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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Para a História do Socialismo

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Teórico genial, gigante revolucionário Lénine

• Carlos Nabais

Vladímir Ilitch Lénine destacou-se no seu tempo como um grande intelectual, filósofo, economista, político, publicista, orador, legando-nos uma extensa e valiosíssima obra com 55 volumosos tomos. Mas na memória dos povos ficará para sempre como o líder do proletariado mundial, o criador do partido bolchevique, o organizador da primeira revolução socialista vitoriosa e o fundador do primeiro Estado socialista – a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Na data em que se assinalam os 140 anos do seu nascimento, as ideias de Lénine, os seus ensinamentos, o seu exemplo prático, que influenciaram decisivamente o curso do século XX, continuam a inspirar as novas gerações de explorados que, em todo o mundo, buscam o caminho da libertação, o caminho para uma sociedade nova, socialista. Do mesmo modo que os grandes problemas do seu tempo se colocam hoje com a máxima acuidade, também o nome, o pensamento, a via de transformação revolucionária desbravada por Lénine permanecem no centro da intensa batalha ideológica, que opõe explorados a exploradores, e são alvos prioritários da campanha da burguesia que em vão procura apagar esta figura maior da história da humanidade, retaliando com ferocidade à mínima evocação do teórico genial e gigante revolucionário.

Vladímir Ilitch Uliánov (Lénine) nasceu em 22 de Abril de 1870, na pequena cidade de Simbirsk, situada no Sul da Rússia, designada Uliánovsk em 1924, em memória do líder falecido, nome que ainda hoje conserva.

Terceiro irmão de uma família com seis filhos, três rapazes e três raparigas, o seu pai, Iliá Niloláievitch Uliánov, era inspector das escolas profissionais da gubérnia (distrito) de Simbirsk, e sua mãe, Maria Aleksándrovna Blank, filha de um médico, dedicou-se inteiramente à educação das crianças.

Entrando para o liceu aos nove anos, Vladímir revela-se um aluno acima da média, dotado de uma memória robusta, um interesse invulgar pela leitura, uma

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enorme capacidade de trabalho, «uma enciclopédia andante»,1 segundo a expressão registada por um dos seus colegas de turma.

Porém, a adolescência de Vladímir fica marcada por dois trágicos acontecimentos. Aos 15 anos, o seu pai falece. Um ano depois, em Março de 1887, o seu irmão mais velho Aleksandr é preso e executado pela preparação de um atentado contra o tsar Alexandre III.

Foi através do seu irmão que Vladímir teve o primeiro contacto com a literatura marxista, recebendo também dele um exemplo de luta revolucionária contra a autocracia, pela melhoria das condições de vida do povo, apesar de cedo se ter apercebido das concepções e métodos de luta erróneos do populismo, corrente ideológica que predominava no movimento revolucionário russo.

Tão duras perdas familiares não impediram o jovem Uliánov de terminar o liceu nesse mesmo ano com medalha de ouro e ingressar na Faculdade de Direito de Kazan, da qual se vê expulso logo em Dezembro pela participação numa revolta estudantil. Após quase um ano de deportação na aldeia de Kokuchkino sob vigilância policial, Lénine regressa a Kazan e adere a um dos primeiros círculos marxistas da Rússia.

Em 1889 muda-se com a família para Samara, onde traduz o Manifesto do Partido Comunista e consegue, em apenas ano e meio, estudar autonomamente todo o programa do seu curso. Presta provas como aluno externo em 1891 e obtém o diploma de 1.º Grau, correspondente ao título de mestre em Direito.

Exerce advocacia em Samara e torna-se conhecido como defensor dos camponeses pobres. Entretanto forma um círculo marxista que desenvolve actividade de propaganda, escreve o seu primeiro trabalho científico sobre o campesinato, demonstra a inconsistência das teorias populistas liberais, o seu utopismo e desconformidade com a realidade russa, que mais tarde desenvolve no seu livro Quem são os “Amigos do Povo” e Como Lutam contra os Sociais-Democratas (1894).

Em Agosto de 1893 instala-se em Petersburgo. Adere a um círculo de conhecidos marxistas, que não tardam a reconhecer a sua capacidade para aplicar a teoria às condições da Rússia. Torna-se em breve o líder dos marxistas da capital, estabelecendo ligações estreitas com operários avançados e dirigindo directamente círculos de trabalhadores. As suas aulas, panfletos e brochuras têm grande divulgação nos meios operários, que as apreciavam pela simplicidade e pelo rigor com que explicavam a exploração capitalista e apontavam as vias para a sua emancipação.

De regresso da sua primeira viagem à Europa, onde se encontra com Plekhánov e outros membros do grupo Emancipação do Trabalho, unifica todos os círculos operários marxistas de Petersburgo, no Outono de 1895, na União de Luta pela Emancipação da Classe Operária, o embrião do partido operário marxista

1 A.N. Naumov, Das Memórias Intactas, em dois tomos, edição de autor (em russo), Nova Iorque, 1954, tomo 1, pág. 43. Aleksandr Nikoláievitch Naumov (1868-1950), nasceu em Simbirsk numa família da aristocracia terratenente, onde terminou o liceu no mesmo ano que V.I. Lénine. Em 1905 fundou um partido de centro-direita, defensor do Manifesto do tsar de 17 de Outubro. Eleito membro do Conselho de Estado pela gubérnia de Samara (1906-1916), exerceu o cargo de ministro da Agricultura da Rússia entre Novembro de 1915 e Junho de 1916. Emigrou em 1920, radicando-se nos Estados Unidos.

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revolucionário, que definiu como objectivo ligar-se ao movimento operário de massas e dirigi-lo.

Em Dezembro, juntamente com vários membros da União de Luta, Lénine é preso. Na cela onde permanece isolado durante 14 meses, continua a escrever conseguindo fazer passar documentos e orientações para o exterior. Seguem-se três anos de deportação na Sibéria Oriental, onde casa com Nadejda Konstantínovna Krúpskaia, em 1898, igualmente deportada como membro da União de Luta.

Em Março desse ano, várias «uniões de luta», criadas em toda a Rússia segundo o exemplo dos marxistas de Petersburgo, reúnem-se em Minsk naquele que ficou para a história como o I Congresso do Partido Operário Social-Democrata da Rússia (POSDR). Contudo, sem um programa, estatutos ou uma direcção única, a existência do partido era meramente formal. Mantinha-se a dispersão orgânica e a confusão ideológica foi agravada pelo surgimento da corrente oportunista que ficou conhecida como «economismo».

A luta protagonizada por Lénine, após a libertação em 1900, pela criação do verdadeiro partido de novo tipo passaria necessariamente pela derrota do «economismo» e exigiria a criação de um jornal, o Iskra, para travar esse combate e construir a unidade ideológica indispensável à criação de uma organização centralizada.

Do partido à revolução

É ainda no exílio, na aldeia de Chúchenskoi, na Sibéria Oriental, que Lénine concebe o plano de criação do novo jornal político, como «ponto de partida para a acção»,2 essencial para clarificar os objectivos e as tarefas do partido e fazer a demarcação ideológica dos «economistas». «Antes da unificação e para a unificação é preciso primeiro uma demarcação decidida e definida»,3 escreveu na «Declaração da Redacção do Iskra».

Um tal jornal, cuja rede de agentes e correspondentes constituiria o «esqueleto» da futura organização, deveria ser não só «um propagandista colectivo e um agitador colectivo mas também um organizador colectivo», para preparar a coesão ideológica e orgânica do partido.

Nas páginas do Iskra e sobretudo no seu livro Que Fazer? (1902), Lénine atacou o «economismo», notando que limitar os objectivos da classe operária à luta económica contra os patrões e o governo significava condenar os operários à eterna escravidão. «A luta contra o governo por reivindicações parciais e a conquista de concessões isoladas são apenas pequenas escaramuças com o inimigo».4

Opondo-se à «espontaneidade», que os «economistas» confundiam com o desenvolvimento objectivo do movimento, sublinhou a importância da consciência socialista, que só a acção organizada do partido operário podia formar nas massas:

2 «Por onde começar» (1901), V.I. Lénine, Obras Completas (em russo), 5ª edição, Izdátelstvo Politítcheskoi Literaturi, Moscovo, 1967, Tomo 5, pág. 9.

3 «Declaração da Redacção do Iskra» (1900), V.I. Lénine, Obras Completas, ed. cit., Moscovo, 1967, Tomo 4, pág. 358.

4 «As tarefas urgentes do nosso movimento», V.I Lénine, Obras Completas, ed. cit., Moscovo, 1967, Tomo 4, pág. 376.

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«Sem teoria revolucionária (…) não pode haver movimento revolucionário. (…) Só um partido guiado por uma teoria de vanguarda pode desempenhar o papel de combatente de vanguarda.»5

Em Julho de 1903, o II Congresso do POSDR dá um passo decisivo para a fundação de facto do partido, aprovando o programa e os estatutos propostos por Lénine. A maioria aprova igualmente as suas propostas de constituição do Comité Central e da Redacção do Iskra, mas nos intensos debates revelam-se claramente duas tendências: os leninistas, que por serem maioritários passam a ser chamados bolcheviques, e os oportunistas minoritários, mencheviques, liderados por Mártov, Trótski e Axelrod.

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