personificações (pessoas conhecidas e desconhecidas, animais, plantas, lugares, acontecimentos, etc.). Na imaginação ativa interagimos ativamente com elas, isto é, discordando, quando for o caso, opinando, questionando e até tomando providências com relação ao que é tratado, isso tudo pela imaginação. Ela difere da fantasia passiva porque nesta não atuamos no quadro mental, de forma a participarmos do drama vivenciado, mas apenas nos contentamos em assistir o desenrolar do roteiro desconhecido. Pela imaginação ativa existe não só a possibilidade de compreensão do inconsciente, mas também de interação com este, de forma que o transformamos e somos transformados no processo. Um personagem pode nos fazer entender falando explicitamente do motivo de, por exemplo, estarmos com insônia. Esse enfoque trata a psique como uma realidade em si, de forma tão literal interiormente, quanto uma maçã nos é real exteriormente, ao contrário de Freud que insistia em substituir uma determinada imagem por outra de cunho sexual.
A psicologia analíticaAnterior mesmo ao período em que estavam juntos, Jung começou a desenvolver um sistema teórico que chamou, originalmente, de "Psicologia dos Complexos", mais tarde chamando-o de "Psicologia Analítica", como resultado direto de seu contato prático com seus pacientes. O conceito de inconsciente já está bem sedimentado na sólida base psiquiátrica de Jung antes de seu contato pessoal com Freud, mas foi com Freud, real formulador do conceito em termos clínicos, que Jung pôde se basear para aprofundar seus próprios estudos. O contato entre os dois homens foi extremamente rico para ambos, durante o período de parceria entre eles. Aliás, foi Jung quem cunhou o termo e a noção básica de "complexo", que foi adotado por Freud.
Utilizando-se do conceito de "complexos" e do estudo dos sonhos e de desenhos, Jung passou a se dedicar profundamente aos meios pelos quais se expressa o inconsciente. Em sua teoria, enquanto o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos: da mesma forma que animais e homens parecem possuir atitudes inatas, chamadas de instintos ("fato" este negado por correntes de ciências humanas, como por exemplo em antropologia o culturalismo de Franz Boas ), também é provável que em nosso psiquismo exista um material psíquico com alguma analogia com os instintos.
in Wikipédia
Primeiros estudos
Jung em 1909.Já estudante de medicina, decide dedicar-se à, então obscura, especialidade de psiquiatria, após a leitura ocasional de um livro do psiquiatra Krafft-Ebing. Em 1900, Jung tornou-se interno na Clínica Psiquiátrica Burgholzli, em Zurique, então dirigida pelo psiquiatra Eugen Bleuler, famoso pela sua concepção de esquizofrenia.
Seguindo o seu treino prático na clínica, ele conduziu estudos com a associação de palavras. Já nessa época Jung propunha uma atitude humanista frente aos pacientes. O médico deveria "propor perguntas que digam respeito ao homem em sua totalidade e não limitar-se apenas aos sintomas". Desde cedo ele já adiantava a ideia do que hoje está ganhando força em todos os campos com o nome de "Holismo", o ponto de vista do homem integral. A seus olhos "diante do paciente só existe a compreensão individual". Por isso evitava generalizar um método, uma panaceia para um determinado tipo de anomalia psíquica. Cada encontro é único e, sendo assim, não pode incorrer em qualquer tipo de padronização.
Encontro com Sigmund Freud.
Em 1902 deslocou-se a Paris onde estudou com Pierre Janet, regressando no ano seguinte ao hospital de Burgholzli onde assumiu um cargo de chefia e onde, em 1904, montou um laboratório experimental em que implementou o seu célebre teste de associação de palavras para o diagnóstico psiquiátrico. Neste ínterim, Jung entra em contato com as obras de Sigmund Freud (1856-1939). Jung viu em Freud um companheiro para desbravar os caminhos da mente. Enviou-lhe copias de seus trabalhos sobre a existência do inconsciente, confirmando concepções freudianas de recalque e repressão. Ambos encantaram-se um com o outro, principalmente porque os dois desenvolviam trabalhos inéditos em medicina e psiquiatria.
Carta de Freud a Jung (de 1913).
A partir de então Freud e Jung passaram a se corresponder (359 cartas que posteriormente foram publicadas entre 1906 a 1913). O primeiro encontro entre eles, em 27 de fevereiro de 1907, transformou-se numa conversa que durou treze horas ininterruptas. Depois deste encontro estabeleceram uma amizade de aproximadamente sete anos, durante a qual trocavam informações sobre seus sonhos, análises, trocavam confidências, discutiam casos clínicos.
Porém, tamanha identidade de pensamentos e amizade não conseguia esconder algumas diferenças fundamentais. Jung jamais conseguiu aceitar a insistência de Freud de que as causas dos conflitos psíquicos sempre envolveriam algum trauma de natureza sexual, e Freud não admitia o interesse de Jung pelos fenômenos espirituais como fontes válidas de estudo em si. O rompimento entre eles foi inevitável. Seria nos anos 30 do século XX que esta divergência atingiria o auge. Se por um lado os livros de Freud eram proibidos e queimados publicamente pelos Nazistas, sendo Freud obrigado a deixar Viena pouco depois da anexação da Áustria, doente, nos seus 80 anos, para se dirigir ao exílio em Londres enquanto que quatro irmãs suas não foram autorizadas a deixar a Áustria, tendo perecido no Holocausto nos campos de concentração de Auschwitz e de Thereseinstadt, por seu lado Carl Jung tornar-se-ia neste mesmo período uma das faces mais visíveis da psiquiatria "alemã" da época.
Confronto com o inconscienteApós a separação de Freud, Jung sentiu o chão desmoronar-se sob os pés. O sentido da sua vida ficou em primeiro plano. Seguiu-se uma série de sonhos e visões que forneceram material para o trabalho de toda uma vida. Dir-se-ia que se ele não houvesse se empenhado na integração de todo aquele material que jorrou qual lava derretida, teria fatalmente sucumbido a uma psicose. Mas algo nele o impelia a ir adiante na compreensão de tudo o que se originava naturalmente de seu inconsciente. Em suas palavras, "Os anos durante os quais me detive nessas imagens interiores constituíram a época mais importante da minha vida e neles todas as coisas essenciais se decidiram. (…) Toda a minha atividade ulterior consistiu em elaborar o que jorrava do inconsciente naqueles anos (…)".
Foi durante essa fase de confronto com o inconsciente que ele desenvolveu o que chamou de "imaginação ativa", um método de interação com o inconsciente onde este se investe espontaneamente de várias personificações (pessoas conhecidas e desconhecidas, animais, plantas, lugares, acontecimentos, etc.). Na imaginação ativa interagimos ativamente com elas, isto é, discordando, quando for o caso, opinando, questionando e até tomando providências com relação ao que é tratado, isso tudo pela imaginação. Ela difere da fantasia passiva porque nesta não atuamos no quadro mental, de forma a participarmos do drama vivenciado, mas apenas nos contentamos em assistir o desenrolar do roteiro desconhecido. Pela imaginação ativa existe não só a possibilidade de compreensão do inconsciente, mas também de interação com este, de forma que o transformamos e somos transformados no processo. Um personagem pode nos fazer entender falando explicitamente do motivo de, por exemplo, estarmos com insônia. Esse enfoque trata a psique como uma realidade em si, de forma tão literal interiormente, quanto uma maçã nos é real exteriormente, ao contrário de Freud que insistia em substituir uma determinada imagem por outra de cunho sexual.
A psicologia analíticaAnterior mesmo ao período em que estavam juntos, Jung começou a desenvolver um sistema teórico que chamou, originalmente, de "Psicologia dos Complexos", mais tarde chamando-o de "Psicologia Analítica", como resultado direto de seu contato prático com seus pacientes. O conceito de inconsciente já está bem sedimentado na sólida base psiquiátrica de Jung antes de seu contato pessoal com Freud, mas foi com Freud, real formulador do conceito em termos clínicos, que Jung pôde se basear para aprofundar seus próprios estudos. O contato entre os dois homens foi extremamente rico para ambos, durante o período de parceria entre eles. Aliás, foi Jung quem cunhou o termo e a noção básica de "complexo", que foi adotado por Freud.
Utilizando-se do conceito de "complexos" e do estudo dos sonhos e de desenhos, Jung passou a se dedicar profundamente aos meios pelos quais se expressa o inconsciente. Em sua teoria, enquanto o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos: da mesma forma que animais e homens parecem possuir atitudes inatas, chamadas de instintos ("fato" este negado por correntes de ciências humanas, como por exemplo em antropologia o culturalismo de Franz Boas ), também é provável que em nosso psiquismo exista um material psíquico com alguma analogia com os instintos.
in Wikipédia
quarta-feira, 20 de abril de 2011
CAPITALISMO MAFIOSO
19-04-2011
La evolución de las especies: De la mafia tradicional al sistema criminal
Las nuevas caras del capitalismo mafioso
Roberto Scarpinato
Antimafiaduemila.com
Ponencia del Dr. Roberto Scarpinato, Procurador General de la Corte de Apelaciones de Caltanissetta, presentada en Bruselas los días 29 y 30 de marzo durante los debates del Parlamento Europeo, titulada: «Hacia una estrategia europea para combatir el crimen organizado trasnacional». Traducido para Rebelión por Jorge Aldao y revisado por Caty R.
Uno de los principales obstáculos para el desarrollo de una estrategia eficaz contra la propagación de la criminalidad organizada a nivel mundial está constituido por los prejuicios culturales que continúan dominando a la opinión pública y a los políticos de muchos países.
El primer prejuicio cultural es creer que el crimen organizado, aunque constituye un peligro a tener en cuenta, todavía es algo propio de pequeñas minorías de individuos que trabajan en los sórdidos submundos de la mala vida, en un mundo separado, diferente de aquel en el que nosotros, honestos ciudadanos, vivimos todos los días.
Se cree, por lo tanto, que la sociedad civil de los países europeos con democracia desarrollada tiene ya los anticuerpos adecuados para prevenir la propagación de la mafia.
También es un concepto generalizado la equivocada opinión de que las mafias son un fenómeno en los países del mundo donde están históricamente arraigadas, y que para evitar el peligro de la propagación de sus actividades delictivas en otros países, es suficiente con una adecuada supervisión represiva y la mejora de la calidad de la cooperación internacional entre las autoridades judiciales y policiales.
Por desgracia, la realidad es muy distinta.
El mundo de la delincuencia transnacional y el mundo de la gente normal son dos caras de una misma moneda; es más, se alimentan mutuamente.
Aquello que creemos combatir fuera de nosotros se encuentra dentro de nosotros, en nuestra vida cotidiana, aunque no seamos conscientes de ello.
Para entender esta circunstancia elemental, basta con considerar que el crimen organizado ofrece una variedad de bienes y servicios ilegales a los consumidores que lo consienten.
n cuanto a los bienes, proporciona drogas, seres humanos para la prostitución, la esclavitud y la explotación laboral, las armas y la pornografía infantil.
En el sector de los servicios proporciona capital de inversión, gestión de residuos tóxicos ilegales y nocivos para el medio ambiente, facturación falsa para evadir impuestos y facilita, usando la violencia o la corrupción, la obtención de licencias y concesiones por parte de la autoridad pública.
Los señalados sólo son algunos ejemplos entre los muchos sectores del extenso mercado de las actividades ilegales en todo el mundo.
El suministro de estos bienes y servicios ilegales es la resultante de la existencia de una fuerte demanda por parte de la sociedad civil
Los delincuentes existen y prosperan porque millones de ciudadanos quieren comprar bienes y servicios ilegales. Ellos son el espejo que refleja los vicios secretos de muchas personas comunes en los países más diversos del mundo.
De esta manera, la mayor parte de la actividad criminal se puede calificar como un fenómeno de mercado regido por las leyes de la oferta y la demanda.
La demanda de bienes y servicios ofrecidos por la mafia ha tomado dimensiones macroeconómicas, que ya no se pueden controlar con las herramientas del derecho penal, como consecuencia de la globalización económica que ha ampliado extraordinariamente el número de consumidores finales de los productos ofrecidos.
A propósito de las relaciones estructurales entre la dinámica del mercado global y el incremento de la delincuencia trasnacional, me limitaré a señalar dos ejemplos que atañen al mercado de las drogas y de la prostitución.
A finales de los años ochenta el mercado mundial de cocaína estaba limitado sólo a los países occidentales y ya estaba saturado, tanto que los precios de la droga se había reducido para ponerla al alcance de nuevos consumidores en los segmentos más pobres de la población.
Ahora la situación ha cambiado por completo, como resultado de la globalización al abrirse nuevos mercados con un gran potencial de consumidores.
El nacimiento en China de una nueva clase media acomodada con más de 250 millones de personas que aspiran a un tipo de consumo al estilo occidental y el crecimiento progresivo de la renta media en la población de Europa del Este y en los países emergentes, han sentado las bases para el desarrollo de un nuevo mercado global de consumidores de drogas, que se estima que llegará a un 15% de la población mundial en las próximas dos décadas.
La expansión global y en tan poco tiempo del mercado de estupefacientes en todo el mundo, volvería impotentes las estructuras penales represivas a pesar de todos los esfuerzos de la cooperación internacional, habida cuenta de que todas las políticas de erradicación de las plantaciones han sido ineficaces.
Los ingresos derivados del mercado mundial de las drogas experimentarán un salto tan grande que darán a las organizaciones delictivas transnacionales una porción enorme de riqueza, y por lo tanto de poder global, mayor que la de los Estados y las multinacionales más grandes.
La consiguiente transformación en términos políticos de semejante poder económico supondría la construcción de una nueva jerarquía, de facto, entre las potencias del mundo.
Por esta razón, algunos predicen que la política de liberalización de las drogas será, tarde o temprano, un resultado inevitable impuesto por la desproporción de fuerzas.
Este primer ejemplo ayuda a entender que las estrategias para enfrentar a la delincuencia transnacional deberían articularse en varios niveles, dependiendo de la evolución de las dinámicas macroeconómicas y macropolíticas, de manera realista y teniendo en cuenta que la delincuencia transnacional se ha convertido en uno de los actores del gran juego del poder en el mundo.
Un segundo ejemplo es el mercado de la prostitución
Hasta finales de los años ochenta, la oferta de mujeres para la prostitución se limitaba al mercado nacional aprovechando los recursos locales, por lo que esta área no la gestionaba el crimen organizado sino, principalmente, delincuentes individuales o pequeñas organizaciones que operaban en pequeñas porciones de territorio.
En los años noventa, la repentina entrada en el mercado ilegal de la prostitución de cientos de miles de mujeres de Rusia y de Europa del Este, reducidas a la pobreza por el repentino colapso del imperio soviético -que en el pasado garantizaba el trabajo femenino para el 80% de las mujeres-, así como de las mujeres de los países africanos, ha provocado una revolución en este segmento del mercado que ha dado lugar a un cambio radical en los protagonistas del crimen y en su producción ilegal.
El aumento de la oferta se ha visto acompañado por un incremento cada vez más importante de la demanda en los países occidentales, incluso en países como Israel, donde la oferta de prostitutas era muy reducida, siendo suficientes los recursos locales.
La necesidad de administrar el tráfico a escala industrial, en el que están implicados diferentes países -aquéllos donde se reclutan las mujeres, los de tránsito y los de destino final- ha dado lugar a una división internacional del trabajo entre las mafias de varios países que corresponden a las diferentes etapas del proceso de producción y de valor añadido.
Así las mafias rusas, búlgaras y rumanas se dedican a la contratación de mujeres en los países de origen.
La delincuencia de los Balcanes está especializada en el tránsito y el transporte hacia varios países occidentales.
En países como Italia, donde existen mafias locales que controlan el territorio, se llega a acuerdos económicos y de intercambio entre las mafias locales y las extranjeras
La ‘Ndrangheta (1) calabresa se ha especializado en ofrecer un servicio a las mafias extranjeras que consiste en el blanqueo del dinero producto de la prostitución y reteniendo un porcentaje de ese dinero blanqueado.
La raíz de esta reestructuración extraordinaria del mercado de la prostitución, los criminales comunes que antes manejaban la prostitución local con métodos artesanales fueron desplazados por las poderosas mafias internacionales y utilizados como mano de obra barata.
Este fenómeno es interesante porque muestra que incluso el mercado ilegal está dominado por «la misma dura selección darwiniana» que caracteriza a la competencia en el mercado legal.
Como es sabido, en los sectores más lucrativos de la economía legal el mercado ha sido conquistado, y por lo tanto dominado, por oligopolios económicos cada vez más poderosos que han engullido e incorporado a las empresas más pequeñas.
De la misma manera, en el mercado ilegal las mafias transnacionales -que pueden compararse con grandes oligopolios criminales- van fagocitando progresivamente e incorporando la delincuencia común expulsada por la fuerza de los sectores más rentables.
Esa «selección evolutiva de las especies» sugiere que el crimen organizado está destinado a convertirse poco a poco en la forma criminal estable y dominante del tercer milenio en todos los países del mundo.
Los ejemplos básicos señalados hasta aquí demuestran cuán lejos de la realidad están los prejuicios culturales que he mencionado al principio de mi informe, ya que esos prejuicios reducen las mafias a simples fenómenos locales derivados de peculiares condiciones ambientales.
Esta tendencia histórica inevitable está determinando una revolución en el universo del crimen que gira menos en torno al individuo y cada vez más en torno a las organizaciones, insensibles a la suerte de sus componentes individuales y a la apropiación de pequeñas porciones de la facturación ilegal global.
El viejo derecho penal de la gente parece destinado a convertirse en un derecho de la pre-modernidad, reservado sólo a las formas tradicionales de la delincuencia, mientras que el nuevo derecho penal de las sociedades, todavía en lenta gestación, aparece sólo como una de las palancas de una estrategia global en múltiples niveles que, para abordar los fenómenos descritos, deberá operar simultáneamente en diferentes planos, actuando en el nivel macropolítico y macroinstitucional.
Los ejemplos presentados hasta ahora conciernen a las relaciones de mercado, al intercambio consensuado entre los miembros de la delincuencia organizada y los millones de ciudadanos «normales» que son los consumidores de bienes y servicios ilegales.
Mucho más complejas son las relaciones y la colusión de intereses entre la mafia y las empresas que operan en el mercado legal y que han dado lugar no sólo a relaciones de intercambio, sino también a la creación de un capitalismo mixto, constituido por la fusión de capitales legales e ilegales, que se está convirtiendo en un componente estructural importante del capitalismo mundial.
En este sentido, la experiencia italiana ha puesto de manifiesto que el fenómeno no es exclusivo de Italia, aunque allí se muestra la vanguardia de una tendencia internacional.
Hasta hace unos años, en Italia había una difundida aunque equivocada idea de que la comunidad empresarial era la víctima, con pocas excepciones, de la delincuencia organizada que exigía, por medio de la violencia y la intimidación, el pago de sobornos, el empleo de mano de obra y la concesión de subcontratos.
Los empresarios acusados de complicidad se defendían admitiendo que se vieron obligados a ceder a las exigencias de la mafia para salvarse a sí mismos y a sus empresas.
Pero las revelaciones de muchos antiguos mafiosos convertidos en colaboradores de la justicia y la evidencia recogida por medio de escuchas telefónicas y ambientales han sacado a la luz en los últimos veinte años una realidad del mundo empresarial mucho más compleja.
Junto a la categoría de víctimas, también hay un montón de empresarios que aplicaron los métodos mafiosos para ganar posiciones de dominio en el mercado.
En particular en diversos procesos relacionados con la mafia siciliana, se ha encontrado que en sectores líderes de la comunidad empresarial, cuyos exponentes a menudo han desempeñado también un papel de liderazgo en las diversos asociaciones de empleadores, han utilizado sus relaciones políticas y sus relaciones con la mafia tradicional para convertirse en reguladores de amplios sectores del mercado de acuerdo con la lógica del oligopolio.
En esos sectores han formado cárteles de empresas que gestionan toda la cadena productiva.
La dirección de estos cárteles que operan en diferentes partes del territorio y en los diversos sectores del mercado, de acuerdo con una división de esferas de influencia, es asumida por los empresarios que tienen la función de fungir como «hombres bisagra» entre los políticos y la mafia, dictando las normas de ingreso, fijando los precios, imponiendo condiciones a la mano de obra, señalando a los proveedores, etc.
La mayoría de los empleadores han aceptado estas estructuras por varias razones:
En primer lugar, porque las numerosas empresas que participaron en los cárteles se han convertido en parte de un sistema sustancialmente proteccionista que elimina los costos y riesgos de la competencia, asegurándose el reparto del mercado y el beneficio de acuerdo con un sistema de rotación interna.
En segundo lugar, porque rebelarse contra los líderes de los cárteles es exponerse a una doble venganza: la política y la mafiosa.
La venganza política consiste en el ostracismo para las empresas díscolas a las que se excluye de la posibilidad de obtener financiación pública del Estado o del gobierno europeo, dirigido por los políticos, y en ser sancionadas de diversas maneras por las burocracias administrativas que niegan la autorización de los pagos o los retrasan hasta llevar a determinadas empresas al riesgo de quiebra.
La represalia mafiosa consiste en el uso de la violencia física contra los pocos que se atrevieron a rebelarse, algunos de los cuales han sido asesinados y otros han sufrido graves daños.
La mezcla de intimidación política y mafiosa ha asegurado a unos pocos empresarios posiciones dominantes.
Estos cárteles se definen como «estructuras criminales» porque son una compleja red ilegal a la que pertenecen sujetos de mundos diferentes -políticos, empresarios, profesionales, mafiosos tradicionales– que se comunican mediante los «hombres bisagra».
Los diferentes elementos de la estructura criminal desarrollan tareas distintas en función de las competencias específicas y de los recursos disponibles para ello.
Los políticos controlan el flujo de gasto público y de las aprobaciones administrativas. Los empresarios manejan el acceso al mercado, los mafiosos lavan capitales ilegales, participan en los negocios y proporcionan la fuerza física para eliminar los obstáculos que no se pueden eliminar con métodos incruentos.
La participación concertada de los diferentes recursos -políticos, económicos y militares- crea poderosas estructuras sociales que pueden condicionar a sectores enteros de la vida pública y controlar grandes sectores del mercado.
Hasta principios de los Noventa, las estructuras criminales habían operado principalmente en la construcción y la contratación pública, acaparando cerca del 90% de los contratos y encareciendo enormemente el costo de las obras públicas.
La eliminación de la competencia en la forma indicada anteriormente garantizaba a las empresas la consecución de las licitaciones públicas con un mínimo de rebajas: hasta un 1% o 2%. La complicidad del mundo político y administrativo también permitía lograr significativos aumentos en los precios, aprobando continuas variaciones de costos de obra o ejecutando dichas obras con materiales de mala calidad o de calidad inferior a la prevista en el contrato.
Los beneficios adicionales así obtenidos se dividían según porcentajes preestablecidos -determinados entre los diferentes participantes- entre los políticos, los profesionales, los empresarios y los mafiosos.
Como resultado de recortes de gastos impuestos por el Tratado de Maastricht, el gran negocio de los contratos públicos se fue reduciendo más y más. Al mismo tiempo, los riesgos penales habían aumentado porque una parte del empresariado -aunque todavía es una minoría- tomó posiciones contra los miembros de los grandes oligopolios y la acción del poder judicial se ha vuelto más eficaz. Además, se aprobaron recientemente leyes que establecen controles estrictos a las empresas que obtienen contratos de obras públicas: Todos los pagos deben hacerse sólo a través de cuentas bancarias dedicadas y marcadas.
Pero la economía, tanto la legal como la ilegal, ha seguido evolucionando a un ritmo muy por encima de la ley.
Así, a principios del tercer milenio, mientras que la acción del poder legislativo y del poder judicial comenzó a centrarse en este sector, el capitalismo mafioso ya había tomado otros caminos, la inversión en nuevos sectores de la economía virtual y en el mundo financiero.
La necesidad de resumir me impide hacer un inventario de las múltiples nuevas áreas de inversión, como las energías alternativas, las redes de supermercados, la medicina privada de alta tecnología y el tratamiento de los residuos.
Lo que es interesante a la luz de investigaciones más recientes, es que las estructuras criminales no han desaparecido sino que, como en una especie de «selección de las especies», han evolucionado adoptando técnicas de inmersión y ocultamiento que las hacen menos visibles.
El componente político-administrativo sigue desempeñando un papel esencial en la disposición de los fondos públicos reservados para las empresas pertenecientes a las diferentes estructuras criminales y en la creación de posiciones de oligopolio mediante una gestión racional de las licencias administrativas necesarias para iniciar actividades comerciales en muchas áreas, como por ejemplo la producción de energía alternativa.
Recientes investigaciones judiciales han permitido comprobar que, en Sicilia, esos sectores están controlados directa o indirectamente por unos pocos contratistas que trabajan ocultos detrás de una multitud de empresas.
En junio de 2010 se decomisaron activos por valor de casi 1,5 millones de euros a una de estas personas perteneciente a grupos de oligopolios que, según la fiscalía, actuaba como enlace entre la mafia y el lobby financiero internacional que gestionan, además de capitales legales, la obtención de inversiones de la mafia italiana, de los grupos japoneses Yakuza y de la mafia rusa en el sector energético italiano.
Es interesante señalar, con el fin de comprender la prolongación de la actividad delictiva a través del tiempo, que ya en 1995 esta misma persona fue declarada culpable de haber pagado sobornos por valor de tres mil millones de liras a los Consejeros de la Región de Sicilia y a los burócratas. Esos sobornos representaban el 10% de un contrato de treinta mil millones de liras de fondos públicos para la instalación de sistemas fotovoltaicos.
También, para demostrar la continuidad en el tiempo de las estructuras criminales, cabe señalar que en marzo de 2011 fue detenido un diputado de la Región de Sicilia, miembro de la Comisión de Actividades Productivas, mientras estaba recibiendo un soborno de un contratista de la industria fotovoltaica para eliminar una serie de obstáculos burocráticos creados artificialmente con el propósito de impedir las actividades de la empresa.
Las investigaciones en otras regiones italianas han revelado la existencia de otras estructuras criminales que operan de forma similar y a las que pertenecen empleados jerarquizados que incluyen a hombres conectados con las organizaciones mafiosas.
Las estructuras criminales son la señal de una peligrosa y progresiva conexión entre el mundo empresarial y el mundo de la corrupción, llenos de gente sin escrúpulos interesada en la obtención del máximo beneficio personal de los cargos públicos que ocupan, y el mundo de la mafia de cuello blanco, integrado por personas altamente educadas.
La combinación del abuso del poder público y el abuso del poder privado de las mafias es la nueva fórmula ganadora.
En Italia el fenómeno se ha agravado cada vez más en los últimos veinte años porque en muchos aspectos se ha ampliado la discrecionalidad política-administrativa, exenta de controles por parte de los organismos superiores, y convertida en impenetrable para el poder judicial.
Así, se ha creado un área muy amplia de opacidad en el sector público, que ofrece una amplia cobertura para el crecimiento vertiginoso de la ilegalidad.
La Sindicatura de Cuentas ha estimado que el volumen de negocios anual de la corrupción en Italia ha alcanzado la cifra de sesenta mil millones de euros.
Debido a la impenetrable conspiración de silencio que domina el mundo de los trabajadores de cuello blanco, el poder judicial ha sido capaz de sacar a la luz muchas historias de corrupción casi siempre gracias a las escuchas telefónicas y ambientales.
En resumen, la corrupción se ha convertido en la principal zona de penetración de la mafia en las instituciones y en la economía, así como el lugar principal en el que construir las alianzas entre políticos, funcionarios, empresarios y mafiosos de élite que dan vida a las estructuras criminales.
En el panorama italiano, desde el norte hasta el sur, las estructuras criminales se están convirtiendo en los nuevos actores emergentes en la escena del crimen nacional, sustituyendo progresivamente a la mafia tradicional en el segmento superior del mercado ilegal, cuya gestión requiere diferentes habilidades en múltiples niveles.
Dejan a las mafias tradicionales aquellas áreas de mayor riesgo penal como el tráfico de estupefacientes, la exacción violenta de recursos por la extorsión, así como sectores del mercado de baja tecnología o en vías de extinción como la construcción.
Por supuesto esto es dibujar a grandes trazos las líneas generales del fenómeno, porque la realidad del mismo tiene una tipología muy variada.
Particularmente interesante, porque refleja una evolución no sólo italiana sino europea e internacional, es la proliferación en las regiones del norte de Italia del fenómeno de la fusión entre el capitalismo legal y el capitalismo mafioso, así como la expansión de la estructura criminal.
Durante muchos años se creyó que la mafia era un fenómeno exclusivo de las regiones del sur, y que las tradiciones cívicas y la cultura de mercado de las regiones del triángulo industrial del país eran buenos anticuerpos contra la propagación de la mafia en esas zonas.
Esta creencia se basaba en el prejuicio cultural -muy extendido en los medios de comunicación- de que la mafia estaba formada sólo por individuos groseros e ignorantes que realizaban actividades predatorias por medios violentos.
En realidad, el nuevo capitalismo mafioso se presenta con el aspecto tranquilizador de administradores y empleados de oficina que ofrecen a las empresas una variedad de servicios ilegales muy atractivos, ya que permiten concretar una serie de grandes ahorros sobre los costos de producción y obtener beneficios adicionales.
Para limitarnos sólo a unos pocos ejemplos, basta pensar que las empresas mafiosas ofrecen la eliminación de residuos a precios reducidos hasta un 50% en comparación con los precios de mercado, porque funcionan con métodos ilegales de vertidos prohibidos y dañinos para el medio ambiente
Consideremos el caso de que deba derribarse un edificio de diez plantas que contiene una gran cantidad de amianto para construir un nuevo rascacielos en su lugar.
La empresa mafiosa ofrece una reducción de costos a la mitad para derribar el edificio porque eliminará los materiales resultantes, incluido el amianto, de manera ilegal.
Además las empresas mafiosas, cabezas de cientos de empresas que operan también en el extranjero, trabajan como «cárteles» ofreciendo a las empresas legales facturas por transacciones inexistentes que permiten la evasión de impuestos por montos muy elevados, a veces millones de euros. Los beneficios así obtenidos se reinvierten en parte en las empresas y en parte para crear fondos negros para la corrupción tanto a nivel nacional como internacional.
En una investigación de febrero de 2010, que terminó con la detención de cincuenta y seis personas, se encontró que una estructura criminal compuesta por directivos de multinacionales de telecomunicaciones que cotizan en bolsa y hombres de negocios vinculados a la ‘Ndrangheta, habían realizado entre 2003 y 2006 un complejo fraude fiscal administrando 2.200 millones de euros y perjudicando al fisco por 370 millones de euros.
Parte de este dinero había acabado en manos de la 'Ndrangheta, que había falsificado miles de votos consiguiendo que se eligiera en el Parlamento a un senador dispuesto a cuidar los intereses de la organización a nivel estatal. De esta estructura criminal también formaban parte miembros de las fuerzas policiales que proporcionaban información confidencial y obstaculizaban la investigación.
Entre otros servicios ofrecidos por el negocio de la mafia, también está la reducción de los costes laborales, ya que los empleados se ven obligados a devolver hasta el 30% del importe de su salario.
En los procesos penales de julio de 2010 se comprobó que una gran empresa con capital mixto –legal y mafioso- durante muchos años había obligado a sus 1.500 empleados a devolver cada mes el 30% de sus salarios, acumulando así, gracias a la complicidad del el mundo de la banca, varias decenas de millones de euros transferidos al extranjero.
En otro caso en 2010 se estableció que los gerentes de una empresa que forma parte de un holding multinacional, que cotiza en la Bolsa y opera en el sector de la construcción, había firmado estrechos acuerdos con la mafia, incorporando a su propio plantel de dirigentes a líderes mafiosos y elaboró sus marcos de gestión contando también con líderes de la mafia. Con esos acuerdos se pretendía lograr un progresivo control del mercado en la región y la empresa había obtenido muchísimos beneficios al proveer grandes cantidades de hormigón debilitado (es decir, sin la cantidad de cemento mínima de 30 Kg. por m3) para la ejecución de obras públicas. Una porción de las ganancias se entregó a la mafia siciliana a través de un sistema de facturas falsas.
También hay que tener en cuenta que las mafias ofrecen el aporte de capital que permiten a las empresas legales efectuar nuevas inversiones sin gastos, accediendo a liquidez sin costes bancarios, capitales especialmente atractivos especialmente en un momento de crisis económica y de fuerte competencia internacional.
La mezcla de capitales legales e ilegales se basa en un beneficio mutuo y sin maneras agresivas.
En los territorios del Centro-Norte, los miembros de la delincuencia organizada a menudo se limitan sólo a la adquisición de acciones como participación minoritaria.
Lo que importa es reciclar el dinero, propagar el capital de la mafia en un gran número de empresas en el territorio y crear una tupida red de complicidad entre los involucrados de diferentes maneras en los negocios ilegales.
Esto creará un clima general de conspiración para mantener el secreto sobre la colonización encubierta de áreas enteras del territorio por los mafiosos.
Secreto que llega al punto de cubrir la clásica extorsión aplicada en perjuicio de las pequeñas empresas que operan en esos mismos territorios.
En un proceso penal, que en marzo de 2011 condujo a la detención de treinta y cinco miembros de la 'Ndrangheta en Lombardía, el juez del Tribunal de Milán que emitió la orden de prisión preventiva en la cárcel, escribió literalmente, «La empresa mafiosa ha alcanzado un preocupante nivel de aceptación social» en el sentido de que «las ventajas de las que gozan esas empresas mafiosas no son (casi) nunca estigmatizadas por las empresas sanas, que prefieren sufrir en silencio o hacer negocios con los acusados a presentar una queja».
Un empresario que ha trabajado durante varios años en Lombardía me dijo que el silencio de muchas empresas no significa actuar en connivencia con la mafia, sino que también se deriva de la conciencia de no estar en regla con la ley en varios aspectos: por la evasión fiscal, el incumplimiento de la normativa laboral, violaciones de las normas de seguridad laboral, etc.
Estas empresas que trabajan fuera de la ley se convierten en carne de chantaje de las organizaciones mafiosas que, por tal motivo, saben que puede contar con su silencio.
El ley del silencio de la mafia que parecía ser una característica cultural de Sicilia y otras regiones del sur, se extiende así también en el norte del país, alimentándose en parte de algunas de las ventajas económicas que he señalado, en parte de una subestimación cultural de un público que sigue creyendo que la mafia es sólo aquella que dispara y que los incidentes de violencia que a veces salen a la luz son hechos aislados.
Y también, en parte, preocupa revelar la realidad de la presencia de la mafia en esos territorios porque es negativo en términos de marketing local.
En una reciente investigación periodística de la primera red de TV del Estado, sobre la difusión de la mafia en el norte, los periodistas han tenido serias dificultades para encontrar empresarios de esa área dispuestos a dejarse entrevistar sobre esta cuestión.
El Presidente de la Cámara de Comercio de Reggio Emilia, una ciudad que se encuentra en una de las regiones más ricas del país, dijo a la prensa que durante un decenio había tratado en vano de convencer a los políticos y funcionarios de que en esa zona las empresas mafiosas estaban conquistando varios sectores del mercado como el transporte, la construcción y la eliminación de residuos, ofreciendo precios competitivos fuera del mercado que ponían de rodillas a las empresas legales.
Y los políticos y los funcionarios le respondieron que los propietarios de esas empresas eran administradores bien educados, que estaban ofreciendo servicios y contratos con costos bajos beneficiando a la comunidad y que eran muy sensibles a las necesidades de la ciudad, ya que financian exposiciones de arte y otros eventos culturales.
Pero el aspecto más preocupante que se desprende de las investigaciones en las regiones Centro-Norte del país, es la relación triangular entre los ejecutivos de la mafia, los empresarios y los políticos y funcionarios locales.
Son crecientes las investigaciones que demuestran el crecimiento y la propagación en aquellas zonas de la estructura criminal nacida de la unión estable de intereses entre el mundo de la corrupción política-administrativa, el empresariado y la mafia.
Los medios de comunicación utilizan diferentes expresiones para definir este nuevo fenómeno criminal: bandas, P3, P4, juntas de negocios, etc.
Pero más allá de la variedad de términos y eventos, el elemento estructural constante es la presencia simultánea en cada una de estas estructuras criminales de políticos, funcionarios públicos, empresarios y comerciantes vinculados a la mafia, todos de acuerdo en utilizar la influencia política y administrativa junto a capitales legales y capitales ilegales de origen mafioso para enriquecerse en diversos ámbitos, distorsionando las reglas del mercado y de la administración pública.
Así que hoy ya no estamos en condiciones de determinar si la verdadera emergencia nacional está constituida por la mafia, por la corrupción o por una mezcla letal de ambas.
La corrupción se ha convertido en el caldo de cultivo de cualquier ilegalidad, incluidas las de tipo mafioso, debido a una serie de reformas y de leyes promulgadas en Italia en los últimos años que han contribuido a aumentar el grado de impunidad en este ámbito.
Se trata de leyes que han quitado a los jueces penales la posibilidad de controlar el mal uso del poder público, de leyes que han reducido los plazos de prescripción de muchos delitos de cuello blanco y que, por lo tanto, se declaran extinguidos antes de que se pueda lograr una sentencia definitiva de condena, e incluso de leyes que han perdonado las penas por delitos graves, incluido el delito de tráfico electoral político-mafioso previsto en el Artículo 616 de Código Penal.
el Estado italiano no ha puesto en marcha la Convención del Consejo de Europa sobre la corrupción después de haberla firmado en 1999. Por tal motivo muchos comportamientos ilegales, como el tráfico de influencias, no son objeto de persecución penal.
También hay que señalar que se aprobaron leyes que han permitido la regularización fiscal (N.deT: blanqueo) de capitales de origen ilegal exportados al extranjero con garantías de anonimato y de secreto, para evitar que los jueces y las fuerzas policiales puedan determinar si alguno esos capitales así regularizados eran también capitales mafiosos.
(...)
Como suelde decirse en Francia, los niños no se educan con palabras, sino con el ejemplo. Lo mismo vale en la relación entre gobernantes y gobernados. Es difícil pretender en los gobernados una tasa de moralidad pública superior a la de los gobernantes.
Por lo tanto, si no se pone freno a la corrupción, la guerra contra la mafia está perdida antes de empezar y la detención de cientos de miembros de la mafia y la confiscación de grandes propiedades sólo cumplirá una mera función de contención.
Sería un error creer que los fenómenos que he descrito pertenecen sólo a la realidad italiana.
En Italia estos fenómenos salieron a la luz porque, gracias a la Constitución de 1948, hay un poder judicial que ahora goza de independencia y de autonomía con respecto al poder político y que, además, puede contar con una policía altamente profesional y herramientas de investigación muy penetrantes como las interceptaciones.
En otros países donde estas condiciones no existen, totalmente o en parte, el mismo fenómeno se propaga de una manera oculta.
Por ejemplo ahora se reconoce universalmente que el capitalismo soviético es un capitalismo mafioso en un porcentaje que equivale a entre sesenta y setenta por ciento.
De hecho, fuentes del gobierno ruso afirman que alrededor del 40% de las empresas privadas, el 60% del Estado, el 85% de los bancos rusos y el 70% de las actividades comerciales están sujetos a infiltraciones o bajo la influencia de organizaciones criminales, y que casi todas las empresas comerciales en las principales ciudades están controladas directa o indirectamente por los grupos delictivos.
Y con las últimas elecciones esta situación ha empeorado.
Muchos mafiosos se han convertido en asistentes parlamentarios, previo pago de una suma de dinero. Y ahora, en Rusia, los 450 diputados de la Duma tienen unos quince mil asistentes, algunos de los cuales han sido asesinados a causa de los conflictos entre los grupos criminales locales.
Ahora la mafia rusa se sienta en el corazón de las finanzas internacionales y se ha convertido en uno de los componentes estructurales del capitalismo global, de un nuevo poder privado capaz de influir en el orden económico y geopolítico internacional.
La compenetración entre el capitalismo legal y el capitalismo mafioso, así como el crecimiento turbulento de la estructura criminal también es una trágica realidad en algunos países europeos nacidos a partir del colapso del imperio soviético, en los que la fusión entre los representantes de la «nomenklatura» y las mafias en el poder es tan fuerte que algunos estudiosos para definir a estos países utilizan los términos «regímenes criminocráticos« y «Estados de la mafia».
Situaciones similares se encuentran en varios países de África y de América Latina.
Por último, en el corazón de Europa el blanqueo de los capitales mafiosos que se invierten en los más diversos sectores es un fenómeno creciente y el riesgo de una invisible colonización económico-mafiosa en áreas cada vez mayores del territorio europeo no debe subestimarse.
La lección que cabe extraer de la propagación de las mafias en las regiones del norte de Italia que se consideraban inmunizadas, es una señal de alarma que no sólo suena en Italia, sino también en toda Europa, especialmente en un período histórico como el actual, en el que la hegemonía mundial de un turbo-capitalismo mundial, refractario a todas las reglas y controles, ha creado grandes áreas de anomia y desregulación que constituyen un terreno fértil para la expansión tanto de la denominada «economía canalla» como de la economía mafiosa.
Fuente: http://www.antimafiaduemila.com/content/view/33652/78/
La evolución de las especies: De la mafia tradicional al sistema criminal
Las nuevas caras del capitalismo mafioso
Roberto Scarpinato
Antimafiaduemila.com
Ponencia del Dr. Roberto Scarpinato, Procurador General de la Corte de Apelaciones de Caltanissetta, presentada en Bruselas los días 29 y 30 de marzo durante los debates del Parlamento Europeo, titulada: «Hacia una estrategia europea para combatir el crimen organizado trasnacional». Traducido para Rebelión por Jorge Aldao y revisado por Caty R.
Uno de los principales obstáculos para el desarrollo de una estrategia eficaz contra la propagación de la criminalidad organizada a nivel mundial está constituido por los prejuicios culturales que continúan dominando a la opinión pública y a los políticos de muchos países.
El primer prejuicio cultural es creer que el crimen organizado, aunque constituye un peligro a tener en cuenta, todavía es algo propio de pequeñas minorías de individuos que trabajan en los sórdidos submundos de la mala vida, en un mundo separado, diferente de aquel en el que nosotros, honestos ciudadanos, vivimos todos los días.
Se cree, por lo tanto, que la sociedad civil de los países europeos con democracia desarrollada tiene ya los anticuerpos adecuados para prevenir la propagación de la mafia.
También es un concepto generalizado la equivocada opinión de que las mafias son un fenómeno en los países del mundo donde están históricamente arraigadas, y que para evitar el peligro de la propagación de sus actividades delictivas en otros países, es suficiente con una adecuada supervisión represiva y la mejora de la calidad de la cooperación internacional entre las autoridades judiciales y policiales.
Por desgracia, la realidad es muy distinta.
El mundo de la delincuencia transnacional y el mundo de la gente normal son dos caras de una misma moneda; es más, se alimentan mutuamente.
Aquello que creemos combatir fuera de nosotros se encuentra dentro de nosotros, en nuestra vida cotidiana, aunque no seamos conscientes de ello.
Para entender esta circunstancia elemental, basta con considerar que el crimen organizado ofrece una variedad de bienes y servicios ilegales a los consumidores que lo consienten.
n cuanto a los bienes, proporciona drogas, seres humanos para la prostitución, la esclavitud y la explotación laboral, las armas y la pornografía infantil.
En el sector de los servicios proporciona capital de inversión, gestión de residuos tóxicos ilegales y nocivos para el medio ambiente, facturación falsa para evadir impuestos y facilita, usando la violencia o la corrupción, la obtención de licencias y concesiones por parte de la autoridad pública.
Los señalados sólo son algunos ejemplos entre los muchos sectores del extenso mercado de las actividades ilegales en todo el mundo.
El suministro de estos bienes y servicios ilegales es la resultante de la existencia de una fuerte demanda por parte de la sociedad civil
Los delincuentes existen y prosperan porque millones de ciudadanos quieren comprar bienes y servicios ilegales. Ellos son el espejo que refleja los vicios secretos de muchas personas comunes en los países más diversos del mundo.
De esta manera, la mayor parte de la actividad criminal se puede calificar como un fenómeno de mercado regido por las leyes de la oferta y la demanda.
La demanda de bienes y servicios ofrecidos por la mafia ha tomado dimensiones macroeconómicas, que ya no se pueden controlar con las herramientas del derecho penal, como consecuencia de la globalización económica que ha ampliado extraordinariamente el número de consumidores finales de los productos ofrecidos.
A propósito de las relaciones estructurales entre la dinámica del mercado global y el incremento de la delincuencia trasnacional, me limitaré a señalar dos ejemplos que atañen al mercado de las drogas y de la prostitución.
A finales de los años ochenta el mercado mundial de cocaína estaba limitado sólo a los países occidentales y ya estaba saturado, tanto que los precios de la droga se había reducido para ponerla al alcance de nuevos consumidores en los segmentos más pobres de la población.
Ahora la situación ha cambiado por completo, como resultado de la globalización al abrirse nuevos mercados con un gran potencial de consumidores.
El nacimiento en China de una nueva clase media acomodada con más de 250 millones de personas que aspiran a un tipo de consumo al estilo occidental y el crecimiento progresivo de la renta media en la población de Europa del Este y en los países emergentes, han sentado las bases para el desarrollo de un nuevo mercado global de consumidores de drogas, que se estima que llegará a un 15% de la población mundial en las próximas dos décadas.
La expansión global y en tan poco tiempo del mercado de estupefacientes en todo el mundo, volvería impotentes las estructuras penales represivas a pesar de todos los esfuerzos de la cooperación internacional, habida cuenta de que todas las políticas de erradicación de las plantaciones han sido ineficaces.
Los ingresos derivados del mercado mundial de las drogas experimentarán un salto tan grande que darán a las organizaciones delictivas transnacionales una porción enorme de riqueza, y por lo tanto de poder global, mayor que la de los Estados y las multinacionales más grandes.
La consiguiente transformación en términos políticos de semejante poder económico supondría la construcción de una nueva jerarquía, de facto, entre las potencias del mundo.
Por esta razón, algunos predicen que la política de liberalización de las drogas será, tarde o temprano, un resultado inevitable impuesto por la desproporción de fuerzas.
Este primer ejemplo ayuda a entender que las estrategias para enfrentar a la delincuencia transnacional deberían articularse en varios niveles, dependiendo de la evolución de las dinámicas macroeconómicas y macropolíticas, de manera realista y teniendo en cuenta que la delincuencia transnacional se ha convertido en uno de los actores del gran juego del poder en el mundo.
Un segundo ejemplo es el mercado de la prostitución
Hasta finales de los años ochenta, la oferta de mujeres para la prostitución se limitaba al mercado nacional aprovechando los recursos locales, por lo que esta área no la gestionaba el crimen organizado sino, principalmente, delincuentes individuales o pequeñas organizaciones que operaban en pequeñas porciones de territorio.
En los años noventa, la repentina entrada en el mercado ilegal de la prostitución de cientos de miles de mujeres de Rusia y de Europa del Este, reducidas a la pobreza por el repentino colapso del imperio soviético -que en el pasado garantizaba el trabajo femenino para el 80% de las mujeres-, así como de las mujeres de los países africanos, ha provocado una revolución en este segmento del mercado que ha dado lugar a un cambio radical en los protagonistas del crimen y en su producción ilegal.
El aumento de la oferta se ha visto acompañado por un incremento cada vez más importante de la demanda en los países occidentales, incluso en países como Israel, donde la oferta de prostitutas era muy reducida, siendo suficientes los recursos locales.
La necesidad de administrar el tráfico a escala industrial, en el que están implicados diferentes países -aquéllos donde se reclutan las mujeres, los de tránsito y los de destino final- ha dado lugar a una división internacional del trabajo entre las mafias de varios países que corresponden a las diferentes etapas del proceso de producción y de valor añadido.
Así las mafias rusas, búlgaras y rumanas se dedican a la contratación de mujeres en los países de origen.
La delincuencia de los Balcanes está especializada en el tránsito y el transporte hacia varios países occidentales.
En países como Italia, donde existen mafias locales que controlan el territorio, se llega a acuerdos económicos y de intercambio entre las mafias locales y las extranjeras
La ‘Ndrangheta (1) calabresa se ha especializado en ofrecer un servicio a las mafias extranjeras que consiste en el blanqueo del dinero producto de la prostitución y reteniendo un porcentaje de ese dinero blanqueado.
La raíz de esta reestructuración extraordinaria del mercado de la prostitución, los criminales comunes que antes manejaban la prostitución local con métodos artesanales fueron desplazados por las poderosas mafias internacionales y utilizados como mano de obra barata.
Este fenómeno es interesante porque muestra que incluso el mercado ilegal está dominado por «la misma dura selección darwiniana» que caracteriza a la competencia en el mercado legal.
Como es sabido, en los sectores más lucrativos de la economía legal el mercado ha sido conquistado, y por lo tanto dominado, por oligopolios económicos cada vez más poderosos que han engullido e incorporado a las empresas más pequeñas.
De la misma manera, en el mercado ilegal las mafias transnacionales -que pueden compararse con grandes oligopolios criminales- van fagocitando progresivamente e incorporando la delincuencia común expulsada por la fuerza de los sectores más rentables.
Esa «selección evolutiva de las especies» sugiere que el crimen organizado está destinado a convertirse poco a poco en la forma criminal estable y dominante del tercer milenio en todos los países del mundo.
Los ejemplos básicos señalados hasta aquí demuestran cuán lejos de la realidad están los prejuicios culturales que he mencionado al principio de mi informe, ya que esos prejuicios reducen las mafias a simples fenómenos locales derivados de peculiares condiciones ambientales.
Esta tendencia histórica inevitable está determinando una revolución en el universo del crimen que gira menos en torno al individuo y cada vez más en torno a las organizaciones, insensibles a la suerte de sus componentes individuales y a la apropiación de pequeñas porciones de la facturación ilegal global.
El viejo derecho penal de la gente parece destinado a convertirse en un derecho de la pre-modernidad, reservado sólo a las formas tradicionales de la delincuencia, mientras que el nuevo derecho penal de las sociedades, todavía en lenta gestación, aparece sólo como una de las palancas de una estrategia global en múltiples niveles que, para abordar los fenómenos descritos, deberá operar simultáneamente en diferentes planos, actuando en el nivel macropolítico y macroinstitucional.
Los ejemplos presentados hasta ahora conciernen a las relaciones de mercado, al intercambio consensuado entre los miembros de la delincuencia organizada y los millones de ciudadanos «normales» que son los consumidores de bienes y servicios ilegales.
Mucho más complejas son las relaciones y la colusión de intereses entre la mafia y las empresas que operan en el mercado legal y que han dado lugar no sólo a relaciones de intercambio, sino también a la creación de un capitalismo mixto, constituido por la fusión de capitales legales e ilegales, que se está convirtiendo en un componente estructural importante del capitalismo mundial.
En este sentido, la experiencia italiana ha puesto de manifiesto que el fenómeno no es exclusivo de Italia, aunque allí se muestra la vanguardia de una tendencia internacional.
Hasta hace unos años, en Italia había una difundida aunque equivocada idea de que la comunidad empresarial era la víctima, con pocas excepciones, de la delincuencia organizada que exigía, por medio de la violencia y la intimidación, el pago de sobornos, el empleo de mano de obra y la concesión de subcontratos.
Los empresarios acusados de complicidad se defendían admitiendo que se vieron obligados a ceder a las exigencias de la mafia para salvarse a sí mismos y a sus empresas.
Pero las revelaciones de muchos antiguos mafiosos convertidos en colaboradores de la justicia y la evidencia recogida por medio de escuchas telefónicas y ambientales han sacado a la luz en los últimos veinte años una realidad del mundo empresarial mucho más compleja.
Junto a la categoría de víctimas, también hay un montón de empresarios que aplicaron los métodos mafiosos para ganar posiciones de dominio en el mercado.
En particular en diversos procesos relacionados con la mafia siciliana, se ha encontrado que en sectores líderes de la comunidad empresarial, cuyos exponentes a menudo han desempeñado también un papel de liderazgo en las diversos asociaciones de empleadores, han utilizado sus relaciones políticas y sus relaciones con la mafia tradicional para convertirse en reguladores de amplios sectores del mercado de acuerdo con la lógica del oligopolio.
En esos sectores han formado cárteles de empresas que gestionan toda la cadena productiva.
La dirección de estos cárteles que operan en diferentes partes del territorio y en los diversos sectores del mercado, de acuerdo con una división de esferas de influencia, es asumida por los empresarios que tienen la función de fungir como «hombres bisagra» entre los políticos y la mafia, dictando las normas de ingreso, fijando los precios, imponiendo condiciones a la mano de obra, señalando a los proveedores, etc.
La mayoría de los empleadores han aceptado estas estructuras por varias razones:
En primer lugar, porque las numerosas empresas que participaron en los cárteles se han convertido en parte de un sistema sustancialmente proteccionista que elimina los costos y riesgos de la competencia, asegurándose el reparto del mercado y el beneficio de acuerdo con un sistema de rotación interna.
En segundo lugar, porque rebelarse contra los líderes de los cárteles es exponerse a una doble venganza: la política y la mafiosa.
La venganza política consiste en el ostracismo para las empresas díscolas a las que se excluye de la posibilidad de obtener financiación pública del Estado o del gobierno europeo, dirigido por los políticos, y en ser sancionadas de diversas maneras por las burocracias administrativas que niegan la autorización de los pagos o los retrasan hasta llevar a determinadas empresas al riesgo de quiebra.
La represalia mafiosa consiste en el uso de la violencia física contra los pocos que se atrevieron a rebelarse, algunos de los cuales han sido asesinados y otros han sufrido graves daños.
La mezcla de intimidación política y mafiosa ha asegurado a unos pocos empresarios posiciones dominantes.
Estos cárteles se definen como «estructuras criminales» porque son una compleja red ilegal a la que pertenecen sujetos de mundos diferentes -políticos, empresarios, profesionales, mafiosos tradicionales– que se comunican mediante los «hombres bisagra».
Los diferentes elementos de la estructura criminal desarrollan tareas distintas en función de las competencias específicas y de los recursos disponibles para ello.
Los políticos controlan el flujo de gasto público y de las aprobaciones administrativas. Los empresarios manejan el acceso al mercado, los mafiosos lavan capitales ilegales, participan en los negocios y proporcionan la fuerza física para eliminar los obstáculos que no se pueden eliminar con métodos incruentos.
La participación concertada de los diferentes recursos -políticos, económicos y militares- crea poderosas estructuras sociales que pueden condicionar a sectores enteros de la vida pública y controlar grandes sectores del mercado.
Hasta principios de los Noventa, las estructuras criminales habían operado principalmente en la construcción y la contratación pública, acaparando cerca del 90% de los contratos y encareciendo enormemente el costo de las obras públicas.
La eliminación de la competencia en la forma indicada anteriormente garantizaba a las empresas la consecución de las licitaciones públicas con un mínimo de rebajas: hasta un 1% o 2%. La complicidad del mundo político y administrativo también permitía lograr significativos aumentos en los precios, aprobando continuas variaciones de costos de obra o ejecutando dichas obras con materiales de mala calidad o de calidad inferior a la prevista en el contrato.
Los beneficios adicionales así obtenidos se dividían según porcentajes preestablecidos -determinados entre los diferentes participantes- entre los políticos, los profesionales, los empresarios y los mafiosos.
Como resultado de recortes de gastos impuestos por el Tratado de Maastricht, el gran negocio de los contratos públicos se fue reduciendo más y más. Al mismo tiempo, los riesgos penales habían aumentado porque una parte del empresariado -aunque todavía es una minoría- tomó posiciones contra los miembros de los grandes oligopolios y la acción del poder judicial se ha vuelto más eficaz. Además, se aprobaron recientemente leyes que establecen controles estrictos a las empresas que obtienen contratos de obras públicas: Todos los pagos deben hacerse sólo a través de cuentas bancarias dedicadas y marcadas.
Pero la economía, tanto la legal como la ilegal, ha seguido evolucionando a un ritmo muy por encima de la ley.
Así, a principios del tercer milenio, mientras que la acción del poder legislativo y del poder judicial comenzó a centrarse en este sector, el capitalismo mafioso ya había tomado otros caminos, la inversión en nuevos sectores de la economía virtual y en el mundo financiero.
La necesidad de resumir me impide hacer un inventario de las múltiples nuevas áreas de inversión, como las energías alternativas, las redes de supermercados, la medicina privada de alta tecnología y el tratamiento de los residuos.
Lo que es interesante a la luz de investigaciones más recientes, es que las estructuras criminales no han desaparecido sino que, como en una especie de «selección de las especies», han evolucionado adoptando técnicas de inmersión y ocultamiento que las hacen menos visibles.
El componente político-administrativo sigue desempeñando un papel esencial en la disposición de los fondos públicos reservados para las empresas pertenecientes a las diferentes estructuras criminales y en la creación de posiciones de oligopolio mediante una gestión racional de las licencias administrativas necesarias para iniciar actividades comerciales en muchas áreas, como por ejemplo la producción de energía alternativa.
Recientes investigaciones judiciales han permitido comprobar que, en Sicilia, esos sectores están controlados directa o indirectamente por unos pocos contratistas que trabajan ocultos detrás de una multitud de empresas.
En junio de 2010 se decomisaron activos por valor de casi 1,5 millones de euros a una de estas personas perteneciente a grupos de oligopolios que, según la fiscalía, actuaba como enlace entre la mafia y el lobby financiero internacional que gestionan, además de capitales legales, la obtención de inversiones de la mafia italiana, de los grupos japoneses Yakuza y de la mafia rusa en el sector energético italiano.
Es interesante señalar, con el fin de comprender la prolongación de la actividad delictiva a través del tiempo, que ya en 1995 esta misma persona fue declarada culpable de haber pagado sobornos por valor de tres mil millones de liras a los Consejeros de la Región de Sicilia y a los burócratas. Esos sobornos representaban el 10% de un contrato de treinta mil millones de liras de fondos públicos para la instalación de sistemas fotovoltaicos.
También, para demostrar la continuidad en el tiempo de las estructuras criminales, cabe señalar que en marzo de 2011 fue detenido un diputado de la Región de Sicilia, miembro de la Comisión de Actividades Productivas, mientras estaba recibiendo un soborno de un contratista de la industria fotovoltaica para eliminar una serie de obstáculos burocráticos creados artificialmente con el propósito de impedir las actividades de la empresa.
Las investigaciones en otras regiones italianas han revelado la existencia de otras estructuras criminales que operan de forma similar y a las que pertenecen empleados jerarquizados que incluyen a hombres conectados con las organizaciones mafiosas.
Las estructuras criminales son la señal de una peligrosa y progresiva conexión entre el mundo empresarial y el mundo de la corrupción, llenos de gente sin escrúpulos interesada en la obtención del máximo beneficio personal de los cargos públicos que ocupan, y el mundo de la mafia de cuello blanco, integrado por personas altamente educadas.
La combinación del abuso del poder público y el abuso del poder privado de las mafias es la nueva fórmula ganadora.
En Italia el fenómeno se ha agravado cada vez más en los últimos veinte años porque en muchos aspectos se ha ampliado la discrecionalidad política-administrativa, exenta de controles por parte de los organismos superiores, y convertida en impenetrable para el poder judicial.
Así, se ha creado un área muy amplia de opacidad en el sector público, que ofrece una amplia cobertura para el crecimiento vertiginoso de la ilegalidad.
La Sindicatura de Cuentas ha estimado que el volumen de negocios anual de la corrupción en Italia ha alcanzado la cifra de sesenta mil millones de euros.
Debido a la impenetrable conspiración de silencio que domina el mundo de los trabajadores de cuello blanco, el poder judicial ha sido capaz de sacar a la luz muchas historias de corrupción casi siempre gracias a las escuchas telefónicas y ambientales.
En resumen, la corrupción se ha convertido en la principal zona de penetración de la mafia en las instituciones y en la economía, así como el lugar principal en el que construir las alianzas entre políticos, funcionarios, empresarios y mafiosos de élite que dan vida a las estructuras criminales.
En el panorama italiano, desde el norte hasta el sur, las estructuras criminales se están convirtiendo en los nuevos actores emergentes en la escena del crimen nacional, sustituyendo progresivamente a la mafia tradicional en el segmento superior del mercado ilegal, cuya gestión requiere diferentes habilidades en múltiples niveles.
Dejan a las mafias tradicionales aquellas áreas de mayor riesgo penal como el tráfico de estupefacientes, la exacción violenta de recursos por la extorsión, así como sectores del mercado de baja tecnología o en vías de extinción como la construcción.
Por supuesto esto es dibujar a grandes trazos las líneas generales del fenómeno, porque la realidad del mismo tiene una tipología muy variada.
Particularmente interesante, porque refleja una evolución no sólo italiana sino europea e internacional, es la proliferación en las regiones del norte de Italia del fenómeno de la fusión entre el capitalismo legal y el capitalismo mafioso, así como la expansión de la estructura criminal.
Durante muchos años se creyó que la mafia era un fenómeno exclusivo de las regiones del sur, y que las tradiciones cívicas y la cultura de mercado de las regiones del triángulo industrial del país eran buenos anticuerpos contra la propagación de la mafia en esas zonas.
Esta creencia se basaba en el prejuicio cultural -muy extendido en los medios de comunicación- de que la mafia estaba formada sólo por individuos groseros e ignorantes que realizaban actividades predatorias por medios violentos.
En realidad, el nuevo capitalismo mafioso se presenta con el aspecto tranquilizador de administradores y empleados de oficina que ofrecen a las empresas una variedad de servicios ilegales muy atractivos, ya que permiten concretar una serie de grandes ahorros sobre los costos de producción y obtener beneficios adicionales.
Para limitarnos sólo a unos pocos ejemplos, basta pensar que las empresas mafiosas ofrecen la eliminación de residuos a precios reducidos hasta un 50% en comparación con los precios de mercado, porque funcionan con métodos ilegales de vertidos prohibidos y dañinos para el medio ambiente
Consideremos el caso de que deba derribarse un edificio de diez plantas que contiene una gran cantidad de amianto para construir un nuevo rascacielos en su lugar.
La empresa mafiosa ofrece una reducción de costos a la mitad para derribar el edificio porque eliminará los materiales resultantes, incluido el amianto, de manera ilegal.
Además las empresas mafiosas, cabezas de cientos de empresas que operan también en el extranjero, trabajan como «cárteles» ofreciendo a las empresas legales facturas por transacciones inexistentes que permiten la evasión de impuestos por montos muy elevados, a veces millones de euros. Los beneficios así obtenidos se reinvierten en parte en las empresas y en parte para crear fondos negros para la corrupción tanto a nivel nacional como internacional.
En una investigación de febrero de 2010, que terminó con la detención de cincuenta y seis personas, se encontró que una estructura criminal compuesta por directivos de multinacionales de telecomunicaciones que cotizan en bolsa y hombres de negocios vinculados a la ‘Ndrangheta, habían realizado entre 2003 y 2006 un complejo fraude fiscal administrando 2.200 millones de euros y perjudicando al fisco por 370 millones de euros.
Parte de este dinero había acabado en manos de la 'Ndrangheta, que había falsificado miles de votos consiguiendo que se eligiera en el Parlamento a un senador dispuesto a cuidar los intereses de la organización a nivel estatal. De esta estructura criminal también formaban parte miembros de las fuerzas policiales que proporcionaban información confidencial y obstaculizaban la investigación.
Entre otros servicios ofrecidos por el negocio de la mafia, también está la reducción de los costes laborales, ya que los empleados se ven obligados a devolver hasta el 30% del importe de su salario.
En los procesos penales de julio de 2010 se comprobó que una gran empresa con capital mixto –legal y mafioso- durante muchos años había obligado a sus 1.500 empleados a devolver cada mes el 30% de sus salarios, acumulando así, gracias a la complicidad del el mundo de la banca, varias decenas de millones de euros transferidos al extranjero.
En otro caso en 2010 se estableció que los gerentes de una empresa que forma parte de un holding multinacional, que cotiza en la Bolsa y opera en el sector de la construcción, había firmado estrechos acuerdos con la mafia, incorporando a su propio plantel de dirigentes a líderes mafiosos y elaboró sus marcos de gestión contando también con líderes de la mafia. Con esos acuerdos se pretendía lograr un progresivo control del mercado en la región y la empresa había obtenido muchísimos beneficios al proveer grandes cantidades de hormigón debilitado (es decir, sin la cantidad de cemento mínima de 30 Kg. por m3) para la ejecución de obras públicas. Una porción de las ganancias se entregó a la mafia siciliana a través de un sistema de facturas falsas.
También hay que tener en cuenta que las mafias ofrecen el aporte de capital que permiten a las empresas legales efectuar nuevas inversiones sin gastos, accediendo a liquidez sin costes bancarios, capitales especialmente atractivos especialmente en un momento de crisis económica y de fuerte competencia internacional.
La mezcla de capitales legales e ilegales se basa en un beneficio mutuo y sin maneras agresivas.
En los territorios del Centro-Norte, los miembros de la delincuencia organizada a menudo se limitan sólo a la adquisición de acciones como participación minoritaria.
Lo que importa es reciclar el dinero, propagar el capital de la mafia en un gran número de empresas en el territorio y crear una tupida red de complicidad entre los involucrados de diferentes maneras en los negocios ilegales.
Esto creará un clima general de conspiración para mantener el secreto sobre la colonización encubierta de áreas enteras del territorio por los mafiosos.
Secreto que llega al punto de cubrir la clásica extorsión aplicada en perjuicio de las pequeñas empresas que operan en esos mismos territorios.
En un proceso penal, que en marzo de 2011 condujo a la detención de treinta y cinco miembros de la 'Ndrangheta en Lombardía, el juez del Tribunal de Milán que emitió la orden de prisión preventiva en la cárcel, escribió literalmente, «La empresa mafiosa ha alcanzado un preocupante nivel de aceptación social» en el sentido de que «las ventajas de las que gozan esas empresas mafiosas no son (casi) nunca estigmatizadas por las empresas sanas, que prefieren sufrir en silencio o hacer negocios con los acusados a presentar una queja».
Un empresario que ha trabajado durante varios años en Lombardía me dijo que el silencio de muchas empresas no significa actuar en connivencia con la mafia, sino que también se deriva de la conciencia de no estar en regla con la ley en varios aspectos: por la evasión fiscal, el incumplimiento de la normativa laboral, violaciones de las normas de seguridad laboral, etc.
Estas empresas que trabajan fuera de la ley se convierten en carne de chantaje de las organizaciones mafiosas que, por tal motivo, saben que puede contar con su silencio.
El ley del silencio de la mafia que parecía ser una característica cultural de Sicilia y otras regiones del sur, se extiende así también en el norte del país, alimentándose en parte de algunas de las ventajas económicas que he señalado, en parte de una subestimación cultural de un público que sigue creyendo que la mafia es sólo aquella que dispara y que los incidentes de violencia que a veces salen a la luz son hechos aislados.
Y también, en parte, preocupa revelar la realidad de la presencia de la mafia en esos territorios porque es negativo en términos de marketing local.
En una reciente investigación periodística de la primera red de TV del Estado, sobre la difusión de la mafia en el norte, los periodistas han tenido serias dificultades para encontrar empresarios de esa área dispuestos a dejarse entrevistar sobre esta cuestión.
El Presidente de la Cámara de Comercio de Reggio Emilia, una ciudad que se encuentra en una de las regiones más ricas del país, dijo a la prensa que durante un decenio había tratado en vano de convencer a los políticos y funcionarios de que en esa zona las empresas mafiosas estaban conquistando varios sectores del mercado como el transporte, la construcción y la eliminación de residuos, ofreciendo precios competitivos fuera del mercado que ponían de rodillas a las empresas legales.
Y los políticos y los funcionarios le respondieron que los propietarios de esas empresas eran administradores bien educados, que estaban ofreciendo servicios y contratos con costos bajos beneficiando a la comunidad y que eran muy sensibles a las necesidades de la ciudad, ya que financian exposiciones de arte y otros eventos culturales.
Pero el aspecto más preocupante que se desprende de las investigaciones en las regiones Centro-Norte del país, es la relación triangular entre los ejecutivos de la mafia, los empresarios y los políticos y funcionarios locales.
Son crecientes las investigaciones que demuestran el crecimiento y la propagación en aquellas zonas de la estructura criminal nacida de la unión estable de intereses entre el mundo de la corrupción política-administrativa, el empresariado y la mafia.
Los medios de comunicación utilizan diferentes expresiones para definir este nuevo fenómeno criminal: bandas, P3, P4, juntas de negocios, etc.
Pero más allá de la variedad de términos y eventos, el elemento estructural constante es la presencia simultánea en cada una de estas estructuras criminales de políticos, funcionarios públicos, empresarios y comerciantes vinculados a la mafia, todos de acuerdo en utilizar la influencia política y administrativa junto a capitales legales y capitales ilegales de origen mafioso para enriquecerse en diversos ámbitos, distorsionando las reglas del mercado y de la administración pública.
Así que hoy ya no estamos en condiciones de determinar si la verdadera emergencia nacional está constituida por la mafia, por la corrupción o por una mezcla letal de ambas.
La corrupción se ha convertido en el caldo de cultivo de cualquier ilegalidad, incluidas las de tipo mafioso, debido a una serie de reformas y de leyes promulgadas en Italia en los últimos años que han contribuido a aumentar el grado de impunidad en este ámbito.
Se trata de leyes que han quitado a los jueces penales la posibilidad de controlar el mal uso del poder público, de leyes que han reducido los plazos de prescripción de muchos delitos de cuello blanco y que, por lo tanto, se declaran extinguidos antes de que se pueda lograr una sentencia definitiva de condena, e incluso de leyes que han perdonado las penas por delitos graves, incluido el delito de tráfico electoral político-mafioso previsto en el Artículo 616 de Código Penal.
el Estado italiano no ha puesto en marcha la Convención del Consejo de Europa sobre la corrupción después de haberla firmado en 1999. Por tal motivo muchos comportamientos ilegales, como el tráfico de influencias, no son objeto de persecución penal.
También hay que señalar que se aprobaron leyes que han permitido la regularización fiscal (N.deT: blanqueo) de capitales de origen ilegal exportados al extranjero con garantías de anonimato y de secreto, para evitar que los jueces y las fuerzas policiales puedan determinar si alguno esos capitales así regularizados eran también capitales mafiosos.
(...)
Como suelde decirse en Francia, los niños no se educan con palabras, sino con el ejemplo. Lo mismo vale en la relación entre gobernantes y gobernados. Es difícil pretender en los gobernados una tasa de moralidad pública superior a la de los gobernantes.
Por lo tanto, si no se pone freno a la corrupción, la guerra contra la mafia está perdida antes de empezar y la detención de cientos de miembros de la mafia y la confiscación de grandes propiedades sólo cumplirá una mera función de contención.
Sería un error creer que los fenómenos que he descrito pertenecen sólo a la realidad italiana.
En Italia estos fenómenos salieron a la luz porque, gracias a la Constitución de 1948, hay un poder judicial que ahora goza de independencia y de autonomía con respecto al poder político y que, además, puede contar con una policía altamente profesional y herramientas de investigación muy penetrantes como las interceptaciones.
En otros países donde estas condiciones no existen, totalmente o en parte, el mismo fenómeno se propaga de una manera oculta.
Por ejemplo ahora se reconoce universalmente que el capitalismo soviético es un capitalismo mafioso en un porcentaje que equivale a entre sesenta y setenta por ciento.
De hecho, fuentes del gobierno ruso afirman que alrededor del 40% de las empresas privadas, el 60% del Estado, el 85% de los bancos rusos y el 70% de las actividades comerciales están sujetos a infiltraciones o bajo la influencia de organizaciones criminales, y que casi todas las empresas comerciales en las principales ciudades están controladas directa o indirectamente por los grupos delictivos.
Y con las últimas elecciones esta situación ha empeorado.
Muchos mafiosos se han convertido en asistentes parlamentarios, previo pago de una suma de dinero. Y ahora, en Rusia, los 450 diputados de la Duma tienen unos quince mil asistentes, algunos de los cuales han sido asesinados a causa de los conflictos entre los grupos criminales locales.
Ahora la mafia rusa se sienta en el corazón de las finanzas internacionales y se ha convertido en uno de los componentes estructurales del capitalismo global, de un nuevo poder privado capaz de influir en el orden económico y geopolítico internacional.
La compenetración entre el capitalismo legal y el capitalismo mafioso, así como el crecimiento turbulento de la estructura criminal también es una trágica realidad en algunos países europeos nacidos a partir del colapso del imperio soviético, en los que la fusión entre los representantes de la «nomenklatura» y las mafias en el poder es tan fuerte que algunos estudiosos para definir a estos países utilizan los términos «regímenes criminocráticos« y «Estados de la mafia».
Situaciones similares se encuentran en varios países de África y de América Latina.
Por último, en el corazón de Europa el blanqueo de los capitales mafiosos que se invierten en los más diversos sectores es un fenómeno creciente y el riesgo de una invisible colonización económico-mafiosa en áreas cada vez mayores del territorio europeo no debe subestimarse.
La lección que cabe extraer de la propagación de las mafias en las regiones del norte de Italia que se consideraban inmunizadas, es una señal de alarma que no sólo suena en Italia, sino también en toda Europa, especialmente en un período histórico como el actual, en el que la hegemonía mundial de un turbo-capitalismo mundial, refractario a todas las reglas y controles, ha creado grandes áreas de anomia y desregulación que constituyen un terreno fértil para la expansión tanto de la denominada «economía canalla» como de la economía mafiosa.
Fuente: http://www.antimafiaduemila.com/content/view/33652/78/
Os interesses dos capitalistas
As confederações patronais contam hoje com interlocutores mais favoráveis do que nunca às propostas que têm vindo a defender. Questões como a redução das indemnizações para todos os trabalhadores - e não apenas para os futuros contratados - ou as mais diversas formas de flexibilização da legislação laboral voltarão a estar, assim, em cima da mesa.
A Confederação do Comércio elege como prioritária a redução dos custos de reestruturação, defendendo, por isso, que a redução das indemnizações - de 30 para 20 ou 22 dias de salário por cada ano trabalhado - seja imediatamente aplicada a todos os trabalhadores.
Também a Confederação Empresarial (CIP), que inicialmente tinha colocado reservas aos custos que esta opção poderia implicar, explica agora qual o cenário ideal. “É preferível que seja extensível [a todos os trabalhadores], desde que não implique o fundo para despedimentos”, afirma António Saraiva, da CIP.
A negociação individual de horários mais flexíveis ou o alargamento do regime de contratos a prazo também estão entre as preocupações das confederações patronais. Que não deixarão de apoiar a liberalização dos despedimentos individuais, caso o FMI e a Comissão Europeia queiram concretizar o que sempre defenderam. “Vamos ver o que dizem. Se quiserem ir mais para a frente, estamos de acordo”, afirma Vieira Lopes, que admite as vantagens da regulamentação do conceito de “justa causa” do despedimento.
Os patrões estão contra a subida do salário mínimo e o Turismo vai mais longe, defendendo mesmo que a legislação permita cortes salariais idênticos aos que foram feitos na Função Pública. A CIP prefere falar de medidas que facilitem um “ajustamento salarial”, mas esta questão é vista com cautela pela Confederação do Comércio, que teme os efeitos na procura.
Na política fiscal, o Turismo opõe-se à subida do IVA, enquanto o Comércio admite negociar uma solução que garanta, em contrapartida, uma descida da taxa social única.
O acesso ao crédito é outra das preocupações das organizações patronais, que sublinham a importância da existência de condições para o crescimento e o emprego. Neste ponto, a CIP defende que o Sector Empresarial do Estado pague as suas dívidas, libertando o crédito para as empresas.
(...)
A redução do valor, da duração ou dos critérios de acesso e manutenção do subsídio estão entre as hipóteses que têm sido levantadas. Num artigo recentemente publicado pelo FMI - que não vincula a instituição - os autores defendem que o subsídio de desemprego deve ser generoso no início, mas não tanto no fim do período.
in Jornal de Negócios, on-line, hoje
A Confederação do Comércio elege como prioritária a redução dos custos de reestruturação, defendendo, por isso, que a redução das indemnizações - de 30 para 20 ou 22 dias de salário por cada ano trabalhado - seja imediatamente aplicada a todos os trabalhadores.
Também a Confederação Empresarial (CIP), que inicialmente tinha colocado reservas aos custos que esta opção poderia implicar, explica agora qual o cenário ideal. “É preferível que seja extensível [a todos os trabalhadores], desde que não implique o fundo para despedimentos”, afirma António Saraiva, da CIP.
A negociação individual de horários mais flexíveis ou o alargamento do regime de contratos a prazo também estão entre as preocupações das confederações patronais. Que não deixarão de apoiar a liberalização dos despedimentos individuais, caso o FMI e a Comissão Europeia queiram concretizar o que sempre defenderam. “Vamos ver o que dizem. Se quiserem ir mais para a frente, estamos de acordo”, afirma Vieira Lopes, que admite as vantagens da regulamentação do conceito de “justa causa” do despedimento.
Os patrões estão contra a subida do salário mínimo e o Turismo vai mais longe, defendendo mesmo que a legislação permita cortes salariais idênticos aos que foram feitos na Função Pública. A CIP prefere falar de medidas que facilitem um “ajustamento salarial”, mas esta questão é vista com cautela pela Confederação do Comércio, que teme os efeitos na procura.
Na política fiscal, o Turismo opõe-se à subida do IVA, enquanto o Comércio admite negociar uma solução que garanta, em contrapartida, uma descida da taxa social única.
O acesso ao crédito é outra das preocupações das organizações patronais, que sublinham a importância da existência de condições para o crescimento e o emprego. Neste ponto, a CIP defende que o Sector Empresarial do Estado pague as suas dívidas, libertando o crédito para as empresas.
(...)
A redução do valor, da duração ou dos critérios de acesso e manutenção do subsídio estão entre as hipóteses que têm sido levantadas. Num artigo recentemente publicado pelo FMI - que não vincula a instituição - os autores defendem que o subsídio de desemprego deve ser generoso no início, mas não tanto no fim do período.
in Jornal de Negócios, on-line, hoje
segunda-feira, 18 de abril de 2011
MAX WEBER
Max Weber
(Sociólogo, historiador e político alemão)
21-4-1864, Erfurt
14-6-1920, Munique
Weber é considerado, junto com Karl Marx e Émile Durkheim, um dos fundadores da sociologia e dos estudos comparados sobre cultura e religião, disciplinas às quais deu um impulso decisivo. A sua abordagem diferia da de Marx, que utilizou o materialismo dialético como método para explicar a evolução histórica das relações de produção e das forças produtivas. Contrastava igualmente com as propostas de Durkheim, que considerava ser a religião a chave para entender as relações entre o indivíduo e a sociedade. Para Weber, o núcleo da análise social consistia na interdependência entre religião, economia e sociedade. No seu conhecido ensaio A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1904-1905), Weber expunha por que haviam surgido no âmbito ocidental, e só aí, fenômenos culturais que iriam assumir um significado e uma validade universais. O protestantismo e, especialmente, o calvinismo haviam estabelecido as bases do sucesso econômico, da racionalização da sociedade ocidental e, por último, do desenvolvimento do capitalismo. Tudo isso a partir de conceitos como a ética da renúncia ao instinto (ascese interior) e o desencanto ante o mundo. Weber também procurou uma ética econômica das religiões que, com exceção do Islã, seria baseada em raciocínios histórico-empíricos (Ensaios para uma Sociologia da Religião, 1920-1921). Nas suas obras publicadas postumamente, Economia e Sociedade (1922) e Ensaios sobre Economia (1922), Weber estabeleceu as bases metodológicas para a análise da economia e da sociedade. O autor defendia que a investigação sociológica só era possível devido a uma multiplicidade de casos individuais, a partir do delineamento de modelos empíricos de análise, revelando-se este método decisivo nos estudos de cultura comparada. A sua concepção de uma sociologia abrangente partia do conceito de conduta social, segundo o qual a Ciência devia explicar o fenômeno social a partir da investigação do comportamento subjetivo, que vincula o indivíduo a seus atos. A investigação, independentemente de qualquer premissa ética, seria baseada nos interesses e nos juízos subjetivos do ser humano. Weber foi professor em Berlim (1893), Friburgo (1894-1897), Heidelberg (1897-1903), Viena (1918) e Munique (1919-1920). Em 1891, foi um dos fundadores da Federação Pan-Germanista, adquirindo notoriedade em 1895 com o seu discurso de posse na Universidade de Friburgo, no qual se declarou a favor do imperialismo. Em 1896, afastou-se da Associação e fundou, juntamente com Friedrich Naumann, a União Social Liberal. Em 1918, foi um dos fundadores do Partido Democrático Alemão (DDP), exercendo notável influência na redação da Constituição de Weimar.
in netsaber biografias
MAX WEBER
por Phil Bartle
(traduzido por Gabriela Santos )
Max Weber, um dos três principais "Pais da Sociologia", contribuiu para a nossa compreensão da perspectiva sociológica, da natureza da mudança social e da desigualdade social.
. Max Weber (1864-1920) ajudou-nos a compreender a natureza da sociedade.
. Ele discordava da abordagem de Marx mas as suas objecções eram diferentes das de Durkheim.
. Sem negar a importância dos factores materiais, defendidos por Marx, nem a noção de factos sociais externos aos indivíduos, defendida por Durkheim, ele acrescentou que deveríamos olhar para as ideias. Em especial, para os significados que atribuimos às coisas e para o papel das mudanças nas ideias que contribuem para a sociedade e para as mudanças sociais.
. No âmbito dos significados que as pessoas atribuem às coisas, Weber utilizou o termo alemão, "verstehen," para discutir a nossa compreensão profunda daqueles significados.
. Como a cultura se baseia em símbolos e os símbolos, para o serem, precisam de ter significados, compreender os símbolos é, então, um elemento essencial na compreensão da sociedade.
. Em Sociologia, actualmente, continuamos a usar a sua palavra, "verstehen," para analisar este importante elemento da cultura e da sociedade.
. Em oposição à abordagem de Marx relativamente à compreensão da Revolução Industrial, Weber afirmou que, em primeiro lugar, surgiu uma mudança radical nas ideias.
. Este facto reflectiu-se na Reforma Protestante e nas prédicas de líderes protestantes, especialmente John Calvin, que se opunham aos pensamentos e práticas da Igreja Católica, dominantes na altura.
. Entre os vários valores defendidos pelos Protestantes, destacam-se as ideias de auto-suficiência, frugalidade e relações independentes e íntimas com Deus, em vez de através de um padre.
. A frugalidade era uma atitude essencial necessária ao encorajamento da poupança e do investimento, um importante elemento do capitalismo e da Revolução Industrial.
. Os Protestantes afirmavam ainda que não precisavam de uma organização imensa, corrupta e decadente para lhes dizer como pensar. Segundo eles, a independência de pensamento ajudava a que as pessoas começassem os seus próprios negócios e contribuissem para o crescimento da classe detentora de capital.
. A Reforma Protestante, de acordo com Weber, foi o factor determinante que desencadeou a Revolução Industrial e a ascenção do Capitalismo, uma abordagem muito diferente da de Marx.
. Uma terceira contribuição de Weber relaciona-se com a sua visão sobre a natureza social da desigualdade.
. Marx enfatizou as relações com os meios de produção.
. Sem negar a importância da posse de riqueza, Weber acrescentou o prestígio, ou seja, os juízos de valor que as pessoas fazem umas das outras e que contribuem para o seu posicionamento nas respectivas classes sociais.
. Novamente, a grande preocupação de Weber era ao nível das ideias.
. Karl Marx via as classes sociais como sendo relacionadas com os meios de produção.. Ele viu uma mudança de uma sociedade feudal baseada na Agricultura, em que a classe detentora de terras se diferenciava da classe dos camponeses, para uma sociedade marcada pela Revolução Industrial, em que a classe detentora do capital, os prietários das fábricas se diferenciava da dos operários trabalhadores, que viviam do seu trabalho pago.
. Outros profissionais, tais como escriturários, agentes de informação, serviços de espionagem e informação e funcionários públicos, não contribuíam para a produção económica e eram, por isso, inúteis (não produtivos) e não constituiam classes.
. Max Weber, que escreveu meio século mais tarde, pelo contrário, declarava que as classes dependiam de três factores: poder, riqueza e prestígio.
. Na Sociologia actual, tendemos a considerar estes mesmos três factores, embora os sociólogos marxistas ainda sublinhem as relações aos meios de produção, incluindo, hoje, a produção de ideias e informação.
. Weber também considerava que a sociedade era composta por várias camadas e não apenas duas e que, nesta divisão, havia outros factores importantes, para além dos materiais.
. Considerando os trabalhos dos três, Marx, Durkheim e Weber, hoje vemos a desigualdade social como tendo origem em três elementos distintos: riqueza, poder e prestígio.
. Os conflitos laborais tendem hoje a ocorrer entre trabalhadores e administradores. Estes últimos são pagos para tomar o partido dos proprietários que são, actualmente, os que possuem títulos e acções das empresas.
. Os trabalhos de Weber contribuiram para a Perspectiva Simbólica Interaccionista, uma das três perspectivas clássicas em Sociologia.
. Assim como para as restantes duas perspectivas, também não foi Weber que cunhou aquele termo, nem descobriu ou descreveu a perspectiva em si. Foi Blumer que o fez.
. Ele contribuiu grandemente para o nosso pensamento e aqueles que posteriormente continuaram a desenvolver a perspectiva simbólica interaccionista ––Blumer, Mead, Thomas, Park –– basearam-se em larga medida nos ensinamentos de Weber.
. Este autor também contribuiu para a observação sociológica e para a análise das organizações.
. Entre os seus vários trabalhos, Weber debruçou-se sobre a natureza das burocracias para investigar as razões pelas quais elas detinham tanto poder.
. Ele registou o facto de as burocracias terem aumentado e se terem fortalecido com a Revolução Industrial.
. Weber identificou cinco elementos das burocracias que lhes conferiam força: hierarquia da autoridade; divisão do trabalho; regras escritas; comunicações escritas e a impessoalidade.
. Dois destes elementos podem ser problemáticos quando perguntamos se podem ser utilizados para fortalecer as comunidades.
. Uma "Hierarquia da autoridade", especialmente se é exercida de forma rígida, ríspida e ditatorial e a "impessoalidade", se alienar os membros da comunidade, são ambos elementos que reduzem o gemeinschaft de uma comunidade, assim reduzindo a característica essencial dessa comunidade.
. Weber escreveu em resposta a Marx com a intenção de contradizer ou reduzir a abordagem materialista.
. Ele viu que a principal mudança foi o surgimento do Protestantismo, cujos valores e crenças contribuiram para a Revolução Industrial. (...)
in www.scn.org./mpfc/modules
(Sociólogo, historiador e político alemão)
21-4-1864, Erfurt
14-6-1920, Munique
Weber é considerado, junto com Karl Marx e Émile Durkheim, um dos fundadores da sociologia e dos estudos comparados sobre cultura e religião, disciplinas às quais deu um impulso decisivo. A sua abordagem diferia da de Marx, que utilizou o materialismo dialético como método para explicar a evolução histórica das relações de produção e das forças produtivas. Contrastava igualmente com as propostas de Durkheim, que considerava ser a religião a chave para entender as relações entre o indivíduo e a sociedade. Para Weber, o núcleo da análise social consistia na interdependência entre religião, economia e sociedade. No seu conhecido ensaio A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1904-1905), Weber expunha por que haviam surgido no âmbito ocidental, e só aí, fenômenos culturais que iriam assumir um significado e uma validade universais. O protestantismo e, especialmente, o calvinismo haviam estabelecido as bases do sucesso econômico, da racionalização da sociedade ocidental e, por último, do desenvolvimento do capitalismo. Tudo isso a partir de conceitos como a ética da renúncia ao instinto (ascese interior) e o desencanto ante o mundo. Weber também procurou uma ética econômica das religiões que, com exceção do Islã, seria baseada em raciocínios histórico-empíricos (Ensaios para uma Sociologia da Religião, 1920-1921). Nas suas obras publicadas postumamente, Economia e Sociedade (1922) e Ensaios sobre Economia (1922), Weber estabeleceu as bases metodológicas para a análise da economia e da sociedade. O autor defendia que a investigação sociológica só era possível devido a uma multiplicidade de casos individuais, a partir do delineamento de modelos empíricos de análise, revelando-se este método decisivo nos estudos de cultura comparada. A sua concepção de uma sociologia abrangente partia do conceito de conduta social, segundo o qual a Ciência devia explicar o fenômeno social a partir da investigação do comportamento subjetivo, que vincula o indivíduo a seus atos. A investigação, independentemente de qualquer premissa ética, seria baseada nos interesses e nos juízos subjetivos do ser humano. Weber foi professor em Berlim (1893), Friburgo (1894-1897), Heidelberg (1897-1903), Viena (1918) e Munique (1919-1920). Em 1891, foi um dos fundadores da Federação Pan-Germanista, adquirindo notoriedade em 1895 com o seu discurso de posse na Universidade de Friburgo, no qual se declarou a favor do imperialismo. Em 1896, afastou-se da Associação e fundou, juntamente com Friedrich Naumann, a União Social Liberal. Em 1918, foi um dos fundadores do Partido Democrático Alemão (DDP), exercendo notável influência na redação da Constituição de Weimar.
in netsaber biografias
MAX WEBER
por Phil Bartle
(traduzido por Gabriela Santos )
Max Weber, um dos três principais "Pais da Sociologia", contribuiu para a nossa compreensão da perspectiva sociológica, da natureza da mudança social e da desigualdade social.
. Max Weber (1864-1920) ajudou-nos a compreender a natureza da sociedade.
. Ele discordava da abordagem de Marx mas as suas objecções eram diferentes das de Durkheim.
. Sem negar a importância dos factores materiais, defendidos por Marx, nem a noção de factos sociais externos aos indivíduos, defendida por Durkheim, ele acrescentou que deveríamos olhar para as ideias. Em especial, para os significados que atribuimos às coisas e para o papel das mudanças nas ideias que contribuem para a sociedade e para as mudanças sociais.
. No âmbito dos significados que as pessoas atribuem às coisas, Weber utilizou o termo alemão, "verstehen," para discutir a nossa compreensão profunda daqueles significados.
. Como a cultura se baseia em símbolos e os símbolos, para o serem, precisam de ter significados, compreender os símbolos é, então, um elemento essencial na compreensão da sociedade.
. Em Sociologia, actualmente, continuamos a usar a sua palavra, "verstehen," para analisar este importante elemento da cultura e da sociedade.
. Em oposição à abordagem de Marx relativamente à compreensão da Revolução Industrial, Weber afirmou que, em primeiro lugar, surgiu uma mudança radical nas ideias.
. Este facto reflectiu-se na Reforma Protestante e nas prédicas de líderes protestantes, especialmente John Calvin, que se opunham aos pensamentos e práticas da Igreja Católica, dominantes na altura.
. Entre os vários valores defendidos pelos Protestantes, destacam-se as ideias de auto-suficiência, frugalidade e relações independentes e íntimas com Deus, em vez de através de um padre.
. A frugalidade era uma atitude essencial necessária ao encorajamento da poupança e do investimento, um importante elemento do capitalismo e da Revolução Industrial.
. Os Protestantes afirmavam ainda que não precisavam de uma organização imensa, corrupta e decadente para lhes dizer como pensar. Segundo eles, a independência de pensamento ajudava a que as pessoas começassem os seus próprios negócios e contribuissem para o crescimento da classe detentora de capital.
. A Reforma Protestante, de acordo com Weber, foi o factor determinante que desencadeou a Revolução Industrial e a ascenção do Capitalismo, uma abordagem muito diferente da de Marx.
. Uma terceira contribuição de Weber relaciona-se com a sua visão sobre a natureza social da desigualdade.
. Marx enfatizou as relações com os meios de produção.
. Sem negar a importância da posse de riqueza, Weber acrescentou o prestígio, ou seja, os juízos de valor que as pessoas fazem umas das outras e que contribuem para o seu posicionamento nas respectivas classes sociais.
. Novamente, a grande preocupação de Weber era ao nível das ideias.
. Karl Marx via as classes sociais como sendo relacionadas com os meios de produção.. Ele viu uma mudança de uma sociedade feudal baseada na Agricultura, em que a classe detentora de terras se diferenciava da classe dos camponeses, para uma sociedade marcada pela Revolução Industrial, em que a classe detentora do capital, os prietários das fábricas se diferenciava da dos operários trabalhadores, que viviam do seu trabalho pago.
. Outros profissionais, tais como escriturários, agentes de informação, serviços de espionagem e informação e funcionários públicos, não contribuíam para a produção económica e eram, por isso, inúteis (não produtivos) e não constituiam classes.
. Max Weber, que escreveu meio século mais tarde, pelo contrário, declarava que as classes dependiam de três factores: poder, riqueza e prestígio.
. Na Sociologia actual, tendemos a considerar estes mesmos três factores, embora os sociólogos marxistas ainda sublinhem as relações aos meios de produção, incluindo, hoje, a produção de ideias e informação.
. Weber também considerava que a sociedade era composta por várias camadas e não apenas duas e que, nesta divisão, havia outros factores importantes, para além dos materiais.
. Considerando os trabalhos dos três, Marx, Durkheim e Weber, hoje vemos a desigualdade social como tendo origem em três elementos distintos: riqueza, poder e prestígio.
. Os conflitos laborais tendem hoje a ocorrer entre trabalhadores e administradores. Estes últimos são pagos para tomar o partido dos proprietários que são, actualmente, os que possuem títulos e acções das empresas.
. Os trabalhos de Weber contribuiram para a Perspectiva Simbólica Interaccionista, uma das três perspectivas clássicas em Sociologia.
. Assim como para as restantes duas perspectivas, também não foi Weber que cunhou aquele termo, nem descobriu ou descreveu a perspectiva em si. Foi Blumer que o fez.
. Ele contribuiu grandemente para o nosso pensamento e aqueles que posteriormente continuaram a desenvolver a perspectiva simbólica interaccionista ––Blumer, Mead, Thomas, Park –– basearam-se em larga medida nos ensinamentos de Weber.
. Este autor também contribuiu para a observação sociológica e para a análise das organizações.
. Entre os seus vários trabalhos, Weber debruçou-se sobre a natureza das burocracias para investigar as razões pelas quais elas detinham tanto poder.
. Ele registou o facto de as burocracias terem aumentado e se terem fortalecido com a Revolução Industrial.
. Weber identificou cinco elementos das burocracias que lhes conferiam força: hierarquia da autoridade; divisão do trabalho; regras escritas; comunicações escritas e a impessoalidade.
. Dois destes elementos podem ser problemáticos quando perguntamos se podem ser utilizados para fortalecer as comunidades.
. Uma "Hierarquia da autoridade", especialmente se é exercida de forma rígida, ríspida e ditatorial e a "impessoalidade", se alienar os membros da comunidade, são ambos elementos que reduzem o gemeinschaft de uma comunidade, assim reduzindo a característica essencial dessa comunidade.
. Weber escreveu em resposta a Marx com a intenção de contradizer ou reduzir a abordagem materialista.
. Ele viu que a principal mudança foi o surgimento do Protestantismo, cujos valores e crenças contribuiram para a Revolução Industrial. (...)
in www.scn.org./mpfc/modules
sexta-feira, 15 de abril de 2011
Artigo de opinião
Vícios privados culpas públicas
00h04m
O à-vontade com que o ainda ministro das Finanças continua, na situação de emergência financeira em que o país se encontra, a dispor do dinheiro dos contribuintes e dos sacrifícios dos portugueses mais vulneráveis não tem, pelos vistos, limites. Agora diz que o Estado está "disponível" para entrar no capital dos bancos.
Isto depois de o mesmo Estado ter enterrado milhões no BPP e BPN e se ter endividado a juros usurários em benefício dos bancos, que intermediaram a dívida pública com dinheiro obtido no BCE a 1% e emprestado ao Estado a 7,8 e 9%. E que, quando a coisa deu para o torto, exigiram ao Governo a entrada do FMI, cuja "ajuda" inclui uma fatia específica para a Banca (se calhar para o negócio das privatizações a pataco que aí vem).
Disse-o o director-geral do FMI: "O problema de Portugal não é tanto a dívida pública como o financiamento dos bancos e a dívida privada".
De facto, a dívida pública portuguesa (previsão para 2011) corresponde a 97,3% do PIB e é inferior à de países como a Irlanda (107%), Grécia (150,2%), Bélgica (100,5%) ou Itália (120,2%). Mesmo as da França e Alemanha andam, respectivamente, pelos 86,8% e 75,9%.
Já a dívida privada, de que pouco se fala e cujas principais fatias são da Banca e do imobiliário, é de 220% do PIB! É essa dívida que a Comissão Administrativa de FMI, BCE e CE vem agora cobrar a pobres, pensionistas e desempregados. A bem da Nação, como sempre.
M. António Pina
in Jornal de Notícias, hoje.
00h04m
O à-vontade com que o ainda ministro das Finanças continua, na situação de emergência financeira em que o país se encontra, a dispor do dinheiro dos contribuintes e dos sacrifícios dos portugueses mais vulneráveis não tem, pelos vistos, limites. Agora diz que o Estado está "disponível" para entrar no capital dos bancos.
Isto depois de o mesmo Estado ter enterrado milhões no BPP e BPN e se ter endividado a juros usurários em benefício dos bancos, que intermediaram a dívida pública com dinheiro obtido no BCE a 1% e emprestado ao Estado a 7,8 e 9%. E que, quando a coisa deu para o torto, exigiram ao Governo a entrada do FMI, cuja "ajuda" inclui uma fatia específica para a Banca (se calhar para o negócio das privatizações a pataco que aí vem).
Disse-o o director-geral do FMI: "O problema de Portugal não é tanto a dívida pública como o financiamento dos bancos e a dívida privada".
De facto, a dívida pública portuguesa (previsão para 2011) corresponde a 97,3% do PIB e é inferior à de países como a Irlanda (107%), Grécia (150,2%), Bélgica (100,5%) ou Itália (120,2%). Mesmo as da França e Alemanha andam, respectivamente, pelos 86,8% e 75,9%.
Já a dívida privada, de que pouco se fala e cujas principais fatias são da Banca e do imobiliário, é de 220% do PIB! É essa dívida que a Comissão Administrativa de FMI, BCE e CE vem agora cobrar a pobres, pensionistas e desempregados. A bem da Nação, como sempre.
M. António Pina
in Jornal de Notícias, hoje.
quinta-feira, 14 de abril de 2011
UM REFERENDO
TRANSFORMAR NUM REFERENDO AS ELEIÇÕES DE 5 DE JUNHO
Os partidos do capital – PS, PSD e CDS – estão coniventes com o FMI e a ditadura do capital financeiro. Eles desejam-na. Por isso estão a amarrar as coisas para que tal ditadura se eternize. Esta semana chega a Lisboa uma delegação do FMI. O actual governo de gestão vai, servilmente, atender às suas exigências e assumir compromissos para os próximos anos, compromissos que obrigarão o governo resultante das eleições de 5 de Junho. Se isto acontecer será uma tragédia para o povo português, como se verifica agora na Grécia e na Irlanda.
Qual a saída? Transformar as eleições de 5 de Junho num referendo e eleger forças que ponham em causa os compromissos que vierem a ser estabelecidos com o FMI e o Fundo Europeu. Para isso é preciso que tais forças tenham propostas claras desde já. A manutenção de Portugal na Zona Euro é inviável. O país só pode resolver os seus problemas se recuperar a sua soberania monetária. É preciso ter a coragem de dizer e propor isso. Seria trágico que as forças políticas portuguesas mais consequentes, por timidez, falta de imaginação ou outra razão qualquer, não ousassem avançar as medidas de que o país precisa. Propostas claras e sem rodeios têm a capacidade de mobilizar um espectro amplo da opinião pública. Meias medidas tíbias (como propostas de "renegociações" com credores) nada mobilizam.
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IRLANDA: QUEIMAR BANQUEIROS E SAIR DO EURO
Quase a metade dos executivos das 200 principais empresas da Irlanda considera que os accionistas dos bancos deveriam ser "queimados" (sic), revela um inquérito do Sunday Independent . Trata-se de uma sequela das condições punitivas impostas pelo FMI/UE no acordo de €67,5 mil milhões para o salvamento da banca irlandesa. A Alemanha e a França pressionam por um aumento do imposto rendimento sobre as empresas em troca de um pequeno alívio nas condições de reembolso do empréstimo.
"Alguns economistas acreditam que os problemas de dívida da Irlanda podiam ser resolvidos pela saída do euro e a desvalorização da sua divisa. A ideia de romper com a Eurozona ganhou terrenos nos últimos meses. Ela teria sido impensável antes da crise de dívida soberana que esmagou a Grécia, a Irlanda e mais recentemente Portugal, o qual pediu um salvamento na semana passada", informa o Independent. .
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MAGNÍFICA VITÓRIA DO POVO ISLANDÊS !
No referendo de 9 de Abril de 2011 o povo islandês deu uma magnífica prova de lucidez, consciência e civismo ao votar "Não" ao pagamento das dívidas dos banqueiros corruptos do Icesave. Trata-se de uma vitória memorável que ficará registada na história económica mundial.
Apesar das pressões brutais feitas em favor do "Sim", com ameaças de toda espécie por parte da União Europeia, do FMI, das agências de classificação, dos governos britânico e holandês e dos políticos locais que dominam o parlamento e cozinharam um acordo dito "menos mau" que o anterior (rejeitado num primeiro referendo), o povo islandês soube ver onde estavam os seus verdadeiros interesses.
Contados 90% dos votos, os resultados mostram que o campo do "Não" tem 59,1 por cento e o do "Sim" apenas 40,9 por cento .
Deve-se louvar a dignidade e coragem do Presidente da República da Islândia, que soube enfrentar pressões a favor do acordo cozinhado pelo parlamento e exigiu a sua ratificação em referendo popular.
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OS 80 MIL MILHÕES DO "VAMOS VER"
As pressões da UE e do capital financeiro para que Portugal pedisse o "resgate" foram enormes. Eles acenavam com um empréstimo de 80 mil milhões de euros ao longo de três anos (para salvar os bancos credores, não Portugal). Mas quando o governo português capitulou, na quinta-feira, e pediu ajuda ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira /FMI verificou-se que os ditos 80 mil milhões ainda estão no "vamos ver". Eles vão impor as condições. Na Irlanda, a condição foi de que 80% da arrecadação fiscal será para pagar os credores e o restante para todas as necessidades do povo e do Estado irlandês.
Sugerir renegociação/reestruturação da dívida portuguesa é uma ilusão perigosa. Para já, o outro lado não quer renegociar e sim ditar condições. E mesmo que se dispusesse a isso Portugal compareceria à mesa de negociações numa posição de fraqueza. A alternativa real que deve ser examinada é de Portugal retirar-se da zona euro. Ela poderia ser subscrita por um amplo espectro político no país, da esquerda à direita
in http://www.resistir.info/
Os partidos do capital – PS, PSD e CDS – estão coniventes com o FMI e a ditadura do capital financeiro. Eles desejam-na. Por isso estão a amarrar as coisas para que tal ditadura se eternize. Esta semana chega a Lisboa uma delegação do FMI. O actual governo de gestão vai, servilmente, atender às suas exigências e assumir compromissos para os próximos anos, compromissos que obrigarão o governo resultante das eleições de 5 de Junho. Se isto acontecer será uma tragédia para o povo português, como se verifica agora na Grécia e na Irlanda.
Qual a saída? Transformar as eleições de 5 de Junho num referendo e eleger forças que ponham em causa os compromissos que vierem a ser estabelecidos com o FMI e o Fundo Europeu. Para isso é preciso que tais forças tenham propostas claras desde já. A manutenção de Portugal na Zona Euro é inviável. O país só pode resolver os seus problemas se recuperar a sua soberania monetária. É preciso ter a coragem de dizer e propor isso. Seria trágico que as forças políticas portuguesas mais consequentes, por timidez, falta de imaginação ou outra razão qualquer, não ousassem avançar as medidas de que o país precisa. Propostas claras e sem rodeios têm a capacidade de mobilizar um espectro amplo da opinião pública. Meias medidas tíbias (como propostas de "renegociações" com credores) nada mobilizam.
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IRLANDA: QUEIMAR BANQUEIROS E SAIR DO EURO
Quase a metade dos executivos das 200 principais empresas da Irlanda considera que os accionistas dos bancos deveriam ser "queimados" (sic), revela um inquérito do Sunday Independent . Trata-se de uma sequela das condições punitivas impostas pelo FMI/UE no acordo de €67,5 mil milhões para o salvamento da banca irlandesa. A Alemanha e a França pressionam por um aumento do imposto rendimento sobre as empresas em troca de um pequeno alívio nas condições de reembolso do empréstimo.
"Alguns economistas acreditam que os problemas de dívida da Irlanda podiam ser resolvidos pela saída do euro e a desvalorização da sua divisa. A ideia de romper com a Eurozona ganhou terrenos nos últimos meses. Ela teria sido impensável antes da crise de dívida soberana que esmagou a Grécia, a Irlanda e mais recentemente Portugal, o qual pediu um salvamento na semana passada", informa o Independent. .
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MAGNÍFICA VITÓRIA DO POVO ISLANDÊS !
No referendo de 9 de Abril de 2011 o povo islandês deu uma magnífica prova de lucidez, consciência e civismo ao votar "Não" ao pagamento das dívidas dos banqueiros corruptos do Icesave. Trata-se de uma vitória memorável que ficará registada na história económica mundial.
Apesar das pressões brutais feitas em favor do "Sim", com ameaças de toda espécie por parte da União Europeia, do FMI, das agências de classificação, dos governos britânico e holandês e dos políticos locais que dominam o parlamento e cozinharam um acordo dito "menos mau" que o anterior (rejeitado num primeiro referendo), o povo islandês soube ver onde estavam os seus verdadeiros interesses.
Contados 90% dos votos, os resultados mostram que o campo do "Não" tem 59,1 por cento e o do "Sim" apenas 40,9 por cento .
Deve-se louvar a dignidade e coragem do Presidente da República da Islândia, que soube enfrentar pressões a favor do acordo cozinhado pelo parlamento e exigiu a sua ratificação em referendo popular.
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OS 80 MIL MILHÕES DO "VAMOS VER"
As pressões da UE e do capital financeiro para que Portugal pedisse o "resgate" foram enormes. Eles acenavam com um empréstimo de 80 mil milhões de euros ao longo de três anos (para salvar os bancos credores, não Portugal). Mas quando o governo português capitulou, na quinta-feira, e pediu ajuda ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira /FMI verificou-se que os ditos 80 mil milhões ainda estão no "vamos ver". Eles vão impor as condições. Na Irlanda, a condição foi de que 80% da arrecadação fiscal será para pagar os credores e o restante para todas as necessidades do povo e do Estado irlandês.
Sugerir renegociação/reestruturação da dívida portuguesa é uma ilusão perigosa. Para já, o outro lado não quer renegociar e sim ditar condições. E mesmo que se dispusesse a isso Portugal compareceria à mesa de negociações numa posição de fraqueza. A alternativa real que deve ser examinada é de Portugal retirar-se da zona euro. Ela poderia ser subscrita por um amplo espectro político no país, da esquerda à direita
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