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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Georges Politzer- 2ª Parte- O Materialismo

Advertência dos editores franceses.]


Primeira parte – os problemas filosóficos

Introdução e Capítulo I

INTRODUÇÃO

I. — Por que devemos estudar a filosofia?

II. — O estudo da filosofia é uma coisa difícil?

III. — O que é a filosofia?

IV. — O que é a filosofia materialista?

V. — Quais são as relações entre o materialismo e o marxismo?

VI. — Campanhas da burguesia contra o marxismo.

I. — Por que devemos estudar a filosofia?

Propomo-nos, no decurso desta obra, apresentar e explicar os princípios elementares

da filosofia materialista.

Porquê? Porque o materialismo está intimamente ligado a uma filosofia e a um

método: os do materialismo dialéctico. É, pois, indispensável estudar essa filosofia e

esse método, para na verdade compreender o marxismo e refutar os argumentos das

teorias burguesas, assim como para empreender uma luta política eficaz.

Com efeito, Lenine disse: «Sem teoria revolucionária, não há movimento

revolucionário1». Isto quer dizer, antes de mais: é preciso juntar a teoria à prática.

1 LÉNINE: «QUE fazer?», Edições sociais, 1947, p. 26 [Obras Escolhidas de Lénine em três Tomos, Ed.

Avante 1977, Tomo I, pp. 79-214 – NE]

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O que é a prática? É o acto de realizar. Por exemplo, a indústria, a agricultura

realizam (isto é: tornam reais) certas teorias (teorias químicas, físicas ou biológicas).

O que é a teoria? É o conhecimento das coisas que queremos realizar.

Pode ser-se apenas prático - mas, então, realiza-se por rotina. Pode ser-se apenas

teórico - mas, então, o que se concebe é muitas vezes irrealizável. É preciso, portanto,

que haja ligação entre a teoria e a prática. A questão é saber quais devem ser essa

teoria e a sua ligação com a prática. Pensamos que é necessário ao militante operário

um método de análise e de raciocínio justo para poder realizar uma acção

revolucionária justa. Que lhe é preciso um método que não seja um dogma, dando-lhe

soluções acabadas, mas um método que tenha em conta factos e circunstâncias que

nunca são os mesmos, um método que nunca separe a teoria da prática, o raciocínio

da vida. Ora, esse método está contido na filosofia do materialismo dialéctico, base do

marxismo, que nos propomos explicar.

II. — O estudo da filosofia é uma coisa difícil?

Pensa-se, geralmente, que o estudo da filosofia é, para os operários, uma coisa cheia

de dificuldades, necessitando conhecimentos especiais. É preciso confessar que a

maneira como estão redigidos os manuais burgueses tem a intenção de os levar a

pensar desse modo, e não pode senão aborrecê-los. Não pensamos negar as

dificuldades que o estudo, em geral, comporta, e a filosofia, em particular; mas estas

dificuldades são perfeitamente superáveis, e ocorrem, sobretudo, pelo facto de se

tratar de coisas novas para muitos dos nossos leitores.

Desde o início, vamos, por outro lado, precisando as coisas, chamá-los a rever certas

definições de palavras que estão deturpadas na linguagem corrente.

III. — O que é a filosofia?

Vulgarmente, entende-se por filósofo: ou aquele que vive nas nuvens, ou o que toma

as coisas pelo lado bom, aquele que nada faz. Ora, muito ao contrário, o filósofo é

aquele que quer, a certas perguntas, dar respostas precisas, e, se se considerar que a

filosofia quer dar uma explicação aos problemas do universo (de onde vem o mundo?

para onde vamos? etc.), vê-se, por conseguinte, que o filósofo se ocupa de muitas

coisas, e, ao contrário do que dizem, trabalha muito.

Diremos, portanto, para definir a filosofia, que ela quer explicar o universo, a

natureza, que é o estudo dos problemas mais gerais. Os menos gerais são estudados

pelas ciências. A filosofia é, pois, um prolongamento das ciências, no sentido em que

se apoia nas ciências e delas depende.

Acrescentaremos, em seguida, que a filosofia marxista utiliza um método de

resolução de todos os problemas, e que tal método depende do que se chama o

materialismo.

IV. — O que é a filosofia materialista?

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Também aí existe uma confusão, que devemos denunciar imediatamente; é vulgar

entender-se por materialista aquele que só pensa em gozar com os prazeres materiais.

Jogando com a palavra materialismo - que contém a palavra matéria -, chegou a darse-

lhe um sentido completamente falso.

Vamos, estudando o materialismo - no sentido científico da palavra -, restituir-lhe o

seu verdadeiro significado; ser materialista, não impede, iremos vê-lo, de ter um ideal

e de lutar para o fazer triunfar.

Dissemos que a filosofia quer dar uma explicação aos problemas mais gerais do

mundo. Mas, no decurso da história da humanidade, esta explicação não foi sempre a

mesma.

Os primeiros homens procuraram, na verdade, explicar a natureza, o mundo, mas

não o conseguiram. O que permite, com efeito, explicar o mundo e os fenómenos que

nos rodeiam são as ciências; ora, as descobertas que permitiram às ciências progredir

são muito recentes.

A ignorância dos primeiros homens era, pois, um obstáculo às suas investigações. Por

isso é que no decurso da História, por causa desta ignorância, vemos surgir as

religiões, que querem explicar, também elas, o mundo, mas por forças sobrenaturais.

É esta uma explicação anticientífica. Ora, como, pouco a pouco, no decurso dos

séculos, a ciência se vai desenvolver, os homens vão tentar explicar o mundo através

de factos materiais, a partir de experiências científicas, e é daí, desta vontade de

explicar as coisas pelas ciências, que nasce a filosofia materialista.

Nas páginas seguintes, vamos estudar o que é o materialismo, mas, desde já, devemos

fixar que o materialismo não é mais do que a explicação científica do universo.

Estudando a história da filosofia materialista, veremos quanto foi áspera e difícil a

luta contra a ignorância. É preciso, aliás, constatar que, mesmo nos nossos dias, esta

luta não terminou ainda, uma vez que o materialismo e a ignorância continuam a

subsistir juntos, lado a lado.

É no coração desta luta que Marx e Engels intervieram. Compreendendo a

importância das grandes descobertas do século XIX, permitiram à filosofia

materialista fazer enormes progressos na explicação científica do universo. Foi assim

que nasceu o materialismo dialéctico. Depois, os primeiros, compreenderam que as

leis que regem o mundo permitem também explicar a evolução das sociedades;

formularam, assim, a célebre teoria do materialismo histórico.

Propomo-nos estudar, nesta obra, primeiramente, o materialismo, depois, o

materialismo dialéctico e, por fim, o materialismo histórico. Mas, antes de mais,

queremos estabelecer as relações entre o materialismo e o marxismo.

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