Advertência dos editores franceses.]
Primeira parte – os problemas filosóficos
Introdução e Capítulo I
INTRODUÇÃO
I. — Por que devemos estudar a filosofia?
II. — O estudo da filosofia é uma coisa difícil?
III. — O que é a filosofia?
IV. — O que é a filosofia materialista?
V. — Quais são as relações entre o materialismo e o marxismo?
VI. — Campanhas da burguesia contra o marxismo.
I. — Por que devemos estudar a filosofia?
Propomo-nos, no decurso desta obra, apresentar e explicar os princípios elementares
da filosofia materialista.
Porquê? Porque o materialismo está intimamente ligado a uma filosofia e a um
método: os do materialismo dialéctico. É, pois, indispensável estudar essa filosofia e
esse método, para na verdade compreender o marxismo e refutar os argumentos das
teorias burguesas, assim como para empreender uma luta política eficaz.
Com efeito, Lenine disse: «Sem teoria revolucionária, não há movimento
revolucionário1». Isto quer dizer, antes de mais: é preciso juntar a teoria à prática.
1 LÉNINE: «QUE fazer?», Edições sociais, 1947, p. 26 [Obras Escolhidas de Lénine em três Tomos, Ed.
Avante 1977, Tomo I, pp. 79-214 – NE]
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O que é a prática? É o acto de realizar. Por exemplo, a indústria, a agricultura
realizam (isto é: tornam reais) certas teorias (teorias químicas, físicas ou biológicas).
O que é a teoria? É o conhecimento das coisas que queremos realizar.
Pode ser-se apenas prático - mas, então, realiza-se por rotina. Pode ser-se apenas
teórico - mas, então, o que se concebe é muitas vezes irrealizável. É preciso, portanto,
que haja ligação entre a teoria e a prática. A questão é saber quais devem ser essa
teoria e a sua ligação com a prática. Pensamos que é necessário ao militante operário
um método de análise e de raciocínio justo para poder realizar uma acção
revolucionária justa. Que lhe é preciso um método que não seja um dogma, dando-lhe
soluções acabadas, mas um método que tenha em conta factos e circunstâncias que
nunca são os mesmos, um método que nunca separe a teoria da prática, o raciocínio
da vida. Ora, esse método está contido na filosofia do materialismo dialéctico, base do
marxismo, que nos propomos explicar.
II. — O estudo da filosofia é uma coisa difícil?
Pensa-se, geralmente, que o estudo da filosofia é, para os operários, uma coisa cheia
de dificuldades, necessitando conhecimentos especiais. É preciso confessar que a
maneira como estão redigidos os manuais burgueses tem a intenção de os levar a
pensar desse modo, e não pode senão aborrecê-los. Não pensamos negar as
dificuldades que o estudo, em geral, comporta, e a filosofia, em particular; mas estas
dificuldades são perfeitamente superáveis, e ocorrem, sobretudo, pelo facto de se
tratar de coisas novas para muitos dos nossos leitores.
Desde o início, vamos, por outro lado, precisando as coisas, chamá-los a rever certas
definições de palavras que estão deturpadas na linguagem corrente.
III. — O que é a filosofia?
Vulgarmente, entende-se por filósofo: ou aquele que vive nas nuvens, ou o que toma
as coisas pelo lado bom, aquele que nada faz. Ora, muito ao contrário, o filósofo é
aquele que quer, a certas perguntas, dar respostas precisas, e, se se considerar que a
filosofia quer dar uma explicação aos problemas do universo (de onde vem o mundo?
para onde vamos? etc.), vê-se, por conseguinte, que o filósofo se ocupa de muitas
coisas, e, ao contrário do que dizem, trabalha muito.
Diremos, portanto, para definir a filosofia, que ela quer explicar o universo, a
natureza, que é o estudo dos problemas mais gerais. Os menos gerais são estudados
pelas ciências. A filosofia é, pois, um prolongamento das ciências, no sentido em que
se apoia nas ciências e delas depende.
Acrescentaremos, em seguida, que a filosofia marxista utiliza um método de
resolução de todos os problemas, e que tal método depende do que se chama o
materialismo.
IV. — O que é a filosofia materialista?
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Também aí existe uma confusão, que devemos denunciar imediatamente; é vulgar
entender-se por materialista aquele que só pensa em gozar com os prazeres materiais.
Jogando com a palavra materialismo - que contém a palavra matéria -, chegou a darse-
lhe um sentido completamente falso.
Vamos, estudando o materialismo - no sentido científico da palavra -, restituir-lhe o
seu verdadeiro significado; ser materialista, não impede, iremos vê-lo, de ter um ideal
e de lutar para o fazer triunfar.
Dissemos que a filosofia quer dar uma explicação aos problemas mais gerais do
mundo. Mas, no decurso da história da humanidade, esta explicação não foi sempre a
mesma.
Os primeiros homens procuraram, na verdade, explicar a natureza, o mundo, mas
não o conseguiram. O que permite, com efeito, explicar o mundo e os fenómenos que
nos rodeiam são as ciências; ora, as descobertas que permitiram às ciências progredir
são muito recentes.
A ignorância dos primeiros homens era, pois, um obstáculo às suas investigações. Por
isso é que no decurso da História, por causa desta ignorância, vemos surgir as
religiões, que querem explicar, também elas, o mundo, mas por forças sobrenaturais.
É esta uma explicação anticientífica. Ora, como, pouco a pouco, no decurso dos
séculos, a ciência se vai desenvolver, os homens vão tentar explicar o mundo através
de factos materiais, a partir de experiências científicas, e é daí, desta vontade de
explicar as coisas pelas ciências, que nasce a filosofia materialista.
Nas páginas seguintes, vamos estudar o que é o materialismo, mas, desde já, devemos
fixar que o materialismo não é mais do que a explicação científica do universo.
Estudando a história da filosofia materialista, veremos quanto foi áspera e difícil a
luta contra a ignorância. É preciso, aliás, constatar que, mesmo nos nossos dias, esta
luta não terminou ainda, uma vez que o materialismo e a ignorância continuam a
subsistir juntos, lado a lado.
É no coração desta luta que Marx e Engels intervieram. Compreendendo a
importância das grandes descobertas do século XIX, permitiram à filosofia
materialista fazer enormes progressos na explicação científica do universo. Foi assim
que nasceu o materialismo dialéctico. Depois, os primeiros, compreenderam que as
leis que regem o mundo permitem também explicar a evolução das sociedades;
formularam, assim, a célebre teoria do materialismo histórico.
Propomo-nos estudar, nesta obra, primeiramente, o materialismo, depois, o
materialismo dialéctico e, por fim, o materialismo histórico. Mas, antes de mais,
queremos estabelecer as relações entre o materialismo e o marxismo.
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